segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Land for Peace? Ending the war Russia-Ukraine (WP)

The Washington Post, August 25. 2025

domingo, 24 de agosto de 2025

Saudação ao Embaixador Ricupero - Daniel Afonso da Silva (Ateneo de Ciencias Sociales de Argentina)

Eu já transcrevi o meu texto de saudação (não lido, entretanto) na homenagem que foi prestada ao embaixador Rubens Ricupero como membro de honra do Ateneo de Ciencias Sociales da Argentina, neste sábado 23/08/2025, pela via do Zoom.

Aqui o meu texto: 

5037. “Rubens Ricupero: gran estadista de la diplomacia brasileña”, Brasilia, 21 agosto 2025, 3 p. Contribución en su homenaje como miembro de honor del Ateneo de Ciencias Sociales de Argentina, el 23 de agosto de 2025 (via Zoom: https://bit.ly/AteneoHomenaje). Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/08/rubens-ricupero-gran-estadista-de-la.html).

Tenho o prazer, agora, de transcrever o textos em homenagem ao embaixador Ricupero pelo meu amigo e colega acadêmico Daniel Afonso da Silva, na mesma ocasião: 

Saudação ao Embaixador Ricupero

23/08/2025

Buenos Aires (via Zoom)


Estimado Dr. Gabriel Mussio de Miguel, Presidente del Instituto

Estimado Nicolas Rivelis, Secretario General

A los amigos de la Fundación Fernando Henrique Cardoso, en la persona del Presidente Cardoso, el Director Sérgio Fausto y de nuestro professor Celso Lafer

A los Amigos de la Academia Brasileña de Letras, en la persona del inmortal Antonio Carlos Secchin, quien envía saludos.  

A los amigos de la Asociación Brasileña de Relaciones Internacionales, en la persona de la doctora Andrea Gil

Estimado Profesor Roberto Luis Troster

Meu querido Embajador Paulo Roberto de Almeida

Estimados embajadores, políticos, autoridades, estudiantes y público en general


Es un poeta, un artista, homme des lettres, diplomático, jurista, ministro de Estado, homme d’état, alto funcionario de las Naciones Unidas, brasileño, italiano, tal vez un poco argentino, esposo de Marisa, hijo de Assumpta Jovine, hermano de Romeu

e de Renê, padre de Cristina, de Isabel, de Bernardo e de Mariana, abuelo de Zoe, Lia y Julia, este es Rubens Ricupero que nos reúne hoy aquí.


Es el mejor entre nosotros.“C’est le meilleur parmi nous”.

Lo cual me deja avergonzado, intimidado y sin palabras.

Así que seré breve. Muy breve.

Empezando con una cita de Calderón de La Barca, que nos recuerda “La vida es sueño y sueño, sueños son”.

Estimado Dr. Mussio, a mi me parece que la decisión del Instituto Ateneo de otorgar al Embajador Ricupero esta honoraria y la amabilidad del Embajador al aceptar, es la realización y concretization de un sueño.

Un privilegio para todos nosotros.

Así que, por mi parte, muy humildemente, puedo simplesmente decirle, muchas gracias, doctor Mussio, muchas gracias, Instituto Ateneo y muchas gracias, mi querido Embajador Rubens Ricupero.


E, se me permitem, em bom português, eu gostaria de dizer diretamente ao Rubens, ao Ricupero e ao meu querido e amado Rubens Ricupero, muito obrigado.

Muito por tanto e muito obrigado por tudo.

Vida longa, Rubens

Vida longa, Ricupero

vida longa, Rubens Ricupero

Daniel Afonso da Silva

Rebatendo um bolsonarista ingênuo ou burro - Paulo Roberto de Almeida

Rebatendo um bolsonarista ingênuo, ignorante ou doentio

De vez em quando encontro, nestas paragens, pessoas que sabem escrever razoavelmentebem (ou seja, não são ignorantes ingênuos, mas diplomados pervertidos) e que, a despeito de toda a educação, são capazes, sem qualquer vergonha, de defender um ignaro perverso como o Bozo, supostamente por ser um “democrata”, defendendo o Brasil e os brasileiros contra os “comunistas ditatoriais” como os lulopetistas, que conseguem ser corruptos reincidentes, mas espertos o suficiente para não incorrer no erro de construir o socialismo, sabendo que isso lhes tiraria a capacidade de extrair riqueza dos capitalistas.

Eis o que respondi a um deles:

Bozo é um psicopata perverso, elogiador de torturadores, que acha que a ditadura “matou de menos”, um negacionista vacinal que matou milhares de brasileiros inocentes (muitos bolsonaristas idiotas ao ponto de segui-lo em sua cruzada contra vacinas e medidas profiláticas), e que também é um ladrãozinho vulgar, desde as rachadinhas habituais no inicio de sua carreira política deplorável até chegar a fraude de pedir Pix para seus apoiadores para viver à larga. Também é um falso religioso, um caráter asqueroso e um ignorantão crasso e um imbecil consumado. Nunca foi democrata, sempre foi apenas um candidato a ditador, beneficiado pelas circunstâncias da corrupção petista, admirando ao mesmo tempo Putin e Chávez. 

