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sexta-feira, 12 de março de 2021

Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente - Ereto da Brocha (edição Afipea)

A Associação dos Funcionários do IPEA – algo como o equivalente da ADB Sindical, mas muito mais independente e ativa – resolveu editar, no quadro de seu trabalho contra assédio moral no serviço público em geral e no Ipea em especial, as crônicas do nosso Batman do Itamaraty. Não apenas isso, publicaram minhas notas a cada uma das crônicas (com exceção das últimas, pois eu andava de mudanças e não tive tempo de me debruçar sobre a safra mais recente de crônicas recebidas), e também minhas notas introdutórias e final. Mas até do que isso, transcreveram meu Manifesto Globalista, um texto concebido no formato, estilo e linguagem do mais famoso manifesto da história, o de 1848 (que não sei se o EA já leu, mas deveria), e que foi escrito justamente para irritar os idiotas dos antiglobalistas. Ele pode ser lido no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/manifesto-globalista-2020-paulo-roberto.html).

Agradeço a José Celso Cardoso Jr., pesquisador do Ipea e presidente da Afipea, a gentileza e o cuidado tomados na preparação, edição e divulgação destas crônicas. Estou, na verdade, agradecendo em nome do meu colega misterioso, que não pode fazê-lo diretamente, por razões compreensíveis. Imaginem se o Gabinete do Ódio envia um pelotão dos seus camisas pardas em preparação, ou algum idiota daqueles 300 que não chegavam a 30: com esses bárbaros não se brinca.

PS.: Não me considero um "escritor", apenas um escrevinhador...

Paulo Roberto de Almeida


CRÔNICAS TRAGICÔMICAS DE UM DIPLOMATA

RESISTENTE

Ninguém sabe quem é. Mas a partir de 2020 o nome “Ereto da Brocha” passou a circular nos corredores do Itamaraty. Com humor e ironias, o diplomata anônimo traz um contraponto à atual gestão da política externa brasileira. Quarenta textos estão agora reunidos na coletânea Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente.


(http://afipeasindical.org.br/content/uploads/2021/03/Pilulas_de_Bom_Senso_Caderno_06.pdf)


É mais que humor. As crônicas do autor misterioso não se preocupam em fulanizar ou

personalizar as críticas, e sim problematizar os riscos institucionais para o Itamaraty, e, em última instância, para o Brasil. É um verdadeiro registro histórico, o que justificou sua sistematização.

A Afipea contou com a colaboração de Paulo Roberto de Almeida, diplomata e escritor. Na avaliação do servidor público, os textos foram redigidos “certamente” por um diplomata experiente, possivelmente já aposentado. “Dependo de colegas que recebem e me repassam o material, que não sei exatamente como circulam. O fato é que essas crônicas são lidas com indizível prazer pela nossa corporação de ofício, que assim pode desfrutar (ainda que clandestinamente) do sarcasmo que são a sua marca irrecusável”, explica Paulo Roberto de Almeida.





A publicação das Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente faz parte da série Pílulas de Bom Senso: use sem moderação (http://afipeasindical.org.br/pilulas-de-bomsenso/).





quarta-feira, 3 de março de 2021

Chanceler acidental “desconfia” que prejudicou a diplomacia (CB)

 Ernesto Araújo diz que existe esforço para prejudicar imagem do Brasil no exterior

Em meio a informações sobre possível troca da chefia do Itamaraty, ministro convocou coletiva para fazer balanço, frisando que existe ideia equivocada de que sua gestão prejudica relações do Brasil

Correio Braziliense | 2/3/2021, 16h10

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta terça-feira (2/3), que existe um esforço por parte de alguns segmentos para prejudicar a imagem do Brasil no exterior. As falas foram proferidas em entrevista coletiva de quase duas horas, na qual o ministro fez um balanço de sua gestão até o momento e falou sobre as relações do Brasil com países como China e Estados Unidos. A prestação de contas se dá em um momento no qual é ventilado com mais força a possibilidade de troca da chefia do Itamaraty.

“Fala-se que a nossa gestão prejudica a imagem do Brasil no exterior. Hoje, o que nós vemos é um esforço de algumas correntes políticas no Brasil de criar uma má imagem do Brasil no exterior”, disse. Com a formação de uma base governista no Congresso formada por partidos do Centrão, o chefe do Itamaraty passou a ter diversas críticas internas em relação à forma como conduz as relações do Brasil com outros países, como a China. No fim do mês passado, o próprio vice-presidente Hamilton Mourão indicou que Bolsonaro poderia trocar o ministro das Relações Exteriores.

Ao falar sobre essas correntes que tentam passar uma imagem ruim do Brasil, Araújo citou como exemplo uma carta de ex-ministros do Meio Ambiente enviada a países europeus, no mês passado, no qual pedem ajuda para proteger a Amazônia. Conforme o ministro, a ação produz uma imagem ruim e que afeta os interesses brasileiros, prejudicando a execução do acordo do Mercosul com a União Europeia, por exemplo. “São setores que não querem esse processo de abertura no qual estamos engajados”, disse.

De acordo com ele, esses grupos sabem que o ministério está criando “um conjunto de relações que transformam o velho sistema de corrupção, de atraso, a qual essas pessoas estão ligadas”. “Então, a meu ver, essa é a origem da questão da imagem”, disse.

Araújo pontuou que, por vezes, se vê a ideia de que a sua gestão é prejudicial aos interesses nacionais, na dimensão econômica e na diplomacia. Ele afirmou, entretanto, que houve um saldo comercial nos últimos dois anos, e apontou resultados que, segundo ele, são oriundos de uma presença muito grande do Itamaraty nas negociações comerciais e atração de investimentos. Os investimentos aumentaram em 2019, em relação a 2018, conforme o ministro, e diminuíram em 2020 devido à pandemia.

Mercosul

O ministro afirmou, ainda, que o Brasil e outros países do Mercosul estão dispostos a incluir uma declaração sobre compromisso com o meio ambiente para ratificar o acordo de livre comércio com a União Europeia. “Não queremos reabrir a negociação. Foi uma negociação complicada, complexa, e dentro desse parâmetro de não reabrir a negociação do que já está negociado, estamos prontos a abrir com a ideia da União Europeia, o que ajudaria nesse processo de ratificação”, disse.

Ernesto Araújo afirmou que já houve uma pequena declaração, de dois ou três parágrafos, em dezembro do ano passado, dizendo que o Brasil está disposto a avançar nessa área, com combate ao desmatamento, e que isso mostrou uma boa disposição pro parte do país. “Temos falado frequentemente com interlocutores europeus, da União Europeia, países membros, Portugal, outros países-chave, e sempre repetindo que estamos abertos”, afirmou.

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/03/4909696-ernesto-araujo-diz-que-existe-esforco-para-prejudicar-imagem-do-brasil-no-exterior.html


segunda-feira, 1 de março de 2021

Símbolos monárquicos e religiosos geram críticas contra Araújo no Itamaraty - Jamil Chade (UOL), Paulo Roberto de Almeida

Fiz a nota introdutória abaixo, para a transcrição no FB deste artigo de Jamil Chade:

 

Símbolos monárquicos e religiosos geram críticas contra Araújo no Itamaraty

Jamil Chade

Uol Notícias, 28/02/2021

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/02/27/bandeiras-alimentam-criticas-contra-araujo-no-itamaraty.htm?


