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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Um poeta desafia o chanceler acidental em irônicas coplas - Guilherme Casarões

Poesia numa hora dessas?


Guilherme Casarões, colega acadêmico especialista em política externa e diplomacia brasileira, teve sua veia poética tomada por um desafio inesperado: o fato de o patético chanceler acidental ter declarado, num infeliz Dia dos Diplomatas (para os alunos do Instituto Rio Branco, cujo patrono, o verdadeiro poeta João Cabral de Mello Neto, foi acusado de ser comunista pelo autor fracassado de romances distópicos que ninguém leu), que era diplomata e poeta, ou poeta e diplomata (não importa agora).

Casarões resolveu responder com suas trovas desafiadoras, que reproduzo abaixo, a partir de seu Twitter.

Acho que vamos ter vários repentistas, que se desempenharão ao melhor de suas capacidades, só para responder ao péssimo poeta parnasiano que se tornou chanceler acidental. Se ele tivesse ficado só na literatura, teria causado menos desastres para o Brasil. Para a literatura não sei, mas para o Itamaraty certamente... 

Um poeta fracassado, mas não só nas invectivas contra os diplomatas e a diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida

 

Guilherme Casarões

@GCasaroes

 

Quer dizer que @ernestofaraujo é poeta? 

Pois bem. Então também sou. 

Aproveitei e fiz uma poesia em sua homenagem:

 


 

Das profundezas da nobre burocracia 

Por amor ao mito, saí em campanha 

Lancei até um blog, coisa tacanha 

Na língua tupi, rezei Ave-Maria

 

Meu inimigo sempre foi o globalismo 

Conspiração denunciada pelo professor 

A globalização corrompida pelo marxismo 

Combate-se com coragem, fé e amor

 

Fui escolhido pela minha lealdade 

Mas também por um artigo estridente 

Em que defendo que a salvação do Ocidente 

Virá de Trump, paladino da verdade

 

No Itamaraty, a revolução é de direita 

Nações unidas pela soberania do Deus vivo 

Velhos valores, ou o diplomata aceita 

Ou baterá carimbo em Antananarivo

 

O lema agora é João oito trinta-e-dois 

Acabou, colegas, o projeto totalitário! 

Esquerdopatas, favor voltar pro armário 

Oikofobia, aqui não, nós somos bois

 

Novo Brasil, nosso papo é com Hungria 

Polônia, Índia, Israel, só fina gente 

Pela liberdade, minimizei a pandemia 

Pra quê ciência, se por aqui nem está quente?

 

Tradição da diplomacia, desapareça! 

Até chamei de comunista o Melo Neto 

Xinguei Ricupero, Amorim, quem mais mereça 

Pois se venderam a tão nefasto projeto

 

“Especialistas” me chamam de desvairado 

Não tenho culpa, analfabetos funcionais 

Sou deusplomata e com meu chefe Eduardo 

Seremos sempre párias internacionais

 

Mas, no fim das contas, pouco importa 

Se Trump vence, o Brasil será gigante 

Politicamente correto já virou letra-morta 

Em nosso reino da direita ruminante

 

E se perder? Tal hipótese não existe 

Nosso analista já previu: Biden já era 

Para não virar rodapé, a gente resiste 

Se a contagem demorar, a gente espera

 


O chanceler está nu - Jamil Chade (UOL)

 O grau de anomalias presentes na Casa de Rio Branco desde a posse dos aloprados no governo e de um desequilibrado na chancelaria arrastou o Itamaraty para o fundo do poço em matéria de desprestígio internacional. Pode ser que o chanceler acidental escape de uma justa punição pelo trabalho de destruição que conduziu no Itamaraty ao longo de 22 meses, mas não escapará de um registro histórico de "indiciamento político", pelo nefando afundamento da sua instituição, e certamente não de meu julgamento analítico extremamente rigoroso. 

Paulo Roberto de Almeida

Jamil Chade

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/

O chanceler está nu

UOL notícias, 23/10/2020

Ernesto Araújo não esconde mais o óbvio. Somos um país pária. Em seu discurso na formatura dos novos diplomatas brasileiros nesta semana, o chanceler usou manobras de retórica e meias verdades para confirmar nosso status internacional.

