Transcrevo abaixo a "nota liminar" que redigi para introduzir o número especial que concebi e dirigi da RBPI, quando ela completava 40 anos (desde sua criação no Rio de Janeiro em 1958).
Nesta nota eu prometia um novo número especial para o ano de 2008, aproveitando os cinquenta anos da revista e os 200 anos de relações internacionais e de política externa a partir do Brasil, o que não ocorreu. Mas houve, sim, um seminário, e um livro, de que participei. Relatarei os resultados em postagem à parte.
Paulo Roberto de Almeida
Revista Brasileira de Política Internacional
Print version ISSN 0034-7329
Rev. bras. polít. int. vol.41 no.spe Brasília 1998
doi: 10.1590/S0034-73291998000300001
NOTA LIMINAR DO ORGANIZADOR
Revista Brasileira de Política Internacional: a continuidade de um empreendimento exemplar
Paulo Roberto de Almeida
Editor Adjunto da RBPI e Diretor Geral do IBRI
"Nota Liminar": a designação remonta aos anos sessenta, quando o historiador José Honório Rodrigues costumava introduzir assim os muitos números temáticos que ele concebeu enquanto exercia o cargo de Diretor Geral do IBRI, o que lhe dava automaticamente o direito de exercer a função de Editor da RBPI. Ele desempenhou-se brilhantemente à frente da revista, entre 1964 e 1969, numa fase que poderíamos caracterizar como "heróica" da vida deste periódico, como se pode verificar nesta edição comemorativa dos primeiros quarenta anos de sua existência editorial.
Atualmente, e mais precisamente desde a inauguração da série de Brasília, os dois cargos encontram-se nitidamente separados, mas na prática as funções muitas vezes se mesclam, como o prova esta iniciativa do Diretor Geral do IBRI — que é ao mesmo tempo o Editor Adjunto da RBPI — de deixar registrada sua importância para a vida intelectual do Brasil e para o estudo de suas relações exteriores nos últimos quarenta anos.
"Quarenta anos": poucas revistas acadêmicas brasileiras, a fortiori no campo das relações internacionais, podem ostentar uma tal longevidade editorial. Pode parecer pouco, ao lado, por exemplo, dos quase dois séculos de existência da Revue des Deux Mondes, mas no contexto brasileiro trata-se certamente de uma marca de "senioridade". Na verdade, com a notável, mas compreensível, exceção das revistas militares — que ocasionalmente se ocuparam de temas internacionais — e descontando-se o saudável meio século das duas revistas editadas pela Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica e Revista Brasileira de Economia — que também dedicam-se, parcial ou episodicamente, a temas das relações econômicas internacionais do Brasil — nenhuma outra revista acadêmica nesta área especializada pode gabar-se de ser uma espécie de registro e testemunha "ocular" da maior parte dos eventos e processos das relações internacionais do Brasil contemporâneo que constituem o seu próprio objeto de análise.
A RBPI esteve presente, por exemplo, na criação da Política Externa Independente, assim como ela acompanhou a longa trajetória da política nuclear brasileira, desde a fase da recusa do Tratado de Não-Proliferação e de assinatura do Tratado de Tlatelolco, até o período recente de implementação efetiva deste último e da adesão do Brasil ao primeiro. Ela também pode orgulhar-se de ter acompanhado, passo a passo, os progressos e percalços do processo de de integração na América Latina, desde a fase inicial da ALALC, até os dias de hoje, quando se prepara a fase negociadora da ALCA, num contexto de reforço institucional do MERCOSUL e de ampliação de seu relacionamento com outros esquemas e blocos integracionistas, como é o caso da Comunidade Andina e da própria União Européia.
Como relato em meu artigo sobre as revistas brasileiras de relações internacionais — conceito tomado em sua acepção a mais larga possível — muitos foram os periódicos que, de 1958 a 1998, informaram, debateram, criticaram e analisaram aspectos diversos das relações exteriores do Brasil. Poucos, no entanto, sobreviveram a tão longo período de transformações políticas e econômicas no País, desde a fase "clássica" da industrialização substitutiva até os dias que correm, de inserção acelerada na economia globalizada. A tabela sinóptica e cronológica que acompanha esse artigo dá uma idéia do desenrolar de eventos significativos na vida internacional e nacional ao longo do período, correlacionando-os com determinados artigos da própria revista e com documentos selecionados nela publicados.
Publicada pela primeira vez em Brasília a partir de seu volume 36, em 1993, a RBPI tinha sido lançada no Rio de Janeiro em março de 1958, no velho Palácio Itamaraty. Ela já completou, portanto, quatro décadas de vida, o que constitui um fato bastante raro no panorama editorial brasileiro, num cenário acadêmico ainda caracterizado por poucas revistas especializadas em relações internacionais. O Brasil mudou muito nesse período, a começar pela sua própria capital federal, mas a revista, na verdade, mudou muito pouco, descontando-se o fato dela ter passado de trimestral a semestral. Ela continua no entanto a ser pautada pelas mesmas características editoriais e pela mesma clareza de propósitos que tinham orientado sua criação: informar objetivamente e debater criteriosamente todos os fatos e processos relevantes em matéria de política externa brasileira e de relações internacionais em geral.
O presente número, especial, da RBPI pretende, a título de modesta comemoração, apresentar algumas reflexões sobre a política externa brasileira nos últimos quarenta anos, repassar o cenário editorial nessa área, oferecer uma perspectiva histórica de sua importância na pesquisa e na reflexão sobre os temas que formam seu objeto próprio e sua razão de ser, dar evidências sobre sua utilidade intrínseca — como fonte documental para o conhecimento dos últimos quarenta anos de relações internacionais e de política externa brasileira —, bem como, mais importante, trazer novamente ao conhecimento do leitor interessado alguns dos momentos fortes que marcaram seu itinerário intelectual ao longo desse período. Os artigos referenciados ou discutidos nas seções temáticas elaboradas por resenhistas convidados ou por colaboradores habituais da revista, bem como o sumário completo de todos os números publicados até aqui demonstrarão a essencialidade — e mesmo a "indispensabilidade" — da revista em qualquer pesquisa séria que se empreenda nesse terreno.
Por todas essas razões, um passeio pelo passado da revista constitui um motivo de justo orgulho para todos aqueles, diplomatas ou acadêmicos, que estiveram ou ainda estão associados a este empreendimento editorial a todos os títulos exemplar e meritório na comunidade brasileira vinculada à problemática internacionalista. Seu futuro depende, como parece normal, de seus muitos leitores, que nela encontram motivo de satisfação profissional ou de reflexão acadêmica. Um novo encontro dentro de dez anos, quando a velha "repartição dos negócios estrangeiros" completará duzentos anos de existência continuada no Brasil, permitirá aferir a vitalidade desta revista. Até 2008, portanto, com pelo menos mais vinte densos números da RBPI.
Paulo Roberto de Almeida
[Este artigo em formato pdf]
PS.: A tabela sinóptica e cronológica que acompanha meu artigo artigo introdutório (ver post seguinte a este) foi transcrita na base de dados do Scielo no seguimento desse artigo; ver este link, no final (clicar para ampliar).
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Balanco da era Lula - editoriais do Estadao
Existem muitos balanços da era Lula, inclusive os suspeitos de sempre: a propaganda governamental. Recebi no começo de dezembro, em meu trabalho, um imenso pacote, encaminhado por via rápida (Sedex), contendo pelo menos vinte exemplares de uma brochura em tamanho grande, ricamente ilustrada com fotos e cores e diagramação de qualidade, contendo exatamente isso: propaganda governamental.
Imagino que este governo que nos desgoverna, e que gastou mais de 10 bilhões de dólares com propaganda de si mesmo, mandou os mesmos pacotes por via expressa para as centenas, provavelmente milhares de pessoas cadastradas em suas bases de dados, funcionários de governo, ou de Estado (como é o meu caso), aliados da causa, ou simples receptores da propaganda governamental, sem sequer checar as coordenadas (já que o material foi mandado para um antigo endereço profissional meu.
Em minha opinião, o ministério da propaganda do governo deveria ser simplesmente fechado, e todas as verbas dirigidas a programas mais adequados, de preferência em saúde e educação.
Prefiro balanços independentes, críticos, não laudatórios, sobretudo que eu não tenha de pagar por isso. Daí a razão de preferir balanços da imprensa privada, que os estatistas de plantão chamam de "grande mídia", com uma conotação maléfica, obviamente.
Não creio que na propaganda governamental seja possível encontrar um balanço fiável das ações do governo, pois tudo é feito para enaltecer aquilo que deveria ser feito com menos dinheiro, de forma mais eficiente e sobretudo sem as deformações de certas políticas governamentais como as que contemplamos diariamente.
Li vários balanços nos grandes jornais, mas me permito selecionar apenas os editoriais abaixo do jornal O Estado de S.Paulo, que me parece refletir a realidade como ela é, não como o governo gostaria que fosse.
Prefiro ficar com a realidade...
Paulo Roberto de Almeida
Editoriais - O Estado de S.Paulo
Balanço final
31 de dezembro de 2010
A era Lula - que pode, ou não, ter chegado ao fim neste 31 de dezembro - foi um período único na história da República. À parte as razões mais óbvias disso, a começar da singular trajetória do presidente e de sua excepcional aptidão para se fazer idolatrado pela maioria dos brasileiros, o ciclo de oito anos que se encerra formalmente hoje se distingue por entrelaçar o melhor e o pior que um governante eleito pelo voto popular já proporcionou ao País.
Esse entrelaçamento é o que desaconselha julgar a presidência Lula de um modo esquemático. Dela já se disse, por exemplo, que o seu lado bom não é novo e o seu lado novo não é bom. O jogo de palavras antepõe duas coisas sabidas. De um lado, o que sem dúvida foi a decisão crucial do presidente de preservar, quando não aprofundar, as linhas mestras da política macroeconômica implantada pelo seu antecessor Fernando Henrique Cardoso. De outro, a política nefasta, em escala sem precedentes, de subordinar o Estado aos interesses da confraria partidária-sindical que se converteu, graças a sua eleição, na nova elite do poder no Brasil. Ao que se soma a degradação das relações entre o Executivo e o Legislativo e a exploração deslavada do carisma presidencial.
