A intolerância recepciona Yoani Sánchez (Editorial)
Editorial O Globo, 21.2.2013A denúncia publicada pela revista “Veja” de que o embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, patrocinara reunião em Brasília para abastecer grupos radicais de “informações” contra a blogueira Yoani Sánchez foi o sinal de que a viagem da cubana dissidente ao Brasil poderia não ser tranquila.
Para tornar o fato mais grave, participou do encontro Ricardo Poppi Martins, militante petista coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, da Secretaria Geral da Presidência, de Gilberto Carvalho. Entre os presentes à reunião, articulada pelo coordenador político da embaixada, Rafael Hidalgo, havia mais representantes do PT, além do PCdoB, da CUT, etc.
Impossível não estabelecer relação entre a reunião de “agitação e propaganda” patrocinada pelo senhor embaixador cubano em Brasília, na qual foi distribuído pelo menos um CD da ditadura cubana para ajudar a difamar Yoani, e ruidosas e agressivas manifestações feitas por grupelhos na passagem da blogueira principalmente por Recife (PE) e Feira de Santana (BA).
Um dos símbolos da luta pela liberdade de expressão em Cuba, Yoani teve a melhor das reações diante da claque que avançou com violência contra ela no Recife: “Esta é uma expressão da democracia que espero ver em Cuba.” Mas, assim como em Cuba, ela teve limitada a liberdade, pois, na Bahia, não pôde ser exibido o filme “Conexão Cuba-Honduras”, um dos motivos de sua viagem, depois de cinco anos de tentativas de obter visto para ir ao exterior.
Recebida ontem no Congresso, por iniciativa correta da oposição e apoio de pessoas sensatas da base do governo, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Yoani, com a sua viagem, ajuda a sociedade brasileira a ter uma ideia de como se articulam, dentro e fora do governo, grupos radicais, antidemocratas, intolerantes.
A tíbia reação do Itamaraty a uma reunião numa embaixada estrangeira para deflagrar uma ação política de sabotagem em território nacional já demonstra o poder dessa gente em Brasília.
Ficou evidente, ainda, que se usa a mesma rede de militância existente na internet — a partir de perfis falsos, e-mails de “laranjas” — para disseminar acusações de toda ordem contra Yoani, deixando a impressão digital de uma operação orquestrada. Mais uma vez. Até os cartazes, como registrou a cubana em seu blog Generación Y, brandidos contra ela no desembarque, eram padronizados.
Nada a estranhar quanto a manifestações. É parte da democracia — que não existe mesmo em Cuba. Lá, ativismo político só a favor. O preocupante é quando esquemas autoritários de militância têm raízes dentro do aparelho de Estado.
A pressão sobre a blogueira no Brasil expõe algo bem mais grave do que a ação de minorias fanáticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.