Carlos Ruiz Zafón
Romance 464 páginas
Tradução: Márcia Ribas
ISBN: 8573026049
A Sombra do Vento é uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias.
O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.
Em sua busca de início aparentemente inocente, Daniel acaba adentrando os mistérios e segredos mais obscuros de Barcelona, e conhece uma galeria de personagens que vão ajudá-lo a resolver o mistério de Carax. Dom Gustavo Barceló, célebre livreiro barcelonês, seriamente interessado em comprar o exemplar de A Sombra do Vento que Daniel lhe mostra; sua linda sobrinha cega, Clara Barceló, que revela a Daniel os primeiros elementos do mistério que cerca Carax e sua obra e por quem o menino se apaixona perdidamente; Fermín Romero de Torres, mendigo de passado glorioso e aguçado senso de humor que se tornará o maior aliado de Daniel na busca da verdade; Nuria Monfort, mulher triste que guarda em seu apartamento escuro um grande e doloroso segredo; e Javier Fumero, o cruel policial que também parece dedicar a vida a perseguir o fantasma de Julián Carax.
À medida que vai descobrindo mais sobre a vida de Carax, Daniel entende que o mistério de sua obra está de alguma forma relacionado à história de amor entre dois jovens do início do século: o próprio Carax, filho de um modesto chapeleiro, e Penélope Aldaya, filha de uma família da alta sociedade de Barcelona. E enquanto a cidade e seus personagens vão aos poucos lhe revelando os segredos e as conseqüências dessa história de amor do passado, o próprio Daniel também descobre o verdadeiro amor nos braços de Bea, irmã mais velha de seu melhor amigo Tomás Aguilar.
A Sombra do Vento usa o cenário grandioso de Barcelona, com suas largas avenidas, seus casarões abandonados, sua atmosfera gótica e espectral, para ambientar um romance arrebatador que é também uma reflexão sobre o poder da cultura e a tragédia do esquecimento. A busca de Daniel marca sua transformação de menino em homem, e desperta no leitor um fascínio renovado pelos livros e pelo poder que eles podem exercer. Ao ler A Sombra do Vento, o desejo que se tem é de, assim como o menino Daniel, abrir as portas do Cemitério dos Livros Esquecidos e descobrir em seus infindáveis corredores o livro que mudará nossas vidas.
Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964. Em 1993, ganhou o prêmio Ebedé de literatura com seu primeiro romance, O Príncipe da Névoa, que vendeu mais de 150.000 exemplares na Espanha e foi traduzido em vários idiomas. Desde então, publicou quatro romances e transformou-se em uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos com A Sombra do Vento, finalista dos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002. O autor vive há sete anos em Los Angeles, onde escreve roteiros para o cinema e trabalha em um novo romance. Zafón colabora também nos jornais espanhóis La Vanguardia e El País.
Desde muito jovem, Zafón já tinha o dom de inventar histórias e era conhecido por assustar os colegas de colégio com seus relatos tenebrosos. "Sempre fui fascinado pelo mundo dos robôs, das aparições, dos fantasmas, dos palacetes modernistas, dos túneis [...]. Na minha literatura, gosto de explicar histórias a partir de imagens, e misturo relato de intrigas, relato de aventuras, romance gótico e romance histórico não-realista. Acho tedioso dizer: ‘Fulano está triste.’ O que quero é fazer o leitor sentir a tristeza. Tecnicamente é mais complicado, mas dramaticamente tem mais força e é um desafio", diz o autor.
Ao mudar-se para os Estados Unidos, Zafón ficou chocado com "os enormes hangares cheios de livros antigos, verdadeiros tesouros, que estão virando supermercados e McDonald’s". "Noto uma destruição da memória e toda uma indústria da falsificação da história para justificar o presente", afirma ele. Essa preocupação do autor permeia a narrativa de A Sombra do Vento, ambientado em uma Barcelona ainda não atingida pela sociedade de consumo. Zafón justifica a ambientação de seu romance em meados do século "por se tratar de um momento histórico fascinante onde a cultura da banalidade ainda não estava tão desenvolvida, e onde os ideais ainda eram importantes".
Repercussão na Imprensa Estrangeira
Die Welt, Alemanha
Um presente para a fantasia
Por Michel Friedman, 7/12/2003
Existem livros que fazem sonhar, que são um presente para a fantasia. Quando alguém lê um livro como esse, sente-se bem, não quer ser incomodado por nada nem por ninguém, e deseja apenas mergulhar no mundo dos personagens. A Sombra do Vento é um presente assim.
Pelos olhos de um menino, o leitor é apresentado ao mundo dos livros.
O menino Daniel, cujo pai é dono de um sebo, tem a chance de se tornar dono de um livro esquecido, e escolhe o romance A Sombra do Vento. À medida que ele vai crescendo, ficam cada vez mais evidentes as semelhanças entre a vida desse jovem e a história contada no livro. Numa narrativa interessante, extremamente sensível e que prende a atenção do leitor, o livro conta uma história cheia de amor e sentimentos. Também tem papel especial no enredo o conflito político da época franquista, a atmosfera de medo do período da ditadura e a alegria proporcionada pela liberdade. Reserve dois dias e uma noite e deixe-se enfeitiçar por uma história fascinante, comovente e política. Perca bastante tempo com o capitulo final, que instiga ainda mais a fantasia e constitui uma pequena obra-prima dentro da obra-prima maior que é A Sombra do Vento.
Kirkus Reviews, Estados Unidos
Crítica recomendada, 1/3/2004
As histórias de um livro misterioso e seu enigmático autor são elaboradamente desvendadas neste vigoroso romance dickensiano: o primeiro livro de um romancista espanhol que hoje mora nos Estados Unidos. Conhecemos seu simpático narrador Daniel Sempre em 1945, quando ele é um menino de 11 anos levado pelo pai, um dono de sebo barcelonês, a uma biblioteca secreta conhecida como Cemitério dos Livros Esquecidos. Fascinado, Daniel "escolhe" um romance desconhecido, A Sombra do Vento, complicada intriga cujo autor, Julián Carax, diz-se ter fugido da Espanha quando estourou a Guerra Civil e mais tarde morrido em Paris. Carax e seu livro deixam Daniel obcecado durante uma década, à medida que ele se torna homem, fica fascinado, quando não apaixonado, por três mulheres inesquecíveis, e chega cada vez mais perto de entender quem foi Carax e qual foi sua ligação com a família do tirânico dom Ricardo Aldaya — e por que um sinistro estranho "sem rosto" que se identifica como a criação ficcional de Carax, Laín Coubert ("o demônio"), aparentemente "saiu das páginas de um livro para poder queimá-lo". As investigações de Daniel são auxiliadas, e algumas vezes atrapalhadas, por uma variada galeria de personagens coadjuvantes que são evocados de forma vívida. Entre eles está a reservada tradutora Nuria Monfort (que sabe mais sobre os anos parisienses de Carax do que revela de início); Jacinta Coronado, a criada da família Aldaya, confinada a um hospício para esconder o que sabe; o enérgico Sancho Pança de Daniel, Fermín Romero de Torres, mendigo de muita personalidade que trabalha como "detetive bibliográfico" na livraria dos Sempere; e o vingativo inspetor de polícia Javier Fumero, um perseguidor na tradição de Javert cuja recusa em acreditar que Carax esteja morto antecipa o clímax da narrativa — onde Daniel percebe ser muito mais do que apenas um leitor da intrincada e triste história de Carax. A Sombra do Vento vai mantê-lo acordado à noite — e será um tempo bem empregado. O livro é absolutamente maravilhoso.
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