"É bom ser pária", declarou.

A frase me lembrou de um encontro entre Steve Bannon e a extrema-direita francesa em 2018. "Se lhes chamarem de racistas, usem a acusação como uma medalha", disse o americano ao grupo que tem o ódio como instrumento de política.

Desde ontem, somos oficialmente um país pária. Mas pária com orgulho. Com medalha. Araújo sabe do que fala. Há um objetivo e um método. No palco internacional, as posições adotadas pelo governo o afastaram de tradicionais parceiros e romperam consensos internacionais sobre temas que, por décadas, tinham se estabelecido como base.

Mas era isso que o governo queria: romper pilares para, então, construir um novo mundo, com base em valores ultraconservadores.

Enquanto Araújo discursava no Itamaraty, o Brasil assinava com o governo americano um pacto exatamente no sentido de consolidar uma postura internacional com fortes características ideológicas.

Mas o projeto mostrou o tamanho do isolamento. Apesar de uma forte campanha para atrair outros governos para a aliança, o Brasil foi o único sul-americano a embarcar na cruzada ultraconservadora. Na América Latina, o Haiti - completamente dependente da ajuda de Washington - foi o outro que colocou seu nome na lista.

A aliança conta com sauditas, paquistaneses, líbios, iraquianos e outros governos com fortes acusações de violações de direitos humanos e onde a liberdade é apenas um sonho para milhões de mulheres. Dos 194 países da ONU, apenas 32 aderiram ao "consenso".

No resto do mundo, praticamente os demais aliados democráticos dos EUA se recusaram a se aliar ao projeto. Restaram apenas os governos da Hungria e Polônia, ambos duramente questionados por desmontar pilares da democracia em seus países.

Na América do Sul, a situação tampouco é de liderança. A ingerência na eleição argentina, as trapalhadas na Bolívia, a utilização do território nacional para promover os interesses americanos e a perda de espaço no debate ambiental para Ivan Duque, na Colômbia, são apenas peças de um caleidoscópio.

Na Europa, a imagem é de um país que não respeita seus engajamentos internacionais e que, de forma descarada, mente. O acordo comercial com a UE que Araújo citou em seu discurso dificilmente será aprovado pelos parlamentos nacionais, enquanto uma opinião pública hostil a tudo que vier de Bolsonaro cobrará um preço caro de seus representantes que ousem chancelar o governo.

Na OCDE, a avaliação é de um país que mina o combate à corrupção. Na ONU, pela primeira em sua era democrática, o Brasil foi alvo de uma recomendação de um relator para que um inquérito internacional seja aberto contra o país. Na OIT, denúncias se acumulam. Nos fundos soberanos, pressões são cada vez mais nítidas para que o Brasil seja evitado.

Com a China, Araújo sabe que pode elevar o tom contra Pequim. Mas uma coisa é fazer isso ao lado da maior potência nuclear do mundo. Outra é ser pária sem o apoio da Casa Branca. E, se o cenário político americano mudar nas próximas semanas, dúvidas pairam nos corredores do Itamaraty se o chanceler terá a capacidade de se reinventar.

Não por acaso, o chefe da diplomacia entrega elementos centrais do interesse nacional brasileiro, cede em tarifas e abre mão de reivindicações do setor produtivo para tentar ajudar Donald Trump ser reeleito. O que está em jogo é sua sobrevivência.

Ontem mesmo, nem bem terminado o discurso em Brasília, já surgiram comentários ácidos de que ele poderia mergulhar na carreira de poeta como opção. Afinal, em sua intervenção, ele declarou: "Modestamente, considero-me também as duas coisas, diplomata e poeta".

De fato, o status de pária de Araújo também começa a ganhar força dentro dos muros do palácio do Itamaraty.

Por meses, não foram poucos os diplomatas que buscaram postos irrelevantes no exterior que os fizessem "desaparecer" do radar do gabinete do ministro. A ideia é de aguardar o fim desse pesadelo para, então, retornar à busca de uma carreira. Já outros optaram por "black label". A bebida...

Ex-chanceleres de diferentes partidos e visões de mundo se aliaram para pensar o futuro e ampla rede de contatos foi montada para salvar, nos bastidores, a credibilidade do futuro do país.

