O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais miseria da educacao: cotas raciais validas, diz ministro

O relator do projeto, Senador Demóstenes Torres, pensava que tinha eliminado a possibilidade de cotas racistas nos processos de seleção, e agora o ministro da (Des)Igualdade Racial diz que não, que o estatuto garante a aplicação de cotas pelas universidades públicas.
Creio que temos mesmo de passar pela completa decadência do ensino, pelo acirramento das relações raciais no Brasil para que as pessoas tenham consciência do monstro político que está sendo criado com essa famigerada lei, o Estatuto da (Des)Igualdade Racial, na verdade um instrumento racista que implanta oficialmente o racialismo no Brasil.
Adeus Brasil nação, bem-vindo Apartheid.
Paulo Roberto de Almeida

Para ministro da Igualdade Racial, estatuto é "extraordinário" e garante política de cotas
Gilberto Costa
Agência Brasil, 18/6/2010

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 15 dias para sancionar o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado esta semana

O sociólogo Wilson Carlos Duarte Araújo já era aluno veterano de graduação quando a Universidade de Brasília (UnB) iniciou o regime de cotas para ingresso de negros no curso superior (2004). Ele avalia que a universidade mudou desde então e deu condições para a construção de uma nova imagem para os negros.

"As cotas abriram a possibilidade de que os negros fizessem parte da elite. Você já percebe na sociedade mudanças na forma como uma pessoa negra como eu pode ser representada. Começam a mudar as expectativas com relação a mim: hoje em dia eu não sou mais aquele cara que deve ser o servente. Eu posso ser um aluno da universidade, eu posso ser um professor ou qualquer outra coisa", contou à Agência Brasil.

Para o ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado na quarta-feira (16/6) pelo Senado Federal, criou base legal para as políticas de cotas nas universidades e outras políticas afirmativas.

"A lei não trabalhou com proibição, a lei trabalhou com inclusão", disse, afirmando que a partir da nova lei "o poder público adotará ações de política afirmativa no sistema de cotas para educação".

Em sua avaliação, os questionamentos que a política de cotas sofre na Justiça, como a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186 movida no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo partido Democratas (DEM), caducarão. "Quando o presidente sancionar a lei, a arguição vai ficar muito enfraquecida. Agora nós temos a legislação", salientou ao dizer que a ação no STF é "impertinente" e "inoportuna": "a sociedade já havia reconhecido a política de cotas como uma realidade".

Na opinião do ministro, o Estatuto da Igualdade Racial estabelece em lei o conceito de ação afirmativa que servirá como "guarda-chuva" para criação de incentivos fiscais a empresas que contratem negros, para o acesso à terra, para a valorização da cultura, para realização de pesquisas e para outros direitos.

"O avanço é muito substantivo. Não há nenhuma legislação desde 1888 [Abolição da Escravatura] que reúna tantas possibilidades. Essas possibilidades se colocam como ponto de partida: é daqui para frente", comemorou.

Para o ministro da Igualdade Racial, a lei aprovada pelo Senado é "extraordinária" e uma "vitória fantástica". "Com esse estatuto nós colocamos uma argamassa poderosa na consolidação e sedimentação da nossa democracia. Fora do ambiente democrático, nós não teríamos condições de discutir esse tipo de matéria sobre a inclusão de negros e negras. Com a inclusão de negros e negras damos um passo definitivo na consolidação da democracia", avaliou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 15 dias para sancionar o estatuto.

Miseria da educacao no Brasil: perdas agora e para a frente

Leiam a matéria abaixo. Estarrecedora.
O Brasil, como já disse Roberto Campos, é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Tudo isso era previsível e esperado. Há pelo menos 15 anos ouço falar da carência de professores de ciências (física, química) e de matemática para os cursos médios.
Os alunos simplesmente saem despreparados, razão da enorme evasão nesses cursos: eles não conseguem acompanhar.
E o pior é que estamos caminhando para o pior, justamente.
Com bobagens obrigatórias como as que foram introduzidas pelos companheiros -- espanhol e estudos afrobrasileiros no primário, filosofia e sociologia no curso médio -- a previsão é que continuemos a formar perfeitos analfabetos nas ciências elementares e nas matemáticas.
O Brasil perde, todos perdemos.
Acho que isso não se corrige facilmente. Daí meu enorme pessimismo educacional.
Paulo Roberto de Almeida

País perde US$ 15 bi com má formação de engenheiro
Agnaldo Brito
Folha de S. Paulo, 21.06.2010

De 150 mil que entram em engenharia, 30 mil se formam

A baixa qualidade do ensino médio, sobretudo em disciplinas como física, química e matemática, tornou-se obstáculo para a formação de engenheiros no Brasil. Essa falha, agravada pela alta demanda gerada com o crescimento do país, tem custo -e não é pequeno.
Cálculos de entidades de engenharia mostram que o país perde US$ 15 bilhões (R$ 26,5 bilhões) por ano com falhas nos projetos das obras públicas. A cifra, equivalente a 1% do PIB, foi apresentada em encontro nacional de engenheiros, em Curitiba, na semana passada.
A reunião levou à capital do Paraná 850 engenheiros de todo o país com o único propósito: buscar meios de frear a crise sem precedentes da engenharia nacional.

GUERRA
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) calcula que 150 mil vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012. Tamanha demanda diante da falta de profissionais criou uma guerra por engenheiros.
Em 2003, a formação de um engenheiro custava US$ 25 mil. Hoje, US$ 40 mil, diz a IBM, uma das empresas que mais contrataram engenheiros e técnicos de computação desde quando o Brasil tornou-se base mundial para oferta de serviços.
Essa escassez já atinge a competitividade brasileira. Em 2009, exportamos US$ 1,5 bilhão em serviços. Só a IBM respondeu por US$ 500 milhões. A Índia exportou US$ 25 bilhões, disse Paulo Portela, vice-presidente de Serviços da IBM, em seminário promovido pela Amcham, em São Paulo.
Essa disputa por engenheiros não ajuda. Vamos perder se entrarmos numa guerra e ampliar a inflação dos custos da mão de obra. O salário inicial, de R$ 1.500 em 2006, já atinge R$ 4.500.

EVASÃO
O diagnóstico da realidade nos 1.374 cursos no país mostra que a evasão nos cursos de engenharia é de 80%; dos 150 mil que ingressam no primeiro ano, 30 mil se formam.
Só um 1 em cada 4 possui formação adequada. O Brasil forma menos de 10 mil engenheiros com competência e esses são disputados pelas empresas, diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP, uma das mais importantes faculdades de engenharia do país.
A Amcham (Câmara Americana de Comércio) quer o tema na campanha eleitoral. O documento com o diagnóstico e as propostas compiladas por Jacques Marcovitch, professor da USP e conselheiro do Fórum Econômico Mundial, será entregue ao governo e aos candidatos.
É certo que ficará para o próximo governo a busca da resposta para a pergunta: Por que o jovem quer ser médico e advogado e não quer ser engenheiro e professor de matemática?.
Exemplo de baixa procura pela área ocorreu em concurso para professor de física em São Paulo. De 931 vagas, só 304 foram preenchidas.

7 a 0: minha recomendacao a certo time...

Bem, se fosse eu, e conhecendo os precedentes, trataria de pedir asilo coletivo.
A alternativa é o Gulag, de retorno ao lar (se o termo se aplica, claro).
Mas, isso deve ser feito agora, se possível ainda com a roupa molhada de suor.
Se esperarem muito, os gorilas habituais vão controlar todos os seus movimentos.
Sorry, boys, não dava mesmo para vencer essa.
Mas, a vergonha do score pode induzir um baixinho invocado a gestos inesperados (ou esperados e previsíveis...).
A escolha é de vocês...

The BRICs: The trillion-dollar club - The Economist

The BRICs
The trillion-dollar club
The Economist, April 15th 2010

Brazil, Russia, India and China matter individually. But does it make sense to treat the BRICs—or any other combination of emerging powers—as a block?

IN ANY global gathering, the American president is usually seen, at a minimum, as primus inter pares: the one who can make or break the final bargain and select his favoured interlocutors. So in Copenhagen last December, as negotiations for a new climate-change treaty were entering their final hours, a hastily convened meeting between Barack Obama and China’s prime minister, Wen Jiabao, looked as if it would be the critical moment when a deal might be struck. But when the president turned up, he found not only Mr Wen but the heads of government of Brazil, South Africa and India. This was unexpected. The Americans even thought the Indians had already left the summit. What was conceived as a bilateral talk turned instead into a negotiation with an emerging-market block. As an additional sign that things were changing in the world, the president got a finger-wagging from one of Mr Wen’s hangers-on. But at least Mr Obama was in the room; Europeans were shut out while the emerging powers and America put the final touches to their deal.

This week the same developing countries are meeting again, in Brasília. On April 15th Brazil, India and South Africa—rising powers that are also democracies—put their heads together. The next day South Africa will drop out and Russia and China will join the party, to create a meeting of the so-called BRICs.

For this group, it is a second summit; last June their leaders met in Yekaterinburg, in Russia. That inaugural summit, which produced almost nothing concrete, appeared to be a one-off event and could be ignored. But the foursome is starting to establish a record. BRIC foreign ministers have met annually since 2006. Finance ministers and central bank heads meet frequently. This week, in addition to the leaders’ summit, there are gatherings in Brazil of BRIC commercial banks, BRIC development banks, and even BRIC think-tanks.

The term itself was coined by Jim O’Neill of Goldman Sachs, a Wall Street bank, and is sometimes written off as just a gimmick aimed at tempting punters. But is it now the case that life, in a serious way, is imitating investment analysis? Are the BRICs developing a momentum of their own? If so, what difference might that make to the rest of the world?

Life imitates Goldman Sachs

The BRICs matter because of their economic weight. They are the four largest economies outside the OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development, the rich man’s club). They are the only developing economies with annual GDPs of over $1 trillion (Indonesia’s is only half that). With the exception of Russia, they sustained better growth than most during the great recession and, but for them, world output would have fallen by even more than it did. China also became, by a fraction, the world’s largest exporter. Meanwhile, the BRICs are also increasing their trade with one another: Chinese-Indian trade has soared and is likely to reach $60 billion this year. China has also become the largest market for the fast-industrialising countries of East Asia. Less happily, China has become the largest spewer-forth of carbon dioxide, emitting 6.5 billion tonnes of CO2 in 2008, or 22% of the world’s total. Russia is third and India fourth on this particular roll of shame.

