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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Mister Bozo goes to Moscow! - Paulo Roberto de Almeida

 Mister Bozo goes to Moscow!

Paulo Roberto de Almeida


Bozo parte para visitar os únicos três “amigos” que pensa que tem na Europa.

O papel internacional do Bozo (mas todos já sabem disso) tem sido o de secundar mediocremente o que fazia antes o mentecapto do Trump: destruir todos os fundamentos do multilateralismo e do Direito Internacional. Pode ser que volte a fazê-lo, mas Bozo não estará mais aqui.


Bozo já destruiu a credibilidade da política externa brasileira e desmantelou a nossa diplomacia. Tem se empenhado nisso e continua nessa missão celerada!


O Itamaraty vai ter um imenso trabalho de recuperação da imagem do Brasil no exterior e de restauração dos fundamentos de uma política externa sensata e ponderada como sempre foi a nossa, com a possível exceção do lulopetismo diplomático. 

Esperemos que o retorno do Grande Guia ao comando do país não signifique justamente a volta das bobagens ideológicas e da miopia geográfica do “Sul Global”, essa fantasmagoria alucinada que desempenhou o mesmo papel ridículo no lulopetismo diplomático que o antiglobalismo idiota teve para o bolsolavismo diplomático na primeira diplomacia aloprada do Bozo. 

O Itamaraty não merece tanta burrice, aliás partilhada por boa parte da academia, que se encantou com a fantasia do Sul Global. Boa parte das bobagens diplomáticas do lulopetismo vem de certa academia…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/02/2022


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Mais um pouco de Jamil Chade, desta vez para falar do Bozo com seu amigo Putin

 Tensão entre Rússia e EUA ameaça desembarcar nas fronteiras do Brasil


Jamil Chade
Colunista do UOL
13/01/2022 10h13


Negociador russo não descartou opção por presença militar russa na Venezuela e Cuba
Gesto seria resposta à insistência de americanos em expandir OTAN para países que formaram parte do bloco soviético, no passado
Reuniões diplomáticas nesta semana entre americanos e russos não desarmaram tensão
Bolsonaro planeja visitar Putin em fevereiro

A tensão entre americanos e russos por conta das fronteiras entre o Ocidente e as zonas de influência do Kremlin pode desembarcar na América Latina. Nesta quinta-feira, um dos principais negociadores do governo de Vladimir Putin não excluiu a possibilidade de que, se Washington não rever sua posição sobre a expansão da OTAN e de seu apoio aos países que fazem fronteira com a Rússia, Moscou não descarta considerar o envio de soldados para Cuba e Venezuela.

Os dois países latino-americanos são tradicionais aliados dos russos e, ao longo dos últimos anos, receberam importante volume de investimentos de estatais de Moscou.

Americanos e russos realizaram nesta semana reuniões consideradas como estratégicas para tentar desmontar a tensão entre as duas potências. Mas os encontros fracassaram em estabelecer um processo negociador. A Casa Branca quer que Moscou retire de forma imediata 100 mil soldados que foram destacados pelos russos para a fronteira com a Ucrânia e alertou que, em caso de uma invasão, sanções serão aplicadas.

O governo Putin insiste, porém, que quer garantias da OTAN de que seus vizinhos não farão parte da aliança militar ocidental, o que seria considerado como uma ameaça para sua segurança.

Diante do impasse, o vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov, deixou a porta aberta para a possibilidade de que Moscou estabeleça uma estrutura militar em Cuba e na Venezuela, como uma espécie de retaliação ou uma estratégia de equilíbrio de forças.

A lógica é clara: se americanos querem contar com aliados como a Ucrânia e Geórgia, nas portas do território russo, Moscou então também teria suas bases na América Latina.
Nos últimos anos, a oposição venezuelana tem insistido que o regime de Nicolas Maduro se garantiu no poder, em parte, graças ao apoio de Putin. De fato, em eleições contestadas em Caracas, o governo russo de Vladimir Putin atacou a "interferência externa" no processo venezuelano.