Como se pode defender um monstro como ele? Só sendo partidário de todas essas deformações de caráter, sem NENHUMA CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO, ou seja, equiparado ao próprio Bozo! 

Não tem vergonha?

Assino sempre o que afirmo:

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24/08/2025

Como a Rússia já perdeu a guerra na Ucrânia - Rodrigo da Silva (O Estado de S. Paulo) ; Introdução de Paulo Roberto de Almeida

Uma introdução necessária a esta boa matéria sobre a derrota da Rússia na sua guerra de agressão à Ucrânia.

Paulo Roberto de Almeida

Estatisticas do CDS ucraniano são bastante confiáveis: costumam colocar perdas russas na faixa de 1000 baixas por dia. Economistas dos anos 1950 costumavam falar de “unlimited supply of labor” no caso de paises pobres com altas taxas de fertilidadece de natalidade. A Rússia tem algo semelhante no caso das muitas regiões pobres da sua grande, imensa federação: jovens paupérrimos são comprados para morrer na guerra, literalmente; as famílias aceitam pois isso lhes dá um alívio financeiro inesperado.

Mas a Russia vai sair dessa guerra ainda mais depauperada economicamente e drenada demograficamente. A Ucrânia destruída materialmente e também drenada demograficamente.

Ou seja, Putin destruiu dois países, incluindo o seu próprio, para NADA!

Quem ganhou? Os produtores e mercadores de armas mais ima vez!

Quem perdeu mais? Os paises pobres, mais uma vez, que também perdem com a hostilidade insana entre China e EUA, por culpa dos EUA, um hegemon que não reconhece o seu declínio inevitável, por fatores puramente internos, nada a ver com atos predatórios da China, que simplesmente faz o seu dever de casa (que é tirar o seu próprio povo da miséria, algo que o Brasil tampouco faz, por cegueira de suas oligarquias).

Tragédia humana e mundial trazida por um reles tirano megalomaníaco.

PRA, vamos à matéria agora!

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Como a Rússia já perdeu a guerra na Ucrânia

Rodrigo da Silva

O Estado de S. Paulo, 22/08/2025 

Nesse momento, a guerra na Ucrânia está corroendo a própria estrutura da sociedade russa.

A guerra na Ucrânia é a maior guerra na Europa desde 1945.

A linha de frente do conflito se estende por mais de mil quilômetros, atravessando campos, cidades e áreas industriais – algo sem paralelo no continente desde a 2ª Guerra Mundial.

Só a Rússia já mobilizou mais de 1,5 milhão de soldados. A Ucrânia colocou outros 700 mil em diferentes funções militares.

Não há nada tão violento na Europa nos últimos 80 anos de história. E nada traduz melhor essa violência do que as estatísticas das mortes.

É verdade que a Rússia mantém em segredo os números oficiais de baixas militares no conflito – desde setembro de 2022, o Kremlin não atualiza o seu balanço. Mas as melhores estimativas nos revelam perdas extraordinariamente altas. Até o último mês de junho, pelo menos 250 mil soldados russos morreram na guerra. Os russos registraram 1 milhão de baixas.

O número de militares russos mortos em pouco mais de três anos de conflito é cinco vezes maior que a soma das mortes combinadas da Rússia e da União Soviética em todas as guerras que o país travou entre 1945 e 2022.

Só para colocar em perspectiva: os Estados Unidos perderam pouco mais de 58 mil soldados nos 8 anos da Guerra no Vietnã. A cada ano, a Rússia tem perdido um Vietnã na Ucrânia.

Na verdade, mais do que isso: em míseros 3 anos, morreram mais russos na Ucrânia do que americanos em todas as guerras que os Estados Unidos lutaram desde 1945.

Durante os 10 anos da guerra do Afeganistão, a União Soviética perdeu 15 mil soldados. A Rússia perde isso hoje em um mês de combate na Ucrânia. Com uma diferença considerável: Moscou suportou 15 mil mortos no Afeganistão, sofrendo uma pressão política que tornou o conflito bastante impopular na Rússia. Hoje, o Kremlin lida com o desafio de transportar dezenas de milhares de mortos em muito menos tempo.

O dinheiro, claro, ajuda. Hoje, uma família de um soldado russo morto pode receber, de uma vez, até 14 milhões de rublos em benefícios sociais, o equivalente a R$ 800 mil.

É certamente um dinheiro bem alto para o padrão de vida russo (8 vezes o salário médio anual do país). Só em 2024 o Kremlin destinou o equivalente a US$ 15 bilhões para pagar compensações de morte e invalidez pela guerra – 6% de todo o orçamento federal anual.

E esse buraco não parece ter fim. No ritmo atual, 440 russos estão morrendo todos os dias na Ucrânia.

E não são só os mortos que retornam em caixões: soldados com membros amputados e ferimentos graves também estão voltando para casa, provocando um aumento bem acentuado na produção de próteses na Rússia.

A indústria da morte agradece. Dados do Ministério do Trabalho da Rússia revelam que Moscou subsidiou o fornecimento de 152 mil próteses em 2024, um aumento de 53% em relação a 2023 – quando 99 mil braços e pernas artificiais foram distribuídos –, outro aumento frente às 64 mil próteses de 2022, quando a guerra começou.

