Morte de um grande historiador: Ricardo Salles; dele gostei muito de Nostalgia Imperial, mas ele tinha muito mais do que esse livro.
A Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) lamenta com profundo pesar o falecimento precoce do Prof. Ricardo Henrique Salles, professor titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e pesquisador do CNPq. Em sua profícua trajetória acadêmica, Ricardo Salles desvendou sob novos prismas as bases materiais da sustentação do Estado imperial e da reprodução da escravidão no Brasil oitocentista, sobretudo em seu núcleo no Vale do Paraíba. Desde a graduação na PUC Rio até seu doutorado em história na Universidade Federal Fluminense, Salles teve sua orientação conduzida pelo Prof. Ilmar Rolhoff de Mattos, cujas ideias ampliou e trouxe novos aportes. Combinando uma sólida fundamentação em bases documentais e uma ampla perspectiva teórica de matriz gramsciana, suas pesquisas históricas navegaram entre a economia, a sociologia e a política, entre as quais destacamos: E o Vale era o escravo. Vassouras - século XIX. Senhores e escravos no Coração do Império (2008), Nostalgia imperial. Escravidão e formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado (1996, 2. ed, 2013), Joaquim Nabuco. Um pensador do Império (2002) e Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército (1990). Em conjunto com outros historiadores, também coordenou várias obras importantes para a compreensão da história brasileira no século XIX, como A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica (2020), Escravidão e capitalismo histórico no século XIX. Cuba, Brasil e Estados Unidos (2016), O Vale do Paraíba e o Império do Brasil nos quadros da segunda escravidão (2015), O Brasil Imperial (2009). Foi presidente da ANPUH-RJ e coordenador do Grupo de Pesquisa “O Império do Brasil e a Segunda Escravidão”. Na ABPHE, Ricardo Salles teve contato frequente com seus sócios e colegas, participando de mesas-redondas e coordenando sessões em eventos da associação, bem como influenciando a todos com suas obras e posições teóricas. Nesse momento de grande tristeza e de estupor diante da perda precoce, a ABPHE manifesta sua solidariedade aos familiares, colegas e estudantes que acompanharam e conviveram com o Prof. Ricardo Salles.
Diretoria ABPHE - 2021/2023
Observação: a cremação ocorrerá dia 2 de novembro às 16h30 e o velório a partir das 13h30 cap. 8 do Cemitério Memorial do Carmo (Rua Monsenhor Manoel Gomes, 287 – Cajú – Rio de Janeiro).
O conheci em 1999 num curso de pós na UFF. Cultivamos uma amizade em torno de nossos interesses temáticos comuns, principalmente acerca e em torno do Império e seus intelectuais. Ricardo tinha uma escrita suave que a todos nos encantava pela forma serena de abordar assuntos cuja complexidade era quase sempre totalmente enunciada de maneira elegante e sem excessos prolixos. Em busca de uma tal completude, lembro de divertirmo-nos ao longo do curso; lembro do pedido do professor Humberto Machado para que ele nos falasse sobre Gramsci e sobre esse ou aquele assunto dominado com mestria; lembro da voz grave de Ricardo, de sua simplicidade e de sua erudição. Sempre me ajudou muito e também muito me inspirou. Descanse em Paz Amigo.
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