 PRA:

O chanceler acidental não deve ser o único templário do Itamaraty, mas os demais cruzadistas devem ser mais discretos, sem pretender exibir o seu fanatismo para não serem objeto de discriminação dos demais colegas.

O chanceler capacho não se peja de exibir sua ideologia fundamentalista, pois tem de provar aos seus amos e senhores que é um soldado da causa, ainda que todas essas demonstrações de adesismo a causas reacionárias sejam anacrônicas e sumamente ridículas.
Finalmente, ele ficou no armário durante quase 30 anos, amargando (e apoiando) tucanices e petismos, como burocrata obediente e subserviente que é, chegando até a defender a “luta armada em defesa da democracia” na presidência de Madame Pasadena.
Segue a trilha do pai, que serviu à República de 1946, no Partido Libertador, mas se distinguiu mesmo na ditadura militar, quando rejeitou quatro pedidos de extradição de um criminoso nazista refugiado ilegalmente no Brasil, no que descurou completamente o caráter imprescritível dos crimes contra a Humanidade, tal como definido em Nuremberg, em 1946, princípio que se agregou ao Direito Internacional, que deve ser acatado pelos governos de todos os países membros da ONU.
O lado ridículo desse exibicionismo do chanceler acidental me faz lembrar de algumas passagens irônicas contra os cavaleiros templários, no Nome da Rosa, de Umberto Eco. O capacho do Itamaraty se sentiria bem bem melhor nessas eras longínquas dos cruzadistas e templários, do que em nossos tempos iluministas e seculares, o que ele transgride despudoradamente, inclusive no que se refere a símbolos republicanos.
Já pensaram no diplomata EA sob o jacobinismo de um Floriano Peixoto? Seria um Quaresma medieval?
Temos algum Lima Barreto no Itamaraty, para fazer uma nova crônica desse novo episódio ridículo? Estou certo que o Batman do Itamaraty, o cronista misterioso da Casa de Rio Branco, que se esconde sob o curioso pseudônimo de Ereto da Brocha, tem nesta matéria de Jamil Chade mais um bom tema para novo petardo à propos...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O inacreditável "romancista" dadaista-surrealista-confusionista EA, e sua obra estrambótica - resenha de Carlos U. Pozzobon; comentário PRAlmeida

Antes da "Miséria da diplomacia", a "miséria da literatura"

Nesta mesma madrugada, para trás, fiz uma breve apreciação sobre a trajetória do nosso inacreditável chanceler acidental, como registrado nesta postagem: 

3857. “Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty”, Brasília, 16 fevereiro 2021, 2 p. Comentários sobre a trajetória do chanceler acidental. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/02/sobre-resistivel-ascensao-de-um.html).

 Um amigo, colega de redes sociais e grande intelectual, Carlos U. Pozzobon, teve o cuidado (e a pachorra) de postar um comentário que é uma espécie de "resenha" – se isso é possível – sobre uma das obras do dito colega diplomata, mas que eu NUNCA tive curiosidade de ler (pois fui avisado discretamente, por quem comprou ou recebeu, que "não valia a pena"). 

Devo dizer que, entre 2004 e 2020, eu resenhei praticamente TODOS os livros publicados pelos diplomatas, em todos os gêneros, e durante algum tempo passei a receber vários (mas só resenhava aqueles que eu achava que "valiam a pena"). Informo abaixo sobre essas publicações, que estão todas disponíveis aos interessados.

Transcrevo abaixo o "comentário-resenha" de Pozzobon sobre um dos livros do candidato a "Borges de Cabrobó da Serra", seguido de meu próprio comentário na postagem acima, mas que posto aqui, para tornar mais explícito este "exercício literário" tão auspicioso quanto as tiradas diárias do capitão, chefe do chanceler acidental. Não se tem notícia, ainda, de outros "romances" inspirados no desgoverno do capitão, mas o estilo é praticamente o mesmo: confuso, caótico, sem qualquer atratividade.

A sorte me poupou de receber uma dessas "obras". Mas já li toda a "produção" não literária do chanceler acidental, e afirmo que é mais ou menos no mesmo estilo. 

Paulo Roberto de Almeida


Logo que tomou posse encomendei A Porta de Mogar a partir de comentários na imprensa sobre os dotes literários do novo chanceler. Algumas semanas depois comecei a ler o pequeno livro precedido por uma dedicatória a um certo ministro (não cito o nome) pelo apoio literário que recebeu. O ministro deve ter esquecido da dedicatória e o livro foi parar em um sebo e dali nas minhas mãos.
Mas o que se pode dizer de A Porta de Mogar? Trata-se de um samba de uma nota só. Começa assim: 
“A primeira coisa é decidir o teu nome, que imagino pode ser Arétsei, já que nasceste no país de Lham, ao som do realejo do cais de Aleufar. Na verdade nasceste num domingo de janeiro, que eu voltava de uma galeria e encontrei na rua o velho Kedad, que me saudou e ofereceu-me um cigarro. Conversamos um pouco sobre a pontuação e o calendário, e decidimos passar logo ao capítulo 2”.
E de fato, termina o capítulo 1 e começa o 2. E o que diz o capítulo 2? 
“O segredo do homem é fixar limites. E descumpri-los. E dividir-se entre esses dois segredos, que são um só. 
O que se pode conhecer do segredo, senão o seu entorno físico, a paisagem que dele se avista, seu endereço? Se soubermos onde o segredo fica, já estamos sabendo um pouco o que o segredo diz?
– Como é simples – comentou Kedad.
– O que é simples?
– Está vendo? Já complicou”.

E acaba o capítulo 2. Ainda estamos na página 1 e já chegamos ao capítulo 3. 
O leitor não sabe se está na presença de um gênio, um vanguardista, um inovador ou de um idiota. Como não sou de desistir no primeiro embate, criei coragem e avancei na leitura. Depois de páginas e mais páginas, o leitor nota um traço comum: todos os nomes são esquisitos, todos os lugares estrambóticos, a paisagem é desértica, o nonsense invade cada capítulo minúsculo e o tema se repete sempre o mesmo. Parece que o chanceler pretendeu imitar Borges em Ficções no conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, mas logo percebe que seu texto não diz nada com nada. 
Os personagens trocam de nomes em desfile sucessivo a cada página como Kedad, Ftob, Xirdac, e cidades ou aldeias como Alquizia, Dezlum e Gaidehob e Crechêbiu.
A cada página me pergunto: mas o que é isso? E na minha perseverança continuo atento na expectativa de que em algum momento as futilidades vão acabar, mas nada: 

Na página 52 [que também é o capítulo 52] lemos coisas assim: 
“O momento da flecha de fogo surge uma vez em cada batalha. No meio da retranca e do alarido [o livro é uma repetição de batalhas no deserto com a caracterização do tempo histórico por espadas e flechas disparadas entre tribos] sobrevém um minúsculo silêncio, como um instante de clareza no meio do sono. O capitão, se o percebe, toma o seu arco (que só serve para isso), embebe a flecha no óleo, acende-a e dispara, tal qual uma certeza pelo arco do pensar. [Noto que o arco da flecha é também o arco do pensar, mas não se trata de uma metáfora, pois fico confuso se afinal o arco do pensar é uma certeza ou o arco da flecha propriamente]. “Neste momento, apenas nesse momento, a flecha faz o efeito”. [Lindo, não? “A flecha faz o efeito”]. “Os olhos do inimigo se arregalam, e é a hora de forçar o centro de sua linha. A flecha de fogo, no momento certo, é sempre uma surpresa, para os dois lados, sabida mas inesperada”.

