domingo, 9 de fevereiro de 2025

Embaixador brasileiro atacado por Maduro, Eduardo Saboia, diz que mundo está ameaçado - Junio Silva (Metrópoles)

Embaixador brasileiro atacado por Maduro diz que mundo está ameaçado

Embaixador Eduardo Paes Saboia foi apontado pelo regime Maduro como o responsável por vetar entrada da Venezuela no Brics

De saída da Secretaria de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Eduardo Paes Saboia demonstrou desesperança quanto ao atual momento da diplomacia e afirmou que o mundo está em perigo. A declaração do diplomata brasileiro, que no último ano se envolveu em polêmica com o regime de Nicolás Maduro, aconteceu na última semana, em agenda na representação diplomática da Nova Zelândia.

No evento, que marcou a assinatura do documento fundador do país da Oceania, Saboia discursou e disse que Brasil e Nova Zelândia continuam trabalhando diplomaticamente em um “mundo que está de certa forma ameaçado”.

“Quando entrei na carreira diplomática, em 1989, havia muita esperança”, declarou o diplomata. “Tínhamos uma nova Constituição, tínhamos o muro de Berlim desmantelado. Tivemos um ciclo de conferências da ONU, novos consensos, novas ideias e uma esperança de comércio como um instrumento de desenvolvimento. Acho que nossos países trabalharam juntos nesse campo. E sinto que esse ciclo agora acabou, infelizmente.”

Apesar disso, o diplomata afirmou que é necessário continuar lutando “por nosso valores”. O tom desesperançoso de Saboia surge após trocas internas em postos do Ministério das Relações Exteriores, que afetaram diretamente o embaixador.

Polêmica com Maduro e mudança de cargo

Na última cúpula do Brics, realizada em 2024, na Rússia, o diplomata esteve no centro de uma polêmica envolvendo Brasília e Caracas. Na época, a Venezuela criticou o Brasil por vetar o ingresso do país no bloco e fez duras críticas não só contra Saboia, como direcionou farpas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Depois do episódio, o governo venezuelano acusou o embaixador, que atuava como negociador do Brics, de manter veto imposto pelo antigo governo do Brasil, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em meio à polêmica, Saboia foi removido do cargo de sherpa do Brasil no Brics. Nos bastidores da diplomacia, a informação é de que a decisão foi motivada após pressão da ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente comanda a instituição financeira do bloco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).

O diplomata também saiu do comando da Secretaria de Ásia e Pacífico do Itamaraty, e agora deve assumir a Embaixada Brasileira na Áustria, caso seu nome seja aprovado pelo Senado Federal. 

Já o cargo de negociador brasileiro no Brics será ocupado pelo embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, ex-secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.

A cúpula do bloco deste ano será realizada no Brasil, após o país assumir a presidência do Brics no dia 1º de janeiro de 2025. As discussões da reunião devem ser centradas em dois temas principais: a reforma da governança global e a cooperação do Sul Global.


Acadêmicos pretendem que o NBD-BRICS seja o construtor de uma ordem financeira mundial alternativa, sustentável, inclusiva, fora do dólar

 Parafraseando George Orwell, apenas acadêmicos (ou intelectuais) acreditam em coisas impossíveis... (Nunca deixarei de me surpreender com o grau de alienação em que se movem, e permanecem, os acadêmicos sonhadores...)

Transmitido por Maurício David:

Assunto: [seminaire-brics] Prochaine séance BRICS : Beatriz Mattos and Enzo Godinho on the BRICS Bank and Ecological Transition (12/02/2025, 6:00 PM)

Chers tous / Dear all,

La prochaine séance du séminaire BRICS aura lieu mercredi 12 février 2025, à 18h à la Maison de la Recherche de l'Inalco, 2 rue de Lille (75007 Paris), Salle Sylvestre de Sacy 

The next session of our seminar will be held on Wednesday, February 12th, 6PM, in presence and online (we will post and send the link the day of the seminar)

Elle recevra / We will receive :

Beatriz Mattos (EPOG+), and

Enzo Godinho (EPOG+)

Sur le thème suivant / on the following topic :

The NDB [BRICS Bank] and the Ecological Transition: 

Decoupling Development Finance from Core Currency Hegemony?

