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sábado, 10 de setembro de 2016

Populismo economico e ‘destruicao destrutiva’ na America Latina - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente artigo publicado, e ele deve servir de base para  palestra na Primeira Semana Pela Liberdade, promovida pelo capítulo de Brasília dos Estudantes pela Liberdade (Auditório de Ciência Política, UnB; 16/09/2016, 15:10hs; EPL-Brasília.
Paulo Roberto de Almeida  



Populismo econômico e ‘destruição destrutiva’ na América Latina

Paulo Roberto de Almeida
  
Destruction is always creation.
John Muir, letter to Ralph Waldo Emerson, March 26, 1872.
In: Andrea Wulf, The Invention of Nature: the adventures of Alexander von Humboldt, the lost hero of Science (London: John Murray Publishers, 2015). 

Poucos anos depois que Karl Marx, no primeiro volume de Das Kapital – em 1867, o único que ele publicaria em vida –, tivesse formalizado sua concepção acerca dos poderes destrutivos do capital, como condição para a criação de novas forças produtivas e novas relações de produção, o conservacionista pioneiro e promotor do movimento ambientalista nos Estados Unidos John Muir, discípulo intelectual de Alexander von Humboldt, expunha, em carta ao amigo transcendentalista e poeta Waldo Emerson, sua crença em que mesmo fenômenos naturais aparentemente destrutivos serviam para criar novas formas de vida. Em outro sentido, Lavoisier tinha expresso a mesma ideia algum tempo antes, quando disse que na natureza nada se criava ou se perdia, mas que tudo se transformava. Talvez, nenhum dos três tivesse refletido sobre essa bizarra, ou até mesmo essa inacreditável capacidade que possuem certos seres humanos, ou certos grupos sociais, de destruir instituições criadas pela própria sociedade, sem nada colocar no lugar. Em nenhuma outra região do mundo essa notável bizarrice humana exibiu-se de forma tão exuberante quanto na América Latina, aliás de forma recorrente, o que pode ser um vício, mas também um “pecado original”.
O título deste ensaio expõe conceitos cujo sentido caberia explicitar antes de penetrar no âmago do argumento aqui desenvolvido em relação a um continente que insiste em desmentir Marx e os demais. Os termos casados de “populismo econômico” e de “destruição destrutiva” nem sempre se apresentam combinados dessa forma, embora o processo em questão, o populismo, geralmente de caráter político, parece se casar perfeitamente com o itinerário frustrante da América Latina ao longo dos dois séculos desde sua independência. Vamos tentar ver como e porque.
O conceito de populismo aparece usualmente associado a práticas políticas bastante conhecidas na América Latina, misturado a condutas obviamente popularescas, isto é, demagógicas e caracterizadas por muita enganação do povo mais humilde. O populismo de tipo econômico seria uma simples derivação desse primeiro tipo, feito de políticas econômicas irresponsáveis, sobrevalorização cambial, controles de preços, emissionismo desenfreado (para justamente sustentar o nível de gastos públicos necessários para assegurar uma boa e fiel clientela eleitoral), embromação deliberada em direção dos mais pobres, enquanto se continua a beneficiar os estratos privilegiados da sociedade. Em síntese, o populismo econômico significa um conjunto de medidas de caráter redistributivo e de incitação artificial ao consumo e ao crescimento, mas que se revela insustentável no médio prazo, que sempre redunda no esgotamento dos recursos colocados à disposição do governante e que termina, ao fim e ao cabo, por precipitar uma crise e a consequente derrocada do modelo adotado.
O termo de “destruição destrutiva”, por sua vez, remete ao conceito formulado concebido pelo economista austríaco – mas não da escola austríaca de economia – Joseph Schumpeter, de “destruição criadora”, destinado a designar o fluxo contínuo de transformações tecnológicas no seio de um processo produtivo, que anula procedimentos anteriormente usados, destrói velhos métodos de produção, em favor de técnicas inovadoras que alteram significativamente o caráter de um determinado ramo ou de todo um setor da atividade econômica. Nada mais ilustrativo desse conceito do que as carruagens puxadas a cavalos sendo substituídas por veículos a motores de combustão interna, do que computadores tomando o lugar das máquinas de escrever, ou a internet aposentando a correspondência postal e os milhões de quilômetros de fios e cabos que no passado levavam mensagens telegráficas e comunicações telefônicas. Schumpeter considerava esse processo como o “fato essencial do capitalismo”, mas a verdade é que ele ocorreu e ocorre em qualquer “modo de produção”.
Todos esses exemplos são representativos da “destruição criadora”, no sentido dado ao termo por Schumpeter, baseando-se, aliás, na ideia já exposta por Marx no Capital. O que todavia pretendemos ilustrar aqui é um processo original de destruição puramente destruidora acarretado pelo populismo econômico, tal como praticado em diversos países da América Latina. De fato, poucas regiões do mundo, ou poucos outros países tomados individualmente, foram tão completamente dominados, e arrasados, pelo populismo econômico quanto países da América Latina, em quaisquer etapas de seu desenvolvimento desde a independência. Poucos se salvaram do desastre acarretado por práticas muito pouco schumpeterianas, em fases específicas de suas trajetórias respectivas, embora a extensão e a profundidade desse desastre tenham variado de um lado a outro: alguns incidiram poucas vezes no “mal do século”, enquanto outros (como a Argentina, por exemplo) se especializaram em repetir várias vezes a mesma história. O Brasil, aliás, não ficou muito atrás, parecendo seguir, segundo alguns economistas, as bobagens perpetradas pelo país platino pouco tempo depois, ou cometendo os seus próprios equívocos em total independência. De certa forma, o Brasil merece mesmo uma espécie de Prêmio Ignóbil da história monetária mundial: afinal de contas, qual outro país consegue igualar a proeza pouco recomendável de exibir OITO moedas em sua trajetória econômica, sendo seis padrões monetários numa única geração, pior, num espaço de tempo inferior a dez anos?
A esse propósito, é preciso ainda fazer uma qualificação importante: geralmente se associa o populismo econômico a políticas de esquerda, à demagogia econômica de tipo redistributivo, ao inflacionismo irresponsável ou a manipulações cambiais de diversos tipos. Nem sempre é assim, pois também se pode ter um populismo econômico de direita, feito de nacionalismo exacerbado, de protecionismo comercial canhestro, de excesso de intervencionismo estatal, no que, aliás, ele estaria tão ultrapassado quanto o dirigismo arrogante praticado por governos de esquerda. O Brasil do período militar – que não pode ser exatamente tido como um regime de esquerda, embora esta aprove inteiramente, e até queira imitar, várias das políticas praticadas naquela época – foi justamente um representante típico de governos de direita que também praticaram populismo econômico, tanto no capítulo monetário, quanto em diversas políticas setoriais conduzidas ao longo daquele período. Pergunta: qual outro país conseguia ter não apenas um, mas TRÊS orçamentos, como aqui registrado: o fiscal – ou seja, aquele normalmente conhecido em outros países, feito de um simples registro contábil de receitas e despesas correntes –, o monetário – aqui já expressando as virtudes criadoras de nossos tecnocratas, uma conta movimento entre o Banco Central e o Banco do Brasil destinada a financiar os projetos considerados estratégicos pelos dirigentes – e, por fim, durante muitos anos, um orçamento dedicado exclusivamente às estatais, um setor gigantesco na economia brasileira (perto de um terço do PIB) e que servia não apenas à finalidades setoriais, mas também para captar recursos financeiros no exterior.
O populismo de direita tem se manifestado atualmente na Europa, onde os temores de uma imigração desenfreada, a ameaça de desemprego trazido pelo livre comércio e as próprias pressões sobre o Estado de bem estar social criadas por décadas de fiscalidade temerária vis-à-vis as realidades inexoráveis de uma demografia declinante incitaram largos estratos da população, em geral camadas mais frágeis em face dos processos combinados de globalização e de automatização – com os fenômenos consequentes do out-sourcing e de off-shoring – a aderir a plataformas defensivas de rejeição ao estrangeiro e das próprias estruturas comunitárias de liberação dirigida, mas percebido como muito centralizada em Bruxelas e, portanto, antidemocrática ou tecnocrática.
Populações interioranas, comunidades carentes, pouco instruídas, tendem a aderir a esse tipo de discurso, como revelado agora na Europa ocidental e, com ainda maior acuidade, nos próprios Estados Unidos, um dos países certamente mais abertos à globalização e ao acolhimento de imigrantes. O temor do estrangeiro foi, por certo, exacerbado pelos atos brutais do terrorismo islâmico, não só no Oriente Médio, mas nos próprios países do Ocidente. Todos esses fatores vêm reforçando o poder de “sedução”, se por acaso existe algum, dos partidos ou de candidatos de direita, tomando o conceito no sentido mais amplo da expressão, desde os xenófobos aproximados ao fascismo, até conservadores preocupados com a soberania nacional e o emprego dos concidadãos. Em diversos escrutínios eleitorais, esses partidos e candidatos já atingiram um patamar de representação popular compatível, em certos casos, com a formação de um governo, ainda que minoritário (mas capaz, portanto, de influir em coalizões de governo).

