RETORNO AO FUTURO: A Ordem Internacional no Horizonte 2000
Paulo Roberto de Almeida *
Trabalho apresentado no Seminário de Estudos “Europa e Brasil no limiar do ano 2000”, do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (Lisboa, 3-5/11/1988)
Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro: Ano XXXI, 1988/2, n. 123-124, pp. 63-75). Relação de Trabalhos n. 164; Relação de Publicados n. 049. Disponível em Academia.edu (https://www.academia.edu/128029204/164_Retorno_ao_Futuro_A_Ordem_Internacional_no_Horizonte_2000_1988_).
Sumário:
1. Profecia e História
2. O Declínio Imperial
3. Do Poder Soberano à Soberania Econômica
4. A Transição do Socialismo ao Capitalismo
5. O Fim da Guerra Fria
1. PROFECIA E HISTÓRIA
As análises prospectivas, segundo seus críticos, têm o hábito de pecar duplamente: pelo que contêm e, também, pelo que deixam de conter. Trata-se, aparentemente, de um "pecado original" da futurologia, partilhado em igual medida pelas diversas variantes do gênero. Quer abordando o futuro pela ótica estatística e quantitativa, quer fazendo-o segundo os padrões do ensaio interpretativo, muitas dessas análises tendem a atribuir importância desproporcional a elementos secundários ou, inversamente, a negligenciar fatores potencialmente estratégicos.
Em qualquer hipótese, porém, elas frequentemente revelam-se incapazes de impedir sua própria esclerose precoce quando confrontadas, alguns anos depois, à realidade que supostamente deveriam descrever. O processo de envelhecimento é ainda mais rápido quando o cenário projetado pretende prevenir a eclosão (ou alertar sobre a intervenção) de riscos e catástrofes considerados "iminentes": colapsos nas bolsas de ações, crise financeira mundial, revolução no mercado dos produtos de base ou - por que não? - eclosão da Terceira Guerra Mundial. Mesmo análises mais bem comportadas de trends futuros costumam revelar-se doucement naïves quando o futuro bate à porta. A razão é ao mesmo tempo uma pergunta: modelos econométricos, projeções de computador ou induções geniais terão algum dia o poder de antecipar, em todos seus detalhes, o caminho que tomará o carro de Cronos?
O curto "ciclo de vida" da maior parte das análises prospectivas não é apenas devido às deficiências metodológicas intrínsecas a toda projeção futura de tendências do presente. É preciso referir-se também a um defeito mais grave, ainda que mais prosaico: os exercícios de futurologia soem constituir uma fixação inconsciente (e muitas vezes arbitrária) dos preconceitos políticos e das preferências pessoais de seus autores. O uso "adequado" da imaginação permite quase sempre, aos que se dedicam a essa espécie de "leitura das estrelas", acomodar estimativas contraditórias sobre a evolução das sociedades, quando não imaginar cenários políticos fantasiosos com base em forças e tendências conjunturalmente dominantes.
(...)
* Paulo Roberto de Almeida é diplomata brasileiro, atualmente servindo na Delegação em Genebra. As opiniões expressas no presente artigo representam exclusivamente as de seu autor e não podem ser interpretadas como reproduzindo, no todo ou em parte, qualquer posição do Ministério das Relações Exteriores ou do Governo brasileiro.
Ler a íntegra deste ensaio, historicamente datado, neste link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.