Aliado de Caracas e com mais de oito joint-ventures fechadas com os venezuelanos no setor do petróleo, Moscou fez questão de elogiar Maduro. Num telegrama, Putin felicitou o venezuelano pela vitória nas eleições. De acordo com o Kremlin, Putin desejou a Maduro "uma boa saúde e sucesso na solução de desafios sociais e económicos que o país enfrenta".

Documentos obtidos pela coluna ainda revelaram como estatais russas e do regime chavista usaram uma rede de intermediários com base em paraísos fiscais para criar empresas. Num dos casos, o braço financeiro do Kremlin usou uma empresa implicada em corrupção e lavagem de dinheiro para fechar um acordo de US$ 1 bilhão com a PDVSA.

Em 2013, a instituição financeira Gazprombank ainda anunciou a criação da PetroZamora, na Venezuela. O banco faz parte da Gazprom, a estatal de energia do governo russo e pilar da estratégia política e econômica de Vladimir Putin.

Bolsonaro visitará Putin
A resposta russa ocorre poucas semanas antes de uma possível viagem do presidente Jair Bolsonaro para Moscou, convidado por Putin. Isolado no cenário internacional, o brasileiro acenou com uma aproximação ao russo. No campo americano, o flerte brasileiro resultou numa preocupação por parte dos americanos sobre um posicionamento mais brando por parte de Bolsonaro, diante das ameaças russas na Ucrânia.

Questionado se esse deslocamento de tropas poderia ser uma resposta de Moscou, Ryabkov afirmou à RTVI TV que "tudo depende da ação de nossos homólogos americanos". Segundo ele, Putin já alertou que a Rússia poderia tomar medidas militares se fosse provocada.

Na entrevista, Ryabkov confirmou que não houve nesta semana um acordo para impedir a expansão da aliança para a Ucrânia e outras nações ex-soviéticas. Já o Kremlin, por meio de seu porta-voz, indicou que "as discordâncias permaneceram sobre questões principais, o que é ruim".

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/01/13/tensao-entre-russia-e-eua-ameaca-desembarcar-nas-fronteiras-do-brasil.htm

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

O Chile e o Brasil: consequências políticas da vitória de Boric para o Brasil (matérias de imprensa)

 Bolsonaro perde aliados na América e sofre prejuízos do isolamento


Brasileiro colhe outro revés com a eleição do esquerdista Boric, no Chile, e inicia o último ano de sua gestão mais isolado do que nunca

Raphael Veleda
Metrópoles, 21/12/2021 

A vitória do esquerdista Gabriel Boric nas eleições presidenciais chilenas no último domingo (19/12) foi mais uma na série de más notícias para o presidente Jair Bolsonaro (PL) no cenário internacional.

Por escolha e falta de sorte, o governo brasileiro trilhou um caminho rumo ao isolamento diplomático ao longo dos primeiros três anos de mandato, segundo especialistas e diplomatas ouvidos pelo Metrópoles, e agora colhe os amargos frutos desse ostracismo.

A gestão Bolsonaro teve início em meio a uma conjuntura externa positiva. A diplomacia apostou suas fichas numa aproximação sem precedentes com os Estados Unidos, então governados pelo direitista Donald Trump, e o Brasil ainda contava com aliados ideológicos no poder na maioria dos vizinhos estratégicos: Maurício Macri, na Argentina; Iván Duque, na Colômbia; Martín Vizcarra, no Peru; Enrique Peña Nieto, no México; e Sebastián Piñera, no Chile. Três anos depois, quase todos eles foram tirados do poder pela oposição e, assim como no Brasil, na Colômbia haverá eleição em 2022 e o favorito nas pesquisas é de esquerda: o senador Gustavo Petro.

O crescente isolamento diplomático incomoda Bolsonaro e seu entorno. Enquanto esta reportagem era produzida, o presidente brasileiro era o único líder sul-americano que ainda não havia cumprimentado Boric por sua vitória. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal antagonista político de Bolsonaro no Brasil, já havia feito isso no domingo, além de ter previsto uma aliança com o chileno e com o argentino Alberto Fernández, caso também vença a eleição do ano que vem.

