Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Sendo generoso com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro: Bolsa-Atleta...
Ministério dos Esportes
‘Bolsa Copa’ vai para o Congresso
Opinião e Notícia, 21/05/2010
O presidente Lula encaminhou nesta semana ao Congresso Nacional o projeto de lei “Bolsa Copa do Mundo”, que prevê a distribuição de um prêmio no valor de R$ 100 mil a cada um dos ex-jogadores campeões mundiais de futebol das Copas de 1958, 1962 e 1970.
Além disso, cada ex-jogador também teria direito a receber uma pensão mensal vitalícia de até R$ 3,4 mil. Esse valor seria equivalente à diferença entre a aposentadoria máxima da Previdência Social, que é de R$ 3.416,54, e a renda atual do beneficiado em questão.
Todos os convocados para as Copas, titulares ou reservas, seriam beneficiados. De acordo com o governo, o prêmio de R$ 100 mil será pago em parcela única e “beneficia inclusive herdeiros legais de jogadores já falecidos, e estará isento de Imposto de Renda e contribuição previdenciária. O pagamento será feito com recursos do Ministério do Esporte”. Já o auxílio mensal, “também será pago à esposa ou companheira, filhos menores de 21 anos ou inválidos, desde que a invalidez seja anterior à data em que atingiram 21 anos”.
Polêmica
O projeto de lei vem causando polêmica no meio esportivo. Na última sexta-feira, 14, a campeã olímpica do salto em distância, Maurren Maggi, pediu a extensão do “Bolsa Copa” para os atletas olímpicos. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, não apóia a criação do benefício. Ele afirma que os clubes já destinam 1% do valor do contrato dos jogadores à Federação dos Atletas, que seria responsável por ajudar os ex-jogadores.
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O site que transmitiu essa "notícia" (sic), ainda tem a petulância de perguntar:
Caro leitor, você concorda com o critério utilizado para a criação do "Bolsa Copa"?
* Sim, os jogadores que foram campeões do mundo nos anos de 1958, 1962 e 1970 merecem esse reconhecimento.
* Não, a bolsa deveria se estender para outros esportes.
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Volto a comentar:
Além das cenas de demagogia explícita, em pleno ano eleitoral, é evidente que isso vai excitar a vontade "esmolenta", se ouso dizer, de brasileiros normais, que pensam que dinheiro nasce em árvores, ou que o governo arranca dinheiro de alguma cornucópia infinita.
Quando é que brasileiros responsáveis vão condenar, absolutamente, esse tipo de demagogia barata com o seu próprio dinheiro?
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 15 de maio de 2010
Um debate sobre a demagogia politica (da pior maneira possivel: com um anonimo)
Ser Anônimo, eu já escrevi num minúsculo tratado sobre o anonimato (sim, creio que só merece o adjetivo "minúsculo), significa não ter coragem de assumir suas próprias ideias, nem ter certeza sobre a solidez de seus argumentos. Anônimos se permitem certas coisas que pessoas normais, como eu e todos os que escrevem abertamente, não se permitem: qual seja, assumir responsabilidade pela defesa de certas posições, e se esconder, ao contrário, sob essa condição para eventualmente ofender o responsável pelo blog, para fazer acusações não fundamentadas, enfim, para ser livre de exercer sua dose de inconsistência e de posições duvidosas, sem ter de assumir os riscos de passar vergonha ao ser contrariado.
Normalmente, eu nem deveria postar ou sequer responder a Anônimos -- que ainda vão merecer um mini-tratado en bonne et due forme de minha parte, para tratar dessa espécie velha como a Bíblia, mas que se multiplicou como fungos na humidade, com a internet e os meios impessoais de comunicação -- mas vou me permitir uma exceção a minhas próprias regras pois que julgo que o debate merece uma amplitude maior, alcançando outras pessoas eventualmente interessadas no tema, em lugar de ficar reservado a uma nota de rodapé escondida nas dobraduras de uma postagem.
