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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Davos: presidente-empresario do Panama critica liderancas da America Latina (inclusive Brasil)

Martinelli: ‘O Brasil está olhando para dentro, em vez de para fora’

  • Para o presidente do Panamá, país ‘se vende mal’ no exterior
Deborah Berlinck (Email · Facebook · Twitter)
O Globo,

Ricardo Martinelli: política precisa de mais homens de negócios
Foto: Brendan Hoffman/Bloomberg
Ricardo Martinelli: política precisa de mais homens de negócios Brendan Hoffman/Bloomberg
DAVOS – Ele é magnata de rede de supermercados. Comprou muitos produtos brasileiros e, como muitos empresários envolvidos em negócios com o Brasil, conta que teve experiência traumática nos aeroportos do país. Mas é hoje com a autoridade de líder da economia que mais cresce na América Latina (12%) que o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, um descendente de italiano de 62 anos que fez fortuna no setor da grande distribuição, diz ao GLOBO: o Brasil se vende mal. “Vocês fracassariam vendendo Cola-cola no deserto”, provoca. O grande erro brasileiro que explica o baixo crescimento, segundo ele: o país está se voltando para dentro quando deveria estar olhando para fora. Num debate nesta quarta-feira sobre América Latina, ele disse que não contrataria nenhum dos líderes do continente “nem para comandar uma usina de refrigerantes”.
O Panama é o país que mais cresce na América Latina. Qual o segredo de 12% ao ano?
MARTINELLI – O Panama é um país muito aberto. Aproveitamos ao máximo nossa posição geográfica. É por isso que temos o maior aeroporto na América Latina, com voos para oito cidades no Brasil. Em bases competitivas, é o sexto melhor conectado do mundo. Estamos em 4º lugar no mundo no setor de portos. Isso permite convergência de pessoas e nos permite atrair muitas multinacionais. Os impostos são baixos, legalizamos todos os imigrantes ilegais, reduzimos todas as tarifas de comércio e simplificamos a burocracia.
Quanto tempo demora para abrir uma empresa no Panamá?
Vinte e quatro horas. Pode abrir por internet. Temos ainda um país com pleno emprego, baixa inflação e baixos índices de criminalidade. O governo está investindo pesado em infra-estrutura: aeroportos, metrô, estradas, linhas de ônibus. Além disso, temos o título de grau de investimento (dados pelas agências de avaliação de risco para os países com baixo risco de inadimplência) e baixo déficit do orçamento. Os brasileiros, quando chegam no aeroporto do Panamá, compram tudo! Comparado com o Brasil, tudo é tão mais barato.
Mas a fórmula para um país de 3,5 milhões de pessoas como o seu serve para um país de 190 milhões de pessoas que é a sexta maior economia do mundo como o Brasil?
Claro! Os problemas que os governos têm são os mesmos. Se você tem uma economia aberta, sem impostos, obstáculos, sem muita burocracia e sem xenofobia em relação a investimentos estrangeiro, e ao mesmo tempo um governo pro-ativo, que não está fiscalizando o que as pessoas fazem, sem intervenção. O melhor governo é o que lidera.
É um conselho para a presidente Dilma Rousseff?
Meu conselho é: mais homens de negócio na política. Para tentar mudar a política de dentro, como eu.
Dilma não é empresária. Está no lugar errado?
Não disse isso... não me cause problemas (risos). O que quero dizer é que empresários se queixam muito. São eles que pagam impostos e vêem para encontros como este (Davos) para promover um país. Ao mesmo tempo não querem se envolver com o governo. Meu conselho é que se envolvam, assumindo o comando ou aceitem convite para participar do governo. Precisamos das melhores pessoas para comandar um governo.
E quem vai comandar as empresas, se os melhores empresários pularem para a política?
Eu tenho meus filhos, que são muito qualificados. Mas pode-se sempre pagar um bom executivo-chefe.
O senhor é parte do conselho de administração de várias empresas no Panamá. Não é um choque de interesses?
Eu abri mão de todas estas posições. E coloquei minhas ações num "trust", para não tenha mais nada a ver com elas. Não vendo um centavo para o governo e tento me envolver em negócios que têm a ver com o governo.
Por que o Brasil está crescendo tão pouco?
As empresas brasileiros não estou olhando para fora. Só estão olhando para dentro. Eu comprava muitos produtos do Brasil para a minha rede de supermercados: muita comida, brinquedos, ferragens. E ia muito ao Brasil para feiras de comércio. As empresas brasileiras estão muito mais interessadas em vender para o mercado local do que no estrangeiro. Continuamos comprando produtos brasileiros. Mas um país nunca vai se desenvolver, se você não olhar para fora.
Mesmo tendo um mercado de 200 milhões de pessoas, como o Brasil?
Vocês têm um mercado de 200 milhões de pessoas. Fora são 7 bilhões. Diga-me o que prefere: 200 bilhões ou 7 bilhões ? O Brasil é um poço de energia, mas suas empresas não estão fora. Quantos hotéis brasileiros você conhece no exterior? Onde está o Itaú no exterior? E o Bradesco? O Brasil precisa ir para fora. Tem todas as vantagens para isso. Por exemplo: as ex-colônias da África que falam português, ou América do Sul. Vocês têm um mundo para conquistar. Mas o problema é que brasileiros não querem olhar para fora de suas fronteiras. É por isso que quando veem ao Panamá, compram tudo. No aeroporto do Panamá, se você não falar "portunhol" (mistura de português com espanhol) ou português, você está morto !
Que tipo de produtos os brasileiros compram?
Tudo! Todo tipo. Porque tudo é tão caro no Brasil. Abram! Vocês estão olhando para dentro, em vez de olhar para fora.
O senhor acha que o Brasil vai retormar altas taxas de crescimento?
Se vocês não olharem para fora, não vão crescer o quanto deveriam. Enquanto persistirem em olhar só para o mercado externo, vão crescer menos, menos e menos. Porque há um limite para o número de produtos que você pode vender localmente. Por exemplo: o avião do governo do Panamá (presidencial) é um Embraer. A Copa Airlines (empresa panamenha) tem uns 12. É um ótimo avião, mas não muita gente está comprando. Os brasileiros não se vendem! Vocês são ótimos promotores do carnaval no Rio de Janeiro. Mas não são bons promotores dos produtos brasileiros no exterior. Eu vim a Davos num avião da Embraer. Excelente avião. Eu adoro. E sabe por que? Porque eu conheço e uso. Mas ninguém aqui conhece. Ninguém viu. Ninguém usou. Mas no aeroporto aqui, olha para o lado e não vê Embraer. Por que? Porque vocês não se vendem! Vocês são tão bons. Mas são os piores vendedores. Brasileiros fracassariam vendendo Coca-cola no deserto!
Planejam comprar mais aviões da Embraer?
Claro! Têm bom preço e são ótimos aviões.
Vocês investiram muito em infraestrutura. O Brasil terá dois grandes eventos – Copa do Mundo e Olimpíadas. Há tempo para construir infraestrutura?
Acho que estão fazendo, mas entendo que tem um problema num dos estados com população indígena. Mas o Brasil tem a capacidade, os recursos e uma grande equipe, no futebol e em outras áreas. O que está faltando é uma boa infraestrutura nos aeroportos. Como vocês planejam trazer tanta gente? Passar por Guarulhos, em São Paulo, é uma experiência horrível! Eu conheço o seu país de uma ponta à outra. Brasil precisa se abrir e construir aeroportos. Vocês têm o maior potencial: muitos minerais, um governo sólido, recursos externos. Mas enquanto continuarem olhando para dentro...
O senhor disse que não contrataria nenhum líder latinoamericano de hoje para comandar um país. Por que?
O que quis dizer é que mais empresários precisam entrar no governo. Para trazer mais o sabor de negócios na política.
O sucessor de Dilma Rousseff deveria ser empresário?
Isso depende do eleitorado brasileiro.
A revista britânica The Economist disse o que fere o investimento no Panamá é a corrupção. Como lidar como isso?
Isso foi exagerado. Eu sempre digo a quem acha que tem corrupção: apresentem uma queixa formal. Quando você tem um país crescendo ao ritmo de 12%, com muita contratação de trabalhos públicos, há sempre erros. Mas chamar isso de corrupção ou de elevar demasiadamente os preços, é outra coisa.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/martinelli-brasil-esta-olhando-para-dentro-em-vez-de-para-fora-7382442#ixzz2JEiS8RhY
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domingo, 27 de janeiro de 2013

Confucio: nova traducao dos Analetos por Giorgio Sinedino

Foi meu ex-orientando no Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco. Passou anos, na Embaixada em Beijing, estudando chines. Recomendo, portanto.
Paulo Roberto de Almeida

O Pensador da China
Gilberto Scofield
O Globo, Magazine Literario, sábado, 12/01/2013

Edição comentada da principal obra do filósofo, ‘Os analectos’, é caminho para se compreender as contradições do país hoje.