Essas galimatias me faz supor que o autor está bêbado, e que o pileque vai passar, mas não passa. Todo o livro foi feito para se rir do autor e não dos personagens. Ele diz bobagens enfileiradas como “uma nação se aprende na derrota”, ou “civilização é complexidade”. Fiquei desconfiado que o livro foi escrito com alguma finalidade de longo prazo, como o de disputar um lugar na ABL ao término do mandato, se abrir uma vaga entre os imortais.

Chego no capítulo 68 saturado e sôfrego:
"- Tsanash, você tem irmãos?" [Segue- se uma digressão e por fim a resposta:]
"- Tenho.
“Ao que me lembre, além do Tsanash, somente a ti te fiz essa pergunta tremenda". [É uma pergunta tremenda que deixa o leitor tremendo].

Me arrastando chego ao capítulo 86:
"Eu e Ftob ouvíamos ao longe o choque das armas e os relinchos. A primeira linha hestiaque foi rompida e a desordem se espalhou. Ftob juntou-se à tropa e me deixou sozinho. Formou-se uma segunda linha para deter os riombes, mas também foi quebrada. Para o vilarejo indiferente [pode haver indiferença no meio de uma batalha?] era apenas mais um dia úmido. Eu não enxergava nada e não entendia, sentia todos os músculos presos, como se estivesse cercado por quinhentos credores [parece incrível que no meio de uma batalha alguém se lembre dos credores], como se não houvesse nada para ser defendido. Como se eu não valesse nada, como se eu fosse um burro carregando nas costas o incômodo da vida [Pode estar aí uma autorrevelação]. Bandos dispersos de soldados fugiam, procurando esconderijo”. 
Logo adiante (88) um pirueta estonteante: "para ti não existe o amor, mas apenas amar alguém, e para mim amar alguém é apenas um exemplo do amor. Por isso não nos comunicamos"... "pensas que cada ser está preso ao seu sido". [Sido? Isso mesmo, sido].
"Toda a filosofia é um esforço para retraduzir o mundo, de tal modo a poder rasgá-lo". 

Neste caso encontrou seu destino no olavismo. Poderia ser diferente? Não há nada que se salve. O chanceler fez da literatura o que Bolsonaro fez da política. Os gênios sempre se encontram. E encerrei nocauteado no capítulo 90 que por acaso se chama “Para que servem as ideias?” 
As dele, as dele todo mundo sabe.

[Fim de transcrição]


Meu comentário à resenha acima: 

PRA: "Carlos U. Pozzobon

: É inacreditável. Acho que tenho sorte de nunca ter topado com essas aberrações nos 17 anos durante os quais fiz mini-resenhas de (quase) todos os livros publicados pelos diplomatas para o Boletim (agora Revista) da ADB: do que escapei (poderia ter desistido da missão self-assumed). 

Mas tem um que leva o nome de EA como co-autor, junto com seu chefe (meu amigo), embaixador Sergio Florencio: Mercosul Hoje (1996; 2a ed. 1999). Nunca perguntei quem fez o que, mas a resenha é positiva, nos meus requerimentos rigorosos. Está com centenas de outras resenhas, grandes e pequenas, num livro que deveria ter sido publicado pela Funag, muito antes que eu fosse diretor do IPRI: como quiseram censurar duas resenhas (ainda nos tempos do lulopetismo diplomático), me opus aos cortes e publiquei eu mesmo o livro: 

Prata da Casa (2014) e edições sucessivas, com outras organizações: Polindo a Prata da Casa; Codex Diplomaticus Brasiliensis; Rompendo Fronteiras, tudo disponível em Academia.edu. 

Quero agradecer e reconhecer o sacrifício de Carlos Pozzobon por ter enfrentado a “desinteria mental” de um dos “livros” (sic três vezes) do chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/02/2021


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A diplomacia brasileira se jogando literalmente no abismo na relação com a China

Esta é uma das MAIORES VERGONHAS pela qual já passou a diplomacia brasileira, sob as patas de fundamentalistas tresloucados, atuando como mandantes arrogantes de um chanceler acidental que obedece caninamente as piores diretivas que eles são capazes de determinar, ao completo arrepio dos interesses nacionais do Brasil. O mundo todo toma conhecimento de quão baixo pode descer um serviço diplomático outrora respeitado e elogiado, hoje objeto de comiseração e ridículo.

Imagino a cena do embaixador brasileiro em Bejing cumprindo as instruções oficiais recebidas por telegrama secreto de Brasília, diretamente do gabinete do infeliz e subserviente chanceler: os diplomatas da divisão que cuida do Brasil na chancelaria chinesa recebem polidamente a demanda de retirada do seu embaixador em Brasília, agradecem e depois... NADA! Nem se dignam a uma resposta, sequer um comentário a respeito. 

Um dia conheceremos a resposta do embaixador, que deve começar pela tradicional e ritualística fórmula: “Cumpri instruções. No dia [xx/xx], atendendo à minha demanda, fui recebido pelo Desk Brasil da chancelaria chinesa, terceiro secretário [Fulano], a quem comuniquei o pedido de Vossência, tal como é o desejo do Senhor Presidente da República. O secretário [Fulano] agradeceu minha visita e informou que elevaria a demanda ao conhecimento dos seus superiores. Aguardo resposta, que prontamente transmitirei à SERE.” Assinado.

PS: a manchete da matéria está errada: deveria ser “... exchange Beijing ambassador to Brazil”.

Paulo Roberto de Almeida 

China ignores requests to exchange Bolsonaro ambassadors in Brazil – 02/14/2021 – Worldwide

Convinced by Chancellor Ernesto Araújo, President Jair Bolsonaro last year asked the Chinese regime to change ambassador to Brazil, Yang Wanming.

The measure was taken in April and repeated in November, after clashes via social networks between the diplomat and MP Eduardo Bolsonaro. Beijing ignored the Brazilian request on both occasions.

Ernesto took care of President Bolsonaro’s son and severed his relationship with Yang.

The trigger behind the request was the Twitter clash between Eduardo and the Chinese diplomat. In March 2020, the MP published a text comparing the Covid-19 pandemic to the Chernobyl nuclear accident (1986) and claiming that the Chinese regime was responsible for the spread of the disease.

“Replace the nuclear power plant with the coronavirus and the Soviet dictatorship with the Chinese. Once again a dictatorship preferred to hide something serious rather than to expose it with wear and tear, but that would save countless lives”, wrote the then deputy.

Yang called Eduardo’s speech a “malicious insult” and the official embassy profile published a post accusing the MP of having contracted a “mental virus”.