Empresas de caixões também relatam crescimento nos negócios. Só nos primeiros quatro meses desse ano, as funerárias russas faturaram quase 40 bilhões de rublos (cerca de R$ 2 bilhões), um aumento de 12% em relação ao ano passado.

E já não morre mais gente com o mesmo perfil de antes.

Enquanto nos primeiros meses da guerra, a idade média dos soldados que lutavam na Ucrânia era de 20 anos, esse número agora é de 36.

Muitos dos mortos não são só soldados, mas profissionais de diversas áreas: engenheiros, médicos, professores, metalúrgicos. Se no começo a guerra era dominada pelos militares de carreira, a Rússia hoje depende cada vez mais de recrutas civis de meia-idade.

Na prática, regiões bem pobres e distantes, onde há pouco emprego e salários baixos, lotados de minorias étnicas, se tornaram o principal reservatório humano do Exército russo.

Em alguns casos, homens são literalmente sequestrados em vilarejos; abordados nas ruas, retirados das suas casas ou capturados em pontos de ônibus, sem qualquer aviso.

Na Buriácia, por exemplo, no extremo leste da Sibéria, a taxa de mortos na guerra é até 30 vezes maior do que em Moscou. Em repúblicas do Cáucaso, como o Daguestão, jovens muçulmanos são convocados em massa, muitas vezes sob pressão direta das autoridades locais.

No fim, a estratégia é coerente: as mortes russas se concentram em regiões com baixo peso político, longe dos centros de poder. O luto de mães buriates ou daguestanesas faz bem menos barulho do que o de uma mãe de Moscou.

A Rússia diz treinar essas pessoas entre 3 semanas e 6 meses, dependendo da função. Mas a verdade é que há muitos relatos de 1 mês de treinamento – e para algumas operações, a quantidade de treino fornecido varia entre dois dias e duas semanas.

A Rússia já tinha uma pirâmide etária deformada por conta da 2ª Guerra Mundial e da crise dos anos 1990. Tanto é assim que o país já vinha em declínio populacional antes da guerra. Mas a situação agora é caótica.

A população economicamente ativa russa está encolhendo. E essa escassez de trabalhadores produzirá, no curto prazo, não só uma queda da produtividade russa, mas uma possível importação forçada de mão de obra estrangeira – principalmente da Ásia Central e de países muçulmanos.

É claro que as perdas da Ucrânia também são bem altas. Em dezembro do ano passado, Zelenski revelou 43 mil soldados ucranianos mortos em combate e 370 mil feridos desde o início da invasão russa.

Além dessas mortes, quase 14 mil civis ucranianos foram mortos no conflito, e 35 mil ficaram feridos.

A Ucrânia é indiscutivelmente a grande vítima desse conflito, mas os russos são os maiores derrotados.

Nesse momento, a guerra na Ucrânia está corroendo a própria estrutura da sociedade russa. Cada caixão que retorna, a cada dia de batalha, significa não só um soldado a menos, mas um pai ausente, uma família quebrada, uma comunidade empobrecida.

Nesses três anos de conflito, centenas de milhares de crianças perderam o pai. Outras centenas de milhares de mulheres ficaram viúvas.

O resultado é uma geração marcada pelo luto.

Hoje, o Kremlin até consegue comprar o silêncio com indenizações, próteses e propaganda. Não há grandes manifestações contra Putin. Mas esse silêncio tem prazo de validade.

A Rússia pode até sustentar a guerra no campo de batalha, mas está perdendo em casa. E quando a poeira baixar, Moscou governará um país menor, mais pobre e mais velho. E nenhum triunfo militar, real ou inventado, será capaz de compensar essa derrota.

sábado, 23 de agosto de 2025

Comment fut inventé le peuple juif - Shlomo Sand (Le Monde Diplomatique)

Déconstruction d’une histoire mythique

Comment fut inventé le peuple juif
par Shlomo Sand
Le Monde Diplomatique, Aôut 2025

Victor Brauner. — « Coupe du doute » (1946)
Museu de Arte, São Paulo, Brésil

Les Juifs forment-ils un peuple ? A cette question ancienne, un historien israélien apporte une réponse nouvelle. Contrairement à l’idée reçue, la diaspora ne naquit pas de l’expulsion des Hébreux de Palestine, mais de conversions successives en Afrique du Nord, en Europe du Sud et au Proche-Orient. Voilà qui ébranle un des fondements de la pensée sioniste, celui qui voudrait que les Juifs soient les descendants du royaume de David et non — à Dieu ne plaise ! — les héritiers de guerriers berbères ou de cavaliers khazars.

out Israélien sait, sans l’ombre d’un doute, que le peuple juif existe depuis qu’il a reçu la Torah (1) dans le Sinaï, et qu’il en est le descendant direct et exclusif. Chacun se persuade que ce peuple, sorti d’Egypte, s’est fixé sur la « terre promise », où fut édifié le glorieux royaume de David et de Salomon, partagé ensuite en royaumes de Juda et d’Israël. De même, nul n’ignore qu’il a connu l’exil à deux reprises : après la destruction du premier temple, au VIe siècle avant J.-C., puis à la suite de celle du second temple, en l’an 70 après J.C.

