O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio, José Theodoro Mascarenhas Menck (Org.); capítulo Paulo Roberto de Almeida

Um livro de que participei com um capítulo: 

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio

José Theodoro Mascarenhas Menck (Organizador)

SOMENTE DIGITAL

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio, livro escrito no âmbito dos festejos do bicentenário da Independência do Brasil, revisita os 200 anos da Revolução Constitucionalista do Porto de 1820. Ainda que ocorrida na Europa e muito pouco estudada no Brasil, essa revolução foi de fundamental importância para a completa independência do Brasil, pois teve como objetivo forçar a volta de D. João VI à Lisboa e convocar as Cortes-Gerais para escrever uma Carta Constitucional ao Reino Unido,

A obra se divide em duas partes. Na primeira parte, expõe as atribulações pelas quais Portugal passou naqueles primeiros anos do século XIX, que irão desaguar na Revolução Constitucionalista do Porto de 1820. Na segunda parte, temos uma reunião de ensaios que analisam o impacto das ideias constitucionalistas na ordem social ocidental e, mais especificamente, no Brasil. 

O livro busca preencher uma importante lacuna na historiografia brasileira sobre a independência do Brasil. 

Ideal para professores, educadores, estudantes e todas as pessoas interessadas na história do Brasil.

Disponível neste link: 

https://livraria.camara.leg.br/o-constitucionalismo-e-o-fim-do-absolutismo-regio

Meu capítulo é o seguinte:

“Formação do constitucionalismo luso-brasileiro no contexto das revoluções ibero-americanas do início do século XIX”, p. 215-246.

Ele já foi disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44256725/Formacao_do_constitucionalismo_luso_brasileiro_no_contexto_das_revolucoes_ibero_americanas_do_inicio_do_seculo_XIX_2020_); anunciado no blog Diplomatizzando (8/10/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-constitucionalismo-iberico-do-inicio.html). Relação de Originais n. 3615.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Economics and Business History Society: Annual conference in Porto 2021 converted in virtual

 Dear colleagues, participants and the EBHS community,


As you know, we originally had planned to hold the 46th EBHS Annual Conference in Porto, Portugal in May 2021. However, after heavily weighing all the continued uncertainties regarding the pandemic, (i.e., the timing of vaccination roll-outs around the world, new strands of the coronavirus, etc.), the EBHS board recently has decided to convert the 2021 annual conference into a virtual conference and reschedule Porto to be our venue for 2023.

Our 2021 Virtual Conference will be held from May 18 to May 21. The conference will offer keynotes for each of the conference days. To avoid Zoom fatigue, the schedule for concurrent sessions will be lighter than usual and the event will be spread over four days. Proposals already submitted for both the cancelled Atlanta 2020 and the moved Porto 2021 will be automatically considered.  If you have not already submitted a proposal, you can submit an individual paper proposal or a panel for the virtual conference both online (ebhsoc.org) and by email (conference@ebhsoc.org). The EBHS will soon provide further information about the new conference format and the official CfP.

The organizing committee is sympathetic to the problems that our change of plans may cause. Yet, the safety and welfare of all our attendees and the broader community is, and always will be, paramount in our decision-making.  We are confident that Porto will be a great place to come in 2023, but the timing was just not right for this year. 

The organizing committee for the 2021 Virtual Conference is committed to organizing a welcoming,  productive and stimulating  event, marked by the collegiality, fruitful exchange of ideas, and innovative thinking that has been a hallmark of EBHS conferences in the past.

All the best and a Happy New Year!

Rodrigo Dominguez
EBHS President-elect
 
_______________________________________________
EBHS_Announcements mailing list :: https://ebhsoc.org
EBHS_Announcements@lists.ebhsoc.org
Edit options and read archive: http://lists.ebhsoc.org/listinfo.cgi/ebhs_announcements-ebhsoc.org
Unsubscribe by sending any email to: EBHS_announcements-leave@lists.ebhsoc.org

Um candidato INACEITÁVEL para a CD, sob todos os pontos de vista - Editorial do Estadão

 O candidato do governo, ou melhor, do presidente JB (pois governo não existe) tem sérios problemas com a Justiça. Parece incrível que, mesmo assim, dirigentes e parlamentares façam de conta de que se trate de um candidato aceitável...

Uma candidatura constrangedora
Editorial de O Estado de S. Paulo (6/1/2021)