The clash prompted the Brazilian government to take a drastic decision, which raised apprehension among Itamaraty diplomats.

At the end of March, Ernesto sent Paulo Estivallet de Mesquita, the Brazilian ambassador to Beijing, a diplomatic telegram asking him to hand over an official document to the Chinese government requesting Yang’s replacement – which happened in early April, according to reports. people who participated in the discussions. heard by Folha on condition of anonymity.

The request was ignored.

Wanted, the Ministry of Foreign Affairs did not comment on the subject.

In November, at the height of attacks on Huawei, Chinese telecommunications giant Eduardo accused China of promoting industrial espionage using 5G equipment.

Yang reacted and the Foreign Ministry again requested the exchange.

Formal requests for Yang’s replacement were secret, but a letter Ernesto sent to the Chinese embassy in Brasilia set the tone for the Bolsonaro government’s discontent with the Chinese diplomat.

“It is not appropriate for the diplomatic agents of the People’s Republic of China in Brazil to deal with the affairs of the Brazil-China relationship through social media. Diplomatic channels are open and should be used,” the ministry said. Foreign Affairs in the letter, sent in November.

Officially, there has been no response to Yang’s exchange requests. However, Beijing has sent information to Brazilian authorities that its ambassador to Brazil is a respected figure in the Chinese civil service.

A member of the Bolsonaro government maintains that Yang’s statements have been approved by authorities in Beijing, who have asked his diplomats abroad to respond accordingly to protests deemed offensive to the regime.

Ernesto’s relationship with Yang is severed. The doors of the Itamaraty division in charge of Asia and the Pacific are also closed to him, according to relatives of the ambassador.

Interlocutors heard by Folha stressed that the Brazilian government’s request for replacement of the Chinese ambassador is totally outside diplomatic practice.

Governments have the prerogative to expel foreign diplomats from the country, but this move is seen as extreme and with the potential to damage bilateral relations.

If Bolsonaro had opted for this measure, the inevitable response would be the expulsion of the Brazilian ambassador from Beijing, exacerbating the diplomatic crisis with Brazil’s largest trading partner.

Still according to these interlocutors, Ernesto opted for a more “light” and “marketing” effect, taking into account in particular the interests of the Bolsonaro family.

A diplomat experienced in Brazil-China relations said the Bolsonaro government should know that Beijing will not stand for election. If it concedes to Brazil, China could see similar demands from other countries where Chinese ambassadors have been controversial.

In Sweden, for example, the Chinese ambassador made statements that worried local authorities.

Ernesto’s embarrassment – ignored by Beijing – was most evident when President Bolsonaro was forced to seek China for the release of inputs to manufacture the coronavirus vaccine.

The Planalto Palace has, until the last moment, attempted to guarantee the import of ready-to-use Oxford / AstraZeneca immunizers manufactured in a laboratory in India.

However, faced with the failure of negotiations with India, he ended up suffering a political setback against Governor João Doria (PSDB-SP), who negotiated directly with a Chinese laboratory to buy Coronavac.

Doria had the first vaccination photo in the country.

To make matters worse for the federal government, which had already been criticized for the delay in starting vaccination, the Butantan Institute and Fiocruz (Oswaldo Cruz Foundation) were with late shipments of inputs for the manufacture of immunizers.

The inputs – both the Oxford / AstraZeneca vaccine and the Coronavac vaccine – are produced by China.

Bolsonaro then appealed to China and even called for a phone conversation with the country’s leader Xi Jinping.

Faced with the difficulties, Bolsonaro asked Ernesto live to recompose relations with the Asian giant. The Chancellor replied that the Brazilian ambassador in Beijing was speaking directly to the Chinese government.

But behind the scenes, the Chancellor maintained the “closed door” policy for Yang.

Furthermore, Ernesto has not given up on the anti-China rhetoric that has marked his administration and recently ordered his subordinates to put together critical statements made by foreign officials against the Chinese regime.

In one of the requests Folha had access to, Ernesto asks members of the diplomatic corps to send him statements from Australian and Japanese authorities against Beijing.

To get around the Itamarat’s lack of dialogue with the Chinese embassy, ​​the president took the suggestions of ministers who have formed a sort of “triple alliance” to try to save Brazil’s relations with its main trading partner. Ministers Eduardo Pazuello (Health), Tereza Cristina (Agriculture) and Fábio Faria (Communications) are part of the efforts.

Vice President General Hamilton Mourão, who chairs the China-Brazil High Level Consultation and Cooperation Commission (Cosban), was not invited. He is living in the worst moment of his relationship with Bolsonaro, who has ceased to delegate to government deputy duties.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

As não-realizações do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Em julho de 2020, em face de pedidos de demissão que se acumulavam contra o chanceler acidental, eu já fazia um balanço mais realista de sua total incapacidade para o cargo, ao contrário da listagem que ele exigia de meus colegas de carreira, de só mencionar “realizações”, de qualquer tipo, na tentativa de se manter no cargo.

Creio que meu balanço ainda é válido, a despeito de novas “realizações” negativas do patético chanceler para o Brasil e para o Itamaraty, e pelo fato de que o seu chefe mais amado, o nefando Trump, já ter sido expelido da cadeira de presidente dos EUA, país ao qual o infeliz e entreguista chanceler acidental pretende submeter os interesses do Brasil, mesmo se descontente com a sua nova administração “globalista”,

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de fevereiro de 2021


As não realizações do chanceler acidental

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de julho de 2020


Preocupado em ser defenestrado do cargo, em virtude de um ano e meio de absoluta ineficiência na gestão do Itamaraty — ao tornar o Brasil um país pária no mundo —, o chanceler acidental ordenou a todas as unidades do Itamaraty que produzissem uma lista sintética de realizações.

Segundo circulou por todas as chefias, o pedido do Gabinete foi para fazer “um balanço de um ano e meio de gestão, com a conclusão de acordos, a eleição para o CDH, a eleição do nosso candidato na OEA, os investimentos dos países do Golfo, o convite para integrar o novo G-7, as repatriações, a reestruturação do Mercosul, acordos automotivos, os acordos com os EUA em tecnologia e defesa, a redução de gastos com fechamento de Embaixadas e vagas no exterior, etc..

O pedido está sendo feito para todas as secretarias.”

A lista não deveria ser exaustiva, mas precisaria conter “só o que foi feito,  muito brevemente”, e finalizava por uma ordem clara: “O pedido é urgentíssimo.”