A proximidade com a esquerda brasileira também fez com que Bolsonaro ignorasse a vitória de Fernández, em 2019, quando não só não o parabenizou, mas lamentou sua vitória, inaugurando uma relação fria com um dos maiores parceiros históricos do Brasil na região.

Os prejuízos
A escolha por uma política externa de enfrentamento aos organismos multilaterais e o fracasso de aliados nos quais o Brasil apostou estão causando prejuízos reais ao Brasil de acordo com o cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisador da extrema-direita no mundo. “Portas foram fechadas e nossa margem de manobra em temas comerciais ficou bem estreita”, afirmou ele, em entrevista ao Metrópoles.

Um dos exemplos desse prejuízo foi dado pelo próprio Bolsonaro em seu discurso na última reunião de chefes de Estado do Mercosul, na semana passada, quando ele admitiu não ter conseguido avançar no objetivo de reduzir a Tarifa Externa Comum do bloco durante a presidência temporária do Brasil. “Lamentamos que não tenhamos podido lograr acordo neste semestre sobre esse tema, a despeito dos esforços realizados pelo Brasil e de nossa disposição de aceitar redução inferior àquela que planejávamos inicialmente”, disse o brasileiro.

Outros reveses
O insucesso em flexibilizar a tarifa comum no Mercosul se junta a outros problemas recentes que têm relação com o isolamento diplomático. Também na última semana, o país foi surpreendido pela notícia de que cinco redes europeias de supermercados não vão mais vender carne brasileira devido ao problema do desmatamento na cadeia de produção. Esse revés veio logo após o Brasil conseguir reverter outro boicote à sua carne, esse da China, que durou mais de três meses e causou prejuízo próximo a R$ 10 bilhões, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).

Num cenário de longo prazo, o governo Bolsonaro viu supostas vitórias diplomáticas se transformarem em problemas. Em 2019, primeiro ano da atual gestão, o então presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou apoio à ambição brasileira de integrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é uma espécie de clube dos países ricos.

Com a derrocada de Trump, porém, o processo pouco andou desde então. O mesmo acontece com o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, fechado em junho de 2019, mas que não foi ratificado pelos parlamentos de países do Velho Continente, como a França. As nações que resistem usam o comportamento errático de Bolsonaro como motivo para não fecharem de vez um acordo que pode pressionar suas próprias economias.

Saída de Ernesto Araújo fez pouca diferença
A política externa brasileira tenta voltar a um comportamento mais pragmático desde março deste ano, quando um dos auxiliares mais ideológicos de Bolsonaro, o diplomata Ernesto Araújo, foi trocado pelo discreto Carlos França. Para Guilherme Casarões, no entanto, a mudança foi mais na forma do que no conteúdo.

“Claro que é positivo a gente não ter um chanceler tuitando absurdos o tempo todo, mas França não tem muito espaço para mudanças mais profundas porque é funcionário de Bolsonaro e também precisa lidar com as bravatas e maluquices do presidente”, afirmou ele, lembrando que Bolsonaro usou seu discurso na Assembleia Geral da ONU neste ano para defender a política brasileira para o meio ambiente e insistir em tratamentos ineficazes contra a Covid-19.

Para o cientista político, o prejuízo da política bolsonarista para a diplomacia brasileira ainda deverá durar algum tempo. “Quem assumir o próximo governo vai ter de lidar com um passivo diplomático muito grande e vai precisar arrumar os rumos da política externa. Se Bolsonaro for o vencedor das eleições, a dificuldade será maior ainda, pois ele está carente de aliados e necessitará inventar um jeito de lidar com um isolamento que atrapalha”.

Diplomatas do Itamaraty ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato concordam com essa avaliação e lamentam a perda de influência do Brasil em debates globais nos quais havíamos conquistado relevância, como em relação ao meio ambiente, aos direitos humanos e à saúde pública em nível global.