S’ensuivit pour lui une errance de près de deux mille ans : ses tribulations le menèrent au Yémen, au Maroc, en Espagne, en Allemagne, en Pologne et jusqu’au fin fond de la Russie, mais il parvint toujours à préserver les liens du sang entre ses communautés éloignées. Ainsi, son unicité ne fut pas altérée. A la fin du XIXe siècle, les conditions mûrirent pour son retour dans l’antique patrie. Sans le génocide nazi, des millions de Juifs auraient naturellement repeuplé Eretz Israël (« la terre d’Israël ») puisqu’ils en rêvaient depuis vingt siècles.

Vierge, la Palestine attendait que son peuple originel vienne la faire refleurir. Car elle lui appartenait, et non à cette minorité arabe, dépourvue d’histoire, arrivée là par hasard. Justes étaient donc les guerres menées par le peuple errant pour reprendre possession de sa terre ; et criminelle l’opposition violente de la population locale.

D’où vient cette interprétation de l’histoire juive ? Elle est l’œuvre, depuis la seconde moitié du XIXe siècle, de talentueux reconstructeurs du passé, dont l’imagination fertile a inventé, sur la base de morceaux de mémoire religieuse, juive et chrétienne, un enchaînement généalogique continu pour le peuple juif. L’abondante historiographie du judaïsme comporte, certes, une pluralité d’approches. Mais les polémiques en son sein n’ont jamais remis en cause les conceptions essentialistes élaborées principalement à la fin du XIXe siècle et au début du XXe.

Lorsque apparaissaient des découvertes susceptibles de contredire l’image du passé linéaire, elles ne bénéficiaient quasiment d’aucun écho. L’impératif national, telle une mâchoire solidement refermée, bloquait toute espèce de contradiction et de déviation par rapport au récit dominant. Les instances spécifiques de production de la connaissance sur le passé juif — les départements exclusivement consacrés à l’« histoire du peuple juif », séparés des départements d’histoire (appelée en Israël « histoire générale ») — ont largement contribué à cette curieuse hémiplégie. Même le débat, de caractère juridique, sur « qui est juif ? » n’a pas préoccupé ces historiens : pour eux, est juif tout descendant du peuple contraint à l’exil il y a deux mille ans.

Ces chercheurs « autorisés » du passé ne participèrent pas non plus à la controverse des « nouveaux historiens », engagée à la fin des années 1980. La plupart des acteurs de ce débat public, en nombre limité, venaient d’autres disciplines ou bien d’horizons extra-universitaires : sociologues, orientalistes, linguistes, géographes, spécialistes en science politique, chercheurs en littérature, archéologues formulèrent des réflexions nouvelles sur le passé juif et sioniste. On comptait également dans leurs rangs des diplômés venus de l’étranger. Des « départements d’histoire juive » ne parvinrent, en revanche, que des échos craintifs et conservateurs, enrobés d’une rhétorique apologétique à base d’idées reçues.

Le judaïsme, religion prosélyte
Bref, en soixante ans, l’histoire nationale a très peu mûri, et elle n’évoluera vraisemblablement pas à brève échéance. Pourtant, les faits mis au jour par les recherches posent à tout historien honnête des questions surprenantes au premier abord, mais néanmoins fondamentales.

La Bible peut-elle être considérée comme un livre d’histoire ? Les premiers historiens juifs modernes, comme Isaak Markus Jost ou Leopold Zunz, dans la première moitié du XIXe siècle, ne la percevaient pas ainsi : à leurs yeux, l’Ancien Testament se présentait comme un livre de théologie constitutif des communautés religieuses juives après la destruction du premier temple. Il a fallu attendre la seconde moitié du même siècle pour trouver des historiens, en premier lieu Heinrich Graetz, porteurs d’une vision « nationale » de la Bible : ils ont transformé le départ d’Abraham pour Canaan, la sortie d’Egypte ou encore le royaume unifié de David et Salomon en récits d’un passé authentiquement national. Les historiens sionistes n’ont cessé, depuis, de réitérer ces « vérités bibliques », devenues nourriture quotidienne de l’éducation nationale.

Mais voilà qu’au cours des années 1980 la terre tremble, ébranlant ces mythes fondateurs. Les découvertes de la « nouvelle archéologie » contredisent la possibilité d’un grand exode au XIIIe siècle avant notre ère. De même, Moïse n’a pas pu faire sortir les Hébreux d’Egypte et les conduire vers la « terre promise » pour la bonne raison qu’à l’époque celle-ci… était aux mains des Egyptiens. On ne trouve d’ailleurs aucune trace d’une révolte d’esclaves dans l’empire des pharaons, ni d’une conquête rapide du pays de Canaan par un élément étranger.

Il n’existe pas non plus de signe ou de souvenir du somptueux royaume de David et de Salomon. Les découvertes de la décennie écoulée montrent l’existence, à l’époque, de deux petits royaumes : Israël, le plus puissant, et Juda, la future Judée. Les habitants de cette dernière ne subirent pas non plus d’exil au VIe siècle avant notre ère : seules ses élites politiques et intellectuelles durent s’installer à Babylone. De cette rencontre décisive avec les cultes perses naîtra le monothéisme juif.