Na realidade, a primeira metade do argumento omite que Lula não apenas teve a lucidez de manter os princípios de gestão econômica que até hoje ele chama de "herança maldita" - provavelmente o que a sua retórica teve de mais mistificador -, como ainda chefiou um governo que demonstrou ter a competência necessária para fazê-lo. Ao mesmo tempo, ele fazia valer a sua liderança para enquadrar a companheirada insatisfeita com o pragmatismo responsável na condução da economia, sem o qual, repita-se pela enésima vez, o Brasil não teria tirado o proveito que tirou de um dos maiores ciclos de expansão dos negócios globais no pós-guerra. E sem o qual, no limite, não teria sido possível resgatar 28 milhões de pessoas da pobreza extrema e alçar outros 36 milhões à classe média.
Já a segunda metade do argumento omite que o mesmo Lula, que não há de ter estado alheio ao mensalão; que não teria por que se surpreender com o vexame dos "aloprados" na campanha eleitoral de 2006; que se entregou de corpo e alma aos expoentes do atraso, do patrimonialismo e da venalidade no sistema político nacional; e que, enfim, se colocou acima do próprio Estado do qual deveria ser o primeiro servidor, ao se declarar a "encarnação do povo", nunca se dispôs a alterar a Constituição para disputar um terceiro mandato consecutivo, ao contrário do que a oposição dava como certo.
É verdade que ele se serviu desbragadamente do governo para eleger a ministra Dilma Rousseff. Mas, na soma algébrica dos prós e dos contras, ele tem a seu crédito a estabilidade das regras democráticas no País.
Outro paralelo semelhante, desse ângulo, é o da atitude de Lula em relação à imprensa. Tomados pelo valor de face, os seus virulentos ataques aos meios de comunicação expressariam uma intenção liberticida. E, no entanto, no que dependeu dele, a imprensa brasileira é hoje tão livre como no dia 1.º de janeiro de 2003. O Lula falante, por sinal, é uma caricatura do Lula governante.
Se o seu governo tivesse que ser julgado pela catadupa de palavras impróprias - e não raro mentirosas - que ele proferiu, nada mitigaria a percepção de que o Brasil viveu um período de retrocesso e de achincalhe da instituição presidencial. O problema, de novo, é destrinchar as coisas.
Os abusos verbais de Lula, às vezes à beira do impublicável, remetem ao espetáculo da política personalista e ao lado rústico de um temperamento construído sob a servidão da vicissitude. Mas as suas políticas resultaram de outro traço de sua formação - o da opção preferencial pela conciliação de interesses, que o Lula líder sindical aprendeu na mesa de negociação com o patronato. Dos beneficiários do Bolsa-Família ao grande capital, todos tiveram o seu quinhão.
Na mesma conjuntura de bonança econômica, um outro presidente poderia não ter idêntica sensibilidade para os dividendos políticos da acomodação. A simbiose de ótimo e péssimo que marcou a era Lula teve nisso o seu ponto culminante
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Ganhos e perdas da era Lula
30 de dezembro de 2010
O Brasil viveu uma longa fase de prosperidade nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A economia cresceu e 30 milhões de pessoas entraram no mercado de consumo, graças à elevação dos salários e aos programas de transferência de renda. Mas esse governo foi também um tempo de oportunidades perdidas. A pauta de reformas ficou paralisada. Isso explica em boa parte a permanência do País no grupo dos menos competitivos e a preocupante erosão de suas contas externas. É necessário, num balanço econômico dos dois mandatos, levar em conta esses dois lados da história.
A produção brasileira cresceu 36,8% durante o governo Lula, admitindo-se uma expansão de 7,5% em 2010. O ritmo anual médio de crescimento foi 4%, o dobro do registrado nas duas décadas anteriores.
Entre 2003 e 2010 a economia brasileira passou da 12.ª para a 8.ª posição entre as maiores do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado para este ano em US$ 2,02 trilhões. Mas muitos outros países cresceram velozmente nesta década, e a maior parte dos emergentes, incluídas China, Índia, Turquia, Colômbia e Polônia, expandiu-se mais do que o Brasil.
Houve uma enorme prosperidade global no período Lula, até 2008, em contraste com os anos 90, marcados por uma sucessão de grandes crises internacionais. Muitas economias aproveitaram a onda favorável dos últimos anos e avançaram. O Brasil também foi beneficiado. Se as exportações em 2010 chegarem aos US$ 198 bilhões projetados pelo Banco Central (BC), terão crescido 227,8% em oito anos.
Mas outros países também expandiram velozmente as vendas externas e a posição brasileira entre os maiores exportadores pouco tem variado. Além disso, as exportações mais dinâmicas têm sido as de produtos básicos, graças à demanda crescente da China e de outras grandes economias emergentes.
Boa parte do vigor econômico dos últimos oito anos dependeu de condições criadas entre 1994, início do Plano Real, e 2002. Este fato foi quase sempre escamoteado pelo presidente Lula, empenhado em se apresentar como inventor do Brasil. De fato, a segurança econômica foi garantida pelo tripé formado por metas de inflação, superávit primário e câmbio flexível, componentes da herança recebida de um governo mais sério e mais trabalhador. A abertura econômica dos anos 90 e a privatização de atividades típicas de mercado tornaram o País mais eficiente. A reordenação das finanças públicas, a partir da renegociação das dívidas de Estados e municípios, permitiu uma gestão fiscal mais equilibrada. A Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, completou essa mudança. Além disso, o Plano Real restaurou os instrumentos de política monetária, usados com sucesso nos últimos oito anos, sempre contra os velhos padrões petistas.
Mas os ganhos de eficiência pararam, porque o governo Lula não promoveu nenhuma reforma comparável às dos anos 90. Ensaiou timidamente renovar o sistema tributário, mas desistiu. Maus impostos ainda encarecem o investimento, a produção e a exportação. A indústria continua cobrando uma política de competitividade, várias vezes prometida e nunca executada.
Só o aumento da tributação permitiu obter algum superávit primário, porque o gasto público, especialmente o de custeio, cresceu de forma ininterrupta. No segundo mandato as contas públicas entraram em deterioração e o governo, em vez de corrigir o rumo, apelou para grotescos disfarces contábeis.
Na política externa, a competência e o realismo foram substituídos pela diplomacia do espetáculo, movida por um terceiro-mundismo requentado e pela ambição pessoal do presidente. O governo desprezou oportunidades de acordos comerciais com os mercados mais desenvolvidos e deu prioridade a uma fantasiosa política Sul-Sul. Os parceiros considerados "estratégicos" - da vizinhança ou do outro lado do mundo - tiraram vantagem do Brasil e nunca lhe concederam prioridade. Só o presidente e seus gênios da estratégia parecem não ter notado esse fato. Com um cenário externo muito menos favorável, o novo governo terá de cuidar mais de reformas e menos de fantasias.
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Meta fiscal comprometida
30 de dezembro de 2010
Diante da acentuada deterioração dos resultados das contas do governo federal, apontada pelos números da Secretaria do Tesouro Nacional e depois reafirmada pela nota do Banco Central (BC) sobre a execução da política fiscal, não restou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, senão o constrangido reconhecimento de que não cumprirão o que prometiam até a semana passada: um superávit fiscal equivalente a 3,1% do PIB em 2010.
De acordo com o Tesouro, o superávit primário do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) em novembro foi de R$ 1.09 bilhão, menos de um décimo do resultado de novembro de 2009 (de R$ 10,7 bilhões) e quase 90% menor do que o de outubro deste ano (R$ 7,8 bilhões).
Os números do BC, que utiliza outros critérios de registro das contas públicas, são um pouco diferentes, mas a tendência é semelhante nos dois casos. O resultado consolidado de todo o setor público - que inclui, além do governo central, os governos regionais (Estados e municípios) e as empresas estatais dos três níveis de governo - apresentado pelo BC também deixa nítida a rápida deterioração da política fiscal na fase final do governo Lula. O superávit primário do governo central em novembro foi 85% menor do que o de novembro de 2009 e 77% menor do que o de outubro deste ano.
Ao admitir que a meta de superávit fiscal de 2010 não será alcançada, o ministro Guido Mantega tentou lançar boa parte da responsabilidade para os Estados e municípios. "Estamos trabalhando para o governo (central) cumprir sua parte, mas há algumas dificuldades para Estados e municípios", disse, ao comentar os resultados divulgados pelo Tesouro.
Mas os números do BC mostram que o problema principal está mesmo no governo central. O superávit primário consolidado do setor público, no acumulado de 12 meses até novembro, alcançou R$ 91 bilhões, o equivalente a 2,51% do PIB, inferior ao dos 12 meses até outubro, de 2,8% do PIB. Nessa comparação, enquanto o superávit primário dos governos regionais passou de 0,62% até outubro para 0,65% até novembro, o do governo central caiu de 2,1% para 1,8%.
Da meta de 3,1% do PIB para 2010, a parte que cabe ao governo central é de 2,15% do PIB. Isso significa que, para cumprir sua parte, o governo central deverá obter, em dezembro, um superávit de cerca de R$ 13,5 bilhões - e, para alcançar a meta, os governos estaduais e municipais precisarão registrar no último mês do ano um esforço fiscal que não apresentaram até agora, o que não é esperado nem pelos técnicos do Ministério da Fazenda. Os resultados do mês de dezembro nos dois anos anteriores, período em que se registra a piora da política fiscal do governo do PT, estão muito longe do que precisa ser feito neste mês: em dezembro de 2008, o governo central teve déficit primário de R$ 22,4 bilhões e, em dezembro de 2009, superávit de apenas R$ 384 milhões.
Para melhorar artificialmente o resultado de 2010, o governo já admite que poderá abater as obras do PAC de suas despesas. Se fizer isso, será mais uma artimanha contábil de que terá lançado mão para maquiar as contas públicas.
Além de usar truques contábeis, o governo foi favorecido pelo crescimento espetacular das receitas líquidas nos 11 primeiros meses do ano (aumento de 27,8% em relação a igual período de 2009, em termos nominais, de acordo com o Tesouro), mas nem assim conseguirá alcançar a meta de superávit primário, porque aumentou também seus gastos em ritmo acelerado.
O excepcional crescimento da economia em 2010 deu ao governo Lula a oportunidade de fazer um ajuste fiscal sério. Mas, por este ter sido um ano eleitoral, gastou muito mais do que devia e podia, e deixa para o governo de Dilma Rousseff uma herança comprometedora. Os responsáveis pela política fiscal do próximo governo prometem contenção fiscal em 2011. Mas eles são também os responsáveis pela política fiscal deste governo. Dá para acreditar neles?
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A sombra da inflação
30 de dezembro de 2010
A inflação vai ser um dos maiores problemas do novo governo em seu primeiro ano e talvez também no segundo. Os preços ao consumidor devem ter subido cerca de 5,9% neste ano. O ritmo de aumento deverá cair para 5% no fim de 2011 e poderá chegar a 4,8% no final de 2012, segundo projeção do Banco Central (BC), se forem mantidas as condições atuais de juros e de câmbio. Se essas projeções se confirmarem, a presidente Dilma Rousseff passará metade de seu mandato com a inflação acima do centro da meta (4,5%).
