...involuntariamente humorístico (pelo menos é o que eu penso):
Pergunta de trabalho escolar:
04) Qual a função do apóstrofo?
Resposta de um gênio anônimo:
"Apóstrofos são os amigos de jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Michelângelo fotografou".
Atenção para o "jesus" (sic), para a jantinha (resic) e o nome do "fotógrafo" (trisic).
Absolutamente genial...
Digno do prêmio igNobel...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
804) Pausa para a poesia: Mario de Andrade
Sempre tive paixão por duas estrofes, tão somente, deste poema de Mario de Andrade:
"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."
Agora o poema por inteiro:
O POETA COME AMENDOIM
Mário de Andrade (1924)
Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...
Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."
Agora o poema por inteiro:
O POETA COME AMENDOIM
Mário de Andrade (1924)
Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...
Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
803) Lições da historia: a derrocada do dólar
A coluna diaria do jornalista econômico Luis Nassif trouxe hoje, 8.11.2007, as ponderações que reproduzo abaixo sobre a queda do dólar e possíveis conflitos derivados disso.
Respondi com outras ponderacoes, que seguem in fine.
Creio que o tema é de interesse geral, por isso reproduzo o que escrevi em particular ao jornalista...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
On 08/11/2007, at 10:33, Agência Dinheiro Vivo wrote:
Racionalidade – 1
Entre as duas Guerras, as principais nações do mundo partiram para um novo arranjo, a Liga das Nações, com a missão de evitar novas guerras. O ponto central do raciocínio dos países é que uma guerra era algo tão irracional que a própria racionalidade de incumbiria de impedir novas conflagrações. Tudo se resolveria com os países sendo democráticos e a racionalidade vinda das eleições se impondo sobre os erros.
Racionalidade – 2
Como se recorda, a Liga ainda compartilhava dessa fantasia quando a Alemanha começou a se armar, como reação às indenizações de guerra que lhe eram cobradas. E poucos anos depois, o mundo entrava em uma guerra muito mais letal, que envolveu praticamente toda a humanidade. Desde então, o estudo da política internacional abriu mão dessa visão de que os atos são conduzidos pela razão.
Racionalidade – 3
Digo isso a respeito da atual situação internacional, desse aparente equilíbrio de interesses que mantém as reservas da China financiando os déficits dos Estados Unidos. Segundo essa visão, jamais a China deixaria de financiar porque jogaria o mundo em uma crise da qual nenhum país sairia incólume. Mais uma vez, uma aposta em uma racionalidade que não costuma imperar em todos os momentos da história.
Racionalidade – 4
É por isso que o dólar ontem voltou a chacoalhar, com o euro batendo em US$ 1,47. O principal fato foram boatos de que parlamentares chineses teriam defendido que a China diversificasse suas reservas internacionais, reduzindo a proporção de dólares. Somados aos problemas dos bancos americanos e à contínua queda da cotação do dólar, o solavanco acabou afetando grande parte das bolsas internacionais.
==============
Meu caro Luis Nassif,
Suas ponderacoes são corretas no geral, mas acredito que pouco adaptadas ao particular.
Os grandes enfrentamentos belicos do seculo XX foram de fato precipitados pela ausencia de entendimento entre as grandes potencias quanto ao grau de acesso a mercados e da coordenacao economica necessaria para enfrentar crises eventuais dos seus sistemas.
A Alemanha era culpada pela Primeira Guerra, teve de pagar mais do que podia, e o resto é aquela historia que o Keynes, como bom profeta neste caso, ja tinha previsto desde 1919, na propria Conferencia da Paz de Versalhes.
A situacao atual não tem a mesma conotacao: ninguem está obrigando ninguem a pagar nada, apenas se discutem desequilibrios macroeconomicos que poderiam ser resolvidos num G8 ampliado à China, mas que nao vao ser, pois nenhum governante gosta de impor sacrificios ao seu povo (vide Protocolo de Quioto e a postura dos EUA).
A consequencia disse é o dolar vai continuar escorregando, tao ou mais rapidamente quanto os chineses facam isso que alguns recomendam: diversifiquem reservas para o euro. A consequencia vai ser uma queda ainda mais rapida do dolar, o que vai ser bom para o mundo e para os proprios EUA: vao ser obrigados a fazer um ajuste mais rapido (pois estao sendo irresponsaveis ate o momento) e suas exportacoes vao se tornar competitivas, tirando mercado dos europeus e japoneses e diminuindo a atratividade dos produtos chineses.
Por outro lado, os chineses ja tem muito dinheiro e algum patrimonio nos EUA, e por isso nao pretendem atirar nos proprios pes. Desvalorizar seus proprios ativos é coisa de malucos,e acho que os chineses não são tão malucos assim...
Dai que o mundo nao vai evoluir para algo tao dramatico como os anos 1930, mas para algo mais benigno, que será uma administracao compartilhada (e dificil) dos sacrificios.
Pensar historicamente nao significa achar que o que veio antes vai se reproduzir novamente.
O abraco do
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Respondi com outras ponderacoes, que seguem in fine.
Creio que o tema é de interesse geral, por isso reproduzo o que escrevi em particular ao jornalista...
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Paulo Roberto de Almeida
On 08/11/2007, at 10:33, Agência Dinheiro Vivo wrote:
Racionalidade – 1
Entre as duas Guerras, as principais nações do mundo partiram para um novo arranjo, a Liga das Nações, com a missão de evitar novas guerras. O ponto central do raciocínio dos países é que uma guerra era algo tão irracional que a própria racionalidade de incumbiria de impedir novas conflagrações. Tudo se resolveria com os países sendo democráticos e a racionalidade vinda das eleições se impondo sobre os erros.
Racionalidade – 2
Como se recorda, a Liga ainda compartilhava dessa fantasia quando a Alemanha começou a se armar, como reação às indenizações de guerra que lhe eram cobradas. E poucos anos depois, o mundo entrava em uma guerra muito mais letal, que envolveu praticamente toda a humanidade. Desde então, o estudo da política internacional abriu mão dessa visão de que os atos são conduzidos pela razão.