The most striking sign of the BRICs’ significance to the world economy, though, is probably their share of foreign-exchange reserves. All four are among the ten largest accumulators of reserves, accounting for 40% of the world’s total. China is easily the largest, with a staggering $2.4 trillion, enough to buy two-thirds of all the NASDAQ-quoted companies. It is the world’s second-largest net creditor after Japan (the net credit position takes account of equities as well as debt). Russia’s foreign-exchange reserves were virtually zero when it began market reform in 1992; now they stand at $420 billion. If the BRICs were to set aside one-sixth of their reserves, they could create a fund the size of the IMF.

Foreign assets provided cushions against the great recession and helped turn the BRICs into financial powers as well as economic ones. Even as most Western countries struggle to rein in record budget deficits and soaring debts, the BRICs’ public-debt levels are mostly modest and stable (India is a partial exception). Most investment banks offer BRIC funds. The world’s top two banks are Chinese.

This macro performance is being translated into different sorts of influence. Perhaps the most important is an intangible one: that of reputation. In some respects, the BRICs share a distinctive view of the world. They have large domestic markets with substantial numbers of poor people, so growth and anti-poverty programmes are higher up their list of concerns than in Western countries (this is even true in Russia, though to a lesser extent). They are trying to diversify their economies. They are innovating (though Russia is much better at producing guns than civilian goods) and challenging received notions about globalisation (see our special report). All have become far more entwined with the world economy. But the BRICs have opened up without the full market liberalisation championed by the “Washington consensus”. In the aftermath of the great recession, this mongrel position commands respect in other developing countries, which want to know how the BRICs did it. “The BRICs aren’t exactly an alternative to the Washington consensus,” says Mathias Spektor of the Getúlio Vargas foundation in Brazil, “but they provide other models to emulate and are effective at expressing something distinctive in economic affairs.”

An acronym in search of a role
Wealth may produce market power and even soft power. But it does not necessarily generate geopolitical heft. Rich Japan and Germany deliberately adopted a “big Switzerland” policy of hiding their light under a bushel for decades. Even now, they throw their weight about reluctantly.

But there are several reasons for thinking that the BRICs might be different. Germany and Japan had a golf-sized American security umbrella for shelter. But international institutions are now in flux. Robert Hormats, America’s under-secretary of state for economic affairs, compares the 2010s to the late 1940s: “The post-war period was so different from the pre-war one that it needed new institutions. The turn of the 21st century is similar, especially after the financial crisis.” He argues that “you can’t go back to having the system run by a few rich economies. Our big challenge is to work out how large emerging economies integral to the financial and trading system take some responsibility for maintaining it.”

One reason the BRICs matter is that the world’s most important country thinks they do, and is willing to rope them into decision-making. America’s means of doing this is the G20. It pushed for the group’s expansion to include the BRICs and declared the club the chief forum for dealing with international economic issues. The BRICs and the original group of seven rich countries (G7) form natural blocks within the G20. So far, the clearest expression of a coherent BRIC agenda—for reform of the international financial system and more domestic stimulus programmes—came on the eve of a G20 meeting in 2008.

A second reason why the BRICs matter is that all four giants have reasons for creating a new club of their own. China’s leaders know their time has come. They want to enhance their own influence and reduce America’s. But at the same time their leaders hew to Deng Xiaoping’s dictum that “China should adopt a low profile and never take the lead.”

The BRICs, which the Chinese calls jinzhuan siguo, or four golden brick nations, are a way to square that circle. By teaming up with others (which are anyway attractive as raw-materials suppliers), China can hide its national demands behind a multilateral façade. And a meeting of the BRICs looks slightly more like a collection of equals than do most gatherings involving China (though China’s economy is still larger than those of the other three combined). China sees climate-change diplomacy as a way of boosting its soft power, and as part of its bilateral relationship with America (its stubborn behaviour in Copenhagen notwithstanding). But it does not want to break with the rest of the developing world on climate issues. Co-ordination with other “emerging” polluters helps it to succeed on all these fronts.

This balancing act applies to the other BRICs. All want to soften the impact of China’s rise. The BRIC forum is an alternative to what they all (perhaps even China itself) regard as a nightmare: a G2 of America and China. They all also want, in the words of Brazil’s foreign minister, “to increase, if only at the margin, the degree of multipolarity in the world”.

India has been profoundly disappointed by traditional multilateral diplomacy. Years of pushing for a permanent seat on the UN Security Council have got it nowhere. The BRICs can hardly be worse. President Luiz Inácio Lula da Silva has been trying to expand Brazil’s diplomatic influence beyond Latin America. The BRICs help him fulfil these geopolitical ambitions. (Whether Lula’s successors will share his taste for the world stage is an open question: at the moment, both likely successors seem more concerned about domestic matters.) As for Russia, association with some of the most dynamic economies in the world may perhaps divert some attention away from its own decline. More important for Russia, as for all the others, the BRICs are a way of telling America that the largest developing countries have their own options and that not all roads lead to Washington.

Because of this, some members of America’s Congress look on the BRICs with trepidation. The main focus of their concern is China’s currency. But there are other reasons why the BRICs might damage the global economic system, rather than buttress it. They might, for example, undermine the role of the IMF and World Bank, abandon attempts to expand free trade or even just ride roughshod over aid conditions in poor countries. But Mr Hormats thinks they will not. “They understand,” he argues, “that the openness and smooth functioning of the system is vital to them and so far there has been very little evidence that they want to change it dramatically.” When world output was plummeting last year, the BRICs’ economic stimulus programmes did a lot to stabilise it. And on the question of reforming the international financial institutions, America and the BRICs find themselves on the same side.

Without straw
A more compelling reason for doubting the BRICs’ chances of changing anything fundamental is that they are not capable of it. They lack coherence. They compete as much among themselves as they do with America or Europe—and hence the BRICs as a club seem unlikely to match the force of their individual ambitions.

Two are authoritarian; two are noisy democracies. Three are nuclear powers. Brazil is not, though it had a nuclear-weapons programme which it abandoned in the 1980s; in 2009 the vice-president said he personally thought Brazil should build its own bomb and the country plans a nuclear-powered submarine to patrol offshore oilfields. Two have permanent seats on the UN Security Council; two (to their immense frustration) do not.

When Mr O’Neill first coined his term, people wondered why Brazil was in the group but not Mexico. Now Russia looks like the odd man out. Its population is falling. Its fertility rate is catastrophically low, at around 1.35, compared with 1.8-2.8 for the others (the fertility rate measures the number of children an average woman can expect to have during her lifetime). The working-age populations of India, China and Brazil will all rise between now and 2030 (enormously in India and Brazil, marginally in China). Russia’s working-age population will fall by 17m. In general, uncertainty about who belongs in the group casts doubt on its coherence. Should South Africa join? Mexico? Indonesia? If they did, what would happen to the group?

A more important obstacle to coherence is strategic rivalry. True, BRIC countries co-operate on a bilateral basis. There have been joint military exercises between Russia and China, Russia and India, and China and India in recent years. Russia and China also have a mutual-security body, called the Shanghai Co-operation Organisation, which includes Central Asian countries. The big problem, though, is India’s rivalry with China.

China and India fought a war in 1962. China has taken control of a slice of Kashmir which India says was ceded illegally by Pakistan. China also disputes India’s title to the state of Arunachal Pradesh. In 2009 it tried to stop the Asian Development Bank from lending money to India because the loans would have financed a flood-control project there. India has been trying to limit the numbers of skilled Chinese workers. Some Indians fear that China wants to strangle their country with a “string of pearls”: the imagined necklace consists of Pakistan, India’s longtime rival; Nepal, where China backs the Maoist opposition; and Sri Lanka, where it is financing the country’s big post-civil-war reconstruction projects.
(Flash on groups)
The BRICs have also stepped up competition between one another in third countries. Although the flow of aid and investment from rich countries to poor has been faltering, China promised $10 billion of cheap credit to Africa in 2009-12 and Brazil has invested $10 billion in the continent since 2003. The BRICs have also dramatically increased their purchases of exports from poor countries. Rather as America and the Soviet Union vied for influence through economic and military aid, the BRICs do now (though their competition is less fierce than the cold-war version).

Even where BRIC countries agree in general, they often disagree in detail. Climate change is a good example. The emerging giants all argue that Western industrialised nations should take the largest share of the burden of cutting greenhouse-gas emissions. They criticise absolute emission caps for developing countries and argue for limits based on population or intensity of use. They all want to keep questions of trade and climate change separate, opposing things like carbon duties.

However, for the purposes of climate change, the BRICs are actually BASICs (Brazil, South Africa, India, China): Russia is an industrialised country under the Kyoto accords, with obligations the others do not have. Even on a specific matter such as forestry, their records differ. Brazil is the world’s biggest deforester, albeit one committed to slowing the pace; China is the world’s biggest afforester (now planting 4m hectares of forest a year)—though some complain that its trading partners’ trees are being felled to stoke its economic growth.

Lastly, the BRICs differ economically. Obviously, their incomes range widely, from Russia’s $15,000 per head per year to India’s $3,000 (these are IMF figures using purchasing-power parities). Brazil and India define themselves as non-aligned developing economies. Russia does not. China sometimes does, and sometimes thinks of itself as sui generis. China and Russia have more open economies, with exports accounting for around a third of GDP. India and Brazil are more closed, with exports less than a fifth of GDP. Perhaps most important, China and Russia are both running huge current-account surpluses; Brazil and India, small current-account deficits. That reflects fundamentally different approaches to economic management. China is suppressing domestic demand and encouraging jobs in export industries. India and Brazil look askance at this form of mercantilism and suffer from China’s resulting currency undervaluation.

Marriages of inconvenience
The BRICs’ divisions do not paralyse the group. The countries got together to propose reforming the IMF, for instance. But they do limit the block’s effectiveness. There is no sign of military co-operation within the organisation, and nothing much on trade. As Mr Spektor puts it, the BRICs merely have to be something, not do anything.

Paradoxically, this makes it easier for the group to flourish since co-operation within the BRICs is in essence free: no one need sacrifice anything, so, however tiny the potential gains, they are worth pursuing. Emerging giants are able to criticise the management of the world economy without having to do anything about it (for example, deploring the failure to complete the Doha round of world trade talks without offering to break the logjam). As Agata Antkiewicz of the Centre for International Governance Innovation puts it, “even though the BRICs group has always been incoherent, the tag seems to have permeated the public domain and become synonymous with change, emerging markets and growth.” But this could end if ever BRIC membership required trade-offs.

Meanwhile, the BRICs face rivals. East Asian countries are cobbling together something that might one day become a coherent emerging-market group. In January a free-trade agreement linking China and the Association of South-East Asian Nations (ASEAN) came into force. In March ASEAN nations, China, Japan and South Korea set up a pool of foreign-exchange reserves giving them a small element of monetary-policy co-ordination. Such a group leaves out Brazil, Russia and India. But Fred Bergsten of the Peterson Institute for International Economics, a think-tank in Washington, DC, reckons the West ought to be thinking about how to respond to this regional group, rather than the global club of BRICs.