L’exil de l’an 70 de notre ère a-t-il, lui, effectivement eu lieu ? Paradoxalement, cet « événement fondateur » dans l’histoire des Juifs, d’où la diaspora tire son origine, n’a pas donné lieu au moindre ouvrage de recherche. Et pour une raison bien prosaïque : les Romains n’ont jamais exilé de peuple sur tout le flanc oriental de la Méditerranée. A l’exception des prisonniers réduits en esclavage, les habitants de Judée continuèrent de vivre sur leurs terres, même après la destruction du second temple.

Une partie d’entre eux se convertit au christianisme au IVe siècle, tandis que la grande majorité se rallia à l’islam lors de la conquête arabe au VIIe siècle. La plupart des penseurs sionistes n’en ignoraient rien : ainsi, Yitzhak Ben Zvi, futur président de l’Etat d’Israël, tout comme David Ben Gourion, fondateur de l’Etat, l’ont-ils écrit jusqu’en 1929, année de la grande révolte palestinienne. Tous deux mentionnent à plusieurs reprises le fait que les paysans de Palestine sont les descendants des habitants de l’antique Judée (2).

A défaut d’un exil depuis la Palestine romanisée, d’où viennent les nombreux Juifs qui peuplent le pourtour de la Méditerranée dès l’Antiquité ? Derrière le rideau de l’historiographie nationale se cache une étonnante réalité historique. De la révolte des Maccabées, au IIe siècle avant notre ère, à la révolte de Bar-Kokhba, au IIe siècle après J.-C, le judaïsme fut la première religion prosélyte. Les Asmonéens avaient déjà converti de force les Iduméens du sud de la Judée et les Ituréens de Galilée, annexés au « peuple d’Israël ». Partant de ce royaume judéo-hellénique, le judaïsme essaima dans tout le Proche-Orient et sur le pourtour méditerranéen. Au premier siècle de notre ère apparut, dans l’actuel Kurdistan, le royaume juif d’Adiabène, qui ne sera pas le dernier royaume à se « judaïser » : d’autres en feront autant par la suite.

Les écrits de Flavius Josèphe ne constituent pas le seul témoignage de l’ardeur prosélyte des Juifs. D’Horace à Sénèque, de Juvénal à Tacite, bien des écrivains latins en expriment la crainte. La Mishna et le Talmud (3) autorisent cette pratique de la conversion — même si, face à la pression montante du christianisme, les sages de la tradition talmudique exprimeront des réserves à son sujet.

La victoire de la religion de Jésus, au début du IVe siècle, ne met pas fin à l’expansion du judaïsme, mais elle repousse le prosélytisme juif aux marges du monde culturel chrétien. Au Ve siècle apparaît ainsi, à l’emplacement de l’actuel Yémen, un royaume juif vigoureux du nom de Himyar, dont les descendants conserveront leur foi après la victoire de l’islam et jusqu’aux temps modernes. De même, les chroniqueurs arabes nous apprennent l’existence, au VIIe siècle, de tribus berbères judaïsées : face à la poussée arabe, qui atteint l’Afrique du Nord à la fin de ce même siècle, apparaît la figure légendaire de la reine juive Dihya el-Kahina, qui tenta de l’enrayer. Des Berbères judaïsés vont prendre part à la conquête de la péninsule Ibérique, et y poser les fondements de la symbiose particulière entre juifs et musulmans, caractéristique de la culture hispano-arabe.

La conversion de masse la plus significative survient entre la mer Noire et la mer Caspienne : elle concerne l’immense royaume khazar, au VIIIe siècle. L’expansion du judaïsme, du Caucase à l’Ukraine actuelle, engendre de multiples communautés, que les invasions mongoles du XIIIe siècle refoulent en nombre vers l’est de l’Europe. Là, avec les Juifs venus des régions slaves du Sud et des actuels territoires allemands, elles poseront les bases de la grande culture yiddish (4).

Ces récits des origines plurielles des Juifs figurent, de façon plus ou moins hésitante, dans l’historiographie sioniste jusque vers les années 1960 ; ils sont ensuite progressivement marginalisés avant de disparaître de la mémoire publique en Israël. Les conquérants de la cité de David, en 1967, se devaient d’être les descendants directs de son royaume mythique et non — à Dieu ne plaise ! — les héritiers de guerriers berbères ou de cavaliers khazars. Les Juifs font alors figure d’« ethnos » spécifique qui, après deux mille ans d’exil et d’errance, a fini par revenir à Jérusalem, sa capitale.

Les tenants de ce récit linéaire et indivisible ne mobilisent pas uniquement l’enseignement de l’histoire : ils convoquent également la biologie. Depuis les années 1970, en Israël, une succession de recherches « scientifiques » s’efforce de démontrer, par tous les moyens, la proximité génétique des Juifs du monde entier. La « recherche sur les origines des populations » représente désormais un champ légitimé et populaire de la biologie moléculaire, tandis que le chromosome Y mâle s’est offert une place d’honneur aux côtés d’une Clio juive (5) dans une quête effrénée de l’unicité d’origine du « peuple élu ».