O tema tem a ver com a demagogia política, e começo reproduzindo o comentário de um Anônimo, que retiro assim da mediocridade do Anonimato para lhe dar um destaque que ele não merece. Não o faço por consideração ao Anônimo em causa, mas apenas pelas ideias e argumentos que estão vinculados ao tema, que me interessa expandir e explicitar minhas ideias, publicamente, nao escondendo-me covardemente no anonimato.
Pois escreveu um Anônimo anônimo -- vale a redundância -- neste sábado 15 de maio:
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Como torrar o dinheiro publico e fazer demagogia ao mesmo tempo":
O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano. A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão. O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso. Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior.
Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público.
Pois bem, voltei (PRA):
Anônimo,
Primeiro aprenda uma coisa, definitiva, se ouso dizer: em nenhum momento, em nenhum lugar de meu post, supracitado, eu citei um partido, uma pessoa, responsáveis concretos, ainda que pudesse, e talvez devesse, pois não sou dos que se escondem nos subterfúgios e nos circunlóquios. Costumo assumir responsabilidade pelo que escrevo, e pelo que assino embaixo, e como bom anarquista de ideias, não me intimidam autoridades, nem posicoes.
Aprenda pois esta coisa muito simples: eu nao ataco, ou defendo, pessoas ou funções, partidos ou movimentos; eu ataco, ou defendo, ideias e posicoes, posturas e medidas, atitudes e politicas, ponto. Acho que ficou claro, para começar a discussão.
Não me interessa quem está expressando esta ou aquela ideia, se pessoa fisica ou juridica, se autoridade ou partido. Só me interesse pelas posições e ideias que sao sustentadas e defendidas, e o faço com base unicamente em dois critérios: sua racionalidade ou coerência intrínseca -- pois tenho horror do que não se sustenta no plano da simples lógica formal -- e sua adequação do ponto de vista do interesse nacionbal, ou seja, aquilo que serve ou não serve ao Brasil e seu povo, aquilo que beneficia o maior número, e aumenta o que os economistas chamam de bem-estar coletivo, ou aquilo que diminui as chances de que esse bem-estar seja alcançado.
Acho que isso ficou claro, não é Anônimo?
Agora venho as suas afirmações leves, levianas, descuidadas e infundadas:
1) "O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano."
PRA: Uma afirmação gratuita, que vale tanto quanto o seu contrário, ou seja, não quer dizer absolutamente nada, a não ser que venha fundamentada em provas empiricamente provadas. Anônimo aprenda a fundamentar suas afirmações.
2) "A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão."
PRA: Afirmação totalmente absurda e anti-cidadã, anticívica, antidemocrática, se é que ela consegue dizer alguma coisa com sentido. Anônimo não seja tudo isso. Defenda o dinheiro dos cidadãos, que aliás é o seu próprio. Nunca vi alguém desinteressar-se de como é gasto o seu próprio dinheiro, claro só se for alguém totalmente indiferente, e ignorante. Anônimo não demonstre seu desinteresse pelo dinheiro que lhe sai do bolso.
3) "O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso."
PRA: Acho que o Anônimo está se traindo, por algum sintoma de petice aguda, ou partidarismo compulsivo. Em nenhum momento de meu post eu mencionei o nome de algum partido ou de qualquer pessoa. Eu ataquei a demagogia política, não um partido em particular. Ainda que o fizesse, eu estaria atacando as práticas, ou as políticas de um partido, não o próprio in abstracto, ou vagamente. Anônimo releia o que eu escrevi logo no começo...
4) "Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior."
PRA: Bem se é você quem está dizendo, não vou contradizê-lo, embora não me tenha ocupado desses traços detestáveis num partido que já encarnou a ética na política, uma "maneira diferente" de fazer política, um compromisso com a verdade, e tudo aquilo que o nosso Anônimo já sabe (e por isso deve sentir raiva pelo fato de esse partideco mentiroso tê-lo contrariado de maneira tão desavergonhada). Anônimo escreva uma carta para a Comissão de Ética do seu partido de eleição, se é que ela existe ainda. Quanto ao DEM, não me interessa defendê-lo, nem atacá-lo, na medida em que não está em condições de implementar políticas estatais ou executivas: só me ocupo de ideias e posicoes, de atitudes e políticas. Indique-me uma atitude ou ideia demagogica do DEM, que eu terei prazer em fazer aquilo que sempre faço: condenar o besteirol e aquilo que é nocivo do ponto de vista do interesse dos brasileiros.