Feitas estas considerações puramente conceituais, ou de constatação de algumas situações de fato, parece mais ou menos evidente aos observadores que o que aqui foi chamado de “destruição destrutiva” se identifica bem mais com governos de esquerda, ou “progressistas”, do que com a chamada direita, quase inexistente no continente; os primeiros são genuinamente populistas, ao passo que os segundos ocasionalmente o são. Ainda assim, não foram poucos os governos conservadores, ou claramente de direita, que produziram os mesmos efeitos desastrosos no plano econômico e social, a exemplo da Argentina e suas fases de regime militar (com retrocessos similares, quando não idênticos, aos de governos populistas supostamente de esquerda). O primeiro populista legítimo da América Latina não era, aliás, de esquerda, e sim um líder de corte liberal que decidiu enfrentar os interesses estrangeiros aplicando um calote na dívida contraída com as principais potências europeias da época: o coronel Cipriano Castro, um Chávez avant la lettre, fez da Venezuela um pouco do que o coronel bolivariano faria cem anos depois, um feudo econômico quase tão completamente dominado por seu poder pessoal quanto um outro Castro também faria com sua ilha, seis décadas à frente. Os líderes militares, caudilhos políticos eventuais, costumam ser bem mais fascistas do que de esquerda, mas talvez não existam tantas diferenças entre essas orientações, pois ambas costumam produzir regimes populistas de tipo corporativo.
Caberia, a propósito, estabelecer uma tipologia dos governos populistas e suas correspondentes políticas econômicas que podem estar – e que, no entendimento deste ensaísta, estão – na origem da destruição destruidora advinda do populismo econômico. Quais são, portanto, os elementos centrais do populismo econômico, tal como vistos e praticados por governos de diversas orientações, mas que são suscetíveis de serem encontrados mais frequentemente nos regimes de esquerda ou assim identificados?
Independentemente do tipo de governo no quadro do qual é praticado, a primeira e principal característica do populismo econômico é a incitação ao consumo, mediante medidas redistributivas ou estímulos ao crédito, além e acima da capacidade de geração de renda na economia real. O objetivo de quem pratica esse tipo de política não é exatamente estimular a economia, e sim carrear apoio político – eleitoral, geralmente – ao responsável por esse tipo de orientação econômica, uma vez que é evidente que o distributivismo estatal não é conducente a uma maior taxa de investimento, podendo ser, ao contrário, um fator de redução nessa taxa (dadas as incertezas criadas).
Produzir inflação, valorizar o câmbio, reduzir a competitividade externa da oferta industrial, afugentar os investimentos diretos estrangeiros tampouco constituem objetivos explícitos do populismo econômico, ao contrário, todos eles afirmam desejar o contrário. Mas esses são os resultados que ele provoca na economia assim “atingida” (e o termo parecer ser este). O principal objetivo do populismo econômico – nunca reconhecido como tal – é o de estimular o crescimento, manter a demanda agregada, colocar a economia num ritmo mais elevado de expansão, o que ele talvez consiga no curto prazo (um ano ou dois, apenas). Mas ele acaba, inexoravelmente, produzindo o efeito inverso: menor crescimento, mais inflação, oportunamente uma crise, fiscal ou de balanço de pagamentos, eventualmente as duas, combinadas ou sucessivas.
Como a intenção de um governo populista é a de reter e ampliar os apoios eleitorais de que naturalmente desfruta desde o início da propaganda enganosa, ele acaba prolongando as políticas deformadoras da dinâmica econômica mesmo quando elas já esgotaram suas possíveis virtudes sociais – ou seja, o estímulo ao consumo, o desfrute de fluxos de renda temporariamente canalizados para os grupos visados, a impressão de riqueza, por força de um câmbio manipulado – e passam então a produzir efeitos adversos. Os primeiros sinais de descontrole começam a se manifestar e são geralmente objeto de alertas por parte de economistas cautelosos, que sofrem reações destemperadas dos donos do poder, qualificando-os depreciativamente de “profetas do apocalipse”, ou “arautos do pessimismo”, como muitas vezes se ouviu nesses casos.
Os promotores do populismo econômico acabam reincidindo nos mesmos equívocos, até mais de uma vez, essencialmente por teimosia: eles desprezam os riscos de inflação, afastam a possibilidade de déficits insustentáveis, negam o perigo de um acúmulo na dívida pública ou a eventualidade de um estrangulamento externo, por desequilíbrios cambiais, ausência de financiamento sustentável ou penúria cambial. O descompromisso com a responsabilidade fiscal, o emissionismo irresponsável e o menosprezo pelos interesses dos empresários nacionais e os dos investidores estrangeiros são outros traços predominantes nos casos agudos de populismo econômico. Mas o que distingue mesmo essa esquizofrenia econômica é a vontade pessoal do dirigente político de comandar ao processo econômico, como se o dirigismo exacerbado fosse indicativo da boa qualidade de suas políticas econômicas.
Essa última característica do fenômeno estudado traduz uma realidade muito frequente na América Latina: a do líder personalista, eventualmente carismático, que possui força política suficiente para justamente impulsionar políticas populistas no plano econômico, a despeito da possível resistência da tecnocracia estatal, dos alertas de líderes parlamentares (aliados ou de oposição), assim como de empresários sensatos. A capacidade de dobrar a resistência do sistema político e a dos meios empresariais está fortemente ligada à trajetória de vários líderes populistas da região, como evidenciado na experiência de personalidades como Juan Domingo Perón, Getúlio Vargas, João Goulart e, mais recentemente, Nestor Kirchner e Lula. Todos eles, invariavelmente, praticaram populismo político e econômico, e acabaram provocando crises econômicas nos seus países respectivos, ainda que no último caso, o populismo iniciado por Lula, em bases relativamente moderadas, tenha sido, de fato, exacerbado por sua sucessora, que retrocedeu a políticas econômicas aposentadas ainda na era militar.
O exemplo mais eloquente desse fenômeno  na América Latina foi, obviamente, representado pelo peronismo, predominante a partir do final da Segunda Guerra na Argentina, efetivo uma primeira vez até meados da década seguinte, durante quase dez anos, mas retornando por mais um breve período no início dos anos 1970, brutalmente interrompido pouco depois, mas persistindo, sob várias formas, nas décadas que se seguiram ao desaparecimento do caudilho iniciador da concepção doutrinal associada ao peronismo, qual seja, o justicialismo. Nesses vários períodos, ou em suas modalidades posteriores mais “liberais” (sob Menem) ou mais à esquerda (sob os Kirchner), entre o final do século XX e o início do novo milênio (com breves intervalos a cargo do Partido Radical, na fase de redemocratização pós-regime militar ou mais adiante), o peronismo demonstrou sua resiliência doutrinal e sua capacidade de arregimentação prática de amplas franjas do eleitorado argentino.
Em todos os casos, o peronismo acabou em crises econômicas de maior ou menor amplitude, mas sempre com inflação crescente, crises cambiais e alto endividamento público (doméstico ou externo). A experiência de Salvador Allende, no Chile (1970-73), foi ainda mais terrível e devastadora, não tanto pelo populismo econômico deliberadamente praticado pelo presidente socialista, mas pela sua absoluta incapacidade econômica em debelar um dos mais virulentos processos inflacionários, desvalorização cambial e alheamento completo do setor empresarial jamais vistos na América Latina, o que redundou num dos golpes mais selvagens praticados na região (junto com o golpe anti-peronista na Argentina, em 1976, que mergulhou o país numa repressão raramente igualada em número de vítimas).
Os casos de populismo econômico observados na experiência brasileira foram de certa forma mais benignos, ainda que o processo inflacionário tenha sido igualmente grave, só contornado, ou parcialmente neutralizado, por uma indexação generalizada de preços, contratos, alugueis, cambio e dívidas. O populismo econômico varguista, no seu segundo mandato (1951-54), confundiu-se com a crise política derivada da oposição radical entre varguistas e anti-varguistas (herdada da fase ditatorial anterior), mas foi, sob outro aspecto, triunfante, pois que identificado à ideologia nacionalista que sempre esteve presente nos corações e mentes dos brasileiros desde o nascimento da República. Mais importante, ainda, esse nacionalismo esteve entranhado nas políticas de cunho desenvolvimentista, praticadas por Vargas, continuadas por Juscelino Kubitschek e ainda mais agitadas durante os turbulentos anos da presidência João Goulart. Esse mesmo conjunto de bandeiras, junto com a alegada Política Externa Independente e o dirigismo estatizante da era militar, foi recuperado na era lulopetista, um período inegavelmente populista, ainda que temperado por políticas econômicas prudentes, numa primeira fase, dada a experiência de luta contra a hiperinflação dos anos imediatamente anteriores e a adesão da sociedade aos valores básicos da estabilidade.
