Bases ideológicas da dominância política do
lulopetismo
Paulo Roberto de Almeida
A dominância política do lulopetismo na sociedade
brasileira, que é ou foi um fato, baseia-se em dois pilares, para além de
resultados eleitorais favoráveis que, justamente, refletem esses dois fatos: a
crença nas virtudes proclamadas pelo lulopetismo na resolução de alguns dos
grandes problemas da sociedade brasileira (pobreza, desemprego, carências reais
em matéria de saúde, educação, segurança, habitação, renda, etc.), e a contínua
publicidade em torno dessas virtudes das políticas propostas pelos lulopetistas
para equacionar e resolver esses problemas, bem como na atribuição de
responsabilidades por uma situação negativa a supostos "inimigos do
povo", que seriam políticos e partidos não identificados com, ou opostos
às políticas e propostas dos lulopetistas, ou a fatores objetivos que poderiam
ser vencidos por eles: as elites, o capitalismo, o imperialismo, os ricos, os
donos de terra, a "grande mídia", o neoliberalismo, e por aí
vai.
Para que tenha sucesso, essa "estratégia"
tem de vir embasada em duas outras "forças" que podem ser criadas ou
alimentadas por quem tenha condições de fazê-lo: por um lado, poderosas crenças
sociais nas virtudes daquelas políticas "boas" e naquela concepção do
mundo que sustenta essas crenças; por outro lado, uma publicidade, ou
propaganda poderosa que reforce essas crenças, que, independentemente de
estarem certas ou erradas, precisam de meios materiais para se manter, para se
multiplicar, para penetrar meios sociais cada vez mais amplos.
O lulopetismo teve a seu favor, para ser bem sucedido
na primeira linha, crenças já existentes na sociedade, criadas por essa
categoria que eu chamo de acadêmicos gramscianos -- não precisa ler ou conhecer
Gramsci, basta atuar no universo conceitual que ele elaborou -- e continuamente
reiteradas pela estrutura de ensino, nos três níveis de educação abertos à
população em geral. Essa foi a primeira condição e a razão do
"sucesso" eleitoral do lulopetismo.
A outra perna, a da publicidade, necessita de
poderosos recursos, para criar ou alimentar um poderoso exército de
propagandistas das "boas causas", e de ataque sistemático aos
"inimigos" das boas causas. Para isso é preciso largas somas de
dinheiro, e é a isso que a máquina partidária do lulopetismo se dedicou desde o
início, antes mesmo de conquistar o poder central na República. Conquistado
esse poder, em 2003, tudo se tornou mais fácil: a máquina de publicidade do
lulopetismo passou a dispor de quase todos os recursos do Estado, de somas
fabulosas, de possibilidades gigantescas, disponíveis não só no Estado, mas
também fora dele, junto a grandes capitalistas desejosos ou necessitados de
contratar com o Estado, para obras de grande valor unitário, geralmente
empreiteiras e construtoras, mas também banqueiros e grandes redes, que podem
ser "seduzidos" ou convenientemente extorquidos.
Ambas políticas possuem o seu lado normal, digamos
assim, como "doações eleitorais", por exemplo, mas também o seu lado
obscuro, criminoso, que são os superfaturamentos planejados, sobrepreços,
contratos fictícios, subsídios legais ou disfarçados, ou até roubos
deliberados.
O PT e o lulopetismo (que se completam, mas não são
exatamente a mesma coisa) usaram e usam, largamente, abundantemente, regularmente,
sistematicamente, legalmente e criminosamente, dos dois expedientes para criar,
manter, defender e ampliar o seu poder sobre a sociedade, a começar pelo seu
próprio domínio sobre o Estado, lotando a máquina pública de militantes
obedientes, comprando (literalmente) ou subornando parlamentares e mesmo
máquinas partidárias inteiras, designando juízes amigos para os tribunais
superiores, e sobretudo criando e multiplicando as redes sociais de divulgação
de suas ideias, das crenças, da propaganda tanto correta quanto das mensagens
mentirosas.
Estas são as bases, antes durante e ainda hoje, do
grande, fabuloso, poder do lulopetismo sobre a sociedade: crenças e recursos,
ambos se suportando mutuamente.
Cortar os recursos, pelo menos em parte, é possível fazer,
desde que se expulse, legalmente, os lulopetistas do poder. Extirpar as falsas
crenças é uma tarefa muito mais difícil, pois ela radica num esforço imenso de
educação e de reeducação da sociedade brasileira a partir de ideias corretas,
não baseadas sobre falácias e simplismos redutores, ou falsidades deliberadas,
mentiras mil vezes repetidas, para usar uma expressão consagrada.
De minha parte, como não tenho, nem pretendo ter
nenhuma atividade político-partidária, minha dedicação, sempre e no futuro
previsível, se vincula à missão didática acima referida: a exposição honesta,
objetiva, se possível completa, de um conjunto de argumentos de natureza
política, econômica e "ideológica" (sim, a expressão é essa) sobre o
mundo, sua organização, seu melhor ordenamento para fins nobres do ponto de
vista social, que é a elevação dos padrões materiais e espirituais da
humanidade, a começar pelo Brasil.
Voilà:
eis o sentido de minha atividade voluntária, independentemente de minha
"profissão" temporária.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de abril de 2016
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