quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Quanto tempo de "vida" tem o Secretário de Estado de Trump? Muito, pouco, muito pouco? - Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose (CNN)

 Os analistas políticos americanos não confiam em que o Secretário de Estado de Trump dure muito tempo:


'When Marco speaks ... toilets flush themselves'
Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose
CNN Meanwhile in America, Jan 15, 2025

Marco Rubio has the chance to be an excellent secretary of state and his Senate pals are sure to confirm him in the job.

But how long can he last?

Running US diplomacy for Donald Trump is like having a root canal every day. The president-elect's first, first-term Secretary of State Rex Tillerson had a nightmare, which culminated in his calling Trump a “moron” and getting fired by tweet. His successor Mike Pompeo did last three years, but only by downplaying his own power and influence and giving Trump credit for anything that went right.

Rubio’s nomination was greeted with huge relief by US allies and foreign policy professionals in Washington because he’s seen as stable and reasonable. This despite amping up his histrionics to fit his hawkish conservative internationalism within Trump’s “America First” creed. His painful genuflecting before his 2016 primary opponent is typical of the rite of humiliation Trump demands of former foes.

But his best qualities were on display when the Florida senator held court in his confirmation hearing Wednesday, conducting a sweeping global seminar, without notes, and displaying impressive depth. Not only did he know what ASEAN was -- unlike his counterpart for Trump's pick for secretary of defense, Pete Hegseth, who testified on Tuesday -- he offered a intricate analysis of the Southeast Asian grouping’s internal political dynamics and views on Beijing.

Rubio also showcased his intense suspicion of China, describing the rising giant as the most “potent and dangerous near peer adversary this nation has ever confronted.” Despite his long-term hostility towards Vladimir Putin, Rubio argued that Ukraine would be unable to fully repel the Russian invasion and that the war should end, aligning himself with the president-elect. But he reassured foreign policy traditionalists by saying he still supports a law that he helped write that means Trump can’t quit NATO without Senate approval.

After Trump refused to rule out sending troops to take back the Panama Canal, Rubio suggested that the terms under which the US turned over the critical waterway may have been violated by two Chinese ports at its ends. But he stressed Panama’s government was a friend of the United States and that the situation could probably be sorted out. This is an example of how Rubio hopes to leverage Trump’s saber rattling to fashion a cohesive American foreign policy.

Not everyone in the Senate Foreign Relations Committee agrees with Rubio, but senators on both sides were wowed by his expertise. Democratic Sen. Tim Kaine said, “We are used to nominees who know a lot about a couple of things or sometimes who know very little about virtually everything.”

Rubio is taking a big risk in leaving the Senate’s clubby confines for Trump’s three-ring circus. The fault lines of an eventual schism with the new president are already evident. While he wants to crack down on China, the president-elect seems to be itching to do deals with leader Xi Jinping. Rubio is a long-time proponent of human rights, a universal value for which his new boss has little time. Trump has also boxed Rubio in by appointing a slew of envoys who will bite chunks out of his portfolio. Turf wars also rage between the State Department and the White House. But it’s all magnified ten-fold under Trump.

And sooner or later, Trump sours on everyone. While Rubio travels the world, MAGA loyalists will be trashing him to the president and reminding Trump of their “small hands” showdown during the 2016 campaign. This is where Rubio’s relationship with new national security adviser Mike Waltz, a Florida House member, who is said to be close to the Florida senator, will be especially critical.

Rubio knows the drill. He repeatedly stressed Wednesday that Trump will be making foreign policy and he’ll just be implementing it, showing how Cabinet members must minimize their own clout to keep the president-elect sweet.

It’s no secret Rubio still pines to be president. So he must stay in Trump’s favor and build bonds with the MAGA base so he can run as his heir. He could then leave Foggy Bottom to launch a GOP primary campaign in 2027, in a crowded field that may include Vice President-elect JD Vance, Florida Gov. Ron DeSantis and even Trump’s son Don Jr.

In 2015, Dan Gelber, a former Florida House Democratic minority leader, told CNN about a warning he gave to his party when the young Rubio was the speaker of the state’s legislature. “When Marco Rubio speaks, young women swoon, old women faint and toilets flush themselves,” he said. “This guy is really good. Marco is instinctive. He is also very, very disciplined.”