Mas o lulopetismo também praticou populismo econômico, mesmo em suas modalidades mais moderadas, ao implementar um gigantesco programa de subsídios às camadas mais pobres (com quase um terço da população inscrita no Bolsa Família), de valorização política do salário mínimo (que contribuiu para a perda de competitividade da indústria nacional, interna e externamente) e de diversas outras medidas de caráter redistributivo que reduziram, muito modestamente, o coeficiente de Gini do Brasil (já trazido para baixo pela estabilização macroeconômica administrado pela administração anterior). Se na Argentina o populismo peronista se fez sobretudo em detrimento do setor agropastoril, em benefício de uma indústria fortemente protegida, no caso do Brasil o populismo lulopetismo beneficiou, contraditoriamente, os setores mais privilegiados da população, uma vez que suas políticas foram redistributivas sobretudo em favor de industriais protegidos por políticas de subsídios estatais e de políticas comerciais protecionistas e de banqueiros sempre privilegiados pela manutenção de altos níveis de endividamento público e dos juros elevados daí decorrentes.
Mesmo episódios de abertura relativa acabaram redundando, nos casos da Argentina e do Brasil (ainda que em períodos diversos), em populismo econômico, já que se traduziram em fortes valorizações cambiais, favorecendo a classe média (e suas viagens ao exterior) e prejudicando fortemente os exportadores nacionais. O populismo cambial dá uma impressão temporária de riqueza, e se traduz em forte apoio político, até que a realidade consiga novamente se impor sobre políticas que buscavam paliar eventuais pressões inflacionárias ou facilitar a tomada de empréstimos externos. Em suas múltiplas formas, o populismo econômico sempre termina, mais cedo ou mais tarde, em um desastre econômico e social, pois que sua consequência mais evidente é, justamente, a destruição destrutiva, uma terra arrasada na qual todos se descobrem mais pobres, empresários e trabalhadores, classe média e camadas mais pobres. Poucas, ou praticamente nenhuma experiência de populismo econômico, sobretudo na América Latina, conheceu outro resultado senão o fracasso completo da experiência, e suas razões são obviamente conhecidas (ainda que estupidamente repetidas).
O populismo econômico provoca invariavelmente pressão inflacionária, em face da qual o populista-chefe deixa o câmbio se valorizar, aumentam as importações, as reservas se esvaem, os empresários começam a trabalhar com maior capacidade ociosa (em face da concorrência externa), as contas públicas se deterioram e as emissões avultam quase automaticamente. O governo empurra a crise para o setor privado, fazendo do imposto inflacionário sua principal fonte de financiamento e de evasão à dura realidade do equilíbrio fiscal. O resultado é sempre uma crise geral, seguida de forte desvalorização e de empobrecimento geral da população, com o que desaparece também o primeiro objetivo buscado: a redistribuição de renda e o aumento do bem estar das camadas mais humildes.
A América Latina é pródiga, não é preciso dizer, nesse tipo de experimentos, mas o mais surpreendente é que o fenômeno seja recorrente, confirmando um velho slogan que pretende que a geração seguinte sempre esquece o que desgraçou a geração precedente. Países europeus também conheceram episódios de populismo econômico, ou de descontrole inflacionário, até experimentos virulentos nesse capítulo. Mas isso ocorreu uma, ou no máximo duas vezes, no espaço de três ou mais gerações. No caso da América Latina foram bem mais frequentes as acelerações inflacionarias e a troca de moedas, mas certamente nenhum país do mundo chegou a igualar o recorde brasileiro, como já referido, de troca de oito moedas no espaço de três gerações, sendo seis padrões monetários num espaço de menos de uma década apenas. Decididamente, a América Latina é o continente da letargia, dos atrasos, das promessas inconclusas, quando não do retrocesso, do recuo para etapas anteriores do pensamento econômico e das práticas em políticas econômicas.
Como explicar, por exemplo, o retorno a políticas já testadas, e fracassadas, de décadas anteriores? O que dizer desse fascínio por experiências passadas, que deixaram apenas um rastro de insucesso, quando não de desastres incomensuráveis no registro histórico ainda bem recente? Brasil e Argentina são, mais uma vez, exemplos trágicos dessa adesão incompreensível a modelos equivocados de desenvolvimento, mas que possuem um poder de atração incompreensível sobre certos atores políticos, uma vez que os impasses criados anteriormente estão documentados nos registros históricos. Esses modelos, ditos “desenvolvimentistas”, foram, e são, baseados no protecionismo comercial, no apoio financeiro a supostos “campeões da indústria nacional”, em subvenções setoriais, em controles de preços, nas transferências de renda para grupos selecionados de potenciais eleitores, no nacionalismo mais estreito contra o capital estrangeiro (que tende a preferir o endividamento puramente financeiro do que o investimento direto), mas sobretudo nos gastos públicos excessivos, em relação aos recursos disponíveis, que sempre representam uma esquizofrenia orçamentária (e uma receita para o inflacionismo), mas também um custo oportunidade nunca muito bem mensurado pelos analistas econômicos mais sensatos.
Se percorrermos o itinerário dos planos econômicos aplicados na Argentina e no Brasil nas últimas duas gerações – e seguirmos as séries históricas de estatísticas contendo os principais indicadores econômicos: inflação, câmbio, crescimento, emprego e renda per capita – o que se observa, em primeiro lugar, é a sucessão altamente errática de fases de euforia alternando-se com mergulhos para o desastre, complementada, em segundo lugar, por uma linha de tendência de longo prazo que aponta inequivocamente para a perda de dinamismo econômico, quando confrontados aqueles indicadores às médias anuais regionais ou mundiais registradas, moderadamente mais favoráveis, ou aos resultados de outros países emergentes, sobretudo asiáticos, que expressam índices compatíveis com a sua ascensão na economia mundial. De fato, o que se observou, no último meio século, é uma inversão quase que perfeitamente simétrica das posições ocupadas respectivamente pelos países da América Latina e pelos da região da Ásia Pacífico nos principais quesitos da economia mundial: crescimento econômico, comércio internacional, atração de investimentos diretos, competitividade externa e ganhos de produtividade.
Análises superficiais podem até enfatizar que países asiáticos de desempenho satisfatório também praticaram, como muitos da América Latina, dirigismo estatal e intervencionismo econômico, protecionismo comercial, subsídios a indústrias e políticas de apoio à capacitação tecnológica de grandes empresas nacionais, ademais do financiamento público a setores considerados estratégicos e outras medidas constantes do menu desenvolvimentista habitual. Os partidários desse tipo de interpretação têm o costume de apelar inclusive a analistas asiáticos pertencentes a universidades ocidentais – como é caso do economista Ha Joon-Chang, um êmulo de List e de Prebisch e um crítico feroz de um fantasma dos desenvolvimentistas, o Consenso de Washington – para justificar um aprofundamento ainda maior das políticas desenvolvimentistas. O que não se registra, no entanto, nesse tipo de interpretação parcial de processos muito diferentes de desenvolvimento econômico e social é o caráter justamente diferenciado da maior parte das políticas macroeconômicas (fiscal, cambial, monetária), a abertura para o comércio e os investimentos internacionais e, sobretudo, a maior atenção dada aos setores de infraestrutura e, essencialmente, à educação de massa de boa qualidade.
Numa síntese, se os países asiáticos cometeram tantos pecados quanto os latino-americanos em termos de políticas desenvolvimentistas, eles talvez tenham praticado menos populismo econômico, ou seja: menos desequilíbrios fiscais, menores impulsos inflacionários, menos intervenções cambiais (e quase nenhuma troca de moedas, em confronto com a profusão dos padrões monetários na América Latina), uma maior interação daqueles países com a economia global e uma preocupação mais focada no ambiente geral de negócios internamente, na formação de capital humano sobretudo. O populismo político, e suas indesejadas derivações para o terreno econômico, parecem ter sido uma maldição recorrente no cenário geral da América Latina.

