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sábado, 29 de junho de 2013

Maquiavel e a Arte da Guerra - Marco Cepik

Arte da guerra

A questão militar ocupa um lugar central nas preocupações de Maquiavel, que acredita que os conflitos são próprios à natureza da política. Sua contribuição singular para o pensamento político está na dimensão ética da articulação entre fins e meios.
Por: Marco Cepik
Ciência Hoje, 26/06/2013
Arte da guerra
No sexto artigo desta série, que comemora os 500 anos de 'O príncipe', o cientista político Marco Cepik apresenta as ideias de Maquiavel sobre o fazer da guerra. (arte: Ampersand)
Escrito entre 1519 e 1520, A arte da guerra foi publicada enquanto Maquiavel (1469-1527) ainda vivia. Suas máximas concisas e conselhos práticos ao príncipe e aos cidadãos são semelhantes a passagens encontradas no general e filósofo chinês Sun Tzu. Entretanto, apesar de sua influência sobre líderes e pensadores, a obra nunca rivalizou em popularidade com O príncipe, o livro mais conhecido de Maquiavel, muito menos com o Ping-Fa, de Sun Tzu, ambos encontráveis nas prateleiras de qualquer livraria de aeroporto ao redor do mundo. Vejamos então por que é importante conhecer as ideias de Maquiavel sobre o fazer da guerra.
Em primeiro lugar, a mensagem mais importante de Maquiavel nesse livro ecoa um tema presente nas demais obras histórico-políticas do autor: a intencionalidade da ação, o seu planejamento, uma visão que hoje se convencionou chamar de estratégica. Tudo isso aparece como uma qualidade da ‘virtú’ e uma necessidade de se construir meios consistentes com os fins para enfrentarmos as surpresas da ‘fortuna’, dois conceitos que atravessam seu pensamento.
Nas palavras de Maquiavel, aqui transcritas da edição da Editora Universidade de Brasília, “(...) quem pretende fazer alguma coisa deve primeiramente preparar-se de modo que, surgindo a ocasião, tenha condições de satisfazer suas intenções”.
A queda do governo republicano da cidade, em 1512, e o banimento de Maquiavel da vida governamental tornaram mais claro ainda esse princípio. Nas obras que escreveu nesse período, como destacou Newton Bignotto em Maquiavel republicano, evidencia-se a sua convicção de que o “processo de fundação e conservação de uma república não é independente da escolha de sua estratégia de defesa”.
Livro 'A arte da guerra'Seja em O príncipe (1513), nos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (1513-1519) ou na Arte da guerra (1519-1520), a questão militar ocupa um lugar central nas preocupações de Maquiavel, cuja contribuição singular para o pensamento político reside no realismo de sua concepção sobre as relações existentes entre força e convencimento, bem como na dimensão ética da articulação entre fins e meios.
Como observou o autor Félix Gilbert, longe de tentar eliminar os conflitos, inclusive a guerra, Maquiavel os considera próprios à natureza da política, encontro da liberdade humana com a natureza e as necessidades. A conquista e a conservação dos objetivos políticos são possíveis, mas o poder da fortuna limita a liberdade de ação e não permite o conhecimento completo. Portanto, a ética é constituída pela própria conduta na ação política, pelo conteúdo dos fins estabelecidos, pela maneira de lidar com as necessidades e pelo resultado objetivo que a ação ajuda a estruturar no tempo e no espaço.

O papel dos cidadãos

O segundo motivo mais importante para se ler A arte da guerra com atenção ainda hoje diz respeito ao papel dos cidadãos na defesa da república. O crescimento das empresas militares privadas no mundo contemporâneo e as recomendações para a conformação de forças armadas “enxutas e profissionais” atualizam a questão.
Escrevendo no alvorecer da era moderna, o secretário florentino ocupou-se da guerra e da organização militar desde 1500, quando uma nova fase da guerra entre Pisa e Florença levou-o a defender a criação de milícias regulares, não mais compostas principalmente por mercenários.
O segundo motivo mais importante para se ler A arte da guerra com atenção ainda hoje diz respeito ao papel dos cidadãos na defesa da república
Na verdade, a partir de 1505 dedicou-se pessoalmente a executar planos para o rearmamento de Florença. Dentre outros escritos, destaca-se o seu Discurso sobre a preparação militar florentina, de 1506. Nomeado para o Conselho dos Dez das Milícias, concentrou-se nas tarefas práticas de organização de uma força militar consistente com o duplo requisito da estabilidade dos Estados: a justiça e as armas.
Interpretando fatos da época e reinterpretando a história da República romana, Maquiavel estava convicto de que não se poderia fundar e manter uma República moderna confiando apenas em mercenários e senhores da guerra (condittieri), pois somente um exército de conscritos poderia garantir a independência das cidades-estado italianas.
Os aspectos financeiros, logísticos, táticos e morais do exército de conscritos também não escaparam à Maquiavel. Não apenas afirma ele que “na guerra, a disciplina pode mais do que o ímpeto”, mas vê no armamento e na conscrição de elementos urbanos e rurais, bem como nas formas de treinamento e comando de tal força pública, um elemento de enfraquecimento relativo das classes abastadas e de amalgamento de elementos populares ao tecido institucional, moral e social do qual é feito o governo.
“A descoberta de Maquiavel não é, portanto, a da importância de uma boa milícia, mas sim de que uma boa milícia exige uma forma democrática de governo”, escreve Bignotto. O apelo ao patriotismo dos cidadãos-soldados só é possível se as instituições militares são consistentes com as instituições políticas. Portanto, se refaz o nexo entre o chefe militar e o chefe político (que o subordina), seja ele o príncipe ou o povo, conforme o tipo de Estado e de regime do país.

Aceitação questionável

Por outro lado, também é possível mencionar pelo menos dois elementos que dificultam a aceitação das ideias de Maquiavel sobre a guerra por parte do leitor contemporâneo. Em primeiro lugar, o fato mesmo de que as suas prescrições e lições não chegam a configurar uma teoria moderna da guerra, entendida como um programa de pesquisa científico, o qual desenvolve-se apenas no século 19, especialmente a partir da obra de Clausewitz (1780-1831).
O autor de Vom Krieg conhecia e respeitava as posições de Maquiavel, mas ainda que tenha deixado sua obra inacabada, uma leitura mais cuidadosa mostra a recusa de Clausewitz em subordinar a análise conceitual e empírica da guerra a preceitos gerais de caráter normativo que teriam validade universal, erro incorrido por Maquiavel e que o leva, por exemplo, a não considerar adequadamente o papel revolucionário da artilharia e das armas de fogo, focado que estava na evocação da infantaria e da condução dos assuntos militares na República romana antiga como contraponto à prioridade dada à cavalaria no fazer a guerra da aristocracia medieval.
Armas de fogo
Alguns pontos relacionados à conduta de Maquiavel podem levar ao questionamento de suas ideias sobre a guerra. Um deles foi o fato de não considerar adequadamente o papel revolucionário da artilharia e das armas de fogo na época. (imagem: Wikimedia Commons)
Em segundo lugar, a própria forma utilizada por Maquiavel para redigir A arte da Guerra dificulta o acesso do leitor contemporâneo. A obra é dividida em um prefácio e sete livros (capítulos), na forma de um diálogo socrático que ocorre nos jardins construídos na década de 1490 para os aristocratas e humanistas florentinos.
O diálogo ocorre entre Cosimo Rucellai e Fabrizio Colonna (alter-ego de Maquiavel?) com outros patrícios e capitães da então recente república florentina, remetendo aos méritos das legiões romanas e procurando refutar a asserção de que a artilharia tornaria obsoletos os métodos clássicos.
Seja como for, vale estudar Maquiavel depois de 500 anos, lembrando, para citar palavras suas, que “os bons comandantes nunca se empenham numa batalha se a necessidade não os impele, ou a oportunidade não os chama”.