Soon-to-be-Secretary of State Rubio will need all those skills to keep his political career alive.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia (2022) - Paulo Roberto de Almeida

 Nos primeiros meses de 2022, ou seja, pouco tempo depois de iniciada a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, eu fui convidado para explicitar meu pensamento e minha análise sobre a questão. Com a guerra se aproximando do seu terceiro ano, indo para o quarto, talvez se deve rememorar o que eu escrevi em maio de 2024.

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.


O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022)

 

 

Introdução: o panorama mundial nas primeiras décadas do século XXI

(…)

As grandes rupturas nos equilíbrios internacionais e os novos arranjos pós-Ucrânia

(…)

O Brasil, o direito internacional e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

(…)

O Brasil e o processo multilateral em torno do conflito na Ucrânia

(…)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4152: 11 maio 2022, 16 p.; revisão 13/05/2022

Disponibilizado na versão original na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/O_Brasil_e_a_guerra_de_agressão_da_Rússia_contra_a_Ucrânia_2022_) e divulgado no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).


Prêmio ABRE da melhor tese europeia sobre o Brasil - ABRE

 Prêmio ABRE da melhor tese 2025

A sua tese foi defendida entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2024?
Leia o regulamento a seguir e participe! As inscrições para a edição 2025 do prêmio vão até 15 de fevereiro de 2025.

Está aberta a chamada para inscrições no “Prêmio ABRE da melhor tese europeia sobre o Brasil”.

Regulamento
Artigo primeiro – Título, periodicidade, objetivos, objeto e admissibilidade
A Associação de Brasilianistas na Europa (ABRE) oferece anualmente o “Prêmio ABRE da melhor tese europeia sobre o Brasil” que tem por objetivo premiar a melhor tese de doutorado sobre o Brasil em ciências humanas e sociais realizada em uma instituição universitária europeia. A finalidade do prêmio é estimular a pesquisa, e o conhecimento do Brasil na Europa, colaborando, ao mesmo tempo, para a divulgação das pesquisas europeias sobre o país.
São admitidas teses em todas as disciplinas das Humanidades (literatura, linguística, tradução, cinema, teatro, filosofia, visualidades, comunicação, música etc.) e das Ciências Sociais (sociologia, geografia, urbanismo, história, ciência política, relações internacionais, antropologia, direito etc.), desde que o trabalho enfoque de modo central o Brasil, em suas múltiplas dimensões societais, históricas, artísticas etc. O júri é soberano para decidir sobre o eventual não enquadramento de uma tese nesses critérios.
Podem se candidatar recém-doutores que tenham defendido sua tese em uma universidade europeia entre 1° de janeiro e 31 de dezembro do ano anterior. São admissíveis as candidaturas nas quais a tese tenha sido inscrita e defendida em uma universidade europeia e teses em cotutela em que uma das universidades envolvidas seja europeia. Estudantes que tenham feito estágios doutorais em universidades europeias, mas cuja inscrição tenha sido feita em universidades não-europeias, onde defenderam sua tese, não são admissíveis.
Os trabalhos concorrentes poderão estar escritos em qualquer língua oficial de um país europeu.
O prêmio anual será oferecido desde que ao menos uma das candidaturas responda às datas de defesa e a critérios de qualidade sobre os quais o júri é soberano, além dos critérios de exigência indicados acima, e desde que a documentação necessária seja enviada à ABRE nos devidos prazos.
Artigo segundo – Composição do dossiê e calendário do concurso
O prazo para o envio das candidatura é: 15 de fevereiro, às 21h (horário de Lisboa).
Os interessados devem encaminhar os documentos listados abaixo para o endereço eletrônico abre.concurso@gmail.com.

Documentos:

– Texto completo da tese em versão PDF;
– Texto completo da tese em versão PDF sem marcas de identificação de autoria (nome, filiação, universidade de origem, agradecimentos etc.)
– Resumo da tese em português e na língua da tese, em no máximo 5 páginas cada, indicando 3 palavras-chave e a área na qual a tese se enquadra, se nas Humanidades ou nas Ciências Sociais;
– Resumo estendido da tese em português, perfazendo um total de 10 a 20 páginas;
– CV de quem se candidata de no máximo 3 páginas;
– Cópia do diploma ou documento administrativo comprovando a defesa da tese;
– Cópia de um documento de identidade válido;
– Coordenadas completas (endereço, e-mail e telefone).
Antes do final de fevereiro, a lista de teses selecionadas a concorrer ao prêmio (segundo os critérios indicados no Artigo primeiro) será publicada no site web da ABRE (http://abre.eu), e cada participante será informado individualmente dessa seleção.
O comitê executivo da ABRE dará conhecimento público da decisão do júri do concurso durante o Congresso da ABRE em Salamanca (16-19 setembro 2025). O resultado do concurso será publicado, na mesma época, no site da Associação.
Artigo terceiro – O júri do concurso
O júri será composto pelos membros do comitê executivo da ABRE, que realizarão a avaliação a partir dos pareceres do comitê científico, composto por colegas de reconhecida capacidade intelectual. Cada tese será enviada pelos membros da ABRE a 2 pareceristas ad hoc que receberão a solicitação de avaliar anonimamente em função das candidaturas apresentadas (línguas das teses submetidas e especialidades temáticas e/ou disciplinares).
A composição do júri será publicada no site web da ABRE.
A atribuição do prêmio é fruto da decisão final dos membros do comitê executivo da ABRE a partir dos pareceres recebidos. Os membros do júri se reservam o direito de dobrar o prêmio, de dividi-lo entre 2 candidaturas, ou de não oferecer prêmio algum se considerarem que as teses submetidas ao concurso não correspondem aos seus critérios de exigência. O júri pode, ainda, atribuir menções especiais.
Artigo quarto – O prêmio
O valor do prêmio é de 1.500 € e pretende ser um auxílio à publicação da tese vencedora.
Em princípio, serão concedidos 2 prêmios, um relativo à área de Humanidades e outro à área de Ciências Sociais, descritas anteriormente.
Os trabalhos escolhidos não podem estar publicados sob a forma de livro no momento da premiação.
Em caso de publicação, o logo da ABRE deverá figurar na contracapa do livro, além de uma referência explícita ao recebimento do Prêmio anual ABRE de melhor tese europeia sobre o Brasil.
Quem vencer o prêmio se compromete a mencioná-lo em seu curriculum vitae e nas comunicações e artigos ligados à sua respectiva tese.
Nos anos em que houver o congresso da ABRE, a entrega do prêmio será feita durante o evento. Nos anos em que este não ocorrer, a Associação se reserva o direito de decidir em que circunstâncias esse será entregue, dentro do calendário indicado no artigo segundo.
Artigo quinto – Disposições gerais
As dúvidas e os casos omissos serão resolvidos pelo comitê executivo da ABRE.
O regulamento do prêmio pode ser alterado por iniciativa do comitê executivo da ABRE. As alterações que vierem a ser produzidas no regulamento durante o período que medeia entre o termo do prazo para apresentação dos trabalhos a um concurso e a decisão final do júri não poderão ser aplicadas a essa edição do prêmio.

ABRE - Associação de Brasilianistas na Europa · Emil Holms Kanal 6 · Kopenhagen 2300 · Denmark

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

IBGE: decisões Marcio Pochmann provocam saída de diretores (O Globo)

 Diretores do IBGE entregam cargos insatisfeitos com Pochmann: entenda a crise no instituto

Criação de fundação, mudança de local de trabalho e até cobrança a sindicato foram decididas sem consulta ao Conselho Diretor, apontam críticos, que se queixam de falta de interlocução

Por Mayra Castro e Cássia Almeida

O Globo, 14/01/2025 

 

Após Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, diretora e diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, deixarem seus cargos na última semana, o colunista do GLOBO Lauro Jardim informou ontem que, até o fim do mês, devem sair Ivone Batista e Patrícia Costa, diretora e diretora-adjunta de Geociências. Fontes indicam que faltaria apenas a designação dos substitutos para a saída das diretoras.

Em reunião dos diretores que pediram exoneração com os coordenadores para explicar a decisão, na semana passada, a falta de interlocução com a presidência do órgão, nas mãos do economista Marcio Pochmann, seria o principal motivo para o afastamento. A criação da Fundação IBGE+ nem chegou a passar pelo Conselho Diretor.

Os afastamentos acontecem em meio a uma crise interna do órgão oficial de estatística. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística (Assibge), em nota, disse que, embora os diretores tenham optado por não expor publicamente o que os levaram a essas decisões, a entrega dos cargos “mostra o agravamento da crise no IBGE”, e que eles teriam entregado seus cargos por um “desgaste” com a gestão atual.


Clima tenso

Para Paulo Lindesay, diretor da executiva nacional da Assibge, o clima no ambiente de trabalho está tenso desde que algumas mudanças foram anunciadas, como a transferência dos servidores que trabalhavam no Centro do Rio de Janeiro para o Horto Florestal, local considerado pelos servidores como de difícil acesso, e a criação da Fundação IBGE+:

— A gente entende essa fundação como uma forma de fragilizar o próprio IBGE. A argumentação foi que o instituto não teria um orçamento suficiente para gerir seu próprio plano de trabalho, mas o certo seria o presidente lutar para o governo federal colocar mais recursos, e não criar uma outra fundação para captar dinheiro público e privado.