Eswar Prasad of Cornell University points out that as an organisation (as opposed to a clever acronym), the BRICs are a product of the great recession. They are noticed because of the recessionary debate about rebalancing the world economy. As that debate evolves, so will ideas about the BRICs. But that is no reason for writing them off. There have also been endless numbers of Gs: starting in the 1960s with a G10, then G5, G6, G7, G8 — and now G20.

The BRICs cannot claim legal, historical or geographical coherence, in the way the European Union can. They are not facing a common security threat, as NATO originally did. But events in Copenhagen, messy as they were, are surely proof that new and improbable combinations of large, emerging countries can play a role on the world stage. The BRICs’ begetter, Mr O’Neill, does not regret his creation: his “overriding conclusion is that [they] are a good mechanism for pressing rich countries to change their role in managing the global economy more radically.”

Biblioteca Digital Mundial - www.wdl.org

BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL UNESCO
site www.wdl.org

Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.

A BDM não oferecerá documentos atuais, apenas aqueles com valor patrimonial, que permitam apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em nos seguintes idiomas: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Há documentos online em mais de 50 idiomas.
Entre os documentos mais antigos, há alguns manuscritos pré-colombianos, graças a contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei da Espanha em 1562,
Os tesouros incluem o Hyrakumanto darani, um documento japonês publicado no ano de 764, considerado o primeiro texto impresso da história; trabalhos de árabes científicos desvendando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e estelas chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e da célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Cada jóia cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação de seu conteúdo e significado. Os documentos foram escaneados e incorporados em seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas o Português.

A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi desenvolvida para receber um número ilimitado de textos, gravuras, mapas, fotografias e ilustrações.
A BDM permite ao internauta orientar sua busca por épocas, lugares geográficos, tipos de documentos e instituições. Como os documentos foram escaneados em seu idioma original é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Loann Veniamiov, em 1840.
Com um simples clique, podem-se folhear as páginas de um livro, aproximar e distanciar o texto e movê-lo em todos os sentidos. A excelente qualidade das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.

Entre as jóias contidas na BDM, está a Declaração da Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de vários países; o diário de um estudioso de Veneza que acompanhou Fernando de Magalhães em sua viagem ao redor do mundo; o original das Fábulas de La Fontaine, o primeiro livro em espanhol e tagalog, publicado nas Filipinas, a Bíblia de Gutenberg, e umas pinturas rupestres africanas, datadas de 8.000 A.C.

Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:
America Latina e Oriente Médio: Isso se deve à participação ativa da Biblioteca Nacional do Brasil, da Biblioteca Alexandrina do Egito e da Universidade Rei Abdala da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi calcada no projeto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos online.

Criticas à politica externa brasileira - Celso Lafer

Diplomacia brasileira, novas variações críticas
Celso Lafer
O Estado de S.Paulo
, domingo, 20 de junho de 2010

A política externa do governo Lula tem sido objeto de crescentes críticas. São muitos os rumos que vêm sendo questionados. No plano mais geral, aponta-se que o Itamaraty não tem escolhido os campos de atuação que oferecem ao nosso país, que alcançou um novo patamar internacional em função das transformações internas iniciadas com a redemocratização, as melhores oportunidades para se beneficiar da nova multipolaridade do cenário mundial.

É o caso da prioridade dada à busca de um reconhecimento protagônico na esfera da alta política da paz e da guerra no Oriente Médio (Irã), em detrimento da ênfase em resultados mais significativos em áreas mais próximas da influência real do Brasil. As tensões do contexto da nossa vizinhança (a animosidade Colômbia-Venezuela) e as que afetam nossas fronteiras e a vida nacional (trânsito de drogas da Bolívia) são minimizadas no dia a dia da condução diplomática. Interesses específicos do País e os seus interesses gerais, na boa dinâmica de funcionamento da ordem mundial, em síntese, não vêm sendo articulados de maneira eficiente em razão da obsessiva prevalência atribuída à paixão pelo prestígio.

Em contraste com as paixões, interesses são aspirações que levam em conta uma raciocinada avaliação do como efetivá-las. O como é fundamental, pois a realidade oferece resistência a aspirações que são apenas desejos. Daí a importância do bom juízo diplomático, que conjuga, com criatividade, o que se quer com o que se pode. É precisamente um exemplificativo rol de inadequados juízos diplomáticos do governo Lula o que listo a seguir.

As difíceis negociações na OMC não foram acompanhadas por concomitante interesse em buscar acordos comerciais regionais ou bilaterais propiciadores de acesso a mercados para os produtos brasileiros que carecem de preferências no continente e no mundo. A diluição crescente do significado econômico e político do projeto Mercosul não só está sendo passivamente aceita, mas viu-se agravada pelo empenho governamental em incorporar a Venezuela de Hugo Chávez, cuja visão de integração é apenas a de juntar forças para se opor aos EUA.

Sólidas iniciativas do governo FHC, como a Irsa, direcionadas para projetos de integração de infraestrutura regional sul-americana, ficam na penumbra e destaque é dado à criação de inócuos foros novos, como a União Sul Americana de Nações (Unasul). O Tratado de Cooperação da Amazônia, que reúne todos os países da Bacia Amazônica e poderia impulsionar a cooperação regional voltada para a preservação sustentável do bioma amazônico e, assim, contribuir para o encaminhamento de um dos grandes itens da agenda ambiental, dorme nos escaninhos do Itamaraty.

O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.

É altamente discutível se o princípio constitucional da eficiência da administração pública se vê atendido seja pela indiscriminada abertura de novas embaixadas e de consulados-gerais (mais de 40), seja pela exagerada ampliação das vagas de ingresso na carreira, que compromete o padrão de qualidade da formação profissional dos quadros diplomáticos.

O princípio constitucional da impessoalidade da administração pública é continuamente posto em questão pela sofreguidão com que os responsáveis pela diplomacia brasileira se dedicam a glorificar o impacto da presença do chefe de Estado no cenário mundial. Essa celebração do prestígio do presidente aponta para um personalismo populista que impede a construção de um consenso mínimo em torno da política externa como uma política pública de interesse nacional.

A partidarização da política externa, com seu viés ideológico, tem sido um caminho para obscurecer e colocar em segundo plano a sua dimensão de política de Estado que, levando em conta os fatores da persistência da inserção internacional do Brasil, contribui para assegurar a previsibilidade e a confiabilidade externa do País. Observo que para a contundência crítica à política externa do atual governo muito tem cooperado a postura partidária dos seus responsáveis, que, sem base histórica, configuram a presidência Lula como o marco zero da diplomacia brasileira. Quem semeia os ventos da desqualificação colhe as tempestades do dissenso.

Em síntese, o que os críticos da política externa do governo Lula apontam é que a diplomacia brasileira está optando pelo inefável do prestígio em detrimento da realidade dos resultados. Por isso não vem traduzindo apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas; não identifica corretamente as prioridades nacionais a serem defendidas no plano internacional; não escolhe com discernimento nem os campos de atuação nos quais o Brasil pode colher os melhores frutos para a efetiva defesa dos seus reais interesses nem os parceiros mais compatíveis com o progresso democrático interno; desconsidera valores e, deste modo, descapitaliza o legado do soft power do nosso país.

É a expressão intransitiva da "glória de mandar", "desta vaidade a quem chamamos Fama", para concluir com Camões.

Professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi Ministro das Relações Exteriores (governo FHC).

Coreia do Norte no Mundial: ah, esses atores chineses

Confesso que eu também fiquei surpreso ao ver o "enorme" número de norte-coreanos torcendo pelo seu time na partida contra o Brasil: por "enorme" eu quero dizer mais de vinte, talvez uns 50, quem sabe até um pouco mais, na focalização rápida da câmera não deu para contar...
Mas, eu bem que pensei: turistas eles não são, pois isso não existe na Coréia do Norte, pelo menos não para outra parte do mundo que não a própria Coreia do Norte (de preferência para a aldeia de nascimento do grandioso líder, pai da pátria, Kim Il-Sung, para a escola em que ele estudou, para a cabana na qual ele se escondeu para fugir dos japoneses, quando aos 10 anos já estava manifestando contra os colonialistas nipônicos, enfim, para o seu mausoléu grandioso, no coração da vibrante capital Pyongyang).
Realmente não sabia precisar, até que está matéria do The Huffington Post esclareceu tudo.
O caro líder, filho do amado líder, pagou para uma tropa de atores chineses falsificarem uma tropa de torcedores da Coréia do Norte. Acho que se trata de um bom arranjo: os chineses assistem aos jogos da Copa tudo pago, e ainda aproveitam para conhecer um pouco outro país. Não sei se eles aprenderam coreano, o que eu duvido, mas isso o resto do mundo talvez nem perceba....
Paulo Roberto de Almeida

North Korean Fans Are Chinese Actors PAID To Cheer World Cup Team (VIDEO)
Hunter Stuart
The Huffington Post, June 16, 2010

If you watched North Korea play a hard-fought game against Brazil in the World Cup on Tuesday, you may have wondered how all those North Korean fans were able to attend the game given the nation's dire economic condition and dictator Kim Jong Il's strict prohibitions on leaving the country.

Commentator Martin Tyler (in the video) answered your question:

We are told that the supporters of North Korea aren't North Koreans--they're handpicked actors from China who have been sent here to act out the part of North Korean fans. I haven't found one I can speak to, who can speak back to me to tell me whether that's the case--I doubt he'd tell me the truth if that is the case.

Although the news has been circling the Internet for a month, AOL's Fanhouse brought to our attention yesterday that North Korea provided 1,000 tickets to a group of Chinese fans, including actors and musicians, to fly to South Africa for the game.

China, who is one of North Korea's closest allies in the world, failed to qualify for this year's World Cup. North Korea hasn't played in the tournament since 1966.