Marco Cepik
Diretor do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Alianca do Pacifico vs Mercosul? - Bruno Hendler


Boletim Mundorama 29 Jun 2013 05:00 AM PDT
Passados dois anos da criação da Aliança do Pacífico (AP), muito ainda precisa ser feito no tocante à integração de seus países membros, Chile, Peru, Colômbia e México. Porém, a convergência entre eles tem sido responsável por atrair a atenção de especialistas sobre os rumos da América Latina. Encabeçada por países que possuem relações especiais com os Estados Unidos e que têm sido governados por partidos de direita ou da chamada “Nova Esquerda” (BRESSER-PEREIRA, 2000), a iniciativa surge como um contraponto, planejado ou não, ao MERCOSUL e à Aliança Bolivariana das Américas (ALBA).
A maré de crescimento econômico dos países da AP gera euforia entre os críticos mais mordazes da politização do MERCOSUL, que relacionam “o fracasso” do bloco liderado pelo Brasil com “o sucesso da Aliança do Pacífico” (SETTI, 2013). Porém, dois anos é um prazo deveras curto para atribuir sucesso a qualquer iniciativa de integração regional – pode-se afirmar, no máximo, que se está diante de uma ideia promissora.
A AP surge em um contexto de ascensão econômica da Ásia, recuperação econômica dos EUA pós-crise de 2008/2009 e crise institucional do MERCOSUL. Se a Venezuela é o motor da ALBA (75% do PIB do bloco) e o Brasil o motor do MERCOSUL (80% do PIB) respectivamente, a AP não tende a gravitar em torno de uma única economia, ainda que o México seja responsável por 60% do PIB do bloco. Isso decorre não apenas da menor assimetria econômica entre os membros, mas principalmente do escopo liberal de integração e da não contiguidade territorial entre os países. Ademais, há um maior equilíbrio entre os membros deste bloco, ou seja, o menor PIB da AP (Peru) responde por cerca de 10% do total, enquanto os menores PIBs do MERCOSUL (Paraguai) e da ALBA (Dominica) não passam de cerca de 1% do total.
Segundo Felipe Bulnes, Embaixador do Chile nos EUA, e Harold W. Forsyth, Embaixador do Peru nos EUA [1], a proximidade entre os quatro países decorre mais de afinidades políticas e princípios compartilhados do que da integração econômica propriamente dita. Dado o pouco tempo de existência do bloco, é natural que o estreitamento de laços comerciais, financeiros e de circulação de pessoas não esteja consolidado. Enquanto o comércio intrabloco do MERCOSUL já chegou a 25% (em 1998) e hoje está em torno de 15%, o comércio entre os membros da AP é ainda muito baixo. Porém, uma série de iniciativas ambiciosas pretende reduzir as distâncias que os separam. As principais são (ETONIRU, 2013):
- Liberalização do comércio intrabloco. Em janeiro de 2013 os países membro concordaram em eliminar barreiras tarifárias para 90% das mercadorias que circulam dentro da AP.
- Circulação de pessoas. Com vistas a promover o turismo, a circulação de empresários e o intercâmbio de estudantes, planeja-se eliminar a necessidade de vistos para estadia de até 180 dias entre os quatro países, além da criação de 100 bolsas de estudo anuais para as universidades dos países membros.
- Integração de mercados financeiros. Desde maio de 2011 os três membros sul americanos (Chile, Peru e Colômbia) combinaram seus mercados financeiros em uma bolsa de valores, o Mercado Integrado Latino-Americano (MILA), visando facilitar e incrementar os investimentos estrangeiros. Ainda que o MILA tenha surgido fora do âmbito da AP, a possibilidade de adesão do México tem sido influenciada diretamente pela criação do bloco.
Outro fator é a relação especial com os EUA, seja em termos de comércio ou de segurança. Antes mesmo da criação do bloco, os quatro países já haviam celebrado acordos de livre comércio com os EUA. Os impactos desses acordos são variados mas, em geral, facilitam a entrada de investimentos e estreitam as relações comerciais com a economia norte-americana.
Na esfera da segurança, México e Colômbia são aliados tradicionais dos norte-americanos no combate ao narcotráfico e, ao longo das últimas duas décadas, passaram a receber treinamento, assessoria, material e, no caso da Colômbia, bases militares. O “Plano Colômbia”, por exemplo, adquiriu, com o financiamento dos norte-americanos, um viés militarista e policial, deixando de lado o caráter socioeconômico e dando margem a casos de desrespeito aos direitos humanos por grupos paramilitares como as Autodefensas Unidas de Colombia (AUC) (RIPPEL, 2004, p. 3-4). De forma similar, o fluxo migratório de mexicanos para os EUA passou a ser tratado como questão de segurança, sem considerar que muitos emigrantes e traficantes optam por esses caminhos em decorrência da falência e da perda de competitividade da agropecuária mexicana após a adesão do país, sem fundos compensatórios, ao NAFTA (PETRAS, 2009).
Se as relações bilaterais com os EUA são fortes, o mesmo ainda não se pode dizer da relação em bloco com este país. Embora a AP se encaixe na estratégia norte-americana de se aproximar de governos de direita e de centro na América Latina, a última reunião de cúpula do grupo, em maio de 2013 na cidade de Cali, teve a ausência de representantes dos EUA na condição de observadores – status ocupado por países como Espanha, Austrália, Japão, Canadá, Nova Zelândia e Uruguai, além de Estados postulantes a adesão como Costa Rica, Panamá e Guatemala.
De todo modo, a América Latina continua (e continuará) sendo uma região de nítida predominância militar dos EUA. Porém, assim como na Ásia Oriental, no Oriente Médio e na África, o papel desempenhado pela China, tanto em termos econômicos quanto em termos de capital político, tende a crescer. Em outras palavras, a AP pode ser útil aos EUA como contraponto à ALBA e ao MERCOSUL, mas também pode tornar-se o canal de aproximação da China com a América Latina – e a localização geográfica dos membros da AP, bem como as declarações oficiais de seus líderes, favorece essa possibilidade.
A aproximação com a Ásia, e mais especificamente com a China, está no discurso e nos números da AP. Para o Embaixador da Colômbia nos EUA, Carlos Urrutia, o bloco não é apenas um “acordo de livre comércio”, mas um processo dinâmico que busca profunda integração regional e inserção internacional, especialmente com a Ásia-Pacífico[2]. Embora ainda não haja uma aproximação coordenada do bloco com esta região, seus membros já possuem acordos bilaterais de comércio com inúmeros países asiáticos, como Japão, Coreia do Sul e a própria China (KOTSCHWAR et. al, 2013). Ademais, de 2000 a 2011, as exportações dos países da AP para os EUA caíram em termos relativos, de 77% para 58%, enquanto que China e ASEAN passaram de 1% para 7% (idem).
Portanto, ao enfatizar o escopo econômico da AP, seus líderes deixam claro que pretendem manter a relação de proximidade política com os EUA e de indiferença, ou mesmo rejeição, às alternativas do MERCOSUL e da ALBA. Porém, reconhecendo a gradual transição da riqueza mundial dos EUA para a Ásia, Chile, Peru, Colômbia e México demonstram que não pretendem perder o bonde da história e se preparam para encurtar as distâncias entre os dois lados do Oceano Pacífico.

Referências
BRESSER-PEREIRA, Luiz C. A nova Esquerda: uma visão a partir do sul. Revista Filosofia Política, nova série, vol. 6, p. 144-178, 2000.
ETONIRU, Nneka. Explainer: what is the Pacific Alliance? 17 de maio de 2013. Disponível em: http://www.as-coa.org/articles/explainer-what-pacific-alliance Acesso: 10/06/2013.
KOTSCHAWAR, Barbara; SCHOTT, Jeffrey J. The next big thing? The Trans-Pacific Partnership & Latin America. Americas Quarterly, 2013.
PETRAS, James. US-Latin America relations in a time of rising militarism, protectionism and pillage. Global Research, 2009. Disponível em: http://www.globalresearch.ca/us-latin-american-relations-in-a-time-of-rising-militarism-protectionism-and-pillage/13601 Acesso: 25/05/2013.
RIPPEL, Márcio P. O Plano Colômbia como instrumento da política norte-americana para a América Latina e suas consequências. Escola de Guerra Naval, 2004.
SETTI, Ricardo. México, Colômbia, Peru e Chile mostram ao Brasil o que deveria ser feito em vez de permanecer atolado no Mercosul. Revista Veja, 02/06/2013. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/vasto-mundo/mexico-colombia-peru-e-chile-mostram-ao-brasil-o-que-deveria-ser-feito-em-vez-de-permanecer-atolado-no-mercosul/ Acesso: 05/06/2013.
VII Encontro de Chefes de Estado da Aliança do Pacífico. Disponível em http://csis.org/multimedia/audio-pacific-alliance acesso em 31/05/13.

Bruno Hendler é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB e professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba – Unicuritiba (bruno_hendler@hotmail.com).


[1] Áudio da 7ª reunião de cúpula presidencial da Aliança do Pacífico, disponível em http://csis.org/multimedia/audio-pacific-alliance acesso em 31/05/13.
[2] Áudio da 7ª reunião de cúpula presidencial da Aliança do Pacífico, disponível em http://csis.org/multimedia/audio-pacific-alliance acesso em 31/05/13.