Racionalidade – 3
Digo isso a respeito da atual situação internacional, desse aparente equilíbrio de interesses que mantém as reservas da China financiando os déficits dos Estados Unidos. Segundo essa visão, jamais a China deixaria de financiar porque jogaria o mundo em uma crise da qual nenhum país sairia incólume. Mais uma vez, uma aposta em uma racionalidade que não costuma imperar em todos os momentos da história.
Racionalidade – 4
É por isso que o dólar ontem voltou a chacoalhar, com o euro batendo em US$ 1,47. O principal fato foram boatos de que parlamentares chineses teriam defendido que a China diversificasse suas reservas internacionais, reduzindo a proporção de dólares. Somados aos problemas dos bancos americanos e à contínua queda da cotação do dólar, o solavanco acabou afetando grande parte das bolsas internacionais.
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Meu caro Luis Nassif,
Suas ponderacoes são corretas no geral, mas acredito que pouco adaptadas ao particular.
Os grandes enfrentamentos belicos do seculo XX foram de fato precipitados pela ausencia de entendimento entre as grandes potencias quanto ao grau de acesso a mercados e da coordenacao economica necessaria para enfrentar crises eventuais dos seus sistemas.
A Alemanha era culpada pela Primeira Guerra, teve de pagar mais do que podia, e o resto é aquela historia que o Keynes, como bom profeta neste caso, ja tinha previsto desde 1919, na propria Conferencia da Paz de Versalhes.
A situacao atual não tem a mesma conotacao: ninguem está obrigando ninguem a pagar nada, apenas se discutem desequilibrios macroeconomicos que poderiam ser resolvidos num G8 ampliado à China, mas que nao vao ser, pois nenhum governante gosta de impor sacrificios ao seu povo (vide Protocolo de Quioto e a postura dos EUA).
A consequencia disse é o dolar vai continuar escorregando, tao ou mais rapidamente quanto os chineses facam isso que alguns recomendam: diversifiquem reservas para o euro. A consequencia vai ser uma queda ainda mais rapida do dolar, o que vai ser bom para o mundo e para os proprios EUA: vao ser obrigados a fazer um ajuste mais rapido (pois estao sendo irresponsaveis ate o momento) e suas exportacoes vao se tornar competitivas, tirando mercado dos europeus e japoneses e diminuindo a atratividade dos produtos chineses.
Por outro lado, os chineses ja tem muito dinheiro e algum patrimonio nos EUA, e por isso nao pretendem atirar nos proprios pes. Desvalorizar seus proprios ativos é coisa de malucos,e acho que os chineses não são tão malucos assim...
Dai que o mundo nao vai evoluir para algo tao dramatico como os anos 1930, mas para algo mais benigno, que será uma administracao compartilhada (e dificil) dos sacrificios.
Pensar historicamente nao significa achar que o que veio antes vai se reproduzir novamente.
O abraco do
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Paulo Roberto de Almeida
802) Energia: previsoes preocupantes da AIE-OCDE para 2030
L'Agence internationale de l'énergie qualifie l'envolée des besoins d'"alarmante"
LE MONDE, 07.11.07
La croissance économique de la Chine et de l'Inde – gourmande en pétrole et en charbon – est en train de "transformer le système énergétique mondial". Si l'on y ajoute la consommation des autres pays émergents et des nations industrialisées, les retombées de la hausse "effrénée" de la demande d'énergie sont "alarmantes" – à la fois incompatibles avec l'impératif de renforcer la sécurité des approvisionnements et de réduire les émissions de gaz à effet de serre. Ce sont les principales conclusions du "World Energy Outlook 2007", le rapport annuel de l'Agence internationale de l'énergie (AIE) rendu public, mercredi 7 novembre, à Londres.
Les experts de l'agence, qui ont élaboré un scénario de référence (sans changement de politique) et un scénario alternatif (plus économe en énergie) à l'horizon 2030, reconnaissent l'"aspiration légitime" des 2,5 milliards d'habitants des deux géants asiatiques à plus de bien-être. C'est donc à une mobilisation mondiale qu'appelle l'AIE, un organisme créé en 1974 à l'initiative des Etats-Unis pour défendre les intérêts des grands pays consommateurs.
Sans vigoureuse inflexion politique, les besoins augmenteront de 55 % dans les vingt-cinq ans à un rythme moyen de 1,8 % par an, les énergies fossiles représentant 84 % de cette hausse, très loin devant le nucléaire et les renouvelables. Et, avec eux, les émissions d'oxyde de carbone (+57 %). En outre, cette tendance entraînera une "dépendance accrue" des pays consommateurs aux hydrocarbures du Moyen-Orient et de Russie.
L'AIE souligne que le défi de "tous" les pays est donc de s'engager dans une "transition" visant à "décarboniser" l'énergie pour émettre moins de CO2, ce qui permettrait au passage de sécuriser les approvisionnements. "Nulle part ailleurs la tâche ne sera plus ardue, ni plus importante pour le reste du monde, qu'en Chine et en Inde", prévient l'agence, tout en reconnaissant que les émissions de CO2 par Chinois ne représenteront encore que 40 % de celles d'un Américain.
Quelques chiffres donnent la mesure de l'enjeu. La Chine, où la demande devrait plus que doubler (+3,2 % par an) d'ici à 2030, deviendra le premier consommateur d'énergie peu après 2010, détrônant les Etats-Unis. Ses besoins en pétrole quadrupleront, surtout pour alimenter un parc automobile qui comptera 270 millions de véhicules. En outre, le charbon restera la principale source d'alimentation de ses centrales électriques, l'obligeant à en importer massivement alors qu'elle possède déjà d'énormes réserves.
