Claudia Andrade
VEJA.com, 10/05/2013
Os resultados da eleição presidencial de 14 de abril estão sendo contestados pela oposição venezuelana, mas Nicolás Maduro não esperou para buscar apoio dos aliados Uruguai, Argentina e Brasil, em um giro pelos países do Mercosul. Nesta quinta-feira, em Brasília, Maduro foi recebido com honras militares por Dilma Rousseff, presenteada com uma imagem do caudilho Hugo Chávez.
Maduro aproveitou seu giro para “passar o pires” e garantir o abastecimento de alimentos e itens de higiene pessoal. Na Venezuela é comum faltar nos supermercados produtos como farinha e óleo de milho, açúcar, frango, papel higiênico, guardanapos, detergente.
Tentando se defender das críticas da oposição depois de vencer Henrique Capriles com pouco mais de 200.000 votos de diferença, ele disse que, ao longo dos anos de Hugo Chávez, a Venezuela realizou eleições e referendos que construíram um sistema eleitoral “quase perfeito”. Ao longo de 14 anos no poder, o coronel usou a ferramenta democrática sempre a seu favor, manobrando para garantir resultados favoráveis e acabando com as instituições. Ele disputou o último pleito na condição de presidente interino, seguindo os passos de seu padrinho político, com presença constante nas redes de rádio e TV, enquanto ao adversário era relegado um espaço insignificante.
A campanha presidencial de Maduro contou com a participação direta de Lula, que gravou um vídeo em apoio ao governista. Em retribuição, o venezuelano encontrou-se com o ex-presidente em Brasília – encontro longo – que atrasou ainda mais a agenda com Dilma. Em sua fala oficial à imprensa, não poupou elogios ao petista. Ressaltou a “sabedoria” de Lula e os “conselhos” que lhe deu no encontro. “Nós o vemos como um pai dos homens de esquerda, das mulheres de esquerda, dos homens e mulheres progressistas da América Latina. Que sorte que temos, dos três gigantes que iniciaram o processo (de unificação regional), Chávez, Néstor Kirchner e Lula, nos resta Lula. Nós, quando assumirmos a presidência do Mercosul, vamos assumir com essa missão de crescimento, de fortalecimento”, discursou Maduro.
A entrada da Venezuela no bloco ocorreu a partir de um golpe contra o Paraguai, único país que se opunha à adesão. O processo que resultou no impeachment de Fernando Lugo, em junho do ano passado, respeitou a Constituição paraguaia, mas serviu como desculpa para a suspensão do Paraguai e consequente entrada da Venezuela. Um ano depois da suspensão do Paraguai, o Mercosul se prepara para assumir o comando temporário do bloco, no dia 28 de junho.
Abastecimento
Assim como fez nos outros países que visitou, também com o Brasil o venezuelano fechou acordos para garantir o abastecimento em seu país. “Pedimos mais apoio ao Brasil para o desenvolvimento de uma revolução agroalimentar na Venezuela. Nós próximos anos, uma das grandes metas é produzir todos os alimentos que consumimos, e nos converter em uma potência produtora de alimentos. Vamos desenvolver um novo modelo, uma nova fórmula produtiva, com a ajuda do Brasil, de suas técnicas de produção”.
Ele acrescentou que na Venezuela, “houve uma mutação com a chegada do petróleo. Mais que uma mutação, uma amputação. Amputaram a cultura produtiva do campo. Mas estamos recuperando”.
Na Argentina, ao anunciar o convênio fechado com o governo de Cristina Kirchner para “garantir e fortalecer a reserva alimentar por três meses”, Maduro admitiu que a Venezuela enfrenta “problemas severos de abastecimentos”, mas os atribuiu não as falhas do governo em conduzir a economia, à incapacidade de conter a inflação, mas sim a “sabotagem econômica”.
A agenda do Venezuelano na Argentina incluiu ainda um ato político em um ginásio lotado de kirchneristas, e falou em “renascimento de forças de direita fascistoides” que “ameaçam a democracia”.
Oposição
Enquanto Maduro se reunia com Cristina Kirchner, opositores venezuelanos estavam no Congresso argentino para denunciar as irregularidades nas eleições de 14 de abril. Os parlamentares argentinos analisam uma série de projetos apresentados pelo governo de Cristina Kirchner como “democratização” do judiciário mas que, na verdade, em muitos aspectos cerceiam o trabalho dos juízes. “Se posso dar um alerta é: lutem pela autonomia judicial”, disse o deputado Leopoldo López ao jornal argentino Clarín. Na Venezuela, o Judiciário é dominado por chavistas, que endossam as decisões do Executivo.
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