É um acinte que a Câmara, cuja atual legislatura foi eleita sob o anseio de novo patamar de moralidade na vida pública, tenha sua presidência disputada pelo deputado Arthur Lira
É embaraçosa a normalidade com que tem sido aceita a candidatura do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara. Com o histórico do parlamentar, já é um tanto estranho que ele continue sendo líder do partido na Câmara. No entanto, nesses estranhos tempos, nada parece ser capaz de ruborizar seus apoiadores. Como se sabe, o seu mais ilustre apoiador é o presidente Jair Bolsonaro.
A proximidade do deputado Arthur Lira com questões penais vem de longa data. Em 2012, seu assessor parlamentar Jaymerson José Gomes foi detido pela Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, depois de passar pelo aparelho de raio X, com dinheiro escondido embaixo da roupa. Em relação a tais fatos, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado em 2018 por lavagem de dinheiro e corrupção.
Noutro caso, Arthur Lira foi acusado pelo Ministério Público Federal de chefiar na Assembleia Legislativa de Alagoas um esquema milionário de “rachadinha”, em que parte do salário dos funcionários do gabinete era destinada ao parlamentar. Segundo revelou o Estado, documentos indicam desvios da ordem de R$ 254 milhões, entre 2001 e 2007.
A Arthur Lira, a “rachadinha” teria gerado um rendimento mensal de R$ 500 mil. Recentemente se revelou que a Receita Federal, já em 2009, havia cobrado R$ 1,9 milhão do deputado relativo a impostos não pagos sobre recursos de origem desconhecida, precisamente no período em que o Ministério Público o acusa de operar o esquema de “rachadinha” em Alagoas.
Arthur Lira recorreu da multa do Fisco ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), mas seu recurso foi negado por unanimidade. Em 2017, o deputado aderiu ao Programa Especial de Regularização Tributária (Pert), reconhecendo o imposto cobrado. Atualmente, faz o pagamento parcelado.
A denúncia do Ministério Público Federal também relata a utilização de empresas para simular negócios com a Assembleia Legislativa de Alagoas. Segundo os procuradores, trata-se de manobra para “lavar” dinheiro desviado.
Além disso, Arthur Lira foi condenado em segunda instância na esfera cível por improbidade administrativa. Apesar da Lei da Ficha Limpa, conseguiu tomar posse em 2018 como deputado federal graças a uma liminar do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Diante desse histórico, não cabe ao Palácio do Planalto dizer que apoia a candidatura de Arthur Lira para que as reformas sejam aprovadas ou para que sejam ampliados os excludentes de ilicitude para condutas ilegais de policiais. Seja qual for a agenda legislativa que o presidente da República queira promover nos próximos dois anos, é impossível que não haja, entre as mais de cinco centenas de deputados federais, outro parlamentar com uma ficha menos complicada do que a de Arthur Lira.
Mais do que favorecer determinada pauta no Legislativo, o presidente Jair Bolsonaro parece pretender, com o apoio à candidatura do líder do Progressistas, diminuir deliberadamente o patamar moral do Congresso. Caso consiga colocar na presidência da Casa um deputado que sabidamente praticou a “rachadinha” – Arthur Lira pagou até imposto em virtude dos valores recebidos por meio da prática ilegal –, talvez Jair Bolsonaro consiga que haja menos escândalo em torno das acusações contra seu primogênito, Flávio.
Mesmo com todas suas limitações e eventuais erros, a Operação Lava Jato teve um mérito inegável, reconhecido até por seus mais ferozes críticos. Ela instaurou uma nova sensibilidade em relação ao cumprimento da lei. O que antes era aceitável deixou de sê-lo. De alguma forma, com essa candidatura à presidência da Câmara, Arthur Lira e Jair Bolsonaro fazem movimento oposto ao da Lava Jato, transmitindo a mensagem de que, na política, tudo deveria ser tolerado, não importando a lei ou a decência.
É um acinte que a Câmara, cuja atual legislatura foi eleita com recorde histórico de renovação e sob o anseio de um novo e mais alto patamar de moralidade na vida pública, tenha sua presidência disputada pelo deputado Arthur Lira. O eleitor merece um mínimo de respeito.

Revista Interesse Nacional: um empreendimento que se mantém

 Caro (a) leitor (a)

A edição 51 da Interesse Nacional, a última de 2020, tem artigos que refletem questões atualíssimas, como: 

1) pressão internacional sobre o governo Bolsonaro para que adote medidas urgentes a fim de conservar a floresta amazônica, e o  posicionamento do ministério da Agricultura quanto às críticas de países, investidores e ONGs; 

2) exemplos de como é possível desenvolver uma economia sustentável com a floresta em pé; 

3) racismo e movimentos antirracistas; 

4) argumentos a favor de maior representatividade de negros na política; 

5) política e estratégia de defesa e os interesses nacionais; 

6) desmonte atual da cultura; 

7) STF e a necessidade de uma reforma que lhe garanta maior eficiência; 

8) disputa pela hegemonia comercial e tecnológica entre os EUA e a China.


Escrevem neste número a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o ex-embaixador nos EUA, Sergio Amaral, o professor titular de Direito Constitucional da FGV Direito Rio, Joaquim Falcão, e o pesquisador da FGV, João Carlos Cochlar; a sócia da Mauá Capital e conselheira Latam da Solidaridad,  Carolina da Costa, e o diretor de País da Solidaridad Brasil, Rodrigo Castro; o escritor, jornalista e crítico literário, André Cáceres; o professor de sociologia e ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Augusto Campos; o ex-secretário-adjunto da Cultura do Estado de São Paulo, Ronaldo Bianchi; e o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa.

Link para acessar a edição:

http://interessenacional.com.br/wp-content/uploads/2020/09/IN51.pdf


Relações Brasil Estados Unidos no governo Biden - Paulo Sotero (Interesse Nacional)

O jornalista Paulo Sotero é o mais bem informado jornalista brasileiro sobre as relações Brasil-Estados Unidos, uma vez que seguiu pessoalmente essas relações desde os anos 1990, quando saiu de Paris, onde ficou alguns anos como correspondente da Veja, e foi para Washington, onde ficou como correspondente do Estadão.

Abaixo, em primeiro lugar, um artigo escrito ANTES das eleições de novembro, discorrendo o que seriam essas relações num governo Biden em Washington. Mais abaixo, o artigo que ele escreveu para a revista Interesse Nacional, já refletindo as novas realidades pós eleitorais, mas antes da posse de Biden.

Paulo Roberto de Almeida


Biden não hostilizará o Brasil

Mas não terá tempo para Bolsonaro

PAULO SOTERO

 O Estado de São Paulo, outubro 2020


O risco imediato é que o presidente e seus asseclas declarem simpatia por Trump nas disputas eleitorais pendentes nos EUA

 

O governo de Joseph Biden não hostilizará o Brasil. Mas não terá tempo para o país enquanto arautos do trumpolavismo e passadores de boiada derem cartas em Brasília. Como pouco ou nada se espera em Washington do presidente do Brasil, a ausência dos cumprimentos protocolares ao presidente eleito dos Estados Unidos não faz diferença. Mas os comentários de Jair Bolsonaro e de membros de seu séquito sobre o processo eleitoral americano pesam e pesarão contra o país.