A previsão de fortes pressões em 2011 foi confirmada pelo último Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM). A variação de dezembro, 0,69%, foi bem menor que a do mês anterior, 1,45%, mas ainda ficou bem acima do ritmo aceitável para a economia brasileira. Além disso, o Índice de Preços ao Consumidor, um dos três grandes componentes do IGPM, subiu 0,92%, num ritmo inquietante.
Não pode haver mais dúvida quanto à natureza da atual inflação brasileira. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o problema está localizado no custo da alimentação e é passageiro. Essa interpretação é claramente equivocada. Os preços da comida têm de fato subido mais que os outros, mas o efeito da demanda muito aquecida é indisfarçável. O Índice de Preços ao Consumidor inclui sete grupos de bens e serviços. Em cinco foram registrados aumentos em dezembro.
O efeito da demanda e a pressão sobre o uso da capacidade instalada da indústria têm sido apontados pelo BC como fatores de risco. Outra pesquisa da FGV confirmou esse ponto de vista. Segundo a última Sondagem da Indústria de Transformação, o uso da capacidade instalada subiu de 84,5% em novembro para 84,9% em dezembro, retornando à média do ano depois de uma pequena e breve redução.
Embora líderes do setor prefiram falar em resfriamento da atividade, o índice de confiança dos empresários construído com base na pesquisa voltou a subir, atingindo o maior nível do segundo semestre e retornando à média do ano. Durou pouco, portanto, o arrefecimento da atividade industrial apontado por dirigentes de entidades empresariais como argumento contra novos aumentos de juros. O próprio BC moderou sua política, nos últimos meses, levando em conta essa desaceleração da economia. Mas, como indicaram vários analistas há alguns meses, a decisão das autoridades monetárias foi prematura.
A atividade permanece intensa, a demanda continua muito forte, alimentada tanto pelo alto nível de emprego e pela expansão da massa de rendimentos quanto pelo crédito abundante ao consumidor. As medidas de restrição ao crédito adotadas há pouco tempo pelo BC produziram algum efeito, mas ainda não foram suficientes para frear de forma sensível a expansão do consumo. O otimismo empresarial detectado na recente sondagem da FGV é bem fundado: pelos sinais disponíveis até agora, a demanda interna continuará aquecida nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, os últimos números da inflação permitem prever a continuidade de pressões sobre o varejo. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com peso de 60% na formação do IGPM, continua mostrando sinais preocupantes no atacado. As matérias-primas brutas encareceram 1,66% em dezembro e 33,57% no ano. O maior aumento continua sendo o das cotações agropecuárias, 1,15% no mês e 25,29% em 12 meses. Mas as pressões, embora desiguais, são generalizadas.
Preços pagos no atacado podem chegar apenas parcialmente ao consumidor. Isso depende, em parte, da disputa entre varejistas e seus fornecedores. Mas depende também da resistência do consumidor. A combinação de aumento de renda e crédito fácil pode torná-lo - e já vem tornando - tolerante ao encarecimento dos bens e serviços.
A projeção do mercado para os preços ao consumidor em 2011 são pouco piores que as do BC. Para o IPCA, por exemplo, o aumento projetado é de 5,31%. O Copom tem bons argumentos para elevar os juros na reunião de janeiro.
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O BNDES deu mais crédito e assumiu mais riscos
31 de dezembro de 2010
Em 2010, até novembro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu créditos no montante recorde de R$ 153,6 bilhões - e continuou anunciando mais empréstimos até os últimos dias do ano, como o de R$ 6,1 bilhões para a Usina Nuclear Angra 3, cujas obras ainda estão em fase de terraplanagem, com previsão de conclusão em 2015. Se for excluída a operação de R$ 25 bilhões com a Petrobrás, o volume de empréstimos deverá ficar em R$ 140 bilhões, contra R$ 137 bilhões, em 2009. O banco entrou no bloco "do nunca antes neste país", engrossando o coro de autocongratulações da era Lula.
Fundado em 1952, maior fornecedor de recursos de investimento de longo prazo, o BNDES fez em sua história bons e maus empréstimos. Entre as primeiras operações dos anos 50 e 60 não houve apenas casos de sucesso, como Cataguases-Leopoldina, Siderúrgica Riograndense, Volkswagen, Brown Boveri, Pirelli, Copel, Cemig ou Suzano. Houve também créditos a frigoríficos e matadouros (Frimisa, Tião Maia), ferrovias (Rede Ferroviária Federal, Sorocabana, Araraquarense, Mossoró, Paulista), estaleiros (CCN, Ishikawajima, Savônia) ou indústrias, como a Cobrasma. E muitos desses empreendimentos ficaram insolventes, foram liquidados e ainda hoje recebem o socorro do governo federal, como a Centrais Elétricas de Goiás (Celg).
Operando no longo prazo, os resultados recentes do BNDES se devem, sobretudo, às gestões entre o início dos anos 90 até a primeira metade desta década. É o que permite ao banco transferir agora vultosos dividendos à União (R$ 10,9 bilhões, em 2009, e R$ 14,5 bilhões, em 2010).
Mas, nos últimos dois anos, as relações entre o governo federal e o BNDES perderam transparência. O Tesouro alocou ao BNDES recursos da ordem de R$ 180 bilhões. O banco alterou sua política, assumiu mais riscos e concedeu crédito a juros mais negativos, subsidiando poucos beneficiários. Mais de 70% dos recursos aportados pela União foram concedidos, até agosto, a grandes empresas.
Operações com grupos econômicos especializados em commodities cujas cotações são muito voláteis, como frigoríficos, implicarão riscos elevados quando as operações vencerem - ou antes disso. O mesmo raciocínio se aplica a empreendimentos como Belo Monte e o TAV (trem bala).
Cobrando juros da TJLP (6% ao ano, há seis trimestres, enquanto o IPCA passava de 4,3%, em 2009, para 5,6%, nos últimos 12 meses), o BNDES não ignora o risco de incorrer em prejuízos, como no passado.
Imagino que este governo que nos desgoverna, e que gastou mais de 10 bilhões de dólares com propaganda de si mesmo, mandou os mesmos pacotes por via expressa para as centenas, provavelmente milhares de pessoas cadastradas em suas bases de dados, funcionários de governo, ou de Estado (como é o meu caso), aliados da causa, ou simples receptores da propaganda governamental, sem sequer checar as coordenadas (já que o material foi mandado para um antigo endereço profissional meu.
Em minha opinião, o ministério da propaganda do governo deveria ser simplesmente fechado, e todas as verbas dirigidas a programas mais adequados, de preferência em saúde e educação.
Prefiro balanços independentes, críticos, não laudatórios, sobretudo que eu não tenha de pagar por isso. Daí a razão de preferir balanços da imprensa privada, que os estatistas de plantão chamam de "grande mídia", com uma conotação maléfica, obviamente.
Não creio que na propaganda governamental seja possível encontrar um balanço fiável das ações do governo, pois tudo é feito para enaltecer aquilo que deveria ser feito com menos dinheiro, de forma mais eficiente e sobretudo sem as deformações de certas políticas governamentais como as que contemplamos diariamente.
Li vários balanços nos grandes jornais, mas me permito selecionar apenas os editoriais abaixo do jornal O Estado de S.Paulo, que me parece refletir a realidade como ela é, não como o governo gostaria que fosse.
Prefiro ficar com a realidade...
Paulo Roberto de Almeida
Editoriais - O Estado de S.Paulo
Balanço final
31 de dezembro de 2010
A era Lula - que pode, ou não, ter chegado ao fim neste 31 de dezembro - foi um período único na história da República. À parte as razões mais óbvias disso, a começar da singular trajetória do presidente e de sua excepcional aptidão para se fazer idolatrado pela maioria dos brasileiros, o ciclo de oito anos que se encerra formalmente hoje se distingue por entrelaçar o melhor e o pior que um governante eleito pelo voto popular já proporcionou ao País.
Esse entrelaçamento é o que desaconselha julgar a presidência Lula de um modo esquemático. Dela já se disse, por exemplo, que o seu lado bom não é novo e o seu lado novo não é bom. O jogo de palavras antepõe duas coisas sabidas. De um lado, o que sem dúvida foi a decisão crucial do presidente de preservar, quando não aprofundar, as linhas mestras da política macroeconômica implantada pelo seu antecessor Fernando Henrique Cardoso. De outro, a política nefasta, em escala sem precedentes, de subordinar o Estado aos interesses da confraria partidária-sindical que se converteu, graças a sua eleição, na nova elite do poder no Brasil. Ao que se soma a degradação das relações entre o Executivo e o Legislativo e a exploração deslavada do carisma presidencial.
Na realidade, a primeira metade do argumento omite que Lula não apenas teve a lucidez de manter os princípios de gestão econômica que até hoje ele chama de "herança maldita" - provavelmente o que a sua retórica teve de mais mistificador -, como ainda chefiou um governo que demonstrou ter a competência necessária para fazê-lo. Ao mesmo tempo, ele fazia valer a sua liderança para enquadrar a companheirada insatisfeita com o pragmatismo responsável na condução da economia, sem o qual, repita-se pela enésima vez, o Brasil não teria tirado o proveito que tirou de um dos maiores ciclos de expansão dos negócios globais no pós-guerra. E sem o qual, no limite, não teria sido possível resgatar 28 milhões de pessoas da pobreza extrema e alçar outros 36 milhões à classe média.
Já a segunda metade do argumento omite que o mesmo Lula, que não há de ter estado alheio ao mensalão; que não teria por que se surpreender com o vexame dos "aloprados" na campanha eleitoral de 2006; que se entregou de corpo e alma aos expoentes do atraso, do patrimonialismo e da venalidade no sistema político nacional; e que, enfim, se colocou acima do próprio Estado do qual deveria ser o primeiro servidor, ao se declarar a "encarnação do povo", nunca se dispôs a alterar a Constituição para disputar um terceiro mandato consecutivo, ao contrário do que a oposição dava como certo.
É verdade que ele se serviu desbragadamente do governo para eleger a ministra Dilma Rousseff. Mas, na soma algébrica dos prós e dos contras, ele tem a seu crédito a estabilidade das regras democráticas no País.