Cette conception historique constitue la base de la politique identitaire de l’Etat d’Israël, et c’est bien là que le bât blesse ! Elle donne en effet lieu à une définition essentialiste et ethnocentriste du judaïsme, alimentant une ségrégation qui maintient à l’écart les Juifs des non-Juifs — Arabes comme immigrants russes ou travailleurs immigrés.

Israël, soixante ans après sa fondation, refuse de se concevoir comme une république existant pour ses citoyens. Près d’un quart d’entre eux ne sont pas considérés comme des Juifs et, selon l’esprit de ses lois, cet Etat n’est pas le leur. En revanche, Israël se présente toujours comme l’Etat des Juifs du monde entier, même s’il ne s’agit plus de réfugiés persécutés, mais de citoyens de plein droit vivant en pleine égalité dans les pays où ils résident. Autrement dit, une ethnocratie sans frontières justifie la sévère discrimination qu’elle pratique à l’encontre d’une partie de ses citoyens en invoquant le mythe de la nation éternelle, reconstituée pour se rassembler sur la « terre de ses ancêtres ».

Ecrire une histoire juive nouvelle, par-delà le prisme sioniste, n’est donc pas chose aisée. La lumière qui s’y brise se transforme en couleurs ethnocentristes appuyées. Or les Juifs ont toujours formé des communautés religieuses constituées, le plus souvent par conversion, dans diverses régions du monde : elles ne représentent donc pas un « ethnos » porteur d’une même origine unique et qui se serait déplacé au fil d’une errance de vingt siècles.

Le développement de toute historiographie comme, plus généralement, le processus de la modernité passent un temps, on le sait, par l’invention de la nation. Celle-ci occupa des millions d’êtres humains au XIXe siècle et durant une partie du XXe. La fin de ce dernier a vu ces rêves commencer à se briser. Des chercheurs, en nombre croissant, analysent, dissèquent et déconstruisent les grands récits nationaux, et notamment les mythes de l’origine commune chers aux chroniques du passé. Les cauchemars identitaires d’hier feront place, demain, à d’autres rêves d’identité. A l’instar de toute personnalité faite d’identités fluides et variées, l’histoire est, elle aussi, une identité en mouvement.

Shlomo Sand

Historien, professeur à l’université de Tel-Aviv, auteur de Comment le peuple juif fut inventé, à paraître chez Fayard en septembre.


Notes:
(1) Texte fondateur du judaïsme, la Torah — la racine hébraïque yara signifie enseigner — se compose des cinq premiers livres de la Bible, ou Pentateuque : Genèse, Exode, Lévitique, Nombres et Deutéronome.

(2) Cf. David Ben Gourion et Yitzhak Ben Zvi, « Eretz Israël » dans le passé et dans le présent (1918, en yiddish), Jérusalem, 1980 (en hébreu) et Ben Zvi, Notre population dans le pays (en hébreu), Varsovie, Comité exécutif de l’Union de la jeunesse et Fonds national juif, 1929.

(3) La Mishna, considérée comme le premier ouvrage de littérature rabbinique, a été achevée au IIe siècle de notre ère. Le Talmud synthétise l’ensemble des débats rabbiniques concernant la loi, les coutumes et l’histoire des Juifs. Il y a deux Talmud : celui de Palestine, écrit entre le IIIe et le Ve siècle, et celui de Babylone, achevé à la fin du Ve siècle.

(4) Parlé par les Juifs d’Europe orientale, le yiddish est une langue slavo-allemande comprenant des mots issus de l’hébreu.

(5) Dans la mythologie grecque, Clio était la muse de l’Histoire.

https://www.monde-diplomatique.fr/2008/08/SAND/16205

A Paz de Westfália - Fausto Godoy (Facebook)

REQUIEM PARA WESTFALIA...

Fausto Godoy

O mundo moderno é herdeiro da Paz de Westfalia...

Estou-me referindo aos tratados de paz assinados em 1648 nas cidades alemãs de Münster e Osnabrück, que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos na Europa, a qual durou de 1618 a 1648. Estes tratados, firmados entre o Imperador Fernando III, do Sacro Império Romano-Germânico, os demais príncipes alemães e os Reinos da França e da Suécia, marcaram o declínio do Império e do Papado de Roma e a emergência de um novo sistema de poder.

Este, que foi um dos conflitos mais sangrentos da história europeia, teve início por motivos religiosos decorrentes da Reforma Protestante. Começaram por um ato de protesto de nobres boêmios contra a tentativa do imperador Fernando III de abolir as igrejas luteranas. O conflito evoluiu da disputa religiosa para a luta por supremacia entre as potências europeias, inaugurando o sistema de relações internacionais moderno, baseado no poder temporal e nos interesses seculares em vez dos religiosos. E teve por consequência a emergência do conceito de soberania dos Estados nacionais: desfez-se o Império, refez-se a cartografia politica, e cada Estado passou a ter autoridade exclusiva sobre seu território, sem interferências externas.  A partir de então este tem sido o padrão que rege o relacionamento entre os países... 