A visao realista da crise social, politica, moral atual - Percival Puggina (Zero Hora)


QUAL BOLHAS DE SABÃO
Percival Puggina
Zero Hora, 30 de junho de 2013

            Volta e meia, anos a fio, eu criticava, aqui, a péssima gestão federal dos negócios públicos. O governo ia mal nas coisas importantes. E o que ia bem lhe caía no colo de presente. Presente chinês. O gigante oriental acordara e arrancava o Brasil de seu berço esplêndido. Quanto ao resto - Segurança, Responsabilidade Fiscal, Probidade, Educação, Saúde, Infraestrutura, Tecnologia, Relações Exteriores, as coisas iam mal. Muito cacarejo publicitário e pouco ovo.

            Nós, os poucos que expúnhamos com objetividade a situação nacional, exercíamos tarefa resignadamente inglória. O marketing do governo trovejava informações que nos contradiziam. Afrontávamos a opinião majoritária. Sabíamos que distribuir dinheiro não resolve os problemas nacionais porque o Brasil não é um programa de auditório! Mas o Planalto festejava ao menos um plano mirabolante e bilionário por semana. Até a mídia mundial comprava por bom o discurso oficial! As oposições, ora, as oposições! Primeiro, Lula lhes bateu a carteira ao fazer seu o programa de governo do FHC. Depois, quando Lula passou a sacrificar a austeridade fiscal em favor das reeleições petistas, instalou-se a chamada Brasilha da Fantasia, ou a Fachada de Prosperidade (nas palavras do Financial Times). Mas a oposição política formal, já então, arquejava seu desânimo em meia dúzia de vozes, se tanto, no Congresso Nacional. Enfim, nossa trincheira era tão despovoada que se um gritasse o outro não ouviria. E o petismo ainda nos chamava de golpistas.

            Pois eis que o povo sai às ruas. Os satisfeitos do Bolsa Família e do Bolsa Louis Vuitton ficam em casa. Entende-se. Entende-se, também, os motivos pelos quais os grupos radicais que acionaram a alavanca de partida foram para a marginalidade quando o povo, com suas camisas brancas, tomou conta do pedaço. Assistimos uma surpreendente apropriação pela cidadania de algo que iniciou em mãos erradas. Com raras exceções, a multidão nas ruas repete o que vínhamos dizendo. Claro, há os paus mandados que se infiltram e tentam desviar o foco para cima dos governos não petistas; há os que conscientemente usam a violência para fins políticos e há os que se aproveitam das vidraças quebradas para sua atividade criminosa. A multidão nas ruas embasbacou dois grupos: os detentores de poder e os comentaristas, ingênuos ou militantes da causa, que há anos recebiam os resultados das pesquisas de satisfação como prova suficiente de que tudo ia bem. Pesquisas de satisfação, senhores, tem a ver com mercado. A realidade nacional precisa ser aferida em outras fontes, e tem a ver com o futuro do país em horizontes de curto, médio e longo prazo.

            Rudyard Kipling perguntou certa vez num poema - "O que podem conhecer sobre a Inglaterra os que só conhecem a Inglaterra?". Pois o brasileiro médio sempre se pareceu um pouco com esses ingleses de Kipling. Nos últimos anos, porém, com o dólar barato, milhões de brasileiros saíram a conhecer o mundo. E conheceram melhor o Brasil... Essa massa, da qual Lula se considera santo benfeitor, pôde fazer comparações e concluir que, aqui, exceto os luxuosos palácios do poder, tudo que é público está em frangalhos. Que aqui, impostos coletados em percentuais de Primeiro Mundo se desperdiçam no supérfluo. E que o restante se entrega ao Submundo, sob zelo da mais irretratável impunidade. Ilusões publicitárias são como bolhas de sabão.

A frase da semana: os males do Brasil

Muita ideologia e pouca filosofia, os males do Brasil são!

Maria do Espirito Santo

Popolo mobile: pesquisa de opiniao politica: to the brink, inesperadamente

Brazil Focus – David Fleischer
Special Report-29-06-13 

New Datafolha Poll – Dilma down 27 points

Datafolha conducted a new poll on 27-28 June - two weeks after the massive street demonstrations began that reached over 100 cities in Brazil, complaining that “we don’t feel represented by the political class” – meaning the three powers of the federal government as well as the state and municipal governments.

This poll interviewed 4,717 voters in 196 municípios with a two-point margin of error.  The previous poll was conducted on 6-7 June – where the approval rating of Pres. Dilma declined by eight points (65%57%).  The Folha de São Paulo published this poll on Saturday, 29th June and the results should have a very heavy impact on the strategies of the Dilma government as of 1stJuly.

In this latest poll, her approval rating fell by yet another 27 points to just 30%, while the “Bad/Terrible” rating jumped up 9%25%.  This is the most dramatic change ever detected byDatafolha in such a short (three-week) period – since March 1990, when Pres. Collor imposed his economic plan that confiscated Brazilians’ savings (71%36%)!!!

In December 2005, after the explosion of the mensalãoscandal, Lula’s approval rating dropped to 30%.  The worst approval rating for Pres. Cardoso was 13% in September 1999.  

On the other hand, 68% of those interviewed favored the convocation of a national plebiscite.

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Comments by Tim Power: 

DataFolha: the way they present the numbers is never easy to digest. It's best to subtract ruim/péssimo from ótimo/bom (and leave out the regulares) to get the net approval (positives minus negatives). It would look like this overall:

in March: net +55 points of popularity
on June 6-7: net +46
and now June 27-28: net +5 (the largest recorded drop since Plano Collor)

Doing the same by region with the newest numbers:

Southeast:  +4
South:  -1
Northeast:  +24
North/Center-West: +4 (always distorted by DF)
Overall:  +5

And then the same with MW income brackets:

less than 2 MW: +12
from 2-5 MW: +3
from 5-10 MW: -6
over 10 MW: -12
Overall: +5

These numbers are very interesting: they are like peeling an onion. When things go wrong and you strip away the "soft" support for a popular president, you see the "hard core" of the loyal base. The hard core for Dilma looks an awful lot like the hard core for Lula.

Lula underwent his only popularity meltdown in 2005 because of the mensalão. Here is his "bad year" from May 2005 to the point at which he recovers previous levels of net popularity in mid-2006 (the scandal broke on June 6, 2005):

LULA NET POPULARITY
May-05    21.00
Jun-05    21.00
Jul-05    20.30
Aug-05    16.05
Sep-05    11.80
Oct-05    7.05
Nov-05    2.30
Dec-05    6.90
Jan-06    11.50
Feb-06    16.10
Mar-06    14.80
Apr-06    13.50
May-06    16.23
Jun-06    18.97

So it took Lula about 5 months of twisting in the wind with the mensalão scandal to get to his lowest point, which was +2. Dilma is more or less there already, and it took her 3 weeks, not 5 months. So the Dilma collapse is much more spectacular than Lula's: it's like the difference between running out of gas versus running into a telephone pole.

A few quick thoughts:

1. In terms of distance from the onset of crisis (June 2005 and June 2013) to the next presidential election, the electoral calendar is identical: each president had/has a time horizon of 15 months before facing reelection.

2. It took Lula about 7 months to recover the popularity he enjoyed before the onset of mensalão: a long time, but still with time to spare before the campaign heated up.

3. BUT: Lula needed 7 months at the very height of the commodity boom. The economy was then growing at around 4% with inflation also around 4%: rising expectations. Dilma will probably have equivalent numbers of 2% and 7% over the next year: not as easy to claw her way back in the current economic scenario.

4. On the positive side for Dilma, the numbers for the poor and for the Northeast show a very similar firewall for both presidents. Lula had an obvious base onto which he could retreat and then rebuild from there; that's what he did in 2006. He got beat up badly in the South but it didn't matter much in the end. The numbers show pretty much a similar scenario for Dilma. She remains in a comfortable position among the poor and very secure indeed (+24 points) in the Northeast.

5. If these trends hold for a while, they might (a) make it difficult for a challenger to emerge from the Northeast (like Eduardo Campos), and (b) encourage a future opposition candidate, predictably, to start building off the "old" middle class and the South/Southeast. That's a losing strategy, as Geraldo Alckmin showed us in 2006.

6. But: you can't beat somebody with nobody. So far the wave of protests has not advantaged any single party or candidate in a meaningful way, and that is good news for Dilma. There is still a path to reelection by default.