O último grande exemplo da reincidência nos erros do passado é dado pelo próprio Brasil, onde a gestão particularmente inepta dos últimos governos lulopetistas levou o país à sua pior crise econômica de todos os tempos, acoplada a um gigantesco esquema de corrupção sem precedentes na história política da nação. Ambos processos, a inépcia e a mega-corrupção, combinaram precisamente os aspectos mais deletérios e nefastos de velhos “ismos” da tradição política nacional: o patrimonialismo sempre presente em todas as etapas de construção da governança – ainda que ele tenha evoluído justamente de sua moldura oligárquica usual para um esquema montado pela junção do sindicalismo mafioso com o aparelhamento partidário de feição criminosa, com tinturas gramscianas e neobolcheviques –, o fisiologismo característico do corpo parlamentar, o nepotismo (presente em todos os poderes), o prebendalismo (que faz a ponte entre os agentes políticos com o empreendedorismo promíscuo que só sobrevive nos negócios estatais), e, finalmente, o populismo, o produto mais acabado de todas essas perversões da governança política na América Latina. Três linhas de tendência conjuntural ilustram a extensão da queda que pode ser chamada de A Grande Destruição lulopetista.

Todas as análises sobre as políticas econômicas conduzidas desde 2003 – com uma maior incidência no período recente – indicam a persistência de velho fantasma da política brasileira: o populismo econômico, ou seja, a tentativa de angariar apoio dos eleitores com base em expedientes distributivistas de curto-prazo (aumento do crédito, concessão de subsídios aos muito ricos e aos muito pobres, expansão exacerbada dos gastos públicos, intervencionismo econômico estatal, introversão dos mecanismos de mercado) e uma gestão particularmente inepta das principais políticas macroeconômicas (entre elas a cambial e a fiscal, em especial). O Brasil, tanto quanto a Argentina, ambos em períodos coincidentes, ou seja, os últimos treze anos, foram vítimas da reaparição de um fantasma que se esperava enterrado, ou pelo menos rejeitado, desde os grandes desastres em que incorreram os dois países no último quinto do século passado, quais sejam, o endividamento externo excessivo, crises inflacionárias exacerbadas por um emissionismo estatal irresponsável, seguidas de mudança de padrões monetários, enfim, o ressurgimento de enfermidades econômicas que deveriam ter sido banidas da história da América Latina.
Desmentindo Laplace, Karl Marx, John Muir e Joseph Schumpeter, a América Latina, costuma destruir instituições duramente criadas ao longo de décadas, senão séculos, de equívocos econômicos, como resultado desses impulsos de populismo econômico tão frequentes em suas elites dirigentes, que deixam atrás de si muita terra arrasada e imenso sofrimento humano. Existiria uma maldição econômica e política especificamente latino-americana? Depois de dois séculos de independência, ao contemplar os retrocessos acumulados na frente do desenvolvimento econômico e social, ademais do quadro persistente de pobreza extensiva, delinquência generalizada e educação de baixa qualidade, teremos de concluir pelo fracasso histórico das elites latino-americanas em construir nações minimamente integradas socialmente e capazes de se integrar de forma exitosa nas grandes correntes da interdependência global?
As apostas ainda estão abertas a esse respeito. Uma resposta positiva a todos esses desafios da região, do Brasil particularmente, depende, em primeiro lugar, de que se tenha uma consciência precisa da natureza dos problemas, de maneira a se ter um diagnóstico realista sobre a situação presente e uma prescrição adequada quanto aos mecanismos para superar tal condição. Este ensaio evidenciou alguns desses problemas, alertando, portanto, para as raízes persistentes de males crônicos. Espera-se que se possa, a partir daí, enveredar por caminhos diferentes dos que foram trilhados até aqui.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília-Gramado, 3030, 10 agosto, 3 setembro 2016.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Who Lost China? a grande pergunta da política externa dos EUA nos anos 1950 - ADST

Os americanos, considerados bons mas essencialmente, ingênuos como Churchill, Aron e muitos europeus acreditavam que fossem, sempre acharam, pelo menos a partir de 1917, que o mundo girava em função do que Washington e Wall Street desejavam.
Quando um general corrupto foi derrotado por um líder comunista na China, eles ficaram procurando culpados, entre eles, no Departamento de Estado, um dos objetos preferidos de persguição do Senador McCarthy, que achava que os diplomatas eram todos comunistas enrustidos.
Pois bem, a Association for Diplomatic Studies and Training faz um excelente trabalho de história oral.
Ela agora oferece depoimentos sobre a partida dos americanos da China, que foram junto com o general corrupto para Taiwan, e ali ficaram pelos 20 anos seguintes, até um presidente corrupto, mas esperto, aquele escroque do Nixon, resolveu acabar com a fantasia.
Pouco depois, o nosso general Geisel resolveu reconhecer a China comunista, e com isso despertou a fúria do nosso McCarthy, o general Sylvio Frota, que quase acaba "demitindo" o Geisel da presidência.
Onde está a nossa história oral sobre isso?
Bem, existem depoimentos de Geisel e de Silveirinha ao Cpdoc. Mas eles contaram tudo? Provavelmente não...
Falta, ao Itamaraty, um programa de história oral.
Paulo Roberto de Almeida

Association for Diplomatic Studies and Training
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U.S. Diplomacy, Warts and All

Excerpts:

** Get While the Getting’s Good: Departing Communist China (http://adst.us5.list-manage.com/track/click?u=53939b5d79522092bb1e15271&id=8b0e8c530b&e=7b93b79725)
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The decision to close an embassy and order departure of diplomatic personnel is a signal of last resort that bilateral relations are damaged and unlikely to improve soon. This occurred in China when Chiang Kai-shek’s Nationalist Party fled the capital and retreated to Taiwan on December 8, 1949 in the wake of Mao Zedong’s establishment […]

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** The Charismatic Dalai Lama (http://adst.us5.list-manage.com/track/click?u=53939b5d79522092bb1e15271&id=ea21f47a9e&e=7b93b79725)
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Born into a humble farming family on July 6, 1935, Lhamo Dhondup (Tenzin Gyatso), had subtle beginnings before he became the leader of an entire people. After the thirteenth Dalai Lama’s passing, the high lamas searched for his next reincarnation among the Tibetan people. Tibetan Buddhists monks journeyed to a small village and found a […]

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Lava Jato: vem aí a super-delação?

Agora é oficial: vem ai a Super Delação da Odebrecht, que vai sepultar Lula, Dilma e o PT

.

A Operação Lava Jato atingiu um de seus maiores objetivos na última quarta-feira. A Odebrecht e o Ministério Público Federal finalmente formalizaram a negociação de delação premiada e um acordo de leniência no âmbito da investigação liderada pelo juiz Sérgio Moro. 

As negociações que culminara na assinatura do documento foram longas e envolveram uma série de acordos, em virtude do grande volume de informações que deverão ser disponibilizadas. Além de Marcelo Odebrecht, que está preso em Curitiba, outros executivos da empreiteira e até mesmo seu pai, Emílio Odebrecht, deverão ser ouvidos. O número de executivos que irão depor pode chegar a 50.

