terça-feira, 23 de maio de 2023

Reunião do G7 trouxe revés para diplomacia lulista - Editorial O Globo (via Augusto de Franco)

Trechos do Editorial do Globo

"As potências ocidentais que saudaram sua chegada ao poder como um vento benfazejo depois do furacão Jair Bolsonaro já não parecem encará-lo com a mesma deferência. (...)

Tudo somado, fica evidente que os planos de Lula para assumir papel de destaque numa eventual negociação de paz são pura fantasia. Lula volta de Hiroshima menor do que chegou.

Chegar ao encontro sem querer discutir a guerra na Ucrânia é, no mínimo, ingenuidade."


Augusto de Franco: 

 Não adianta mentir dizendo que Zelensky faltou à reunião porque quer a guerra e não a paz. Todo mundo está vendo o que de fato aconteceu: um fracasso da diplomacia ideológica lulopetista. Leiam o editorial de O Globo de hoje.

Reunião do G7 trouxe revés para diplomacia lulista Editorial, O Globo (23/05/2023) Líderes que saudavam Lula como alternativa a Bolsonaro já não o encaram com a mesma deferência A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão para participar como convidado do encontro do G7, grupo que reúne as sete maiores economias democráticas, foi um exemplo pedagógico das limitações da política externa brasileira. A presença surpresa do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, concentrou as atenções. Lula, que meses atrás acalentava o plano de negociar a paz entre Rússia e Ucrânia, nem conseguiu uma reunião bilateral com Zelensky. Até o presidente americano, Joe Biden, evitou um encontro a dois com Lula. Lula declarou não ter ido a Hiroshima para “discutir a guerra da Ucrânia”. Ele pode participar de reuniões internacionais com os objetivos que julgar melhor para defender os interesses brasileiros, mas não pode ignorar a realidade. As potências ocidentais que saudaram sua chegada ao poder como um vento benfazejo depois do furacão Jair Bolsonaro já não parecem encará-lo com a mesma deferência. O G7 voltou a ganhar relevo depois da invasão da Ucrânia pela Rússia. Foi o fórum em que as potências ocidentais formularam respostas coordenadas de apoio aos agredidos e de sanção aos agressores. Chegar ao encontro sem querer discutir a guerra na Ucrânia é, no mínimo, ingenuidade. Um dos objetivos de Zelensky ao viajar de surpresa para Hiroshima era conversar com o líder indiano Narendra Modi e com Lula. Índia e Brasil têm dado ouvidos à Rússia, seguindo a lógica de uma política externa sem alinhamento automático com Estados Unidos (pró-Ucrânia) ou China (pró-Rússia). Para os ucranianos, a aproximação dos dois países era uma tentativa de ganhar apoio entre os emergentes. No final, Zelensky encontrou Modi, mas não Lula. De acordo como o Itamaraty, por horários incompatíveis. É natural que o governo brasileiro tenha feito pouco esforço para viabilizar a reunião. E o fato de Zelensky não ter mudado sua programação demonstra que, embora desejável, o apoio do Brasil é dispensável. Tudo somado, fica evidente que os planos de Lula para assumir papel de destaque numa eventual negociação de paz são pura fantasia. Lula volta de Hiroshima menor do que chegou. Não é visto mais como “o cara”, na expressão usada pelo ex-presidente Barack Obama para definir sua importância nas reuniões internacionais. É uma pena, pois o Brasil dispõe de uma agenda produtiva, capaz de aumentar seu protagonismo global. Na sessão de trabalho do G7, quando falou de mudanças climáticas, Lula provocou reações positivas. A proteção ao meio ambiente foi tema central de pelo menos três encontros bilaterais: com o australiano Anthony Albanese, o indonésio Joko Widodo e o canadense Justin Trudeau. Lula também tentou manter vivo um dos temas prediletos da diplomacia brasileira: a necessidade de reforma do Conselho de Segurança da ONU. Como em todas as outras vezes em que o assunto foi levantado, o resultado foi inócuo. É evidente que o mundo viu com alívio a vitória de Lula sobre Bolsonaro. Sua diplomacia não alinhada pode fazer sentido para uma potência regional como o Brasil. A melhor forma de pô-la em prática, contudo, não é repetir os erros de Bolsonaro em relação à guerra na Ucrânia ou dar declarações sobre extração de petróleo na foz do Amazonas em desafio a sua própria agência ambiental. Desse jeito, os líderes globais questionarão se a Presidência brasileira mudou tanto assim.

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