Aproveitando a Sexta-Feira Santa (ou Good Friday, como chamam aqui), Carmen Lícia e eu descemos em busca de cultura (e de um pouco de sol). Fomos a Washington, visitar exposições que estavam pedindo desesperadamente a nossa presença (sem qualquer intervenção divina, claro, seja do Pai, seja do Filho).
Guiados pela encarnação atual do Espírito Santo (que se chama GPS), lá desabalamos pelas estradas do império, contornando aqui e ali os eixos de maior circulação (e maiores engarrafamentos, como em volta de NY) e descemos alegremente em direção da capital da nova Roma (na verdade, ficamos no subúrbio, em Alexandria, uma cidade que tinha o privilégio de ser frequentada pelo Bolívar do Império, o Santo general Washington, uma espécie de Artigas que deu certo..., com perdão dos puristas).
O objetivo era claramente o de visitar museus (e restaurantes, por acaso).
Primeiro foi a Freer Galerie, onde havia uma exposição especial sobre o cilindro de Ciro, o grande rei Persa, muito diferentes de sucessores e antecessores, no sentido em que foi um libertador dos oprimidos, tendo reconduzido o povo judeu de volta a Jerusalém, encerrando uma escravidão de dezenas de anos.
Depois almoçamos em Georgetown, ou perto, no Bistro Lepic, um menu leve, começando com seis escargots de Bourgogne, passando por um foie de veau à Provençale, e terminando por sorbet, enquanto Carmen Lícia comia um belo peixe aos legumes. O mais caro mesmo (54 dólares) foi meia garrafa de Bordeaux, mas millesime de 2004, o que talvez justificasse, como justificou, o valor.
Depois fomos ao museu de Dumbarton Oaks, que só abria pela tarde. Foi ali que se realizou uma das conferências preparatórias de San Francisco, com a participação da China, entre os três grandes (a França ainda não era suficientemente grande nessa ocasião): antiguidades bizantinas, pré-colombianas e de outras civilizações, além da própria casa, que é um primor de decoração.
Jantamos num italiano de Potomac, em Maryland, com nosso amigo Gonzaga, quem nos levou, aliás. Como um belo especial da casa, macarrão linguine aos frutos do mar (depois não houve mais espaço para sobremesa), mas o vinho foi um Chianti reserva.
Sábado começamos por um passeio em Alexandria, com sol e um pouco de arte. Eis nossa foto do passeio, à beira do Potomac, tirada por uma simpática mãe de família americana (eles todos são simpáticos).
Pela tarde fomos à National Gallery, para duas exposições especiais, dessas que reúnem peças excepcionais, dispersas em diversos museus do mundo, e que não se reunirão mais nos próximos 300 anos: a primeira em torno dos pré-rafaelitas ingleses, que acreditavam que a Idade Média era melhor do que a era da revolução industrial.
Depois obras quase completas de Albrecht Durer, o genio do desenho, colega de tantos outros artistas do Renascimento.
Finalmente, fomos ao shopping Tysons Corner, numa grande Barnes que tem por lá: quase compro o livro mais recente do Ian Morris, mas resisti à tentação, tanto por razões de espaço (minhas estantes já estão cheias), como porque dentro de um ou dois meses vou poder comprar por menos da metade do preço na Abebooks.
Domingo, chuvoso e frio, voltamos, mas sem deixar de fazer mais um museu, desta vez em Newark, para ver o Altar Tibetano e outras maravilhas.
Estradas cheias, mas suportáveis, sobretudo quando o Santo Espírito do GPS nos guia por caminhos alternativos, longe das embouteillages do império... (Roma devia ser assim, também, nos fins de semana...).
Uma viagem perfeita, não fosse pelo excesso de turistas e carros, mas todo mundo tem o direito de ser como nós...
Achei também que o número de asiáticos em Washington (e um pouco em todas as partes) multiplicou-se por dez, desde que deixamos o império dez anos atrás.
Eles estão por toda a parte, agora com família, carros de bebê e tudo a que têm direito...
Assim é...
Paulo Roberto de Almeida
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