"URGENCE D'AGIR"
Les besoins de l'Inde, eux aussi, feront plus que doubler durant la période. Consommation de houille multipliée par trois, moindre utilisation de la biomasse, de l'électricité pour 96 % de la population contre 62 % aujourd'hui : tout concourt à l'importation d'énergie. Le pays deviendra avant 2025 le troisième importateur net de pétrole, derrière les Etats-Unis et la Chine, et le troisième émetteur de CO2.
Les prévisions à vingt-cinq ans sont difficiles, notamment sur la disponibilité des ressources. Le pétrole ne manquera pas, affirme l'AIE, campant sur un optimisme jugé excessif par de nombreux experts. En 2030, elle estime que la production atteindra 116 millions de barils par jour (32 millions de plus qu'en 2006), et que la part de l'Organisation des pays exportateurs de pétrole (OPEP) passera de 42 % à 52 %.
Mais l'AIE juge que la hausse continue de la demande est "une menace réelle et de plus en plus grave pour la sécurité énergétique de la planète". Elle n'exclut pas, avant 2015, "une crise du côté de l'offre, qui s'accompagnerait d'une envolée des cours pétroliers", et prévient qu'"il sera extrêmement difficile d'assurer des approvisionnements fiables à des prix abordables". D'autant qu'une part croissante du brut servira au transport, pour lequel il n'existe pas de substitut.
Malgré la hausse des prix, la consommation s'accroîtra donc et les pays producteurs ne seront pas incités à investir, les tensions offre-demande maintenant l'afflux de dollars dans les pétromonarchies.
Autre facteur de risque, mais aussi de développement économique : l'accroissement des échanges pétroliers. Ils passeront de 41 millions de barils par jour en 2006 à 65 millions en 2030 (dont 13 millions importés en Chine), alors que l'offre sera plus concentrée dans les pays instables du Moyen-Orient d'où sont parties toutes les crises pétrolières des dernières décennies.
L'AIE pense que la Chine et l'Inde sont désormais conscientes qu'une course effrénée aux gisements d'or noir (Afrique, Asie centrale…) ne les prémunit pas contre une crise d'approvisionnement, et que la sécurité passe aussi par un bon fonctionnement du marché pétrolier.
L'AIE conclut sur l'"urgence d'agir" pour sauver la planète des retombées désastreuses du réchauffement. Si les Etats mettaient en œuvre les mesures qu'ils préconisent eux-mêmes, un recul de 19 % des émissions par rapport au scénario tendanciel serait possible en 2030. Encore insuffisant pour éviter une élévation moyenne de 2,40 des températures mondiales (le scénario bas du Groupe intergouvernemental d'experts sur l'évolution du climat) dans la seconde moitié du XXIe siècle.
Mais pour y parvenir, il faudrait un usage plus rationnel des énergies fossiles, une augmentation de la part du nucléaire, la généralisation du captage-stockage du CO2. Bref, des "avancées technologiques sans précédent" et "une action exceptionnellement rapide et vigoureuse" des gouvernements. La place grandissante de la Chine et de l'Inde devrait les inciter à passer des belles paroles aux actes, conclut l'AIE.
Jean-Michel Bezat
LE MONDE, 07.11.07
La croissance économique de la Chine et de l'Inde – gourmande en pétrole et en charbon – est en train de "transformer le système énergétique mondial". Si l'on y ajoute la consommation des autres pays émergents et des nations industrialisées, les retombées de la hausse "effrénée" de la demande d'énergie sont "alarmantes" – à la fois incompatibles avec l'impératif de renforcer la sécurité des approvisionnements et de réduire les émissions de gaz à effet de serre. Ce sont les principales conclusions du "World Energy Outlook 2007", le rapport annuel de l'Agence internationale de l'énergie (AIE) rendu public, mercredi 7 novembre, à Londres.
Les experts de l'agence, qui ont élaboré un scénario de référence (sans changement de politique) et un scénario alternatif (plus économe en énergie) à l'horizon 2030, reconnaissent l'"aspiration légitime" des 2,5 milliards d'habitants des deux géants asiatiques à plus de bien-être. C'est donc à une mobilisation mondiale qu'appelle l'AIE, un organisme créé en 1974 à l'initiative des Etats-Unis pour défendre les intérêts des grands pays consommateurs.
Sans vigoureuse inflexion politique, les besoins augmenteront de 55 % dans les vingt-cinq ans à un rythme moyen de 1,8 % par an, les énergies fossiles représentant 84 % de cette hausse, très loin devant le nucléaire et les renouvelables. Et, avec eux, les émissions d'oxyde de carbone (+57 %). En outre, cette tendance entraînera une "dépendance accrue" des pays consommateurs aux hydrocarbures du Moyen-Orient et de Russie.
L'AIE souligne que le défi de "tous" les pays est donc de s'engager dans une "transition" visant à "décarboniser" l'énergie pour émettre moins de CO2, ce qui permettrait au passage de sécuriser les approvisionnements. "Nulle part ailleurs la tâche ne sera plus ardue, ni plus importante pour le reste du monde, qu'en Chine et en Inde", prévient l'agence, tout en reconnaissant que les émissions de CO2 par Chinois ne représenteront encore que 40 % de celles d'un Américain.
Quelques chiffres donnent la mesure de l'enjeu. La Chine, où la demande devrait plus que doubler (+3,2 % par an) d'ici à 2030, deviendra le premier consommateur d'énergie peu après 2010, détrônant les Etats-Unis. Ses besoins en pétrole quadrupleront, surtout pour alimenter un parc automobile qui comptera 270 millions de véhicules. En outre, le charbon restera la principale source d'alimentation de ses centrales électriques, l'obligeant à en importer massivement alors qu'elle possède déjà d'énormes réserves.
"URGENCE D'AGIR"
Les besoins de l'Inde, eux aussi, feront plus que doubler durant la période. Consommation de houille multipliée par trois, moindre utilisation de la biomasse, de l'électricité pour 96 % de la population contre 62 % aujourd'hui : tout concourt à l'importation d'énergie. Le pays deviendra avant 2025 le troisième importateur net de pétrole, derrière les Etats-Unis et la Chine, et le troisième émetteur de CO2.