7. Never underestimate the capacity of the Brazilian political system to absorb dissent!

Warning: in the current scenario, these comments have a short shelf life. I am only certain about the last one :-)


Tim
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Calor do asfalto ‘derrete’ Dilma e reabre 2014
Josias de Souza
29/06/2013 08:28

Digamos que há três semanas Dilma Rousseff tinha fama de gerentona, 57% de popularidade, uma coligação gigantesca, uma reeleição garantida e um padrinho chamado Lula. A situação dela agora é a seguinte: precisa verificar, urgentemente, o que Lula vai fazer quando voltar de sua viagem à África. Ele pode ser a única coisa que lhe resta.
O Datafolha informa que a popularidade de Dilma desabou 27 pontos percentuais em três semanas –de uma altura de 57%, despencou para 30%. E pensar que em março ela colecionava 65%! O último presidente a viver a experiência de um mergulho tão radical foi Fernando Collor. Entre março e junho de 1990, a popularidade dele ruiu 35 pontos –de 71% para 36%.
No caso de Collor, a explicação estava na cara: o confisco da poupança. No caso de Dilma, não há explicações peremptórias. Há no máximo duas probabilidades: o asfalto e a inflação. Se as ruas ensinaram alguma coisa na última quinzena foi que a irritação e a cobrança já não admitem ficar trancadas no Facebook.
Quanto à economia, relatório divulgado nesta semana pelo BC rebaixou a previsão do PIB anual e e elevou a da inflação. E o eleitor, agora tomado de rigores insuspeitados até bem pouco, grita nas esquinas. De acordo com o Datafolha, caiu de 49% para 27% a avaliação positiva da gestão econômica de Dilma.
Assim, a não ser que ocorra o milagre da combinação de um PIBão com uma carestia mixuruca, a vida de Dilma dificilmente voltará a ser como antes. Hoje, se dependesse da vontade da maioria do PT, o candidato do partido à Presidência da República se chamaria Lula.
Antes do tsunami de protestos, a especulação sobre uma eventual derrota de Dilma em 2014 era um desafio à lógica. Era algo equivalente a uma previsão de que o Brasil, jogando no Maracanã, perderia para a seleção do Taiti um jogo em que o juiz seria o Felipão.
O despertar das ruas –na verdade um bocejo de gigante que levou a felicidade do petismo junto com o ar— teve um quê de punição antecipada. Mostrou a Dilma e Lula que a arrogância não é boa conselheira. E informou ao PT que o meio-fio não tem dono.
A elevação da temperatura das ruas produziu em Dilma uma espécie de meltdown –termo incorporado pelo economês na década de 90 para simbolizar a situação de uma economia que desanda e começa a derreter. Mal comparando, pode-se dizer que Dilma está derretendo. O que faz de 2014 uma janela de oportunidades.

- Atualização feita às 17h06 deste sábado (29): medido em intenções de voto, o tombo de Dilma Rousseff mede 21 pontos percentuais, informa o Datafolha. Em três semanas, a ex-favorita despencou de 51% para 30%. Principal beneficiária da erosão, Marina Silva ganhou sete pontos. Foi de 16% para 23%. Aécio Neves beliscou três pontos. De 14%, foi a 17%. Eduardo Campos oscilou um ponto. Tinha 6% e foi a 7%. Se a eleição fosse hoje, haveria um segundo turno, disputado entre Dilma e Marina. Mas a disputa só ocorrerá daqui a um ano e meio. E as ruas informaram que, no Brasil, hoje parece anteontem. Quer dizer: pode acontecer tudo. Ou o contrário.

Brasil: da confusao mental à deterioracao cerebral acelerada (acho que nao tem mais volta)...

Não quero dizer que é terminal, pois essa gente pode ainda descer mais fundo na demência individual e nos delírios coletivos. Mas o que contemplo, o que leio, o que registro, nesta tela tão pequena de meu laptop me faz temer, seriamente, pela deterioração acelerada da saúde mental (não dos brasileiros, mas de certos brasileiros) de altas esferas de nossa tão conspurcada República.
Isso me faz lembrar os tempos de Lima Barreto (que acho que começou a beber e ficou louco de tanta loucura contemplada), autor de memoráveis palavras sinceras (ainda que trágico-cômicas) sobre nossa República tão infeliz. Acho que vamos pelo mesmo caminho, na literatura e na vida real.
Espero não ter o mesmo destino de Lima Barreto, não sem antes escrever algumas páginas tão memoráveis quanto as que ele redigiu naqueles tempos confusos...
E agora? Seria trágico-cômico, ou cômico-trágico?
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 28/06/2013

Depois de se encontrar com os Rimbauds das catracas, a presidente Dilma Rousseff abriu as portas do palácio para outros “movimentos da juventude”, a maioria chapa-branca mesmo, ligada ao PT, ao PCdoB ou ao MST. Todos saíram de lá defendendo, claro!, o plebiscito para a reforma política. À esquerda da presidente, estava sentado Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Faz sentido. Afinal, é ele quem “interlocuta” com os ditos movimentos sociais. À direita, adivinhem… Aloizio Mercadante. Tudo deve andar tão bem na educação que ele pode agora se dedicar às suas funções de primeiro-ministro. Não é uma posição formalizada. Parece ser, assim, uma coisa mais de afinidades eletivas com a chefe. Entre os representantes do “povo” que agora têm voz no Planalto, estava uma jovem que representa a Marcha das Vadias. Brasília é sempre um lugar em que a vadiagem assume um sentido muito particular, não é mesmo? No dia 8 de julho, o governo lança um canal na Internet chamado “Observatório Participativo”.
Leio no Globo Online:
“Os grupos de juventude apresentaram a Dilma uma variada pauta de reivindicações, que passa pela taxação de grandes fortunas, descriminalização do aborto, repressão à violência policial e mais investimentos em políticas para os jovens. O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), se comprometeu a enviar para a presidente um relatório sobre os excessos cometidos pela polícia durante as manifestações país afora.”
Eu nunca vou entender a obsessão dessa gente por matar fetos. Por que os ditos socialistas fazem tanta questão dessa pauta? Nem dá para dizer que seja um resquício de selvageria porque os animais irracionais matam ou para se defender ou para comer. Infelizmente, é um traço humano — de certos humanos — reivindicar o direito de matar quem não tem como se defender. É claro que se trata de uma escolha moral.
Quanto ao mais, olho a lista das entidades, publicada no Globo Online:
Conselho Nacional de Juventude (Conjure), UBES, Movimento Sem-Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Marcha Mundial das Mulheres, Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Levante Popular da Juventude, Rede Fale, Hip Hop, Forum de Juventude de BH, União da Juventude Socialista (UJS), Juventude do PT (JPT), UPL, JSB, JSPDT, JPMDB, UNE, PJ, CTB, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Marcha das Vadias, Fora do Eixo e Agência Solano Trindade.
Boa parte, aí, recebe, direta ou indiretamente, dinheiro público. No próximo post, falarei de um grupo em particular: o “Levante Popular da Juventude”.
Gays
A presidente recebeu também representantes do movimento gay e se disse contra qualquer discriminação — ainda bem! Leio no Globo Online o que segue em vermelho. Volto em seguida:
(…)
Representantes de movimentos gays recebidos pela presidente disseram que saem satisfeitos com o encontro. Segundo eles, a presidente disse que é dever do Estado impedir violência e discriminação contra à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Os participantes disseram, no entanto, que quando eles criticaram o polêmico projeto que propõe a “cura gay”, que tramita no Congresso, Dilma não se pronunciou sobre o assunto.
“Saímos daqui felizes. A presidente disse que o Estado tem o dever de impedir a violência e a discriminação de qualquer natureza”, disse Toni Reis, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
O grupo levou à presidente uma pauta que pede, entre outras coisas, a criminalização da homofobia. Presente ao encontro, a ministra da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse que Dilma cobrou iniciativas para aumentar as estatísticas existentes sobre a violência praticada contra esses grupos.
(…)
Voltei
É impressionante que a imprensa continue a reportar a existência de um projeto de “cura gay”. Isso não existe. A verdade é bem outra, como já deixei claro aqui. Algumas pessoas se irritam quando confrontadas com os fatos? Fazer o quê? Acredito que sua causa pode conviver com os fatos. O projeto contra a homofobia é o PLC 122, que continua autoritário mesmo na versão versão de Marta Suplicy. “Ah, não adianta você criticar porque o primeiro vai ser recusado, e o segundo aprovado”, escreveu anteontem um rapaz, que me dirigiu algumas ofensas. Ainda que seja assim, por que eu deveria dizer que existe um projeto que não existe e que é democrática uma proposta autoritária? Eu  não escrevo para ganhar ou perder. Nem ganho nem perco nada. Escrevo o que acho que devo escrever. Não vou endossar uma inverdade só para não chatear as pessoas… Convenham, não é? Os militantes da causa não precisam do meu apoio. Já contam com a esmagadora maioria da imprensa a seu favor.
Quanto às estatísticas, já passou da hora de fazer um trabalho rigoroso, e isso quer dizer que não pode ficar nas mãos de militantes e prosélitos. As circunstâncias das mortes — a esmagadora maioria de gays masculinos — precisam ser esclarecidas. Até porque, quando um michê mata um cliente, a caracterização de “crime de homofobia” fica um tanto prejudicada — a menos que se considere que o profissional era heterossexual. Era? Mas esse é apenas um aspecto da agenda do dia.
Encerrando
Conforme venho afirmando desde a segunda, dia 17, quando teve início, digamos assim, a nacionalização dos protestos, os vetores políticos todos passaram a apontar para, como é mesmo?, o “progressismo”!
No Brasil, meus caros, a última coisa que a gente vai ver é gente se mobilizando para pedir que o estado intervenha menos nas nossas vidas. O que se quer é justamente o contrário: mais babá!!! Isso dá certo? Resulta em boa coisa? É claro que não!