No momento apropriado, a futura administração em Washington buscará um diálogo construtivo com o Brasil  em duas questões prementes de interesse mútuo. A mais urgente é a contenção do vírus que tem aliados em Bolsonaro e Trump e fez dos dois países os maiores necrotérios mundiais de covid-19, com mais de 400 mil mortos entre eles — um número que pode dobrar antes de ser controlado no ano que vem. Os assessores do presidente eleito dos EUA sabem da qualidade da medicina sanitária no Brasil e de sua capacidade na produção de vacinas em escala industrial. Ajudaria, é óbvio, que o país tivesse um ministro da Saúde à altura do desafio posto pela segunda onda do vírus, que está em pleno curso no hemisfério norte e fatalmente chegará ao Brasil. 

O segundo assunto premente de interesse mútuo é a contenção do aquecimento global. Um dos primeiro atos do presidente Biden, em janeiro, será a readesão dos EUA à Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que Trump abandonou. Lançada na Rio 92, a Convenção produziu um acordo histórico em Paris, em dezembro de 2015, sobre a redução voluntária pelos países signatários de suas emissões dos gases poluidores a níveis que mantenham o aquecimento da atmosfera abaixo de dois graus centígrados. As emissões brasileiras estão entre as maiores e derivam, principalmente, do desmatamento e expansão desordenada da pecuária no arco da Amazônia.

De imediato, caberá a atores e instituições da sociedade civil brasileira cultivar laços com a nova admnistração e compensar as faltas do governo, que é obviamente pior do que a nação. Brasília ajudará se evitar dar palpites sobre a crise potencialmente gravíssima gerada pela resistência de Trump em reconhecer a vitória de Biden e seu desejo de sabotar a transição. “Estou alarmado” com as ações desse “patife e fora da lei”, afirmou na última quarta-feira à MSNBC o ex-general Barry McCaffrey, ministro do governo Clinton e um dos militares mais condecorados de seu país, referindo-se a Trump. A fúria de McCaffrey, compartilhada por seus colegas ex-generais, foi provocada pela decisão de Trump de mandar embora pelo tweeter o secretário da Defesa Mark Esper e trocar o alto comando do Pentágono por ideólogos inexperientes, da mesma laia dos amadores que compõem o gabinete do ódio incrustrado no Palácio do Planalto, com o beneplácito de Bolsonaro. Trocas parecidas podem acontecer no comando da CIA, do FBI e do Departamento de Segurança Interna. Essas mudanças imprudentes, desnecessárias e injustificáveis às vésperas da troca do governo alarmam os generais e os especialistas civis em segurança nacional. O temor é que adversários dos EUA usem as oportunidades que elas obviamente oferecem e façam movimentos que requeiram uma resposta militar.

Tendo negado, durante a campanha, comprometer-se com uma transição ordeira de poder caso perdesse a eleição, Trump embarcou numa irresponsável estratégia para alimentar o caos — sua especialidade —, tumultuando a recontagem automática de votos nos estados onde perdeu por pouco e aprofundando a divisão política e o ódio racial até as vésperas do início da nova administração. O palco da contenda são as acirradas disputas por duas vagas ao Senado federal no estado da Geórgia, a serem decididas em segundo turno, na primeira semana de janeiro. Elas criam espaço para Trump continuar a fazer estragos, com a ajuda da liderança do Partido Republicano, que conseguiu aumentar sua bancada na Câmara de Representantes, onde é minoritário, e está na briga para manter a maioria no Senado, que perderá se os democratas elegerem dois senadores na Geórgia. 

Esse é o tenso contexto no qual o Brasil não se deve meter, pois nada de relevante tem a dizer ou a ganhar e muito perderá voluntariando opiniões em assuntos que não são de sua conta. Declarações de Bolsonaro prometendo “pólvora” se os EUA impuserem sanções contra o Brasil por conta do desmatamento na Amazônia preocupam, - sobretudo por revelarem o despreparo do líder brasileiro. Sanções contra o Brasil inevitavelmente virão, mas de países da Europa importadores de nossos produtos agrícolas e/ou sob a forma do sepultamento do acordo comercial Mercosul–União Europeia, já há tempo nas cordas.   

 Preocupa também a inclinação do atual comando do Itamaraty a fazer tolices, como vangloriar-se da nova posição de pária internacional. Bravatas e declarações estúpidas mostram que a presença do país na cena internacional deixou de ser indispensável. 

Jornalista, é pesquisador sênior do Brazil Institute no Wilson Center, em Washington 

=================

      

Na era Biden, o Itamaraty ‘Trumpolavista’ Ficará Falando Sozinho

 

De volta a Washington, em dezembro de 2013, depois de quase quatro anos como embaixador em Brasília, Thomas A. Shannon recordou afirmação que havia feito ao partir para a missão sobre o efeito salutar da crescente conectividade das sociedades dos dois países, já visível então, a despeito da distância e das turbulências ocasionais do diálogo oficial. “Eu disse que nossas sociedades e nossos povos — e não nossos governos — se tornariam os principais motivadores de nosso relacionamento”, lembrou Shannon, em palestra no Wilson Center. A presciente observação do diplomata, que concluiu sua carreira em 2018 como vice-secretário de Estado, descreve o desafio criado para o Brasil pela eleição à Casa Branca do centrista Joseph R. Biden e a fragorosa derrota que ele impôs ao populista de extrema-direita Donald Trump, cujo arremedo tropical, Jair Bolsonaro, permanecerá no Palácio do Planalto. Trata-se de promover e ancorar o relacionamento em interesses reais mútuos que vão além dos governos e a eles se impõem.

Biden conhece e valoriza o Brasil. Ele está ciente das complexidades do País e será assessorado por especialistas fluentes em português e conhecedores da realidade brasileira. Por temperamento e convicção, o novo líder americano não hostilizará o País e não fará preleções. Os EUA estão saindo de uma experiência política traumática, ainda não superada, que colocou em questão, dentro e fora do país, a noção de excepcionalidade americana que desde sempre inspirou a arrogância com que seus líderes falavam ao mundo.