Les prévisions à vingt-cinq ans sont difficiles, notamment sur la disponibilité des ressources. Le pétrole ne manquera pas, affirme l'AIE, campant sur un optimisme jugé excessif par de nombreux experts. En 2030, elle estime que la production atteindra 116 millions de barils par jour (32 millions de plus qu'en 2006), et que la part de l'Organisation des pays exportateurs de pétrole (OPEP) passera de 42 % à 52 %.
Mais l'AIE juge que la hausse continue de la demande est "une menace réelle et de plus en plus grave pour la sécurité énergétique de la planète". Elle n'exclut pas, avant 2015, "une crise du côté de l'offre, qui s'accompagnerait d'une envolée des cours pétroliers", et prévient qu'"il sera extrêmement difficile d'assurer des approvisionnements fiables à des prix abordables". D'autant qu'une part croissante du brut servira au transport, pour lequel il n'existe pas de substitut.
Malgré la hausse des prix, la consommation s'accroîtra donc et les pays producteurs ne seront pas incités à investir, les tensions offre-demande maintenant l'afflux de dollars dans les pétromonarchies.
Autre facteur de risque, mais aussi de développement économique : l'accroissement des échanges pétroliers. Ils passeront de 41 millions de barils par jour en 2006 à 65 millions en 2030 (dont 13 millions importés en Chine), alors que l'offre sera plus concentrée dans les pays instables du Moyen-Orient d'où sont parties toutes les crises pétrolières des dernières décennies.
L'AIE pense que la Chine et l'Inde sont désormais conscientes qu'une course effrénée aux gisements d'or noir (Afrique, Asie centrale…) ne les prémunit pas contre une crise d'approvisionnement, et que la sécurité passe aussi par un bon fonctionnement du marché pétrolier.
L'AIE conclut sur l'"urgence d'agir" pour sauver la planète des retombées désastreuses du réchauffement. Si les Etats mettaient en œuvre les mesures qu'ils préconisent eux-mêmes, un recul de 19 % des émissions par rapport au scénario tendanciel serait possible en 2030. Encore insuffisant pour éviter une élévation moyenne de 2,40 des températures mondiales (le scénario bas du Groupe intergouvernemental d'experts sur l'évolution du climat) dans la seconde moitié du XXIe siècle.
Mais pour y parvenir, il faudrait un usage plus rationnel des énergies fossiles, une augmentation de la part du nucléaire, la généralisation du captage-stockage du CO2. Bref, des "avancées technologiques sans précédent" et "une action exceptionnellement rapide et vigoureuse" des gouvernements. La place grandissante de la Chine et de l'Inde devrait les inciter à passer des belles paroles aux actes, conclut l'AIE.
Jean-Michel Bezat
terça-feira, 6 de novembro de 2007
801) Sobre os lucros exorbitantes dos bancos
Sobre os Lucros Extraordinários dos Bancos
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
O jornalista Heródoto Barbeiro entrevistou-me hoje, 6/11/2007, pela manhã, em seu programa da Rádio CBN, “Jornal da CBN, Primeira Edição”. Muitas pessoas me contataram, depois da entrevista, para dizer que tinham gostado do que eu disse e perguntaram-me se eu tinha gravado o programa. Não, não gravei, mas tendo em vista o interesse que a matéria despertou, acabei escrevendo a essência do que eu disse nos parágrafos abaixo.
Os balanços dos cinco primeiros bancos brasileiros apresentaram, nos três primeiros trimestres de 2007, lucros extraordinários, talvez mesmo excepcionais no plano mundial, uma vez que eles representam, simplesmente, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2006. Ao final de 2007, com a realização de novos ganhos esperados, derivados da venda de ativos e de aplicações nos mercados de ações, é possível, ou talvez até seja muito provável, que esses lucros sejam 100% superiores aos resultados globais de 2006, com o que o governo Lula daria um excelente, mais do que generoso, presente de Natal aos banqueiros. Mas, verificando os números, vemos que o Papai Noel dos banqueiros praticamente já chegou, deixando os demais setores da economia babando de inveja. Como foi isso possível?
Sim: como se explicam esses resultados, em face de ganhos bem mais modestos em outros setores da economia, na indústria ou na agropecuária, por exemplo? Se vocês perguntarem as razões dessa excepcional bonança financeira a algum economista da Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, ele dirá, provavelmente, que as fontes dos ganhos radicam num conjunto positivo de fatores conjugados, de fato inéditos em perspectiva histórica, um tal de “nunca antes” registrado no Brasil: o comportamento favorável da economia, a conjuntura de crescimento em todos os setores, impulsionado pelo aumento do crédito, pelo consumo das famílias, pela confiança dos consumidores, pelas boas políticas macroeconômicas do governo, enfim, sendo modesto em causa própria, pela excelente gestão executiva do setor financeiro.
Trata-se de uma explicação fácil que, se ela revela algumas das fontes dos ganhos, certamente não explica adequadamente as razões dos lucros excepcionais. Se vocês perguntarem, alternativamente, a algum economista de esquerda, ele dirá que os banqueiros continuam a sugar recursos do setor real da economia, que eles são os verdadeiros gigolôs dos brasileiros, com suas taxas de juros excessivas e spreads inaceitáveis nas diversas linhas de crédito. Tampouco essa “acusação” está de todo errada, embora, como no primeiro caso, isso não explique exatamente as fontes dos lucros bancários, excepcionais a qualquer título e para qualquer padrão normal de funcionamento da atividade bancária em países “normais”.
Não, por favor, não peçam nenhuma explicação a algum economista do PT ou mesmo a um senador-economista da nobre bancada parlamentar desse partido: eles simplesmente não estão disponíveis para esse tipo de explicação, pelo menos não desde os gloriosos tempos em que eles se deleitavam em apontar a perniciosa “financeirização” do sistema econômico brasileiro, seja lá o que isso queira dizer e que raios de deformação representaria exatamente esse conceito. O fato é que, em nossos tempos modernos, os economistas petistas se converteram nos aliados mais fiéis do “capitalismo financeiro monopolista”. Monopólio: aí está, talvez, uma das fontes dos ganhos exorbitantes. Curioso que os economistas e dirigentes do PT não se dediquem a desmontar um dos mais rendosos monopólios conhecidos no Brasil desde os tempos do... pau-brasil.