Abstract:
Beatriz Matos and Enzo Godinho investigate the role of the New Development Bank (NDB) in challenging global financial hierarchies while fostering an ecological transition. The NDB, established by the BRICS nations, has a mechanism of providing development finance in local currency, which could reduce dependency on core currencies like the USD and EUR, offering an alternative for peripheral economies to finance sustainable development. Given the institutionalization of the green economy agenda and the rise of green finance, the paper raises elements to assess whether the NDB effectively contributes to the ecological transition through its investment strategy.
Our analysis builds on structuralist and dependency theories, identifying three interlinked hierarchies—productive, currency, and environmental—that shape global financial asymmetries. We examine the NDB’s project portfolio from 2016 to 2024, and particularly the interplay between the projects' area of operation, currency of funding, and country of implementation. The findings indicate that, while the NDB has made strides in funding sustainable infrastructure, its operations remain largely embedded within dominant currency systems. Only China and, to a lesser extent, South Africa have successfully leveraged national currencies, whereas other BRICS and partner countries remain reliant on core currencies.
Despite its strategic goal of increasing local currency lending, the NDB’s ability to disrupt financial subordination remains limited. The bank's commitment to green finance is evident, yet many projects still operate within traditional resource-intensive models, raising concerns about the depth of its ecological transformation. Ultimately, while the NDB represents an important step toward a multipolar financial system, its potential to drive systemic change hinges on further institutional reforms, political commitment and expanded local currency financing - which is in line with the funding trends observed in the last years of NDB's operations.

Bios:
Beatriz Mattos is a Brazilian master’s student majoring in Socio-Ecological Economics and Policy in the EPOG+ Erasmus Mundus Joint Degree. Her track in EPOG+ is C3, therefore he has studied in renowned institutions such as Vienna University of Economics and Business (Austria) and Sorbonne Université (France). She researches in the field political economy and political science of socio-ecological transitions, with focus on the international insertion of Latin America and Brazil.

Enzo de Moraes Godinho is a Brazilian master’s student majoring in International Macroeconomics and Development in the EPOG+ Erasmus Mundus Joint Degree. His track in EPOG+ is C2, therefore he has studied in renowned institutions such as Hochschule für Wirtschaft und Recht (Germany), University of the Witwatersrand (South Africa), and Sorbonne Université (France). He has a deep understanding of the Chinese economy and development trajectory, the Belt and Road Initiative, Heterodox Economics, Industrial Policy, the Global South, and BRICS studies.

Le document d'appui de la séance est disponible sur ce lien / see the link to the working paper associated :  working_paper_simonetti_and_godinho

=> séance suivante / next session : March 12th, 2025, 6PM : Natalia Bracarense on Women-Led Agroecological Movements in Brazil: Illustrations of Triple Movement.

Au plaisir de vous retrouver lors de cette seance / looking forward to seeing you in the coming session,

Pour le comité d'organisation / On behalf ot the Organizing Comittee, 

bien cordialement / Best regards, 

Julien Vercueil

-- 
Julien Vercueil
Inalco
Vice-président Valorisation et Responsabilité environnementale
Vice-President for Valorization and Environmental Responsibility
BRICs Seminar, Régulation Review

Auschwitz não foi suficiente… - Ryan Faulkner-Hogg

Dica de leitura de Mauricio David : "Judeus ou não, nós morremos todos em Auschwitz- Nos subterrâneos da consciência universal, é a humanidade inteira que desapareceu nas fábricas da morte"

Penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur. 

Ryan Faulkner-Hogg

via Unsplash

C'est pourquoi penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur ou tout au moins une paresse de la pensée. Non, ce qui a disparu dans les fours crématoires, c'est l'enfance même de l'humanité. Tous tant que nous sommes, juifs ou pas, nous sommes orphelins d'une espérance qui depuis la nuit des temps s'était transmise de génération en génération, d'un fol espoir que l'homme pouvait parvenir à dominer ses instincts et rêver à une époque prochaine où les individus, au-delà de leurs innombrables différences, s'aimeraient les uns les autres...

...É porque pensar em Auschwitz sob só o prisma da tragédia que alcançou ao povo judeu seria um erro ou, pelo menos, uma preguiça do pensamento. Não, o que desapareceu nos fornos crematórios foi a infância mesmo da humanidade. Todos os que nós somos, judeus ou não, nós somos órfãos de uma esperança que desde a noite dos tempos se transmitia de geração em geração, de um esperança de que o homem poderia chegar a dominar seus instintos e a sonhar em uma época próxima onde os indivíduos, mais além das suas inumeráveis diferenças, amar-se-iam uns aos outros...

