Cientistas apontam correlação entre mais comércio e menos guerras
Representação gráfica das maiores rotas comerciais marítimas globais |
Um grupo de pesquisadores liderados por Matthew Jackson, da Universidade
Stanford, tentou entender por que a quantidade de guerras no mundo
diminuiu tanto nas últimas décadas. A incidência de conflitos entre 1820
e 1949 foi dez vezes maior do que entre 1950 e 2000.
Eles tentaram isolar diversas variáveis. Uma se destacou: o comércio internacional.
A conclusões foram publicadas na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences". Não é, claro, a primeira vez que se sugere que o comércio evita guerras, afirma Jackson, mas agora foi feita uma análise estatística dessa questão.
Em 1850, os países tinham em média cinco parceiros comerciais relevantes. Hoje, são mais de 30. Além disso, existiam antes poucas alianças comerciais, bilaterais ou multilaterais. Hoje, são dezenas destas e centenas daquelas.
Jackson cruzou os dados históricos e mostrou que a probabilidade de dois países entrarem em guerra decai conforme a sua relação comercial cresce. "Os números mostram forte correlação, embora seja mais complicado estabelecer ou explicar a causalidade", afirma.
Existe duas possíveis explicações para o fenômeno:
- O aumento do comércio cria grupos de pressão política interessados na preservação do outra nação, porque compram ou vendem para ela. Ou seja, o país passa a perder dinheiro se atacar.
Tal hipótese parte da ideia clássica de que os países optam pela guerra por motivos um tanto racionais: se os custos são baixos e o ganho potencial é grande, quase que inevitavelmente haverá uma agressão. O que se pode fazer para reduzir o conflito é torná-lo mais caro.
- A existência de alianças comerciais serve como estímulo para que um país pense duas vezes antes de atacar o outro. Ele pode, afinal, acabar cutucando os parceiros do atacado, que têm incentivos para entrar na briga.
Fonte: “PNAS”
Os dados levam a crer, aponta Jackson, que foram bem-sucedidos os
esforços americano para integrar o Japão à economia global no pós-guerra
e dos países europeus em criar o bloco que veio a dar na União
Europeia.
No Japão, é até surpreendente baixo grau de revanchismo de um país que foi atacado com bombas nucleares. No caso da Europa, Jackson aponta que hoje a principal parceira comercial da França é a Alemanha –e os dois países (se você considerar a Prússia) passaram o século 19 e a primeira metade do século 20 em guerra.
Por outro lado, o isolamento, físico e comercial, entre Israel e territórios palestinos tenderia a eternizar o conflito.
Os pesquisadores ressaltam que tais conclusões não se referem somente às grandes guerras. Eles analisaram todos os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes desde o século 19.
Ou seja, a conta inclui da guerra do Paraguai à do Pacífico (Bolívia contra Chile, no século 19), da guerra Greco-Turca de 1919 às Malvinas.
A explicação para a redução dos conflitos armados, portanto, não se limita à posse de armas nucleares. Isso pode ajudar a explicar por que grandes potências passaram a se combater menos, mas não esclarece outros casos.
"As armas nucleares, na mão de uns poucos, poderiam até estimular os mais fortes a atacar os pequenos mais indefesos", afirma Jackson.
Eles tentaram isolar diversas variáveis. Uma se destacou: o comércio internacional.
A conclusões foram publicadas na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences". Não é, claro, a primeira vez que se sugere que o comércio evita guerras, afirma Jackson, mas agora foi feita uma análise estatística dessa questão.
Em 1850, os países tinham em média cinco parceiros comerciais relevantes. Hoje, são mais de 30. Além disso, existiam antes poucas alianças comerciais, bilaterais ou multilaterais. Hoje, são dezenas destas e centenas daquelas.
Jackson cruzou os dados históricos e mostrou que a probabilidade de dois países entrarem em guerra decai conforme a sua relação comercial cresce. "Os números mostram forte correlação, embora seja mais complicado estabelecer ou explicar a causalidade", afirma.
Existe duas possíveis explicações para o fenômeno:
- O aumento do comércio cria grupos de pressão política interessados na preservação do outra nação, porque compram ou vendem para ela. Ou seja, o país passa a perder dinheiro se atacar.
Tal hipótese parte da ideia clássica de que os países optam pela guerra por motivos um tanto racionais: se os custos são baixos e o ganho potencial é grande, quase que inevitavelmente haverá uma agressão. O que se pode fazer para reduzir o conflito é torná-lo mais caro.
- A existência de alianças comerciais serve como estímulo para que um país pense duas vezes antes de atacar o outro. Ele pode, afinal, acabar cutucando os parceiros do atacado, que têm incentivos para entrar na briga.
MAIS COMÉRCIO
MAIS COMÉRCIO
Exportação mundial de mercadorias como porcentagem do PIB
Exportação mundial de mercadorias como porcentagem do PIB
Número de parceiros comerciais relevantes por país (%)
Número de parceiros comerciais relevantes por país (%)
No Japão, é até surpreendente baixo grau de revanchismo de um país que foi atacado com bombas nucleares. No caso da Europa, Jackson aponta que hoje a principal parceira comercial da França é a Alemanha –e os dois países (se você considerar a Prússia) passaram o século 19 e a primeira metade do século 20 em guerra.
Por outro lado, o isolamento, físico e comercial, entre Israel e territórios palestinos tenderia a eternizar o conflito.
Os pesquisadores ressaltam que tais conclusões não se referem somente às grandes guerras. Eles analisaram todos os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes desde o século 19.
Ou seja, a conta inclui da guerra do Paraguai à do Pacífico (Bolívia contra Chile, no século 19), da guerra Greco-Turca de 1919 às Malvinas.
A explicação para a redução dos conflitos armados, portanto, não se limita à posse de armas nucleares. Isso pode ajudar a explicar por que grandes potências passaram a se combater menos, mas não esclarece outros casos.
"As armas nucleares, na mão de uns poucos, poderiam até estimular os mais fortes a atacar os pequenos mais indefesos", afirma Jackson.
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