Só que... esta tem sido também a grande mazela neste início do século XXI, quando a intensificação do processo de globalização das economias vem transformando de forma radical a geografia humana e econômica e, desta forma, o jogo de poder no planeta...

Desde o final do século XIX e início do século XX, o ocaso do colonialismo europeu, que se consolidou no final da II Guerra Mundial, sacralizou o fim da Europa imperial e colonialista, e deu azo à consolidação de novos atores, mormente os Estados Unidos, que no final do conflito passaram a compartilhar com a então União Soviética a disputa pela hegemonia planetária... Só que em 1991 esta se dissolveu e tornou a América no único hegemon mundial... Só que a partir de 1978, as reformas de Deng Xiaoping na República Popular da China - até então maoísta - alavancaram o “País do Meio” a se liberar do seu “século das humilhações” - como os chineses alcunham o século XIX, em que foram vítimas dos ingleses nas duas “Guerras do Ópio” - e do ranço ideológico radical do maoísmo, e sob sua batuta passou a “caçar ratos, não importasse a cor do gato”, como Deng afirmava... ou seja, a abrir-se para o mundo independentemente do credo político-ideológico e dos sistemas de governo dos parceiros. Foram então criadas as “zonas econômicas especiais”, encerrando o isolamento multicentenário da China. A partir de então ela ganhou o ímpeto que a transformou na segunda maior economia do planeta, já disputando agora com os Estados Unidos a liderança. Ou seja, em oitenta anos o planeta mudou quatro vezes de “patrões”!...

A pergunta que não quer se calar neste ponto é... será que as estripulias isolacionistas de Donald Trump no intuito de “Make America Great Again”, que afetam o planeta por inteiro - como estamos aturdidamente acompanhando - marcariam o início do declínio de um dos dois atuais hegemons?... Mais radicalmente falando: será que a hegemonia territorial será substituída, enfim, pela hegemonia econômica?...Fará sentido disputas territoriais num mundo economicamente interligado?...

Vamos, uma vez mais, recorrer à História...desta vez a da China... Cabe ressaltar, primeiramente, que ao longo da sua história ela não invadiu nenhum país; ou seja, à parte o Tibete e Taiwan que ela reivindica - com ou sem razão(ões)... - como suas partes inalienáveis, ela se reteve ao seu próprio território. Ao contrário, construiu as muralhas que a isolaram dos “bárbaros”, na busca de preservar sua coerência civilizacional...haja vista que o seu nome, em mandarim, é “Zhōngguó”  (中国), o país (terra) do meio. Ou seja, antes de ser um país, ela se considera como uma Civilização....com base nisto, ela espraiou seu comércio pelo Ocidente afora através da Rota da Seda e tornou-se a maior economia do mundo ao longo dos séculos; porém trancou-se sobre si mesma, não permitindo a presença de estrangeiros no seu solo. 

Corolário disto é a sua participação nos dois conflitos de cunho vestfaliano que mobilizam todo o planeta na atualidade: a guerra da Ucrânia e o conflito Israel-Palestina. À parte declarações retóricas, e algum posicionamento sobretudo em favor da Rússia aliada, ela tem-se pouco manifestado de forma mais engajada. Isto porque o que lhe interessa, na verdade, é a hegemonia econômica!

Este é um dos corolários do livro “The China Dream”, escrito por um professor da Academia de Defesa da China, Liu Mingfu, livro este que o Presidente Xi Jinping menciona amiúde. Logo no seu primeiro capítulo, intitulado “China´s Dream for a Century” está escrito: ”…it has been China´s dream for a century to become the world´s leading nation...but what does it mean for China to become the world´s leading nation? First it means that China´s economy will lead the world. On that basis it will make China the strongest country in the world. As China rises to the status of a great power in the 21st century, its aim is nothing less than the top – to be the leader of the modern global economy”!!!!!… 

Em nenhum momento é feita menção a avanços sobre outros territórios... este é um tema que não lhe interessa, até porque ela sabe que cada vez mais o mundo “vestfaliano” vai paulatinamente cedendo espaço para o atual e maior impulso agregador da humanidade: o comércio (e a tecnologia...). Fruto dele o planeta se desloca cada vez mais para o Oriente, onde estão algumas das economias mais pujantes: China, a segunda maior, e a Índia, a quinta (ainda....). E não nos esqueçamos da Coreia do Sul, do Japão, da Indonésia, do Vietnã, etc... E assim “la nave va”...

Neste cenário fica a pergunta recorrente: para onde vamos nós, brasileiros?... Seguindo a nossa herança atávica, vamos nos enquistar no universo que conhecemos melhor e sofrermos as suas consequências, tal como agora... ou nos atirarmos na aventura, como fizeram os nossos antepassados portugueses? Remember Sagres... 


Westfalia, ou o Futuro?...To be continued...

Mensagem numa garrafa imaginária - Paulo Roberto de Almeida

 Uma "mensagem" do início do ano, que ainda parece ter algunma validade:


Mensagem numa garrafa imaginária

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Dirigindo-me aos que me seguem e outros curiosos.