Turquia islamista: nossos novos aliados no apoio ao Iran

O artigo abaixo, do conhecido articulista e "free columnist" do NYTimes, Tom Friedman, deve ser lido na imediata sequencia de sua primeira carta de Istambul, que reproduzi aqui neste post:

A Turquia se coloca fora da UE, voluntariamente

O jornalista examina o distanciamento turco das agendas europeia e americana, em direção de uma agenda mais islamista, o que pode até parecer "normal", sendo ela um país majoritariamente islâmico -- mas um Estado laico -- e dirigida por um partido islamista, embora relativamente moderado, o que pode ter sido uma posição tática, até aqui, para impulsionar lentamente a sua causa.
Pode até fazer sentido, para um país islâmico da região, se aproximar do Irã. Não sei se faz, no caso brasileiro. Em todo caso, somos íntimos amigos dos turcos agora, e não sei, sinceramente, quão íntimos dos iranianos.
Paulo Roberto de Almeida

Op-Ed Columnist
Letter From Istanbul, Part 2
By Thomas L. Friedman
The New York Times, June 18, 2010

I leave Istanbul with four questions that Turks asked me echoing in my head. Forget the answers, just these questions will tell you all you need to understand the situation here. The four questions, which were asked of me by different Turkish journalists, academics or businessmen, can be summarized as follows:

One: Do you think we are seeing the death of the West and the rise of new world powers in the East? Two: Tom, it was great talking to you this morning, but would you mind not quoting me by name? I’m afraid the government will retaliate against me, my newspaper or my business if you do. Three: Is it true, as Prime Minister Erdogan believes, that Israel is behind the attacks by the Kurdish terrorist group P.K.K. on Turkey? Four: Do you really think Obama can punish Turkey for voting against the U.S. at the U.N. on Iran sanctions? After all, America needs Turkey more than Turkey needs America.

The question about the death of the West is really about the rise of Turkey, which is actually a wonderful story. The Turks wanted to get into the European Union and were rebuffed, but I’m not sure Turkish businessmen even care today. The E.U. feels dead next to Turkey, which last year was right behind India and China among the fastest-growing economies in the world — just under 7 percent — and was the fastest-growing economy in Europe.

Americans have tended to look at Turkey as a bridge or a base — either a cultural bridge that connects the West and the Muslim world, or as our base (Incirlik Air Base) that serves as the main U.S. supply hub for the wars in Iraq and Afghanistan. Turks see themselves differently.

“Turkey is not a bridge. It’s a center,” explained Muzaffer Senel, an international relations researcher at Istanbul Sehir University.

Since the collapse of the Soviet Union, Turkey has become the center of its own economic space, stretching from southern Russia, all through the Balkans, the Caucasus and Central Asia, and down through Iraq, Syria, Iran and the Middle East. All you have to do is stand in the Istanbul airport and look at the departures board for Turkish Airlines, which flies to cities half of which I cannot even pronounce, to appreciate what a pulsating economic center this has become for Central Asia. I met Turkish businessmen who were running hotel chains in Moscow, banks in Bosnia and Greece, road-building projects in Iraq and huge trading operations with Iran and Syria. In 1980, Turkey’s total exports were worth $3 billion. In 2008, they were $132 billion. There are now 250 industrial zones throughout Anatolia. Turkey’s cellphone users have gone from virtually none in the 1990s to 64 million in 2008.

So Prime Minister Recep Tayyip Erdogan sees himself as the leader of a rising economic powerhouse of 70 million people who is entitled to play an independent geopolitical role — hence his U.N. vote against sanctioning Iran. But how Turkey rises really matters — and Erdogan definitely has some troubling Hugo Chávez-Vladimir Putin tendencies. I’ve never visited a democracy where more people whom I interviewed asked me not to quote them by name for fear of retribution by Erdogan’s circle — in the form of lawsuits, tax investigations or being shut out of government contracts. The media here is rampantly self-censored.

Moreover, Erdogan has evolved from just railing against Israel’s attacks on Hamas in Gaza to spouting conspiracy theories — like the insane notion that Israel is backing the P.K.K. terrorists — as a way of consolidating his political base among conservative Muslims in Turkey and abroad.

Is there anything the U.S. can do? My advice: Avoid a public confrontation that Erdogan can exploit to build more support, draw U.S. redlines in private and let Turkish democrats take the lead. Turkey is full of energy and hormones, and is trying to figure out its new identity. There is an inner struggle over that identity, between those who would like to see Turkey more aligned with the Islamic world and values and those who want it to remain more secular, Western and pluralistic. Who defines Turkey will determine a lot about whether we end up in a war of civilizations. We need to be involved but proceed delicately.

This struggle is for Turks, and they are on it. Only two weeks before the Gaza flotilla incident, a leading poll showed Mr. Erdogan’s Justice and Development Party, known as the A.K.P., trailing his main opposition — the secularist Republican People’s Party — for the first time since the A.K.P. came to office in 2002.

That is surely one reason Erdogan openly took sides with one of the most radical forces in the region, Hamas — to re-energize his political base. But did he overplay his hand? Up to now, Erdogan has been very cunning, treating his opponents like frogs in a pail, always just gradually turning up the heat so they never quite knew they were boiling. But now they know. The secular and moderate Muslim forces in Turkey are alarmed; the moderate Arab regimes are alarmed; the Americans are alarmed. The fight for Turkey’s soul is about to be joined in a much more vigorous way.

A version of this op-ed appeared in print on June 20, 2010, on page WK8 of the New York edition.

Identidades culturais: de volta a um debate importante

O debate que tinha sido aqui iniciado em relação ao Estatuto da (Des)Igualdade Racial -- de fato, um manifesto racialista da pior espécie, que cria um movimento em favor de um novo Apartheid no Brasil, ou seja, uma desgraça política, social e cultural -- continuou em novas vertentes do pertencimento geográfico ou cultural dos povos "africanos" e dos escravos trazidos ao Brasil.
Um de meus interlocutores habituais questiona algumas de minhas expressões, neste post

Sobre as "identidades" culturais brasileiras

e o uso que faço delas, o que me obriga a explicar-me mais uma vez. Eu o faço não apenas por respeito ao meu interlocutor -- e aos leitores deste blog em geral -- mas também em um novo post, depois de ter incorporado esse comentário como nota de rodapé, o que permite destacar devidamente os argumentos substantivos, em benefício, suponho, de um número maior de interessados neste tipo de questão.
Não poderei fazê-lo de modo extenso, ou com a ajuda de aparato referencial, pelas características deste meio, e porque o faço diretamente na janela do blog, sem maior elaboração conceitual. Mas vou citar o que me parece pertinente como leitura adicional.
Destaco os comentários de meu interlocutor em itálico e agrego meus novos comentários em seguida. O que vai citado entre aspas são expressões minhas, objeto dos comentários do meu leitor, a quem agradeço sinceramente pela oportunidade de explicitar meu pensamento.

I) “...não existem povos africanos, apenas povos retirados individualmente e separadamente da Africa.”
“Africano” é um adjetivo que significa “relativo à África”. Literalmente, “povos africanos” são “povos da África”. Em que sentido a expressão "povos africanos" não equivaleria a "povos da África"?
PRA: A África é um continente muito diverso, quase tão diverso quanto a Ásia e a Europa, que constituem verdadiros mosaicos de povos, culturas, religiões e línguas. Provavelmente quase tão diverso quanto o subcontinente indiano, sendo que neste último, pelo menos, algumas poucas religiões unificam povos que falam mais de 250 línguas ou dialetos, assimo como na Europa, toda ela, onde as diferentes vertentes do cristianismo também unificam o continente, muito mais do que na Ásia ou na África.
As expressões geográficas, portanto, não recobrem a diversidade cultural, étnica, religiosa e linguística desses imensos continentes (bem, muito pequeno no caso da Europa ocidental, cabendo todo ele no Brasil).
Falar de africanos, e por extensão de afro-brasileiros, é tão falso quanto dizer que eu sou um euro-brasileiro, quando sou descendente de avós portugueses por um lado, e italianos, por outro. Ou seja, meus antepassados não tinham nada a ver, a não ser vagas referências religiosas, com alemães, poloneses, espanhóis, ucranianos e levantinos, que também vieram em volumes significativos para o Brasil desde meados do século 19 até um século depois, aproximadamente.
Os "povos africanos" que foram trazidos ao Brasil nos três séculos precedentes se caracterizam justamente por não serem povos, e sim indivíduos, e aqui preciso retificar e corrigir a expressão que eu mesmo utilizei. Não existem povos africanos, a não ser como referência geográfica indeterminada e geral, como falamos de povos europeus, mas no caso dos "africanos" essa expressão é ainda mais enganosa.
O "trabalho" de captura de "africanos" dispersos em vastas regiões daquele continente, seu transporte, assemblagem, venda aos traficantes europeus e americanos (do Norte, do Caribe e do Sul) que os compravam "prontos" para embarque -- quase free on board -- para o Novo Mundo, e a subsequente distribuição e venda aos "consumidores" de escravos, todos esses processos eram e foram profundamente destruidores, desestruturadores das "identidades" (uma palavrinha traiçoeira essa) desses povos.
Em suma, eles vinham como "indivíduos" e não como "povos" e no Brasil procuravam juntar-se a outros indivíduos falando a sua língua ou dialetos assemelhados. Isso explica movimentos de revolta na Bahia e em outras regiões, mas essas eram situacoes excepcionais, pois na quase totalidade dos casos esses indivíduos eram obrigados a se adaptar às novas situações, falar a língua local e aprender novos hábitos. Não havia nada de muito pedagógico nisso tudo, pois os escravos eram tratados praticamente como animais, no que se configura toda a grande tragédia da história brasileira, hoje usada de forma demagógica para reivindicar direitos que não são os deles, mas de seus distantes descendentes, que foram, por certo discriminados, mas jamais carregaram o estigma da escravidão.
Resumindo: uma vez postos no Brasil, os escravos não foram, e nunca foram -- a não ser em casos excepcionalíssimos como os haussás da Bahia -- "povos africanos", e sim indivíduos que se recriaram separadamente como "novos brasileiros", ainda que involuntariamente, e de forma trágica, como sabemos.

II) “NENHUM AFRICANO escravo veio ao Brasil.”
PRA: Creio que não preciso elaborar extensivamente, em razão do que já escrevi acima. Meu objetivo ao dizer isso, na verdade, se prende à desmistificação de uma invenção espúria, totalmente ideológica, feita pelos movimentos negros racistas e racialistas, que pretendem existir uma "coisa" chamada de "afro-brasileiros". Não existe; existem apenas negros brasileiros, ou brasileiros negros, na verdade mais mestiços do que negros, que são um minoria no contingente dos brasileiros de extração parcial africana (na sua vertente negra, ou sub-sahárica), sendo a grande maioria misturados a brancos (mais portugueses do que outros povos) e indígenas (poucos).
Trata-se de um contrabando político mistificador, trazido pronto dos EUA, onde tampouco existem African-Americans, mas simplesmente americanos negros, ou negros americanos (bem menos misturados do que no caso brasileiro).
Escrevi bastante sobre neste meu trabalho, ao qual remeto os interessados numa discussão de natureza mais antropológica (sem deixar de ser política):

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira”, revista Espaço Acadêmico (ano 4, n. 40, setembro 2004; link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm). Relação de Trabalhos nº 1322.

