terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Como diplomata, confesso que tenho vergonha da política externa do atual governo - Paulo Roberto de Almeida

Como diplomata, confesso que tenho vergonha da política externa do atual governo

Passei 44 anos trabalhando para o serviço exterior do Estado brasileiro, cumprindo instruções (mesmo se tivesse qualquer discordância parcial com algumas delas), acreditando servir ao melhor o interesse nacional.

Não era apenas, nunca fui, um burocrata obediente: contestei posturas e registrei em artigos e livros minha própria concepção de uma diplomacia adequada a nossos principios e valores e de uma política externa compatível com o Direito Internacional, não aquele abstrato, mas um apoiado na ética e na moral.

Pois devo dizer claramente agora, que como cidadão do mundo, antes mesmo que como um brasileiro comum, e ante a maior guerra de agressão levada a cabo por um Estado terrorista, comandado por um criminoso de guerra, contra um país soberano, tenho profunda vergonha do apoio objetivo que o atual governo concede ao Estado agressor. Repito: PROFUNDA VERGONHA, para que fique bem claro!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/12/2025


Uma paz não kantiana?: Sobre a paz e a guerra na era contemporânea (trechos) - Paulo Roberto de Almeida

Um trecho de meu ensaio:
Uma paz não kantiana?
: Sobre a paz e a guerra na era contemporânea

Paulo Roberto de Almeida
In: Eduardo Svartman, Maria Celina d’Araujo e Samuel Alves Soares (orgs.),
Defesa, Segurança Nacional e Forças Armadas: II Encontro da Abed
(Campinas: Mercado de Letras, 2009, 376 p.; ISBN: 978-85-7591-112-9; p. 19-38).

Sumário:
1. Introdução: Raymond Aron corrige Immanuel Kant
2. Guerra e paz em perspectiva histórica
3. Sobre uma paz não kantiana, em meio a conflitos prováveis
4. Da grande para a pequena geopolítica (em torno dos conflitos regionais)
(...)

"Inglaterra e Espanha tiveram um grande enfrentamento geopolítico no século 16, em torno de seus interesses nacionais respectivos (que não se limitavam ao controle do Atlântico Norte). França e Inglaterra estiveram em conflito geopolítico no decorrer dos dois séculos seguintes, na Europa e nas Américas, episódios apenas concluídos com a derrota definitiva de Napoleão (ainda assim com escaramuças subsequentes, localizadas na África e no sul da Ásia). Depois, ambas as potências levaram uma luta geopolítica conjunta contra a expansão russa em direção do Mar Negro e contra o império otomano, nos Balcãs e no Oriente Médio. O século 19 e a primeira metade do século 20 foram, indiscutivelmente, etapas sucessivas da grande luta hegemônica conduzida pela Alemanha em sua busca de supremacia geopolítica na Europa central e em âmbito mundial. O Japão acompanhou a tendência, no mesmo período, tentando construir sua esfera de ‘co-prosperidade’ na Ásia, primeiro derrotando a China e a Rússia em conflitos limitados, depois invadindo a China em grande estilo, finalmente enfrentando o grande rival geopolítico no Pacífico, os EUA."
(...)
Trecho do final:
"Como dizia Sun Tzu (2008: 20), a guerra tem importância crucial para os Estados e, no cenário previsível, nenhuma comunidade internacional suplantará o poder dos Estados nacionais nas questões definitivas de guerra e de paz. Nas condições da globalização, porém, a guerra não tem mais por objetivo conquistar terrenos, subjugar inimigos ou esmagar desafiantes no plano diretamente material. A ‘guerra’ econômica da atualidade (e, presumivelmente, cada vez mais, as ‘guerras’ do futuro) tem mais a ver com o domínio da tecnologia e do saber científico do que com o deslocamento de tropas no terreno, mesmo que este ainda seja um fator diferencial para os conflitos de pequena geopolítica do presente e para contendores secundários (e, aqui, tanto Clausewitz quanto Maquiavel podem ser de grande auxílio intelectual).
Quanto à grande geopolítica, ela provavelmente terá mais a ver com Adam Smith do que com Kant, mesmo que este continue relevante, talvez em alguma combinação com o primeiro, segundo uma fórmula ainda não exatamente detectada pelos cientistas políticos da globalização. Para terminar mais uma vez com Raymond Aron, ouso reinterpretar seu velho diagnóstico do início da Guerra Fria e formular uma antevisão para os primeiros (e seguintes) anos do século 21: guerra distante, paz possível, mas conflitos muito prováveis...