Outro paralelo semelhante, desse ângulo, é o da atitude de Lula em relação à imprensa. Tomados pelo valor de face, os seus virulentos ataques aos meios de comunicação expressariam uma intenção liberticida. E, no entanto, no que dependeu dele, a imprensa brasileira é hoje tão livre como no dia 1.º de janeiro de 2003. O Lula falante, por sinal, é uma caricatura do Lula governante.
Se o seu governo tivesse que ser julgado pela catadupa de palavras impróprias - e não raro mentirosas - que ele proferiu, nada mitigaria a percepção de que o Brasil viveu um período de retrocesso e de achincalhe da instituição presidencial. O problema, de novo, é destrinchar as coisas.
Os abusos verbais de Lula, às vezes à beira do impublicável, remetem ao espetáculo da política personalista e ao lado rústico de um temperamento construído sob a servidão da vicissitude. Mas as suas políticas resultaram de outro traço de sua formação - o da opção preferencial pela conciliação de interesses, que o Lula líder sindical aprendeu na mesa de negociação com o patronato. Dos beneficiários do Bolsa-Família ao grande capital, todos tiveram o seu quinhão.
Na mesma conjuntura de bonança econômica, um outro presidente poderia não ter idêntica sensibilidade para os dividendos políticos da acomodação. A simbiose de ótimo e péssimo que marcou a era Lula teve nisso o seu ponto culminante
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Ganhos e perdas da era Lula
30 de dezembro de 2010
O Brasil viveu uma longa fase de prosperidade nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A economia cresceu e 30 milhões de pessoas entraram no mercado de consumo, graças à elevação dos salários e aos programas de transferência de renda. Mas esse governo foi também um tempo de oportunidades perdidas. A pauta de reformas ficou paralisada. Isso explica em boa parte a permanência do País no grupo dos menos competitivos e a preocupante erosão de suas contas externas. É necessário, num balanço econômico dos dois mandatos, levar em conta esses dois lados da história.
A produção brasileira cresceu 36,8% durante o governo Lula, admitindo-se uma expansão de 7,5% em 2010. O ritmo anual médio de crescimento foi 4%, o dobro do registrado nas duas décadas anteriores.
Entre 2003 e 2010 a economia brasileira passou da 12.ª para a 8.ª posição entre as maiores do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado para este ano em US$ 2,02 trilhões. Mas muitos outros países cresceram velozmente nesta década, e a maior parte dos emergentes, incluídas China, Índia, Turquia, Colômbia e Polônia, expandiu-se mais do que o Brasil.
Houve uma enorme prosperidade global no período Lula, até 2008, em contraste com os anos 90, marcados por uma sucessão de grandes crises internacionais. Muitas economias aproveitaram a onda favorável dos últimos anos e avançaram. O Brasil também foi beneficiado. Se as exportações em 2010 chegarem aos US$ 198 bilhões projetados pelo Banco Central (BC), terão crescido 227,8% em oito anos.
Mas outros países também expandiram velozmente as vendas externas e a posição brasileira entre os maiores exportadores pouco tem variado. Além disso, as exportações mais dinâmicas têm sido as de produtos básicos, graças à demanda crescente da China e de outras grandes economias emergentes.
Boa parte do vigor econômico dos últimos oito anos dependeu de condições criadas entre 1994, início do Plano Real, e 2002. Este fato foi quase sempre escamoteado pelo presidente Lula, empenhado em se apresentar como inventor do Brasil. De fato, a segurança econômica foi garantida pelo tripé formado por metas de inflação, superávit primário e câmbio flexível, componentes da herança recebida de um governo mais sério e mais trabalhador. A abertura econômica dos anos 90 e a privatização de atividades típicas de mercado tornaram o País mais eficiente. A reordenação das finanças públicas, a partir da renegociação das dívidas de Estados e municípios, permitiu uma gestão fiscal mais equilibrada. A Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, completou essa mudança. Além disso, o Plano Real restaurou os instrumentos de política monetária, usados com sucesso nos últimos oito anos, sempre contra os velhos padrões petistas.
Mas os ganhos de eficiência pararam, porque o governo Lula não promoveu nenhuma reforma comparável às dos anos 90. Ensaiou timidamente renovar o sistema tributário, mas desistiu. Maus impostos ainda encarecem o investimento, a produção e a exportação. A indústria continua cobrando uma política de competitividade, várias vezes prometida e nunca executada.
Só o aumento da tributação permitiu obter algum superávit primário, porque o gasto público, especialmente o de custeio, cresceu de forma ininterrupta. No segundo mandato as contas públicas entraram em deterioração e o governo, em vez de corrigir o rumo, apelou para grotescos disfarces contábeis.
Na política externa, a competência e o realismo foram substituídos pela diplomacia do espetáculo, movida por um terceiro-mundismo requentado e pela ambição pessoal do presidente. O governo desprezou oportunidades de acordos comerciais com os mercados mais desenvolvidos e deu prioridade a uma fantasiosa política Sul-Sul. Os parceiros considerados "estratégicos" - da vizinhança ou do outro lado do mundo - tiraram vantagem do Brasil e nunca lhe concederam prioridade. Só o presidente e seus gênios da estratégia parecem não ter notado esse fato. Com um cenário externo muito menos favorável, o novo governo terá de cuidar mais de reformas e menos de fantasias.
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Meta fiscal comprometida
30 de dezembro de 2010
Diante da acentuada deterioração dos resultados das contas do governo federal, apontada pelos números da Secretaria do Tesouro Nacional e depois reafirmada pela nota do Banco Central (BC) sobre a execução da política fiscal, não restou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, senão o constrangido reconhecimento de que não cumprirão o que prometiam até a semana passada: um superávit fiscal equivalente a 3,1% do PIB em 2010.
De acordo com o Tesouro, o superávit primário do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) em novembro foi de R$ 1.09 bilhão, menos de um décimo do resultado de novembro de 2009 (de R$ 10,7 bilhões) e quase 90% menor do que o de outubro deste ano (R$ 7,8 bilhões).
Os números do BC, que utiliza outros critérios de registro das contas públicas, são um pouco diferentes, mas a tendência é semelhante nos dois casos. O resultado consolidado de todo o setor público - que inclui, além do governo central, os governos regionais (Estados e municípios) e as empresas estatais dos três níveis de governo - apresentado pelo BC também deixa nítida a rápida deterioração da política fiscal na fase final do governo Lula. O superávit primário do governo central em novembro foi 85% menor do que o de novembro de 2009 e 77% menor do que o de outubro deste ano.
Ao admitir que a meta de superávit fiscal de 2010 não será alcançada, o ministro Guido Mantega tentou lançar boa parte da responsabilidade para os Estados e municípios. "Estamos trabalhando para o governo (central) cumprir sua parte, mas há algumas dificuldades para Estados e municípios", disse, ao comentar os resultados divulgados pelo Tesouro.
Mas os números do BC mostram que o problema principal está mesmo no governo central. O superávit primário consolidado do setor público, no acumulado de 12 meses até novembro, alcançou R$ 91 bilhões, o equivalente a 2,51% do PIB, inferior ao dos 12 meses até outubro, de 2,8% do PIB. Nessa comparação, enquanto o superávit primário dos governos regionais passou de 0,62% até outubro para 0,65% até novembro, o do governo central caiu de 2,1% para 1,8%.
Da meta de 3,1% do PIB para 2010, a parte que cabe ao governo central é de 2,15% do PIB. Isso significa que, para cumprir sua parte, o governo central deverá obter, em dezembro, um superávit de cerca de R$ 13,5 bilhões - e, para alcançar a meta, os governos estaduais e municipais precisarão registrar no último mês do ano um esforço fiscal que não apresentaram até agora, o que não é esperado nem pelos técnicos do Ministério da Fazenda. Os resultados do mês de dezembro nos dois anos anteriores, período em que se registra a piora da política fiscal do governo do PT, estão muito longe do que precisa ser feito neste mês: em dezembro de 2008, o governo central teve déficit primário de R$ 22,4 bilhões e, em dezembro de 2009, superávit de apenas R$ 384 milhões.
Para melhorar artificialmente o resultado de 2010, o governo já admite que poderá abater as obras do PAC de suas despesas. Se fizer isso, será mais uma artimanha contábil de que terá lançado mão para maquiar as contas públicas.
Além de usar truques contábeis, o governo foi favorecido pelo crescimento espetacular das receitas líquidas nos 11 primeiros meses do ano (aumento de 27,8% em relação a igual período de 2009, em termos nominais, de acordo com o Tesouro), mas nem assim conseguirá alcançar a meta de superávit primário, porque aumentou também seus gastos em ritmo acelerado.
O excepcional crescimento da economia em 2010 deu ao governo Lula a oportunidade de fazer um ajuste fiscal sério. Mas, por este ter sido um ano eleitoral, gastou muito mais do que devia e podia, e deixa para o governo de Dilma Rousseff uma herança comprometedora. Os responsáveis pela política fiscal do próximo governo prometem contenção fiscal em 2011. Mas eles são também os responsáveis pela política fiscal deste governo. Dá para acreditar neles?
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A sombra da inflação
30 de dezembro de 2010
A inflação vai ser um dos maiores problemas do novo governo em seu primeiro ano e talvez também no segundo. Os preços ao consumidor devem ter subido cerca de 5,9% neste ano. O ritmo de aumento deverá cair para 5% no fim de 2011 e poderá chegar a 4,8% no final de 2012, segundo projeção do Banco Central (BC), se forem mantidas as condições atuais de juros e de câmbio. Se essas projeções se confirmarem, a presidente Dilma Rousseff passará metade de seu mandato com a inflação acima do centro da meta (4,5%).
A previsão de fortes pressões em 2011 foi confirmada pelo último Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM). A variação de dezembro, 0,69%, foi bem menor que a do mês anterior, 1,45%, mas ainda ficou bem acima do ritmo aceitável para a economia brasileira. Além disso, o Índice de Preços ao Consumidor, um dos três grandes componentes do IGPM, subiu 0,92%, num ritmo inquietante.
Não pode haver mais dúvida quanto à natureza da atual inflação brasileira. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o problema está localizado no custo da alimentação e é passageiro. Essa interpretação é claramente equivocada. Os preços da comida têm de fato subido mais que os outros, mas o efeito da demanda muito aquecida é indisfarçável. O Índice de Preços ao Consumidor inclui sete grupos de bens e serviços. Em cinco foram registrados aumentos em dezembro.
O efeito da demanda e a pressão sobre o uso da capacidade instalada da indústria têm sido apontados pelo BC como fatores de risco. Outra pesquisa da FGV confirmou esse ponto de vista. Segundo a última Sondagem da Indústria de Transformação, o uso da capacidade instalada subiu de 84,5% em novembro para 84,9% em dezembro, retornando à média do ano depois de uma pequena e breve redução.