A emergência econômica da China nas últimas décadas tirou o pensamento do filósofo chinês Confúcio (551-479 a.C.) das compilações de frases feitas com propósitos de autoajuda e o inseriu na arena de debates intelectuais ocidentais sérios. Afinal, trata-se de um dos mais importantes filósofos do país, um sábio em torno do qual foi criada uma escola de pensamento que diz muito sobre o que é a China hoje. Quer entender porque a China avança tanto nos rankings das maiores economias do planeta quanto nas listas de países onde os abusos trabalhistas são uma constrangedora rotina? Mergulhe em Confúcio.
Até agora, tudo o que se publicou no Brasil a respeito de Confúcio são coletâneas de frases pinçadas de sua principal obra, “Os analectos” (ou mesmo traduções para o português de edições publicadas em outras línguas), o que resulta em um livro bastante sem sentido para qualquer um que busque entender o confucionismo sem pistas sobre a China de 2,5 mil anos atrás. Mas essa falha foi corrigida em alto estilo com a publicação, pela editora Unesp em parceria com o Instituto Confúcio, de “Os analectos” numa edição comentada e traduzida para o português diretamente do chinês pelo diplomata Giorgio Sinedino, que há sete anos dedica-se a estudar tanto a língua quanto a obra.
Contexto feudal
O esforço da Unesp resultou numa vigorosa obra — são 608 páginas — que faz juz ao desafio que é destrinchar o pensamento confucionista, um exercício ao qual se debruçam os chineses até hoje. Lá, “Os analectos” são publicados em edições comentadas, sendo a mais importante e influente delas a do também filósofo Zhu Xi (1130 a 1200 d.C.), justamente a usada por Sinedino como base para a tradução do livro editado pela Unesp. As dificuldades foram grandes, como o chinês arcaico dos textos, extremamente sintético. Como estudioso da cultura chinesa, o diplomata teve que contextualizar o pensamento chinês diante da realidade feudal da época em que o confucionismo começou a tomar forma. A tarefa levou três anos de pesquisa e um ano de tradução propriamente dita.
— A maior dificuldade na tradução de um texto em chinês arcaico está em administrar diferenças sintáticas com o português. Além disso, por ser uma língua muito sintética, o chinês arcaico deixa subentendidas coisas que para um estrangeiro teriam de ser comunicadas. Sendo assim, as traduções em geral têm que complementar o original com uma série de informações omitidas no original e aí está uma fonte de erros e manipulações do texto. Eu traduzi as citações literalmente, mostrando ao leitor aquilo que acrescentei por meio de colchetes. Esses acréscimos nada mais são do que ajustes sintáticos e semânticos, para que o texto não fique incompreensível em português. Nos comentários eu apresento aquilo que possivelmente ficou suprimido no texto principal e debato as diversas interpretações das passagens — diz Sinedino.
Só quem alguma vez teve contato com a língua chinesa pode dimensionar o grau de complexidade da tarefa. O chinês clássico do pensamento confucionista, do século IV a.C., é “radicalmente telegráfico e sintético, com muitas janelas de interpretação e dubiedades”, nas palavras do próprio Sinedino. O chinês dos comentários de Zhu Xi, por sua vez, é do século XI, conhecido como vernacular antigo. Entre este e o chinês moderno correm dez séculos de civilização.
— O papel dos comentários está em restringir as diversas leituras possíveis do original a um tipo particular de interpretação, no caso, a de Zhu Xi, que se tornou o comentário padrão de “Os analectos”. O comentário de Zhu foi o texto base para exames de acesso à carreira burocrática na China do século XIII até o começo do século XX. Hoje em dia é a interpretação padrão das ideias confucianas. Como há muitos manuscritos com pequenas divergências, adotei a edição consolidada e revista da conceituada editora Zhonghua Shuju, de 1982. Esse volume é a edição padrão usada para pesquisas confucianas nas pós-graduações chinesas, sendo também referência mundial — afirma o diplomata.
Editor-executivo da Editora Unesp, Jézio Hernane Bonfim Gutierre explica que a publicação faz parte da parceria entre a universidade paulista e o Instituto Confúcio, que busca traduzir diretamente do chinês para o português livros fundamentais da cultura chinesa.
— Gerações inteiras até hoje são influenciadas pelo pensamento confucionista, de modo que achamos fundamental apresentar esse livro devidamente comentado, como fazem os chineses. Acreditamos que a compreensão da obra extrapola a questão filosófica pura e simples. Para quem quer entender hoje a lógica do pensamento do governo comunista, e seus apelos sobre sociedade harmoniosa, não pode ignorar a lógica confucionista.
O pensamento confucionista nasceu quando a China era uma fração do gigante atual, um apanhado de reinos conhecido como Período da Primavera e Outono (770-476 a.C.). O sistema feudal já contava com uma estrutura de governo que buscava uma lógica administrativa infalível. Acreditava-se que o reino mais bem administrado seria, necessariamente, o mais poderoso.
Assim como na história da filosofia grega, o que existe até hoje do pensamento confucionista são interpretações e comentários de discípulos de Confúcio que foram transmitindo o pensamento do mestre por gerações. O próprio Confúcio fazia questão de dizer que sua sabedoria vinha de uma tradição anterior, revelando uma importante característica dos pensadores chineses, explicada no livro: os filósofos se definem apenas como divulgadores de tradições, não como criadores de pensamento propriamente dito.
Ensinamentos morais
Zhu Xi foi um dos mais importantes estudiosos do confucionismo, que ele sistematizou como corrente de pensamento em quatro livros de interpretações: “O grande aprendizado”, “Os analectos”, “Mêncio” e “A doutrina do meio”, considerados a leitura imprescindível para quem quisesse tornar-se um sábio preparado para governar. O conjunto de ensinamentos morais de “Os analectos” — impregnados de conceitos como a virtude de se praticar o bem, o respeito às hierarquias e à família, a submissão resignada dos populares e das mulheres, a predestinação, entre outros conceitos — é ensinado nos bancos escolares e universitários, transmitidos pelas famílias por meio de ditados populares, adaptado em livros para executivos associados a técnicas de gerência e administração e amplamente manipulado pelo governo de Pequim para tentar doutrinar a população chinesa. Presta-se a vários fins e faz parte do sistema cultural do país. A explicação é do próprio Sinedino:
“Se compararmos as escolas de pensamento gregas com as escolas chinesas, veremos que há uma importância menor do pensamento e da criatividade individuais no lado chinês. O pensamento na China é mais uma circunstância do convívio e da luta pelo reconhecimento da sociedade por uma escola de pensamento. Portanto, quando falamos em Confúcio devemos ter em mente não apenas o trabalho intelectual realizado pelos discípulos, mas também todo o trabalho político de busca de patrocínio político para a escola. Isso é regra para qualquer pensamento na China. Temos que ver o confucionismo não exclusivamente como obra de Confúcio, mas como um complexo de relações entre pensamento, o tipo de trabalho político que foi realizado com base nesse pensamento e o tipo de recepção que tal trabalho recebeu das elites e do governo”.

Criminosos nazistas impunes na America do Sul - Der Spiegel

Governo brasileiro acobertou nazistas para evitar julgamento de crimes da ditadura
Felix Bohr
Der Spiegel
(FSP, 27/01/2013)

Na Segunda Guerra Mundial, dezenas de criminosos nazistas foram se esconder na América do Sul. Um novo estudo revela como uma "coalizão relutante" dos dois lados do Atlântico conseguiu por décadas atrapalhar os esforços para caçar e levar à justiça esses criminosos.

Foi preciso apenas um número trocado -1974 em vez de 1947- para Gustav Wagner ter permissão para permanecer no Brasil. Foi um mero lapso do homem que traduziu o documento do alemão para o português que levou a Suprema Corte do Brasil a negar o pedido da Alemanha Ocidental para extraditar o antigo oficial da SS. E ainda assim, Wagner era acusado de cumplicidade no assassinato de 152 mil judeus no campo de exterminação Sobibor, na Polônia ocupada pelos alemães.

Josef Mengele, o notório médico do campo de concentração de Auschwitz, também se beneficiou de erros e atrasos porque os policiais franceses da Interpol, a força policial internacional com sede em Paris, recusou-se a conduzir buscas internacionais de criminosos de guerra nazistas. Já no caso do coronel da SS Walther Rauff, que ajudou a desenvolver as câmaras de gás portáteis usadas para matar judeus, foi um membro do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha que sabotou o pedido de extradição de seu próprio governo para o Chile por 14 meses.
Como resultado dessas falhas, esses três brutamontes nazistas nunca foram julgados pelas cortes alemãs depois da guerra. Wagner, a "besta" de Sobibor, morreu em São Paulo; Mengele afogou-se no Brasil e Rauff morreu de ataque cardíaco no Chile. Das centenas de oficiais nazistas e assassinos em massa que fugiram para a América do Sul após a rendição da Alemanha nazista, apenas meia dúzia deles jamais foram julgados.

Como tantos criminosos conseguiram sair sem punição, apesar de serem claramente culpados? Esta é uma questão que deixa os acadêmicos abismados até hoje. Seria pela falta de cooperação das autoridades da Alemanha Ocidental? A falta de interesse por parte dos regimes da América do Sul? Havia laços secretos e colaboração entre nazistas dos dois lados do Atlântico?

O historiador Daniel Stahl conduziu uma pesquisa nos arquivos europeus e sul-americanos para escrever seu novo livro, chamado "Nazi Hunt: South America's Dictatorships and the Avenging of Nazi Crimes" (em tradução livre: "Caça aos nazistas: as ditaduras sul-americanas e a compensação pelos crimes de guerra"). O trabalho oferece uma resposta certeira e terrível ao que há muito se suspeita: que havia uma ampla coalizão de pessoas –nos diferentes continentes, na justiça, nos corpos policiais e governos- que não se dispunham a agir ou até prejudicavam a perseguição dos criminosos nazistas por décadas.

Embargado por antigos nazistas

Stahl acredita que os motivos que levaram cada um a participar do que ele chama de "coalizão relutante" variou muito. Os diplomatas da Alemanha Ocidental sabotavam a caça aos nazistas por solidariedade. Já os investigadores franceses temiam que uma cooperação pudesse expor seus próprios passados como colaboradores nazistas. E os ditadores da América do Sul se recusavam a extraditar antigos nazistas por preocupação que os julgamentos de criminosos de guerra pudesse chamar atenção internacional aos crimes que seus próprios governos estavam cometendo na época.

Não era difícil para essa coalizão torpedear a caça aos nazistas. Inúmeros agentes –na polícia, na justiça, no governo- tinham que trabalhar juntos para organizar e realizar os julgamentos por crime. De fato, um pequeno erro ou uma irregularidade processual menor era suficiente para atrapalhar a prisão dos criminosos.

Stahl não deixa dúvidas que o judiciário da Alemanha Ocidental foi especialmente culpado de sérios lapsos. Suas descobertas confirmam que a instituição foi negligente em sua capacidade de processar os assassinos nazistas por décadas.

Walther Rauff, por exemplo, viajou entre a América do Sul e Alemanha depois da guerra como representante de várias empresas e nunca encontrou dificuldades, porque seu nome não aparecia em nenhuma das listas de criminosos procurados. Apenas em 1961, os promotores públicos da cidade de Hanover, no norte da Alemanha, emitiram um mandado para a prisão de Rauff por quase 100 mil acusações de assassinato.

Encontrar o endereço de Rauff no Chile não foi problema, e o Ministério de Relações Exteriores da Alemanha instruiu o embaixador Hans Strack, em Santiago, a solicitar a extradição do criminoso nazista. Mas Strack, que também tinha trabalhado no Ministério de Relações Exteriores antes de 1945, ignorou as instruções do ministério em Bonn e permitiu que o caso se arrastasse por 14 meses.

Apenas quando os membros da justiça em Hanover notificaram os colegas federais que estavam "extremamente desconcertados" com o fato de a embaixada estar tratando o caso "com tanta hesitação" que o governo disciplinou o embaixador recalcitrante. Strack, conhecido oponente das reparações pelos crimes da Alemanha nazista, finalmente pediu a extradição de Rauff, que levou à sua prisão no final de 1962.

Mas então, era tarde demais para punir Rauff, porque o homicídio prescrevia na maior parte dos países sul-americanos na época. A Suprema Corte do Chile negou o pedido da Alemanha para extraditar o ex-coronel da SS. Apesar dos protestos internacionais, Rauff continuou vivendo como homem livre no Chile por décadas.