Desde a chegada do PT ao Poder em 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu seu primeiro mandato, o faturamento do grupo saltou de U$ 5 bilhões para U$ 140 bilhões ao ano. Nenhuma empresa no mesmo ramo de atividade experimentou um crescimento tão fabuloso em toda a história da humanidade.

A demora no fechamento do acordo sugere o envolvimento da empresa e de gente muito graúda em esquemas gigantescos de corrupção. Dificilmente o Ministério Público Federal concordaria em celebrar um acordo que isentasse grandes corruptos e corruptores.

Neste cenário, a super delação da Odebrecht pode arrastar para Curitiba toda a cúpula do Partido dos Trabalhadores, incluindo o ex-presidente Lula, a presidente afastada, Dilma Rousseff, o presidente do partido, Rui Falcão e vários senadores, deputados e ex-ministros dos governos petistas.

Esta semana, a Odebrecht entregou à força-tarefa da Lava Jato um livro no qual constam todos os apelidos dados a políticos e o respectivo nome de parlamentares e governadores que receberam dinheiro oficial e de caixa 2 nas últimas campanhas eleitorais. A medida faz parte do acordo de delação premiada firmado entre a empreiteira e o Ministério Público Federal (MPF).

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Programa europeu em integracao regional, estudos comparativos - oportunidade de bolsa (ate 15/09)

PhD POSITION IN INTERNATIONAL RELATIONS & COMPARATIVE REGIONALISM 
Fellowship Call for Application DEADLINE: September 15th 2016 – 17.00 CET
Complete info: http://gem-stones.eu/pdf/GEM-STONES-ERS9.pdf

COMPARING COMPETING FORMS OF REGIONALISM AND THEIR IMPACT ON EU INTERREGIONALISM (ESR9)
Early Stage Researcher 9:
Universitaet Hamburg (DE)
Université Libre de Bruxelles (BE)
Internship: German Institute of Global and Area Studies (DE)

RESEARCH PROJECT ENVIRONMENT
This research fellowship is offered within the framework of the GEM-STONES research project on the capacity of the EU to contribute to purposeful complex regime management. It is an integrated research project involving 15 partners institutions, 30 senior academics and 15 newly hired early stage researchers – for further information see www.gem-stones.eu
This project will be part of a Work Package bringing together various strands of political science allowing for a better understanding of the capacity of multilevel governance to see multiplying forms of regionalisms amount to constructive competition rather than destructive fragmentation. It will comparatively highlight:
(1) interplays between EU regional and inter-regional dynamics;
(2) overlapping regional security institutions; and
(3) competing regionally embedded foreign policy norms.

Each of the 3 associated ESRs will:
- Explore the EU’s relative capacity to shape other regional organizations;
- Empirical input to the structured Data Set drawn from the fuzzy-data sets associated with Comparative Regionalism
- Analyse the EU’s relative capacity to manage complexity from either a causal or appropriateness perspective
- Mobilise process-tracing & QCA methods to produce heuristic categorisations of regional organisations -
- Demonstrate the theoretical implications of a growing drive towards competing forms of regional cooperation -
- Jointly produce an edited volume collecting contribution from all 3 ESRs and their supervisors (GEM book series)

OBJECTIVES 
ESR 9 will focus on theoretical and methodological issues related to the growing importance of the regional dimension in the management of complex regimes. Inter-regional dynamics will be assessed through comparative analysis of qualitative case studies combining QCA and process-tracing.
The selected regional case study, Latin America, will reflect an empirical setting where the EU seeks to interface with a variety of endogenously driven regional initiative.

 EXPECTED RESULTS 
ESR 9 will:
1. Successfully accomplish all necessary doctoral training both at the local and GEM-STONES consortium wide levels;
2. Produce an updated typology of interregional institutions linking the EU and Latin-America; as well as a contribution focussed on the EU-LAC inter-regionalism to the GEM-STONES shared data set;
3. Write an original PhD dissertation providing an analytical description of EU-LAC institutional interactions in light of evolving political systems on either side of the relationship; and a contrasted analysis of the relative impact of competing regional arrangements in Latin America on the EU’s interregional strategy.

CO-SUPERVISORS 
Pr. Detlef Nolte
E-mail: detlef.nolte@giga-hamburg.de
Website: https://www.giga-hamburg.de/de/team/nolte

Pr. Frédéric Louault
E-mail: flouault@ulb.ac.be
Website: http://philoscsoc.ulb.be/fr/users/flouault

HOST INSTITUTIONS
Universitaet Hamburg (DE) - PhD PROGRAMME PhD in Political Science
Université Libre de Bruxelles (BE) - PhD in Political Science

Complete info: http://gem-stones.eu/pdf/GEM-STONES-ERS9.pdf

Caio Prado Jr, em 1967, ou seria em 2016?: excertos de seu discurso Juca Pato

Quase meio século atrás, Caio Prado Jr., ao receber o troféu Juca Pato, como Intelectual do Ano (1967), enunciava em seu discurso de recepção algumas verdades que parecem asustadoramente atuais.
Será que o Brasil não mudou nada em meio século?
Pode ser que algumas coisas sejam imanente, intratáveis, persistentes, como a corrupção, por exemplo, ou a péssima qualidade da educação.
Selecionei alguns trechos de seu discurso, cujo teor completo figura na postagem anterior (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/caio-prado-jr-biografo-luiz-bernardo.html).
Paulo Roberto de Almeida

Leia o discurso de Caio Prado Junior no recebimento do prêmio Juca Pato em 1967
(...)
“Não somos apenas “subdesenvolvidos”, ou se preferirem, e como querem alguns economistas e sociólogos que procuram disfarçar com palavras a realidade, não somos apenas um país “em desenvolvimento”. Não é só quantitativamente que nos distinguimos dos países e povos que se acham na vanguarda do mundo contemporâneo. A diferença é também, e sobretudo, “qualitativa”.
E tanto isso é verdade que, relativamente, e em termos comparativos, não estamos avançando, mas antes recuando. Há cinqüenta anos ainda poderíamos figurar, muito modestamente embora, no concerto das nações civilizadas, isto é, vivendo no nível da cultura então atingida. Hoje é difícil afirmá-lo. Já não nos enquadramos mais nesse mundo da cibernética, da automação, da libertação progressiva do homem de todo esforço físico e mesmo de boa parte do mental.
Temos uma fachada, não há dúvida, que apresenta certo brilhantismo. Mas é uma tênue fachada apenas, que disfarça muito mal, para quem procura verdadeiramente enxergar, e não tenta iludir-se, o que vai por detrás dela neste imenso país de desnutridos, doentes e analfabetos. E, quando muito, semi-analfabetos que vegetam, mais que vivem, em padrões materiais e culturais que a parcela da Humanidade realmente civilizada já há muito não conhece mais.
Todos aqueles que não ignoram o Brasil, o verdadeiro Brasil da grande, da imensa maioria, que não é este dos principais centros urbanos, e direi mesmo, de alguns setores apenas destes grandes centros, todos estes sabem que não exagero. E não preciso insistir em dados estatísticos e outros índices bastante conhecidos, para situar o Brasil naquela parte da humanidade que tão longinquamente se aparta do que constitui os verdadeiros padrões de civilização contemporânea. Não serão por certo esses pobres arremedos de indústria moderna, das comunicações – correios, telégrafos e telefones que não funcionam –, estas nossas metrópoles que são inundadas e se desmancham com a chuva de todos os anos; e no terreno da cultura, estes espectros que são as Universidades e nosso pobre aparelhamento de ensino e de pesquisa em geral, não é isso certamente que nos concederá foros de país no nível dos grandes centros modernos ou deles se aproximando.
Para nos considerarmos da mesma ordem de grandeza, e tão somente “mais atrasados e menos desenvolvidos”, mas não qualitativamente diferentes, para isso precisamos de muito mais e, essencialmente, de uma sólida base sobre que assentar nossa nacionalidade, e que vem a ser uma população liberta da miséria física e cultural, e capacitada, no seu conjunto, para usufruir alguma coisa do conforto e bem-estar que a ciência moderna proporciona.
(...)
 A corrupção, em especial, é da essência do nosso regime. Quando, como se dá entre nós, a riqueza é elevada ao plano do mais alto e prezado valor social, e que tudo justifica, como impedir que a aquisição dessa riqueza se faça por todos os meios e modos possíveis, sejam eles quais forem, e inclusive pela corrupção? Numa sociedade como a nossa em que a corrupção e a ausência de princípios éticos se acham institucionalizadas e entronizadas nas relações privadas, porque elas são, podemos dizer, da essência do “negócio” que regula essas relações, como impedir, pergunto, que elas contaminem também as relações públicas? Entre negócio e negociata não há nenhuma separação absoluta; e sim, entre os extremos, um terreno indefinido e neutro onde se faz muitas vezes extremamente difícil, e frequentemente impossível, distinguir entre lícito e ilícito.
(...)