Mas um dos maiores atos de resistência foi feito por jovens diplomatas nesta semana. Ao escolher batizar a turma de João Cabral de Melo Neto, mandaram um recado de que a visão de mundo que impera hoje na chancelaria não será a que os guiará.

"Esta nova turma, quero crer, já nasce com os olhos abertos", disse Araújo. Sim, e o que enxergam é um chanceler nu, dentro e fora do palácio. E não foi nem por zoom.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Dia do Diplomata (atrasado) no Itamaraty: política externa sem ideologia? Ainda não, orgulho de ser pária

O discurso do chanceler acidental no Dia do Diplomata confirmou muito do que já sabíamos: a política externa sem ideologia, prometida pelo candidato a presidente, só tem ideologia, e com furor, e o chanceler acidental exibe até certo orgulho pelo fato de o Brasil ter de ficar sozinho no mundo.

Paulo Roberto de Almeida

Se atuação do Brasil nos faz um pária internacional, que sejamos esse pária, diz Ernesto

Durante pandemia, chanceler abre Itamaraty para evento com centenas de pessoas e ataca 'covidismo'

Ricardo Della Colletta
Folha de S. Paulo, 22/10/2020

Em uma defesa da atuação do governo Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo disse nesta quinta (22) que, se a nova política externa do Brasil “faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

As declarações de Ernesto, que comanda o Itamaraty desde o início do mandato de Bolsonaro, ocorreram durante a cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, a escola de formação de diplomatas.

A fala foi marcada por queixas contra o multilateralismo e o que ele chamou de "covidismo", além de críticas a um marxismo sem Deus e ao globalismo —slogan político usado por movimentos populistas de direita para denunciar, entre outros temas, a suposta perda de identidade nacional.

“Nos discursos de abertura da Assembleia Geral da ONU, por exemplo, os presidentes Bolsonaro e [Donald] Trump [dos EUA] foram praticamente os únicos a falar em liberdade. Naquela organização que foi fundada no princípio da liberdade, mas que a esqueceu”, disse Ernesto, em uma fala de 40 minutos.

“Sim, o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária.” A política externa conduzida por Ernesto —marcada por um alinhamento estreito com o governo Trump, a antagonização com a China e a defesa de pautas conservadoras em fóruns multilaterais— é criticada por analistas e até mesmo por embaixadores aposentados.

Um dos principais argumentos levantados por críticos é o de que posturas radicais adotadas pela diplomacia brasileira podem deixar o país em situação de isolamento. “Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, do lado de fora, do que ser um conviva no banquete do cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e dos semicorruptos”, acrescentou Ernesto.

“É bom ser pária. Esse pária aqui, esse Brasil; essa política do povo brasileiro, essa política externa Severina —digamos assim— tem conseguido resultados”, emendou, listando entendimentos comerciais com União Europeia e EUA e a aproximação com países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Ainda que o chanceler tenha capitalizado o acordo comercial assinado entre Mercosul e a União Europeia, a ratificação do trato enfrenta resistência em diferentes países europeus, principalmente devido à política ambiental do governo Bolsonaro.

Ernesto fez ainda referência à obra-prima do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto (1920-1999), escolhido pelos formandos como homenageado da turma. Ao lembrar de uma trabalhadora doméstica que sua família empregou nos anos 1980, o chanceler fez alusão ao personagem do livro "Morte e Vida Severina", lembrado como símbolo do brasileiro mais pobre e sofrido. Segundo o ministro, essa trabalhadora, chamada Severina, “odiava o comunismo”, porque eles “são contra Deus”.

Se Ernesto fez elogios à obra de João Cabral, não poupou críticas ao próprio autor, por, segundo ele, ter se dirigido “para o lado errado, para o lado do marxismo e da esquerda”.

“Sua utopia, esse comunismo brasileiro de que alguns ainda estão falando até hoje, constituía em substituir esse Brasil sofrido pobre e problemático [retratado na obra de João Cabral] por um não Brasil. Um Brasil sem patriotismo, sujeito naquela época aos desígnios de Moscou, e hoje, nesse novo conceito de comunismo brasileiro, sujeito aos desígnios sabe-se lá de quem”, afirmou o chanceler.