Na reunião dos diretores com os coordenadores, segundo fontes, outro fator citado teria sido a decisão da direção de cobrar aluguel do sindicato pela sala que eles ocupam em um prédio da Avenida Chile (Centro do Rio), onde funciona boa parte dos núcleos do IBGE. A medida teria sido tomada logo após a audiência pública na Câmara dos Deputados com a participação do Sindicato para debater a Fundação IBGE+.

Em carta aberta divulgada ontem, o sindicato alerta que “decisões recentes da atual direção do IBGE colocam em risco a soberania geoestatística brasileira”, referindo-se à Fundação IBGE+.

“Essa medida foi implementada sem consulta aos quadros técnicos, à comunidade científica e à sociedade civil, configurando um precedente perigoso para a interferência de interesses privados no sistema geoestatístico nacional.”

Segundo fontes do instituto, havia a impressão de que o Conselho Diretor não era considerado. As deliberações que deveriam sair das reuniões eram publicadas quase que imediatamente após o fim da reunião, dizem essas fontes.

Outra questão é o uso da intranet do instituto. Antes usada apenas para troca de dados técnicos, agora está mais voltada para propaganda institucional da presidência, dizem fontes próximas ao caso.

A notícia da saída dos núcleos do instituto do prédio da Avenida Chile foi dada ao Conselho Diretor no mesmo dia no qual o aviso ao locador foi feito.

A ex-presidente do IBGE Wasmália Bivar chamou atenção para o fato de os diretores terem sido escolhidos pelo próprio presidente atual:

— Eu imagino que uma ação coletiva dos diretores da casa saindo é uma manifestação de insatisfação com a gestão. Da mesma maneira como, até agora, o presidente continua tendo dificuldades de ouvir os técnicos, isso também deve ter chegado na direção. Eu, pelo menos, não acredito que o IBGE precisa da Fundação IBGE+. Ele precisa de outras coisas — afirmou.

O IBGE publicou nota em seu site divulgando que o servidor Gustavo Junger da Silva irá substituir Elizabeth Hypolito, e que Vladimir Gonçalves Miranda vai assumir o cargo de João Hallak Neto.

O IBGE, procurado, não respondeu sobre a saída dos diretores.


'Sucesso fiscal e político de Milei na Argentina coloca desafios importantes para o Brasil' - Rubens Barbosa (Estadão)

O Estado de S. Paulo, 7 de janeiro de 2025

https://click.jornal.estadao.com.br/?qs=6b7c71bc9e984005f634baf92e2ce99c9777853655fe5bded7a122c4e92accf694609c61280fe35144195830c82f3a13ede61781c098f1652717f0e3a598006d


 

Admirável mundo novo - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 Admirável mundo novo

Estão governo e empresas brasileiras conscientes das mudanças e preparados para defender os interesses nacionais neste novo cenário mundial?

 

Opinião:  Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 24/12/2024


No meio de grandes transformações na economia e na ordem internacional, estamos entrando numa nova etapa histórica pela interação de diversos fatores de grande intensidade.

Em primeiro lugar, a supremacia ocidental econômica, financeira e militar dos últimos 200 anos está sendo questionada e, na visão de muitos, está sendo reduzida. O mundo começa a se dividir em um grupo de nações ocidentais (sem definição geográfica) – EUA, Europa, Japão, Austrália e outras – e, de outro, um crescente grupo de nações, liderado pela China, tendo como base o Brics, formado por dez países, com 13 nações convidadas como associadas e mais de uma dezena pedindo para integrá-lo. A influência dos EUA, como a nação mais poderosa do mundo, parece estar em declínio, como se vê na tentativa de conter o conflito no Oriente Médio.

Em segundo lugar, o rápido avanço das tecnologias em várias áreas – inteligência artificial, computação, biotecnologia –, o mais profundo da história da humanidade (maior, talvez, que a invenção da roda, que a revolução industrial e mesmo que a arma nuclear), sobretudo pela possibilidade de a inteligência artificial tomar decisões independentemente da ação humana, com profundas consequências políticas e econômicas globais.