Caio Prado Júnior, 28 de março de 1967.

Caio Prado Jr.: biografo Luiz Bernardo Pericas premiado com o Juca Pato 2016


Luiz Bernardo Pericás é eleito Intelectual do Ano e recebe Juca Pato 2016
08/09/2016

A União Brasileira de Escritores (UBE) acaba de anunciar que o historiador e autor da Boitempo Luiz Bernardo Pericás é o vencedor do Troféu Juca Pato de 2016, o mais importante prêmio intelectual do país.
Professor de história contemporânea da Universidade de São Paulo, Pericás foi indicado ao prêmio por sua mais recente obra, Caio Prado Júnior: uma biografia política, aclamada nacionalmente pela crítica e academia. 


Diz a nota oficial divulgada hoje pela União Brasileira dos Escritores:
“O Prêmio contempla a extraordinária obra de Pericás sobre a trajetória do historiador Caio Prado Júnior, fundador da UBE e ele próprio recipiente do Prêmio Juca Pato (em 1966), intitulada como Caio Prado Júnior: uma biografia política, publicado pelo selo Boitempo Editorial.
A obra do autor é fruto de anos de pesquisa. Traz um relato impecável e multifacetado do historiador, escritor, geógrafo, militante e intelectual político de esquerda, Caio Prado Júnior, que abdicou de suas origens aristocráticas em favor de seus ideais políticos. Perseguido e preso durante a Ditadura Militar, iniciada com o golpe de 1964, implementou no Brasil, pioneiramente, a tradição historiográfica marxista.
Luiz Bernardo Pericás explora de forma impecável o percurso de Caio Prado Júnior, em uma obra que resgata minuciosamente a trajetória política do militante. A construção literária traz ao leitor uma perspectiva implacável da contribuição de um dos maiores intelectuais brasileiros ao processo da formação histórica brasileira.”
O Juca Pato concedido ao Intelectual do Ano tem forte vocação social e política por prestigiar personalidades que tenham se destacado em qualquer área do conhecimento. Criado em 1962, já foi atribuído a alguns dos maiores pensadores e escritores brasileiros, como o próprio Caio Prado Júnior, Erico Verissimo, Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda, Carlos Drummond de Andrade, Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles, entre outros.

A entrega oficial do Troféu será feita pelo presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), Dr. Durval de Noronha Goyos Jr., no dia 06 de outubro em cerimônia solene na Academia Paulista de Letras, em São Paulo.

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Leia o discurso de Caio Prado Junior no recebimento do prêmio Juca Pato em 1967