Esse tipo de acusação não é nova na história de João Cabral. Em 1952, o poeta, então servindo em Londres, foi acusado de liderar uma célula comunista dentro do Itamaraty. Após uma campanha na imprensa, ele foi afastado da chancelaria sem receber vencimentos. Só seria reintegrado em 1955, após ser absolvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no ano anterior.

A formatura de alunos do Rio Branco conta todo ano com a presença do presidente e dos principais ministros do governo. A realização da edição deste ano em plena pandemia da Covid-19, no entanto, gerou polêmica, uma vez que participaram da solenidade dentro do Palácio do Itamaraty centenas de pessoas, entre diplomatas, autoridades, familiares e homenageados. Muitos não usavam máscaras.

O Sinditamaraty (Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério de Relações Exteriores) publicou nota em que “manifesta preocupação com a organização de um evento presencial de grande porte, uma vez que os casos e as mortes por infecção da Covid-19 ainda não estão controlados no Brasil”.

Num discurso em que se queixou por ser tratado como "ideológico", Ernesto também acusou a esquerda de reduzir tudo a “conceitos como gênero e raça” e de querer promover “a ditadura do politicamente correto e da criação de órgãos de controle da verdade”.

“Todo isentão é escravo de algum marxista defunto”, disse. "Tratar os conservadores de ideológicos é o epítome da prática marxista-leninista: chame-os do que você é, acuse-os do que você faz”.

Para o chanceler, movimentos marxistas de esquerda têm a “utopia de um Brasil sem Deus”, de um povo “arrancado aos braços da sua fé cristã”, citando como exemplo protestos sociais no Chile em que manifestantes colocaram fogo em igrejas. Em outra denúncia do que chama de “estratégia marxista”, Ernesto disse que esse movimento toma preocupações legítimas em temas como o meio ambiente e mudanças climáticas e as transforma em "ismos" —no caso, ambientalismo e climatismo.

Fez alusão semelhante à Covid-19, usando o termo "covidismo". “Tomam uma doença causada por um vírus, a Covid, e tentam transformá-la num gigantesco aparato prescritivo, destinado a reformatar e a controlar todas as relações sociais e econômicas do planeta, o covidismo”.

A Covid-19 soma até o momento mais de 5,2 milhões de infectados no Brasil e 155,4 mil mortos.

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‘Se falar em liberdade nos faz um pária internacional, que sejamos um pária’, diz Ernesto Araújo

Ministro das Relações Exteriores defendeu a orientação do "novo Itamaraty" e afirmou que a diplomacia brasileira estava vivendo conceitos ultrapassados

Por Rafael Bitencourt e Matheus Schuch, Valor — Brasília
22/10/2020 13h32  Atualizado há 2 horas

Em formatura de diplomatas no Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que a diplomacia brasileira, representada pela pasta, ficou muito tempo presa “dentro de si mesma, vivendo conceitos ultrapassados, cantando glórias passadas, lustrando troféus antigos e esquecendo de jogar o campeonato deste ano”.

Para ele, o Itamaraty, antes de sua chegada, cultivava conceitos “ultrapassados e superficiais, satisfeito com a própria fala”.

No discurso, o chanceler voltou a dizer que o país, antes do atual governo, flertava com o “marxismo” e o “globalismo”, como forma de explorar ainda mais os trabalhadores, se valendo de instrumentos para “corromper e estraçalhar a fé”, sem considerar as reais necessidades da sociedade.

Araújo lembrou que, na última Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), somente o presidente americano Donald Trump e Jair Bolsonaro falaram em liberdade. “O Brasil fala em liberdade através do mundo, se isso nos faz ser um pária internacional, então que sejamos um pária”, afirmou.

O ministro ressaltou que considera guardar semelhanças com o homenageado na solenidade, o poeta e ex-diplomata João Cabral de Melo Neto. “Modestamente também me considero poeta e diplomata”, comentou.

Para Araújo, a diplomacia, assim como a poesia, serve à busca da liberdade. “A diplomacia pode ajudar a libertar o pensamento, libertar a língua, libertar a grande nação brasileira e o próprio mundo da pobreza material e espiritual”, disse o chanceler.