Para eles, a saída de Ernesto Araújo foi positiva, mas seu legado é forte e pode ser resumido num discurso do ex-chanceler feito em outubro de 2020, quando disse a novos diplomatas que estavam se formando no Instituto Rio Branco: “Se a nova política externa do Brasil faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

https://www.metropoles.com/brasil/bolsonaro-perde-aliados-na-america-e-sofre-prejuizos-do-isolamento


Bolsonaro silencia, e aliados lamentam vitória de Boric no Chile


Presidente é praticamente o único na América do Sul que ainda não se manifestou

Marianna Holanda
Folha de S. Paulo, 20.dez.2021

Um dia depois de o Chile eleger o esquerdista Gabriel Boric, Jair Bolsonaro (PL) ainda não o havia parabenizado pela vitória até as 18h desta segunda-feira (20). Aliados do presidente, por sua vez, lamentaram o resultado nas redes sociais.

Dentre os principais mandatários da América do Sul, só Bolsonaro não havia se pronunciado. Ele está, desde a sexta-feira passada (17), em Guarujá (SP).

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez, por exemplo, felicitou Boric e disse que os países trabalharão juntos para seguir fortalecendo as relações entre os países.

Já Alberto Fernandez, da Argentina, disse: "Devemos assumir o compromisso de fortalecer os laços de irmandade que unem nossos países, e trabalhar unidos na região para pôr fim à desigualdade na América Latina".

Reservadamente, embaixadores relataram mal-estar com a demora do Brasil em se manifestar. O processo deve partir do presidente, em nome do governo, e depois o Itamaraty também costuma divulgar uma nota.

Na época em que Fernández foi eleito na Argentina, em 2019, Bolsonaro não só não o parabenizou como lamentou sua vitória. O líder argentino é próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Líder dos protestos estudantis de 2011, Boric foi eleito no domingo (19) ao derrotar o ultradireitista José Antonio Kast. Venceu por 55,8% contra 44,1%.

Com 4,6 milhões de eleitores, o candidato da Frente Ampla se tornou mais votado da história chilena. O voto não é obrigatório no país, mas mais da metade da população compareceu às urnas (55,65%).

Ainda assim, aliados do presidente Bolsonaro ressaltavam a alta abstenção e faziam relação com a disputa em 2022 no Brasil.

"Bater no peito dizendo que não votou em político nenhum só fará a história [no Brasil] se repetir", disse Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente.

"Se não percebermos a estratégia da esquerda acabaremos governados por um deles".

Já o vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente, Carlos Bolsonaro, disse que, "enquanto isso no Brasil", cresce o possível voto na "terceira via", que chamou de "LULO", dando a entender que pode beneficiar Lula.

O tom nas redes bolsonaristas, que levantaram a hashtag #JairOuJáEra, foi de alarmismo com a eleição chilena. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles disse: "O Chile caiu".

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alvesa publicou no Twitter um mapa da América do Sul com o símbolo comunista da foice e do martelo.

"Como ainda tem gente que não entendeu, me pediram para desenhar! Não é de Bolsonaro que falo, é de esperança, é de democracia! Sim, a mais importante eleição do mundo no ano de 2022 acontecerá no Brasil!", afirmou.

A imagem foi compartilhada por apoiadores do presidente.

Ainda que Boric seja diametralmente oposto no espectro ideológico a Bolsonaro, experientes diplomatas no Itamaraty veem-no como diferente de outras lideranças esquerdistas mais tradicionais da região.

A avaliação é de que ele não terá uma postura tão nacionalista na economia como Fernández, por exemplo. O Chile é um importante parceiro comercial do Brasil.

A expectativa é de que ele terá de fazer alianças com demais partidos, de forma a caminhar mais ao centro. Sua agenda à esquerda, apostam, se dará mais quanto à pauta dos "costumes", como questões de gênero.

Para conseguir se eleger, Boric teve de adotar um tom mais moderado em seu discurso e se reconciliou com a Concertação, aliança de centro-esquerda que governou o Chile por 20 anos. Ele representa a nova geração de políticos de esquerda que emergiram das revoltas estudantis de 2011.