O próprio Caio Prado Júnior recebeu o Prêmio Juca Pato em 1967

“Meus amigos: Muito agradeço a honra que me foi concedida com a láurea de Intelectual do Ano de 1966. Agradecimento este, bem entendido, e faço a restrição, no que me toca a mim pessoalmente, porque bem sei que não é unicamente, nem mesmo principalmente à minha pessoa que se dirige a homenagem. E sim ao princípio que por circunstâncias ocasionais eu neste momento represento. Princípio este que se destaca no traço comum que os une os laureados em anos anteriores: Santiago Dantas, Afonso Schmidt, Tristão de Athaíde, Cassiano Ricardo, tão divergentes entre si em opiniões, posições filosóficas e obra realizada, mas igualados num característico comum que os une e que constitui sem dúvida o princípio que a honrosa láurea do Intelectual do Ano tem por objetivo distinguir. Refiro-me ao intelectual atuante, ao homem de pensamento que não se encerra em torre de marfim, e daí contempla sobranceiro o mundo. E sim aquele que procura colocar a serviço da coletividade em que vive e da qual efetivamente participa.
E é justo o critério que norteia a concessão do prêmio Juca Pato, pois é sobretudo de homens de pensamento, que sejam também homens de ação, que o Brasil necessita. E necessita hoje mais do que nunca, neste momento que vivemos, quando parecem coincidir um máximo de necessidades e aspirações do povo brasileiro, a exigirem amplos horizontes e perspectivas, com o projeto, bem marcado e abertamente proclamado pelas atuais forças dominantes no país, de limitar aquelas perspectivas e encerrá-las na tutela de um estreito horizonte.
Realmente, não é outra, e não pode ter outro sentido, a fórmula político-filosófica que orienta a presente situação brasileira. Pois não põe ela a sua grande e principal ênfase na segurança nacional, erigidas em princípio diretor da política e administração pública? O que pode significar esta “segurança nacional” elevada do simples nível de procedimentos policiais, para o plano da filosofia política, senão a consagração do imobilismo econômico, social e político?
E isso se propõe precisamente quando, à vista de todos e tão claramente, se apresenta a necessidade, e necessidade premente e inadiável, de reformas, e reformas profundas. Esta é a evidência e somente não vê o pior dos cegos, aquele que não quer ver. Eu diria mesmo que, mais do que reformas apenas, é de novos rumos que precisa o Brasil, novos rumos que façam dele, num futuro previsível, um país moderno efetivamente integrado no nível material e cultural de nossos dias.
Na verdade, e infelizmente, estamos muito longe disso. Não somos apenas “subdesenvolvidos”, ou se preferirem, e como querem alguns economistas e sociólogos que procuram disfarçar com palavras a realidade, não somos apenas um país “em desenvolvimento”. Não é só quantitativamente que nos distinguimos dos países e povos que se acham na vanguarda do mundo contemporâneo. A diferença é também, e sobretudo, “qualitativa”. E tanto isso é verdade que, relativamente, e em termos comparativos, não estamos avançando, mas antes recuando. Há cinqüenta anos ainda poderíamos figurar, muito modestamente embora, no concerto das nações civilizadas, isto é, vivendo no nível da cultura então atingida. Hoje é difícil afirmá-lo. Já não nos enquadramos mais nesse mundo da cibernética, da automação,
da libertação progressiva do homem de todo esforço físico e mesmo de boa parte do mental. Temos uma fachada, não há dúvida, que apresenta certo brilhantismo. Mas é uma tênue fachada apenas, que disfarça muito mal, para quem procura verdadeiramente enxergar, e não tenta iludir-se, o que vai por detrás dela neste imenso país de desnutridos, doentes e analfabetos. E, quando muito, semi-analfabetos que vegetam, mais que vivem, em padrões materiais e culturais que a parcela da Humanidade realmente civilizada já há muito não conhece mais.
Todos aqueles que não ignoram o Brasil, o verdadeiro Brasil da grande, da imensa maioria, que não é este dos principais centros urbanos, e direi mesmo, de alguns setores apenas destes grandes centros, todos estes sabem que não exagero. E não preciso insistir em dados estatísticos e outros índices bastante conhecidos, para situar o Brasil naquela parte da humanidade que tão longinquamente se aparta do que constitui os verdadeiros padrões de civilização contemporânea. Não serão por certo esses pobres arremedos de indústria moderna, das comunicações – correios, telégrafos e telefones que não funcionam –, estas nossas metrópoles que são inundadas e se desmancham com a chuva de todos os anos; e no terreno da cultura, estes espectros que são as Universidades e nosso pobre aparelhamento de ensino e de pesquisa em geral, não é isso certamente que nos concederá foros de país no nível dos grandes centros modernos ou deles se aproximando.
Para nos considerarmos da mesma ordem de grandeza, e tão somente “mais atrasados e menos desenvolvidos”, mas não qualitativamente diferentes, para isso precisamos de muito mais e, essencialmente, de uma sólida base sobre que assentar nossa nacionalidade, e que vem a ser uma população liberta da miséria física e cultural, e capacitada, no seu conjunto, para usufruir alguma coisa do conforto e bem-estar que a ciência moderna proporciona.
Como chegar a isso? Eis nosso grande e realmente único problema fundamental e essencial. Podemos divergir com relação à maneira de resolvê-lo, e mesmo de o abordar. Mas num ponto concordarão certamente todos aqueles que estejam de boa-fé e sejam capazes de superar interesses e vaidades particularistas e imediatistas. E essa convergência de opiniões vem a ser, assim penso, que não conservando o “status quo”, a saber, uma sociedade impulsionada unicamente pelo interesse privado e pelo lucro nos negócios, e estruturada na base da riqueza e da habilidade no manejo dos mesmos negócios, não é conservando isso intacto que se transformará o Brasil.
A tarefa é grande demais para que uma linha de desenvolvimento traçada unicamente pelo choque de interesses privados e afirmações individualistas logre superar o retardo em que ficamos relativamente aos níveis e padrões do mundo moderno. Essa é a ilusão de muitos que, embora de boa fé, se informam unicamente no grande progresso realizado pela livre iniciativa privada na Europa Ocidental e sobretudo nos Estados Unidos no correr do século passado e primeira parte do atual. Ilusão que consiste em julgar que poderemos, de hoje para o futuro, reproduzir aquela façanha. Mas os tempos, tanto como as situações, são outros. Os métodos também devem ser outros.
Quais são eles? Não é agora o momento para discutir um ponto como este, altamente polêmico, e onde opiniões divergem largamente. Mas aquilo em que todos estarão de acordo, todos aqueles pelo menos que desejam procurar e encontrar novas perspectivas para o Brasil, é que não é permissível interromper e eliminar aquela discussão e reduzir as diretrizes da vida brasileira à luta contra a corrupção, a subversão e a instabilidade da moeda; e pautá-la por reformas ditadas por tecnocratas, ou que se julgam tais, encerrados em seus gabinetes ministeriais e Escolas privilegiadas.
A corrupção e a subversão são sintomas do mal-estar geral que vai pelo país. E sintomas se combatem pelas causas profundas que os ocasionam. A corrupção, em especial, é da essência do nosso regime. Quando, como se dá entre nós, a riqueza é elevada ao plano do mais alto e prezado valor social, e que tudo justifica, como impedir que a aquisição dessa riqueza se faça por todos os meios e modos possíveis, sejam eles quais forem, e inclusive pela corrupção? Numa sociedade como a nossa em que a corrupção e a ausência de princípios éticos se acham institucionalizadas e entronizadas nas relações privadas, porque elas são, podemos dizer, da essência do “negócio” que regula essas relações, como impedir, pergunto, que elas contaminem também as relações públicas? Entre negócio e negociata não há nenhuma separação absoluta; e sim, entre os extremos, um terreno indefinido e neutro onde se faz muitas vezes extremamente difícil, e frequentemente impossível, distinguir entre lícito e ilícito.
No que se refere à subversão, em cujo combate se inspira outra das normas fundamentais da presente situação política, há que preliminarmente introduzir clareza nos termos. Não é por certo subversão que implica a derrubada do governo que se trata, porque de outra forma, como bem disse um dos próceres da situação atual, o General Mourão, “subversivos” seriam todos os atuais detentores de poder e os demais que os acompanharam e secundaram nos dias idos de 1964.
Não se trata pois de subversão, e sim do descontentamento e não-conformismo daqueles que aspiram introduzir modificações na ordem atual. Mas esse descontentamento e não-conformismo que tem hoje no Brasil, como todos sabem e sobretudo sentem muito bem, raízes profundas, não se eliminam com simples medidas policiais, sob pena de se abafarem pelo terror todas as aspirações e inquietudes que constituem o fermento natural e necessário de toda renovação e de todo progresso social e humano.
Sobra, como último elemento da atual filosofia política dominante em nosso país, aquilo que, na falta de outra designação mais expressiva, eu chamaria de “tecnocracia economicista”. Todos que me ouvem já sabem aquilo a que me refiro. Trata-se de resolver os problemas brasileiros por modelos econômicos e outras fórmulas misteriosas somente acessíveis, no fundo e na forma, aos iniciados. Mas esquece-se aí que estão em jogo, no caso, fatos sociais, humanos, e que neste terreno que é o do comportamento de seres racionais, e não de objetos físicos, a solução de problemas que se hão de traduzir em ações conscientes implica a determinação de indivíduos livres, e não se consegue portanto sem o consenso destes mesmos indivíduos.
Quanto ao setor mais “humanista” dessa política tecnocrática, ela se exprime muito bem na afirmação do Sr. Presidente da República, quando ainda candidato e dirigindo-se em discurso às classes produtoras do Rio de Janeiro: do que se trata é fazer que “os ricos sejam mais ricos, para que os pobres sejam menos pobres”. Fórmula esta que lembra um outro pensamento muito difundido na geração que chegava a seu ocaso em princípios do século, e que assim se expressava: “Que seriam dos pobres se não fossem os ricos que lhes proporcionam empregos?”
A teoria em que se inspiram nossos economistas ortodoxos de maior projeção, e que faz consistir o desenvolvimento, o progresso e as soluções sociais no ritmo dos investimentos privados, traduz em termos técnicos aquele pensamento de nossos avós.
É isso em suma que impera no Brasil oficial de hoje. E é contra tudo isso, que significa o imobilismo do passado, que se há de acender a fagulha de um pensamento vivo e renovador capaz de abrir aquelas perspectivas e horizontes a que eu me referia no início destas minhas palavras. Este papel dos homens de pensamento, daqueles que tiveram o privilégio de encontrar na sua formação as circunstâncias favoráveis necessárias para o manejo das ideias, para a apreensão dos sentimentos e da consciência difusos na coletividade, a fim de os expressarem em pensamento sistematizado e em normas adequadas de ação coletiva,
E é isso, estou seguro, é esse tipo de homem de pensamento e intelectual que se homenageia com o Prêmio Juca Pato. E é por isso que tanto mais me sinto honrado e me confesso grato, por me considerarem, com o prêmio que ora recebo, representativo desse tipo de intelectual.
Muito obrigado.

— Caio Prado Júnior, 28 de março de 1967.

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Sobre a obra
Resultado de extensa pesquisa documental, Caio Prado Júnior: uma biografia política, de Luiz Bernardo Pericás, ilumina a trajetória de um dos maiores intérpretes da realidade brasileira. Figura emblemática no desenvolvimento do marxismo nas Américas, Caio Prado se tornou conhecido tanto pela originalidade de seu pensamento quanto pela militância política, que o levou a atuar na Aliança Nacional Libertadora (ANL) e no Partido Comunista do Brasil (PCB). Seu esforço para entender a condição periférica do país em relação a outras economias e sua preocupação constante com a elevação material, cultural e de consciência política das massas fez com que escrevesse livros como Formação do Brasil contemporâneo, cuja tese “Sentido da colonização” consta como marco na historiografia nacional.
Neste livro, baseado na leitura minuciosa de centenas de documentos (muitos deles inéditos), Pericás mostra como o ativismo repercutiu na vida e na obra de Caio Prado Júnior, indo das primeiras leituras às viagens para o exterior (inclusive para os países socialistas), do golpe de 1964 aos debates sobre a revolução brasileira, do breve exílio no Chile ao retorno seguido de encarceramento, chegando por fim ao legado de seu ideário para a esfera pública. O autor ainda discute aspectos teóricos da obra caiopradiana e elementos de seu pensamento.
“A trajetória de Caio Prado Júnior se confunde com a do Brasil do século XX. Como importante personagem de nosso país, muito já se escreveu sobre ele. Ainda assim, vários aspectos de sua vida e de seu pensamento foram pouco explorados ou discutidos. Detalhes de suas relações políticas, leituras, viagens aos países socialistas e avaliações sobre alguns temas candentes de sua época permanecem desconhecidos do grande público. A biografia política escrita por Luiz Bernardo Pericás, um estudo de fôlego sobre o intelectual paulista, vem a suprir essa lacuna.” 
– Bernardo Ricupero  

Sobre Luiz Bernardo Pericás
Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México), onde foi professor convidado, e pelo IEB/USP. Foi também Visiting Scholar na University of Texas at Austin e Visiting Fellow na Australian National University, em Camberra. Tem livros e artigos publicados em diversos países, como Argentina, Estados Unidos, Peru, Itália, Espanha, Argentina e Cuba. É autor de Mystery Train (São Paulo, Brasiliense, 2007) e do romance Cansaço, a longa estação (São Paulo, Boitempo, 2012; adaptado recentemente para o teatro), entre outros. Recebeu a menção honrosa do Prêmio Casa de las Américas em 2012 por seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica (São Paulo, Boitempo, 2010). Ganhador do Prêmio Ezequiel Martínez Estrada, da Casa de las Américas (2014), pelo livro Che Guevara y el debate económico en Cuba. É professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo. Membro do conselho editorial da revista da Boitempo, a Margem Esquerda, e colunista mensal do Blog da Boitempo, Pericás organizou também em 2014 o monumental Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados (Boitempo), em conjunto com o historiador Lincoln Secco. .