Em outros casos, uma falta de cooperação da Interpol prejudicou a busca de nazistas. Stahl recuperou um documento particularmente revelador, as minutas de um encontro do comitê executivo da Interpol de maio de 1962. Pouco tempo antes, o Congresso Judeu Mundial tinha pedido à Interpol que participasse da busca mundial por criminosos nazistas. O então secretário-geral da Interpol, Marcel Sicot, respondeu com revolta. Por que os criminosos de guerra devem ser julgados, teria dito o francês segundo as minutas, "quando o vitorioso sempre impõe suas leis, de qualquer forma? Nenhuma entidade internacional define o termo ‘criminoso de guerra’". De fato, Sicot via a perseguição criminal de crimes nazistas como "a justiça do vitorioso".

Em 1960, houve rumores que Josef Mengele, o médico do campo de concentração conhecido como "Anjo da Morte", estava escondido no Brasil ou no Chile. O Ministro da Justiça Alemão aconselhou o Escritório da Polícia Criminal Federal a conduzir uma caçada –mas sem envolver a Interpol. As autoridades em Bonn aparentemente estavam tentando evitar incomodar os investigadores internacionais com o caso, mas o esconderijo de Mengele nunca foi encontrado.

Stahl atribuiu o fracasso da Interpol em prender nazistas e seus colaboradores ao passado de muitos policiais franceses. "Como homens do regime de Vichy, (eles) colaboraram com os nazistas até 1944", escreve Stahl. "Eles se opunham ao julgamento de crimes nazistas".

Stahl também observa que um dos principais obstáculos para a caçada de criminosos nazistas de fato era que os ditadores sul-americanos queriam cobrir seus próprios crimes. No dia 22 de junho e 1979, o embaixador alemão em Brasília escreveu que a extradição de alguém que tinha cometido crimes de guerra quase 40 anos antes ia "reforçar os pedidos dos que insistem que todos os crimes devem ser julgados, inclusive os cometidos pelos militares e policiais". Um pouco antes, o governo do então chanceler Helmut Schmidt tinha pedido a extradição de Wagner, subcomandante de Sobibor, um pedido que os juízes da Suprema Corte do Brasil negaram.

Na Alemanha, uma nova geração tinha entrado na burocracia do governo –e não tinha medo de usar meios não convencionais para colocar os criminosos nazistas atrás das grades. Em 1982, a Promotoria Pública de Munique iniciou procedimentos para pedir a extradição de Klaus Barbie, ex-diretor da Gestapo em Lyon, França. Temendo que Barbie pudesse ser absolvido na Alemanha por falta de evidências, os funcionários do Ministério da Justiça pediram aos seus colegas das Relações Exteriores que sugerissem aos aliados franceses que "eles também deveriam pedir a deportação de Barbie, especificamente da Bolívia para a França".

Quando Paris concordou, o Ministério de Relações Exteriores instruiu a embaixada alemã em La Paz, capital da Bolívia, que "encorajasse tal procedimento com os meios apropriados".

No início de 1983, Barbie foi deportado para a França. O famoso "Açougueiro de Lyon" morreu em um hospital naquela cidade em 1991.

Traduzido do alemão por Christoph Sultan.

From Davos to... what, exactly?


The world economy
Semi-rational exuberance
The world economy is improving. But not as much as some investors seem to think
A VIRUS is spreading through financial markets—and it isn’t the flu. Investors around the world have been struck by a bout of optimism. As stockmarkets from New York to Tokyo hit multi-year highs, the VIX, a gauge of investors’ fear, fell to its lowest since 2007.

Mario, The Superhero - Business Week

The Stitch-Up Artist
Business Week
January 27, 2013

Experts were skeptical last summer when Mario Draghi gave the speech that saved Europe. Draghi, the president of the European Central Bank, told a London audience that the ECB would do “whatever it takes” to save the euro. At the time, the bespectacled, 64-year-old central banker had nothing to back up his promise. Economists quickly noticed his bravado was out of the fake-it-’til-you-make-it school. “Draghi is damned if he does and damned if he doesn’t,” Carsten Brzeski, senior economist at ING Group (ING) in Brussels, told Bloomberg News. “He maneuvered himself into an extremely difficult situation. Expectations are very high.”
Against long odds, Draghi’s bluff worked. Bond markets rallied on the belief that the ECB would deliver on its promise. The market’s surge fed on itself, adding to Draghi’s credibility. Then he recruited German Chancellor Angela Merkel to his side, splitting her off from Jens Weidmann, the hawkish head of Germany’s central bank, the Deutsche Bundesbank. On Sept. 6, the ECB Governing Council put money where Draghi’s mouth was, committing to buy unlimited quantities of sovereign debt if the issuing nations agreed to strict conditions aimed at getting their finances back in order. (Only Weidmann dissented.) Spain and Italy were the main intended beneficiaries.
Amazingly, the ECB has not had to follow through and buy a single euro’s worth of Spanish or Italian bonds. The open-ended commitment to do so was enough to get private investors to buy. Borrowing costs in the two countries are affordable once again. As the global elite convenes in the Alpine resort of Davos, Switzerland, for the World Economic Forum on Jan. 23-27, the European economy looks a good deal less scary than it did a year ago. For that, Europeans can thank the unassuming moneyman they call Super Mario. Even Germans are impressed. “I was way more critical—I have to admit that—in September than I am today,” Nikolaus von Bomhard, chairman and chief executive officer of reinsurer Munich Re, said in a Jan. 15 interview.

What Draghi grasped last summer in London was the importance of “multiple equilibria,” the idea that an economy can operate persistently on either a full-employment track (good) or a low-employment track (bad). Government, Draghi realized, can flip an economy from a bad equilibrium to a good one. Others are following his lead. In Japan, newly seated Prime Minister Shinzo Abe is trying to work a similar flip by urging the Bank of Japan to break the nation’s deflationary spiral. In the U.S., in contrast, the sickening standoff over the debt ceiling threatens to execute a back-flip to a low-growth equilibrium.
Draghi’s training prepared him to be bold. He earned his doctorate in economics in the 1970s from a school that emphasized activism over faith in markets: Massachusetts Institute of Technology. Ben Bernanke was a fellow student. Later, Draghi got a feel for the instability of financial markets during a stint at Goldman Sachs (GS). Recall that former Treasury Secretary Henry Paulson, who had been CEO of Goldman, pulled a Draghi-like move in the summer of 2008 when he promised support for Fannie Mae (FNMA) and Freddie Mac (FMCC), saying, “If you have a bazooka in your pocket and people know it, you probably won’t have to use it.” (Alas, Paulson did have to use his bazooka—and it wasn’t enough to prevent a financial meltdown.)
The key insight of the “multiple equilibria” theory is that the demand curve can develop an ugly kink during a crisis. A falling price, rather than attracting buyers, can scare them off. No one wants to catch a falling knife. The real economy is quickly affected by the market plunge. When governments’ borrowing costs go up, they compensate by raising taxes or cutting spending. Businesses’ borrowing costs rise, too, so they cut investment. Low prices on bond portfolios leave households feeling poorer, so they try to save instead of spend. The economy gets stuck in neutral, if not reverse.
But just as pessimism can become a self-fulfilling prophecy, so can optimism. By getting investors to believe that better times were ahead, Draghi made bond prices rise and yields fall, which aided the real economy and produced the (somewhat) better times that investors were betting on. Says David Kelly, chief global strategist for J.P. Morgan Funds (JPM): “This is something Europeans could have saved themselves a great deal of pain by recognizing from the start.” Euro optimists got another boost in November when the European Parliament approved plans for the ECB to take on bank oversight duties.
All that said, Europe isn’t out of the woods by any means. Output in the 17-nation euro zone has been flat to sinking since late 2011. Unemployment is 16 percent in Portugal and 27 percent in Spain. (To sense Spaniards’ pain, check out the poignant YouTube (GOOG) video of musicians playing Here Comes the Sun in a Madrid employment office.) Output is likely to keep shrinking through the first half of 2013, according to economists surveyed by Bloomberg News.
Political splits within Europe are complicating recovery. “The pro-reform coalition in Athens is fragile,” economists at Berenberg Bank wrote in a Jan. 11 research note. They warned that Italy’s elections next month might derail reform and said, “France still shirks the serious reforms it needs to arrest its long-term decline.”
But the strongest headwind for Europe is deficit-cutting—even by countries such as Germany that face no market pressure to balance budgets. Here, Draghi isn’t doing himself or Europe any favors. He supports harsh austerity measures, even though the International Monetary Fund has begun to warn that they cause “significantly” more unemployment than forecasters once estimated. There’s only so much the ECB can do on the monetary side to offset tightening on the fiscal side. Another interest-rate cut could force the deposit rate into negative territory, which might hurt lending between banks and money-market funds. Brzeski, the economist who warned last summer that Draghi had maneuvered himself into a difficult position, remains worried. “The ECB will secretly keep its fingers crossed, hoping that better financial market conditions and structural reforms eventually really lead to an economic recovery,” he says now. The good news: “The crisis has delivered a surprising degree of wage flexibility and labour mobility,” Charles Wyplosz, an economist at the Graduate Institute in Geneva, wrote in an article for the VoxEU website on Jan. 4.
Draghi permitted himself a bit of self-congratulation in a news conference in Frankfurt on Jan. 10. “We are now back in a normal situation from a financial viewpoint,” he told reporters. “We spoke a lot about contagion when things go poorly, but I believe there is a positive contagion when things go well.” Take a bow, Super Mario. With Carol Matlack, Jana Randow

James Buchanan, o economista realpolitik - The Economist

Free exchange
The voice of public choice

James Buchanan, who died on January 9th, illuminated political decision-making
Jan 19th 2013 |From the print edition

A LIST of things that Americans judge more favourably than Congress, according to Public Policy Polling, a survey firm, includes colonoscopies, root canals, lice and France. America seems to have stumbled from economic crisis to political paralysis. That would have come as little surprise to James Buchanan, a Nobel prize-winning economist and the architect of “public-choice theory”, who died on January 9th, aged 93.

Mr Buchanan was an outlier in his field. He eschewed the profession’s embrace of complex models and maths in favour of serious reflection on political philosophy (leading some to dismiss him, wrongly, as a lightweight). A Tennessean by birth, he mistrusted north-eastern elites and spent most of his career at universities in Virginia. He challenged his profession’s casual treatment of variables such as economic cost, which he considered to be a deeply subjective matter. He adopted heterodoxies such as a 100% inheritance tax, on egalitarian grounds. Yet his greatest contribution was in the realm of political economy.