Isso não significa, no entanto, que o novo líder americano, empenhado em reconstruir os laços de seu país com o mundo, terá tempo para as esquisitices e absurdos do “trumpolavismo” ou a má-fé e tolices dos passadores de boiadas que dão cartas em setores importantes do governo brasileiro. O mesmo se aplica à valentia retórica do próprio Bolsorano, que reagiu ao alerta feito por Biden num debate com Trump, durante a campanha, sobre “consequências econômicas significativas” que o Brasil enfrentará se não parar de “destruir a floresta [amazônica]”, afirmando que o governo responderia “com pólvora” à imposição de sanções contra o país. A troca politizou a relação bilateral no Partido Democrata, no qual o líder brasileiro não tem simpatizantes e pode, potencialmente, limitar Biden. A propósito, não faz falta a ausência de cumprimentos protocolares de Bolsonaro a Biden, que não tinham sido apresentados até o início de dezembro. Mas caíram mal e não serão facilmente relevados os irresponsáveis comentários do presidente brasileiro sobre alegações de fraude na eleição de Biden. Não se deve esperar, assim, que o novo governo em Washington priorize as relações com o Brasil.

Contenção da COVID-19 é tema mais urgente da pauta bilateral

Dois temas do tóxico legado de Trump mantêm o País no radar e exigem atenção imediata. O mais urgente é a pandemia. Transformados nos dois maiores necrotérios mundiais de Covid-19 pelo negacionismo e pela negligência de Trump e Bolsonaro, os EUA e o Brasil estão fadados a intensificar a cooperação bilateral na produção de vacinas nos próximos meses. É antiga a cooperação entre as escolas de medicina e os centros de pesquisas sanitárias dos dois países e o intercâmbio de especialistas. É reconhecida a capacidade instalada no Brasil para a produção de vacinas em escala industrial, essencial para a superação do flagelo não apenas em casa, mas nos países vizinhos e em partes da África.

O outro tema que se impõe é a questão ambiental. Ela voltará com força à pauta no dia da posse de Biden, quando sua administração notificará às partes sobre a readesão dos EUA à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Numa de suas primeiras decisões, o novo líder americano reforçou o compromisso com a sustentabilidade ambiental, elevando o ex-secretário de Estado John Kerry ao novo posto de Enviado Especial para Clima, com status de ministro e amplo apoio da vasta rede de entidades científicas públicas e privadas, empresas e organizações civis dedicadas à restauração e preservação do meio ambiente. No Brasil, parece claro que essa conexão dependerá crucialmente de atores relevantes da sociedade civil presentes nas empresas e entidades do setor privado, do terceiro setor, na academia e nos meios de comunicação. Trata-se de uma tarefa de articulação estratégica de interesses concretos, com objetivos mensuráveis ao longo do tempo, como o fim do desmatamento nos grandes biomas, o reflorestamento e a adoção de métodos e tecnologias limpas na produção, transporte e comercialização de bens e serviços.

Esse trabalho já começou e vai adiantado. Ele está patente nas atividades dos setores modernos do agronegócio e começa a ganhar espaço nas discussões de políticas públicas. Em julho passado, 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central divulgaram declaração conjunta em defesa de uma economia de baixo carbono no país. Ainda que tardia, quando se considera que veio quase 30 anos depois da Rio 92 — a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que internalizou politicamente o assunto —, a iniciativa revelou à nação a salutar descoberta pela elite econômica nacional da necessidade de incorporar dimensão ambiental às políticas de expansão do PIB e promoção da prosperidade.

Em agosto, pressionados pela urgência que o assunto ganhou com a chegada ao poder de Bolsonaro e de sua deletéria abordagem do assunto, uma centena de líderes de vários setores, que vinham conversando há tempos — entre eles os empresários Guilherme Leal, Natura e presidente a Instituto Arapyaú; Cândido Bracher, Itaú; Walter Schalka, Suzano; Marcos Molina, Marfrig; José Roberto Marinho, Grupo Globo e Instituto Humanize; e Denis Minev, Lojas Bemol, maior rede varejista da região Norte —, lançou a “Concertação pela Amazônia” com objetivos que vão além das boas intenções. O propósito é “institucionalizar um debate plural e democrático voltado ao desenvolvimento sustentável da região”, com base em diagnóstico que “subsidiará a construção de uma visão de futuro” para a Amazônia, alicerçada num “movimento que torne perene a implementação de uma agenda de desenvolvimento sustentável no território”.

É dessa iniciativa que devem sair participantes de um diálogo consequente e duradouro com organizações da sociedade americana e com a administração Biden. Os atores dos dois países nesse empreendimento cooperam há anos e têm histórico de realizações. A ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, trabalhou intensamente na construção do Acordo de Paris da Convenção do Clima, em 2015, com o negociador americano Todd Stern, então líder no Conselho de Segurança da Casa Branca nas negociações. Principal autora do Código Florestal de 2012, Izabella é interlocutora respeitada pela nova administração em Washington, bem como por governos e organizações ambientais de nações líderes na Europa e pelas agências das Nações Unidas.

O fato de o governo brasileiro continuar cegamente na ignorância negacionista sobre os desafios que o País enfrenta na Amazônia, orientado pela miopia quase religiosa dos arautos locais do “antiglobalismo”, seja isso o que for, não impede o engajamento de participantes e apoiadores da concertação com atores importantes em Brasília, como o vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia Legal, e a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina da Costa Dias, ex-deputada do Mato Grosso do Sul ligada ao setor agropecuário, com quem Izabella Teixeira tem bom diálogo.