O resultado da eleição chilena marca também a derrota de Kast, que sustenta bandeiras consideradas conservadoras do ponto de vista social e é admirador do ditador Augusto Pinochet (cujo regime matou mais de 3.000 pessoas, segundo estimativas oficiais).

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/bolsonaro-silencia-e-aliados-lamentam-vitoria-de-boric-no-chile.shtml?utm_source=twitter&origin=folha


Chile mostra que refluxo da direita pode chegar ao Brasil

Vitória de Boric marca virada na América Latina para governos de esquerda voltados ao diálogo e a causas sociais

Guilherme Boulos
Folha de S. Paulo, 20.dez.2021 

Enfim, abriram-se as grandes alamedas chilenas por onde passarão o homem e a mulher livres. Essa foi a previsão de Salvador Allende em seu último e corajoso discurso, antes de ter o Palácio de La Moneda bombardeado e ser morto pelas forças golpistas de Pinochet. Demorou 48 anos, mas as alamedas se abriram neste domingo.

A vitória de Gabriel Boric sobre José Antonio Kast representa uma espécie de segunda morte do pinochetismo, o mais cruel regime latino-americano. Foi a expectativa de presenciar esse acerto de contas histórico que me levou, com a delegação do PSOL, a Santiago para acompanhar as eleições.

O resultado tem dois significados diretos para a América Latina. Simboliza, primeiro, o refluxo da ofensiva direitista. No último período, a esquerda venceu na Bolívia, no Peru, em Honduras e, agora, no Chile. Já havia vencido antes no México e na Argentina. No Brasil, Bolsonaro está enfraquecido, e pesquisas indicam amplo favoritismo de Lula para 2022. Ao que parece, a onda de governos autoritários e antipopulares se desfaz antes do que muitos imaginavam.

E Boric venceu apesar de todo o jogo baixo da extrema direita. Tantas foram as fake news que ele teve que mostrar um exame toxicológico para comprovar que não usava drogas. No dia do pleito, empresas de ônibus reduziram a frota para dificultar a locomoção de eleitores, afetando mais a base de Boric. Ainda assim o comparecimento foi recorde, e a vitória foi por margem maior do que a esperada, 55% a 45%.

O segundo ponto que merece destaque é a chegada de nova geração de esquerda ao poder. Boric tem 35 anos. É produto das grandes mobilizações estudantis de 2011, que também formaram lideranças como Giorgio Jackson e Camila Valejos, com papel de destaque na coalizão vitoriosa e provavelmente no futuro governo. Foram ainda os jovens chilenos que protagonizaram as grandes mobilizações de 2019, sem as quais a vitória de Boric seria impensável.

Pude conversar com várias dessas lideranças e com o próprio Boric nesses dias em Santiago e é muito bom ver como não carregam velhos vícios políticos, têm abertura para novas pautas —com destaque para a ambiental e a feminista— e são capazes de uma comunicação mais direta com a juventude, sem chavões tradicionais.

Mas o governo de Boric terá grandes dificuldades, a começar pelo boicote anunciado de setores econômicos e por não ter maioria parlamentar. Além disso, a contraofensiva da direita se concentrará na Constituinte, formada como resposta à revolta popular. A próxima batalha será o plebiscito sobre as alterações constitucionais progressistas. E não será fácil. Na verdade, nunca foi. Mas os ventos que vem do Chile nos enchem de esperança. O próximo acerto de contas será no Brasil.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/guilhermeboulos/2021/12/chile-mostra-que-refluxo-da-direita-pode-chegar-ao-brasil.shtml

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Sobre a destruição da democracia nos EUA e no Brasil: um projeto ainda em curso - Paulo Roberto de Almeida, Umair Haque

Sobre a destruição da democracia nos EUA e no Brasil: um projeto ainda em curso

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

O plano trumpista para destruir a democracia americana – pela submissão do Congresso e pela manipulação do processo eleitoral – foi seguido quase ipsis litteris pelo seu imitador, adorador, seguidor fiel (mas um pouco mais imbecil) do Brasil, com as diferenças aplicáveis a dois sistemas político-partidários e eleitorais bastante diferentes. 