His interest in the workings of the state reflected its growing importance. From having only a minimal role in pre-industrial days, Leviathan came to control swathes of economic activity as the 20th century progressed. National-security demands were partly responsible. Government responses to market failures, from unscrupulous business practices to the trauma of the Depression, also played their part. As demands on the state grew, so too did the need to understand its behaviour.

Mr Buchanan was one of a small group of economists wondering whether the state was up to the task. Untrammelled markets may fail—by producing more pollution than society as a whole would prefer, for example. That creates the potential for welfare-improving government intervention, such as a tax on pollution. Yet there is no guarantee a state will get it right. Whether interventions are justified, Buchanan pointed out, depends on whether government officials are motivated by self-interest as well as a sense of public duty. Weighing up the pros and cons of policy choices requires an unsentimental view of government actions, a position he called “politics without romance”. In exploring this he helped create public-choice theory.

Public-choice economics assumes that government figures are merely human. They should be expected to look out for themselves rather than to act as saintly public stewards. It is a cynical (and, some might say, obvious) approach but a useful one. John Maynard Keynes may have been spot-on in concluding that big government deficits could boost a sagging economy. But Mr Buchanan reckoned such arguments led to a slow erosion of the “old-time fiscal religion” that taxes should be raised to meet government obligations. This made spending less politically costly, because politicians no longer felt under pressure to pair new spending with higher taxes. That, he rightly predicted, would lead to an era of persistent, big fiscal deficits and growing debt.

Public-choice analysis quickly provided the lens through which government action is now viewed. Legislators may “logroll”, for instance, striking deals with colleagues to pass measures that benefit small groups but are of dubious value to the general public. Governments are racked by “rent-seeking”, whereby firms aim to capture financial returns through special government privileges or monopoly rights. A construction company may spend its time lobbying for government contracts rather than courting private business, for example. That absorbs not only the resources of the firm eventually granted the privilege but also those of other firms competing for the same entitlement. As opportunities for rent-seeking expand, they siphon off resources from productive activities in the private sector and towards competition for government largesse. Public-choice theory counsels caution and care in expanding the role of the state.

It also hints at ways to resist political machinations. Take pollution. Robert Stavins of Harvard University argues in favour of a cap-and-trade policy to limit carbon emissions over the simple carbon tax many economists prefer. His reasoning is that legislators will inevitably give sops to industry. Under a cap-and-trade system they do so by freely granting, rather than auctioning off, carbon permits to certain interests. But that does not alter the law’s emissions-reducing power. Granting exemptions on carbon taxes, by contrast, would weaken its environmental benefits.

Even America’s brinkmanship over the “fiscal cliff” and the debt ceiling may be understood as an application of public-choice theory. When rational self-interest leads politicians into endless gridlock, hard choices are more likely to be made when policymakers have no alternative but to confront them. The parade of policy expirations and deadlines is part of the effort in Washington, DC, to channel self-interest into policy action.

Strong constitution

Such episodes do little for politicians’ standing, but they reflect the trade-off that exists in democracies between effective decision-making and the need to govern consensually. In Mr Buchanan’s landmark work, “The Calculus of Consent”, co-written with Gordon Tullock, the authors split political decision-making into two stages: an initial rule-setting, or “constitutional”, stage; and a subsequent politics-as-usual stage. A democratic system can maintain legitimacy despite rancorous politics if broad agreement exists on the fairness of the underlying rules. Mr Buchanan distinguished between American and European attitudes in this regard, noting that “in a constitutional democracy, persons owe loyalty to the constitution rather than to the government.” America’s politics are a mess but its institutions are to be treasured.

Sources

"Public choice: politics without romance", by James Buchanan, Policy, Spring 2003

"The constitution of economic policy", by James Buchanan, Nobel Prize lecture, 1986

"The Calculus of Consent", by James Buchanan and Gordon Tullock, 1965

Economist.com/blogs/freexchange

From the print edition: Finance and economics

Direito internacional comparado - Felipe Kern Moreira

Mundorama
January 23, 2013, 6:00 AM
by Equipe de Colaboradores
Direito Comparado: reflexões em torno da prática disciplinar internacionalista, por Felipe Kern Moreira

Em 2004, a Revista de Informação Legislativa dedicou um volume inteiro à memória de Anna Maria Villela, professora do Instituto Rio Branco. A coletânea conseguiu reunir internacionalistas brasileiros em torno de elegia na qual registra-se a contribuição trazida pela professora que, influenciada pelo jurista francês René David, introduziu a disciplina Direito Comparado na academia diplomática brasileira (CANDEAS, 2004, 15). A convicção de que o direito comparado importa às relações internacionais entornou da Casa de Rio Branco e a disciplina passou a ser adotada em cursos de Relações Internacionais (RI), algumas vezes sob a homonímia às reflexões seminais de René David, reunidas no livro Les Grands Systèmes de Droit Contemporains – Droit Comparé, de 1986.

Este texto procura oferecer sugestões gerais de itinerário para os estudos de direito comparado, no âmbito dos estudos de graduação em RI. Para tal, faz referência a práticas universitárias e ao avanço teórico dos estudos acerca de direito comparado.

Um breve sobrevôo sobre a prática universitária permite identificar no quanto países possuem programas disciplinares característicos. Estados Unidos, Inglaterra e Austrália abrigam dez dos melhores cursos de política internacional, segundo o sítio topuniversities.com. Nestes espaços, estudar RI, significa manter o foco na política internacional. O programa da Universidade de Birmingham é um bom exemplo: três anos de graduação e nenhuma disciplina jurídica. A escola inglesa, caracterizada pelo grocianismo, parece não ser algo para os ingleses verem. Prevalece a assepsia da diferença entre política e direito. Ainda dentro do ambiente daCommonwealth, na Australian National University, o curso também é integralizado em três anos. Das disciplinas obrigatórias, todas são da área política e, das optativas, somente uma refere-se ao campo jurídico: Human Rights in International Relations.

De toda forma, é difícil comparar os programas de bacharelado em RI dos países de língua inglesa com os do Brasil, onde a influência dos curricula da Europa continental parece ser sensivelmente maior. Na França, os estudos jurídicos são parte expressiva de programas marcadamente multidiscipinares. Nos três anos de bacharelado da Écoles des Hautes Études Internationales et Politiques, muito embora não conste direito comparado, quatro são as disciplinas jurídicas obrigatórias: Introdução, Constitucional, Internacional Público e das Organizações Internacionais. Na Suíça, o programa da Université de Genéve prevê a distribuição entre Direito, Economia, História e Ciência Política, diferindo da opção francesa no que concerne à Geografia. Na Alemanha, o sítio de referência studieren.de, indica a existência de um único curso de bacharelado, na Universidade Técnica de Dresden, na qual a grade prevê duas disciplinas de Internacionales Recht, as quais consistem em direito comparado, já que a língua alemã, conserva, com Völkerrecht, a precisão medieval de ius gentium.

Os objetivos de Direito Comparado são ambiciosos: travar conhecimento dos principais sistemas jurídicos. Frente à dificuldade em se descrever a totalidade dos sistemas jurídicos estatais, René David propõe o método de agrupamento em sistemas reunidos por características comuns. A obra de David tornou-se referência mas não resistiu ao teste do tempo. Cuida-se de obra anterior a 1989, fato esse que explica o trato detido do sistema socialista. Referências históricas à colonização africana, à origem do povo soviético e à complexidade do domínio político na Europa insular demonstram que o estudo de David ultrapassa o universo jurídico. Esforço mais atualizado é o do jurista italiano Mario Losano, da Universidade de Milão, com seu I Grandi Sistemi Giuridici, de 2000. A obra de Losano é fruto do pós- Gerra Fria. Não só contempla a transição do regime na desagregação das ex-URSS como aprofunda o conhecimento do direito em países islâmicos e da América do Sul.

Se existe uma noção clássica em direito comparado é a que distingue os sistemas romano-germânico e common law e trata do direito nos continentes africano, americano e oceânico como mera transplantação colonialista. Tipo de análise eurocêntrica, e nem poderia ser de outra forma, dado que noções cérnicas de direito aí foram gestadas. Continua-se a lecionar assim, muito embora outras sistematizações ofereçam panoramas diversos do que seja a tradição jurídica ocidental. É o caso de Law and Revolution – the Formation of the Western Legal Tradition, de 1983, de Harold Berman, professor da Harvard. Berman ensina que os direitos de todas as nações europeias derivam das mesmas fontes e que a common law é resultado do isolamento tradicional do estudo do direito inglês. Menciona as causas deste isolamento a partir de uma aula de Maitland, em 1888, na Cambridge: “uma vez que a história envolve comparação e, o jurista inglês não conhece e nem tem interesse por qualquer outro sistema que não seja o seu” (BERMAN, 2006, 30).

Berman vê mais elementos em comum do que diferenças nos sistemas de direito europeu. Os elementos em comum dizem respeito a elementos culturais matriciais do direito medievo e às fontes teológicas da tradição jurídica ocidental, tema tratado por Carl Schmitt na perspectiva do problema da forma do direito e da decisão como um problema da soberania e, por isso, a alcunha Teologia Política. A misantropia historiográfica dos anglo-saxões pode ser a armadilha historiográfica que Losano denomina de “histórias jurídicas fechadas em si mesmas” em virtude de um “tecnicismo da matéria que une-se a concepções jurídicas que isolam o direito do resto da realidade.”(LOSANO, 2007, 546).

Aos estudos de direito comparado pode ser acoplado o reconhecimento de novas unidades de poder na sociedade internacional. No terceiro capítulo, The new players, do Global Trends 2025 – a Transformed World, do National Intelligence Council, avalia-se que embora Estados não deixem de existir, atores não estatais – empresas, tribos, grupos religiosos e redes criminosas – exercerão poder relativo, na forma de uma multipolaridade sem multilateralismo (2008; 81ss). Cabe ao Direito Comparado considerar as consequências jurídicas desta multipolaridade na direção da reflexão proposta por Berman, que o direito antecipou e ultrapassará o momentum do sistema de Estados nacionais.

O reconhecimento de direitos em diferentes planos – global, internacional, nacional, regional e subnacional – é, provavelmente, o mais recente imperativo do direito comparado. Parte deste reconhecimento é trazido pela corrente do pluralismo jurídico, da qual certa tentativa de efetivação é encontrada na Constituição boliviana. Bastaria pensar em quem são os rulers da inteligência financeira, das finanças ambientais, da lex digitalis, das patentes ou do direito desportivo para entender o que é direito no plano global. Aprende-se aí que as relações (de poder) societárias em nível mundial possibilitam a superação do termo ‘internacionais’ no cenário das relações já, então, globais.