Volta da diplomacia nos EUA deixará o Itamaraty trumpista ainda mais isolado

É pelo diálogo que a nova administração Biden pretende reconstruir as relações internacionais dos EUA, fortemente danificadas por Trump. Estas voltam agora aos trilhos da diplomacia, que guiarão a reinserção do País no mundo. É assim que Washington buscará estabilizar as relações com adversários, como a decadente potência Russa, uma China ascendente ou a emergente Índia, a qual conta com bem-sucedida colônia de imigrantes e seus descendentes no País, entre as quais a vice-presidente Kamala Harris.

Nas Américas, o Canadá, aliado próximo com o qual os EUA compartilham sua maior fronteira e fortes laços culturais e econômicos forjados em séculos de história, voltará ao lugar tradicional de principal aliado no continente. Ao sul, o México, origem da maior comunidade de imigrantes do país, e a Colômbia, principal fonte do flagelo do tráfico ilícito de drogas, enraizaram conexões amplas e profundas com os EUA no último quarto de século, e terão prioridade na América de fala espanhola. Entre os demais países do hemisfério, ganharão os que celebraram acordos comerciais em décadas recentes.

Na frente interna, Biden tem a árdua missão de processar as lições da campanha que o elegeu e incorporá-las às ações da administração. Homem afável, politicamente moderado e experiente, com 44 anos no Senado e oito na vice-presidência, o novo ocupante da Casa Branca sabe que Donald Trump, embora vencido, seguirá como um fator de perturbação na vida americana.

Faltando apurar votos residuais, Biden recebeu 79,7 milhões, 6 milhões mais do que Trump, numa disputa que teve participação de 67% eleitores, a maior em 120 anos, num País onde o voto não é obrigatório e a abstenção oscila em torno dos 50%. Biden prevaleceu no placar do Colégio Eleitoral, que reflete o tamanho das populações dos 50 estados e é a conta que vale. Venceu com 306 votos eleitorais, dos 538 possíveis, o mesmo placar que Trump descreveu como “vitória esmagadora” quando bateu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton em 2016.

Mas o triunfo de Biden não produziu um mandato político claro. A votação que Trump obteve nas urnas foi a segunda maior da história do País e municiou o republicano a permanecer no cenário como força política. Sua presença inibirá por algum tempo o surgimento e a afirmação de novos líderes nacionais no partido conservador, especialmente se ele anunciar candidatura à Casa Branca para 2024. Os planos de Trump podem ser frustrados pelos processos judiciais por corrupção, que ele, filhos e associados estão fadados a enfrentar nos próximos meses no Estado de Nova York e, eventualmente, no plano federal.

Biden afirmou que não pretende guiar-se pelo sentimento de vingança, forte entre muitos democratas, e que exacerbaria a divisão entre americanos, a qual ele precisa superar para dar efetividade ao seu governo. Mas sabe que cometerá erro crasso se ignorar o peso político de Trump e sua capacidade midiática para promover o caos e semear crises, que é parte de sua estratégia para permanecer relevante.

Some-se a isso o desempenho surpreendentemente medíocre dos democratas nas eleições parlamentares, que ocorreram simultaneamente à disputa presidencial. Na Câmara de Representantes, o partido de Biden viu a confortável maioria de mais de 30 cadeiras, num total de 435, encolher para menos de dez. Estrategistas do partido atribuíram o recuo à rejeição pelos eleitores de propostas radicais promovidas pela esquerda, como a eliminação ou redução de verbas para as polícias municipais, acusadas de fomentar o ódio racial, a aceleração das políticas de transição para energias limpas e a socialização do sistema federal de seguro saúde, que é anátema numa nação fundada na liberdade individual e no capitalismo.

Essas propostas abriram divisões entre os democratas e contribuíram para frustrar a conquista da maioria do Senado num pleito em que os republicanos tinham um maior número de cadeiras em jogo. O racha interno entre os democratas deixou a esquerda do partido frustrada e motivada a contestar a moderação de Biden. Nesse contexto, a ampla e merecida publicidade negativa que a política ambiental do governo Bolsonaro recebeu na imprensa americana e internacional torna o País alvo certeiro de críticas. Mas, as críticas podem também reduzir e envenenar o espaço para interações produtivas entre os participantes da Concertação pela Amazônia e seus aliados dentro e fora da nova administração americana.

A decisão sobre o controle do Senado, crucial para a aprovação das propostas orçamentárias do novo governo e a confirmação dos 15 membros do gabinete de ministros e dezenas de outros integrantes da alta hierarquia, incluindo embaixadores, acontecerá na primeira semana de janeiro em disputas de segundo turno pendentes no estado da Georgia. Esse é o complexo e ainda indefinido panorama que os atores brasileiros devem ter em mente em suas interações com Washington e seus interlocutores nos EUA. A entrada em cena de representantes de peso da sociedade civil brasileira será muito bem-vinda se injetar realismo e der lastro ao que os dois países podem e devem buscar juntos.

Décadas de frustrações esvaziaram relações oficiais entre Brasília
e Washington

A história das relações bilaterais mostra as limitações de tentativas de aproximação quando deixadas aos governos. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, que ganhou o apelido de Indiana Jones na administração George H. W. Bush por seu estilo espetaculoso de agir, iniciou a abertura da economia e pôs simbólica pá de cal no programa nuclear, como queria Washington. Seu maior e último feito foi presidir a Rio-92 semanas antes de renunciar para não ser removido por impeachment, após denúncia de corrupção feita por um de seus irmãos.