Mas meus amigos liberais estão encantadíssimos com o momento! Queria muito que eles estivessem certos, e eu, errado.

Humor marquissista para encerrar noite com alguns sorrisos

Eu já resenhei um livro desse portento dos fricotes filosóficos da Fefelech: posso garantir a vocês, foi duro terminar.
Agora uma gozação desse jornalista odiado por gregos e goianos do marquissismo tupiniquim.
Paulo Roberto de Almeida 
Paulo Arantes é um professor de aposentado de filosofia socialista. O que é isso? Não sei. Como Marilena Chaui, ele se quer marxista mesmo, de verdade, do tipo que acredita no socialismo — mas com liberdade, é evidente, menos, suponho, para recalcitrantes. Por isso, migrou do PT para o PSOL. Marilena continua na nave-mãe.  É este senhor aqui, ó.

Já está com 71 anos. Fez parte da geração uspiana que achou que os petistas iriam fazer a revolução — sem sangue se possível; com ele, se necessário, porque vocês sabem como esses brasucas são teimosos e insistem em não reconhecer o valor daqueles que querem libertá-los. Arantes passou 20 anos na USP pregando a chegada do PT ao poder e, desde 2003, é um crítico do partido porque acha que ele não teve coragem de ir à esquerda o bastante.
A gente pensa num senhor de 71 anos e o imagina se comovendo com o sorriso de uma criança, de um netinho, mesmo sem perder o rigor intelectual. Nada disso! Com Arantes, nem rigor nem sorriso. Ele agora resolveu imitar Jean-Paul Sartre nas jornadas de Maio de 1968, na França, quando havia se convertido a uma seita maoista e distribuía o jornal “La Cause du Peuple” (“A Causa do Povo”). O povo não tinha a menor ideia do que eles falavam. Tanto é assim que, ao fim das jornadas, quem se elege presidente da França, em 1969, é o conservador George Pompidou. Vejam estas imagens. Volto em seguida.

Aos 63 anos, um pouco mais jovem do que Arantes, Sartre se junta aos maoistas e passa a pregar a revolução. De Gaulle, um direitista decente, deu ordens para que não o metessem em cana: “Não se pode prender Voltaire”, exagerou. A direita sempre tão generosa com essa gente… Se pudessem, eles teriam prendido De Gaulle


Duas páginas do jornaleco maoista que faz a exaltação da luta violenta, mais ou menos como temos visto Brasil afora. Acima, lê-se: “Alain Geismar nos mostra o caminho da honra”. O caminho, como se vê, é o confronto. Geismar se tornou depois uma figura influente do Partido Socialista Francês e chegou ao Ministério da Educação
A exemplo do filósofo francês — que, à época, já havia conquistado fama mundial —, Arantes, em busca ao menos da fama municipal ao menos, decidiu, nesta quinta, dar uma aula em praça pública sobre “passe livre”. É constrangedor.
Um grupo de umas 300 pessoas acompanharam a cascata do Sartre caipira, em frente à Prefeitura. Também falou Lúcio Gregori, que foi secretário de Luíza Erundina quando prefeita e defendia a tarifa zero. Ele só não explicou por que ele próprio não a implementou, mas acredita que outros podem fazê-lo. Arantes, que tem uma formação intelectual respeitável, não quer mais saber de filosofia faz tempo. Quer ação. Já há alguns anos, seus textos, pra lá da linha do compreensível — não porque falte inteligência ao leitor, mas porque falta objeto ao autor —, insinuam que a reflexão é só uma modo de procrastinação. Esse portento revolucionário que vocês veem lá no alto quer é luta, ação.
O evento teve o apoio do Passe Livre, que trabalha, não custa lembrar, em parceira com o PSOL e outras legendas de extrema esquerda. Assim como Sartre admirava Daniel Cohen-Bendit (o Ruivo), um dos líderes da revolta estudantil de Maio de 68, Arantes tenta, digamos assim, se alimentar da juventude dos coxinhas radicais do Passe Livre.

Daniel Cohen-Bendit, o ruivo maoista de Jean-Paul Sartre

Matheus Preis, o loirinho passe-livrista de Paulo Arantes
A história, claro, não se repete, mas as comédias costumam ter semelhanças estruturais. Em 1968, Cohen-Bendit — que a imprensa chamava de “Dany, Le Rouge” (“Dani, o Vermelho, porque de extrema esquerda e porque ruivo) — subiu num grande leão de Bronze na praça Denfert-Rochereau (imagem abaixo), para liderar uma grande passeata. E convocou todas as correntes que estavam na rua: trotskistas, maoistas, socialistas moderados… E emendou: “A canalha stalinista vai para o fim do cortejo”, deixando clara a hostilidade à esquerda tradicional. O Partido Comunista da França retirou o apoio aos protestos depois de algum tempo porque eles se voltaram também contra a esquerda tradicional.

Assim, não me peçam para rir de uma comédia a que já assisti. Não me peçam para rir de uma farsa que estruturalmente se repete. O fato de o Passe Livre criticar também os petistas não me comove — porque se trata de uma crítica feita pela esquerda. Hoje, usam a catraca como símbolo porque isso é parte de uma estratégia de luta. Eles mesmos confessam que o transporte é apenas o instrumento de “superação do capitalismo”.
Eu não acho que o capitalismo corra risco por causa desses bananas. Mas acho um absurdo que se sintam no direito de infernizar a vida de milhões de pessoas com sua “utopia” aloprada, que, de resto, vai acabar punindo os mais pobres.
Paulo Arantes e outros babões de sua estirpe fracassaram no exercício do ódio como instrumento de pensamento. E agora tentam reunir o que lhes resta de seiva supostamente revolucionária para fazer da catraca um instrumento de mudança do mundo. Espero que não comece a aparecer em público com o elástico da cueca à mostra. Nunca sei qual é o limite dessa gente.
É patético! Chegou ao Brasil, reitero, o pensamento de alguns neomarxistas que asseguram que o grande inimigo da “liberdade” não é o mais o capitalismo, mas a democracia representativa. E parte da imprensa, pondo uma corda no próprio pescoço, comprou essa causa!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Marx contra os marquissistas e os keynesianos de botequim (e os de clube de ricos também)

Quando Marx refutou Keynes e os atuais marxistas
por , Instituto Von Mises Brasil, segunda-feira, 27 de maio de 2013