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2009]

Ler a íntegra aqui:
Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu:
https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_
Divulgado no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/12/uma-paz-nao-kantiana-sobre-paz-e-guerra.html

Mercado Comum da Guerra? Acordo Militar EUA-Paraguai

Mercado Comum da Guerra?

O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios membros e entre eles e terceiros, sem algum acordo exclusivo com vistas à cooperação com um Departamento de Guerra de uma grande potência. O Paraguai — que eu achava, em meu primeiro livro sobre o Mercosul, 1993, que NÃO deveria pertencer ao Mercosul, mas esse trecho foi objeto de censura de algum sábio do Itamaraty — acaba de inovar nesse quesito e cria um enorme problema para o Brasil (mas não para a Argentina de Milei, d talvez não para o Chile de Kast, em 2026). Tudo agora é possível, até um esvaziamento do Mercosul, sobretudo se o acordo com a UE não sair. Tempos interessantes!

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Governo Trump assina acordo de cooperação com Paraguai que prevê atuação de militares dos EUA no país

Acordo condiz com novas bases da estratégia militar americana, divulgadas do início do mês, que estabelecem a América Latina como uma esfera prioritária de interesse estratégico dos Estados Unidos, ecoando a Doutrina Monroe.”

Redação g1, 15/12/2025


https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/12/15/governo-trump-assina-acordo-de-cooperacao-com-paraguai-que-preve-militares-dos-eua-no-pais.ghtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar-mobile&utm_campaign=materias