Pois bem, consciente de que o chanceler acidental reune muito mais não-realizações do que realizações, apresso-me em estabelecer a minha lista, que pode não ser do agrado do dito chanceler, mas tem a vantagem de ser muito mais fiel à realidade do que a sua listinha de invenções altamente exageradas. Vamos a ela:

 

1.          Uma crença míope de que o “make America Great Again” era um chamamento de Trump para “salvar o Ocidente”;

2.          Uma outra crença beata em que “o Brasil acima de tudo”, era realmente um ato desprendido de patriotismo e não um subterfúgio para colocar à família acima de todos;

3.          Uma terceira crença, mais equivocada ainda, de que foi escolhido para conduzir o “novo Itamaraty” pelos caminhos de Deus e da Virgem Maria, quando o que se esperava desse personagem dotado de uma angústia propriamente kirkegaardiana era apenas submissão absoluta a seus novos mestres e senhores escrupulosos quanto ao controle total de todos os seus atos;

4.          A ilusão ingênua de que todas aquelas noites mal dormidas, na redação febril de textos tresloucados de devoção às novas causas do bolsolavismo lunático — num blog wagnerianamente chamado de “Metapolítica 17: contra o globalismo” —, fossem realmente servir de suporte intelectual a grandes aventuras no campo do “espírito que anda”, quando — com a minha solitária exceção — ninguém ligou a mínima para aqueles textos gongóricos, sem qualquer coerência doutrinal, apenas surrealistas na expressão mais errática da palavra;

5.          A pretensão de ser admirado e aplaudido por frases duramente capturadas no latim, no grego, no alemão e no tupi-guarani, quando aquilo só foi objeto do ridículo, uma vez que a pretensão alegada era a de fazer uma “política externa para o povo”;

6.          A loucura totalmente antidiplomática de querer fundar sua ação à frente do Itamaraty — uma Casa multilateralista por excelência — numa santa cruzada contra o “globalismo”, esse monstro metafísico que parecia encarnar todos os males da modernidade progressista, quando a intenção real era a de proceder a um retrocesso em regra, na direção das pregações místicas de tradicionalistas como René Guénon e de fascistas como Julius Evola, intermediados pelo subsofista da Virgínia, que lhe deu cobertura e patrocínio desde a anunciada adesão a uma inexistente campanha de “salvamento do Ocidente” por um egocêntrico que só pensava em seu país;

7.          Uma deformação caolha dos sentimentos patrióticos de muitos brasileiros, em especial os militares,  transformado em uma defesa de um nacionalismo rastaquera, que limitou o relacionamento antigamente universalista da diplomacia brasileira a uma pequena tribo de outros populistas nacionalistas que também só pensavam limitadamente em seus próprios países, não em qualquer aliança mundial da nova direita;

8.          Uma investida estúpida contra uma inexistente “China maoísta” — superada desde quatro décadas —, seguindo uma outra estúpida concepção de que o gigante asiático queria exportar o regime comunista, não todas as manufaturas produzidas pela maior locomotiva econômica do planeta, e principal compradora de nossas maiores exportações;

9.          Uma vergonhosa diplomacia de submissão automática aos projetos eleitoreiros de Trump — no tocante ao Irã, à China, à Israel e Venezuela— , conformando grave violação de preceitos constitucionais de “independência nacional” e de “não intervenção nos assuntos internos de outros Estados”, no limite da traição aos interesses nacionais e, na prática, levando ao completo isolamento do Brasil na região e no mundo;

10.       Uma absolutamente ridícula postura “anticlimatista”, junto com o antiministro do 1/2 ambiente, que tornou o Brasil um alvo fácil de comentários jocosos nas reuniões do setor, e de desprezo depreciativo por parte da comunidade científica engajada na agenda da sustentabilidade;

11.       Zombarias ainda mais jocosas por parte de sucessores dos perpetradores alemães e de vítimas judaicas do Holocausto quando tentou “provar”, contra as mais comezinhas evidências históricas, que o Nazismo era “de esquerda”, da mesma espécie que o odiado comunismo (que como se sabe encontra-se ativo e dinâmico, materializado inclusive no “comunavirus” dos maoístas chineses);

12.       Uma revolução hierárquica e gerencial no Itamaraty, materializada no afastamento brutal de postos de chefia de experientes embaixadores, colocados sob as ordens de ministros de segunda classe , conformando aquela situação esquizofrênica que os militares chamam de “coronéis mandando em generais”;

13.       Uma outra traição ainda mais grave, escabrosa mesmo, aos princípios e normas que regem o funcionamento do Serviço Exterior, tendente a contratar para cargos de responsabilidade no Itamaraty pessoas de fora do quadro de servidores públicos admitidos por concurso, apenas para contemplar um ou outro fanático da mesma seita dos tradicionalistas, mas — o que é muito pior — totalmente identificados com o serviço a uma potência estrangeira;

14.       No plano institucional e das interações com os meios acadêmicos e instituições de pesquisa, o chanceler conseguiu realizar o abastardamento completo do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais e da própria Fundação Alexandre de Gusmão, pela interrupção de qualquer cooperação com a comunidade acadêmica, de publicações relevantes nessa área e pelos convites exclusivamente feitos a personalidades da tribo ideológica dos antiglobalistas, pessoas de perfil medíocre e sem qualquer expressão na produção de qualidade do setor.

15.           Por fim, mas não menos grave, o total descomprometimento com temas relevantes da agenda externa do país em nome da adesão a mistificações ideológicas que se revelam objetivamente prejudiciais aos interesses nacionais concretos do Brasil.

 

Estas são, resumidamente, as não-realizações do patético chanceler acidental, o diplomata mais inepto e submisso a desígnios estranhos aos interesses nacionais e aos padrões tradicionais de trabalho do Itamaraty que jamais se sentou na cadeira de Rio Branco, para vergonha da quase totalidade do corpo profissional da Casa. A maioria dos diplomatas encontra-se de fato indignada com as aberrações fabricadas em 18 meses de diplomacia esquizofrênica, apenas que intimidada pelos arroubos autoritários do pior chanceler em quase dois séculos de nossa história de serviço exterior de qualidade.

O fato é que o chanceler acidental envergonha o Itamaraty, o governo e o Brasil. Está mais do que na hora de colocar um ponto final à mediocridade operacional e à indigência intelectual de sua desastrosa gestão.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de julho de 2020

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Querida, encolheram o chanceler acidental - Br Político, El País

 Querida, encolheram o chanceler acidental: ele não vale um tostão furado para a diplomacia real. Só está ali para animar a galera de fanáticos...

Paulo Roberto de Almeida


Tereza Cristina no Itamaraty?

BR Político | 8/2/2021, 9h30

Pessoas influentes dentro do governo têm defendido o deslocamento da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para a pasta das Relações Exteriores, no lugar de Ernesto Araújo. Os apoiadores do movimento argumentam que, por causa de sua atuação na abertura de mercados externos e pela ajuda na solução de impasses internacionais, teria mais capacidade do que Araújo para conduzir a diplomacia brasileira. Além disso, não é segredo para ninguém o desgaste que o atual chanceler vem passando pelo seu mau desempenho no posto.