Os seis anos em que Fernando Henrique e Bill Clinton coincidiram no poder levou a uma maior aproximação entre os dois países. Mas esta murchou na recusa do Brasil de embarcar na proposta americana de integração econômica regional seletiva e terminou em frustração dos dois lados. Nas presidências de Luiz Inácio Lula da Silva e de George W. Bush, que também coincidiram seis anos no poder, Brasília elegeu o projeto da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, que Fernando Henrique rejeitara na Terceira Cúpula das Américas, em Quebec, como alvo predileto, argumentando que o arranjo representaria a anexação da economia brasileira pela americana. A produção de etanol nos dois países foi o mote de um estreitamento de laços que viu o líder americano visitar duas vezes o Brasil antes de o governo brasileiro mudar o foco de sua política energética para o pré-sal e, com isso, labuzar-se em negócios escusos que entraram para a história como o maior escândalo de corrupção de todos os tempos.

Nos dois anos em que Barack Obama e Lula governaram simultaneamente, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil e deu-se o maior curto-circuito da história das relações bilaterais — numa fracassada tentativa de mediação pelo Brasil e a Turquia, apoiada inicialmente pelo líder americano, de um acordo nuclear entre o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. O grave incidente em maio de 2010, deixou mágoas nos dois países e foi superado apenas com a posse de Dilma Rousseff, em 2011. Primeira mulher presidente do Brasil e sem talento para a diplomacia, amargou episódio de espionagem americana em seu celular e na Petrobras. A revelação do embaraçoso episódio motivou a vinda do vice-presidente Biden a Brasília, em missão de panos quentes que, ironicamente, abriu caminho para o momento mais produtivo da relação bilateral. Depois de uma segunda visita de Biden para a abertura da Copa do Mundo de 2014, Dilma fez visita aos EUA em meados de 2015, na qual Obama e John Kerry, secretário de Estado, empenharam-se em garantir participação efetiva do Brasil em reunião da Convenção do Clima em dezembro em Paris.

A reunião produziu histórico acordo sobre as contribuições nacionais voluntárias de redução das emissões de CO2. A contribuição da delegação brasileira foi amplamente reconhecida em Washington e outras capitais e abriu espaços providenciais a serem explorados agora, na era Biden, para a construção de agenda produtiva por atores influentes da sociedade civil já mobilizados para a tarefa – goste ou não Bolsonaro.

 

 

Las lecciones de Carlos Escudé - necrológio - Juan Pablo Scarfi (La Nación)

Las lecciones de Escudé

Juan Pablo Scarfi 

La Nación, 4 enero 2021

https://www.lanacion.com.ar/opinion/las-lecciones-escude-nid2560460

Provocador, apasionado e imprevisible, Carlos Escudé fue una figura polifacética tanto en las aulas y el mundo intelectual y académico como en la política exterior concreta y la televisión. Escudé supo desplegarse con una soltura ejemplar en todos estos escenarios. Quienes lo conocimos y tuvimos como docente sabemos bien que antes que un profesor de Relaciones Internacionales, fue un intelectual erudito especializado en dicha disciplina y particularmente preocupado por pensar los dramas y peripecias de la Argentina, las raíces de su tradición cultural y política nacionalista territorial y ante todo su inserción en la sociedad internacional. Al mismo tiempo por su estilo, ciertamente de una excentricidad irrepetible, podía ser fácilmente estigmatizado como un loco o delirante y por lo tanto siempre se corría el peligro de no tomárselo en serio. No cabe duda de que muchos y muchas de sus colegas contribuyeron a promover y difundir ese estigma. Por la profundidad y agudeza que mantenía Escudé era mucho más sencillo desmerecerlo y no tomárselo verdaderamente en serio. Mi director en el doctorado que realicé en la Universidad de Cambridge, Charles Jones, quien incluía y discutía algunos trabajos de Escudé como parte de su seminario de maestría sobre la historia de las relaciones exteriores sudamericanas, en el que yo también enseñé, lo definió en una conversación informal, en cambio, como "crazy but right." No hay duda de que a Carlos Escudé cabía tomárselo muy en serio, especialmente cuando era irónico o hablaba en broma.

Luego de recibirse de Sociólogo en la UCA, Escudé se formó bajo la influencia de la socióloga argentina Francis Korn, quien lo estimuló para que desarrollara, siguiendo sus propios pasos, una formación de posgrado en el St Anthony´s College de la Universidad de Oxford, donde Escudé terminó realizando su Maestría. Poco después completó su doctorado en la Universidad de Yale con una tesis que se convirtió pronto en un clásico titulada Gran Bretaña, Estados Unidos y la declinación argentina, 1942-1949 la cual fue discutida con fervor en la Argentina de comienzos de los años 80 en las páginas de la revista Desarrollo Económico. En 1992, Escudé publicó el libro que quedó asociado con lo que se consideró como su contribución mayor al campo de las relaciones internacionales, Realismo periférico: fundamentos para la nueva política exterior argentina (1992). Este último libro proponía una teorización rigurosa, novedosa y altamente polémica sobre el lugar que le cabía jugar a la Argentina como país periférico y su necesidad de establecer alianzas con las grandes potencias mundiales y en especial con los Estados Unidos, repensando las tradiciones dominantes de la política exterior argentina. Esta obra tan controversial como única en el campo de las relaciones internacionales en la Argentina encontró eco y fundamentos políticos en quien fuera entonces el canciller argentino Guido Di Tella en el contexto del gobierno de Carlos Menem . Al haberse puesto al servicio como asesor de Di Tella, Escudé y el aporte de su libro fueron luego simplificados e incluso vulgarizados al quedar asociados desde entonces a lo que dio en llamarse las "relaciones carnales" con Estados Unidos. Como asesor de Di Tella, Carlos Escudé quedó asociado al neoliberalismo de los años 1990 y comenzó a adquirir un perfil tan político como mediático, todo lo cual ayudó a construir su mito.