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

RECHERCHES INTERNATIONALES, FISSURES DANS L’ATLANTISME - Alexis COSKUN, Pierre GUERLAIN, Michel ROGALSKI

 RECHERCHES INTERNATIONALES, décembre 2025

PRÉSENTATION
FISSURES DANS L’ATLANTISME
Alexis COSKUN, Pierre GUERLAIN, Michel ROGALSKI
COORDINATEURS DU DOSSIER

Tout chez Donald Trump peut surprendre les observateurs européens : son style, son agressivité, son approche transactionnelle des affaires publiques. Il ne faut pourtant pas se méprendre. La « doctrine Trump » ne constitue pas une rupture imprévisible dans une relation transatlantique pourvoyeuse éternelle de paix, de prospérité et de stabilité.
La relation transatlantique est d’abord le produit de relations de puissances au sein de et entre l’Europe et les Etats-Unis. Ensuite, loin d’être continue et constante la trajectoire de cette relation a épousé les revirements, parfois brutaux, des différentes doctrines stratégiques américaines. Ce faisant les évolutions de la relation transatlantique ont participé de chacune des grandes étapes de la redéfinition des rapports de forces mondiaux depuis le XXème siècle.
Dans ce cadre, il est légitime de s’interroger : à l’heure de Donald Trump, qu’est-ce que la relation transatlantique nous dit des rapports de puissance entre l’Europe et les États-Unis ?
Les conditions commerciales drastiques exigées lors de l’accord dit de « Turnberry » aux européens ont largement été comparées aux Traités inégaux imposés par ces derniers à la Chine au milieu du 19ème siècle. Si l’identification a ses limites, il en demeure un trait commun essentiel : dans les deux cas une différence massive de puissance permit de forcer la partie la plus faible à des concessions extraordinaires et défavorables à ses propres intérêts. Hier l’Empire du milieu acceptait d’ouvrir ses ports à la marine marchande britannique, aujourd’hui l’Europe promet 600 milliards d’investissements productifs aux États-Unis. Si l’Union européenne ne cède pas de territoire en concession, comme auparavant la Chine livrait Hong-Kong aux britanniques et comme les menaces trumpiennes sur le Groenland le faisaient craindre, elle s’engage à payer un tribut de 730 milliards de dollars en produits gaziers et pétroliers auprès des États-Unis. Pour exiger son dû, l’administration américaine a fait étalage de toute sa force. Politiquement elle a remis en cause la souveraineté même des États européens : en menaçant d’annexion certains territoires, en refusant l’application des règles et décisions de justice européennes, particulièrement celles visant ses géants numériques, en dénigrant ses gouvernants et en intervenant directement dans plusieurs forums ou processus électoraux en soutien à certaines des forces xénophobes et populistes du gouvernement. Stratégiquement, elle a contraint les États européens membres de l’Otan à accroître leurs niveaux de dépenses. Économiquement, surtout, elle a directement menacé les industries européennes en faisant planer le risque de couper tout accès réel à son marché, destination toujours privilégiée d’un grand nombre de productions des pays d’Europe, en imposant des droits de douanes largement disproportionnés.
Donald Trump a pu imposer de tels sacrifices à ses homologues européens car ces derniers se trouvent dans une situation de dépendance critique vis-à-vis des États-Unis. Le militaire en est le plus ancien et le plus évident aspect : la majeure partie des armées européennes repose presque exclusivement sur les États-Unis pour leur armement, leur entraînement et leur commandement au sein de l’État-Major de l’Otan. Cependant, la marque distinctive de la période actuelle réside dans un assujettissement européen grandissant dans d’autres domaines. Aux premiers rangs de ceux-ci figurent la soumission des européens aux grandes entreprises numériques américaines, les GAFAM qui sont désormais devenues indispensables non seulement aux entreprises mais également aux citoyens européens. Au travers de ces entreprises, bien souvent en situation de monopoles ou d’oligopoles sur leurs marchés, le gouvernement américain peut contrôler l’accès à des données, des technologies, des savoirs faires