Em terceiro lugar, as mudanças climáticas produzidas pela ação humana estão na raiz de uma crescente crise ecológica, com desastres em todos os continentes (furacões e inundações, queimadas, chuvas e secas) causando destruição e morte, além do crescimento do nível dos oceanos em razão do aquecimento global, ameaçando aumentar o número de refugiados.

Em quarto lugar, as instituições multilaterais criadas depois do fim da guerra, em 1945, para a preservação da paz e da segurança mundiais, não são mais capazes de responder a todos esses desafios por não mais serem representativas da nova geopolítica e da nova geoeconomia global. A Cúpula do Futuro, reunião convocada pelo secretário-geral da ONU, em setembro passado em Nova York, para examinar como poderia ser a governança num mundo multipolar em tempos de grandes mudanças e desafios para a humanidade, terminou esvaziada, sem qualquer perspectiva para indicar caminhos de uma nova governança global. As guerras na Ucrânia e no Oriente Médio em crescente tensão, pela invasão do Líbano e da Síria pelo exército israelense, com a possibilidade de escalada, continuarão a ter impacto na economia e na política global. Caso o conflito se estenda com um eventual ataque de Israel contra o Irã, com o apoio dos EUA, a situação poderá sair do controle, com a possível interferência de potências antiocidentais ao lado do Irã.

Um quinto fator poderia ser acrescentado. Um livro recente – A guerra por Outros Meios (War by Other Means, Harvard Press) – capta as mudanças na formulação e na execução das políticas internas e externas dos países. Um dos aspectos novos examinados é o uso de instrumentos econômicos e comerciais como um meio de alcançar objetivos geopolíticos. A relação entre poder econômico e geopolítica passa a ser fundamental no mundo atual. Nesse sentido, tornam-se elementos básicos a performance macroeconômica do país, a evolução da política econômica internacional e os instrumentos utilizados na busca dos objetivos geopolíticos.

A geoeconomia passou a ser um elemento crítico quando se analisa o papel de cada país neste novo mundo. A geoeconomia focaliza o uso da força por meio de instrumentos econômicos e comerciais para promover e defender os interesses nacionais, para produzir resultados geopolíticos favoráveis e efeitos positivos sobre os objetivos geopolíticos. As restrições à venda de chips para a China, a proibição de compra de roteadores chineses pelos EUA, as medidas protecionistas comerciais da União Europeia, com a desculpa de evitar o desmatamento de florestas, as políticas restritivas minerais da China e o congelamento unilateral de reservas de terceiros países são alguns exemplos da utilização de medidas econômicas como armas, criando verdadeiras guerras por outros meios.

No contexto da geoeconomia, a defesa da segurança nacional passa a ser frequentemente utilizada na ação política nos EUA, na China e em outros países. Utilizado de forma crescente como justificativa de medidas econômicas e comerciais, “o papel da segurança nacional na política e estratégia de comércio e investimento está aumentando em toda parte. Há mudanças na maneira como as pessoas estão abordando a questão da política comercial, a política econômica internacional e isso é verdade nas economias de mercado do mundo todo”, como reconheceu alto funcionário norte-americano. As prioridades econômicas e as novas preocupações com a segurança nacional (que pode incluir tudo) se fundem e tornam superados os conceitos de liberalismo e livre mercado.

Essas são as novas realidades globais. Os países terão de se ajustar para conseguir defender com êxito seus próprios interesses, mas, em primeiro lugar, terão de definir seus objetivos estratégicos, fortalecer os fundamentos de sua economia e ter uma clara visão de seus interesses de médio e longo prazos.

Estão governo e empresas brasileiras conscientes dessas mudanças e preparados para defender os interesses nacionais neste novo cenário?

 

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

 

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/admiravel-mundo-novo/

Vamos discutir o Brasil - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 O embaixador Rubens Barbosa lamdnta a falta de espaço na sociedade e nas esferas políticas para um debate aprofundado sobre os problemas nacionais e sua possível solução. PRA



Vamos discutir o Brasil

É quase inexistente hoje o pensamento sobre o Brasil como país, e não como palco de disputas ideológicas e partidárias

Opinião: Rubens Barbosa 

O Estado de S. Paulo, 14/01/2025

“Tinha razão aquele velho brasileiro que, escandalizado com a futilidade dos nossos debates políticos, lembrava a conveniência de, ao lado do Congresso Nacional, organizar-se uma comissão permanente de brasileiros de boa vontade, sem outra preocupação que a prosperidade e a grandeza da Pátria, para o fim de estudar e resolver os grandes problemas políticos de nossa terra. O Congresso ficaria para as parolagens inúteis, para os bate-bocas apaixonados, para as exibições teatrais (...).” Nada mais atual do que o comentário publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 23 de novembro de 1935.