Se o movimento acontecer, a Agricultura poderia ser destinada a atender os pleitos do Centrão, que deseja mais espaços no primeiro escalão do governo. Nesse caso, poderia caber a própria Tereza indicar quem a substituiria na Agricultura, já que tem bastante peso com a bancada do agronegócio desde o tempo em que presidiu a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Mas não se trata de uma mudança simples. Mesmo desgastado, Araújo faz parte da chamada ala ideológica do bolsonarismo. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro reconhece a lealdade política demonstrada por ele nos dois últimos anos. Mas a pressão interna contra o chanceler hoje é bem forte.

https://brpolitico.com.br/noticias/tereza-cristina-no-itamaraty/

Desmonte do Itamaraty abre brecha para projeção internacional de governadores e prefeitos

Com o chanceler brasileiro priorizando assuntos internos, governadores, prefeitos e deputados estão virando interlocutores-chave de governos, empresas e ONGs no exterior

El País | 8/2/2021, 14h59

Quando os assessores de Anthony Blinken, secretário de Estado do presidente americano Joe Biden, começaram, recentemente, a discutir o futuro da relação entre os Estados Unidos e o Brasil, surgiu uma pergunta incomum: quem no Governo Bolsonaro seria o principal interlocutor do novo Governo americano? Em tempos normais, seria o chanceler brasileiro, é claro. Na prática, porém, Ernesto Araújo não é uma opção para gerenciar a relação bilateral. Afinal, o novo Governo americano avalia, corretamente, que o papel fundamental de Araújo não é a condução da política externa brasileira, mas, por meio da promoção de teorias conspiratórias, a mobilização permanente da base bolsonarista. Mesmo se Araújo priorizasse a gestão das relações exteriores do Brasil, seus comentários sobre o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro (segundo ele, os invasores seriam “cidadãos de bem”) e a respeito das eleições presidenciais americanas (para ele, fraudadas) já seriam suficientes para torná-lo persona non grata em Washington. O cenário em Berlim, Paris, Pequim e Buenos Aires é o mesmo: alguma comunicação oficial e um aperto de mão protocolar até podem envolver Araújo, mas a maioria dos governos já estabeleceu canais alternativos.

Não há vácuo de poder na política, e o mesmo vale para a política externa. Na ausência de um chanceler disposto ou capaz de gerir as relações do Brasil com o resto do mundo, outros políticos brasileiros tornaram-se figuras-chave nos palcos internacionais. Durante o primeiro ano do Governo Bolsonaro, enquanto Araújo cumpria seu papel de cheerleader do presidente Trump, o vice-presidente Mourão e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se empenhavam no âmbito diplomático. Em viagem a Pequim, por exemplo, os dois souberam desfazer o estrago feito pelo presidente brasileiro na relação bilateral. Coube a eles acalmar os ânimos dos chineses porque Araújo, com seu histórico de ataques verbais à China, tinha perdido credibilidade em Pequim. Para diplomatas chineses, ficou claro que, se for preciso resolver alguma questão com o Governo brasileiro, Mourão e Tereza Cristina serão interlocutores bem mais úteis do que o chanceler brasileiro. O cenário repetiu-se quando o ministro foi excluído das negociações com Pequim para a compra de vacinas contra a covid-19 e quando o governador de São Paulo, João Doria, e o então presidente do Congresso, Rodrigo Maia, tornaram-se interlocutores-chave para o Governo chinês e empresas farmacêuticas chinesas.

Nada disso é por acaso. Afinal, a marginalização do Ministério de Relações Exteriores (MRE) é um objetivo-chave da gestão atual, em uma tentativa de combater o que o bolsonarismo chama de deep state, estrutura composta por tecnocratas que supostamente sabotam as ideias do Governo. Como Eduardo Bolsonaro declarou depois da vitória de seu pai nas eleições presidenciais, o Itamaraty era “um dos ministérios onde mais está arraigada essa ideologia marxista e onde haveria uma maior repulsa ao presidente Jair Bolsonaro”. Ao permitir que outras figuras no Governo se ocupem de temas internacionais, Araújo está cumprindo sua missão de diminuir o controle do Itamaraty sobre a articulação da política externa. Mesmo no período pós-Bolsonaro, o MRE demorará para reconquistar o espaço perdido, um processo que dependerá muito da capacidade de futuros e futuras chanceleres.

A estratégia bolsonarista, porém, representa um risco político para o próprio presidente. Afinal, não são apenas ministros e familiares a preencher o vácuo que a atuação de Araújo está criando. Opositores de Bolsonaro, como o governador João Doria, também estão conseguindo se destacar no exterior com muito mais facilidade e são vistos por entidades públicas, privadas e da sociedade civil fora do país como interlocutores fundamentais para tratar de temas da relação bilateral. Em vez de chamar o chanceler brasileiro para participar de reuniões sobre o Brasil, cada vez mais, organizadores de eventos internacionais convidam governadores ou prefeitos capazes de articular uma visão mais pragmática. Na hora de avançar a pauta ambiental com o Brasil, governos estrangeiros mantêm laços fortes com governadores e prefeitos da Região Norte, cientes de que é mais fácil trabalhar com eles do que com Ernesto Araújo ou Ricardo Salles, o controverso ministro do Meio Ambiente. Governadores e até prefeitos, como Eduardo Paes, têm hoje uma interlocução comparável ou até melhor do que a do chanceler com tomadores de decisão no exterior, uma situação sem precedentes na história do Itamaraty.

Esse novo cenário da multiplicação dos atores envolvidos na política externa brasileira ―um processo descrito por especialistas como pluralização ou fragmentação― pode ajudar a mitigar, em parte, o impacto nefasto da atuação internacional bolsonarista. O protagonismo de vários governadores no contexto do combate à pandemia e a obtenção de vacinas do exterior é apenas um dos vários exemplos disso. No futuro, porém, a perda de influência do Itamaraty complicará tentativas de governos pós-Bolsonaro de articularem e implementarem um projeto coeso de política externa. Quanto mais Araújo permanecer no cargo, mais árdua será a tarefa de seus sucessores de reerguer o Itamaraty.

É claro que governos estrangeiros, como a nova administração de Joe Biden nos Estados Unidos, não podem lidar apenas com entidades subnacionais brasileiras. Resta saber, no entanto, com quem no Governo Bolsonaro o novo Governo americano, por exemplo, buscará estabelecer um diálogo produtivo. Desta vez, o vice-presidente Mourão dificilmente poderá desempenhar o papel de interlocutor racional e “adulto na sala” porque tem sido visto como isolado em Brasília. O mesmo vale para Paulo Guedes, cuja palavra já não tem tanto peso no exterior. O mais provável é que os EUA e outros países com relações delicadas com o Brasil identifiquem seus interlocutores caso a caso, seja Tereza Cristina, da Agricultura, seja Roberto Campos Neto, do Banco Central, seja Mourão.

O uso do Itamaraty para animar a base bolsonarista traz vantagens inegáveis para o presidente, e o combate contra o “globalismo” e o “comunismo” são populares nos grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro. Ao mesmo tempo, fica cada vez mais claro que o presidente também acaba entregando, de bandeja, a oportunidade ímpar aos seus adversários de se tornarem atores-chave na política externa brasileira e dar visibilidade às consequências desastrosas da estratégia internacional de seu Governo.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Itamaraty quer defender o direito à livre expressão de Trump, num foro inadequado: o G20 - Eliane Oliveira (Globo)

 Planalto elege redes sociais como novo alvo internacional e governo quer apresentar resoluções contra Big Techs


Em movimento desencadeado por banimento de Trump, Itamaraty começa a atuar em fóruns internacionais para reduzir o poder de grandes empresas de tecnologia
Eliane Oliveira

O Globo, 08/02/2021 - 03:30 / Atualizado em 08/02/2021 - 07:14

BRASÍLIA - Motivado pelo bloqueio de pessoas em plataformas da internet — como o então presidente dos EUA, Donald Trump, que no início de janeiro foi banido do Facebook e do Twitter por postagens classificadas como de incitação à violência — o governo Bolsonaro planeja começar a atuar em fóruns internacionais para reduzir a influência das grandes empresas de tecnologia sobre “o debate público, as eleições e a democracia de modo geral”, dizem fontes do Planalto.