Ambos não conseguiram realizar o seu intento, inclusive porque as instituições dos dois países dificultaram esses intentos respectivos, mas o americano esteve muito mais longe desse objetivo do que o brasileiro, por um motivo muito simples: as FFAA americanas são muito menos manipuláveis do que são as brasileiras (que foram praticamente compradas pelo candidato a ditador, mas os comandantes das três forças, e o próprio ministro MILITAR da Defesa concluíram que não tinham condições, nem motivos, para seguir o tresloucado). 

O que não impede que ambos, Trump nos EUA, Bozo no Brasil, disponham, cada um, de uma base social e eleitoral respeitável, com a diferença que Trump praticamente domou o Partido Republicano e o tem a seu serviço, com alguns poucos dissidentes, ao passo que o seguidor tupiniquim foi domado pelas forças mais corruptas e venais do establishment político e não tem nenhum partido a seu serviço, mas se se serve deles irrigando seus aparentes apoiadores com toneladas de dinheiro público que aqui no Brasil parece ser mais fácil de desviar do que nos EUA. 

Trump nos EUA e Bozo no Brasil gostariam de decretar fechamento do Congresso, para governar por decretos, ignorando eleições e eleitores, mas as instituições atuaram como contrapesos e vetaram essa via destruidora. 

Mas ambas democracias permanecem frágeis e fragilizadas, pela ação corruptora dos dois grandes mentecaptos que empolgaram as duas nações, respectivamente em 2016 e em 2018, o que também é uma tendência em outras democracias avançadas, nas quais também se observa um eleitorado ignorante disposto a seguir populistas mentirosos – como Trump, Bozo, Modi, Orban, Erdogan, Salvini, Duterte, AMLO e muitos outros, vários que ainda são candidatos, inclusive na França – na ilusão de solucionar problemas corriqueiros da vida nacional: inflação, desemprego, desigualdades persistentes, insegurança civil, supostas ameaças externas (representadas por potências estrangeiras, imigrantes ilegais, terroristas fanáticos, etc.) e persistência de velhos problemas internos, entre eles frustrações individuais.

A democracia é um regime aborrecido e demorado, daí que os insatisfeitos queiram resolver esses problemas com alguém que se apresenta como o "solucionador" eventual: Make America Great Again, família, religião, propriedade, ordem, segurança, e o que mais existir como promessa fácil.

A única solução duradoura é a educação e a capacitação produtiva de todos os cidadãos, o que nem sempre é fácil, dada a conhecida fórmula econômica de desejos ilimitados e recursos limitados.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4044: 13 dezembro 2021, 2 p.



Inside Trump’s Plot to Destroy American Democracy
Martial Law. Overturning the Election. What We Know Gets Worse By the Day
Umair Haque in Eudaimonia and Co
Medium Daily Digest, December 13, 2021


  • The federalized National Guard in each state will be supplied detailed processes and be responsible for counting each legitimate paper ballot. Teams made up of three (first couple counties will be five) National Guard members will do the counting. As the counting occurs each ballot will be imaged and the images placed on the Internet so any US citizen can view them and count the ballots themselves. The process will be completely transparent.”

Eudaimonia and Co

Eudaimonia & Co

terça-feira, 21 de setembro de 2021

A destruição do Brasil por um psicopata - Paulo Roberto de Almeida

 Estaremos assistindo (não eu), nesta terça-feira, com todos os holofotes em NY, a um dos mais sórdidos e execráveis espetáculos de rebaixamento continuado do Brasil no cenário internacional, um evento que certamente causará repulsa e horror em todo diplomata de bom-senso, independentemente de sua postura política ou preferências eleitorais. É simplesmente doloroso assistir um mentiroso ler um texto edulcorado pelo Itamaraty e que deve representar todo o contrário do que pensa e faz a escória subhumana que sequestrou a representação do Brasil no mundo.

Lamento que meus colegas diplomatas envolvidos no serviço ativo tenham de suportar esse mentecapto, autoritário, genocida e psicopata. Estou apenas expressando o que efetivamente penso e o que é a realidade.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 21/06/2021