“A diplomacia pode ser lírica, dramática e pode ser épica, pode ter bandeira e pátria. A diplomacia pode pensar, pode falar. Para mim, isso foi uma descoberta transformada e quero compartilhar com vocês”, completou Araújo, ao dirigir a palavra aos formandos, que, segundo ele, chegam a um “Itamaraty que se renova".

Por fim, o ministro das Relações Exteriores rejeitou a referência a ele atribuída de ser uma autoridade do governo que integra a ala ideológica. “Aqueles que nos acusam de ideológicos são aqueles que idealizam toda a vida para concentrar poderes”, afirmou. Para ele, a mídia faz parte de um “esquema” que distorce conceitos.

Como resultado do “novo Itamaraty”, Araújo destacou ter concluído acordos comerciais com as maiores economias do mundo, europeia e americana, restaurado as relações com países de alta tecnologia, como Israel e Japão, feito parcerias com países onde estão grandes centros de capital, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, entres outras medidas no campo das relações internacionais.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/10/22/se-falar-em-liberdade-nos-faz-um-paria-internacional-que-sejamos-um-paria-diz-ernesto-araujo.ghtml

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Chanceler de Bolsonaro critica João Cabral de Melo Neto, patrono da turma, em formatura no Itamaraty

Ernesto Araújo afirmou que escritor e diplomata, perseguido na ditadura Vargas e depois reabilitado, foi parar 'do lado errado do marxismo e da esquerda'

Victor Farias

O Globo, 22/10/2020 - 14:19 / Atualizado em 22/10/2020 - 15:46

BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quinta-feira que o Itamaraty ficou "muito tempo dentro de si mesmo, cantando glórias passadas, lustrando troféus antigos e esquecendo-se de jogar o campeonato deste ano". Segundo ele, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, isso mudou. A declaração foi dada durante formatura do Instituto Rio Branco.

— Em seu discurso da noite da vitória, quase exatamente dois anos atrás, em 28 de outubro de 2018, o presidente Jair Bolsonaro, então recém-eleito, proclamava: vamos liberar o Itamaraty, e era disso que nós precisávamos, presidente: libertação. Precisamos de libertação, libertação para que despertemos e voltemos a enxergar o Brasil e o mundo — disse.

Em um longo discurso de mais de 30 minutos, Araújo fez críticas ao globalismo, ao comunismo, aos "isentões" e ao "estranho hipermoralismo da atualidade". Ele afirmou que, durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump, foram "praticamente os únicos" a falarem em liberdade. E disse que, se falar de liberdade faz do Brasil um "pária", "que sejamos esse pária".

— Naquela organização que teria sido, que foi fundada no princípio da liberdade, mas que a esqueceu. Sim, o Brasil hoje fala de liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária, que sejamos esse severino que sonha e essa severina que reza  — disse, citando "Morte e Vida Severina", obra de João Cabral de Melo Neto, escolhido como patrono da turma. — Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, deixado de fora, do que ser um conviva no banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos.

Ao comentar a escolha do escritor e diplomata João Cabral de Melo Neto como patrono da turma, o chanceler afirmou que o escritor tinha uma "grande sensibilidade para o sofrimento do povo brasileiro", mas disse que ele, talvez, tenha ido para o "lado errado do marxismo e da esquerda".

— Sua utopia, esse comunismo brasileiro de que alguns ainda estão falando até hoje, consistia em substituir esse Brasil sofrido, pobre e problemático por um não-Brasil, um Brasil sem patriotismo, sujeito naquela época, anos 50, 60, aos desígnios de Moscou, e hoje, nesse novo conceito de comunismo brasileiro, sujeito ao desígnios sabe-se lá de quem — afirmou.

Durante a ditadura de Getúlio Vargas, o escritor, que era diplomata, foi acusado de comunista, e o Itamaraty o colocou em disponibilidade inativa, sem remuneração. Ele, no entanto, foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e reintegrado ao Itamaraty, em 1955.

O chanceler disse, ainda, que "todo isentão é escravo de algum marxista defunto" e que "pessoas com baixa capacidade intelectual descobriram que podem parecer inteligentes chamando de ideológico tudo aquilo que não compreendem".