essentiels aux européens. S’affirme également avec force la dépendance grandissante des européens à l’énergie américaine, et particulièrement à son Gaz Naturel Liquéfié (GNL) remplaçant de manière croissante les hydrocarbures et le gaz russe. Les européens payent le prix de leurs dépendances. Le refus de maintenir une indépendance militaire et politique réelle vis-à-vis des États-Unis, le recul des investissements dans les infrastructures critiques et énergétiques, l’alignement militaire et diplomatique quasi constant vis-à-vis des États-Unis ont conduit nécessairement les États européens à une situation de fragilité. Plus qu’une rupture franche et éclatante dans la relation transatlantique, Donald Trump tire parti des déséquilibres structurels accumulés dans les rapports économiques et stratégiques entre l’Europe et les États-Unis depuis la fin de la Seconde Guerre mondiale.
L’affirmation grandissante de la domination américaine sur l’Europe répond à l’impératif stratégique immédiat des États-Unis : contrer la montée en puissance de la Chine. Plus qu’un retour à un isolationnisme théorique, il s’agit d’envoyer un message clair aux européens : l’inféodation pleine et entière. Face à la Chine, alors que les flux commerciaux se concentrent de manière croissante autour de blocs géopolitiques, l’équidistance entre puissances ne peut plus être tolérée par Washington. Cette évolution expose, en définitive, les limites d’un modèle de développement européen construit sur le double pari de la délégation de ses prérogatives militaires et régaliennes aux États-Unis - moins vrai pour la France -, de l’intégration de sa production économique dans des chaines de valeur mondialisées toujours plus étendues et intégrées. Privés de ressources énergétiques et minérales propres, tributaires de technologies qu’ils ne maîtrisent pas, sujets à des mesures commerciales brisant l’intégration économique mondiale dont ils sont dépendants les européens ne peuvent maintenir l’équilibre précaire construit depuis 1989. La Chine se refuse au cantonnement au statut d’atelier du monde et n’offre plus de débouchés commerciaux sans fins. L’Europe est écartelée entre puissances contradictoires. En exigeant un alignement total, la relation transatlantique constitue aujourd’hui un handicap pour l’Europe. Les pays européens ne peuvent ignorer la nécessité de repenser leur modèle de développement, et leur relation à Washington. La discussion est d’ailleurs, de manière protéiforme, sur la table, à l’image du denier rapport Draghi. Il demeure que sans mise en cause de leur alignement stratégique vis-à-vis des États-Unis et sans rupture dans un modèle ancré sur les seules logiques de la mondialisation financière, au détriment de la pensée stratégique, les pays européens ne retrouveront pas les voies de leur souveraineté, si ce n’est de leur indépendance.
Les fissures dans la relation transatlantique s’amorcent lorsqu’Obama décide d’amorcer le virage vers le « pivot asiatique » marquant tout à la fois un moindre intérêt pour l’Europe, la certitude que la Russie était reléguée à un statut de puissance régionale et que désormais son seul rival était la Chine et sa préoccupation le contrôle de l’Asie-Pacifique. La guerre entre la Russie et l’Otan sur les terres ukrainiennes a confirmé la différence d’approche entre les deux rives de l’Atlantique et la prise de conscience brutale pour les Européens que la solidarité qui s’exerçait dans le cadre de l’Otan n’avait plus rien d’automatique. La période ouverte par le deuxième mandat de Trump se traduit par un triple mouvement : la perte d’influence, notamment économique, des États-Unis face à la montée d’un Sud global emmené par les BRICS et la Chine ; une Europe qui se « fabrique » un adversaire russe pour accroître ses dépenses militaires et ne pas se désarrimer de Washington ; et cette dernière qui exige de ses Alliés une inféodation absolue – on pense à l’accord signé par Ursula Van de Leyen au nom de l’Europe avec Trump – qui emprunte les formes grossières d’une colonisation que l’on pensait obsolète. Un tel équilibre ne peut qu’être instable, tant les dynamiques à l’œuvre sont rapides et puissantes.