Referências:

BERMAN, Harold J.. Direito e Revolução: a formação da tradição jurídica ocidental. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2006.
CANDEAS, Alessandro. Direito Comparado – entre a norma e a cultura. A contribuição de Anna Maria Villela no Instituto Rio Branco. In: Revista de Informação Legislativa, nr. 162, abril/junho. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal, 2004.
DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo. Martins Fontes, 2002.
LOSANO, Mario G..Os Grandes Sistemas Jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
NATIONAL SECURITY COUNCIL. Global Trends 2025: a transformed world. Washington DC: US Government Printing Office, 2008.
Felipe Kern Moreira é Doutor em Relações Internacionais e professor na Universidade Federal de Roraima – UFRR (felipe.kern@gmail.com).

Contas externas em perigo - Editorial Estadao

Cenário incerto para o balanço de pagamentos
Editorial O Estado de S.Paulo
Domingo, 26 de Janeiro de 2013

Entre 2011 e 2012, o déficit em contas correntes passou de US$ 52,4 bilhões para US$ 54,2 bilhões (de 2,12% para 2,40% do PIB) e o resultado global do balanço de pagamentos caiu de US$ 58,6 bilhões para US$ 18,9 bilhões. Em dezembro, o déficit corrente alcançou US$ 8,4 bilhões, acima das projeções privadas, de US$ 6,3 bilhões. Apesar da deterioração, não há ameaças de curto prazo às contas cambiais, a menos que não se confirmem as projeções do Banco Central (BC) para o ano.

O Brasil depende em grau elevado do investimento estrangeiro direto (IED), que atingiu US$ 66,6 bilhões, em 2011, e US$ 65,2 bilhões, em 2012 - e o BC prevê a repetição desse montante neste ano (US$ 65 bilhões).

Ao mesmo tempo, está em queda o superávit da balança comercial (diferença entre as exportações e as importações), de US$ 29,7 bilhões, em 2011, para US$ 19,4 bilhões, em 2012, e é estimado em apenas US$ 17 bilhões neste ano. Como proporção do PIB, o superávit diminuiu de 1,2% para 0,9% e cairá mais. Falta conhecer o impacto das importações de petróleo e derivados, inclusive gás natural, que, segundo o noticiário, não foi totalmente contabilizado em 2012.

A piora da balança comercial deve-se apenas em parte à perda de dinamismo global, pois falta competitividade aos produtos brasileiros, em especial aos manufaturados. É incerto o efeito das desonerações fiscais sobre a folha de pagamentos e da redução do custo da energia sobre as exportações. Neste mês, até o dia 18, houve déficit comercial de US$ 2,7 bilhões - valor alarmante, embora ainda não caracterize uma tendência.

O BC acredita que a situação das contas externas pouco mudará neste ano, mas as importações devem crescer mais do que as exportações (US$ 28 bilhões e US$ 25,5 bilhões, respectivamente). O déficit recorde na conta de viagens internacionais, de US$ 15,6 bilhões, em 2012, é projetado em US$ 16,3 bilhões, neste ano. A desvalorização do real ante o dólar pouco influenciou a disposição dos brasileiros de viajar para o exterior.

Entre os aspectos positivos de 2012, houve diminuição da remessa de lucros e dividendos e o ingresso de recursos em Bolsa atingiu US$ 3,3 bilhões em dezembro. As reservas internacionais cresceram de US$ 26,6 bilhões, em relação a 2011, alcançando US$ 378,6 bilhões. E o BC prevê mais US$ 5 bilhões neste ano.

As contas cambiais serão beneficiadas se a economia mundial se recuperar, mas, para financiar o déficit crescente em contas correntes, nada substitui a confiança do investidor na condução da política econômica.

Uma pequena grande licao de economia

Para os que desejam aprender sobre a retorica oficial e sobre a realidade da economia Brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

O fiasco econômico do realismo abstrato
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, Domingo 26/01/2013

Davos - A economia global continua um cenário ideal para quem curte as emoções da incerteza e do perigo iminente. Talvez por isso poucos empresários brasileiros e altos funcionários federais tenham aparecido em Davos, onde se reuniram meia centena de chefes de Estado e de governo e mais de 2 mil banqueiros, ministros, acadêmicos e figuras do mundo dos negócios. No Brasil, a maior parte do empresariado já tem emoções mais que suficientes. Quanto aos governantes, podem dispensar as discussões e conversas do Fórum Econômico Mundial. Para eles, o ambiente hostil do mercado internacional é mais que um dado indiscutível. É um pressuposto útil, porque serve para explicar os infortúnios, embora a economia seja muito fechada. Davos retribui a esnobação e concentra o foco nas economias avançadas ainda em apuros e naquelas emergentes governadas por equipes mais humildes e mais afeitas ao receituário prosaico. Curiosamente, esses países têm crescido muito mais que o Brasil, embora mais expostos à crise global, e exibem taxas de inflação menores.

A valorização cambial afetou vários desses países, em 2012, enquanto o real se depreciou. Apesar disso, muitos apresentaram contas correntes superavitárias ou com déficits proporcionalmente menores que o brasileiro - 2,8% do produto interno bruto (PIB). Seu crescimento econômico foi geralmente maior que o do Brasil ou, nos piores casos, muito parecido. Alguns exemplos: República Checa, Hungria, Rússia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia, México e Israel.

Governantes e empresários desses países poderiam ter feito um barulhão contra a guerra cambial denunciada pelos brasileiros e agora intensificada pelo Banco do Japão. As autoridades japonesas poderiam refutar a acusação, como têm feito as americanas e europeias. Poderiam justificar a expansão da moeda (um tsunami, segundo a presidente Dilma Rousseff) como um esforço para reanimar a economia. Mas a explicação seria inútil, porque os líderes brasilienses continuariam gritando. As autoridades daqueles outros emergentes talvez tenham julgado mais prático deixar de lado a retórica defensiva e cuidar de tarefas mais humildes e mais cansativas. Nesses países, a maior parte das taxas de inflação ficou entre 1,8% (Israel) e 5,1% (Rússia). O caso da Hungria (5,7%) seria provavelmente descritível como o famigerado "ponto fora da curva".

Déficits em contas correntes, ensinavam os velhos manuais, têm como contrapartida o ingresso de financiamentos necessários à aceleração da economia. Casos como o da China, com superávit igual a 2,7% do PIB e crescimento econômico estimado em 7,7%, eram em geral negligenciados, por serem muito raros ou facilmente explicáveis por um taxa de poupança muito alta. Muito mais interessante seria dedicar um capítulo à estranha combinação brasileira de conta corrente deficitária, investimento inferior a 20% do PIB (somados recursos internos e externos) e crescimento econômico de 2,7% em 2011 e cerca de 1% em 2012. Seria preciso, naturalmente, confrontar o tempo de construção de um estrada no Brasil e na maior parte dos outros emergentes, assim como os custos da obra e a eficiência da gestão pública.

Manuais de economia seriam mais interessantes, teoricamente instrutivos e praticamente úteis, se mais espaço fosse dedicado a assuntos típicos do noticiário policial e dos inquéritos sobre patologias administrativas. Autores estrangeiros são em geral pouco familiarizados com o caso brasileiro. Quanto aos nacionais, talvez considerem teoricamente irrelevantes os detalhes sórdidos da política e da administração. Com alguma caricatura e, certamente, com alguma injustiça, seria possível resumir o cenário em dois blocos:

1) Os herdeiros da tradição neoclássica tendem a escrever como se os mercados fossem altamente concorrenciais, a transmissão dos estímulos ocorresse como nas economias avançadas e com maior inclusão social, a captura das agências por interesses privados fosse exceção e o investimento, variável decisiva, fosse representável por uma taxa simples e límpida, sem a consideração de fatores como prazos, custo, qualidade e importância prática do projeto. O valor gasto numa ponte entre o nada e lugar nenhum, enxertado no Orçamento por um político malandro, é contado na taxa de investimento. É somado, portanto, à verba aplicada numa estrada essencial para o escoamento da soja do Centro-Oeste ou da produção industrial. O erro seria desimportante, se obras como a da ponte inútil e superfaturada fossem excepcionais. Não são.

2) Os "heterodoxos" declaram-se muito diferentes dos neoclássicos, mas são muito mais parecidos do que admitem. Raramente se preocupam com a qualidade, o custo e a produtividade do investimento, embora se apresentem como mais realistas. Esse realismo se traduz, com frequência, num compromisso vago com uma noção ainda mais vaga de "processo dialético". Como tendem a cuidar quase só das variáveis macroeconômicas (as microeconômicas foram inventadas para engenheiros, caminhoneiros e gerentes), supervalorizam os efeitos positivos do gasto público, da expansão monetária e da manipulação cambial. No Brasil, esses fatores têm produzido relaxamento fiscal, inflação, piora das contas externas e quase nenhum crescimento. Em seu estranho realismo, esses heterodoxos dão mais importância aos números do que aos fatos representados.

Sem uma história de sucesso para contar, autoridades e empresários brasileiros preferem ficar em casa e mandar a Davos uma representação minúscula. Outros, mesmo com resultados ruins, enfrentam a discussão e disputam as atenções. E outros, com desempenho invejável, continuam batendo ponto na cidade. Um pouco mais de promoção pode sempre ajudar, mesmo quando se trata de países altamente competitivos, como China, Coreia do Sul, Indonésia, Alemanha e Chile.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Brasil: maquiagem a la Argentina das contas de comercio exterior

Parece que o Brasil sempre acaba imitando a Argentina, assim dizem, pelo menos. E nem sempre para o melhor; corrijo, sempre para pior...
Agora são as contas de comércio exterior, que recebem um "tratamento argentino", antes de serem liberadas ao distingo público.
Desse jeito vamos acabar acompanhando os argentinos em seu recuo para o protecionismo dos anos 1980 (já estamos lá), para o dirigismo dos anos 1970, para a confusão dos anos 1960 e vai por aí.
Não sei se vamos conseguir acompanhar os argentinos naquilo que fizeram de pior: o retorno aos controles de capitais e manipulações cambiais dos anos 1950, e quem sabe até, dos anos 1930?
Mais um esforço da equipe econômica e vamos continuar avançando rapidamente para trás...
Paulo Roberto de Almeida 

Contabilidade paralela

Instituo Teotonio Vilela, 25/01/2013
  Balança comercial é o alvo da vez nas maquiagens nas contas públicas promovidas pelo governo Dilma