Embora líderes do setor prefiram falar em resfriamento da atividade, o índice de confiança dos empresários construído com base na pesquisa voltou a subir, atingindo o maior nível do segundo semestre e retornando à média do ano. Durou pouco, portanto, o arrefecimento da atividade industrial apontado por dirigentes de entidades empresariais como argumento contra novos aumentos de juros. O próprio BC moderou sua política, nos últimos meses, levando em conta essa desaceleração da economia. Mas, como indicaram vários analistas há alguns meses, a decisão das autoridades monetárias foi prematura.
A atividade permanece intensa, a demanda continua muito forte, alimentada tanto pelo alto nível de emprego e pela expansão da massa de rendimentos quanto pelo crédito abundante ao consumidor. As medidas de restrição ao crédito adotadas há pouco tempo pelo BC produziram algum efeito, mas ainda não foram suficientes para frear de forma sensível a expansão do consumo. O otimismo empresarial detectado na recente sondagem da FGV é bem fundado: pelos sinais disponíveis até agora, a demanda interna continuará aquecida nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, os últimos números da inflação permitem prever a continuidade de pressões sobre o varejo. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com peso de 60% na formação do IGPM, continua mostrando sinais preocupantes no atacado. As matérias-primas brutas encareceram 1,66% em dezembro e 33,57% no ano. O maior aumento continua sendo o das cotações agropecuárias, 1,15% no mês e 25,29% em 12 meses. Mas as pressões, embora desiguais, são generalizadas.
Preços pagos no atacado podem chegar apenas parcialmente ao consumidor. Isso depende, em parte, da disputa entre varejistas e seus fornecedores. Mas depende também da resistência do consumidor. A combinação de aumento de renda e crédito fácil pode torná-lo - e já vem tornando - tolerante ao encarecimento dos bens e serviços.
A projeção do mercado para os preços ao consumidor em 2011 são pouco piores que as do BC. Para o IPCA, por exemplo, o aumento projetado é de 5,31%. O Copom tem bons argumentos para elevar os juros na reunião de janeiro.
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O BNDES deu mais crédito e assumiu mais riscos
31 de dezembro de 2010
Em 2010, até novembro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu créditos no montante recorde de R$ 153,6 bilhões - e continuou anunciando mais empréstimos até os últimos dias do ano, como o de R$ 6,1 bilhões para a Usina Nuclear Angra 3, cujas obras ainda estão em fase de terraplanagem, com previsão de conclusão em 2015. Se for excluída a operação de R$ 25 bilhões com a Petrobrás, o volume de empréstimos deverá ficar em R$ 140 bilhões, contra R$ 137 bilhões, em 2009. O banco entrou no bloco "do nunca antes neste país", engrossando o coro de autocongratulações da era Lula.
Fundado em 1952, maior fornecedor de recursos de investimento de longo prazo, o BNDES fez em sua história bons e maus empréstimos. Entre as primeiras operações dos anos 50 e 60 não houve apenas casos de sucesso, como Cataguases-Leopoldina, Siderúrgica Riograndense, Volkswagen, Brown Boveri, Pirelli, Copel, Cemig ou Suzano. Houve também créditos a frigoríficos e matadouros (Frimisa, Tião Maia), ferrovias (Rede Ferroviária Federal, Sorocabana, Araraquarense, Mossoró, Paulista), estaleiros (CCN, Ishikawajima, Savônia) ou indústrias, como a Cobrasma. E muitos desses empreendimentos ficaram insolventes, foram liquidados e ainda hoje recebem o socorro do governo federal, como a Centrais Elétricas de Goiás (Celg).
Operando no longo prazo, os resultados recentes do BNDES se devem, sobretudo, às gestões entre o início dos anos 90 até a primeira metade desta década. É o que permite ao banco transferir agora vultosos dividendos à União (R$ 10,9 bilhões, em 2009, e R$ 14,5 bilhões, em 2010).
Mas, nos últimos dois anos, as relações entre o governo federal e o BNDES perderam transparência. O Tesouro alocou ao BNDES recursos da ordem de R$ 180 bilhões. O banco alterou sua política, assumiu mais riscos e concedeu crédito a juros mais negativos, subsidiando poucos beneficiários. Mais de 70% dos recursos aportados pela União foram concedidos, até agosto, a grandes empresas.
Operações com grupos econômicos especializados em commodities cujas cotações são muito voláteis, como frigoríficos, implicarão riscos elevados quando as operações vencerem - ou antes disso. O mesmo raciocínio se aplica a empreendimentos como Belo Monte e o TAV (trem bala).
Cobrando juros da TJLP (6% ao ano, há seis trimestres, enquanto o IPCA passava de 4,3%, em 2009, para 5,6%, nos últimos 12 meses), o BNDES não ignora o risco de incorrer em prejuízos, como no passado.
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4. As notas de rodapé restringem-se esclarecimentos adicionais ao texto;
5. Observar o sistema Chicago (autor, data), de acordo com os exemplos abaixo:
Para Artigos:
CERVO, Amado L. (2003) Política exterior e relações internacionais do Brasil: enfoque paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional, Vol. 46, Nº 1, 2003, p. 5-25.
Para Livros:
SARAIVA, José Flávio S. , Ed. (2003) Foreign Policy and Political Regime. Brasília: IBRI, 364 p.
Para documentos eletrônicos:
PROCÓPIO, Argemiro (2007). A hidropolítica e a internacionalização amazônica, publicado em Mundorama.net [http://mundorama.net/2007/09/13/a-hidropolitica-e-a-internacionalizacao-amazonica/]. Disponibilidade: 18/09/2007.
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O texto segue os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em Diretrizes para Autores, na seção Sobre a Revista.
A identificação de autoria deste trabalho foi removida do arquivo, garantindo desta forma o critério de sigilo da revista, caso submetido para avaliação por pares (ex.: artigos). Em caso de citação de autores, "Autor" e ano são usados na bibliografia e notas de rodapé, ao invés de Nome do autor, título do documento, etc.
A literatura citada na Bibliografia ao final do texto contém apenas os trabalhos referenciados ao longo do trabalho.
Do texto constam título em língua inglesa, resumo em português e abstract em inglês (de aproximadamente cinquenta palavras), 3 palavras-chave em português e 3 key words em inglês.
Números disponíveis da RBPI na base de dados do Scielo:
de 1997 até o presente (inclusive dois números especiais, fora de série)
Abaixo o sumário do número especial de 40 anos que eu editei em 1998:
Table of contents
Rev. bras. polít. int. vol.41 no.spe Brasília 1998
Nota liminar do organizador - Revista Brasileira de Política Internacional: a continuidade de um empreendimento exemplar
Almeida, Paulo Roberto de
· text in Portuguese
Artigos
· 40 anos de política externa brasileira, 1958-1998: três inflexões
Sato, Eiiti
· A diplomacia universalista do Brasil: a construção do sistema contemporâneo de relações bilaterais
Lessa, Antônio Carlos
· Revista Brasileira de Política Internacional: quatro décadas ao serviço da inserção internacional do Brasil
Almeida, Paulo Roberto de
· text in Portuguese
Artigos de Resenha
· Eixos conceituais da política exterior do Brasil
Cervo, Amado Luiz
· Economia internacional e desenvolvimento econômico: a RBPI na vanguarda do pensamento brasileiro
Almeida, Paulo Roberto de
· text in Portuguese
· Questões estratégicas e de segurança internacional: a marca do tempo e a força histórica da mudança
Garcia, Eugênio Vargas
· O tratamento de temas multilaterais na RBPI: 1958-1998
Rocha, Antonio Jorge Ramalho da
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· 40 anos de política externa brasileira, 1958-1998: três inflexões
Sato, Eiiti
· A diplomacia universalista do Brasil: a construção do sistema contemporâneo de relações bilaterais
Lessa, Antônio Carlos
· Revista Brasileira de Política Internacional: quatro décadas ao serviço da inserção internacional do Brasil
Almeida, Paulo Roberto de
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Artigos de Resenha
· Eixos conceituais da política exterior do Brasil
Cervo, Amado Luiz
· Economia internacional e desenvolvimento econômico: a RBPI na vanguarda do pensamento brasileiro
Almeida, Paulo Roberto de
· text in Portuguese
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Garcia, Eugênio Vargas
· O tratamento de temas multilaterais na RBPI: 1958-1998
Rocha, Antonio Jorge Ramalho da
Limites da economia politica bolivariana: crise e retrocessos...
A Venezuela, ou melhor, o Chávez decretou a desvalorização do peso, mas ainda assim a moeda permanece em menos da metade da taxa praticada no câmbio negro. É evidente, para quem quer ver, que políticas econômicas irresponsáveis só podem levar a isso: desabastecimento, inflação, fuga de capitais, desinvestimento, decréscimo da oferta, desequilíbrios nas contas públicas, e depois crise e caos.
A Bolívia não tem exatamente uma política bolivariana ao estilo de Chávez, mas seu presidente também praticou demagogia distributivista.
Em todos esses experimentos malucos, o governo tenta "domar" os mercados, impondo tarifas fixas e "estáveis", nacionalizações e estatizações para lutar contra a "especulação" e a ganância dos produtores privados, subsídios aos itens de maior consumo ou de maior impacto na inflação, e o resultado é sempre o mesmo: desalinhamento dos preços, inflação reprimida, mercado negro de produtos ou moedas, enfim, sinais errados que os mercados se encarregam de punir.
Chega um momento em que as finanças públicas não aguentam mais o impacto de tantas sandices, e o inevitável ocorre: o governo é obrigado a corrigir os preços de certos itens, mas procura compensar com aumentos salariais, o que inevitavelmente acelera a inflação, inclusive pelo caráter errático e imprevisível das medidas.
Gasolina subsidiado num lado da fronteira leva a contrabando do outro, e a pior coisa que um governo pode fazer é tentar fazer do país uma redoma, isolado do mundo. Os mercados externos também punem essas bobagens.
EM resumo, tudo isso é muito conhecido, e se repete na América Latina com uma frequencia assustadora. O que mais assusta, finalmente, não é tanto os desequilíbrios de mercado, pois eles são previsíveis e esperados, mas a burrice, eu diria mesmo a estupidez dos governantes. Tudo isso é filme velho, e eles insistem em repassá-lo novamente.
A Unasul deveria erigir um prêmio à burrice governamental: teríamos muitos candidatos...