Para isso, prepara-se para levar a fóruns internacionais, como o G-20 e a Assembleia Geral da ONU, propostas cujo fim é combater o que o chanceler Ernesto Araújo tem chamado de “tecnototalitarismo”.

O governo quer levar para o debate o argumento de que as redes sociais, embora privadas, se confundem com o espaço público. Por essa razão, devem estar sujeitas à legislação nacional e às garantias constitucionais, como a liberdade de expressão e a livre associação. O tema tem sido tratado com países como Canadá, Austrália, Coreia do Sul, Índia , Japão e México, onde o governo anunciou na semana passada que aprovará lei para regular as redes sociais.

A ideia é apresentar três propostas de resolução. Uma delas condena o banimento de Trump e de qualquer outro dirigente eleito. A segunda reconhece as redes sociais como “bens públicos” com impacto no processo político e propõe medidas para evitar que as empresas que controlam essas redes “distorçam o debate público com intervenções para calar vozes e censurar temas”.

Já a terceira proposta de resolução sugere que essas empresas se adequem a um dos dois regimes possíveis: como meio de comunicação e fórum de debates, com mínima interferência guiada pelas leis locais; ou como empresa de jornalismo, com responsabilidade por sua linha editorial e pela curadoria de conteúdo

Hungria e Terça Livre

Em debate no final de janeiro no Fórum Econômico Mundial, Araújo fez um apelo para que os países democráticos combatam o “tecnototalitarismo”. Mas não foi a primeira vez que o chanceler criticou as chamadas Big Techs. Em janeiro, no Twitter, ele disse que as redes sociais podem se tornar uma “polícia política” e sinalizou que pode haver mudanças na legislação brasileira.

Aliados do presidente Jair Bolsonaro na Europa também se movimentam, alegando, como fazia Trump, que as redes são enviesadas contra a direita. O governo do premier Viktor Orbán, na Hungria, anunciou que apresentará neste semestre um projeto para regular as Big Techs internamente. O da Polônia propôs legislação que multaria as redes por removerem postagens que não violem as leis locais. Países como Alemanha e França, por outro lado, querem combater o discurso de ódio na internet, mas cobram transparência das empresas e afirmam que esse tipo de regulação deve ser objeto de legislação pública, e não de decisão privada.

A preocupação do governo deve-se também a fatores internos. Na semana passada, o canal Terça Livre foi suspenso do YouTube, sob a acusação de violar as regras da plataforma ao veicular a falsa tese de que houve fraude na eleição americana. O secretário de Cultura, Mário Frias, determinou que a Secretaria de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual notificasse a empresa e avisou que não admite “qualquer tipo de censura”. O responsável pelo canal, o bolsonarista Allan dos Santos, é investigado nos inquéritos que apuram a disseminação de fake news e a organização de atos contra a democracia.

Para Marco Sabino, especialista em assuntos da internet e sócio da Mannrich e Vasconcelos Advogados, o banimento nunca é a melhor saída mesmo para as redes, que vivem de usuários, tráfego de informações e anunciantes. A remoção das contas é uma medida extrema, disse.

— Estamos vivendo um momento de desinformação e notícias falsas para amealhar simpatizantes, pessoas que comungam daquele pensamento. As plataformas são parte da arena pública e possibilitam que muitas vozes sejam ouvidas. As empresas têm a prerrogativa de derrubar conteúdos falsos, racistas ou que incitem a violência — disse Sabino.

Na opinião do professor e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos, a posição do governo brasileiro é triplamente equivocada: é, segundo ele, mais uma jogada de marketing do que uma ação diplomática; o G-20 não é o fórum adequado para tratar da questão; e a chance de haver qualquer medida nesse fórum sobre o tema o é zero.

— Um fórum internacional adequado seria o Conselho de Direitos Humanos da ONU, considerando que os direitos de liberdade de expressão que o chanceler brasileiro invoca nessa ação estão previstos precisamente nos tratados de direitos humanos. No entanto, o prestígio do Brasil perante o Conselho é atualmente muito baixo. O Brasil tem muito mais a explicar do que cacife para propor qualquer iniciativa para ele —disse Lemos.

Crimes e encruzilhada

Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais, lembra que o discurso de ódio e as fake news foram muito usados por Trump e seus apoiadores antes de serem bloqueados.

— Hoje nos encontramos nessa encruzilhada. As grandes empresas estão tentando pôr freios à sabotagem às instituições democráticas, como aconteceu nos EUA, ao cometimento de crimes no ambiente virtual. Mas o problema é que isso gera uma reação de um certo bloco da ultradireita. É uma reação feroz, raivosa, que traz consequências econômicas para as grandes empresas, faz as ações despencarem — afirmou.

Yasmin Curzi de Mendonça, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getúlio Vargas no Rio, disse que a suspensão das contas de Trump das redes sociais foi uma resposta tardia, mas exagerada. Outras saídas poderiam ser a limitação do engajamento e a redução da visibilidade das publicações —o que a s redes já fazem também.

Para ela, o ideal é que toda a sociedade civil e os atores envolvidos participem das discussões, tendo como base princípios éticos.

Yasmin Curzi de Mendonça, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getúlio Vargas no Rio, disse que a suspensão das contas de Trump das redes sociais foi uma resposta tardia, mas exagerada. Outras saídas poderiam ser a limitação do engajamento e a redução da visibilidade das publicações —o que a s redes já fazem também.

Para ela, o ideal é que toda a sociedade civil e os atores envolvidos participem das discussões, tendo como base princípios éticos.

https://oglobo.globo.com/mundo/planalto-elege-redes-sociais-como-novo-alvo-internacional-governo-quer-apresentar-resolucoes-contra-big-techs-24873361

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Uma declaração pública, transparente e sincera sobre o chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Uma declaração pública, transparente e sincera sobre o chanceler acidental

Paulo Roberto de Almeida

O Itamaraty NUNCA teve, em quase 200 anos de história, chanceler tão medíocre, tão despreparado, tão sabujo de potência estrangeira, tão subserviente a ignorantes e loucos quanto EA. 

Ocupa uma posição ÚNICA nessa trajetória: a dos ineptos absolutos, a dos desqualificados por definição, a dos inadequados por simples diagnóstico primário: a do equilíbrio e preparo para a função.

Só está no cargo porque os aloprados do poder queriam um submisso total, sem qualquer vontade própria ou requisitos de defesa da própria honra pessoal.

Submeteu-se à contrafação de forjar um perfil fraudulento para alçar-se a um cargo a que nunca seria convidado pela “ordem natural das coisas”.