 

Juifs ou pas, nous sommes tous morts à Auschwitz

[BLOG You Will Never Hate Alone] Dans les souterrains de la conscience universelle, c'est l'humanité tout entière qui a disparu dans les usines de la mort.

 

Il y a quatre-vingts ans, le 27 janvier 1945, l'armée soviétique libérait le camp d'extermination d'Auschwitz-Birkenau, en Pologne occupée. Trois mois plus tard, c'était au tour des forces alliées de découvrir l'ampleur de la catastrophe, de ces millions de morts assassinés au seul motif de leurs origines ou de leurs particularismes. Le monde ne s'en est jamais remis. Au-delà des six millions de juifs massacrés et de tous les autres exécutés au nom de la supériorité de la race allemande, c'est l'humanité tout entière qui a sombré dans les camps de la mort.

Oui, par bien des aspects, le monde tel qu'on pouvait l'envisager avant la Shoah, un monde fondé sur l'idée de progrès et de fraternité entre les peuples, cet idéal d'une humanité prompte à embrasser les valeurs d'une civilisation guidée par l'espoir de terrasser les forces du mal, ce rêve-là s'est fracassé sur les portes des chambres à gaz. La dernière innocence de ce monde s'en est allée à travers les conduits des cheminées qui surplombaient les usines de la mort.

C'est pourquoi penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur ou tout au moins une paresse de la pensée. Non, ce qui a disparu dans les fours crématoires, c'est l'enfance même de l'humanité. Tous tant que nous sommes, juifs ou pas, nous sommes orphelins d'une espérance qui depuis la nuit des temps s'était transmise de génération en génération, d'un fol espoir que l'homme pouvait parvenir à dominer ses instincts et rêver à une époque prochaine où les individus, au-delà de leurs innombrables différences, s'aimeraient les uns les autres.

D'une certaine manière, la civilisation née avec la naissance du Christ s'est terminée à Auschwitz. Pour bien faire et appréhender cette tragédie et ses conséquences sous sa vraie lumière, il faudrait penser et différencier le temps d'avant Auschwitz et celui d'après. Ne plus affirmer par exemple que nous sommes aujourd'hui en 2025, mais en 80 après Auschwitz. Prendre la découverte des camps de la mort comme l'année zéro d'une nouvelle ère qui verrait l'humanité tenter de renouer avec la lumière de ses débuts.

 

Sans quoi, on prendrait le risque de considérer Auschwitz comme un simple accident de l'histoire, une sortie de route dont les juifs auraient fait les frais. On pourrait aller ainsi de commémorations en commémorations, sans jamais réaliser à quel point les fondements même de notre âme ont été abîmés, souillés, contaminés par l'horreur des chambres à gaz. Dans les souterrains de la conscience universelle, les images des déportés ont eu un tel effet que non seulement elles n'ont jamais disparu mais qu'elles continuent à nous hanter comme le chant funèbre d'une humanité morte à elle-même.

Nous sommes tous morts à Auschwitz. Tous, sans exception.

Qu'une nation aussi éclairée que l'Allemagne, terre de tant de génies, ait pu ainsi concevoir une telle sophistication dans la mise à mort d'un peuple parfaitement innocent, cette découverte a constitué un choc si tellurique que depuis nous chancelons, comme frappés de stupeur. Au fond de nous, nous savons désormais de quoi nous sommes capables, cette débauche de l'horreur qui nous apparaît comme une fatalité face à laquelle, malgré tous nos efforts, nous demeurons impuissants.

 

Nous sommes tous des nazis, nous sommes tous des juifs. Nous portons en nous les germes d'un mal qui, s'il n'est pas contenu aux premiers temps de son apparition, peut en un temps record nous précipiter dans les abîmes. Il a fallu une dizaine d'années à la nation allemande pour concevoir la solution finale. Avec l'essor foudroyant et terrifiant de la technologie, combien de mois seront nécessaires pour que l'impensable se déroule à nouveau?

Tous les jours, sans le savoir, nous commémorons ceux tombés à Auschwitz. En continu, nous entendons leurs cris, nous percevons leurs douleurs, nous écoutons leurs sanglots trempés de silence. Ils sont notre passé, un passé qui nous conjure de ne jamais baisser la garde, sans quoi ce passé-là deviendra notre avenir. La douleur juive est la douleur du monde tout entier. Puisse-t-on ne jamais l'oublier.