Forjar un mito puede contribuir, pero no siempre lleva a la estigmatización. Simplificar puede contribuir, pero no siempre implica vulgarizar. Escudé fue sin duda objeto de estigmatizaciones y sus ideas fueron vulgarizadas. Aunque no estaba especialmente interesado en la vulgarización, a Escudé le apasionaba que las grandes ideas y proyectos académicos y políticos fueran discutidos más allá de la vida académica, con lo cual contribuyó a que sus ideas fueran debatidas y así simplificadas más allá de las aulas, los libros y los papers. Por lo tanto, él mismo forjó su propio mito al calor de la fuerza desmesurada de su propia pasión, su gusto por la provocación y su capacidad para sorprender e irritar a cualquier audiencia de alumnos, diplomáticos, políticos y televidentes. La culpa del mito Escudé no fue sino del propio Carlos Escudé. Al querer contribuir a su propio mito se vio motivado a simplificar sus ideas. Y al forjar un mito, Escudé se vio sujeto a una gran variedad de estigmatizaciones de parte de sus colegas y de todas sus audiencias. Sus transformaciones ideológicas y su atracción por una diversidad de tradiciones políticas y estéticas lo volvieron inclasificable. Se lo asoció con justicia al neoliberalismo de los años 1990 y también al kirchnerismo de los años 2010 al que adhirió con convicción. Carlos Escudé había sido a la vez amigo personal de Adolfo Bioy Casares y de otras figuras vinculadas al mundo de las elites argentinas, y también a la vez había formado parte del público selecto y de culto inicial que asistía a los pequeños conciertos que realizaban Patricio Rey y los Redonditos de Ricota en sus primeros años de carrera antes de adquirir una popularidad masiva.

A comienzos de la década del 2000, Escudé comenzó a aparecer regularmente en la televisión opinando y polemizando sobre el atentado de 2001 a las Torres Gemelas y sus efectos en la así llamada "Guerra contra el Terrorismo" emprendida y liderada desde los Estados Unidos por George W. Bush. Durante esos años, Escudé llegó a defender enérgicamente y de manera controversial el accionar de los Estados Unidos, al punto de que en una entrevista que le hicieron llegó a cantar en vivo el himno de los Estados Unidos en un gesto de defensa de la soberanía de dicho país y una suerte de compasión por los atentados recientes de que había sido objeto. Escudé era afilado, filoso y agudo cuando de debatir se trataba. Pero tenía un gusto especial por la provocación y por producir irritación. En un coloquio sobre Malvinas realizado entre académicos argentinos y británicos, Escudé se refirió a las Islas Malvinas como si no fuera él mismo un argentino y las llamó "Falklands" ante la sorpresa y las risas contenidas de gran parte de la audiencia. Esos gestos respondían no solo a un gusto especial por la provocación y por producir irritación, sino también a una actitud ecléctica y profundamente crítica del nacionalismo territorial argentino y de los nacionalismos en sentido amplio. Quizás los trabajos que produjo a finales de los años 80 y comienzos de los 90 sobre estos temas explorando las raíces culturales y educativas del nacionalismo territorial argentino hayan sido sus contribuciones más originales y perdurables para pensar críticamente a futuro la política exterior argentina y su lugar en el mundo. Entre ellos se cuentan, Patología del nacionalismo: el caso argentino (1987) El fracaso del proyecto argentino: educación e ideología (1990).

En la década de 2010, Escudé readaptó su teoría del realismo periférico al contexto del kirchnerismo y postuló que la nueva potencia con la que la Argentina debía realizar alianzas estratégicas ya no eran los Estados Unidos sino China. En esa coyuntura, Carlos Escudé adhirió con convicción a la política exterior que el gobierno de Cristina Kirchner estaba forjando y la entendió como encauzada en los marcos de su propia teoría del realismo periférico readaptada a un nuevo contexto geopolítico mundial.

El mito Carlos Escudé produjo una infinidad de anécdotas. Me gustaría cerrar con una propia. La primera materia que cursé en mi vida de relaciones internacionales la dictó Carlos Escudé en el año 2000 y su ayudante era Paola De Simone, quien falleció, como él, de Covid a comienzos de septiembre de 2020 mientras dictaba su clase por zoom. Escudé la despidió escribiendo lo siguiente: "Ya nos llegará el turno a nosotros, querida Paola. Nada sabemos sobre este misterio que es la vida, pero ahora, del otro lado, ya sabes mucho más que los que dejaste atrás. Que sea con Dios." Frente a esa despedida emotiva le confesé por Facebook a Carlos que guardaba un bello recuerdo de las clases que compartían y dictaban juntos a coro, generando un diálogo tan interesante como intenso y apasionado. De ese modo conocí por primera vez en mi vida el campo de las relaciones internacionales y el mito Carlos Escudé.

Por: Juan Pablo Scarfi

Investigador adjunto del Conicet, Universidad de San Andrés


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Trinta anos sem José Guilherme Merquior: listagem da série "ano Merquior" - Paulo Roberto de Almeida


 Comecei  esta série "ano Merquior" de forma algo improvisada – aliás, como muitas coisas que faço –, ao ter conhecimento de que um longo ensaio meu, sobre a obra sociológica e política de José Guilherme Merquior – reproduzida aqui apenas em um breve trecho inicial – tinha sido incluída numa nova edição de Foucault – escrita em inglês pelo intelectual brasileiro mais universal que jamais existiu, com exceção, talvez, de Vinicius de Moraes – pelo seu editor na É Realizações, João Cezar de Castro Rocha, a ser publicado proximamente. Pretendo incluir outros materiais, até a data de seus 80 anos, em 22 de abril. Ele nos fez, nos faz muita falta: imaginem o que poderia ter escrito nestes últimos 30 anos desde a sua morte.