Aliás, todo esse debate é de natureza puramente ideológica, ou política, como provado justamente agora pelas referências em torno da atual Copa do Mundo na República da África do Sul. Vários analistas, jornalistas, simples comentaristas, referem-se à "copa africana", e muitos lamentam a eliminação de "equipes africanas" -- Camarões, a própria África do Sul -- da competição, como sendo uma quase "tragédia" para o continente, cuja "honra", a partir daqui, estaria sendo defendida apenas pela equipe de Gana (e se esquecem da Argélia, que também está na África, ao que parece).
Ora, quando a Copa do Mundo de Futebol ocorre na Alemanha ou na Inglaterra, ninguém se refere a ela como sendo uma "copa europeia" ou qualquer coisa do gênero, e quando por acaso equipes extra-continente (digamos Argentina ou Brasil) acabam disputando os primeiros lugares, à exclusão de qualquer time do continente, ninguém fala de "tragédia europeia". Por que o mesmo não é feito em relação à África? Se supõe que neste caso existe um amálgama de africanos a povos negros, o que pode ser um racismo involuntário, ou pelo menos um pensamento racialista.

III) “Ou seja, não havia "africanos" escravos, havia indivíduos vindos da África, o que é muito diferente.”
O dicionário registra que a palavra “escravo” significa “aquele que, privado da liberdade, está submetido à vontade de um senhor”. Esses indivíduos vindos da África estavam privados da liberdade e submetidos à vontade de um senhor. Nesse sentido, entendo que são escravos. Assim, “indivíduos vindo da África privados da liberdade e submetidos à vontade de outra pessoa” deveriam ser chamados de “escravos africanos”. O senhor escreve, no entanto, que isto é muito diferente. Em que sentido?
PRA: Creio que neste caso também minhas explicações precedentes deveriam bastar. Mas posso acrescentar mais algumas coisas. A escravidão é uma instituição antiga, milenar, podendo ter existido durante mais de nove décimos da história da humanidade. A escravidão africana, ou de povos "africanos", é uma parte muito pequena, diminuta, de toda essa história multissecular. Começou na própria África, entre seus povos negros ou berberes (depois dominados pelos árabes, bem mais tarde), se expandiu moderadamente durante o Império Romano (mas os "africanos" negros, com exceção dos povos mais "brancos" estavam muito longe para serem aproveitados) e explodiu na era moderna, quando se tornou a forma predominante de escravidão econômica (havia e houve outras formas de escravidão).
Durante oito décimos, provavelmente, da história da escravidão no mundo, os escravos eram povos não muito diferentes dos que os escravizavam, perfeitamente brancos, prisioneiros de guerra, "bárbaros" (mas brancos) submetidos à escravidão. Provavelmente 90% dos escravos na história do mundo eram brancos, ou "arianos", e não africanos, um continente self-contained, e praticando escravidão em escala local (como aliás era o caso de outras regiões, também). O tráfico transcontinental e o comércio mundial de escravos foram relativemente recentes na história da humanidade, e em grande medida os grandes responsáveis por essa "exportação" de negros africanos para outros continentes foram os mercadores árabes ou outros traficantes muçulmanos, que possuiam intensos laços de tráfico humano no Oceano Índico, antes que o tráfico se transformasse predominantemente (mas temporariamente apenas) em atlântico e europeu. Os traficantes árabes e muçulmanos continuaram, inclusive, exportando negros para a península arábica durante muito tempo mais, depois que o movimento abolicionista europeu conseguiu extingur o tráfico e a escravidão na primeira metade do século 19, com as exceções que se sabe: brasileira (vergonhosamente até o final do século), espanhola (mas essencialmente para Cuba, durante tempo similar) e americana (mas aqui, sem tráfico, apenas escravos de "criação" durante muitas décadas até a guerra civil).
Ou seja, é preciso DENUNCIAR a tremenda hipocrisia de acadêmicos idiotas que dão ênfase, apenas e seletivamente, ao tráfico e à escravidão europeia, deixando completamente na escuridão todos os outros fenômenos anteriores, simultâneos e posteriores, muito MAIS IMPORTANTES quantitativamente do que os quatro séculos de tráfico europeu. Os números não existem, por se tratar de sociedades ágrafas ou por não dispormos de documentos de arquivo árabes ou muçulmanos sobre esse imenso tráfico, ou mais exatamente por que não é POLITICAMENTE CORRETO falar de escravidão muçulmana, mas aproximações e estimativas fariam, provavelmente, essa vertente superar amplamente a escravidão para o Novo Mundo. Ainda hoje existem escravos "legais" em certos países africanos e na península arábica.
Existem muitas histórias da escravidão e do colonialismo em escala mundial, e no longo prazo histórico, infelizmente muito poucas, ou quase nenhuma, traduzidos e publicados no Brasil. Não tenho tempo, agora, de fazer uma lista, mas tenho um ou dois em minha biblioteca (agora distante) e muitas outras referências em trabalhos antigos. O Brasil, como é hábito, desconhece a história mundial, e nossos acadêmicos fazem pálida figura ao lado de estudiosos de outros países, que possuem uma visão mais equilibrada da história do mundo, inclusive de suas grandes tragédias

IV) “...música “africana”, algo que evidentemente não existe...”
Eis aí outra palavra – música – que o senhor deve estar usando num contexto particular. Música é o nome com o qual se designa a “arte de se exprimir por meio de sons”. Essa arte é encontrada em todos os povos, em todas as épocas. Evidentemente que suas regras variam segundo a civilização e o contexto histórico. Valendo-me dessa definição de música, deduzo que o uso de instrumentos de percussão pelos povos da África é uma forma de expressão musical.
PRA: Pois bem, se essa definição é usada, não existe música africana. Existe, sim, influência de algumas tradições de certos povos africanos que foram incorporados no mainstream da música brasileira, mas tudo isso misturado com outras tradições, inclusive as mais formais, "partiturizadas", de origem europeia. Negros americanos são em grande medida responsáveis pelo soul e pelo jazz, e eu nunca ouvi que se tratasse de música ou tradições "africanas" nos EUA. Apenas black music, depois incorporada ao mainstream da música americana.
Repito, todo esse movimento "africanista" ou "afro-qualquer coisa" é profundamente mistificador e ideológico, talvez uma tentativa de recuperar raízes (que não existem quase, tamanha foi a desestruturação), mas que se presta a exercícios de auto-engano coletivo que encantam os relativistas culturais e os politicamente corretos.
Como eu não sou nem uma coisa nem outra, não preciso ficar pagando impostos para os pretensos "afro-brasileiros" cada vez que me refiro aos negros brasileiros, ou aos brasileiros negros, como seria mais correto.
Registre-se, também, essa outra mistificação, bem mais fraudadora e mentirosa, que consiste em identificar os mestiços -- que formam a MAIORIA da população brasileira -- aos negros, o que é um exercício totalmente enganoso e ilusório.
Seria ótimo para a sociedade brasileira se ela fosse ainda mais mestiça do que ela é, atualmente, pois nesse caso estariam sendo completamente destruídas as bases materiais do racismo -- que só pode existir quando existem diferenças marcadas, ou fenotípicas -- mas ao dizer isso estou incorrendo, como gostariam alguns de dizer, no crime de etnocídio, ou seja, tentativa de eliminação da raça negra.
Confirmo esse meu propósito "criminoso" e vou mais além: também quero EXTINGUIR por completo a "raça branca", que quando "deixar de existir" será um enorme aporte civilizatório, pois é evidente que todo o racismo "científico" dos últimos três ou quatro séculos se baseou na evidente supremacia material dos europeus sobre os demais povos para sustentar uma suposta supremacia racial, e racista, sobre os povos culturamente inferiores, ficando assim justificada e legitimada a escravidão, o colonialismo, as discriminações, as ideologias lombrosianas, eugênicas e outras.
Sou totalmente anti-racista e, coerentemente, favorável à "eliminação" de todas as raças. Quanto o mundo todo estiver maravilhosamente misturado, os poucos racistas que sobrarem vão ser, rigorosamente, casos de hospício...

Pelo que posso deduzir, o senhor está empregando diversas palavras em um contexto diferente do usual.
PRA: Certamente, sou totalmente partidário da mais ampla liberdade linguística -- o que não quer dizer desmantelar regras formais, como aquele stalinista que acaba de morrer -- e do uso inovador de expressões, desde que devidamente acompanhado de bases conceituais explicativas. Se uma palavra não existe, mas você sente necessidade daquele termo específico, deve-se "inventá-la", justificá-la e passar a usá-la. Assim surgem verbos como "deletar", na verdade uma adaptação (pré-existente no latim) do famoso "to delete" popularizado com a linguagem de computador. Downloadar, por exemplo, deveria existir, e eu já estou usando, independentemente se é correto ou não. Os americanos usam tranquilamente "googlelize", que poderia ser o nosso "googolizar".
Mas, isso é o de menos. No tema que nos ocupa, eu uso rigorosamente o termo africano como sinônimo de pertencimento geográfico geral, nunca para designar nossos negros brasileiros, ou brasileiros negros, que são tão africanos quanto eu sou europeu, ou seja, NADA, rigorosamente nada. A despeito de alguns poucos hábitos portugueses ou italianos, que ficaram muito tenuamente em minha formação, eu sou exclusivamente brasileiro, aliás bem menos do que os negros brasileiros, que "deixaram" de ser "africanos" há mais de 160 anos, ou seja, bem mais do que meus antepassados europeus, com a GRANDE diferença que as tradições culturais europeias foram bem mais preservadas e cultivadas do que (infelizmente, se alguém quiser) no caso dos "africanos" (de araque, pois repito, eles não existem).
Creio que fui bastante claro, desta vez...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 21 de junho de 2010)

domingo, 20 de junho de 2010

Contra Saramago (3): Janer Cristaldo

OCIDENTE HOMENAGEIA ESCRITOR STALINISTA CÚMPLICE DE ASSASSINOS
Janer Cristaldo
Sábado, Junho 19, 2010

Morreu ontem, em Lanzarote, um dos últimos remanescentes do stalinismo em pleno século XXI, ao lado de Oscar Niemeyer, Ariano Suassuna, Chico Buarque, Luís Fernando Verissimo. Portugal e o Ocidente todo estão chorando a morte do escritor que sempre foi inimigo ferrenho de Portugal e do Ocidente. No Brasil, os jornais estão dedicando suplementos a quem sempre defendeu as atrocidades da URSS e de Cuba e ousou defender o atentado às torres gêmeas. O Ocidente todo foi acometido de amnésia. Com sua morte, o cúmplice de assassinos virou herói.

Não vou comentar a literatura de José Saramago. Exceção feita de A Jangada de Pedra, não a li. Mas sobre a jangada posso falar.

