Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
RBPI, hora da saudade (1): minha introducao ao nro. especial de 40 anos (1998)
Nesta nota eu prometia um novo número especial para o ano de 2008, aproveitando os cinquenta anos da revista e os 200 anos de relações internacionais e de política externa a partir do Brasil, o que não ocorreu. Mas houve, sim, um seminário, e um livro, de que participei. Relatarei os resultados em postagem à parte.
Paulo Roberto de Almeida
Revista Brasileira de Política Internacional
Print version ISSN 0034-7329
Rev. bras. polít. int. vol.41 no.spe Brasília 1998
doi: 10.1590/S0034-73291998000300001
NOTA LIMINAR DO ORGANIZADOR
Revista Brasileira de Política Internacional: a continuidade de um empreendimento exemplar
Paulo Roberto de Almeida
Editor Adjunto da RBPI e Diretor Geral do IBRI
"Nota Liminar": a designação remonta aos anos sessenta, quando o historiador José Honório Rodrigues costumava introduzir assim os muitos números temáticos que ele concebeu enquanto exercia o cargo de Diretor Geral do IBRI, o que lhe dava automaticamente o direito de exercer a função de Editor da RBPI. Ele desempenhou-se brilhantemente à frente da revista, entre 1964 e 1969, numa fase que poderíamos caracterizar como "heróica" da vida deste periódico, como se pode verificar nesta edição comemorativa dos primeiros quarenta anos de sua existência editorial.
Atualmente, e mais precisamente desde a inauguração da série de Brasília, os dois cargos encontram-se nitidamente separados, mas na prática as funções muitas vezes se mesclam, como o prova esta iniciativa do Diretor Geral do IBRI — que é ao mesmo tempo o Editor Adjunto da RBPI — de deixar registrada sua importância para a vida intelectual do Brasil e para o estudo de suas relações exteriores nos últimos quarenta anos.
"Quarenta anos": poucas revistas acadêmicas brasileiras, a fortiori no campo das relações internacionais, podem ostentar uma tal longevidade editorial. Pode parecer pouco, ao lado, por exemplo, dos quase dois séculos de existência da Revue des Deux Mondes, mas no contexto brasileiro trata-se certamente de uma marca de "senioridade". Na verdade, com a notável, mas compreensível, exceção das revistas militares — que ocasionalmente se ocuparam de temas internacionais — e descontando-se o saudável meio século das duas revistas editadas pela Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica e Revista Brasileira de Economia — que também dedicam-se, parcial ou episodicamente, a temas das relações econômicas internacionais do Brasil — nenhuma outra revista acadêmica nesta área especializada pode gabar-se de ser uma espécie de registro e testemunha "ocular" da maior parte dos eventos e processos das relações internacionais do Brasil contemporâneo que constituem o seu próprio objeto de análise.
A RBPI esteve presente, por exemplo, na criação da Política Externa Independente, assim como ela acompanhou a longa trajetória da política nuclear brasileira, desde a fase da recusa do Tratado de Não-Proliferação e de assinatura do Tratado de Tlatelolco, até o período recente de implementação efetiva deste último e da adesão do Brasil ao primeiro. Ela também pode orgulhar-se de ter acompanhado, passo a passo, os progressos e percalços do processo de de integração na América Latina, desde a fase inicial da ALALC, até os dias de hoje, quando se prepara a fase negociadora da ALCA, num contexto de reforço institucional do MERCOSUL e de ampliação de seu relacionamento com outros esquemas e blocos integracionistas, como é o caso da Comunidade Andina e da própria União Européia.
Como relato em meu artigo sobre as revistas brasileiras de relações internacionais — conceito tomado em sua acepção a mais larga possível — muitos foram os periódicos que, de 1958 a 1998, informaram, debateram, criticaram e analisaram aspectos diversos das relações exteriores do Brasil. Poucos, no entanto, sobreviveram a tão longo período de transformações políticas e econômicas no País, desde a fase "clássica" da industrialização substitutiva até os dias que correm, de inserção acelerada na economia globalizada. A tabela sinóptica e cronológica que acompanha esse artigo dá uma idéia do desenrolar de eventos significativos na vida internacional e nacional ao longo do período, correlacionando-os com determinados artigos da própria revista e com documentos selecionados nela publicados.
Publicada pela primeira vez em Brasília a partir de seu volume 36, em 1993, a RBPI tinha sido lançada no Rio de Janeiro em março de 1958, no velho Palácio Itamaraty. Ela já completou, portanto, quatro décadas de vida, o que constitui um fato bastante raro no panorama editorial brasileiro, num cenário acadêmico ainda caracterizado por poucas revistas especializadas em relações internacionais. O Brasil mudou muito nesse período, a começar pela sua própria capital federal, mas a revista, na verdade, mudou muito pouco, descontando-se o fato dela ter passado de trimestral a semestral. Ela continua no entanto a ser pautada pelas mesmas características editoriais e pela mesma clareza de propósitos que tinham orientado sua criação: informar objetivamente e debater criteriosamente todos os fatos e processos relevantes em matéria de política externa brasileira e de relações internacionais em geral.
O presente número, especial, da RBPI pretende, a título de modesta comemoração, apresentar algumas reflexões sobre a política externa brasileira nos últimos quarenta anos, repassar o cenário editorial nessa área, oferecer uma perspectiva histórica de sua importância na pesquisa e na reflexão sobre os temas que formam seu objeto próprio e sua razão de ser, dar evidências sobre sua utilidade intrínseca — como fonte documental para o conhecimento dos últimos quarenta anos de relações internacionais e de política externa brasileira —, bem como, mais importante, trazer novamente ao conhecimento do leitor interessado alguns dos momentos fortes que marcaram seu itinerário intelectual ao longo desse período. Os artigos referenciados ou discutidos nas seções temáticas elaboradas por resenhistas convidados ou por colaboradores habituais da revista, bem como o sumário completo de todos os números publicados até aqui demonstrarão a essencialidade — e mesmo a "indispensabilidade" — da revista em qualquer pesquisa séria que se empreenda nesse terreno.
Por todas essas razões, um passeio pelo passado da revista constitui um motivo de justo orgulho para todos aqueles, diplomatas ou acadêmicos, que estiveram ou ainda estão associados a este empreendimento editorial a todos os títulos exemplar e meritório na comunidade brasileira vinculada à problemática internacionalista. Seu futuro depende, como parece normal, de seus muitos leitores, que nela encontram motivo de satisfação profissional ou de reflexão acadêmica. Um novo encontro dentro de dez anos, quando a velha "repartição dos negócios estrangeiros" completará duzentos anos de existência continuada no Brasil, permitirá aferir a vitalidade desta revista. Até 2008, portanto, com pelo menos mais vinte densos números da RBPI.
Paulo Roberto de Almeida
[Este artigo em formato pdf]
PS.: A tabela sinóptica e cronológica que acompanha meu artigo artigo introdutório (ver post seguinte a este) foi transcrita na base de dados do Scielo no seguimento desse artigo; ver este link, no final (clicar para ampliar).
Paulo Roberto de Almeida
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