        A meus amigos da Direita e da Esquerda, que os tenho, certamente (pelo menos quando eu posso com eles argumentar racionalmente), e não sei se os tenho também na Extrema-Direita (alguns o são, discretos, talvez disfarçados, vários não confessos) e na Extrema-Esquerda (ela anda meio frouxa ultimamente, ao passo que os do outro lado do espectro andam mais excitados):
        Uma simples nota para dizer que não tenho nenhum arrepio ou reserva em discutir e argumentar racionalmente com quaisquer representantes do amplo leque ideológico presente no espaço público. Só tenho uma certa alergia à burrice, que parece se estender democraticamente por todo o espectro político (acredito, porém, que nenhum da espécie se digna discutir comigo, que sou de um natural reservoso, mas aberto a todo tipo de argumento).
        Aceito argumentos contra e a favor das economias de mercado, assim como contra e favor de uma economia parcial ou totalmente estatizada, de preferência apoiados em evidências empíricas que sustentem sua eficácia, going to the best, ainda que seja um second best.
        Aceito argumentos em favor de repúblicas ou monarquias, sistemas presidencialistas ou parlamentaristas, centralizados, unitários ou federativos, de preferência abertos às alternâncias, próprias dos regimes democráticos. Populismos são inevitáveis em quaisquer regimes, mas detesto a demagogia popularesca e as mentiras muito frequentemente assacadas para enganar eleitores incautos.
        Não preciso dizer que detesto, repudio, odeio e combato ditaduras de todo tipo, as resultantes de golpes de força, assim como aquelas plebiscitariamente construídas a partir de solertes golpes publicitários.
        Tortura e torturadores devem ser imediatamente denunciados e seus autores expostos à execração pública.
        Indo à concretude dos fatos, os assaltantes do Capitólio americano, assim como os invasores e destruidores dos três poderes no Brasil devem julgados, condenados e punidos, sem qualquer leniência. Não há “mas…”.
        Os apoiadores da Direita no Brasil não precisam de uma ditadura para exercer o poder, desde que o conquistem pela via eleitoral, democraticamente expressa, o que vale igualmente para as Esquerdas.
        Aqueles que adentrarem meus espaços para defender seres ou regimes execráveis, à Direita ou à Esquerda, são solicitados a permanecer inertes e silentes, do contrário serão inapelavelmente deletados ad aeternum, como diria o papa, sem qualquer explicação ou recurso.
        Suponho que “centristas”, de qualquer coloração, sejam naturalmente tolerantes à alternância e respeitadores das regras do jogo democrático, embora alguns sejam perfeitamente oligárquicos, como é o caso na maioria dos países.
        Assim como na maioria dos países, o Brasil comporta, tradicionalmente, seus oligarcas, em geral de Direita, embora as Esquerdas também os possam exibir. Populistas e demagogos se exercem de forma abundante, mas são o mal menor de todas as democracias, abertas a todos os talentos, mesmo aqueles menos recomendáveis.
        Assim que minha mensagem na garrafa está lançada: ditatoriais ostensivos ou in pectore abstenham-se e me deletem. Não preciso da companhia dessa casta de intocáveis políticos (sei que eles raras vezes se corrigem, e uma vez fascistas, racistas e autoritários eles tendem a se manter assim).
        Basta ver bolsonaristas e trumpistas, assim como chavistas, orteguistas, putinistas e aiatolás: aceitam qualquer ignomínia de seus chefetes execráveis e conseguem ser tão idiotas e repugnantes quanto eles. Mil perdões às almas cândidas por estas ofensas finais: apenas uma maneira de deixar bem claro meu repúdio a toda uma categoria concreta e completa de imbecis (existem vários outros, porém).
        Como sempre, assino embaixo do que escrevo:

Paulo Roberto Almeida
Brasília,21/02/2025

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Complemento em 22/02/2025:
        Almas cândidas se espantam com meu posicionamento a favor de um julgamento pelo STF da mal identificada turba de golpistas — na Denúncia da PGR apresentada como grupo criminoso, o que estava longe de ser formalizado — que tentou DE FATO consumar um golpe autoritário continuísta, e só não o conseguiu por extraordinária imbecilidade e covardia do chefe formal do ajuntamento de meliantes antidemocráticos. Esse foi o único fator do fracasso da tentativa: estupidez extrema e total incapacidade do condutor do brancaleônico grupo de golpistas amadores. O outro fator foi a recusa de dois comandantes militares de movimentar tanques e aviões, ponto. Se, mesmo com toda essa desorganização, eles tivessem conseguido, estaríamos entregues não a uma organização tecnocrática-autoritária, como a de 1964 (com a classe política quase toda aliada no empreendimento), mas a uma ditadura de milicianos, rufiões e bandidos vulgares, uma seja, um ridículo regime autoritário incapaz de prover, como em 1964, ordem e segurança, mesmo no arbítrio dos tigres torturadores. Só teríamos estes últimos, o caos bolsonarista e sua tropa mambembe.         O Brasil não evitou um regime autoritário, o Brasil escapou de um bando de imbecis consumados. Esse era o golpe, muito diferente do caso americano, que acaba de reeleger democraticamente um imbecil consumado.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4856, 21 fevereiro 2025, 3 p.
Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/02/mensagem-numa-garrafa-imaginaria-paulo.html).


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