Paulo Roberto de Almeida
Crise da gasolina: 15 feridos e 21 detidos na Bolívia
Notícias Yahoo, 31/12/2010
LA PAZ (AFP) – Quinze agentes ficaram feridos e 21 pessoas foram detidas nos choques entre policiais e manifestantes ocorridos nesta quinta-feira nas cidades bolivianas de El Alto e Cochabamba, em meio à crise provocada pelo aumento de até 83% nos preços dos combustíveis.
“Há 15 policiais feridos em El Alto, dois gravemente. Em Cochabamba, 16 (manifestantes) foram detidos, e outros cinco em El Alto”, informou à AFP o ministro do Interior, Sacha Llorenti.
Segundo o ministro, “atos de vandalismo” foram cometidos por ativistas “identificados” do Movimento Sem Medo (MSM), do ex-prefeito de La Paz Juan del Granado.
O ministro informou que manifestantes atacaram a polícia com pedras, e os agentes reagiram com bombas de gás lacrimogêneo.
Durante os protestos, a multidão quebrou o portão da sede da Vice-Presidência boliviana, incendiou postos de pedágio, destruiu agências da empresa aérea estatal BoA e atacou as sedes da Central Operária e do sindicato dos plantadores de coca.
Os manifestantes também tentaram queimar uma bandeira da Venezuela e incendiar o monumento ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara.
El Alto, cidade-dormitório vizinha a La Paz, foi tomada por milhares de manifestantes, que levantaram barricadas e incendiaram pneus para interromper o trânsito.
Em Cochabamba, os grevistas do transporte de carga estacionaram caminhões nos cruzamentos para bloquear o tráfego.
Santa Cruz de la Sierra, motor do desenvolvimento boliviano, também era muito afetada pela paralisação dos transportes.
Durante a tarde, um grupo liderado pelo MSM tentou chegar ao Palácio Presidencial de La Paz, mas foi reprimido pela polícia de choque, que dispersou o protesto com bombas de gás lacrimogêneo.
Diante da repressão policial, o grupo desistiu de chegar à Praça das Armas, onde estão as sedes dos poderes Executivo e Legislativo.
Em meio aos protestos, a população correu em busca de alimentos e formou enormes filas em torno dos mercados de La Paz.
Os manifestantes exigem a renúncia de Morales, que deflagrou a crise ao decidir pelo fim dos subsídios aos combustíveis, provocando um aumento de 83% na gasolina e de 73% no díesel.
Para suavizar a alta dos combustíveis, Morales aumentou em 20% o salário mínimo e a remuneração das Forças Armadas, da polícia e dos funcionários da saúde e da educação.
O presidente também anunciou outras medidas, como incentivos a agricultores e a pequenos empresários.
Morales convocou ainda os militares para tentar reduzir os efeitos das greves que paralisam o país.
O ministro da Defesa, Rubén Saavedra, anunciou que homens das Forças Armadas farão e venderão pães ao “preço antigo”, diante da decisão do sindicato dos padeiros de parar a categoria por 24 horas e elevar o preço do pão em até 100%.
Os militares bolivianos também foram chamados para dirigir ônibus e caminhões visando atenuar o aumento unilateral de 100% nos preços das passagens de taxis e micro-ônibus que ignoram a greve nos transportes.
A Força Aérea Boliviana está realizando voos comerciais na rota La Paz-Cochabamba-Santa Cruz ao preço simbólico de 150 bolivianos (20 dólares).
Morales afirma que elevou os preços da gasolina e do díesel para enfrentar o contrabando de combustíveis para os países vizinhos, ao custo anual de 150 milhões de dólares.
A Bolívia tem um consumo de 35 mil de barris diários de petróleo, e em 2010 produziu apenas 4.500 barris diários. O restante é importado, principalmente de Venezuela e Argentina.
A Bolívia não tem exatamente uma política bolivariana ao estilo de Chávez, mas seu presidente também praticou demagogia distributivista.
Em todos esses experimentos malucos, o governo tenta "domar" os mercados, impondo tarifas fixas e "estáveis", nacionalizações e estatizações para lutar contra a "especulação" e a ganância dos produtores privados, subsídios aos itens de maior consumo ou de maior impacto na inflação, e o resultado é sempre o mesmo: desalinhamento dos preços, inflação reprimida, mercado negro de produtos ou moedas, enfim, sinais errados que os mercados se encarregam de punir.
Chega um momento em que as finanças públicas não aguentam mais o impacto de tantas sandices, e o inevitável ocorre: o governo é obrigado a corrigir os preços de certos itens, mas procura compensar com aumentos salariais, o que inevitavelmente acelera a inflação, inclusive pelo caráter errático e imprevisível das medidas.
Gasolina subsidiado num lado da fronteira leva a contrabando do outro, e a pior coisa que um governo pode fazer é tentar fazer do país uma redoma, isolado do mundo. Os mercados externos também punem essas bobagens.
EM resumo, tudo isso é muito conhecido, e se repete na América Latina com uma frequencia assustadora. O que mais assusta, finalmente, não é tanto os desequilíbrios de mercado, pois eles são previsíveis e esperados, mas a burrice, eu diria mesmo a estupidez dos governantes. Tudo isso é filme velho, e eles insistem em repassá-lo novamente.
A Unasul deveria erigir um prêmio à burrice governamental: teríamos muitos candidatos...
Paulo Roberto de Almeida
Crise da gasolina: 15 feridos e 21 detidos na Bolívia
Notícias Yahoo, 31/12/2010
LA PAZ (AFP) – Quinze agentes ficaram feridos e 21 pessoas foram detidas nos choques entre policiais e manifestantes ocorridos nesta quinta-feira nas cidades bolivianas de El Alto e Cochabamba, em meio à crise provocada pelo aumento de até 83% nos preços dos combustíveis.
“Há 15 policiais feridos em El Alto, dois gravemente. Em Cochabamba, 16 (manifestantes) foram detidos, e outros cinco em El Alto”, informou à AFP o ministro do Interior, Sacha Llorenti.
Segundo o ministro, “atos de vandalismo” foram cometidos por ativistas “identificados” do Movimento Sem Medo (MSM), do ex-prefeito de La Paz Juan del Granado.
O ministro informou que manifestantes atacaram a polícia com pedras, e os agentes reagiram com bombas de gás lacrimogêneo.
Durante os protestos, a multidão quebrou o portão da sede da Vice-Presidência boliviana, incendiou postos de pedágio, destruiu agências da empresa aérea estatal BoA e atacou as sedes da Central Operária e do sindicato dos plantadores de coca.
Os manifestantes também tentaram queimar uma bandeira da Venezuela e incendiar o monumento ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara.
El Alto, cidade-dormitório vizinha a La Paz, foi tomada por milhares de manifestantes, que levantaram barricadas e incendiaram pneus para interromper o trânsito.
Em Cochabamba, os grevistas do transporte de carga estacionaram caminhões nos cruzamentos para bloquear o tráfego.
Santa Cruz de la Sierra, motor do desenvolvimento boliviano, também era muito afetada pela paralisação dos transportes.
Durante a tarde, um grupo liderado pelo MSM tentou chegar ao Palácio Presidencial de La Paz, mas foi reprimido pela polícia de choque, que dispersou o protesto com bombas de gás lacrimogêneo.
Diante da repressão policial, o grupo desistiu de chegar à Praça das Armas, onde estão as sedes dos poderes Executivo e Legislativo.
Em meio aos protestos, a população correu em busca de alimentos e formou enormes filas em torno dos mercados de La Paz.
Os manifestantes exigem a renúncia de Morales, que deflagrou a crise ao decidir pelo fim dos subsídios aos combustíveis, provocando um aumento de 83% na gasolina e de 73% no díesel.
Para suavizar a alta dos combustíveis, Morales aumentou em 20% o salário mínimo e a remuneração das Forças Armadas, da polícia e dos funcionários da saúde e da educação.
O presidente também anunciou outras medidas, como incentivos a agricultores e a pequenos empresários.
Morales convocou ainda os militares para tentar reduzir os efeitos das greves que paralisam o país.
O ministro da Defesa, Rubén Saavedra, anunciou que homens das Forças Armadas farão e venderão pães ao “preço antigo”, diante da decisão do sindicato dos padeiros de parar a categoria por 24 horas e elevar o preço do pão em até 100%.
Os militares bolivianos também foram chamados para dirigir ônibus e caminhões visando atenuar o aumento unilateral de 100% nos preços das passagens de taxis e micro-ônibus que ignoram a greve nos transportes.
A Força Aérea Boliviana está realizando voos comerciais na rota La Paz-Cochabamba-Santa Cruz ao preço simbólico de 150 bolivianos (20 dólares).
Morales afirma que elevou os preços da gasolina e do díesel para enfrentar o contrabando de combustíveis para os países vizinhos, ao custo anual de 150 milhões de dólares.
A Bolívia tem um consumo de 35 mil de barris diários de petróleo, e em 2010 produziu apenas 4.500 barris diários. O restante é importado, principalmente de Venezuela e Argentina.
A verdadeira natureza da crise americana - Philipp Bagus (Mises)
Uma explicação sensível, e "sencilla", como diriam os hermanos, sobre a natureza da crise nos EUA, e uma interpretação mais correta e fiável sobre como e por que as autoridades monetárias americanas estão prolongando a crise...
Paulo Roberto de Almeida
Will There Be QE3, QE4, QE5...?
by Philipp Bagus
Mises Daily, December 31, 2010
Recently, Ben Bernanke indicated that Quantitative Easing II (QE2) might be followed by QE3, etc. In an interview at the beginning of December, Bernanke was asked, "Do you anticipate a scenario in which you would commit to more than $600 billion?"
Bernanke's answer was startling. "Oh, it's certainly possible," he said. "And again, it depends on the efficacy of the program. It depends on inflation. And finally it depends on how the economy looks."
The answer is interesting because it not only indicates the possibility that the Federal Reserve (Fed) will purchase more government bonds but also implies that Bernanke thinks that inflation and QE are different concepts, because otherwise his claim would be a meaningless tautology: more inflation depends on inflation.
To make sense of Bernanke's technical talk, let us go back to the beginning of the infamous QE, to the darkest months of the financial crisis. During the boom fired by artificially low interest rates, financial institutions had financed malinvestments, especially in the housing sector. When the bubble burst and housing prices started to fall, these investments lost value rapidly. Bank losses mounted, bank equity fell, and solvency problems arose. Liquidity dried up as financial institutions started to doubt each other's solvency given the problematic loans on their books.