A idéia de uma Europa Unida vinha sendo gestada desde 1951, com o Tratado de Paris, teve continuidade em 1957 com os Tratados de Roma e tomou corpo em 92, com o Tratado de Maastricht. Stalinista e anti-europeu até a medula, insensível à vocação histórica de seu país, em 1986 Saramago escreve Jangada de Pedra, um panfleto irracional e gratuito contra o Velho Continente. Enquanto os portugueses aspiravam desde há muito a integração com o universo transpirenaico, o escritor marxista, não contente em separar Portugal da Europa, pretende levar a Espanha nessa viagem insana.

A jangada em questão é a península ibérica. Lá pelas tantas, as terras luso-hispânicas começam a fender-se, separam-se gradualmente do continente e saem a navegar pelo mar oceano, rumo ao oeste. Para logo mudar de rumo. “A uns setenta e cinco quilômetros de distância do extremo oriental da ilha de Santa Maria, sem que nada o fizesse anunciar, sem que se sentisse o mais ligeiro abalo, a península começou a navegar em direção ao norte”.

Se seus habitantes temem encalhar nas planuras gélidas entre a Groenlândia e Islândia, a península tem outros planos. Na altura da mais setentrional ilha dos Açores, o Corvo, vira em linha reta, retomando sua trajetória para o ocidente, numa direção paralela à de sua primeira rota, prosseguindo-a alguns graus acima. A nova rota aponta para Nova York e o presidente americano apressa-se a dizer que a península seria bem-vinda. O mesmo não pensa o Canadá. Enfim, todas estas manifestações prévias de aceitação ou rechaço se revelam inúteis, já que a imensa ilha flutuante, em dado momento, começa a cair rumo ao sul. Para atracar finalmente em seu destino histórico, o mar caribenho e o socialismo cubano.

Em entrevista durante uma de suas visitas ao Brasil, Saramago falava em vocação atlântica da península ibérica. É grosso sofisma. Para começar, a península já está no Atlântico. Foi graças ao Atlântico que Portugal e Espanha construíram seus impérios. Continuando, Saramago a desloca para o Caribe. Sua metáfora pretende mostrar uma vocação cubana, socialista, que Portugal nunca alimentou. A dita Revolução dos Cravos, liderada por Otelo Saraiva de Carvalho, morreu na casca. Portugal, após o salazarismo, tornou-se um próspero país capitalista, perfeitamente integrado à economia – também capitalista – da Europa. Isto o velho comunista não consegue admitir.

Nos dias em que Portugal e Espanha faziam os preparativos para seu enlace definitivo – e muito bem sucedido, como hoje pode ver-se – com a Europa, o escritor português, fazendo eco ao ancestral ódio marxista à Europa, separa estes dois países de seu futuro. E os empurra um século para trás, rumo ao socialismo cubano. Nunca uma obra literária, sob o inocente disfarce de um divertissement, foi tão anti-ocidental, anti-européia, anti-lusitana e anti-espanhola. Ao autor deste panfleto imediatamente desmentido pelos fatos, a Kungliga Akademie de Estocolmo conferiu o galardão máximo das letras ocidentais. Vista destes dias em que portugueses, espanhóis e demais europeus se regozijam com o euro, esta obra de Saramago revela-se um merencório equívoco.

Uma vez conquistado o Nobel, o detentor da láurea permitiu-se o luxo de afirmar qualquer impropriedade. Comentando o conflito entre Oriente e Ocidente por ocasião do atentado às torres do World Trade Center, em artigo para a Folha de S. Paulo, Saramago toma o partido dos terroristas. Para defendê-los, empunha antigas atrocidades de uma Europa passada, hindus atados à boca de canhões. "No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá ver cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes".

O prêmio Nobel evoca também Angola, onde algures "dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro". Isto é: se ingleses explodem hindus, se portugueses decapitam angolanos, é perfeitamente permissível que um saudita, homiziado no Afeganistão e imbuído da missão de vingador universal, detone dois prédios em Nova York matando não só malvados civis americanos, mas também cidadãos de 62 países do planetinha.

Como um jornalista novato que vê a História como um lago raso, sem antes nem depois, Saramago mistura geografia e fatos de épocas passadas para absolver o terrorismo presente. Se algo se perdeu definitivamente neste atentado, parece ter sido a boa lógica. Numa tentativa de explicar o terror, o autor português joga a culpa no "fator Deus". Tudo, menos responsabilizar fanáticos muçulmanos.

Com sua autoridade de Nobel, escreve: "Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse...". Isto é, atribuiu ao pensador alemão frase que, por equívoco, é normalmente atribuída a Dostoievski, por leitores de orelhas de livros. Em verdade, tal frase, assim como é proposta, não se encontra em momento algum do escritor russo. Foi Sartre quem a atribuiu a Dostoievski, tentando interpretar seu pensamento. Que mais não fosse, tal aforismo só poderia nascer no cérebro de um católico e de católico Nietzsche nada tinha. Ao fazer tal afirmação, Saramago demonstra que, para um laureado pela Kungliga Akademie, qualquer bobagem será sempre bem paga.

Não contente em defender o terror que destruiu as torres de Nova York, Saramago atacou Israel e sua reação aos atentados suicidas palestinos. Por ocasião do recrudescimento dos atentados cometidos por homens-bomba, comparou as ações do Exército israelense nos territórios palestinos ao sofrimento dos judeus no campo de concentração de Auschwitz na Segunda Guerra Mundial. "É a mesma coisa, ainda que levemos em conta as diferenças de espaço e tempo", afirmou em Ramallah (Cisjordânia), onde se encontrou com o líder palestino Yasser Arafat. "É preciso tocar todos os sinos do mundo para dizer que o que está ocorrendo na Palestina é um crime que podemos impedir", disse. Para os civis israelenses que morrem aleatoriamente, nenhuma palavra de conforto.

Isso sem falar que o valente escritor só rompeu com Cuba em 2003, quando 75 dissidentes foram presos e três pessoas foram executadas em um julgamento sumário. Castro vem executando opositores desde 1959, e Saramago rompe com o tirano só 44 anos depois. Em uma carta, escreveu: "De agora em diante Cuba segue seu caminho, eu fico aqui. Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões".

Mas o rompimento era brincadeirinha. Logo depois, em entrevista a um jornal cubano, reatou: "Não rompi com Cuba. Continuo sendo um amigo de Cuba, mas me reservo o direito de dizer o que penso, e dizer quando entendo que devo dizê-lo".

Este é o homem que o Ocidente hoje homenageia.

Colombia, un milagro - Moises Naim

Envidiando a Colombia
MOISÉS NAÍM
El País, 20/06/2010

No es solo la economía. El país también ha tenido milagrosos cambios en cuanto a la seguridad

Hoy, mientras los colombianos eligen democráticamente a su próximo presidente, millones de sus vecinos los estarán envidiando. Y con razón.
Envidiarán, por ejemplo, a un país donde un presidente con enorme apoyo popular y obvias ganas de seguir gobernando acepta abandonar el poder e irse a su casa al final del periodo porque así lo decidió un tribunal. Esto es inimaginable en varios países de América Latina, donde los jueces son propiedad del presidente. También envidiarán una contienda electoral en la cual todos los candidatos tienen credenciales serias, larga experiencia, propuestas válidas y la voluntad de no imitar el populismo tan de moda en la región.

Colombia no solo suscita envidia por su democracia. Los milagros también dan envidia. Y en estos últimos años Colombia ha vivido varios milagros.

Quizás el menos reconocido internacionalmente es su progreso económico. En 2002, cuando Álvaro Uribe comenzó su presidencia, Colombia solo exportaba 5.330 millones de euros en productos que no son tradicionales como el petróleo o el café. El año pasado, las exportaciones de estos otros productos alcanzaron 12.100 millones de euros, a pesar de la recesión mundial y del bloqueo comercial que le impuso Venezuela. Durante la presidencia de Uribe, la economía colombiana se expandió todos los años, creando así casi tres millones de nuevos puestos de trabajo. La inversión privada, tanto nacional como extranjera, aumentó sustancialmente y la inflación cayó del 7% en 2002 a un insignificante 2% en 2009.

Para poner estas cifras en contexto, la comparación con lo que le sucedió a Venezuela en ese mismo lapso es tan odiosa como reveladora: el desabastecimiento y la carestía son habituales, la destrucción de empleos en el sector privado ha sido masiva, su inflación es la más alta del mundo, la economía se contrajo en un 3,3% en 2009 y un 5,8% en lo que va de año, y es la de peor desempeño de toda América. Todo esto a pesar de que, durante la década en que ha gobernado Hugo Chávez, Venezuela ha disfrutado de los mayores ingresos petroleros de su historia; ingresos que además se vieron acrecentados con préstamos internacionales que ahora le imponen al país una deuda externa cuatro veces más grande de lo que era en 1999.

Aunque fuese solo por esto, la envidia de los venezolanos por Colombia estaría más que justificada. Pero no es solo la economía. Colombia también ha experimentado milagrosas transformaciones en cuanto a la seguridad de sus ciudadanos. Bogotá, Medellín o Cali solían ser sinónimo de asesinatos, secuestros y crimen generalizado. Hoy día ese trágico reconocimiento le toca a Caracas y a algunas ciudades de México y Centroamérica.

Y luego están las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC), esos sanguinarios mercenarios que, disfrazados de luchadores sociales, han sobrevivido gracias al narcotráfico y el secuestro. Esta cruel guerrilla ha aterrorizado durante décadas a los colombianos, sobre todo a los más pobres y vulnerables. Durante mucho tiempo, profesores, políticos y periodistas nos explicaron que el dinero de la droga, la inhóspita selva colombiana, la debilidad del Ejército y de la policía, la venalidad de los políticos y la pobreza del país hacían de las FARC una maldición con la cual los colombianos tendrían que vivir para siempre. Se equivocaron.

En la prensa internacional hoy leemos titulares como este: "La guerrilla ya no es el gran problema de Colombia". Más aún, los medios informan de que las FARC están disminuidas, desmoralizadas, aisladas y sin la influencia que solían tener. Las FARC ya no aterrorizan a los colombianos, y si esto no es un milagro, se le parece mucho.

Obviamente, Colombia no es un paraíso. Casi la mitad de los colombianos siguen siendo inmensamente pobres, y la desigualdad económica, las injusticias sociales, la violencia, la corrupción y el narcotráfico siguen siendo realidades cotidianas. Pero menos que antes. Este no es un dato menor en un continente donde el progreso es tan infrecuente que, cuando ocurre, parece un milagro.

Los avances experimentados por Colombia durante la presidencia de Álvaro Uribe son innegables. Y sus éxitos no solo provocan envidia, sino que también sirven de ejemplo y de esperanza para otros países que siguen empantanados en el autoritarismo y el mal gobierno. Los colombianos le han demostrado al mundo que los pueblos pueden revertir tendencias y evitar destinos inaceptables. Por eso, un día como hoy se pueden sentir orgullosos y admirados. Y envidiados.