ÉDITORIAL

LA GÉNÉRATION Z BOUSCULE TOUT SUR SON PASSAGE
MICHEL ROGALSKI*

Comme une traînée de poudre qui rappelle les prémices de 1968 ou les Printemps arabes, de fortes manifestations de jeunes, sans affiliation politique ou syndicale, ont gagné la planète, notamment le Sud global, de façon inopinée et empruntant des formes spécifiques selon le pays.
Sans lutte armée, sans putsch mais avec détermination impressionnante face à la répression. Utilisant les formes les plus modernes de communication, d’échanges et de coordination comme la plateforme « Discord » de messagerie américaine destinée aux adeptes de jeux en lignes instantanée et bien vite détournée. La plateforme Discord s’est révélée un formidable outil de communication et d’échanges politiques et affirme réunir 200 millions d’utilisateurs à travers le monde. Tik Tok et Instagram complètent le dispositif. Le mouvement s’est répandu à travers la planète, portant partout des revendications largement partagées pouvant se résumer à travers le mot d’ordre « Donnez-nous des droits, enlevez les privilèges ». À cela s’ajoute le refus contre la vie chère et le chômage élevé, l’indigence de services publics ou celui d’être considérés comme des parasites. Parfois avec violence de masse comme au Népal où le Parlement a été incendié et le gouvernement limogé Ce mouvement mondial s’est doté d’un symbole, une tête de pirate, inspiré du célèbre manga One Piece où le pirate Luffy libère les peuples et se bat contre un gouvernement corrompu.
Deux luttes emblématiques : Maroc et Madagascar
Ces deux pays illustrent bien la diversité de ces mouvements.
Tout d’abord le Maroc où rappelons-le la colère s’est propagée après la mort, en août, de huit femmes venues, la même semaine, accoucher par césarienne dans l’hôpital Hassan II d’Agadir dans le sud du pays. Des débordements violents entraînent la mort de trois manifestants. Les protestations s’enchaînent dans tout le pays et demandent la démission du premier ministre Aziz Akhannouch en poste depuis quatre ans. Par contre, le Roi du Maroc – 26 ans de règne - et le régime monarchique sont épargnés. La répression s’organise contre le mouvement qui s’est autoproclamé Gen Z 212 (c’est le numéro du code postal international du pays). La vague répressive atteint déjà plusieurs milliers d’arrestations dont un millier a abouti devant le procureur. Non seulement le mouvement n’a pas été cassé mais la presse s’est solidarisée avec les manifestants et stipendie le système oligarchique. Les mots d’ordre et les revendications s’étoffent et réclament de meilleurs services d’éducation et de santé et plus largement de services publics au service de tous. Le capitalisme de rente et de connivences, la corruption deviennent le centre des mots d’ordre. La bataille idéologique fait rage et pose la question du « patriotisme sportif » mis en avant par le régime pour désamorcer le ressentiment populaire. En effet le Maroc ambitionne d’accueillir la prochaine Coupe d’Afrique des Nations de football CAN) et la Coupe du monde de 2030 et s’attire la réponse cinglante des manifestants : « des écoles et des hôpitaux, plutôt que des stades ! ». Et d’ajouter dans une feuille de route : « Nous exigeons que soit comblé le fossé béant entre le Maroc promis par les textes officiels et le Maroc que nous vivons au quotidien. » On assiste à la naissance d’un mouvement sans leader, mené par des jeunes, à la recherche d’un nouveau contrat social et bien décidé à affronter le pouvoir. L’image du royaume notamment à l’étranger a pris un sérieux coup et s’est déjà fissurée. Mais pour l’instant le régime tient bon grâce à la répression et bénéficie d’un large appui des États-Unis qui en ont fait leur principal allié militaire en Afrique ou de la France, son meilleur point d’appui au Maghreb. En outre le Maroc est le premier pays arabe à avoir eu des liens diplomatiques avec Israël, dès 2020, et rêve d’un rapprochement avec l’Union européenne. C’est dire combien le Maroc est un maillon important du système occidental.