— Tachar os conservadores de ideológicos é a epítome da prática marxista-leninlista: chame-os do que você é, acuse-os do que você faz. O grande complexo marxista-isentista cria ideologias todos os dias, ou seja, agarra pedaços da realidade sempre complexa e cambiante e os transforma em sistemas de locuções fechados, que nao admitem questionamentos — disse, acrescentando: — Assim, tomam o meio ambiente e as preocupações legítimas com esse tema e o transformam em ambientalismo, tomam a mudança climática e a transformam em climatismo, tomam a ciência e a transformam em cientificismo, tomam a iluminação e a transformam em iluminismo.

https://oglobo.globo.com/mundo/chanceler-de-bolsonaro-critica-joao-cabral-de-melo-neto-patrono-da-turma-em-formatura-no-itamaraty-24706541


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Senador Telmário Mota envia ofício ao PR sobre o chanceler acidental e o chanceler do império

 Ofício do Senador Telmário Mota, de Roraima, a respeito da “visita” do Secretário de Estado dos Estados Unidos a Boa Vista.


GSTMOTA/Oficio no 84/2020 

Brasília, 16 de setembro de 2020

Excelentíssimo Presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO

Senhor Presidente,

Ao tempo em que saúdo Vossa Excelência, venho novamente a sua presença para expressar o meu profundo descontentamento com a maneira desrespeitosa e irresponsável como o Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo trata os interesses brasileiros e de Roraima nas nossas relações com a Venezuela.

Peço que Vossa Excelência considere esta manifestação no contexto e com os propósitos que inspiraram o Ofício GSTMOTA/Oficio no 80/2020, no qual expus aspectos relevantes da longa história das relações diplomáticas do Brasil com a Venezuela, país irmão com o qual mantemos seculares e pacíficas relações econômicas, sociais e culturais.

Na ocasião, por dever de lealdade, alertei Vossa Excelência para as consequências dos atos totalmente estranhos à tradição da diplomacia brasileira praticados pelo atual Chanceler:

“Diante desse quadro, Senhor Presidente, são preocupantes as crescentes hostilidades da parte do Chanceler Ernesto Araújo para com o governo da Venezuela. O quadro atual, que já é desfavorável aos negócios, será agravado absurda e desnecessariamente com a escalada de medidas provocativas, irresponsáveis e contrárias ao interesse nacional de parte do Chanceler: (i) participação no grotesco espetáculo de ingresso forçado de “ajuda humanitária”, (ii) esvaziamento da nossa representação diplomática pela retirada de diplomatas brasileiros com o objetivo evidente de forçar, pela via da reciprocidade, a consequente esterilização da representação diplomática designada pelo atual governo venezuelano no Brasil, (iii) expulsão dos representantes diplomáticos venezuelanos em plena pandemia do Coronavírus (impedida pela ação republicana e constitucional do Procurador Geral da República e do Supremo Tribunal Federal) e, agora, (iv) em conclusão do processo de traição ao interesse nacional por parte do Chanceler, o Itamaraty declara “persona non grata” os representantes do governo da Venezuela, o que equivale a retirar-lhes as imunidades diplomáticas e, como efeito prático, conseguir por vias oblíquas o que o Supremo Tribunal Federal lhe impediu de fazer.”

Na citada correspondência, comuniquei a Vossa Excelência as medidas que por patriotismo e sentido de dever republicano decidi adotar:

“Diante disso, Senhor Presidente, e tendo a minha paciência e esperança se esgotado, é meu dever de lealdade com Vossa Excelência e movido com o espírito de colaboração com o seu trabalho dar conhecimento das medidas que tomarei a respeito dos crimes do senhor Ernesto Araújo contra a Nação:

(i) utilizarei as minhas prerrogativas parlamentares para que a ação fiscalizatória do Senado Federal e do Congresso Nacional sejam acionadas imediatamente;

(ii) divulgarei amplamente os seus crimes interna e internacionalmente;

(iii) ingressarei com Representação junto ao Procurador Geral da República para que ofereça

de denúncia contra o Ministro por crime de responsabilidade junto ao Supremo Tribunal Federal, com fundamento na Constituição Federal, arts. 102, I, c, e 129, I, e na Lei no 1.079/50.