Contra Saramago (2): extratos de declaracoes

Esta matéria de uma conhecida revista "reacionária" -- segundo alguns que até mesmo frequentam estas páginas, embora com raiva -- confirma o que eu dizia no post anterior. O escritor morto gostava de regimes moralmente mortos...
Só discordo que ele tenha sido um grande escritor. Ele abordou grandes temas, mas sua escrita era penível, inutilmente complicada, apenas para ser diferente. Ora, isso não é ser um grande escritor, e sim um escritor fora das normas e padrões normais. Eu, pessoalmente, prefiro escritores que não me obriguem a um esforço inútil na leitura, apenas para me concentrar no objeto em si que é tratado, ou seja, o enredo. Talvez seja por isso que nunca fui um grande apreciador de Guimarães Rosa.
Paulo Roberto de Almeida

Um grande escritor que foi um tolo na política
Revista Veja, 18 de junho de 2010

Se na literatura José Saramago criou um estilo próprio, na política ele se curvou, de maneira tacanha, a uma ideologia responsável pela morte de milhões de pessoas no século XX.

O escritor se filiou ao Partido Comunista português aos 47 anos, em 1969. E, até o fim da vida, professou a mesma fé política. Em evento realizado no final de 2008 pelo jornal Folha de S.Paulo, definiu-se como um "comunista hormonal". "Ser comunista é um estado de espírito", disse o escritor, para quem a filosofia de Karl Marx era cada vez mais atual.

Em vez de condenar regimes totalitários como o da antiga União Soviética, Saramago parecia sentir saudades deles. Em entrevista ao jornal argentino La Nación, em 2005, afirmou, com pesar, que as ideias de esquerda haviam se esgotado. "Estamos numa situação em que se combina o domínio do sistema capitalista de rosto neoliberal com uma esquerda que não soube reorientar-se depois do colapso da União Soviética."

Em 2003, numa espécie de lampejo, chegou a afastar-se do cubano Fidel Castro, que ordenara a execução de três inimigos políticos de seu regime. Em carta pública, Saramago anunciou: "De agora em diante, Cuba segue seu caminho, eu fico aqui. Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões". Mas, apesar desse lampejo, manteve uma postura passiva diante dos ditadores de esquerda.

O venezuelano Hugo Chávez, por exemplo, chegou a ser defendido por Saramago, que em 2007 disse que Chávez não era "nenhum problema" e, sim, "um homem que ama seu povo". O escritor também nunca condenou a China, uma verdadeira máquina de mortes, e chegou mesmo a ressentir-se pelo fato de o país ter enveredado pelo capitalismo. "Até a China é hoje um dos países capitalistas mais duros que se podem encontrar sob a fachada do partido único", disse ao La Nación.

Em visita à Palestina, deu uma de Lula - que este ano cometeu uma série de gafes no Oriente Médio, irritando Israel - e comparou a situação dos palestinos à dos judeus em Auschwitz, o mais letal dos campos de concentração nazistas. "É preciso dizer que o que acontece na Palestina é um crime que nós podemos parar. Podemos compará-lo ao que aconteceu em Auschwitz."

No Brasil, Saramago declarou apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), conhecido por invadir terras e destruir instalações de pesquisa científica. O escritor participou de um projeto pró-MST que envolvia também o músico Chico Buarque e o fotógrafo Sebastião Salgado.

Já a democracia foi alvejada pelo português. "A democracia é uma realidade que não existe. Quem verdadeiramente manda são instituições que não têm nada de democráticas, como é o caso do Fundo Monetário Internacional, as fábricas de armas, as multinacionais farmacêuticas", afirmou em 2006, em entrevista ao jornal italiano La Stampa.

Contra Saramago

Todos os políticos oportunistas, todos os líderes demagogos, todos os pretensos "intelequituais" de pacotilha se reunem atualmente em Lisboa, para prestar as últimas homenagens ao escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura e autor de vasta obra de sucesso editorial.
Não consigo prestar homenagem a um idiota como ele, aliás um cúmplice de ditaduras e de sistemas anacrônicos, que foram diretamente responsáveis pela morte de milhões de pessoas.
A hipocrisia de todos esses políticos oportunistas e literatos de araque não me convence nem um pouco, nem sobre as pretensas qualidades de sua obra - que sempre achei rebarbativa e inutilmente complicada, apenas para épater os ingênuos -- nem sobre suas qualidades -- aliás, falta de -- como homem e cidadão.
Uma pessoa como ele, supostamente bem informado -- e se não era, deveria ser, pois que meios nunca lhe faltaram -- e que escolhe, deliberadamente, apoiar as piores ditaduras do planeta apenas porque estas eram, supostamente, anticapitalistas e anti-imperialistas -- uma farsa total -- deve ser uma pessoa ou muito mal informada, ou supremamente idiota, ou então, um canalha total, dotado de má-fé suficiente para continuar aderindo a velhas crenças -- que nós todos tivemos ao redor dos anos 1950 e 1960 -- até que os crimes terríveis dos regimes totalitários foram revelados.
Quem escolhe, a despeito de todos esses crimes, continuar apoiando regimes celerados e liberticidas é porque não tem nenhum princípio e nenhum valor humanista, é porque continua a ser um idiota total, ou um criminoso como os líderes que ele apoia, entre eles Fidel Castro.
Uma pessoa assim não pode receber sequer um gesto de cortesia de minha parte.
Apenas posso dizer: foi um bom escritor?, talvez, muito bem, passe bem, até logo.
Foi um bom cidadão: NÃO, jamais, pois foi um cúmplice deliberado e voluntário das ditaduras, um idiota assumido, passe bem, adeus.
O mundo das letras pode até sentir falta de seu estilo rebarbativo. Eu não.
O mundo dos direitos humanos está livre de um idiota aliado das ditaduras. Menos um...
Paulo Roberto de Almeida

Addendum: Parece que este post incomodou alguns, que se sentiram pessoalmente ofendidos, e preocupou outros, que me escreveram para dizer que eu poderia ser processado por dano moral.
Aos primeiros eu diria que, em lugar de me ofender, eles são inteiramente livres de escrever algum texto em homenagem ao autor em questão. A internet está cheia de bobagens publicadas, algumas até mesmo divulgadas aqui.
Aos segundos, eu diria que nada do que escrevi é uma mentira: Saramago continuava se apresentando, até o final da vida, como um comunista, e se equivocando de lado nas grandes questões morais dos direitos humanos e das liberdades políticas.

sábado, 19 de junho de 2010

Estabelecendo os requisitos do crescimento brasileiro...

Sempre na continuidade dos trabalhos citados ou transcritos nos postos anteriores, informo sobre a consolidação de minhas reflexões sobre a questão nestes links, abaixo referidos.
Esta compilação vem sendo estabelecida em conexão com a preparação, em curso, de um novo trabalho sobre o crescimento econômico sustentado no Brasil (se isso for possível).

1794. “Duro de crescer: obstáculos políticos ao crescimento econômico do Brasil”, Brasília, 2 setembro 2007, 10 p. Retomada do trabalho 1787, sobre as barreiras políticas a um maior crescimento econômico no Brasil. Espaço Acadêmico (ano 7, n. 76, setembro 2007; link: http://www.espacoacademico.com.br/076/76pra.htm).
Revisto e adaptado, em três partes, para o boletim Via Política (1a. parte, 9.09.2007; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=50; 2a. parte: 16.09.2007, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=51; 3a. parte: 23.09.2007, link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=52). Feita versão completa para a Revista de Gestão Pública-DF (Brasilia: Escola de Governo do GDF; vol. I, nr. 1, jul.-dez. 2007, p. 29-36).

Ainda sobre o crescimento brasileiro...

Em conexão com o trabalho reproduzido no post anterior, reproduzo as referências para uma ampliação desse trabalho em sua versão publicada:


1685. “Uma verdade inconveniente (ou sobre a impossibilidade de o Brasil crescer 5% ao ano)”, Brasília, 12 novembro 2006, 6 p. Revisão do artigo anterior, com introdução de tabelas relativas a crescimento do PIB e carga fiscal. Disponível no site pessoal, link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1682VerdadeInconvTabs.pdf. Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/11/637-uma-verdade-inconveniente_11.html#links). Publicado em Via Política (Porto Alegre; 12.11; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=15) e, com pequenos ajustes de forma e o subtítulo “(ou: por que o Brasil não cresce 5% ao ano...)”, em Espaço Acadêmico (ano 6, nº 67, dezembro 2006; ISSN: 1519-6186; link: http://www.espacoacademico.com.br/067/67pra.htm). Relação de Publicados ns. 718 e 731.

O Brasil consegue crescer a mais de 5%?

Este texto também foi escrito em 2006, no contexto político e econômico das eleições que estavam sendo realizadas e que tinham recém sido ganhas pelo candidato no poder. Creio que sua validade se mantém: o clima político é quase o mesmo (com essa mania de plebiscito entre "nós e eles", entre "antes e depois"), e os problemas permanecem praticamente os mesmos (as reformas também, inconclusas ou sequer iniciadas)...

Uma verdade inconveniente
(será que o Brasil consegue crescer 5% ao ano?)
Paulo Roberto de Almeida (11 de novembro de 2006)