À Madagascar, l’armée a désavoué la répression des manifestants par la gendarmerie – comme lors du printemps tunisien, lorsque l’armée a refusé de rejoindre la police entraînant la fuite de Ben Ali. Là encore le président en place depuis 2018 a été exfiltré dans un avion militaire français. Il se trouve aujourd’hui à Dubaï alors que ses collaborateurs les plus proches ont trouvé refuge, grâce à des avions privés, à l’île Maurice où certains d’entre eux ont étés arrêtés et inculpés pour blanchiment d’argent. Le mouvement de protestation s’est mobilisé fin septembre sur deux éléments qui empoisonnent et désorganisent la vie des habitants : les coupures d’eau et d’électricité qui témoignent du caractère obsolète et non-entretenu des réseaux d’équipement ainsi que du manque d’investissements de l’État et sa mauvaise gouvernance dans un pays où le taux de pauvreté touche 75 % de la population. 400 000 jeunes arrivent sur le marché du travail chaque année. C’est devenu une bombe à retardement qui explose aujourd’hui car l’économie ne créée pas suffisamment d’emplois, ce qui oblige ces jeunes à se tourner vers le secteur informel, sous-payé et précaire par définition. Très vite les partis d’opposition et les syndicats ont épousé la cause de la jeunesse et ont appelé à la grève générale alors que les manifestations se sont transformées en émeutes, en pillage et en incendies. La situation est devenue insurrectionnelle et le président a dû lâcher du lest et limoger le gouvernement. La viralité des réseaux sociaux a contribué à l’extension du mouvement. Aujourd’hui les militaires ont pris le pouvoir. Le mouvement Gen Z essaie de les mettre sous surveillance tout en craignant lui-même d’être écarté du processus en cours. En signe de gage de bonne fois, les militaires ont confié à une quarantaine de magistrats de la Cour des comptes le mandat de procéder à un audit de l’État et de la gestion de l’ancien régime. Madagascar est un allié fidèle de Paris. Il faudra suivre avec attention l’évolution de l’avenir de la base navale de Diégo-Suarez, un temps tombée en désuétude mais que les autorités françaises voudraient remettre en activité – base essentielle pour surveiller le trafic qui transite par le canal de Mozambique.
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Ces luttes multiples témoignent de la remise en cause du système partout dominant. Du Maroc au Népal, du Pérou au Bangladesh, du Sri Lanka au Kenya, de la Birmanie à Madagascar, d’Indonésie au Timor-Oriental ou aux Philippines, ces luttes, parfois insurrectionnelles partent à l’assaut des inégalités. Il faut reconnaître l’universel à travers chacune de ces situations particulières. Si la démocratie libérale et les régimes qui la portent sont partout conspués, ils ne sont pas pour autant tous défaits. Le contenu idéologique de ces mouvements reste flou, et s’il témoigne d’un « dégagisme » certain, la colère s’exprime en termes moraux mettant en avant la corruption, le népotisme, la dignité, la trahison, les dépenses fastueuses et l’incompétence. Tous ces griefs s’ajoutant aux traits fondamentaux de ces régimes qui reposent sur l’injustice sociale, le déclassement, la précarité permanente, le chômage, la pauvreté de masse qui touchent l’ensemble de la population et surtout une jeunesse - dont le poids démographique est énorme - qui reste sans avenir et sans perspectives. La détresse et la colère de la jeunesse sont emblématiques d’une situation qui touche toute la population qui assiste à la privatisation des services publics. Les jeunes souvent plus éduqués et diplômés et aujourd’hui largement connectés ont très vite pris conscience, surtout en milieux urbains, de cette situation qui ne peut que les révolter.
Il ne faut pas s’étonner, en l’absence d’idéologie constituée et de structures organisées pour la porter, si les succès sont peu nombreux ou de courte durée et cèdent vite la place à des régimes autoritaires comme ce fut le cas en Tunisie ou en Égypte où des forces organisées de longue date ont su capter le mouvement à leur profit. Les réseaux sociaux – seuls outils de communication et d’organisation – efficaces pour la mobilisation, peuvent accompagner un mouvement mais ne pourront pas se substituer à lui s’il n’existe pas.