 

A democracia autoritária de Trump - Jamil Chade

A democracia americana vive uma ameaça existencial 

Por Jamil Chade, de Nova York

Em menos de 20 dias, Donald Trump se lançou numa operação de captura do estado, aliado a oligarcas e ao movimento cristão radical. 

Assinou decretos inconstitucionais, fechou instituições democráticas, promoveu a censura, desmobilizou recursos, chantageou funcionários públicos e criou um clima de pânico entre os segmentos mais vulneráveis do país.

Só as cortes ainda resistem, enquanto Trump sabe que pode contar com o silêncio no Congresso.

O republicano chegou ao poder pelas urnas. Mas seu compromisso com a democracia terminou ali, rabiscando com pressa os contornos de uma "autocracia eleitoral".

Reveladora foi a sentença de John Coughenour, juiz federal, que derrubou uma das medidas de Trump. "Ficou cada vez mais evidente que, para nosso presidente, o Estado de direito é apenas um impedimento para seus objetivos políticos. O Estado de direito é, segundo ele, algo para navegar ou simplesmente ignorar, seja para ganho político ou pessoal", escreveu.

Como um tsunami que destrói de forma meticulosa cada construção pode onde passa, seu governo desembarcou com uma ofensiva sofisticada: a da disseminação do caos como estratégia política.

Suas falas permeadas de ódio e mentiras jogaram comunidades inteiras a um sentimento de medo. Nos últimos dias, encontrei imigrantes que deixaram de mandar seus filhos para as escolas, com membros da comunidade LGBT que temem sair às ruas, com grupos que passaram a ter pesadelos pelas noites e pelos dias.

O que se vive, em muitos rincões dos EUA, é um trauma.

Nada disso é fruto de um improviso. Ao gerar um clima de incerteza, ruptura e medo, Trump semeia o caos como método para causar a desorientação de qualquer tipo de resistência e da organização de trincheiras contra o desmonte do estado de direito.

Enquanto o caos e a passividade imposta são as realidades, pelo menos por enquanto, o que Trump faz é a promoção de profundas transformações.

Estamos diante do que Naomi Klein já descreveu como "a doutrina do choque". Ou seja, o uso sistemático do caos para abrir espaço para mudanças radicais, enquanto a sociedade está buscando formas de encontrar coerência para resistir. Uma política que explora os limites cognitivos do ser humano.

A estratégia ainda revela que Trump e seus aliados não chegaram ao poder desarmados. Vieram com um novo projeto de país e de sociedade.

Enquanto o caos é o novo normal, a extrema direita cavalga destemida na captura do estado.

Hoje, a democracia americana está sob seu maior ataque. E precisamos aprender as lições para 2026.

Link para coluna:

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/02/08/a-democracia-americana-esta-ameacada-e-trump-usa-o-caos-como-metodo.htm

A diplomacia fossilizada do PT condena o Brasil ao não desenvolvimento eterno - Paulo Roberto de Almeida (nota do Brasil 247)

A diplomacia fossilizada do PT condena o Brasil ao não desenvolvimento eterno

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a decisão anunciada pelo governo de congelar o processo de adesão à OCDE.

 

        Em matéria de políticas econômicas para o seu desenvolvimento econômico e social, o Brasil continua travado nas suas posturas diplomáticas por mais de meio século, talvez mais, e não exatamente por culpa do Itamaraty, embora os diplomatas sejam em parte responsáveis pelo que eu chamo de diplomacia fossilizada.

O texto abaixo foi veiculado pelo Brasil 247, o porta-voz oficioso do PT para matérias gerais que cobrem um amplo espectro de temas políticos, econômicos e sociais, mas ele poderia ter emanado oficialmente do Palácio do Planalto, como do próprio Itamaraty, sendo que este último poderia ter feito um texto exatamente inverso, confirmando, por exemplo, a continuidade do processo brasileiro de adesão à OCDE, uma iniciativa que já está atrasada mais de 30 anos, talvez meio século.