De fato, o lucro extraordinário dos bancos não é nada extraordinário neste país de grandes lucros para grupos que atuam em colusão, visando arrancar renda do resto da população. Creio que não é segredo, nem uma novidade para ninguém, constatar que nosso sistema bancário constitui um dos setores mais oligopolizados e cartelizados da economia nacional. Em vista da concentração bancária extraordinária, não são nada extraordinários, portanto, os altos retornos da intermediação financeira, ou melhor, da “financeirização” do Brasil. Curioso mesmo é o fato fenomenal desse fenômeno desenvolver-se extraordinariamente num governo todo ele voltado para o “social”. Enfim, todos têm direito às suas pequenas contradições filosóficas.
Neste caso específico, trata-se, contudo, de uma gigantesca contradição, não apenas filosófica, mas sobretudo prática, porque os bancos não são apenas os “gigolôs” da sociedade – como diria a saudosa Heloísa Helena –, eles o são, em primeiro lugar, do próprio governo, que lhes remunera generosamente (mas, como há de desconfiar o leitor, somos nós que pagamos). Os bancos são o que são, na economia nacional, em função, basicamente, de trabalharem com o próprio governo, principalmente por meio de aplicações em títulos da dívida pública, que, como todo mundo sabe, remuneram pela SELIC (Serviço Especial de Liquidação e Custódia, mas que poderia levar um nome mais poético, condizente com sua verdadeira função). A despeito dessa taxa ter baixado (oh, que horror) seis pontos no último ano – cada ponto, para tristeza dos banqueiros, lhes retira quase R$ 200 milhões de remuneração fácil – ela, ainda assim, permanece num patamar elevado: a taxa real de 8% é o dobro da taxa de juros média vigente no mundo.
Depois desse grande sorvedouro da poupança privada, processo no qual o governo compete deslealmente com o setor produtivo – sendo ele, de fato, um “despoupador” líquido da renda nacional –, o fator mais importante, em segundo lugar, é o sistema do crédito direto, ele também oligopolizado, of course. Não sei se o nobre leitor (e consumidor) faz alguma idéia do quanto estamos sendo tosquiados, literalmente, pelo sistema de crédito ao consumidor, que se manifesta cada vez que vamos a uma loja de departamentos comprar um bem manufaturado. Estamos aqui em face de uma alquimia jamais conhecida pelos malucos renascentistas da pedra filosofal, que pretendiam transformar os mais vis metais em ouro puro. Eles bem que fariam em tomar uma “máquina do tempo” e fazer um curso rápido com a Febraban.
Os banqueiros amigos do governo tomam dinheiro lá fora – sim, porque aqui dentro isto seria impossível – a 7 ou 8% ao ano e repassam aqui dentro a 100% (ou bem mais ainda, no caso dos cartões de crédito). O que acontece depois deveria chocar as almas mais sensíveis: o incauto consumidor é obrigado a pagar o dobro do preço da mercadoria, yes, o dobro. Trata-se de um típico assalto à mão armada, que se manifesta da forma mais singela possível: é quando a vendedora lhe diz, simpaticamente aliás, que você pode levar o produto num sistema de crédito que lhe contempla, generosamente, com essa maravilha das “seis vezes sem juros”.
Ora, isso representaria chamar aos mais atilados – que são todos os que lêem estas linhas –, de idiotas, pois todos sabemos que não existe essa “coisa de ‘n’ vezes sem juros”. Como diria Milton Friedman, there is no such thing as a free lunch, e se alguém lhe oferecer um, é porque um outro está pagando por isso (no caso você mesmo, esperto leitor). Alto lá, protesta você junto à mocinha da loja: “eu não quero pagar em seis vezes, prefiro comprar à vista”. Bem, mas neste caso, “o preço é o mesmo”, lhe responde ela, sempre sorrindo. Você vai ser ainda mais idiota, e dar todo esse dinheiro ao dono da loja, de uma vez só? Frustrado, você aceita “comprar a prazo”.
Quando você compra um tal produto, caro leitor, na verdade, o que você está comprando é o financiamento, a mais de 100%, claro. O produto é o que menos importa em toda a operação. Esse assalto à mão armada, feito com a total conivência do governo, é o que permite aos bancos os lucros extraordinários que eles têm. Isso só existe porque o Brasil não é um país normal, sendo adepto daquilo que eu já chamei de “teoria da jabuticaba”.
Vejamos a teoria pelo lado do orçamento público. Em qualquer país normal, um governo normalmente constituído, por pessoa não “jabuticabais”, contempla os recursos de que dispõe e realiza a adequação das despesas globais ao volume de receitas previstas, efetivamente. Só no Brasil é que ocorre exatamente o inverso desse processo: o governo primeiro fixa as despesas e só depois vai buscar as receitas onde elas mais existem, ou seja, nos bolsos dos cidadãos e nos caixas das empresas. Aliás, ele nem precisa fazê-lo de modo compulsório: com impostos “eficientes” como a CPMF e os descontos em folha, o dinheiro pinga nas arcas do Tesouro sem que o governo faça o mínimo esforço de ir buscá-lo. Os fiscais servem, em grande medida, para achacar grandes e médios contribuintes, apenas na parte dos impostos declaratórios. Toda essa informalidade, caro leitor, é provocada pelo governo: é ele quem expulsa empresas e cidadãos para o submundo econômico da informalidade, contra a vontade deles.