A Paz como Projeto e Potência! - Ciclo de Humanidades, André Magnelli e Paulo Roberto de Almeida

 ÚLTIMO ENCONTRO DO CICLO DE HUMANIDADES 2025- 🕊️ 

A Paz como Projeto e Potência! 🌎

Acadêmicos, pesquisadores e todos os curiosos por um mundo mais justo! 🚨 O que é a Paz? Quais são os tipos e modos de sua realização? Podemos construir ativamente uma convivência justa e livre? 🤔

💬 Esses são alguns questionamentos do nosso quarto e último encontro do Ciclo de Humanidades 2025! Encerramos o ano nos concentrando na “pesquisa construtiva da paz”, que consiste na diminuição dos conflitos internacionais por meio de mecanismos cooperativos que fortaleçam um mundo comum – capazes, eventualmente, de gerar uma “paz perpétua” (Kant).

Em diálogo com pensadores como Kant, Paul Valéry, Norberto Bobbio, Hannah Arendt e Raymond Aron, pensaremos a paz não como uma realidade imposta pela impotência, mas sim como um projeto de potencialização, capaz de propiciar uma convivência satisfatória entre os povos da Terra.

Teremos a valiosa participação do diplomata e doutor em Ciências Sociais, Paulo Roberto de Almeida, e do sociólogo e curador do Ciclo, André Magnelli @magnelliandre , compondo nossa mesa redonda! 🙌

Não perca o encontro que encerra a edição deste ano! Venha refletir e construir caminhos conosco!

https://ateliedehumanidades.com/2025/12/15/quarto-encontro-do-ciclo-de-humanidades-2025-a-paz-como-projeto-e-potencia/

📢  Quando e Onde:

🗓 18 de dezembro de 2025

⏰️ 17h30 – Evento online – transmissão ao vivo no canal do Youtube da BiblioMaison:

https://www.youtube.com/watch?v=g2xfS4cngpI 

Venha participar!

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Para conhecer meu "pensamento estratégico" (estou brincando), convido os interessados a ler este meu trabalho: 

Uma paz não kantiana: sobre a guerra e a paz na era contemporânea

Ler a íntegra aqui:
Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu:
https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_
Divulgado no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/12/uma-paz-nao-kantiana-sobre-paz-e-guerra.html


Uma paz não-kantiana? Sobre a paz e a guerra na era contemporânea - Paulo Roberto de Almeida

 Uma paz não-kantiana? Sobre a paz e a guerra na era contemporânea

(Brasília, 5 março 2009, 19 p.; 1987)

Paulo Roberto de Almeida
In: Eduardo Svartman, Maria Celina d’Araujo e Samuel Alves Soares (orgs.), Defesa, Segurança Nacional e Forças Armadas: II Encontro da Abed (Campinas: Mercado de Letras, 2009, 376 p.; ISBN: 978-85-7591-112-9; p. 19-38). Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu: https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_ . Relação de Publicados n. 908.

Sumário:
1. Introdução: Raymond Aron corrige Immanuel Kant
2. Guerra e paz em perspectiva histórica
3. Sobre uma paz não kantiana, em meio a conflitos prováveis
4. Da grande para a pequena geopolítica (em torno dos conflitos regionais)


Resumo: Em 1948, Raymond Aron, convencido dos impasses da Guerra Fria, formulou um diagnóstico por ele confirmado três décadas depois: “paz impossível, guerra improvável”. Uma leitura não kantiana dos problemas da paz e da guerra atualmente – isto é, não condicionada aos sistemas políticos dos contendores, mas situada na tradição aroniana – poderia introduzir novas reflexões sobre a natureza dos conflitos contemporâneos. As possibilidades de conflito aberto entre as grandes potências retrocederam em relação ao panorama de guerras totais, de estilo clausewitziano, que Aron contemplava em sua época. Mas não estamos sequer próximos de qualquer tipo de paz “kantiana”. O cenário estratégico poderia ser resumido numa paráfrase da afirmação aroniana: paz possível, conflitos prováveis.
Palavras-chave: Guerra. Paz. Globalização. Conflitos contemporâneos.

A non-Kantian peace?: On peace and war in the contemporary era
Abstract: Raymond Aron, believing in the irretrievable nature of the Cold War divide between Western powers and Soviet Empire, formulated in 1948 his very well known diagnostics about this conflict: “impossible peace, improbable war”, which he confirmed three decades later, in his posthumous work, “The Last Years of the Century”. A present-day non-Kantian reading of the peace and war problems in the context of globalization – and thus not conditioned by the political system of the contenders, albeit within Aronian tradition – could help in bringing new light to the discussion about possible conflicts in contemporary era. Possibilities of open conflicts between the big powers have receded in comparison with the Clausewitzian scenario, analyzed by Raymond Aron in his time. Yet, we are very far from any kind of a Kantian peace. Strategic scenario could be interpreted by a paraphrase of the Aronian dicto: “possible peace, probable conflicts”.
Key-words: War. Peace. Globalization. Contemporary conflicts.