Mentiu ao seu suposto guru, mentiu a quem lhe atraiu para o cargo, continuou mentindo ao longo de toda a sua infeliz trajetória no Itamaraty, durante a qual desonrou as tradições da Casa, diminuiu a dignidade do cargo, submeteu os interesses nacionais a um dirigente estrangeiro — tão aloprado, despreparado, megalomaníaco e destrutivo quanto os nacionais, que o adotaram como modelo e chefe virtual — e envergonhou o Brasil e todos os brasileiros em face do mundo, diminuindo o grande prestígio internacional que a diplomacia profissional tinha acumulado até então. Fez o Brasil perder o respeito dos vizinhos, alienou parceiros estratégicos por ideologias idiotas — como as teorias alucinadas sobre o globalismo — e causou perdas reais à sociedade, pela perda de oportunidades externas.

Pior que tudo: aliou-se estreitamente, servilmente, às posturas irresponsáveis do dirigente negacionista no tratamento inadequado e perverso da pandemia, no que pode ser chamado de CRIME MORAL!

Em síntese, foi o PIOR chanceler que jamais nós, os diplomatas profissionais, poderíamos sequer imaginar que um dia estaria à frente do Itamaraty.

Seu único gesto de dignidade pessoal seria renunciar. 

Não acredito que o fará. 

Teria de ser “renunciado”! 

Se, claro, existisse uma clara consciência em setores responsáveis quanto à importância do cargo para a imagem externa da nação. 

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 5/02/2021


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

A diplomacia bolsolavista já eliminou as notícias para os diplomatas; agora quer eliminar os próprios jornalistas - João Paulo Charleaux (Nexo)

O jornalista relata sua inacreditável peripécia de quase dois meses completos para tentar obter do MRE bolsonarista uma resposta simples a uma questão aparentemente complexa para o ministério: explicar o que é a tal de "nova política externa", tal como declarada pelos próprios arautos dessa nova política externa, que na verdade nunca teve uma exposição completa, abrangente, satisfatória sobre seus principais componentes, suas bases e fundamentos, sua compatibilidade com a Constituição brasileira e com normas consagradas do Direito Internacional, tais como sempre respeitadas pelo Brasil e defendidas pelo "velho" Itamaraty, segundo seus princípios e valores defendidos ao longo de décadas.

Caberia talvez recordar ao jornalista que o tal chanceler eliminou, digo SUPRIMIU, os dois boletins diários, os clippings com notícias da imprensa nacional e internacional com todas as matérias que possam interessar os diplomatas,  muitas vezes lotados em postos com dificuldades de comunicação, sem acesso pessoal ou funcional à imprensa brasileira ou estrangeira, com a seleção de informações que é absolutamente relevante para o seu trabalho de INFORMAR a seus interlocutores locais, o que se passa no Brasil, ou no mundo, em temas que possam ser relevantes para a diplomacia brasileira e para uma boa qualidade de sua representação externa. Como esperar que os diplomatas possam manter a boa qualidade de seu triplo trabalho – informação, representação, negociação – sem estarem eles mesmos bem informados. 

Estas seriam boas perguntas a serem apresentadas ao chanceler: POR QUE FORAM CORTADOS OS DOIS CLIPPINGS DIÁRIOS? EM NOME DE QUAL MELHORIA? QUANDO PRETENDE RESTABELER O SERVIÇO?

O jornalista ainda aguarda ser recebido. Siga o fio, abaixo: acompanharei os desenvolvimentos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3 de fevereiro de 2021


Como jornalista, tive incontáveis pedidos de entrevista negados ao longo da carreira. Isso é normal. Mas a última negativa é digna de nota, porque revela a essência do atual governo brasileiro. Hoje faz 50 dias que pedi uma entrevista ao . Veja só: 1/15

A proposta era simples: saber "qual o sentido da nova política externa brasileira", tal como havia sido chamada em seminário pelo presidente da @FunagBrasil , o sr. Roberto Goidanich. Se havia um conceito sobre "a nova ...", eu queria saber qual é. 2/15

A entrevista podia ser com o sr. Goidanich ou com qualquer outra autoridade do Itamaraty, incluindo o próprio chanceler @ernestofaraujo . Qualquer um que me explicasse o que é a "nova política externa brasileira", tal como anunciada. 3/15

No pedido, não impus nenhuma condição. A entrevista poderia ser por telefone ou por e-mail, na data escolhida, na forma escolhida. O resultado seria publicado no formato mais benéfico possível para a fonte: o formato pergunta-resposta. 4/15

Não havia pegadinha, armadilha, truque, nada. Eu não trabalho assim. A ideia era simplesmente dar a conhecer o que é "a nova política externa brasileira", na íntegra, sem intermediários, sem filtros, apenas com a entrevista 5/15

Meu pedido foi processado por uma assessoria que me pediu uma porção de detalhes, ao longo de uma troca de e-mails que durou 50 dias, enquanto os profissionais da comunicação pediam tempo para fazer as consultas correspondentes às autoridades superiores. 6/15

De um jeito torto, passaram a me perguntar quais seriam as minhas perguntas. Eu respondi que enviaria as perguntas literais tão logo o Itamaraty me disse se a entrevista aconteceria ou não. 7/15

Tive a impressão de que o Itamaraty estava querendo saber quais eram exatamente as perguntas, para alguém decidir se valia a pena dar a entrevista ou não. Respondi que enviaria as perguntas, se me confirmassem primeiro o interesse na entrevista e o nome do entrevistado. 8/15

Na prática, a chancelaria atual, que vive de criticar a imprensa publicamente, estava querendo escolher quais perguntas responder. Quem trabalha no meio – seja na reportagem, seja na assessoria – sabe que isso não existe. 9/15

A tratativa foi longa e, no dia 25 de janeiro, minha interlocutora disse que tinha recebido uma "sinalização positiva", mas não me revelou de quem, mas novamente me pediu as perguntas previamente. Chato, né? 10/15

Mandei um longo e-mail cercando o assunto, dando exemplo de muitas questões que eu gostaria de ver respondidas. Tudo parecia caminhar, até que quarta (27), o chanceler @ernestofaraujo  criticou a imprensa num post. Eu interagi com ele., como mostram os três prints aqui 11/15




Dias depois, recebi uma mensagem que dizia: "Tive nova atualização sobre seu pedido de entrevista. Foi-me dito que, no momento, não será possível realizar a entrevista solicitada por razões de agenda". 12/15

Acontece. O chanceler é ocupado. Respondi, então: "Obrigado. Considerando que a atual gestão vai até 1º de dezembro de 2023, caso não haja reeleição, gostaria de saber se não há nenhuma data possível nos próximos dois anos de agenda". E nunca mais tive resposta. 13/15

É duro ver o chanceler diariamente atacar a imprensa em público, enquanto nega nos bastidores qualquer contato que não seja propagandístico a seu respeito e a respeito de sua gestão à frente do Itamaraty. 14/15

Nunca tratei de bastidores do trabalho em público,. Normalmente não vem ao caso. É do jogo. Mas achei esse episódio ilustrativo demais para permanecer desconhecido. Tudo o que menciono aqui é público, nada em off. Não há nenhuma violação à privacidade de ninguém. 15/15

Após ter lido esta thread, o embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Comunicação e Cultura do , me telefonou para dizer que o chanceler dará a entrevista. O secretário foi avisado de que eu publicaria este post, e assentiu.