 

marx1.pngMarxistas, social-democratas e demais defensores do intervencionismo estatal sempre afirmaram que determinados setores da economia — principalmente saúde, educação e segurança, mas também o setor elétrico e de telecomunicações — não podem ficar por conta do livre mercado e da livre concorrência porque a ganância e a busca pelo lucro não apenas são incompatíveis com tais setores, como também levariam a preços absurdamente caros, o que prejudicaria principalmente os mais pobres.
Já os economistas seguidores da Escola Austríaca sempre afirmaram categoricamente que é justamente a busca pelo lucro em um ambiente sem protecionismos, sem privilégios, sem agências reguladoras e sem subsídios o que gera serviços da alta qualidade e preços baixos.
E a explicação é simples: como empresários, no geral, não gostam de concorrência, eles sempre se mostram ávidos por fazer lobby e utilizar o poder estatal em seu próprio interesse com o intuito de banir a concorrência e solidificar sua posição de domínio.  Eles conseguem isso por meio de tarifas protecionistas, subsídios e agências reguladoras que cartelizam o mercado e impedem a entrada de concorrentes.
Já o livre mercado, arranjo em que não há protecionismo, subsídio e agências reguladoras, é um sistema em que são os consumidores que controlam os empresários.  No livre mercado, as empresas não têm opção: ou elas servem o consumidor de maneira eficaz ou elas fecham as portas.  E servir o consumidor de maneira eficaz significa estar sempre ofertando bens e serviços de qualidade crescente a preços cada vez menores.
É justamente o governo — com seus subsídios, privilégios especiais (como tarifas protecionistas e execução de obras públicas com empreiteiras privadas) e restrições à concorrência (por meio de agências reguladoras e exigências burocráticas) — quem promove monopólios e oligopólios, e consequentemente preços altos e serviços de baixa qualidade.  Sendo assim, se você quiser serviços de qualidade a preços cada vez menores, você tem de defender o livre mercado.
Sabe quem concorda com tudo isso?  Ninguém menos que Karl Marx.  Não deixa de ser curioso constatar que Marx entendeu perfeitamente essa realidade.  Mais ainda: ele foi explícito em demonstrar isso.  No quesito "efeitos benéficos da livre concorrência", Marx concorda com os austríacos e discorda de todos os atuais marxistas e demais intervencionistas.  Veja o que ele escreveu logo nas páginas iniciais do Manifesto Comunista:
A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem.
Em suma: além de creditar à burguesia e aos seus instrumentos de produção — isto é, ao sistema de lucros e prejuízos — a façanha de retirar nações da barbárie e levá-las à civilização, Marx afirma categoricamente que o modo de produção burguês — que nada mais é do que a busca pelo lucro — gera mercadorias a preços baratos.  E não apenas isso: ele afirma que o sistema de lucros e prejuízos compele todas as nações a adotarem este modo de produção, sob pena de se arruinarem por completo caso não o façam.
Ou seja, o real problema dos atuais marxistas e demais intervencionistas que se dizem contrários a serviços de saúde, educação, segurança, energia e telecomunicações serem ofertados em um ambiente de livre concorrência, pois seriam caros e inacessíveis para os pobres, é que eles certamente não leram Marx.  Se leram, não entenderam.  Marx entendeu perfeitamente que a busca pelo lucro sob um arranjo de livre concorrência leva ao barateamento dos produtos e serviços, e que tal barateamento é "a artilharia pesada com que [o sistema de lucros] ... compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia [e se tornarem civilizadas], se não quiserem arruinar-se."
Ao contrário dos marxistas atuais que defendem a estatização de vários serviços sob o argumento de que isso reduziria seus preços, Marx entendeu que é a busca pelo lucro o que realmente derruba os preços, e não a estatização destes serviços.
Como se não bastasse, Marx também disparou um petardo contra keynesianos defensores de estímulos fiscais e de políticas de endividamento estatal.  Marx zombou o keynesianismo antes mesmo de este sistema ter sido criado — algo possível porque não havia absolutamente nada de original nas ideias de Keynes.
Eis o que escreveu Marx em O Capital, capítulo 24, seção 6, "A Gênese do Capitalista Industrial":
A única parte da chamada riqueza nacional que realmente está na posse coletiva dos povos modernos é a sua dívida pública.  Daí ... a doutrina moderna de que um povo se torna tanto mais rico quanto mais profundamente se endividar.  A dívida pública torna-se o credo do capital.  E, com o surgir do endividamento do Estado, vai para o lugar dos pecados contra o Espírito Santo — para os quais não há qualquer perdão — o perjúrio contra a dívida do Estado.
Como com o toque da varinha mágica, [a dívida pública] reveste o dinheiro improdutivo de poder procriador e transforma-o assim em capital.  ... [Mas] a moderna política fiscal... traz em si própria o germe da progressão automática. A sobretaxação não é um acidente, mas sim um princípio.
Conclusão
Eis, portanto, as duas crenças que um genuíno seguidor de Karl Marx deve apresentar: a busca pelo lucro em um ambiente de livre mercado gera redução de preços, e políticas fiscais keynesianas, além de serem um método de escravização, fazem com que dinheiro improdutivo seja ilusoriamente visto como capital gerador de riqueza.  Mais ainda: segundo Marx, criticar o endividamento do estado passou a ser visto pelos defensores da gastança estatal como um ato equivalente a uma blasfêmia contra o Espírito Santo.
Logo, se você é um marxista defensor dos pobres e quer que eles tenham acesso a bens e serviços de qualidade a preços baixos, você tem de defender o livre mercado.  Se você defende que o povo tenha poder sobre as empresas, você tem de defender o livre mercado.  E se você é contra a escravização do povo pelas elites financeiras, você tem de defender que os gastos do governo sejam restringidos ao máximo. 
Agora, se você defende que o governo regule o mercado e gaste demasiadamente, você estará defendendo os interesses das grandes empresas e das elites financeiras, e estará defendendo que elas tenham privilégios sobre os pobres e que elas os oprimam com a abolição da concorrência, com preços altos e com serviços precários.
Palavras de Marx.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

O Brasil enlouqueceu e vai recuar muito, gracas a politicos demagogos e mediocres - Leandro Roque

O título acima é meu, mas acho que traduz perfeitamente o sentido deste longo artigo de Leandro Roque. Manifestações de rua se prestam a qualquer coisa, algumas sensatas, outras altamente delirantes. Por enquanto ganham estas últimas, não por que sejam mais factíveis, mas porque encontraram políticos medíocres, populistas, demagogos, incompetentes, eu diria até irresponsáveis, no limite da criminalidade econômica, que aproveitam para atender alguns dos slogans mais malucos -- como forma de garantir seu voto no ano que vem -- e vão precipitar o Brasil numa crise profunda, lenta e vergonhosa, feita de decadência econômica e surrealismo político.
Claro, no meio dessas manifestações, tem sempre aquelas pessoas de boa vontade, geralmente ingênuas economicamente, mas que estão exasperadas com a falta de segurança, com a desfaçatez dos mesmos políticos medíocres, que querem um país decente, livre da corja de bandidos que o tem assaltado continuamente, sem corrupção, com segurança, sem inflação, com honestidade, sem oportunismo e sem mentiras, com boa fé e responsabilidade, e que manifestam sua indignação com tudo o que vêem no cenário político.
Tem também os energúmenos de alguns movimentos surrealistas, que pensam que vão derrubar o capitalismo, e, como não poderia deixar de ser, tem os vândalos e criminosos profissionais, que estão ali para quebrar um pouco e roubar o que der. Inclusive jovens no geral bem comportados acabam se juntando aos vândalos no calor da hora: turbas desenfreadas agem como certas torcidas de futebol, ficam cegas e desembestadas, no limite da selvageria.
Do outro lado, tem a polícia emasculada e a imprensa abobalhada, feita de "profissionais do jornalismo", no limite do analfabetismo funcional.
Pronto, está aí a receita para nossa lenta decadência, permeada de gestos medíocres e oportunismos desonestos, como o de certo personagem, que acredita poder voltar triunfalmente graças ao caos que ele mesmo alimenta e estimula. Pelo que vejo, acho que vai ser difícil recuperar no curto e médio prazo, inclusive porque a dita oposição é absolutamente medíocre, inconsciente, inconsequente e impotente (fui claro?).
Desculpem o pessimismo, mas ao ver e ouvir tanta baboseira brotando de todas as partes, impossível não ser realista. Fiquem com um bom ensaio sobre nossa pior hora de loucuras coletivas.
Vou sublinhar apenas minhas poucas discordâncias com este excelente artigo.
Não concordo, por exemplo, em que "Já a depredação de patrimônio público recebe uma punição mais severa e o arruaceiro de fato pode ir para a cadeia.  Tal inversão de valores é digna de países de mentalidade coletivista."
Concordo inteiramente com a inversão de valores: esse é o resultado de anos, décadas, de educação à la Paulo Freire, a esse esquerdismo vulgar e mentiroso que prega contra o capitalismo, e que contamina sobretudo alguns juízes que pensam fazer justiça com suas próprias mãos (e patas). Mas vejo que grupelhos neobolcheviques como o MST podem depredar propriedade pública e privada à vontade, que nada lhes acontece: podem invadir o Congresso, os ministérios, as sedes do INCRA (dominado por outros malucos), que ficam impunes...
Também não acho que "Neste ponto, como é de praxe na América Latina, pode ocorrer um golpe de estado.  O governo é derrubado e uma junta militar assume o controle."
Não acredito que tenhamos condições, pelo menos no Brasil, para esse tipo de aventura caudilhesca ou militarista. Isso passou, e as FFAA vão sofrer, como o conjunto da classe média, a erosão da autoridade, da legitimidade, da moralidade, vão padecer do aumento da criminalidade, da roubalheira generalizada, da decadência do país, sem ter condições de atuar fora dos quadros institucionais. Eventualmente lideranças mais responsáveis assumirão o comando político da nação, mas o desgaste e o retrocesso já terão sido fatais para o futuro do país.
Vamos continuar nos arrastando duramente pelas trilhas escarpadas da História, avançando um passo e recuando dois, caindo e levantando, com imensas dificuldades.
Não sou pessimista. Apenas já vi esse mesmo filme antes, mais ou menos 50 anos atrás...
Paulo Roberto de Almeida