FORÇA, MINISTRO FACHIN EDITORIAL DO ESTADÃO, 15/12/2025 - Por um Código de Ética para a ministrança

 FORÇA, MINISTRO FACHIN

EDITORIAL DO ESTADÃO, 15/12/2025

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, propôs um código de ética para ministros. A reação dos colegas, entre a indiferença e a irritação, não poderia ser mais eloquente, razão pela qual, segundo se relata em Brasília, Fachin está isolado no Supremo. Diante disso, este jornal manifesta total apoio à iniciativa de Fachin – e concita o Brasil a fazer o mesmo. Se o presidente do Supremo está isolado na Corte, deve ficar claro para seus pares que o País está com ele.

Suprema ironia: o tribunal que alterna seus dias entre promover cruzadas moralizantes e reescrever leis e a própria Constituição recusa-se a redigir um punhado de regras para si mesmo.

Paradoxal, mas consequente: regulamentos elementares de decoro e transparência, que regem as cortes de democracias civilizadas, ameaçam a rotina de privilégios, permissividade e jurisdições alternativas no Brasil – viagens bancadas por empresários com processos na Corte; jantares de lobby travestidos de “seminários”; palestras remuneradas por grupos de interesse; camarotes e jatinhos emprestados; parentes operando como cambistas processuais; sociedades comerciais de ministros; comentários políticos na grande mídia; apadrinhamento de indicações na Justiça; costuras com caciques parlamentares. No mundo real isso se chama conflito de interesses; no STF é “agenda institucional”.

A Corte é hoje a reserva amoral da Nação. Os ministros tornaram inaplicáveis a si mesmos as resoluções do Conselho Nacional de Justiça, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e seu Código de Ética. Declararam-se imunes a impedimentos por suspeição, limitações a atividades empresariais ou à obrigação de se manifestar somente nos autos.

Quando o topo cultiva a indústria do lobby judicial, o empreendedorismo togado, o nepotismo de alta performance, o ativismo ideológico, a guerra santa contra a transparência, por que um desembargador se daria ao trabalho de dizer “não”? Juízes e promotores observam e concluem: a ética é adereço opcional. O STF deveria ser o vértice da integridade republicana. Converteu-se no epicentro da degradação. A confiança pública na Corte segue em queda livre. Tribunais vivem de autoridade simbólica – e ela se desintegra quando seus membros parecem personagens de uma crônica de costumes, não guardiões da lei.

O caso do Banco Master é um microcosmo nesse universo promíscuo. Seu controlador, Daniel Vorcaro, investigado por uma coleção de fraudes, patrocinou encontros exclusivos dos ministros com políticos e empresários e celebrou contratos multimilionários com seus parentes. Quando sua situação criminal se agravou, uma petição nebulosa aterrissou no gabinete de Dias Toffoli, que já confraternizou com ele e advogados do banco. O inquérito foi trancado sob sigilo e descansa em paz.

Se o Estado não controla sua cúpula judicial, como resistirá à infiltração do crime organizado? “Esse país já teve presidente preso, deputado preso, governador preso”, alertou o senador Alessandro Vieira, “mas ainda não teve ministros dos tribunais superiores – e me parece que esse momento se avizinha”.

A crise ética não decorre de pecadilhos individuais. É estrutural. Nasce da fusão entre poder ilimitado e autorregulação indulgente. O personalismo monocrático contaminou a vida judicial. A autoimunidade é reforçada por uma blindagem ativa contra qualquer controle externo: rechaço a auditorias independentes, resistência a mecanismos parlamentares de responsabilização, hermenêuticas criativas que convertem prerrogativas em salvo-condutos. O STF tornou-se juiz – e não raro cúmplice – de si mesmo. Quebrou a bússola moral e a jogou fora.

O código proposto por Fachin não é panaceia, mas seria um bom começo. Ele não limitaria a liberdade da Corte, só a libertinagem de seus ministros. O STF vive a maior crise moral de sua história. E não porque é desmoralizado por “extremistas de direita”, mas porque seus membros normalizaram comportamentos que em jurisdições civilizadas são incompatíveis com a toga. Um tribunal que confunde independência com licença, prerrogativa com privilégio e autoridade com impunidade não conseguiria defender a Constituição – nem que quisesse.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...