Nos dias que antecederam o segundo turno da campanha presidencial do mês de outubro de 2006 e nos dias que se seguiram à vitória do presidente-candidato, não apenas o oponente derrotado, mas também o incumbente bem sucedido proclamaram diversas vezes a intenção partilhada de “fazer mais e melhor”, isto é, de acelerar o crescimento econômico brasileiro. O líder reconduzido ao cargo chegou a citar a cifra – não se sabe se mágica, ou apenas anódina, em vista de taxas bem maiores em outros países emergentes – de 5% anual como índice aceitável, ou até mesmo necessário, para o crescimento do PIB.
Com todo o respeito por promessas eleitorais – embora eu por vezes acredite que elas não merecem o menor respeito –, ou até mesmo “projetos de governo”, uma verdade inconveniente precisa ser dita: o Brasil, caso único entre os países emergentes, atende a todos os requisitos para, justamente, NÃO crescer. Minha intenção, neste breve ensaio, é demonstrar como o Brasil não conseguirá atender aos objetivos presidenciais de uma taxa mais rápida de crescimento econômico por uma razão muito simples: ele NÃO consegue crescer e a razão disso encontra-se na própria máquina do governo: perdulária, gigantesca, extratora de recursos da sociedade, despoupadora da riqueza dos cidadãos.
Em economia, como se diz, não existem certezas absolutas, mas algumas relações matemáticas – que não são verdades científicas, mas que podem ser comprovadas empiricamente – podem ser estabelecidas com algum grau de certitude. Entre elas, as conexões entre taxas de investimento e taxas de crescimento, a relação capital-produto (que varia setorialmente), os vínculos entre competitividade externa e paridade cambial, os efeitos sobre a demanda agregada derivados das políticas monetária, fiscal e tributária, bem como variações nos níveis de emprego em função de encargos laborais ou medidas setoriais (inclusive a taxação sobre o lucro das empresas e a renda dos agentes privados).
Pois bem, não se sabe de onde foi tirada essa cifra de 5% de crescimento, mas o que pode, sim, ser afirmado, é que, com uma taxa de investimento anual inferior a 20% do PIB, torna-se impossível crescer mais do que 3% ao ano. Se o Brasil desejar crescer mais do que isso, vai ter de aumentar consideravelmente o nível dos investimentos, o que não quer dizer, necessariamente, a poupança doméstica – pois esta pode ser suplementada pela poupança externa, ou até aumentar no bojo do próprio processo de crescimento –, mas é certo que o País precisa diminuir, e rapidamente, o nível da “despoupança” estatal, que consome os recursos dos particulares no estéril jogo das despesas públicas. Como isso poderia ocorrer, nenhum dos candidatos, ou o presidente reeleito, soube dizer.
Uma das evidências mais inquestionáveis da política econômica das últimas décadas, tal como demonstrada por exercícios conduzidos sobre a base de longas séries estatísticas dos países da OCDE, é a que víncula o nível das despesas públicas com as taxas de crescimento anual. Em sua pesquisa sobre as causas dos diferenciais de crescimento entre as economias da OCDE ao longo de quarenta anos a partir dos anos 1960 – em plena era keynesiana, portanto –, o economista americano James Gwartney, da Florida State University (ver sua página: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/) , demonstrou a existência de uma correlação direta entre crescimento econômico e carga tributária. A explicação para esse fenômeno é tão simples como corriqueira: quanto maior o nível da punção fiscal sobre a sociedade, menor é o incentivo para que os agentes econômicos se disponham a oferecer uma contribuição positiva para a sociedade. Quanto mais alta a carga tributária, mais e mais recursos fluem dos setores produtivos para o aparato geralmente ineficiente do governo.
Aos keynesianos ainda não convencidos por esta simples correlação matemática, ou apenas empírica, eu recomendaria uma consulta rápida ao trabalho de Gwartney, junto com J. Holcombe e R. Lawson, “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, The Cato Journal (Washington: vol 18 (2); outono de 1998, p. 163-190; disponível no link: http://garnet.acns.fsu.edu/~jgwartne/scope_of_govt_gwartney.pdf). Os preguiçosos, os pouco habituados à terminologia econômica ou desconfortáveis com a língua inglesa, podem ir direto à figura 2 – visualmente eloquente –, à página 171, que contém a plena evidência do que acabo de afirmar, com base nesse trabalho: a taxa média anual de crescimento do PIB, entre 1960 e 1996, para os países cuja carga fiscal é inferior a 25% do PIB foi de 6,6%, ao passo que o mesmo indicador para os países com carga superior a 60% do PIB foi de apenas 1,6%. As simple as that, como diriam os americanos.
Aqueles que, por outro lado, se encantam com as supostas virtudes do “modelo escandinavo” de desenvolvimento – como, por exemplo, os tecnocratas da União Européia ou o economista de Columbia Jeffrey Sachs, em artigo publicado na Scientific American de 16 de outubro de 2006, “The Social Welfare State, beyond Ideology” (disponível no link: http://www.sciam.com/print_version.cfm?articleID=000AF3D5-6DC9-152E-A9F183414B7F0000), no qual ele afirma, expressamente, que “Friedrich von Hayek was wrong”, e que o modelo nórdico é bem melhor do que o modelo anglo-saxão (que, como se sabe, produz mais crescimento do que o modelo da Europa continental) –, deveriam refletir seriamente sobre as evidências também fornecidas no artigo “The Myth of the Scandinavian Model”, assinado pelos economistas belgas Martin De Vlieghere, Paul Vreymans e Willy De Wit (do think tank flamengo Work for All, no link: http://www.workforall.org/html/faq_en.html) e publicado no The Brussels Journal (25/11/2005; link: http://www.brusselsjournal.com/node/510). Uma consulta ampliada à página principal do site da instituição belga de pesquisas econômicas traz comprovações tão aplastantes sobre o sucesso do modelo irlandês de crescimento econômico – baseado, justamente, em baixas taxas governamentais sobre o lucro das empresas e sobre o trabalho –, em contraste com o medíocre desempenho das economias escandinavas ou continentais (entre elas a sua Bélgica natal), que os economistas, como Sachs, que recomendam um grande Estado indutor e generosas redes de proteção social, deveriam reconsiderar seriamente suas prescrições de política econômica, pois elas estão, de fato, contribuindo para o lento declínio dessas sociedades outrora bem mais prósperas.
Claro, existem aqueles que acreditam que as taxas de crescimento experimentadas pela Irlanda, ou pela Espanha, em determinados períodos, são devidas aos abundantes subsídios comunitários, que irrigaram essas economias com pesados investimentos em infra-estrutura ou em outros setores produtivos. As evidências, porém, demonstram que a Irlanda – que efetivamente recebeu transferências de Bruxelas a partir de seu ingresso na então Comunidade Européia, em 1972, já que o país ostentava então metade da renda per capita da média comunitária – começou a crescer apenas a partir de 1985, quando ela reformou inteiramente sua estrutura tributária, no sentido de aliviar a carga sobre as empresas e o trabalho, e quando, justamente, esses subsídios europeus começaram a diminuir. As estatísticas estão disponíveis no site de Work for All (http://workforall.net).
A explosão de crescimento na Irlanda, a uma taxa superior a 5% ao ano nas duas últimas décadas, continuou sustentada, mesmo quando o desempenho econômico geral da UE começou a diminuir ao longo dos anos 1990. Outras regiões deprimidas da Europa, como a Valônia belga, ou a Grécia, receberam igualmente, subsídios generosos, com efeitos muito limitados sobre as taxas de crescimento, em virtude, justamente, de aspectos negativos em outras vertentes, entre eles o nível das despesas governamentais. Um eloquente gráfico comparativo entre o desempenho da Bégica e da Irlanda, inserido no site do think tank (http://workforall.net/English/size_of_government.gif), ilustra à perfeição que a elevação da taxa de crescimento da Irlanda começou, precisamente, em 1985, quando o país reduziu sua carga fiscal.
Como evidenciado nesses trabalhos de pesquisa empírica, a conclusão de que governos desmesurados prejudicam o crescimento e que altas alíquotas tributárias sobre a renda e o trabalho são os impostos mais distorcivos de todos – em oposição aos impostos sobre o consumo – não está apoiada na comparação entre dois únicos países, mas deriva de análises científicas de regressão múltipla com muitos países envolvidos (o estudo está neste link: http://workforall.net/Tax_policy_and_Growth_differentials_in_Europe.pdf; um resumo neste aqui: http://workforall.net/EN_Tax_policy_for_growth_and_jobs.html).
No caso do Brasil, infelizmente, todos sabem dos níveis anormalmente elevados da carga fiscal e das despesas públicas, que nos colocam, inevitavelmente, na faixa dos países impossibilitados de crescer mais de 3% ao ano. Como vem demonstrando, desde longa data, o economista Ricardo Bergamini (http://www.rberga.kit.net/), o Brasil vive um verdadeiro “manicômio tributário” (http://www.rberga.kit.net/ap/pr/pr39.html), com profusão de impostos atingindo justamente os setores produtivos. Adicionalmente, uma parte significativa da renda dos não tributados diretamente, isto é, as faixas dos cidadãos mais pobres, também é extraída compulsoriamente pelo Estado sob a forma de impostos sobre os produtos e serviços, em níveis anormalmente elevados no Brasi, em comparação com outros países.
Evidências adicionais sobre os problemas fiscais, tributários e de má alocação dos recursos coletados pelo Estado brasileiro junto aos únicos produtores de riqueza do país, que são os agentes econômicos privados – empregadores e trabalhadores –, estão contidas num livro que acaba de ser publicado sob a coordenação do economista Marcos Mendes: Gasto Público Eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil (Rio de Janeiro: Topbooks, Instituto Fernand Braudel, 2006). O capítulo 2 desse livro, assinado pelos economistas Cláudio D. Shikida e Ari Francisco de Araújo Jr. (do Ibmec-MG), “Por que o estado cresce e qual seria o tamanho ótimo do estado brasileiro?”, demonstra, se ainda preciso fosse, como o Estado vem crescendo insidiosamente nos últimos vinte anos, no Brasil, coincidentemente um período de apenas 2,5% de crescimento médio anual do PIB (e de 1% de crescimento do PIB per capita). Durante o mesmo período, a maior economia do planeta, os EUA, que sairam de um PIB de 3 ou 4 trilhões de dólares para alcançar a casa dos 13 trilhões de dólares, mantiveram-se exatamente no mesmo patamar de carga fiscal, em torno de 29% do PIB (para nada dizer dos encargos reduzidos sobre a folha de pagamentos salariais das empresas). Com base nas evidências disponíveis, eles chegam à conclusão de que o ponto “ideal” da carga fiscal, nas condições brasileiras, não deveria ser superior a 32% do PIB. Registre-se, apenas, que a média para os países emergentes situa-se em 28% do PIB, sendo que países de maior crescimento ostentam taxas de 17% (China) ou de 18% (Chile) do PIB, ao passo que os ricos países europeus, que crescem abaixo de 3%, estão na faixa de 38% do PIB (que é a ostentada atualmente pelo Brasil, mas com tendência a um crescimento ainda maior), com picos acima de 50% para os já referidos escandinavos (estes, que sairam de altos patamares de renda per capita, vêem declinando lentamente, alinhando-se com as médias “normais” dos países da OCDE).
Em síntese, a única conclusão possível a ser retirada dessa abundância de dados quantitativos e de análises qualitativas sobre as condições objetivas e os requerimentos do crescimento econômico seria mesmo esta: o Brasil é um país excepcionalmente bem preparado para NÃO CRESCER. Verdades inconvenientes como estas devem ser ditas e merecem ser repetidas de modo contínuo, até que as pessoas comuns e sobretudo aqueles economistas que se consideram keynesianos, ou ainda desenvolvimentistas, tomem consciência dos fatores impeditivos ao crescimento brasileiro e resolvam contribuir para a construção de um consenso que se torna cada vez mais necessário para a definição de uma agenda de desenvolvimento nacional: ou o Brasil diminui o peso excessivo do Estado sobre os cidadãos ativos e as empresas, ou o Estado continuará a pesar sobre a taxa de crescimento do país. Não há como escapar a essa verdade inconveniente...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de novembro de 2006