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quinta-feira, 13 de março de 2014

Crimeia: formalmente ucraniana, de fato russa - uma sintese por Renato Marques

Renato Marques, um diplomata que foi embaixador do Brasil em Kiev, manda, para um amigo, e teve a bondade de partilhar comigo, sua brevíssima análise da situação atual, e futura, da península da Crimeia, numa síntese genial demais para ficar apenas entre amigos.
Tenho o prazer de divulgá-la aqui:


Quanto à Crimeia, me parece que a "solução" é mais ou menos óbvia, dependendo do bom senso das partes e das questões a serem submetidas pelo referendo. 
Em princípio, o referendo aprova o aprofundamento da autonomia da Crimeia, sem seu desmembramento do território ucraniano. 
O Ocidente - que reluta em impor sanções à Rússia, não só por sua dependência energética, mas também porque tem importantes interesses empresariais no pais - se dá por satisfeito. 
A República da Crimeia passa a desfrutar de maiores poderes de autogestão (e permite o aumento do número de navios e tropas russas na península, o que satisfaz Moscou). 
A Rússia passa a ter, na prática, um protetorado sobre a Crimeia, sem ter que pagar o preço político de uma anexação (que tampouco realizou na Abkasia e na Ossetia do Sul) e alcança seus objetivos estratégicos (que é o que lhe importa). 
Os EUA ficam como "aliados" do novo governo ucraniano, cujos integrantes, no passado, sob as ordens de Iustchenko, não revelaram grande realismo político. Tal como no passado, vocalizarão esse apoio até o ponto em que isso não implique uma confrontação aberta e direta contra a outra superpotência nuclear.  
A Ucrânia mantêm sua integridade territorial, mas sai perdendo na prática, na medida em que a Crimeia rompe, a rigor, o regime de estado unitário prevalecente na Ucrânia. 
O pleito ucraniano se esvazia do ponto de vista estritamente jurídico. 
E todos  ficam mais ou menos felizes. Ou assim pelo menos parecerá.

Renato Marques
12/03/2014

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