As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. As críticas estão na Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (22). "Tem maquiagem para todo lado nas contas da gestão de Dilma Rousseff; agora é a vez da balança comercial", alerta o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Leia a íntegra abaixo:
Está cada vez mais difícil confiar na contabilidade oficial. A gestão petista especializou-se em artifícios de toda sorte para maquiar seus maus resultados. Agora é a vez de a balança comercial ser manipulada. Não fosse isso, o país poderia até ter apresentado déficit no seu comércio exterior em 2012.
A maquiagem está ficando explícita aos pouquinhos, na divulgação dos resultados semanais da balança neste primeiro mês do ano. O que começou com um rombo de US$ 100 milhões na primeira semana de janeiro, chegou a US$ 1,7 bilhão na terceira. Trata-se de comportamento inédito em 18 anos de medições.
Na soma, as transações comerciais com o exterior acumulam até agora US$ 2,7 bilhões no vermelho, de acordo com informações divulgadas ontem pelo Ministério do Desenvolvimento. Mantida a tendência, a balança brasileira terá, neste janeiro, o pior resultado mensal verificado desde o início da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior, iniciada em 1995.
Terão as condições piorado tanto, e de maneira tão repentina? A resposta é não.
A explicação para o que está acontecendo com as transações de comércio exterior neste início de 2013 deve ser buscada no último trimestre de 2012, quando a Petrobras deixou de registrar suas importações de petróleo e derivados no sistema. São estas operações que estão agora engordando as estatísticas da balança e inflando o déficit.
A postergação dos registros na contabilidade não tem nada de fortuito. Baseia-se numa decisão da Receita Federal, que passou a permitir, desde junho último, que a esta­tal registrasse suas operações de compra e venda de combustíveis até 50 dias após o desembaraço nas alfândegas.
Estima-se que a Petrobras tenha deixado de lançar algo como US$ 10 bilhões na conta das importações do país em 2012. As exportações, porém, foram todas computadas até o fim de dezembro. Com isso, o governo conseguiu manobrar para evitar que o saldo da balança comercial decaísse para terreno negativo no ano passado, como mostra O Globo em sua edição de hoje.
A maquiagem pode até ter impedido o déficit em 2012, mas não evitou que a balança comercial brasileira exibisse seu pior desempenho em dez anos: o superávit foi de apenas US$ 19,4 bilhões, com queda de 34,8% sobre o ano anterior.
Como se sabe, as ocorrências exotéricas nas estatísticas do comércio exterior brasileiro estão longe de ser caso isolado. As contas públicas foram objeto de manipulação muito mais grave na virada do ano, com objetivo de engordar o superávit fiscal e forjar a consecução da meta fixada para o ano.
Trata-se de lambança com a qual o PT conseguiu superar-se em criatividade e ousadia. O nefasto histórico inclui, ainda, as bilionárias transferências para o BNDES feitas ao longo dos últimos quatro anos e o encontro de contas feito com papéis da Petrobras – sempre ela – por ocasião da capitalização da empresa, em 2009.
As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica – seja com as bênçãos de Lula, seja agora com as de Dilma Rousseff – comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. Se o partido que está no poder é capaz de todo tipo de maquiagem na contabilidade oficial para ludibriar os contribuintes, imagine o que não acontece de ainda pior por debaixo dos panos.
(Fonte: ITV/ Foto: Arquivo/Appa)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Estado como fator anticompetitivo no Brasil

Na verdade, todos esse apoios e subsídios são ilusórios, e os empresários não vão se tornar mais competitivos; estão apenas fechando o mercado para a competição externa.
Enquanto não se convencerem de que têm de lutar contra impostos e burocracia estatal, a indústria vai continuar desaparecendo lentamente no Brasil, por mais que se busquem "soluções" ilusórias desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

A margem preferencial dada à indústria nacional

22 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
A indústria brasileira produz a um preço elevado, em razão de diversos fatores sobejamente conhecidos, e exibe baixa produtividade. Foi por isso que o governo aceitou instituir, na compra de equipamentos, uma preferência que pode chegar a até 20% a mais do que o preço do produto importado.
Trata-se de uma margem importante, que mostra ser muito reduzida a competitividade de nossa indústria, mas o governo tomou essa medida com caráter provisório e fixando em R$ 15 bilhões, no máximo, os gastos nos leilões realizados para estimular a indústria nacional por meio das suas compras. A ideia dessa preferência ao produto nacional foi apresentada no governo Lula, mas se concretizou no de Dilma Rousseff. Até agora, foram gastos R$ 2,5 bilhões, sinal de que o sistema de preferências demora a deslanchar, o que, aliás, é uma característica das iniciativas do governo.
Mas interessa examinar quais foram os principais produtos comprados pelo governo com a margem de preferência, pois dão uma ideia de em quais ramos a indústria nacional ostenta uma produtividade melhor. São tratores, escavadeiras, caminhões, ambulâncias e uniformes escolares. São todos produtos para os quais a demanda interna é elevada, o que permite auferir as vantagens de uma produção de massa.
A maioria desses bens, no entanto, tem componentes importados, o que reduz o valor dos incentivos. Existem algumas dúvidas a respeito do efeito dessa margem preferencial no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. As compras do governo, porém, estão possibilitando ganhos de produção efetivos, especialmente no caso dos tratores, que têm função importante no desenvolvimento da agricultura, assim como no caso das escavadeiras para a construção civil e obras de infraestrutura.
Porém, se consideramos que o gasto efetivo do governo foi até agora de apenas R$ 2,5 bilhões, não se pode considerar a preferência como fator de salvação da indústria.
Existe, ainda, o risco de que os setores favorecidos se acostumem a viver com a participação do governo e não se mobilizem para desenvolver inovações tecnológicas ou know-how que reduza o custo dos bens oferecidos.
Mas, já que isso tem caráter provisório, seria útil exigir que as empresas beneficiadas comprovem que a margem preferencial auferida permitiu investimentos que reduzem de maneira constante o preço e aumentem a qualidade dos produtos oferecidos, pois os 20% representam, de fato, um gasto da sociedade.

To Kindle or not to Kindle?: o futuro dos ebooks...

Parece que foi ontem: o livro começou a circular com mais facilidades fazem mais ou menos 500 anos. E eu já consegui acumular, creio, uns 5 mil livros, mas preciso ainda contar...
Agora, fica pesado carregar todos esses livros de um lado a outro, tanto é assim que deixei a maior parte dos meus livros no Brasil, e trouxe apenas o essencial para os EUA, ainda assim para facilitar uma consulta que não sei se virá, pois grande parte deles já se encontra diponível ou em formato eletrônico (os mais recentes e editados nos EUA) ou em bibliotecas universitárias dos EUA (os puramente brasileiros e antigos), que parecem ter tudo...
Quanto ao Kindle, não tenho ndada contra, muito pelo contrario...
Paulo Roberto de Almeida

Tempo de Kindle
MARCELO COELHO (coelhofsp@uol.com.br)
Folha de São Paulo, 23.01.2013 – pág. E12

É muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word

Ando meio cansado dos tradicionais elogios ao livro impresso. Aquela conversa de "adoro cheiro de livro" não me convence muito; de tão repetitiva, parece perder a sinceridade que possa ter tido, tornando-se talvez só um clichê.

Não sei se muita gente apreciava de fato o cheiro do livro antes de surgir a ameaça do Kindle e outros formatos eletrônicos.

São raros, aliás, os livros que têm cheiro de fato, a não ser que você afunde o nariz dentro deles, atividade dificilmente compatível com a da leitura propriamente dita. Tudo bem, alguns livros da infância trazem esse tipo de memória guardada nas páginas.

Mas a encadernação ou a cola podem até produzir um odor próximo do amargo e do enjoativo: algumas edições de arte, com papel brilhante e pesado, estão nessa categoria. Além de apresentarem o defeito de refletir a luz, se a lâmpada for forte demais.

Quanto ao contato da pele do dedo com o papel, não sei que prazer se tira disso. Já me cortei com as bordas de edições muito perfeitas. O papel mais macio, por sua vez, pode exigir uma lambida nos dedos de vez em quando, coisa que na minha opinião fere um pouco a etiqueta de qualquer escritório ou biblioteca. Um pouco mais e estaremos todos mexendo os lábios durante a leitura.

É que todo esse apelo à "fisicalidade" do livro tende a ser uma traição, acho, do que há de mais espiritual no ato de ler. Não é prazer que deva ser contaminado por apelos táteis, olfativos ou, pronunciemos a palavra, gastronômicos.

O livro impresso, quando se manifesta na conversa sobre tato e perfume, inscreve-se no mesmo capítulo que mobiliza os adeptos da "slow food", os especialistas em charutos, os que percebem notas de canela e mirtilo no vinho não sei das quantas. É vontade de refinamento, decorada e repetida num esforço de autoconvencimento.

Quanto à praticidade, tenho também minhas dúvidas. Não é fácil segurar nas mãos uma boa edição de "Guerra e Paz". A versão encadernada pesa muito. Em formato de bolso, é raramente resistente aos meses de investida. Em dois volumes? Aí não vale.

Tenho livros baratos que se despedaçaram antes de eu chegar ao final. Livros mais caros, de capa dura, resistem obtusamente à informalidade e ao conforto de um uso cotidiano. O papel antigo fica amarelo e ganha manchas. O papel de luxo, tipo bíblia, cria orelhinhas e se rasga facilmente. Um dicionário grande, editado em volume único (penso no "Houaiss") é objeto de alto risco. Em vários volumes? Sempre erro ao calcular a ordem alfabética.

Resultado: comprei um Kindle, numa viagem, há coisa de dois anos. O produto agora está disponível no Brasil.

Fica o testemunho: nunca uso a geringonça. A ausência de cheiro é o de menos. Os problemas são outros. Em primeiro lugar, é muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word. Será incompetência minha ou toda a arte da tipografia desaparece com o Kindle?

E as capas? Não existirão mais? Voltamos ao século 19 com essa novidade eletrônica. Além disso, não me conformo em pagar, digamos, quarenta reais apenas pelo direito abstrato de baixar um arquivo literário na máquina.

A abstração do Kindle tem outra consequência, mais grave do que a questão do cheiro do papel. É que, como em toda tecnologia contemporânea, o espaço entra em vias de desaparecimento, sendo substituído pelo tempo. Não ficam mais evidentes a página de trás, a página da frente, a página par, a página ímpar, a grossura do livro que estamos lendo, ou o seu lugar na prateleira.

Tudo passa a se situar numa névoa temporal, entre o "agora" e o "não ainda", sem o "para trás" ou o "mais adiante". Por isso se fala na "memória" do computador, e não no seu "armário" ou no seu "depósito". Última vitória do tempo, o sistema de arquivos em "nuvem" eliminou o problema do "espaço em disco".

Com o Kindle, você nem precisa de marcador de livro: ele liga sozinho na página em que você interrompeu a leitura. Só que, assim, você também deixa de folhear o livro e reler por acaso alguma passagem.

Claro que vão inventar, um dia desses, a "função folhear", e um comando de produção de odores, assim como os computadores imitam o barulho de páginas sendo viradas. Mas aí eu já não estarei, provavelmente, lendo mais coisa nenhuma. Mais uma vitória do tempo, aliás.

