Sim, quero me referir à possibilidade de que a China faça, não um pouso suave, mas aquilo que os americanos chamam de "crash landing", uma queda brutal, o que afetaria a tudo e a todos, indiscutivelmente.
Eu costumo dizer que a China ainda não é uma locomotiva mundial, e que ela ainda não tem a capacidade de liderar o mundo econômico, e que seu único impacto mundial seria sob a forma de uma "disruption", ou seja, um fator perturbador, mais do que um fator de ruptura positiva para algo que possa consolidar a economia mundial. A China é um elefante na loja de louças, que durante mais de dez anos desempenhou um papel eminentemente positivo na economia mundial: destruindo empregos industriais no resto do mundo, mas obrigando os países avançados a avançarem na escala tecnológica e provocando um efeito deflacionista sobre os preços das principais manufaturas intercambiadas nos mercados internacionais.
Pois bem, isso agora acabou, não de vez, mas pelo menos na presente conjuntura.
Lembro-me de um desses ministros lulistas, mais lulista que o próprio, adorador do "Nosso Guia" como ele dizia, que "congratulou-se" -- termo mais besta, não é? -- com todos e cada um, quando da primeira fase da crise atual, quando os EUA aterrisaram pesadamente o seu "boeing" econômico na sequência do estouro da bolha imobiliária em 2007 e das falências bancárias de 2008.
Pois o preclaro ministro achou ótimo que a gestão lulista tivesse rompido com as negociações da Alca e diminuido a "dependência brasileira em relação aos EUA", assim disse ele, referindo-se aos fluxos de comércio bilaterais, e à crise que afetou o México em função de sua extrema concentração nos mercados americanos. "Imaginem", disse o desonesto intelectual, "se estívessemos na Alca; em lugar de uma minicrise, como estamos tendo, teríamos uma super-recessão, como está acontecendo com o México".
As palavras podem não ter sido exatamente essas, já que cito de memória, mas o sentido era claramente esse.
E ele referiu-se, uma vez mais, à tal de "nova geografia do comércio internacional", que o governo do "Nosso Guia" estaria supostamente criando, ao desviar comércio dos países desenvolvidos -- o que era chamado de "dependência comercial", dizia o supremo idiota -- para os aliados estratégicos antihegemônicos e para os países do Sul de forma geral.
Pois é: rompendo a tal de "dependência comercial" dos países hegemônicos, os companheiros criaram uma nova dependência para a economia brasileira, desta vez representada pela China.
O Brasil NUNCA foi dependente do comércio com os EUA, e em todo caso é MUITO MAIS dependente atualmente da China do que jamais o foi dos EUA em décadas passadas, quando grande parte do nosso comércio com o gigante hemisférico era feita de manufaturas, em qualquer hipótese um comércio bem mais diversificado e positivo para o Brasil do que o que ocorre hoje com a China, com a qual mantemos uma típica relação de dependência colonial: 95% de commodities exportadas do lado brasileiro, e 95% de importações de manufaturas chinesas, que estão destruindo empregos e indústrias inteiras no Brasil.
E o "Nosso Guia", genial condutor dos povos, ainda cometeu a idiotice de propor acordo de livre comércio e intercâmbio "em moedas nacionais" com os chineses, o que faria o Brasil recuar mais de 80 anos em sua interface comercial externa. Idiotas desse tamanho são raros na história brasileira, mas existem, acreditem.
Conseguiram implodir a Alca -- para eles um fator destruidor da indústria brasileira -- e conseguiram amarrar o Brasil a um elefante ainda mais destruidor...
Tomem crise, agora...
Paulo Roberto de Almeida
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