Com o sistema de crédito ocorre algo similar. Ele não existe, como em países normais, para financiar uma compra qualquer, segundo princípios consagrados do mercado. Ele existe, de fato, para achacar o consumidor, que somos todos nós. Em qualquer país normal, se você deseja comprar uma mercadoria, deveria ter o preço bem à vista, para então decidir se pode, ou não, comprar “à vista”. Em caso negativo, aquele preço é majorado em função de um financiamento anual, com taxas de juros absolutamente transparentes, como ocorre em países normais.
No caso do Brasil, não é bem isso que acontece. O sistema financeiro aplica, na verdade, o sistema inverso: ele calcula quanto o típico cidadão médio – com salário abaixo de 800 reais – pode pagar por mês – digamos 50 reais – e o resto da operação é montado em cima disso, com taxas de juros MENSAIS absolutamente extorsivas. Está feita toda a mágica: com taxas de juros embutidas, banqueiros e lojistas fazem com que você necessariamente pague por dois televisores, mas é claro que você só consegue levar um deles para casa, pois ninguém é bobo nesse sistema jabuticabal. Sinto muito ofendê-lo, caro leitor, mas isso se aplica a mim também: os bancos e os lojistas estão nos chamando de idiotas, com a conivência do governo, é claro, que não coíbe esse tipo de prática que engana os mais humildes e nos torna reféns de um sistema espoliativo.
Compreendeu agora, caro leitor, a teoria da jabuticaba financeira, que permite esses lucros extraordinários aos banqueiros?
Se você estiver interessado em ter mais exemplos da teoria da jabuticaba, eu lhe recomendaria este texto meu e pediria, ao mesmo tempo, que me remetesse mais casos para a minha coleção:
“Teoria da jabuticaba, II: estudos de casos”, no site do Instituto Millenium em 5/07/2006.
Texto rascunhado em 6.11 e revisto em 10.11.2007.
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
O jornalista Heródoto Barbeiro entrevistou-me hoje, 6/11/2007, pela manhã, em seu programa da Rádio CBN, “Jornal da CBN, Primeira Edição”. Muitas pessoas me contataram, depois da entrevista, para dizer que tinham gostado do que eu disse e perguntaram-me se eu tinha gravado o programa. Não, não gravei, mas tendo em vista o interesse que a matéria despertou, acabei escrevendo a essência do que eu disse nos parágrafos abaixo.
Os balanços dos cinco primeiros bancos brasileiros apresentaram, nos três primeiros trimestres de 2007, lucros extraordinários, talvez mesmo excepcionais no plano mundial, uma vez que eles representam, simplesmente, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2006. Ao final de 2007, com a realização de novos ganhos esperados, derivados da venda de ativos e de aplicações nos mercados de ações, é possível, ou talvez até seja muito provável, que esses lucros sejam 100% superiores aos resultados globais de 2006, com o que o governo Lula daria um excelente, mais do que generoso, presente de Natal aos banqueiros. Mas, verificando os números, vemos que o Papai Noel dos banqueiros praticamente já chegou, deixando os demais setores da economia babando de inveja. Como foi isso possível?
Sim: como se explicam esses resultados, em face de ganhos bem mais modestos em outros setores da economia, na indústria ou na agropecuária, por exemplo? Se vocês perguntarem as razões dessa excepcional bonança financeira a algum economista da Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, ele dirá, provavelmente, que as fontes dos ganhos radicam num conjunto positivo de fatores conjugados, de fato inéditos em perspectiva histórica, um tal de “nunca antes” registrado no Brasil: o comportamento favorável da economia, a conjuntura de crescimento em todos os setores, impulsionado pelo aumento do crédito, pelo consumo das famílias, pela confiança dos consumidores, pelas boas políticas macroeconômicas do governo, enfim, sendo modesto em causa própria, pela excelente gestão executiva do setor financeiro.
Trata-se de uma explicação fácil que, se ela revela algumas das fontes dos ganhos, certamente não explica adequadamente as razões dos lucros excepcionais. Se vocês perguntarem, alternativamente, a algum economista de esquerda, ele dirá que os banqueiros continuam a sugar recursos do setor real da economia, que eles são os verdadeiros gigolôs dos brasileiros, com suas taxas de juros excessivas e spreads inaceitáveis nas diversas linhas de crédito. Tampouco essa “acusação” está de todo errada, embora, como no primeiro caso, isso não explique exatamente as fontes dos lucros bancários, excepcionais a qualquer título e para qualquer padrão normal de funcionamento da atividade bancária em países “normais”.
Não, por favor, não peçam nenhuma explicação a algum economista do PT ou mesmo a um senador-economista da nobre bancada parlamentar desse partido: eles simplesmente não estão disponíveis para esse tipo de explicação, pelo menos não desde os gloriosos tempos em que eles se deleitavam em apontar a perniciosa “financeirização” do sistema econômico brasileiro, seja lá o que isso queira dizer e que raios de deformação representaria exatamente esse conceito. O fato é que, em nossos tempos modernos, os economistas petistas se converteram nos aliados mais fiéis do “capitalismo financeiro monopolista”. Monopólio: aí está, talvez, uma das fontes dos ganhos exorbitantes. Curioso que os economistas e dirigentes do PT não se dediquem a desmontar um dos mais rendosos monopólios conhecidos no Brasil desde os tempos do... pau-brasil.
De fato, o lucro extraordinário dos bancos não é nada extraordinário neste país de grandes lucros para grupos que atuam em colusão, visando arrancar renda do resto da população. Creio que não é segredo, nem uma novidade para ninguém, constatar que nosso sistema bancário constitui um dos setores mais oligopolizados e cartelizados da economia nacional. Em vista da concentração bancária extraordinária, não são nada extraordinários, portanto, os altos retornos da intermediação financeira, ou melhor, da “financeirização” do Brasil. Curioso mesmo é o fato fenomenal desse fenômeno desenvolver-se extraordinariamente num governo todo ele voltado para o “social”. Enfim, todos têm direito às suas pequenas contradições filosóficas.