O governo de uma nota so' - Alexandre Schwartsman

Mas diferente do sambinha, que era chatinho de letra, mas tinha uma toada boa, o samba do governo doido não tem toada nem letra que preste, só tem zumbido, azucrinação, ranger de dentes, arrastar de cadeiras e cordas se rompendo ao menor movimento do compositor-intérprete, que só parece conhecer meia nota, nem uma nota inteira.
Tem também aquela do pato, e do ganso, com o andar desajeitada, e dizem que o pato é tiro certo: cada passo uma c....
Eta governo bisonho....
Paulo Roberto de Almeida

Para quem só tem martelo...



Tudo é prego. Se tivesse que resumir as várias tentativas fracassadas para reviver a economia, acho que nada descreveria melhor o insucesso do que a imagem de alguém tentando resolver um problema com instrumentos inadequados e, pior, sem perceber o desajuste.
Na verdade, da mesma forma que dizem que os generais sempre lutam a última guerra, o governo parece resolvido a lidar com as dificuldades de hoje recorrendo aos instrumentos que usou para superar a recessão de 2008-09.
Ocorre que, na época, a natureza do problema era outra. Naquele momento a crise financeira levou a uma recessão mundial sincronizada, traduzida, por exemplo, em quedas de dois dígitos na produção industrial em qualquer meridiano ou paralelo que se olhasse. Era um caso clássico de insuficiência de demanda, expressa na queda tanto do consumo quanto do investimento.
Por conta disso, o desemprego (já ajustado à sazonalidade e à fuga de parcela da população do mercado de trabalho, o chamado “desalento”) saltou de 7% para 9% da força de trabalho em poucos meses. Sob estas circunstâncias, políticas de incentivo ao consumo têm boa chance de recolocar a economia na rota de expansão, às vezes até demais, como os exageros de 2009 e 2010 demonstraram (mas, vocês sabem, havia eleição a ganhar).
Em contraste, a desaceleração do crescimento em 2011 e 2012 para níveis inferiores a 2% ao ano foi acompanhada de queda persistente do desemprego. Neste contexto, a tentativa de impulsionar a economia pelo aumento do consumo perde muito da sua eficácia.
Parte deste aumento se dirige ao consumo de serviços, que, em sua esmagadora maioria, têm que ser produzidos localmente (quase ninguém manda os filhos para a escola em Buenos Aires, ou vai se tratar com um médico nova-iorquino), exigindo maior emprego no setor. Isto não é um problema enquanto a mão de obra é abundante, mas, com desemprego reduzido, leva a aumentos salariais que superam em muito o crescimento acanhado da produtividade.
O setor de serviços convive com isso aumentando seus preços, o que nos ajuda a entender porque a inflação deste segmento tem rodado na casa dos 9% ao ano e segue acelerando. Já a indústria, pressionada pela competição externa, não consegue fazê-lo, o que se traduz em redução de margens e problemas de competitividade, e, portanto, dificuldades para aumentar a produção.
Assim, o aumento das importações (o “vazamento” da demanda para o exterior) é a forma pela qual a economia consegue compatibilizar a maior demanda por bens e a incapacidade industrial em competir, não apenas com o exterior, mas, principalmente, com os serviços pela mão-de-obra agora escassa. Por este motivo, políticas de incentivo à demanda acabam apresentando pouca tração em termos de crescimento. E, por não entender esta dinâmica, o governo insiste com o martelo, na esperança de achar, em algum lugar, um mísero prego.
É contra este pano de fundo que se entende o abandono do tripé macroeconômico. Seu arranjo impedia as marteladas, já que o limite para a taxa de juros era a meta de inflação, enquanto a meta fiscal restringia (ainda que de modo muito imperfeito) a expansão desmesurada do gasto.
Não se trata, portanto, de dizer que a desaceleração econômica resultou do abandono do tripé, mas, pelo contrário, que a conjugação de baixa expansão com a percepção errônea da natureza do problema levou à deterioração da política macroeconômica.
O Brasil cresce pouco por problemas do lado da oferta: expansão medíocre da produtividade, educação inadequada, e investimento insuficiente. Por falta deste entendimento o governo acredita que pode sacrificar a estabilidade em troca de mais crescimento, mas colhe apenas mais inflação sem ganho perceptível de produto. E, pelo andar da carruagem, prosseguirá com os sacrifícios, sem a devida atenção aos efeitos colaterais das suas marteladas.

A equipe econômica em ordem unida
(Publicado 23/Jan/2013)

Capes: Professor visitante em Harvard (30 de Janeiro!!!)

Apressem-se atrasadinhos...

Programa CÁTEDRA CAPES/ UNIVERSIDADE DE HARVARD – PROFESSOR VISITANTE SENIOR NOS EUA PDF Imprimir E-mail
A CAPES, por meio da Coordenação Geral de Programas, e a Universidade de Harvard, tornam pública a realização de seleção de bolsista para a Cátedra CAPES/ Universidade de Harvard – Professor Visitante Sênior nos EUA.

Objetivos:

  • Aprofundar a cooperação acadêmica entre instituições de ensino superior e centros de ciência e tecnologia brasileiros e americanos, a fim de promover o desenvolvimento da ciência e tecnologia em ambos os países;
  • Aprofundar a cooperação entre pesquisadores e educadores de instituições de pesquisa e ensino superior no Brasil e seus pares da Universidade de Harvard;
  • Aumentar o conhecimento na Universidade de Harvard sobre as contribuições de notáveis pesquisadores e educadores do Brasil, por meio da concessão de bolsa a notável pesquisador e professor sênior do Brasil, especialista em qualquer disciplina ou área acadêmica.

Benefícios:

  • Estipêndio mensal: US$ 10.400,00 (dez mil e quatrocentos dólares americanos), por até um ano acadêmico de Harvard;
  • Passagem aérea de ida e volta em classe econômica promocional;
  • Estipêndio no valor de US$ 8.000,00 (oito mil dólares americanos), custeado pelo Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, desde que o professor visitante permaneça em Harvard por, no mínimo, quatro meses; e,
  • Acesso às instalações e serviços da Universidade de Harvard, normalmente fornecidos a acadêmicos visitantes, como espaço de escritório e conexão à internet, laboratórios e equipamentos apropriados, bibliotecas, e qualquer outra cortesia ou comodidade normalmente fornecida à comunidade acadêmica.

Data limite para inscrição:

Até 30 de janeiro de 2013.

Links disponíveis


Documentos para download

Publicação na WEB Nome do documento Formatos disponíveis
11/12/2012 Edital 54/2012 - Cátedra CAPES/Harvard DOC
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Petrobras: gestao companheira pode rebaixar classificacao de risco

Projeção de endividamento põe nota da Petrobrás sob risco de rebaixamento

Caso as agências rebaixem estatal, empréstimos vão ficar mais caros, ações serão vendidas e capacidade de investimento será limitada 

22 de janeiro de 2013
Sabrina Valle, de O Estado de S. Paulo
 
RIO - A luz amarela sobre o endividamento da Petrobrás foi acesa dentro da empresa, jogando mais pressão por um aumento de combustíveis antes da divulgação dos resultados do quarto trimestre. Segundo fontes da companhia, a estatal ultrapassou a barreira que é usada como referência por agências de classificação de risco - nível de alavancagem de 2,5 vezes a relação entre dívida líquida sobre a geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
A partir desse patamar de 2,5 vezes, a petroleira passa a conviver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências internacionais, o que deixaria empréstimos mais caros, forçaria a venda de ações e limitaria a capacidade de investimento da empresa, com reflexos negativos para toda a cadeia de fornecedores.
Projeções internas dão conta de que, em parte do quarto trimestre, esse limite teria ultrapassado a relação de 2,6 vezes. A luz vermelha acende ao redor do 3. No mês passado, a agência Moody’s já colocou a Petrobrás sob perspectiva de um possível rebaixamento da nota da dívida, o primeiro sinal negativo vindo do mercado.
A projeção interna acima de 2,6 vezes era parcial, pois o resultado do quarto trimestre não estava fechado - a apresentação dos resultados ocorrerá no próximo dia 4 de fevereiro. Espera-se que o reajuste do diesel e da gasolina saia até esta data.
Dessa forma, a empresa divulgaria ao mercado a má notícia (o rompimento do nível de 2,5 vezes) já com um alívio (o aumento) para o caixa.
"O rebaixamento não é automático, e ninguém o faria em véspera de reajuste. Mas é uma ameaça que ronda a Petrobrás", disse o analista de petróleo da BES Securities do Brasil, Oswaldo Telles Filho.
O possível reajuste, estimado em 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, no entanto, não seria suficiente para deixar a companhia em níveis confortáveis, apenas amenizaria a piora na relação de endividamento. "Ajuda a não piorar, mas não resolve", diz uma fonte da companhia. Na área de captação há grande preocupação com o indicador.
A Petrobrás ganhou em 2007 grau de investimento, classificação que lhe permite melhores condições para se financiar no mercado internacional.
Em 2009, mudou o patamar da dívida, com alta de US$ 25 bilhões, e desde então há piora.
Relação. No terceiro trimestre, a relação dívida líquida/Ebitda ficou em 2,42 vezes, bem acima da 1,66 vez do quarto trimestre de 2011. Segundo cálculos do analista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), um aumento de 7% para a gasolina e 5% para o diesel reduziria a relação entre 0,05 e 0,07 ponto.
Ou seja, mesmo com o aumento nos combustíveis a Petrobrás ainda correria o risco de manter o indicador acima de 2,5 vezes. "Seria um descanso, mas estaria longe de resolver o problema da companhia", disse Pires. "Mas a inflação está crescendo a galope, estou descrente quanto a um reajuste neste mês."
O balanço mais recente (3.º trimestre de 2012) diz que o endividamento líquido em reais da Petrobrás aumentara 30% em relação ao ano anterior, para R$ 133,9 bilhões, em decorrência de captações de longo prazo e do impacto de uma depreciação cambial de 8,3%.
Outro analista que prefere o anonimato diz que a petroleira teria caixa próprio para sobreviver por apenas mais um ano: "A evolução da dívida é extremamente preocupante. O governo e o conselho de administração estão apostando em fartura no financiamento, mas isso pode acabar de uma hora para outra".
O mercado aposta em aumento de cerca de 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, já que essa é a diferença que falta para que seja atendida a previsão do plano de negócios da companhia 2012-2016.
O documento previa alta de 15% de forma a viabilizar os US$ 236,4 bilhões em investimentos, e apenas parte foi concedida no ano passado.

India: nosso aliado no Bric, sem visao politica de largo prazo

Talvez o mesmo possa ser dito do Brasil...