O brasileiro foi às ruas e gostou - mas continua sem entender nada
por , Instituto Von Mises Brasil, sexta-feira, 28 de junho de 2013



brasil.jpgApós mais de duas semanas de protestos diários nas ruas, já é possível fazer uma análise mais acurada das motivações das pessoas envolvidas nas manifestações. 
Até o momento, há dois grupos envolvidos.  Um grupo é formado por pessoas que fazem reivindicações as mais diversas e opostas possíveis: há desde libertários pedindo redução de impostos, livre concorrência e desregulamentações a grupos comunistas pedindo a estatização geral do transporte público.  Há grupos que fecham estradas pedindo a construção de viadutos, a instalação de lombadas eletrônicas e o barateamento do sistema de transportes, e há grupos que fecham avenidas exigindo maiores salários para professores e médicos, e mais recursos direcionados para a saúde e a educação.  Há estudantes universitários pedindo mais bolsas e um maior valor para as bolsas, e há professores universitários querendo que seus salários sejam equiparados aos dos professores das "universidades de ponta".  Há alienados que manifestam apenas pelo prazer de segurar um cartaz e gritar refrãos bacanas e há espertalhões que utilizam estes alienados para aumentar o coro em prol de suas reivindicações.
A esmagadora maioria clama pelo "fim da corrupção" e por mais e melhores serviços públicos, o que inclui "transporte público, gratuito e de qualidade", o que é equivalente a um círculo triangular.  E, até o momento, a vitória tem estado majoritariamente do lado estatista: os governadores do Rio Grande do Sul (Tarso Genro, do PT) e de Goiás (Marconi Perillo, do PSDB) acabam de anunciar o passe livre estudantil, o que significa que os pobres agora pagarão pelo transporte de universitários.  Já o senador Renan Calheiros, ávido por melhorar sua reputação perante a esquerda estudantil, foi ainda mais longe e aprovou em regime de urgência a votação da proposta de passe livre estudantil para simplesmente todo o país.  Basta o Senado aprovar e a estrovenga estará implementada.  O PLS 248/2013 "assegura gratuidade no sistema de transporte público coletivo local a estudantes do ensino fundamental, médio ou superior regularmente matriculados e com frequência comprovada em instituição pública ou privada."
Antes disso, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado já havia aprovado uma PEC que classifica o transporte como um "direito social".
O outro grupo é formado por arruaceiros — que são formados por marginais oriundos de todas as partes do país — que estão ali apenas pelo prazer de vandalizar e destruir propriedade privada.  O ocorrido na quarta-feira passada em Belo Horizonte foi sintomático: várias concessionárias de veículos foram saqueadas, incendiadas e completamente depredadas, levando a uma perda total de estoques.  Uma revendedora de motos foi invadida e, não conseguindo roubar as motos, os arruaceiros optaram por incendiá-las nas ruas.  (Veja as imagens a partir do marco 2:00).  Em Porto Alegre, além de dois prédios públicos, dois prédios residenciais, nove agências bancárias e 21 lojas foram depredadas e saqueadas, e 20 contêineres de lixo foram virados e incendiados.  Atos semelhantes ocorreram nas manifestações de todas as capitais do país.
Quanto a este segundo grupo, não há nenhuma controvérsia sobre o que deve ser feito.  Dado que o governo existe e dado que ele é uma instituição que detém o monopólio da violência, então sua função precípua é utilizar esta violência para defender o indivíduo e a propriedade privada de ataques violentos.  Logo, a polícia deve ser completamente liberada para ministrar punição instantânea a estes arruaceiros.  Mas isso não irá ocorrer porque nossa Constituição socialista não considera que danos à propriedade privada sejam crimes sequer dignos de encarceramento.  No Brasil, se você vandalizar um carro ou destruir uma agência bancária ou uma concessionária de veículos o máximo que irá lhe ocorrer será a prestação de serviços comunitários ou o pagamento de algumas cestas básicas.  Já a depredação de patrimônio público recebe uma punição mais severa e o arruaceiro de fato pode ir para a cadeia.  Tal inversão de valores é digna de países de mentalidade coletivista.  A devoção à inviolabilidade da pessoa e da propriedade privada não faz parte do nosso sistema de valores.
Os motivos das manifestações
Mas a intenção deste artigo não é se concentrar nos arruaceiros, mas sim nos motivos que levaram as pessoas às ruas para fazer reivindicações.  E o fato é que quem acompanha nossos artigos sobre a economia brasileira aqui no IMB não deveria estar surpreso com as reivindicações, mesmo com aquelas que involuntariamente clamam por mais estado.  Tudo está ocorrendo exatamente como explica a teoria dos ciclos econômicos.
Há duas grandes motivações que estão levando as pessoas às ruas: uma é de cunho econômico e a outra é de cunho emocional.  Só que ambas são interligadas.
O período que vai de 2007 até meados de 2011 foi mágico para a economia brasileira.  Mesmo a recessão de 2009 — que foi curta pelos motivos explicados aqui — não abalou em nada a confiança do brasileiro de que o futuro finalmente havia chegado, que o país deixaria de ser uma eterna promessa, e que o gigante finalmente estava desperto. 
Ledo engano.  Tudo não passava de um truque possibilitado pela expansão artificial do crédito, algo com o qual o brasileiro ainda não estava acostumado.  A expansão artificial do crédito não gera prosperidade, mas sim uma enganosa aparência de pujança.
No nosso atual sistema monetário e bancário, quando uma pessoa ou empresa pega empréstimo, os bancos criam dinheiro do nada (na verdade, meros dígitos eletrônicos), emprestam este dinheiro e cobram juros sobre eles.  Ou seja, todo esse processo de expansão de crédito nada mais é do que um mecanismo que aumenta a quantidade de dinheiro na economia.   Esse aumento da quantidade de dinheiro na economia faz com que, no primeiro momento, haja uma grande sensação de prosperidade.  A renda nominal aumenta, os investimentos aumentam, o consumo aumenta e o desemprego cai.
A sensação vivenciada pelas pessoas durante essa fase de prosperidade artificial é maravilhosa: a renda nominal das pessoas cresce anualmente; investidores se animam ao ver que o valor de suas ações cresce diariamente; as indústrias de bens de consumo conseguem vender tudo que põem no mercado e a preços crescentes; os estoques das empresas são prontamente vendidos; apartamentos são vendidos ainda na planta; novos empreendimentos são continuamente iniciados; carros zero são vendidos aceleradamente; novos restaurantes e novas lojas são inaugurados diariamente; os preços e os lucros sobem mensalmente; trabalhadores encontram empregos a salários nominais cada vez maiores; restaurantes estão sempre cheios e com longas listas de espera apenas para arrumarem uma mesa; trabalhadores e seus sindicatos veem o quão desesperadoramente empresários estão demandando seus serviços em um ambiente de pleno emprego, aumentos salariais e (nos países mais ricos) imigração; líderes políticos se beneficiam daquilo que parece ser uma economia excepcionalmente boa, a qual eles venderão ao eleitorado como resultado direto de sua liderança e de suas boas políticas econômicas; burocratas responsáveis pelo orçamento do governo ficam impressionados ao descobrir que, a cada ano, a receita está aumentando em cifras de dois dígitos.
Porém, tal arranjo não pode durar.  Há um enorme descoordenação entre o comportamento dos consumidores e dos investidores.  Os consumidores seguem consumindo sem a necessidade de poupar, pois a quantidade de dinheiro na economia aumenta continuamente, o que torna desnecessária qualquer abstenção do consumo.  E os investidores seguem aumentando seus investimentos, os quais são totalmente financiados pela criação artificial de dinheiro virtual feita pelos bancos e não pela poupança genuína dos cidadãos.  Tal arranjo é completamente instável.  Trata-se apenas de uma ilusão de que todos podem obter o que quiserem sem qualquer sacrifício prévio.
No Brasil, os indivíduos intensificaram seu endividamento para poder consumir, na crença de que a expansão do crédito continuaria farta e que sua renda futura continuaria aumentando, o que facilitaria a quitação destas dívidas.  Já as empresas embarcaram em investimentos de longo prazo estimuladas tanto pela expansão monetária coordenada pelo Banco Central (o que fez com que os investimentos se tornassem mais financeiramente viáveis) quanto pela expectativa de que o aumento futuro da renda possibilitaria o consumo dos produtos criados pelos seus investimentos. 