Troféu Juca Pato
Desde sua criação, o Juca Pato consagra autores de estudos e reflexões sobre o país e é uma das nossas mais importantes premiações intelectuais. O Intelectual do Ano não é um prêmio literário, mas uma láurea conferida a personalidade que, tendo publicado livro de repercussão nacional no ano anterior, tenha se destacado em qualquer área do conhecimento e contribuído para o desenvolvimento e prestígio do país.
O troféu, que já contemplou renomados pensadores e escritores brasileiros, foi criado por proposta do escritor Marcos Rey, um dos fundadores e então vice-presidente da UBE. É uma réplica do personagem Juca da Silva Pato, criado pelo jornalista Lélis Vieira e eternizado na caricatura feita pelo ilustrador e chargista Benedito Carneiro Bastos Barreto, o popular Belmonte.

Visita do Professor A. A. Cancado Trindade, juiz da CIJ, a Funag-IPRI (8/09/2016)


Visita do Professor Cançado Trindade, juiz da CIJ, à Funag-IPRI

Paulo Roberto de Almeida
 [Registro da visita de AACT à Funag, livros publicados]

No dia 8 de setembro, realizou visita de cortesia ao presidente da Funag, embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, e também ao Diretor do IPRI, ministro Paulo Roberto de Almeida, o eminente juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ), na Haia, professor Antônio Augusto Cançado Trindade, ex-Consultor Jurídico do Itamaraty (1985-1990) e ex-juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CtIADH). O prof. Cançado Trindade veio ao Brasil para proferir a aula inaugural no V Curso Brasileiro Interdisciplinar em Direitos Humanos, realizado recentemente na Universidade de Fortaleza (Ceará), sob a organização conjunta do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos (IBDH) e do Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH).

Na ocasião, o prof. Cançado Trindade ofereceu ao presidente da Funag e ao Diretor do IPRI o seu livro mais recente, preparado especialmente para o V curso sobre direitos humanos: A visão humanista das missão dos tribunais internacionais contemporâneos (Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016), reunindo, em oito partes, suas reflexões de uma década inteira dedicada ao estudo dos grandes temas do direito internacional, com os quais possui maiores afinidades intelectuais, resultado de conferências e aulas magnas, mas também de sua atuação jurisdicional nas duas cortes referidas. 

Apresentou, ao mesmo tempo, dois outros livros recentemente publicados, que cobrem aspectos diversos, e complementares, das mesmas pesquisas, apresentações e atividades práticas naquelas cortes, em muitos institutos da mesma área e em grandes universidades, várias das quais, aliás, já lhe agraciaram com onze doutorados honoris causae: The access of individuals to international Justice (Oxford University Press, 2011) e The construction of a humanized international Law: a collection of individual opinions , 1991-2013 (Brill Nijhoff, 2014), este último o sexto de uma série especial sobre eminentes juízes que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do direito internacional. 

De partida para a Haia, onde deverá apresentar dois novos votos no âmbito de processos em curso na CIJ, o prof. Trindade prometeu visitar novamente a Funag em futuro próximo, quando poderá proferir uma palestra nos temas de sua especialização, numa intensa atividade sempre voltada para a formação de jusinternacionalistas das novas gerações e contribuindo para reforçar a visão humanista já em consolidação nos tribunais internacionais. Como escreveu ele no prefácio ao livro preparado para o curso de Fortaleza: “Todos os que nos engajamos neste caminho, sabemos que não tem fim: é certo que se têm logrado muitos avanços nos últimos anos, mas ainda resta – e continuará restando – um longo caminho a percorrer.”



[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de setembro de 2016]

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A longa batalha da democracia contra seus detratores - Augusto de Franco

A resistência democrática continua
Um manifesto da oposição popular ao PT
Augusto de Franco
DAGOBAH
NL 0021 - 02/09/2016

Muitos nesta hora gostariam de seguir adiante e esquecer o passado, agora que Dilma não é mais presidente.

Alguns (os legalistas conservadores) pensaram em pendurar as chuteiras e terceirizar tudo para "as instituições".

Outros (os liberais de manual) até imaginaram deixar de lado os protestos de rua e abraçar candidaturas para lutar "por dentro do sistema".

Mas a impunidade de Dilma, conquistada pelo golpe Renan-Lewandowski e o seu discurso de despedida, prometendo confronto, mostram que nossos problemas não estão resolvidos.

Se Temer começar a realizar, para valer, as tarefas da transição democrática, teremos pela frente uma guerra civil fria de longa duração (que ele não poderá enfrentar sem a ajuda da cidadania).

Se Temer abrir mão de realizar tais tarefas, ficando refém de Renan e da ala mais fisiológica do seu próprio partido que negocia por baixo do pano com Lula e sua máfia (que continua organizada), teremos um governo medíocre, inepto e desmoralizado, abrindo caminho para a volta do PT em 2018.

O golpe Renan-Lewandowski não foi apenas para sagrar a impunidade de Dilma. Foi para sujeitar o governo Temer aos bandidos da sua base.

Por isso a oposição popular ao PT, que emergiu das ruas, não pode morrer. E a resistência democrática não pode ser coisa do passado. Ela deve continuar.

Ou as ruas reagem, ou tudo que foi feito em 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto de 2015 e 13 de março de 2016 terá sido em vão.

Para que tudo não tenha sido em vão é necessário retomar os três pontos principais da pauta original desses grandes protestos de 2015-2016:

Fora Dilma,

Prisão de Lula,

Fim do PT.

Sem isso, a sociedade que se mobilizou contra o velho sistema político que apodreceu ficará na defensiva e o PT voltará (ou, na verdade, não sairá).

Sim, eles não saíram. Só as ruas poderão tirá-los.

Europa em tempos de crise - Jornadas europeias, Fac. Direito USP, SP, 19-21/09/2016

A Cátedra Martius de Estudos Alemães e Europeus tem a satisfação de convidar para as Oitavas Jornadas Europeias, um seminário interdisciplinar sobre a integração europeia, que acontecerá nos dias 19 a 21 de setembro 2016 na Faculdade de Direito da USP em São Paulo. O tema deste ano será:
“Europa em tempos de crise”. 
Abordará a crise na Europa e da União Europeia em suas muitas facetas, tais como a crise econômica e financeira, as consequências econômicas, políticas e jurídicas do 'Brexit', a crise de refugiados, questões de identidade e integração, as ameaças à democracia, desafios da governança ambiental e o futuro do modelo europeu.

As Jornadas Europeias serão compostas de palestras de professores (entre eles, vários convidados externos) na parte da manhã e oficinas com participação de alunos e professores na parte da tarde. Responsável pela organização são Sven Korzilius, professor visitante no Departamento de Direito Internacional e Comparado (DIN) da Faculdade de Direito da USP (FD-USP), e Brigitte Weiffen, titular da Cátedra Martius de Estudos Alemães e Europeus (FFLCH-USP). O evento é patrocinado pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e o Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (DWIH-SP).

As inscrições podem ser realizadas em https://goo.gl/forms/qenV8wKjXVIKlo1s2
Mais informações e inscrições pelo e-mail jornadas.europeias@gmail.com ou pela página https://www.facebook.com/events/1712503825690250/