Nos dias que correm, a divisão e a polarização da sociedade brasileira dificultam e influenciam a discussão e o debate sobre os múltiplos aspectos das questões nacionais. O foco de debate reproduzido pela mídia tradicional e pela mídia social reflete aspectos importantes da economia, da política, das questões sociais, das questões identitárias, as reformas estruturais, a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, as questões ambientais e de mudança de clima, a violência e a corrupção. São raramente analisados os impactos relacionados com o cenário global (guerras, nacionalismo, protecionismo, geoeconomia e uso da força, inovação, inteligência artificial, entre outras) sobre a economia e a política nacionais.

Discute-se tudo, mas pouco ou quase nada sobre o Brasil. É quase inexistente hoje o pensamento sobre o Brasil como país, e não como palco de disputas ideológicas e partidárias. A ausência de lideranças no governo, no Legislativo, no Judiciário, na classe política, nos setores industriais e agrícolas contribui para a discussão fatiada, sem a preocupação mais geral de pensar o Brasil em primeiro lugar, em um mundo em grandes transformações, e sem reconhecer as mudanças ocorridas nas últimas décadas no País e no seu entorno geográfico (América Latina e do Sul), relevantes para uma análise objetiva. Está mudando a economia global, a ordem internacional, a geopolítica, o meio ambiente e a mudança de clima, a inovação tecnológica se acelerou e a inteligência artificial criou desafios na área civil e militar, a geoeconomia e a segurança nacional são as forças do momento. Qual o impacto dessas transformações sobre o Brasil? Quais as decisões estratégicas, internas e externas, que terão de ser adotadas para o Brasil responder a esses desafios? Como tentar reduzir as vulnerabilidades e aproveitar as oportunidades que se oferecem na nova ordem econômica e mundial? Como enfrentar as novas e as tradicionais ameaças à soberania, ao desenvolvimento e à segurança do País?

A radicalização da política interna, na minha visão, torna difícil, neste momento, a discussão sobre um projeto para o Brasil. Na impossibilidade de se chegar a um acordo em torno de um projeto nacional por diferenças ideológicas e político-partidárias, torna-se necessário preencher essa grave lacuna do ponto de vista estratégico. Não existe nenhum documento oficial (e poucos de origem na academia) que pensem o Brasil no contexto global e que tenha sido discutido com a sociedade civil.

Chegou a hora de começar a discutir o Brasil e tentar colocar os interesses nacionais permanentes acima de visões setoriais, como fazem todos os principais países do mundo, com uma visão de médio e longo prazo. O documento Uma Estratégia para o Brasil – O Lugar do Brasil no Mundo, preparado pelo Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), procura contribuir para um debate que está atrasado, mas que se faz necessário (interessenacional.com.br). Não se trata de um documento elaborado a partir das políticas do governo de turno nem com viés ideológico ou partidário. Necessariamente genérico, sempre com uma visão estratégica e não conjuntural, o trabalho trata dos objetivos nacionais, do lugar do Brasil no mundo, sinaliza as prioridades e vulnerabilidades de uma potência de médio porte emergente que tem um peso no cenário internacional como oitava economia global, com um território continental e mais de 210 milhões de habitantes. O documento vai além da Estratégia Nacional de Defesa e da Política Nacional de Defesa, produzidos pelo Ministério da Defesa, que refletem posições nacionais, mas de um ponto de vista setorial.

Durante o ano de 2025, serão promovidos encontros virtuais e presencias para discutir o trabalho e suscitar o debate sobre uma estratégia para o Brasil, do ponto de vista interno e externo, com uma visão de médio e longo prazo. Com isso, se pretende começar a focalizar o Brasil em primeiro lugar, em um novo mundo, em complemento ao debate interno conjuntural de todos os problemas políticos, econômicos e sociais nacionais.

O Irice, com o apoio do Portal Interesse Nacional, organizará uma série de encontros para sensibilizar a sociedade civil para esse debate. Serão buscadas parcerias com as Comissões de Relações Exteriores e de Defesa, da Câmara e do Senado, com os partidos políticos, com instituições civis e militares, públicas ou privadas, empresariais e acadêmicas, além de formadores de opinião na mídia social que possam se interessar.

Vamos discutir o Brasil acima de interesses ideológicos e partidários.

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE)

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/vamos-discutir-o-brasil/

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...