No entanto, este aumento do endividamento também trouxe um aumento nos calotes, o que deixou os bancos mais cautelosos em continuarem expandindo o crédito.  E os bancos estarem mais cautelosos significa menor expansão da quantidade de dinheiro na economia (como mostram os gráficos deste artigo).  Consequentemente, a taxa de crescimento da quantidade de dinheiro na economia brasileira começou a desacelerar, o que levou a uma estagnação da renda nominal das pessoas.  Isso fez com que o modelo de crescimento baseado na simples expansão do crédito se esgotasse.
No entanto, os preços continuaram subindo, tanto em decorrência de toda a expansão monetária que já havia ocorrido quanto pela súbita desvalorização da taxa de câmbio ocorrida em 2012 e intensificada agora em 2013, o que tornou as importações mais caras e as exportações mais atraentes.  Uma combinação entre menos importações e mais exportações reduz a oferta de bens no mercado interno, o que gera uma pressão nos preços destes bens.
Esse arranjo que combina renda nominal estagnada, preços em contínua ascensão e endividamento (e inadimplência) em alta está gerando não apenas uma enorme sensação de aperto financeiro nos brasileiros, como também trouxe uma grande frustração a estas pessoas.  Aquela economia que outrora parecia invejável e rumo a um futuro auspicioso repentinamente estagnou-se, perdeu todo o seu brilho e, agora sem essa camuflagem, explicitou toda a sua realidade: infraestrutura caótica, serviços públicos marfinenses, inflação de preços sempre acima da meta do Banco Central (meta esta que já é alta até mesmo entre países em desenvolvimento), endividamento crescente, renda estagnada e famílias cujos salários mal chegam ao final do mês.
010210-istoe.jpgUm perfeito exemplo de como uma expansão econômica artificial mexe com o psicológico e com o senso de realidade das pessoas nos foi fornecido por esta capa da revista IstoÉ, de 6 de janeiro de 2010, na qual o hebdomadário dizia que já éramos uma potência:
Segundo a reportagem:
"O Brasil está conseguindo o raro feito de extrair opiniões quase unânimes mundo afora. São poucos, pouquíssimos, os economistas que ousam discordar de que o País entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado. E mais: são ainda mais raros aqueles que duvidam da capacidade de o Brasil se tornar uma das maiores potências econômicas do planeta em um par de dezena de anos."
Dentre os "poucos, pouquíssimos, economistas que ousam discordar de que o País entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado" certamente estão os economistas deste site, que ainda em 2010 alertavam que tudo era infundado.
É claro que, após ter sido bombardeado por inúmeras notícias como essa durante quase 3 anos, é natural que o brasileiro médio hoje se sinta deprimido, e até mesmo revoltado, ao constatar que foi enganado e que a economia pujante que lhe haviam prometido nada mais era do que um conto de fadas.  Ludwig von Mises explicou bem este componente emocional em suas obras.  As pessoas se acostumam a um padrão de vida crescente durante a fase da expansão econômica artificial e, mais tarde, quando a nova realidade se impõe avassaladoramente, elas se recusam a aceitar que tudo não havia passado de uma gostosa mentira, pois imaginavam que aquela fase próspera realmente representava um novo e definitivo padrão.  Os países da Europa mediterrânea estão vivenciando o mesmo fenômeno.
Aturar corrupção, uma infraestrutura caótica e serviços públicos moçambicanos é relativamente fácil quando se está com a renda crescendo mais que os preços e com a capacidade de consumo em alta.  Porém, tão logo esses indicadores se invertem e o endividamento teima em não cair, a depressiva realidade se impõe e resta ao cidadão ir protestar nas ruas clamando por medidas que arrefeçam sua situação.  Ninguém vai às ruas protestar contra a corrupção ou para exigir melhorias na saúde, na educação e nos demais serviços públicos quando a economia está com bons indicadores, a capacidade de consumo está em alta e o dinheiro chega até o final do mês.  No entanto, basta esses indicadores piorarem, que todo o esforço de mobilização se torna mais fácil.  Ou será que alguém acredita que Collor caiu por causa de um Fiat Elba?
A verdade é que o povo brasileiro queria crédito farto a juros baixos para comprar imóveis, carros, motos, televisores e outros eletrodomésticos.  Conseguiu.  Queria que o governo expandisse continuamente seus gastos para, dentre outras coisas, aumentar as contratações para o setor público, que é o objetivo de vida de vários integrantes da classe média.  Conseguiu.  Queria que o governo protegesse a indústria nacional e seus empregos aumentando as alíquotas de importação de praticamente todos os produtos estrangeiros (chegando ao ponto organizar operações ao estilo da Stasi nos aeroportos, abrindo malas e confiscando até mesmo as roupas que os brasileiros compravam no exterior).  Conseguiu.  Aceitou que o governo utilizasse o BNDES para conceder empréstimos subsidiados para grandes empresas, as quais iriam se transformar em "campeãs mundiais".  E defendeu quando o governo obrigou todas as grandes empresas do país a produzir utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil, o que deu a estes fabricantes a capacidade de aumentar seus preços sem sofrer concorrência.
O povo aprovou tudo isso, mas estranhamente não quer arcar com as consequências destas políticas, que são o aumento da inflação e do endividamento, a estagnação da renda, e a perpetuação da ineficiência.  E não apenas não quer arcar, como está pedindo mais ação justamente do ente que causou tudo isso.  Trata-se de um exemplo clássico de um povo que não sabe estabelecer uma relação de causa e efeito.
Conclusão
Como já explicou o economista Gary North, a maioria dos protestos de rua tem uma mesma característica: uma hora eles acabam.  É impossível manter protestos maciços como estes que estamos vivenciando por um longo período de tempo.  Ou os manifestantes se cansam e perdem a motivação, ou as autoridades se tornam mais bem organizadas e passam a reprimir com mais vigor.  Mas há também uma pequena chance de as coisas irem para o lado oposto.  Logo, quando demonstrações como essa começam a ocorrer, ou elas se enfraquecem e desaparecem ou elas se agravam e acabam derrubando o governo.
Para o governo, a melhor estratégia é continuar prometendo reformas.  Se o povo engolir as promessas, as manifestações irão acabar.  Mas essa estratégia é um tanto arriscada, pois pode ser que as manifestações ganhem novos adeptos, se espalhem por todo o país e cheguem a um ponto em que a própria legitimidade do governo é colocada em xeque.  Neste ponto, como é de praxe na América Latina, pode ocorrer um golpe de estado.  O governo é derrubado e uma junta militar assume o controle.
Uma coisa boa que poderia advir destes protestos seria se eles solapassem a confiança e a esperança que o povo brasileiro deposita no estado.  Se eles erodissem a santidade do governo, se eles explicitassem a incompetência do governo e fizessem com que as pessoas finalmente entendessem a verdadeira natureza do governo, já teriam feito algo positivo.  Qualquer coisa que enfraqueça a crença no estado, e que não recorra à violência, é positiva.  Se uma geração de jovens entender que não deve depositar no governo suas esperanças de uma vida melhor, então as manifestações terão gerado resultados positivos.  Para que isso ocorra, é essencial que grupos pró-liberdade e pró- livre mercado se aproveitem desta oportunidade para difundir a mensagem de que menos governo e menos burocracia geram mais liberdade e mais prosperidade.  Isso sim poderia gerar efeitos positivos.
Mas não tenho muitas esperanças quanto a isso.  No geral, estes manifestantes são impermeáveis à lógica e estão defendendo apenas mais espoliação e mais verbas para políticos e sindicatos, ainda que não entendam que é isso que eles estão fazendo.
O fato é que, com a renda estagnada, com a inflação de preços em teimosa alta, com o endividamento e a inadimplência em níveis inauditos, e com o real se esfacelando perante o euro e o dólar, encarecendo sobremaneira as importações de insumos básicos e diminuindo nosso padrão de vida — exatamente como queriam o Banco Central e o Ministério da Fazenda —, há um risco real de o caldo entornar e a situação ficar realmente fora do controle.

Estamos vivenciando exatamente aquilo que ocorre quando se entrega o comando da economia a pessoas que não têm a capacidade de gerenciar nem sequer uma carroça de pipoca.  A democracia e o apelo das massas — exatamente o arranjo que todo mundo venera — levaram a isso.  Não há por que reclamar e nem há o que se estranhar.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.