(iv) em razão de não estar pacificado no STF o entendimento a respeito da vigência do art. 14 da Lei no 1.079/50 (legitimação universal) no caso de impeachment de Ministro de Estado por crime de responsabilidade não conexo ao praticado pelo Presidente ou o Vice-Presidente da República (art. 52, I, CF), ingressarei com Petição no Supremo Tribunal Federal por crime de responsabilidade contra o Ministro com fundamento arts. 102, I, c, e na Lei no 1.079/50.

(v) uma vez que apenas extremismo ideológico e irracionalidade gratuita não explicam suficientemente a obsessão do Chanceler contra a paz com a Venezuela, ingressarei de Representação Geral da República para que determine investigação a respeito da movimentação financeira, em nível internacional, do Ministro.”

Senhor Presidente, imaginava que aquela manifestação, dado à gravidade dos fatos nela reportados, refrearia a escalada de provocações do Chanceler em relação à Venezuela. No entanto, para a nossa surpresa e profunda indignação o Chanceler promove o ato mais hostil que se poderia promover contra o governo e o povo venezuelanos e para isso usa de maneira vil e covarde o sagrado solo roraimense, onde os meus antepassados lutaram com armas em defesa do território nacional.

A invasão do solo da minha Roraima pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, o ex-Diretor da CIA Mike Pompeo, ciceroneado pelo Chanceler Ernesto Araújo, para promover atos de provocação contra um país vizinho e amigo é um ato indigno, hostil, desnecessário, sem qualquer vínculo com o interesse nacional. Trata-se de mais um ato midiático voltado a promover os interesses eleitorais do Partido Republicano às vésperas das eleições naquele país. Roraima, a minha Roraima, transformada em palanque eleitoral do senhor Donald Trump é algo que eu, sinceramente, jamais imaginava que veria, não posso aceitar e não aceitarei passivamente.

O senhor é oriundo das Forças Armadas. É meu dever lembrar a Vossa Excelência um gesto de um ex-Presidente, também militar, o general Ernesto Geisel. O Brasil, em ato soberano de administração dos nossos interesses nas relações internacionais, foi o primeiro país do mundo ocidental a reconhecer a República de Angola, recém saída de uma guerra de libertação nacional e com um governo socialista. O Presidente Geisel não admitiu que o Secretário de Estado estadunidense Henry Kissinger, que veio ao Brasil em abril de 1975, ousasse tratar do assunto no solo pátrio. Na época, o Itamaraty estava sob o comando do Chanceler Azeredo da Silveira.

Permita-me lembrar a Vossa Excelência também as declarações do General Villas-Bôas na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, quando ocupava o Comando do Exército, no sentido de que o Brasil é grande demais para não ter um projeto nacional. OBrasil não pode ser apêndice de nenhuma potência, porque o Brasil é ele próprio um grande país. Ao Brasil interessa mais que a nenhum outro país que a América do Sul viva em paz. A Roraima interessa a paz nas nossas fronteiras. Atos gratuitos de hostilidade para com os governos dos países vizinhos não consultam o interesse nacional. A quem interessa tensões nas nossas fronteiras?

Eu somente continha a minha indignação diante da presença do senhor Ernesto Araújo à frente do Itamaraty em respeito a Vossa Excelência. Todavia, quando assisti a uma entrevista do cidadão Olavo de Carvalho à BBC (https://www.youtube.com/watch?v=HZwWcy4UTDU), na qual ele se apresenta como responsável político pela nomeação do senhor Ernesto Araújo, eu passei a considerar que devo lutar para livrar Vossa Excelência de semelhante má companhia. Esse Olavo de Carvalho está auto-exilado nos EUA (do que vive?), de onde quer fazer parecer que governa o Brasil, ofendendo brasileiros, dizendo impropérios e palavrões contra altos dignatários da República, inclusive honrados generais do Exército brasileiro. Não estranha que seja o líder espiritual do senhor Ernesto Araújo.