Paulo Roberto de Almeida


 

Trinta anos sem José Guilherme Merquior


Postagens no blog Diplomatizzando, por Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021

 

 

Ao se completarem 30 anos desde o falecimento do intelectual, acadêmico (da ABL) e diplomata José Guilherme Merquior, desaparecido precocemente aos 50 anos incompletos, em 7 de janeiro de 1991, o brilhante homem de cultura, de saber, de conhecimento e de sensatez política e econômica faz mais falta do que nunca, em nossos tempos conturbados, estilhaçados por ideologias contrárias e contraditórias. Exatamente tudo o que ele precisava para impor-se no debate público com sua postura serena, ponderada, nos argumentos certeiros, praticamente imbatíveis, dotados de densa, profunda, fundada racionalidade, tudo apoiado num sólido conhecimento das teorias políticas, das doutrinas sociais e de uma atenta observação das coisas do mundo. 

Ao pensar em tudo o que ele poderia ter colaborado, como reflexão e posturas, desde seu brutal desaparecimento, resolvi alinhar algumas poucas postagens, selecionando materiais diversos que ofereço como prazer intelectual – e lamento adicional – dos leitores interessados. São materiais dele ou sobre ele, inclusive um pequeno trecho de um longo ensaio que fiz sobre sua obra sociológica e política – não ousei me aventurar na produção estética e literária –, que não se esgotam aqui, pois em 22 de abril deste ano ele completaria 80 anos: ficou nos “devendo” trinta anos, pelo menos, de intensa produção cultural, política, filosófica, estética e literária. 

Já disse algo do que penso sobre ele e sua obra nas introduções das postagens que alinho abaixo, mas me permito transcrever, aqui, o posfácio escrito pelo editor atual na, É Realizações, da obra de JGM, o professor João Cezar de Castro Rocha, à reedição da obra O Marxismo Ocidental ( 2018), mas apenas o seu início: 

 

Uma obra-manifesto?

Hipóteses sobre o estilo intelectual de José Guilherme Merquior

João Cezar de Castro Rocha

 

Por onde começar?

Não é uma tarefa simples oferecer uma interpretação abrangente da obra multifacetada de José Guilherme Merquior. E não apenas multifacetada, mas também extensa – extensíssima... e aqui o superlativo seria modesto e acima de tudo sincero. Publicando desde muito cedo no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Merquior nunca diminuiu seu ritmo intenso, quase impossível, de leitura e de escrita. Falecido precocemente aos 49 anos de idade, ele deixou vinte livros lançados e Liberalism – Old and New inteiramente revisto, embora o título tenha sido publicado postumamente.

Não é tudo.

Desses 21 livros, um foi escrito em francês, L’Esthétique de Lévi-Strauss (1977), inicialmente apresentado na forma de um seminário em presença do antropólogo; aliás, o carteio entre José Guilherme Merquior e Claude Lévi-Strauss merece uma cuidadosa edição comentada. Desde 1979, com o aparecimento de ensaio extraído de parte do segundo doutorado que completou, este sob a orientação de Ernest Gellner na London School of Economics, The Veil and the Mask: Essays in Culture and Ideology, Merquior passou a redigir – sempre à mão – seus textos mais ambiciosos em inglês. No caso foram outros cinco títulos, incluindo este Western Marxism, assim como o último que escreveu, Liberalism – Old and New (1991) 

Ainda não é tudo.

Nos livros escritos em inglês, Merquior não foi nada tímido e buscou produzir um acerto de contas com as correntes hegemônicas da tradição ocidental. E isto sem perder um decibel sequer de sua dicção polêmica – proeza incomum, e não somente em sua época. (p. 250-251 de O Marxismo Ocidental, 2018).

 

Alinho aqui as postagens que preparei de forma muito improvisada, simplesmente garimpando sem muita ordem os textos dele e sobre ele que encontrei em duas ou três pastas de meus arquivos de computador. Outras postagens virão, no devido tempo, neste ano que apelidei de “ano Merquior”, uma modesta homenagem a quem tanto contribuiu com minha formação intelectual, tanto, talvez até mais, do que outros grandes mestres: Marx, Max Weber, Raymond Aron, Fernand Braudel, Albert Hirshmann, Barrington Moore, David Landes, Deirdre McCloskey e tantos outros. 

 

Postagens iniciais nesta série “O ano Merquior”

 

1) 2021, o ano Merquior (1): aos 30 anos de sua morte precoce, ele estaria fazendo 80 anos neste ano

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-1-aos-30-anos-de.html

 

2) 2021, o ano Merquior (2): Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-2-discurso-de-posse.html

 

3) 2021, o ano Merquior (3): Homenagem de seus amigos e colegas diplomatas, depois de sua morte

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-3-homenagem-feita.html

 

4) 2021, o ano Merquior (4): uma entrevista para o jornal Gazeta do Povo sobre Merquior - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-4-uma-entrevista.html

 

5) 2021, o ano Merquior (5): A legitimidade na perspectiva histórica (1980) - José Guilherme Merquior, Celso Lafer

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-5-legitimidade-na.html

 

6) O ano Merquior (6): A tese do curso de Altos Estudos em 1978: A legitimidade em política internacional - José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-6-tese-do-curso-de-altos.html

 

7) O ano Merquior (7): o que perdemos em 30 anos de ausência de José Guilherme Merquior? - Josué Montello

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-7-o-que-perdemos-em-30.html

 

8) O ano Merquior (8): Os primeiros 30 anos de intensa produtividade intelectual - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-8-os-primeiros-30-anos.html

 

9) O ano Merquior (9): Fotos do jovem orador da turma de 1963: José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-9-fotos-do-jovem-orador.html

 


10) O ano Merquior (10): depoimento de José Mário Pereira sobre José Guilherme Merquior (2001)

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-10-depoimento-de-jose.html

 


 

A propósito desta última postagem, o testemunho de José Mário Pereira, esclareço que o segundo posfácio da nova edição do Marxismo Ocidental compõe-se de uma entrevista concedida pelo editor da Topbooks ao diretor editorial Castro Rocha, que vale ler em sua integridade.

Outros materiais virão, aguardem...

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021