Neste caso específico, trata-se, contudo, de uma gigantesca contradição, não apenas filosófica, mas sobretudo prática, porque os bancos não são apenas os “gigolôs” da sociedade – como diria a saudosa Heloísa Helena –, eles o são, em primeiro lugar, do próprio governo, que lhes remunera generosamente (mas, como há de desconfiar o leitor, somos nós que pagamos). Os bancos são o que são, na economia nacional, em função, basicamente, de trabalharem com o próprio governo, principalmente por meio de aplicações em títulos da dívida pública, que, como todo mundo sabe, remuneram pela SELIC (Serviço Especial de Liquidação e Custódia, mas que poderia levar um nome mais poético, condizente com sua verdadeira função). A despeito dessa taxa ter baixado (oh, que horror) seis pontos no último ano – cada ponto, para tristeza dos banqueiros, lhes retira quase R$ 200 milhões de remuneração fácil – ela, ainda assim, permanece num patamar elevado: a taxa real de 8% é o dobro da taxa de juros média vigente no mundo.
Depois desse grande sorvedouro da poupança privada, processo no qual o governo compete deslealmente com o setor produtivo – sendo ele, de fato, um “despoupador” líquido da renda nacional –, o fator mais importante, em segundo lugar, é o sistema do crédito direto, ele também oligopolizado, of course. Não sei se o nobre leitor (e consumidor) faz alguma idéia do quanto estamos sendo tosquiados, literalmente, pelo sistema de crédito ao consumidor, que se manifesta cada vez que vamos a uma loja de departamentos comprar um bem manufaturado. Estamos aqui em face de uma alquimia jamais conhecida pelos malucos renascentistas da pedra filosofal, que pretendiam transformar os mais vis metais em ouro puro. Eles bem que fariam em tomar uma “máquina do tempo” e fazer um curso rápido com a Febraban.
Os banqueiros amigos do governo tomam dinheiro lá fora – sim, porque aqui dentro isto seria impossível – a 7 ou 8% ao ano e repassam aqui dentro a 100% (ou bem mais ainda, no caso dos cartões de crédito). O que acontece depois deveria chocar as almas mais sensíveis: o incauto consumidor é obrigado a pagar o dobro do preço da mercadoria, yes, o dobro. Trata-se de um típico assalto à mão armada, que se manifesta da forma mais singela possível: é quando a vendedora lhe diz, simpaticamente aliás, que você pode levar o produto num sistema de crédito que lhe contempla, generosamente, com essa maravilha das “seis vezes sem juros”.
Ora, isso representaria chamar aos mais atilados – que são todos os que lêem estas linhas –, de idiotas, pois todos sabemos que não existe essa “coisa de ‘n’ vezes sem juros”. Como diria Milton Friedman, there is no such thing as a free lunch, e se alguém lhe oferecer um, é porque um outro está pagando por isso (no caso você mesmo, esperto leitor). Alto lá, protesta você junto à mocinha da loja: “eu não quero pagar em seis vezes, prefiro comprar à vista”. Bem, mas neste caso, “o preço é o mesmo”, lhe responde ela, sempre sorrindo. Você vai ser ainda mais idiota, e dar todo esse dinheiro ao dono da loja, de uma vez só? Frustrado, você aceita “comprar a prazo”.
Quando você compra um tal produto, caro leitor, na verdade, o que você está comprando é o financiamento, a mais de 100%, claro. O produto é o que menos importa em toda a operação. Esse assalto à mão armada, feito com a total conivência do governo, é o que permite aos bancos os lucros extraordinários que eles têm. Isso só existe porque o Brasil não é um país normal, sendo adepto daquilo que eu já chamei de “teoria da jabuticaba”.
Vejamos a teoria pelo lado do orçamento público. Em qualquer país normal, um governo normalmente constituído, por pessoa não “jabuticabais”, contempla os recursos de que dispõe e realiza a adequação das despesas globais ao volume de receitas previstas, efetivamente. Só no Brasil é que ocorre exatamente o inverso desse processo: o governo primeiro fixa as despesas e só depois vai buscar as receitas onde elas mais existem, ou seja, nos bolsos dos cidadãos e nos caixas das empresas. Aliás, ele nem precisa fazê-lo de modo compulsório: com impostos “eficientes” como a CPMF e os descontos em folha, o dinheiro pinga nas arcas do Tesouro sem que o governo faça o mínimo esforço de ir buscá-lo. Os fiscais servem, em grande medida, para achacar grandes e médios contribuintes, apenas na parte dos impostos declaratórios. Toda essa informalidade, caro leitor, é provocada pelo governo: é ele quem expulsa empresas e cidadãos para o submundo econômico da informalidade, contra a vontade deles.
Com o sistema de crédito ocorre algo similar. Ele não existe, como em países normais, para financiar uma compra qualquer, segundo princípios consagrados do mercado. Ele existe, de fato, para achacar o consumidor, que somos todos nós. Em qualquer país normal, se você deseja comprar uma mercadoria, deveria ter o preço bem à vista, para então decidir se pode, ou não, comprar “à vista”. Em caso negativo, aquele preço é majorado em função de um financiamento anual, com taxas de juros absolutamente transparentes, como ocorre em países normais.
No caso do Brasil, não é bem isso que acontece. O sistema financeiro aplica, na verdade, o sistema inverso: ele calcula quanto o típico cidadão médio – com salário abaixo de 800 reais – pode pagar por mês – digamos 50 reais – e o resto da operação é montado em cima disso, com taxas de juros MENSAIS absolutamente extorsivas. Está feita toda a mágica: com taxas de juros embutidas, banqueiros e lojistas fazem com que você necessariamente pague por dois televisores, mas é claro que você só consegue levar um deles para casa, pois ninguém é bobo nesse sistema jabuticabal. Sinto muito ofendê-lo, caro leitor, mas isso se aplica a mim também: os bancos e os lojistas estão nos chamando de idiotas, com a conivência do governo, é claro, que não coíbe esse tipo de prática que engana os mais humildes e nos torna reféns de um sistema espoliativo.
