Um século atrás, mais de 70% do valor das exportações brasileiras era café: o café era o Brasil e o Brasil era o café.
Cem anos depois, o café representa menos de 3% das exportações totais do Brasil. Uma história de sucesso na substituição... por outras commodities, pois a soja vai a mais de 10% da pauta...
Brasil, bastante diferentes, mas sempre igual...
Paulo Roberto de Almeida
O café decola
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 13 de agosto de 2010
A colheita de café deste ano está terminando. Se as estimativas da Conab se confirmarem, serão 47 milhões de sacas de 60 kg. O IBGE prevê pouca coisa menos, 45,8 milhões. Alguns analistas do setor, mais otimistas, confiam numa safra recorde de 55 milhões de sacas. A conferir.
Mas a principal novidade não está no volume da produção e, sim, no preço em que será vendida. As cotações, que vinham a mais de uma década se arrastando, estão em franca recuperação. Em junho, o produto atingiu o maior preço em 12 anos na Bolsa de Nova York e, desde então, não parou de subir. Neste ano, foi a segunda commodity agrícola que mais valorizou: 29,09%, só ultrapassada pelo trigo (alta de 29,73%). Na Bolsa de São Paulo, a esticada no mesmo período segue ritmo parecido: 25,76%. Sexta-feira, no mercado futuro em Nova York, os contratos com vencimento em setembro terminaram o dia a 174,10 centavos de dólar por libra-peso. Aqui em São Paulo, a saca de 60 kg foi negociada a U$$ 209,00.
São três as molas propulsoras dos preços: quebra de produção nos anos anteriores, redução dos estoques e mais consumo. O mercado está cada vez mais interessado por cafés do tipo arábica. Os produtores da Colômbia e da América Central, fornecedores importantes dessa variedade, vêm apresentando quedas na produção em consequência de clima adverso e só voltarão a abastecer o mercado no fim deste ano.
Os estoques mundiais (de todos os tipos de café) estão caindo. Em 2003, eram de 73 milhões de sacas. Neste ano, devem ser de apenas 33,5 milhões de sacas. No Brasil, encolheram ainda mais: caíram de 23 milhões de sacas em 2003 para 9 milhões de sacas em 2009.
Por outro lado, cada vez mais gente no mundo não abre mão do seu cafezinho ou, como preferem os americanos, da sua xícara grande de café. É o fator que, desde 1990, vem puxando o consumo global a uma média anual de 2,2%. Em 2010, o consumo deve atingir 134 milhões de sacas contra uma produção que não deverá passar das 130 milhões de sacas (as estimativas são da Organização Internacional do Café – OIC).
As projeções de aumento do consumo para o Brasil, o segundo maior mercado do mundo, são ainda mais expressivas. Estatísticas da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), puxadas pelas boas previsões para o crescimento do PIB, dão conta de que o consumo brasileiro deverá aumentar 5% em volume neste ano, para 19,31 milhões de sacas de 60 kg.
Diante desse quadro de baixa oferta e de forte demanda, grande parte dos analistas acredita que os preços altos irão se manter por um bom tempo, tanto no mercado internacional quanto no doméstico.
O cafeicultor Luiz Suplicy Hafers está farejando mais. Está prevendo um “squeeze” na Bolsa de São Paulo, ou seja, uma escassez repentina. Mas os analistas Tito Gusmão, da XP Investimentos, e Rodrigo Costa, da corretora Newedge, entendem que esta é uma aposta pouco provável, já que a safra cheia em fase final de colheita por aqui será mais do que suficiente para honrar os contratos.
No gráfico, você acompanha o comportamento, ano a ano, dos estoques mundiais de café.
A história mudou. O Brasil continua sendo o maior produtor e o maior exportador de café do mundo. Mas, se até os anos 70, o café era o principal produto de exportação, hoje a história já é bem diferente…
Participação modesta. Em 2009, as exportações do produto correspondiam a 2,8% das exportações brasileiras, enquanto a fatia da soja alcançava 11,3%.
COLABOROU ISADORA PERON
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