Aliás, não sei se você reparou, Anônimo, mas a geografia do voto do brasileiro alterou-se notavelmente desde 2002: os velhos coronéis estão todos com o governo, ou seja com o governo do PT, e os políticos do DEM estão na rua da amargura, sem dinheiro para distribuir, sem demagogia para fazer. Se voce verificar exatamente o voto dos chamados grotões, Anônimo, chegará a esta conclusão: a clintela dos coronéis, e os próprios, estão agora com o partido do governo, que você sabe qual é. Não precisa me agradecer pela aula de geopolítica eleitoral, basta consultar os mapas eleitorais da Justiça eleitoral. O DEM ficou órfão, a clientela dos coronéis está onde você sabe onde... Anônimo, aprenda a ser um bom analista político, que para isso que servem os cidadãos esclarecidos...
5) "Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público."
PRA: Bem, o Anônimo se revela mineiro, e não tão desgostoso assim do governo do PSDB, ou de Aécio (ele escolhe). Talvez seja a única coisa consistente que ele tenha escrito em todo o seu comentário, mas nem por isso me sinto obrigado a concordar com ele. Ótimo governo eu só diria com base num conhecido adequado dos números e realizações do dito cujo, o que eu não tenho. Parece que ele andou mais passeando do que governando, tarefa que ficou a cargo do seu vice, que parece ser um administrador competente, e dispensa o governador, portanto, de meter a mão na massa (o que é, digamos assim, uma empulhação política, pois o governador é pago para governar, não para passear).
Quanto a sua única realização mais vistosa, digamos assim, a tal cidade administrativa desenhada pelo último stalinista ativo do planeta (talvez da galáxia), eu a considero inútil, dispendiosa, disfuncional (como tudo o que ele constroi) e provavelmente horrorosa de se trabalhar ou sequer circular. Esse tal arquiteto stalinista é a coisa mais fraudulenta que já apareceu no Brasil, e todo político que escolhe esse sujeitinho para fazer qualquer obra, pode ser um banheiro público, revela seu desejo de fama, não seu amor ao dinheiro público ou sua preocupação com a funcionalidade administrativa.
Anônimo, vou lhe dar uma última oportunidade de se redimir. Indique me três razões para ser eleitor da Dilma, apenas três. Não vale propaganda vazia, mas argumentos consistentes, coisas defensáveis, matéria tangível...
Embora eu tenha horror do Anonimato, pois acho que as pessoas devem ter coragem de assumir opiniões, ideias, posicoes, eu vou conceder que você ainda escreva sob essa cobertura conveniente.
Mas seja consistente, do contrário vou ser obrigado a barrar o seu comentário...
Venho, por fim, o que você não fez, ao objeto do meu post: a demagogia política de prometer uma bolsa-eterna aos milionários da seleção, aos mercenários do futebol.
Eu diria que não é tanto demagogia quanto ato criminoso mesmo, passível de ser sancionado por uma tribunal de responsabilidade política, se o Brasil tivesse um. Quem quer que esteja em responsabilidades executivas e promete um absurdo desse, não é apenas demagogo, é criminoso mesmo, pois está dilapindo os recursos públicos com uma inutilidade que não tem QUALQUER sentido social, apenas demagogia pura e simples. Aliás, deve ser punível criminalmente também, se o Brasil tivesse uma justiça digna do nome.
Anônimo aprenda a ser um cidadão consciente, e defender o seu, o meu, o patrimônio de todos os brasileiros. Recuse a demagogia e os atos ilegais como esse.
Seja um cidadão com coragem para assumir ideias defensáveis e consistentes...
Paulo Roberto de Almeida
(Hong Kong, 15 de maio de 2010)