The New York Times, January 22, 2013

India Undermined by Lack of Long-Term Vision

NEW DELHI — Six years ago, the official Indian delegation to the World Economic Forum put together “India Everywhere,” a blizzard of promotions designed to lure foreign investment to the country. Guests to Davos were given free iPods loaded with Indian music and pashmina shawls “from the Himalayas to keep you warm in the Alps.”
The Web site for India Everywhere is still online, but — perhaps symbolically — it is riddled with broken links. Only the home page remains, cheerleading for “the world’s fastest growing free market democracy” and its imminent arrival “centre stage in the global economy.”
In 2013, the world economy is still waiting for India to live up to its billing. Foreign investment in India has continued to rise, reaching a record $46.8 billion in the country’s most recent fiscal year. But economic growth has slowed significantly. After flirting with the 10 percent mark in 2006, it cooled to an annual rate of 5.3 percent in the third quarter of 2012, the most recent period for which data have been released.
Admittedly, the past few years have not exactly been warm and nourishing for many national economies. But beyond the effects of the global slowdown, India’s economic progress has been undermined by the country’s internal politics — politics not as a grand ideological tussle, but politics as the more basic, spit-and-sawdust business of winning elections and retaining power.
The symptoms of this political malaise can be seen in the ways in which policy making has gone awry in India. The government, for example, tends to place populist projects ahead of more fundamental economic overhauls. It enacts legislation to guarantee poor people 100 days of employment every year, at a daily wage of 130 rupees, or $2.38, for example, but it does not equip these beneficiaries with the skills to break out of the cycle of poverty.
It decides to start delivering pension and scholarship payments via bank tranfers, instead of through government intermediaries, but it does not address the problems of corruption and bribery that made the change necessary to begin with.
Parties in power, as well as in the opposition, seem mainly to strive to be seen as champion of the common man. Last year, when the minister in charge of the money-bleeding Indian Railways announced fare increases amounting at most to 0.30 rupees (less than one cent) per kilometer of travel, the opposition and even his own party decried the move as anti-poor. The government recanted and rolled back the increases, and the minister was forced to resign.
The central government, headed by the Indian National Congress party, has also been hobbled by levels of disclosed and alleged political corruption startling even by Indian standards. Officials managing the 2010 Commonwealth Games in New Delhi were formally charged with awarding inflated contracts to close associates; memorably, rolls of toilet paper were invoiced at $80 apiece.
A former telecommunications minister was briefly sent to prison, and his trial is still going on, for selling radio frequency for mobile telecommunications at below-market prices, costing the exchequer $38 billion, according to India’s national auditor. Another official audit estimated that the allocation of coal-mining rights without a transparent auction process set the government back by $33 billion.
At the forum in Davos last year, Montek Singh Ahluwalia, the deputy chairman of India’s Planning Commission, brushed off the thought that these scandals had soiled the country’s image as an investment destination. “People will judge us on how we react with the investigation into the corruption,” he told the BBC.
The judgment does not look favorable at the moment.
Moreover, the exposure of corruption has frozen policy making even further. No government that is trying to make over its image in time for elections in 2014 will initiate changes like cutting fuel subsidies or opening sectors like retailing to foreign investment — moves that, for all their merit, are still contested fiercely in India.
Finally, the debate over overhauls and policy is muddied by mainstream political parties that have no clear economic vision. Instead, every party prefers to take stances that are inconsistent but that are perceived to serve it well in the short term.
In 1991, the finance minister Manmohan Singh opened up the Indian economy by relaxing many import and foreign investment restrictions and simplifying a byzantine licensing regime. But as prime minister since 2004, he has been far more timid in pushing through a second major round of policy changes.
Meanwhile, the Bharatiya Janata Party, which headed India’s coalition government from 1999 to 2004, used to pitch strongly for economic liberalization, promising to, for example, allow greater foreign investment in India’s retailing sector. Now that it is in the opposition, however, the party has resisted the passage of that very same measure for retailing — resisted it so strongly, in fact, that it refused to let Parliament function for days on end, claiming that big-box retailing chains would hurt small shopkeepers.
“There may have been some rationale for it in 2004,” Arun Jaitley, a leader of the Bharatiya Janata Party, said vaguely by way of not quite clarifying his party’s reversal on the policy.
Such policy reversals have drawn sharp criticism from both foreign and domestic analysts and investors. In 2006, the Goldman Sachs economist Jim O’Neill ranked India a lowly 97th in the world by potential risks to growth, below Brazil and the Philippines. In his 2011 book “Growth Map,” Mr. O’Neill said that the country’s problems boiled down to a lack of leadership.
Last April the steel baron Lakshmi Mittal said that India was “low on the investment priority list of countries.”
Ratan Tata, who recently stepped down as chairman of the Tata Sons empire, told The Financial Times in an interview that even though he was “bullish about India’s potential,” Indian companies could not help but look overseas, where “you wouldn’t have an eight-year or seven-year wait to get all the clearances for a steel plant.”
Late last year, in a rare moment of plain speaking, Mr. Singh, the prime minister, acknowledged that his government needed “courage and some risks” to see India through the policy logjam.
Pashmina shawls and loaded iPods will not do the trick any more.
Samanth Subramanian is the India correspondent for The National. He is working on a book about the Sri Lankan civil war.

O inimputavel pode perder o in, ou o inim... - Marco Antonio Villa

Um cidadão acima de qualquer suspeita

  • São abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público: a investigação das denúncias
MARCO ANTONIO VILLA
O Globo,
Luís Inácio Lula da Silva se considera um cidadão acima de qualquer suspeita. Mais ainda: acha que paira sobre as leis e a Constituição. Presume que pode fazer qualquer ato, sem ter que responder por suas consequências. Simula ignorar as graves acusações que pesam sobre sua longa passagem pela Presidência da República. Não gosta de perguntas que considera incômodas. Conhecedor da política brasileira, sabe que os limites do poder são muito elásticos. E espera que logo tudo caia no esquecimento.
Como um moderno Pedro Malasartes vai se desviando dos escândalos. Finge ser vítima dos seus opositores e, como um sujeito safo, nas sábias palavras do ministro Marco Aurélio, ignora as gravíssimas acusações de corrupção que pesam sobre o seu governo e que teriam contado, algumas delas, com seu envolvimento direto. Exigindo impunidade para seus atos, o ex-presidente ainda ameaça aqueles que apontam seus desvios éticos e as improbidades administrativas. Não faltam acólitos para secundá-lo. Afinal, a burra governamental parece infinita e sem qualquer controle.
Indiferente às turbulências, como numa comédia pastelão, Lula continua representando o papel de guia genial dos povos. Recentemente, teve a desfaçatez de ditar publicamente ordens ao prefeito paulistano Fernando Haddad, que considerou a humilhação, por incrível que pareça, uma homenagem.
Contudo, um espectro passou a rondar os dias e noites de Luís Inácio Lula da Silva, o espectro da justiça. Quem confundiu impunidade com licença eterna para cometer atos ilícitos, está, agora, numa sinuca de bico. O vazamento do depoimento de Marcos Valério – sentenciado no processo do mensalão a 40 anos de prisão - e as denúncias que pesam sobre a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, deixam Lula contra a parede. O figurino de presidente que nada sabe, o Forrest Gump tupiniquim, está desgastado.
No processo do mensalão Lula representou o papel do traído, que desconhecia tratativas realizadas inclusive no Palácio do Planalto – o relator Joaquim Barbosa chamou de "reuniões clandestinas" -; do mesmo modo, nada viu de estranho quando, em 2002, o então Partido Liberal foi comprado por 10 milhões, em uma reunião que contou com sua presença. Não percebeu a relação entre o favorecimento na concessão para efetuar operações de crédito consignado ao BMG, a posterior venda da carteira para a Caixa Econômica Federal e o lucro milionário obtido pelo banco. Também pressionou de todas as formas, para que, em abril de 2006, não constasse do relatório final da CPMI dos Correios, as nebulosas relações do seu filho, Fábio Luís da Silva, conhecido como Lulinha, e uma empresa de telefonia.
No ano passado, ameaçou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Fez chantagem. Foi repelido. Temia o resultado do julgamento do mensalão, pois sabia de tudo. Tinha sido, não custa lembrar, o grande favorecido pelo esquema de assalto ao poder, verdadeira tentativa de golpe de Estado. A resposta dos ministros do STF foi efetuar um julgamento limpo, transparente, e a condenação do núcleo político do esquema do mensalão, inclusive do chefe da quadrilha – denominação dada pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel – sentenciado também por corrupção ativa, o ex-ministro (e todo poderoso) José Dirceu, a 10 anos e 10 meses de prisão. Para meio entendedor, meia palavra basta.
As últimas denúncias reforçam seu desprezo pelo respeito as leis. Uma delas demonstra como sempre agiu. Nomeou Rosemary Noronha para um cargo de responsabilidade. Como é sabido, não havia nenhum interesse público na designação. Segundo revelações divulgadas na imprensa, desde 1993 tinham um "relacionamento íntimo" (para os simples mortais a denominação é bem distinta). Levou-a a mais de duas dúzias de viagens internacionais – algumas vezes de forma clandestina - , sem que ela tenha tido qualquer atribuição administrativa. Nem vale a pena revelar os detalhes sórdidos descritos por aqueles que acompanharam estas viagens. Tudo foi pago pelo contribuinte. E a decoração stalinista do escritório da presidência em São Paulo? Também foi efetuada com recursos públicos. E, principalmente, as ações criminosas dos nomeados por Lula - para agradar Rosemary – que produziram prejuízos ao Erário, além de outros danos? Ele não é o principal responsável? Afinal, ao menos, não perguntou as razões para tais nomeações?
Se isto é motivo de júbilo, ele pode se orgulhar de ter sido o primeiro presidente que, sem nenhum pudor, misturou assuntos pessoais com os negócios de Estado em escala nunca vista no Brasil. E o mais grave é que ele está ofendido com as revelações (parte delas, registre-se: e os 120 telefonemas trocados entre ele e Rosemary?). Lula sequer veio a público para apresentar alguma justificativa. Como se nós, os cidadãos que pagamos com os impostos todas as mazelas realizadas pelo ex-presidente, fossemos uns intrusos e ingratos, por estarmos "invadindo a sua vida pessoal."
Hoje, são abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público Federal: a investigação das denúncias, cumprindo sua atribuição constitucional. Ex-presidente, é bom que se registre, não tem prerrogativa de estar acima da lei. Em um Estado Democrático de Direito ninguém tem este privilégio, obviamente. Portanto, a palavra agora está com o Ministério Público Federal.
Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/um-cidadao-acima-de-qualquer-suspeita-7357844#ixzz2IlRyYSDj
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