When credit markets dried up in September 2008, after the collapse of Lehman Brothers, loans that financed malinvestments did not serve as collateral for interbank lending anymore. The Fed stepped into the breach and accepted these bad assets as collateral for loans. In March 2009, the Fed started to buy these assets outright in what was dubbed QE1. As a consequence of this qualitative and quantitative easing, the Fed's balance sheet almost tripled within a few months.[1]
How long would these extraordinary emergency measures be maintained? In March 2009, Ben Bernanke stated that the Fed had an exit strategy from its emergency credit policies. It could simply undo its credit policies and asset purchases, thereby reducing the size of its balance sheet to its precrisis level.
I have argued that such an easy exit option does not exist. The Fed's purchase of problematic assets did not solve the underlying real problems in the economy: injecting new money does not cause malinvestments to go away. By propping up financial institutions, necessary liquidations and readjustments of the structure of production are only delayed. QE1 could even cause more malinvestments and thereby aggravate the problem. The consequence could be a Japanization of the banking system, with insolvent banks held afloat by the central bank.
If the Fed would exit the emergency situation, reduce its balance sheet, and stop accepting problematic assets as collateral for loans, financial institutions would be back to the initial situation of September 2008. If housing prices do not return to their bubble level, many of the problematic assets will continue to be bad and not serve as good collateral. If valued at the market price, these assets might eat up banks' equity. If the Fed ended its emergency measures, we would effectively be back to the initial situation of frozen interbank markets and general illiquidity.
In October 2009, I concluded that the Fed could not go back to its initial balance sheet without causing the collapse of the financial system. One possible way out would be to reinflate the bubble. Rising asset prices — and especially housing prices — would make many problematic bank assets valuable again. The Fed could increase the quality of its assets by inflating the housing bubble.
In the winter of 2010, no one is talking about reducing the Fed's balance sheet or about exit strategies anymore. On the contrary, the Fed has chosen the path of more inflation and dubbed this strategy "QE2."
QE2 has a slightly different purpose than QE1. QE1 directly supported struggling banks by buying their problematic assets. QE2 supports the government.
The inflationary policies of the Fed have been coupled with the Keynesian fiscal policies of the US government. The US government engaged in deficit spending to bail out financial institutions and automakers, disrupting a fast liquidation of malinvestments and a smooth adaption of the structure of production to consumer wants.
QE2 is a direct response to this deficit spending, which obliges the government to issue more bonds. With QE2, the Fed supports the government by buying these bonds. The Fed thereby actively helps the government in its Keynesian policies, which disrupt recovery. While QE1 supported the financial system, QE2 supports the government. Granted, this difference is not substantial given that the fates of the financial system and the government are interwoven. The banking system finances the government that in turn grants the privilege of fractional-reserve banking and implicitly gives guarantees for banks' losses.
Of course, Ben Bernanke does not say that he wants to help finance the government's deficit via money creation. The official excuse for QE2 is, yet again, the scapegoat "deflation."[2] Price inflation is too low. James Bullard, president of the St. Louis Federal Reserve Bank, states that "it's important to defend inflation from the low side as we would on the high side."
In other words, if prices rise too slowly, we must print money so that things get more expensive faster. Bernanke even denies that QE2 would be inflationary: "One myth that's out there is that what we're doing is printing money. … The money supply is not changing in any significant way."
Bernanke plays a semantic trick in this statement. Of course, the Fed does not create the bulk of its new money by literally "printing." Rather, the Fed creates money by manipulating digits in its computer. When the Fed buys a $1,000 government bond from a bank, it transfers 1,000 new dollars as a payment to the bank. It is true that the Fed does not print the money and ship it over to the bank physically. Rather, it increases the account that the bank holds at the Fed by $1,000. It is more convenient to just create the new money in a computer.
However, the fact that the new money is created electronically does not mean that QE2 is not inflationary. QE2 is inflationary in several ways:
First, base money (bank reserves) increases. When the Fed buys a government bond, it creates money that it transfers to the bank selling the bond. At the end of the operation, the bank has more bank reserves and the Fed owns the government bond.
Second, the quality of money tends to decrease.[3] The average quality of assets that the Fed holds decreases when it buys government bonds. The percentage of gold of total assets that could be used in a monetary reform decreases, while the percentage of government bonds increases. Moreover, these bonds are for a government that is ever increasing its debts.
Third, prices will be higher than they would have been otherwise. Prices would probably have fallen substantially without QE1 and QE2. The injection of new bank reserves inhibited a credit contraction and falling prices. In fact, one aim of QE2 is to bid up asset prices.
Money flows into the stock market, bidding up stock prices. In March 2009, when QE1 started, the Dow Jones was below 7,000 and rose to 10,800 until QE1 expired. When the Dow fell below 10,000 again, markets began to speculate about the possibility of QE2, and a new rally started.
While the newly created money flows to asset-price markets, consumer prices might not surge strongly. But sooner or later, these investments will flow out of asset-price markets and start to bid up consumer goods' prices.
Fourth, the exchange rate will be lower than it would have been otherwise. Market participants will value the dollar lower, given that the base-money supply increases and the dollar's quality decreases. This devaluation is another aim of QE2. It is a way to give exporters an advantage. The devaluation is not as crude an instrument as a tariff but has similar effects. It makes consumers poorer. They have to pay higher prices for imported goods.
Consequently, QE2 is, despite Bernanke's words, inflationary. In fact, it is a euphemism to call the policy QE2. The term quantitative easing conceals the true inflationary nature of the instrument. Furthermore, it sounds technical. The added number "2" makes it even more so. People who know little about economics might ignore news on QE2. Why bother to understand something so technical — let the experts deal with it. The term also has a positive connotation. Who does not want "ease"?
As Walter Block has repeatedly pointed out, we should carefully watch our language. Language is crucial to clear communication. The use of the term quantitative easing generates a smog to hide the production of new money. Words, as Block states, can be mightier than pens or swords. They guide our thoughts and writings. The invention of the term quantitative easing prevents people from thinking about the consequences of inflation. The term distorts thinking.
Why not name QE for what it is? Why not name it after the effects it has?
"The term quantitative easing conceals the true inflationary nature of the instrument."
Money printing cannot make society richer; it does not produce more real goods. It has a redistributive effect in favor of those who receive the new money first and to the detriment of those who receive it last. The money injection in a specific part of the economy distorts production. Thus, QE does not bring ease to the economy. To the contrary, QE makes the recession longer and harsher.
The injection of new money into the economy reinflates old bubbles and generates new ones. Most importantly, QE facilitates government deficit spending — additional distortions and rigidities in the economy. Malinvestments can endure. Factors of production are not shifted to places where the consumer wants them to be most urgently.
Thus, QE2 would be better called, "Quantitative Straining," "Quantitative Destruction II," or "Crisis Prolongation III."
Or we might name it after the intentions behind it: "Currency Debasement I," "Bank Bailout I," "Government Bailout II," or simply "Consumer Impoverishment." Finally, we might also name it after its essence: "Money Printing I and II." Or, if we follow Bernanke, who pointed out that most of the new money is created in a computer, we can call it "Money Creation I and II." This might be the most neutral term.
The rhetorical tricks should not distract us from the fact that QE is simple money creation. The aim of Money Creation II is to finance government spending, debasing the dollar. We should dismiss the term QE and instead call money creation what it is: inflation.
Philipp Bagus is an associate professor at Universidad Rey Juan Carlos. He is the author of The Tragedy of the Euro.
See his website. Send him mail. See Philipp Bagus's article archives.
You can subscribe to future articles by Philipp Bagus via this RSS feed.
Notes:
[1] See Philipp Bagus and David Howden, "The Federal Reserve and the Eurosystem's Balance Sheet Policies During the Financial Crisis: A Comparative Analysis" in Romanian Economic and Business Review 4, no. 3: pp. 165–85.
Qualitative easing may be defined as a deterioration of the average quality of assets the Fed holds, while quantitative easing can be defined as an increase in the quantity of its assets.
[2] See Philipp Bagus, "Deflation: When Austrians Become Interventionists" in Quarterly Journal of Austrian Economics 6, no.4: pp. 19–35.
[3] See Philipp Bagus, "The Quality of Money," in Quarterly Journal of Austrian Economics 12, no. 4: pp. 22–45.
Paulo Roberto de Almeida
Will There Be QE3, QE4, QE5...?
by Philipp Bagus
Mises Daily, December 31, 2010
Recently, Ben Bernanke indicated that Quantitative Easing II (QE2) might be followed by QE3, etc. In an interview at the beginning of December, Bernanke was asked, "Do you anticipate a scenario in which you would commit to more than $600 billion?"
Bernanke's answer was startling. "Oh, it's certainly possible," he said. "And again, it depends on the efficacy of the program. It depends on inflation. And finally it depends on how the economy looks."
The answer is interesting because it not only indicates the possibility that the Federal Reserve (Fed) will purchase more government bonds but also implies that Bernanke thinks that inflation and QE are different concepts, because otherwise his claim would be a meaningless tautology: more inflation depends on inflation.
To make sense of Bernanke's technical talk, let us go back to the beginning of the infamous QE, to the darkest months of the financial crisis. During the boom fired by artificially low interest rates, financial institutions had financed malinvestments, especially in the housing sector. When the bubble burst and housing prices started to fall, these investments lost value rapidly. Bank losses mounted, bank equity fell, and solvency problems arose. Liquidity dried up as financial institutions started to doubt each other's solvency given the problematic loans on their books.
When credit markets dried up in September 2008, after the collapse of Lehman Brothers, loans that financed malinvestments did not serve as collateral for interbank lending anymore. The Fed stepped into the breach and accepted these bad assets as collateral for loans. In March 2009, the Fed started to buy these assets outright in what was dubbed QE1. As a consequence of this qualitative and quantitative easing, the Fed's balance sheet almost tripled within a few months.[1]
How long would these extraordinary emergency measures be maintained? In March 2009, Ben Bernanke stated that the Fed had an exit strategy from its emergency credit policies. It could simply undo its credit policies and asset purchases, thereby reducing the size of its balance sheet to its precrisis level.
I have argued that such an easy exit option does not exist. The Fed's purchase of problematic assets did not solve the underlying real problems in the economy: injecting new money does not cause malinvestments to go away. By propping up financial institutions, necessary liquidations and readjustments of the structure of production are only delayed. QE1 could even cause more malinvestments and thereby aggravate the problem. The consequence could be a Japanization of the banking system, with insolvent banks held afloat by the central bank.
If the Fed would exit the emergency situation, reduce its balance sheet, and stop accepting problematic assets as collateral for loans, financial institutions would be back to the initial situation of September 2008. If housing prices do not return to their bubble level, many of the problematic assets will continue to be bad and not serve as good collateral. If valued at the market price, these assets might eat up banks' equity. If the Fed ended its emergency measures, we would effectively be back to the initial situation of frozen interbank markets and general illiquidity.