Compreendeu agora, caro leitor, a teoria da jabuticaba financeira, que permite esses lucros extraordinários aos banqueiros?
Se você estiver interessado em ter mais exemplos da teoria da jabuticaba, eu lhe recomendaria este texto meu e pediria, ao mesmo tempo, que me remetesse mais casos para a minha coleção:
“Teoria da jabuticaba, II: estudos de casos”, no site do Instituto Millenium em 5/07/2006.
Texto rascunhado em 6.11 e revisto em 10.11.2007.
sábado, 3 de novembro de 2007
800) Vida na Terra: causas e caracteristicas
Por que a Terra é o único planeta conhecido no qual existe vida?
Entenda as características que tornam tão especial o lugar onde vivemos
Ciência Hoje para as Crianças, 2 novembro 2007
A vida em outros planetas já foi tema para bons filmes de suspense, terror e até para animar terríveis ou meigos personagens, como o clássico ET. Porém, para que haja vida conforme a que existe aqui na Terra, é preciso que o planeta tenha uma série de características.
A receita da vida não é fácil. Em primeiro lugar, o candidato a planeta habitado deve ter compostos orgânicos, ou seja, substâncias que possuem carbono, um elemento químico fundamental para a composição da vida. Depois, essas substâncias devem ser combinadas com outros elementos, como a água em estado líquido e temperatura abaixo de 120°C. Isso só para começar!
Contudo, para manter a vida, essa temperatura não pode variar muito. Para isso, o planeta precisa ter o tamanho ideal, mais ou menos igual ao da Terra. É que, com este tamanho, o candidato a planeta povoado tem condições de conservar sua atmosfera – camada de ar e gases – com espessura e condição necessária para manter sua temperatura. Se for maior, há mais emissão de gases estufa e a temperatura pode se elevar muito; se for menor, ele não tem condições para manter a atmosfera e a temperatura estável ideais para o desenvolvimento da vida.
O tamanho do globo também influencia na atividade vulcânica, que fornece os gases atmosféricos importantes para manter o “efeito estufa”, que, em nível considerado normal, promove o aquecimento adequado.
Outro fator importante é a rotação – movimento que o planeta faz em torno do seu eixo. Este giro deve ser relativamente rápido, para que as temperaturas no planeta não variem muito, impedindo que a água congele ou evapore. Se esse movimento fosse mais lento não haveria estabilidade na temperatura ao longo do globo e, provavelmente, não haveria água em estado líquido, fundamental para a vida na Terra.
A distância da estrela central também precisa ser perfeita para que haja equilíbrio da temperatura, pois o brilho das estrelas apresenta variações durante sua vida. Na posição que a Terra ocupa, mesmo que a temperatura do Sol oscile, o equilíbrio térmico da atmosfera é mantido. Se estivesse mais próxima ou distante, nossa atmosfera não conseguiria equilibrar as modificações na emissão de energia de nossa estrela central.
Bem, de todos os planetas do Sistema Solar, apenas a Terra apresenta todas essas características. Mas, segundo os cientistas, em alguns grandes satélites existem elementos parecidos com os que devem ter originado a vida na Terra. Será que, no futuro, podemos ter informações surpreendentes?
Eder Cassola Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Entenda as características que tornam tão especial o lugar onde vivemos
Ciência Hoje para as Crianças, 2 novembro 2007
A vida em outros planetas já foi tema para bons filmes de suspense, terror e até para animar terríveis ou meigos personagens, como o clássico ET. Porém, para que haja vida conforme a que existe aqui na Terra, é preciso que o planeta tenha uma série de características.
A receita da vida não é fácil. Em primeiro lugar, o candidato a planeta habitado deve ter compostos orgânicos, ou seja, substâncias que possuem carbono, um elemento químico fundamental para a composição da vida. Depois, essas substâncias devem ser combinadas com outros elementos, como a água em estado líquido e temperatura abaixo de 120°C. Isso só para começar!
Contudo, para manter a vida, essa temperatura não pode variar muito. Para isso, o planeta precisa ter o tamanho ideal, mais ou menos igual ao da Terra. É que, com este tamanho, o candidato a planeta povoado tem condições de conservar sua atmosfera – camada de ar e gases – com espessura e condição necessária para manter sua temperatura. Se for maior, há mais emissão de gases estufa e a temperatura pode se elevar muito; se for menor, ele não tem condições para manter a atmosfera e a temperatura estável ideais para o desenvolvimento da vida.
O tamanho do globo também influencia na atividade vulcânica, que fornece os gases atmosféricos importantes para manter o “efeito estufa”, que, em nível considerado normal, promove o aquecimento adequado.
Outro fator importante é a rotação – movimento que o planeta faz em torno do seu eixo. Este giro deve ser relativamente rápido, para que as temperaturas no planeta não variem muito, impedindo que a água congele ou evapore. Se esse movimento fosse mais lento não haveria estabilidade na temperatura ao longo do globo e, provavelmente, não haveria água em estado líquido, fundamental para a vida na Terra.
A distância da estrela central também precisa ser perfeita para que haja equilíbrio da temperatura, pois o brilho das estrelas apresenta variações durante sua vida. Na posição que a Terra ocupa, mesmo que a temperatura do Sol oscile, o equilíbrio térmico da atmosfera é mantido. Se estivesse mais próxima ou distante, nossa atmosfera não conseguiria equilibrar as modificações na emissão de energia de nossa estrela central.
Bem, de todos os planetas do Sistema Solar, apenas a Terra apresenta todas essas características. Mas, segundo os cientistas, em alguns grandes satélites existem elementos parecidos com os que devem ter originado a vida na Terra. Será que, no futuro, podemos ter informações surpreendentes?
Eder Cassola Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
799) Um site de valor: A Voz do Cidadao
Recomendo a todos este site, que apresenta inúmeras matérias do mais alto interesse para um debate bem informado sobre os problemas do Brasil e do mundo:
A Voz do Cidadão.
Veja aqui, uma lista dos artigos mais recentes.
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