Acho o artigo, com perdão da expressão, meio pedestre, e de toda forma não tenho nenhum comentário a ele, a não ser que eu sempre estou aqui postando materiais relevantes que apresentem interesse para um debate de nível sobre as eleições, as políticas públicas, de modo geral, e a política externa em particular.
Este artigo não me pareceu particularmente interessante, mas sem ele eu não teria tomado conhecimento do artigo do chanceler, na mesma FSP, que me tinha passado inteiramente despercebido.
Esse artigo, do atual chanceler, apareceu a vários observadores como uma defesa das palavras da presidente em NY, mas é também um exemplo da diplomacia tradicional do Itamaraty, pois que trata das questões atuais como se estivéssemos ainda em 1945 ou 1963, sem considerar a existência de entes não-estatais que estão à margem de qualquer "diálogo" onusiano.
Paulo Roberto de Almeida
Aliança de Marina e Aécio teria implicações na política externa
Opinião Matias Spektor
Folha de S.Paulo, 10/10/2014
O eventual apoio de Marina a Aécio antes ou depois do segundo turno continua incerto. Se houver acordo, será a primeira aliança produzida sob os auspícios de uma tentativa de convergência programática.
Quais as implicações para a política externa?
A blogosfera aventou esses dias a hipótese de Marina virar chanceler.
O exercício remete ao famoso acordo de 2008 entre um Barack Obama vitorioso e uma Hillary Clinton derrotada, porém dona de vasto capital político e enorme prestígio internacional.
Se Marina tem algum interesse ou chance de ocupar o Itamaraty de Aécio, impossível saber hoje.
Mas quem quer explorar os contornos programáticos concretos de uma eventual aliança entre tucanato e marinismo em política externa ganhará com a leitura de André Lara Resende, "Os Limites do Possível", (Portfolio-Penguin, 2013, R$ 30,90 no eBook).
O autor é renomado economista, mas este não é um livro de economia. Trata-se, ao contrário, da mais importante obra recente sobre as relações internacionais do Brasil contemporâneo –concorde-se com suas teses ou não.
Além de oferecer um diagnóstico próprio do estado do mundo, o autor oferece soluções. Assim como outros tucanos, reitera a preocupação com o processo de globalização: o Brasil se adapta a ela de modo estratégico ou perde o bonde da história.
Porém, o autor lida com o assunto em perspectiva marinista. Mostra por que, a seu ver, o modo de avançar é por meio de novas instâncias de governança supranacional para além dos Estados e de olho nos limites ambientais do planeta.
A chefia do Ministério das Relações Exteriores aderiu à campanha.
Não, não desafiou a bateria de estudos recém-publicados segundo os quais a economia brasileira desmancha por erros internos (e não por circunstâncias externas, como quer a propaganda oficial). Tampouco criticou quem debita na política externa o colapso da balança comercial.
Em texto publicado nesta Folha na quarta (disponível em folha.com/no1528992), o chanceler centrou fogo no tema do uso da força nas relações internacionais.
O artigo é uma defesa, ainda que tardia e redigida em burocratês, do último discurso de Dilma na ONU.
Citam-se dois capítulos e dois artigos da Carta das Nações Unidas, além de uma resolução do Conselho de Segurança. Não é mensagem talhada para o eleitor.
A mensagem, porém, é clara. Diante dos novos desafios impostos pelo Estado Islâmico e pelas novas tecnologias da guerra utilizadas para combatê-lo, basta ao Brasil fazer mais do mesmo.
Na visão plasmada no texto, esses fenômenos não inviabilizam o arcabouço institucional ou normativo herdado de gerações passadas. Não há demanda por soluções novas para problemas novos.
Por isso, conclui o chanceler, "neste caso, renovar, ou pior, inovar não é desejável, nem atenderia às nossas melhores tradições".
A poucos dias da eleição mais competitiva de nossa história recente, trata-se de baita mensagem.
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