In October 2009, I concluded that the Fed could not go back to its initial balance sheet without causing the collapse of the financial system. One possible way out would be to reinflate the bubble. Rising asset prices — and especially housing prices — would make many problematic bank assets valuable again. The Fed could increase the quality of its assets by inflating the housing bubble.
In the winter of 2010, no one is talking about reducing the Fed's balance sheet or about exit strategies anymore. On the contrary, the Fed has chosen the path of more inflation and dubbed this strategy "QE2."
QE2 has a slightly different purpose than QE1. QE1 directly supported struggling banks by buying their problematic assets. QE2 supports the government.
The inflationary policies of the Fed have been coupled with the Keynesian fiscal policies of the US government. The US government engaged in deficit spending to bail out financial institutions and automakers, disrupting a fast liquidation of malinvestments and a smooth adaption of the structure of production to consumer wants.
QE2 is a direct response to this deficit spending, which obliges the government to issue more bonds. With QE2, the Fed supports the government by buying these bonds. The Fed thereby actively helps the government in its Keynesian policies, which disrupt recovery. While QE1 supported the financial system, QE2 supports the government. Granted, this difference is not substantial given that the fates of the financial system and the government are interwoven. The banking system finances the government that in turn grants the privilege of fractional-reserve banking and implicitly gives guarantees for banks' losses.
Of course, Ben Bernanke does not say that he wants to help finance the government's deficit via money creation. The official excuse for QE2 is, yet again, the scapegoat "deflation."[2] Price inflation is too low. James Bullard, president of the St. Louis Federal Reserve Bank, states that "it's important to defend inflation from the low side as we would on the high side."
In other words, if prices rise too slowly, we must print money so that things get more expensive faster. Bernanke even denies that QE2 would be inflationary: "One myth that's out there is that what we're doing is printing money. … The money supply is not changing in any significant way."
Bernanke plays a semantic trick in this statement. Of course, the Fed does not create the bulk of its new money by literally "printing." Rather, the Fed creates money by manipulating digits in its computer. When the Fed buys a $1,000 government bond from a bank, it transfers 1,000 new dollars as a payment to the bank. It is true that the Fed does not print the money and ship it over to the bank physically. Rather, it increases the account that the bank holds at the Fed by $1,000. It is more convenient to just create the new money in a computer.
However, the fact that the new money is created electronically does not mean that QE2 is not inflationary. QE2 is inflationary in several ways:
First, base money (bank reserves) increases. When the Fed buys a government bond, it creates money that it transfers to the bank selling the bond. At the end of the operation, the bank has more bank reserves and the Fed owns the government bond.
Second, the quality of money tends to decrease.[3] The average quality of assets that the Fed holds decreases when it buys government bonds. The percentage of gold of total assets that could be used in a monetary reform decreases, while the percentage of government bonds increases. Moreover, these bonds are for a government that is ever increasing its debts.
Third, prices will be higher than they would have been otherwise. Prices would probably have fallen substantially without QE1 and QE2. The injection of new bank reserves inhibited a credit contraction and falling prices. In fact, one aim of QE2 is to bid up asset prices.
Money flows into the stock market, bidding up stock prices. In March 2009, when QE1 started, the Dow Jones was below 7,000 and rose to 10,800 until QE1 expired. When the Dow fell below 10,000 again, markets began to speculate about the possibility of QE2, and a new rally started.
While the newly created money flows to asset-price markets, consumer prices might not surge strongly. But sooner or later, these investments will flow out of asset-price markets and start to bid up consumer goods' prices.
Fourth, the exchange rate will be lower than it would have been otherwise. Market participants will value the dollar lower, given that the base-money supply increases and the dollar's quality decreases. This devaluation is another aim of QE2. It is a way to give exporters an advantage. The devaluation is not as crude an instrument as a tariff but has similar effects. It makes consumers poorer. They have to pay higher prices for imported goods.
Consequently, QE2 is, despite Bernanke's words, inflationary. In fact, it is a euphemism to call the policy QE2. The term quantitative easing conceals the true inflationary nature of the instrument. Furthermore, it sounds technical. The added number "2" makes it even more so. People who know little about economics might ignore news on QE2. Why bother to understand something so technical — let the experts deal with it. The term also has a positive connotation. Who does not want "ease"?
As Walter Block has repeatedly pointed out, we should carefully watch our language. Language is crucial to clear communication. The use of the term quantitative easing generates a smog to hide the production of new money. Words, as Block states, can be mightier than pens or swords. They guide our thoughts and writings. The invention of the term quantitative easing prevents people from thinking about the consequences of inflation. The term distorts thinking.
Why not name QE for what it is? Why not name it after the effects it has?
"The term quantitative easing conceals the true inflationary nature of the instrument."
Money printing cannot make society richer; it does not produce more real goods. It has a redistributive effect in favor of those who receive the new money first and to the detriment of those who receive it last. The money injection in a specific part of the economy distorts production. Thus, QE does not bring ease to the economy. To the contrary, QE makes the recession longer and harsher.
The injection of new money into the economy reinflates old bubbles and generates new ones. Most importantly, QE facilitates government deficit spending — additional distortions and rigidities in the economy. Malinvestments can endure. Factors of production are not shifted to places where the consumer wants them to be most urgently.
Thus, QE2 would be better called, "Quantitative Straining," "Quantitative Destruction II," or "Crisis Prolongation III."
Or we might name it after the intentions behind it: "Currency Debasement I," "Bank Bailout I," "Government Bailout II," or simply "Consumer Impoverishment." Finally, we might also name it after its essence: "Money Printing I and II." Or, if we follow Bernanke, who pointed out that most of the new money is created in a computer, we can call it "Money Creation I and II." This might be the most neutral term.
The rhetorical tricks should not distract us from the fact that QE is simple money creation. The aim of Money Creation II is to finance government spending, debasing the dollar. We should dismiss the term QE and instead call money creation what it is: inflation.
Philipp Bagus is an associate professor at Universidad Rey Juan Carlos. He is the author of The Tragedy of the Euro.
See his website. Send him mail. See Philipp Bagus's article archives.
You can subscribe to future articles by Philipp Bagus via this RSS feed.
Notes:
[1] See Philipp Bagus and David Howden, "The Federal Reserve and the Eurosystem's Balance Sheet Policies During the Financial Crisis: A Comparative Analysis" in Romanian Economic and Business Review 4, no. 3: pp. 165–85.
Qualitative easing may be defined as a deterioration of the average quality of assets the Fed holds, while quantitative easing can be defined as an increase in the quantity of its assets.
[2] See Philipp Bagus, "Deflation: When Austrians Become Interventionists" in Quarterly Journal of Austrian Economics 6, no.4: pp. 19–35.
[3] See Philipp Bagus, "The Quality of Money," in Quarterly Journal of Austrian Economics 12, no. 4: pp. 22–45.
Ufa!: so faltam DOIS dias...
Não estou fazendo as contas erradas: faltam DOIS dias para terminar o "nunca antes".
Isso porque estou contando o próprio dia 1, o dia da transmissão, quando não faltarão discursos antes, durante e depois, entrevistas, declarações, frases soltas, rememoracões e compilações das "melhores" frases, etc...
Eu disse "melhores"???
Bem, é um tique de linguagem, apenas isso.
Enfim, faltam só dois dias para um pouco de silêncio. Só um pouco.
Posso apostar metade da minha biblioteca como em menos de 15 dias teremos direito a mais "nunca antes"...
Um pouco de paciência pessoal.
Como já disse alguém: ficamos roucos de tanto ouvir...
Algum dia teremos silêncio...
Paulo R. Almeida
Isso porque estou contando o próprio dia 1, o dia da transmissão, quando não faltarão discursos antes, durante e depois, entrevistas, declarações, frases soltas, rememoracões e compilações das "melhores" frases, etc...
Eu disse "melhores"???
Bem, é um tique de linguagem, apenas isso.
Enfim, faltam só dois dias para um pouco de silêncio. Só um pouco.
Posso apostar metade da minha biblioteca como em menos de 15 dias teremos direito a mais "nunca antes"...
Um pouco de paciência pessoal.
Como já disse alguém: ficamos roucos de tanto ouvir...
Algum dia teremos silêncio...
Paulo R. Almeida
Governo brasileiro nao extradita um terrorista italiano, na verdade criminoso...
A razão invocada foi a "condição pessoal do extraditando", sem explicitar do que exatamente se tratava. Fica parecendo uma escusa para não cumprir o tratado de extradição.
Pode-se especular, portanto, que as razões são outras, e têm a ver com a suposta condição "política" do criminoso italiano.
Ficou faltando o texto da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010 e sua "impertinância" ao presidente sainte...
Paulo Roberto de Almeida
Nota do governo brasileiro sobre o cidadão italiano Cesare Battisti
O Presidente da República tomou hoje a decisão de não conceder extradição ao cidadão italiano Cesare Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União.
O parecer considerou atentamente todas as cláusulas do Tratado de Extradição entre o Brasil e a Itália, em particular a disposição expressa na letra “f”, do item 1, do artigo 3 do Tratado, que cita, entre as motivações para a não extradição, a condição pessoal do extraditando. Conforme se depreende do próprio Tratado, esse tipo de juízo não constitui afronta de um Estado ao outro, uma vez que situações particulares ao indivíduo podem gerar riscos, a despeito do caráter democrático de ambos os Estados.
Ao mesmo tempo, o Governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010, em particular com a impertinente referência pessoal ao Presidente da República.
Pode-se especular, portanto, que as razões são outras, e têm a ver com a suposta condição "política" do criminoso italiano.
Ficou faltando o texto da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010 e sua "impertinância" ao presidente sainte...
Paulo Roberto de Almeida
Nota do governo brasileiro sobre o cidadão italiano Cesare Battisti
O Presidente da República tomou hoje a decisão de não conceder extradição ao cidadão italiano Cesare Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União.
O parecer considerou atentamente todas as cláusulas do Tratado de Extradição entre o Brasil e a Itália, em particular a disposição expressa na letra “f”, do item 1, do artigo 3 do Tratado, que cita, entre as motivações para a não extradição, a condição pessoal do extraditando. Conforme se depreende do próprio Tratado, esse tipo de juízo não constitui afronta de um Estado ao outro, uma vez que situações particulares ao indivíduo podem gerar riscos, a despeito do caráter democrático de ambos os Estados.
Ao mesmo tempo, o Governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010, em particular com a impertinente referência pessoal ao Presidente da República.
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