        Com efeito, data do governo Collor, início dos anos 1990 portanto, a iniciativa de dar início a um processo tímido, hesitante, não de ingresso, mas de aproximação às teses e posicionamentos da OCDE em temas de políticas econômicas e sociais compatíveis com uma moderna economia de mercado, mais baseada na liberdade econômica do que na ação dirigente, isto é, intervencionista, do Estado. Esse esforço infelizmente não avançou nos governos FHC, a despeito deste exibir uma postura bem mais aberta — feita de desestatização e desmonopolização — do que aquela mantida no regime militar e, logo adiante, pelo que pode ser chamado de “diplomacia lulopetista”, uma cópia mais que mimética da diplomacia do regime militar, esta sim, criada, verbalizada e mantida praticamente embalsamada pelo Itamaraty, ou mais exatamente pelos “itamaratecas” mais identificados com a ideologia do desenvolvimento tipicamente cepaliana, furtadiana, enfim “desenvolvimentista”, que nasceu nos anos 1950 e que mantém-se impérvia desde então.

        O PT encarnou essa política de forma ainda mais ampla e geral do que o próprio regime militar, levando-a ao paroxismo atual de reverter um processo de adesão que tinha tudo para ser concluído positivamente em mais um ano ou dois. Voltamos à casa dos anos 1970, de uma maneira ainda mais fossilizada do que os anos 2000, quando ainda não existia o Brics, ou quando este ainda não exibia os traços e as motivações de um “clube anti-OCDE”, na exata postura contrária do que seriam as posições de um suposto “clube dos ricos”, o que a OCDE não é mais desde pelo menos os anos 1990, quando começou a se abrir para países ditos “em desenvolvimento” (México), para economias emergentes (Coreia do Sul), mas sobretudo para economias em transição do socialismo mais que fossilizado para um regime mais conforme às economias de mercado avançadas (praticamente toda a Europa centra e oriental anteriormente na esfera do império soviético).

        A pequena abertura à OCDE - com grande resistência interna nos meios econômicos e diplomáticos — dos governos Collor e FHC foi totalmente revertida nos governos lulopetistas de 2003 a 2016 e agora foi novamente congelada pelo governo de Lula 3, sem qualquer perspectiva de mudança de rota nos próximos anos, uma vez que o entusiasmo do chefe pelo Brics+ e pelo projeto russo-chinês de uma “nova ordem global multipolar” é genuíno e capaz de receber a adesão de muitos diplomatas que até poucos anos atrás poderiam escrever com satisfação discursos saudando a adoção pelo Brasil de políticas, valores e princípios mais conformes aos de uma moderna economia de mercado, liberal e democrática. Em lugar disso, teremos a velha cantilena do “tratamento diferencial e mais favorável para países em desenvolvimento”, do “espaço para políticas nacionais de desenvolvimento inclusivo e equilibrado”, de “transferência de tecnologia em termos equitativos” ou da “responsabilidade comum, mas compartilhada” (ou seja, os ricos pagam por alguns pecados do passado colonialista e imperialista, mas nós temos o direito de usar os recursos de “maneira soberana”, de acordo a nossas próprias prioridades de “desenvolvimento inclusivo e equitativo”).

        A verborreia da diplomacia fossilizada não precisa sequer inovar nos conceitos e propostas, ou basta agora refletir o “novo” discurso da “nova ordem global” sino-russa, à qual o chefe de Estado e de governo já tinha declarado sua adesão entusiasta antes mesmo de se converter aos cargos, ainda durante a campanha eleitoral de 2022. O Itamaraty precisa apenas reverter aos textos rituais de um passado não muito distante, e o fará com a mesma vocação adesista de sempre, como compete a uma corporação adepta às mesmas regras que prevalecem desde o regime militar: “hierarquia e disciplina” (ou, na linguagem popular, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”). 

        O retrocesso diplomático não é necessariamente comandado pelo Itamaraty; ele apenas se deixa embalsamar pelo lulopetismo diplomático.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 9/02/2025


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Governo Lula reavalia memorando para adesão do Brasil à OCDE

Na prática, o processo de adesão ao chamado "Clube dos Ricos" foi travado

Brasil 247, 08 de fevereiro de 2025

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está reavaliando os termos do memorando negociado durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) para a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na prática, o processo de adesão ao chamado "Clube dos Ricos" foi travado.

A OCDE reúne as economias mais desenvolvidas, como Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália. Os membros assumem acordos para boas práticas em diversas áreas e passam por avaliações sobre eficiência de políticas públicas e princípios liberais.

Conforme relatado pela CNN, a resistência à adesão à OCDE dentro do governo petista é liderada pelo assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, e conta com o apoio da Casa Civil, do PT e de parte do Itamaraty.

Nos bastidores, os principais argumentos contrários ao ingresso do Brasil na OCDE envolvem a visão de que a organização possui um viés neocolonialista, além da avaliação do governo de que a OCDE tem se tornado um bloco mais político do que econômico.

Apesar da resistência, o governo ainda analisa os impactos da adesão. Em entrevista à CNN, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, afirmou que o Brasil já cumpre cerca de 120 das 260 condicionantes do acordo.”

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos há 15 anos consecutivos - Camila Barros (Veja)

Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos há 15 anos consecutivos

No ano passado, saldo comercial entre os dois países resultou em déficit de

253 milhões de dólares para o Brasil; veja série histórica

Por Camila Barros

Revista Veja, 7/022025


Em meio ao tarifaço anunciado (e depois suspenso) pelo presidente dos Estados

Unidos, Donald Trump, o governo e o mercado avaliam o que aconteceria, se as

exportações brasileiras fossem taxadas. Trump já afirmou que o Brasil é um dos

países que “querem mal” aos americanos, devido às tarifas que aplica sobre as

importações do Tio Sam. O fato, contudo, é que há mais de uma década, a

relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é marcada por um déficit na

balança brasileira, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria,

Comércio e Serviços (MDIC).

Iniciada em 1997, a série histórica mostra que o saldo comercial foi negativo para

o Brasil em 19 dos últimos 28 anos – ou seja, o país importou mais dos EUA do

que exportou.

Entre 2000 e 2008, o saldo comercial foi favorável ao Brasil, com um pico de

superávit em 2005, quando atingiu 10 bilhões de dólares – resultado de 22,6

bilhões em exportações e 12,6 bilhões em importações.

O cenário se inverteu em 2009, quando o Brasil registrou um déficit de 4,4 bilhões

de dólares no comércio com os Estados Unidos. Desde então, o saldo tem sido

negativo, com o pior resultado em 2022, quando o prejuízo chegou a 13,8 bilhões

de dólares – reflexo de 37,4 bilhões em exportações e 51,3 bilhões em

importações.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás

apenas da China. Em 2024, as exportações brasileiras para o país totalizaram 40,3

bilhões de dólares, correspondendo a 12% do total exportado, enquanto as

importações de produtos americanos atingiram 40,6 bilhões de dólares, ou 15,5%

das compras totais do Brasil.


Trump promete taxar importações

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já afirmou que considera as

tarifas brasileiras excessivas sobre os produtos americanos. Por isso, à medida

que o republicano avança com seu plano de taxação das importações na

fronteira, o Brasil acende um sinal de alerta para possíveis cobranças adicionais

no futuro.

Kevin Hassett, presidente do Conselho de Políticas Econômicas de Trump,

afirmou que uma das alternativas estudadas pelo governo é “equiparar” as tarifas

aplicadas entre os países, por meio da chamada Reciprocal Tariff Act. Nesse

cenário, as tarifas sobre os produtos brasileiros poderiam aumentar

significativamente, já que o Brasil impõe uma tarifa média de 11,2% sobre os

produtos americanos, enquanto os Estados Unidos cobram, em média, 1,5%

sobre os itens brasileiros.


Tributo a Maria da Conceição Tavares - revista Desarrollo económico

Tributo a Maria da Conceição Tavares

Desarrollo económico

diciembre 2024

|Publicaciones periódicas, revistas y boletines » Revista CEPAL




Autor: Fernández, Virginia Laura (Descripción física: páginas 7-16) Editorial: CEPAL

Fecha: diciembre 2024

Signatura: LC/PUB.2024/11-P

Ver publicación

http://repositorio.cepal.org/handle/11362/81223


Descripción

Este artículo es un breve homenaje a la vida y obra de Maria da Conceição Tavares, destacada economista heterodoxa y figura central en el pensamiento económico de América Latina. A través de una narrativa cronológica, se analiza su contribución teórica desde su paso por la Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL) hasta su consolidación como profesora en la Universidad de Campinas (UNICAMP) y la Universidad Federal de Río de Janeiro (UFRJ), así como su incursión en la política brasileña. El texto resalta su papel como pionera del estructuralismo latinoamericano, su análisis crítico al modelo de sustitución de importaciones y su capacidad para integrar enfoques cuantitativos con perspectivas históricas y sociales. Tavares es recordada no solo por sus aportes académicos, sino también por su activismo político y su compromiso con la justicia social, y se considera una figura clave para entender los desafíos actuales del desarrollo inclusivo en la región.

 

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...