Senhor Presidente, lutarei todos os dias para que o senhor Ernesto Araújo desocupe a sagrada cadeira honrada por grandes brasileiros que comandaram a Casa de Rio Branco. 

Somente quem não conheça a minha história e a dos meus antepassados possa imaginar esta correspondência a Vossa Excelência e as medidas que dela se seguirão sejam desproporcionais à força deste humilde senador, um Davi diante do Golias da internacional de extrema direita que capturou a Casa de Rio Branco em prejuízo do interesse nacional, da economia e da paz em Roraima e na América do Sul.

Venho de longe. Recebo dos meus antepassados o legado de compromisso de vida e de morte com o povo roraimense e brasileiro. O meu bisavô, Coronel Mota, educador e Juiz de Paz, foi o primeiro prefeito de Boa Vista. O seu primeiro filho, o tio Vítor, morreu lutando pelo território nacional contra os ingleses. Junto a ele estava o meu avô, Pedro Rodrigues, o último comandante do Forte São Joaquim do Rio Branco.

Nasci numa comunidade indígena. Aprendi com a minha mãe, Ana, índia Macuxi, e com o meu pai, o vaqueiro Tuxaua Pereira, a amar as pessoas e a ter coragem na vida. Os meus antepassados arriscaram tudo para defender o povo de Roraima e o interesse nacional e um deles, o tio Vítor, perdeu a vida pela nobre causa da Pátria.

Eu honrarei os meus antepassados lutando contra a dominação colonialista do território brasileiro, manchado de vergonha pela presença boçal do Secretário de Estado dos EUA com as bênçãos genuflexas do mais indigno ocupante da chancelaria brasileira em toda a nossa história.

Receba Vossa Excelência os meus sinceros votos de respeito, elevada estima e distinta consideração, e continue contando com o meu apoio no Congresso Nacional para as medidas que consultem o interesse nacional.

Atenciosamente,

Senador TELMÁRIO MOTA PROS/RR

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Cresce no Itamaraty repúdio à diplomacia familiar de submissão aos EUA - Raphael Veleda (Metrópoles)

Diversos pequenos equívocos nesta matéria: Ricupero nunca foi alinhado com políticos de direita, e sim sempre demonstrou sua adesão aos princípios básicos da social democracia. Eu nunca perdi UM cargo de diretor, apenas fui exonerado da direção do IPRI por ter publicado neste meu blog dois textos de Ricupero e FHC, respectivamente, junto com um medíocre artigo do chanceler acidental, que criticava acerbamente os dois primeiros. Ele não deve ter gostado da comparação.

Finalmente, eu não passei a criticar essa diplomacia canhestra DEPOIS que fui exonerado do cargo. Comecei a criticar lá atrás, ainda antes do governo começar, pois detectei justamente a deformação das grandes linhas da política externa brasileira por um bando de amadores ignorantes. E não apenas em relação a este governo: critiquei muito a política externa dos companheiros – aliados das mais execráveis ditaduras de esquerda, ao passo que este governo só se alia a ditaduras de direita –, como também havia me manifestado na era tucana, e fui punido por eles. Sou independente a todos eles...

Paulo Roberto de Almeida

Cresce no Itamaraty repúdio à diplomacia familiar de submissão aos EUA

Diplomatas aposentados e da ativa fazem críticas cada vez mais abertas a Ernesto Araújo por sua postura diante do presidente Donald Trump

RAPHAEL VELEDA

Jornal Metrópoles, 10/09/2020 4:45

https://www.metropoles.com/brasil/cresce-no-itamaraty-repudio-a-diplomacia-familiar-de-submissao-aos-eua


Aaproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro, está intensificando a oposição dentro do Itamaraty ao chanceler Ernesto Araújo e sua política exterior, considerada por seus críticos subserviente ao presidente norte-americano, Donald Trump. Críticas que eram feitas nos corredores (quando eles eram ocupados) têm sido feitas mais publicamente e não apenas por diplomatas que já deixaram a ativa, como o ex-embaixador nos EUA e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, o mais ruidoso deles.

Mais alinhado com políticos de direita, Ricupero tem se unido a antigos adversários, como o ex-chanceler petista Celso Amorim, para denunciar o que considera o desmonte da política externa brasileira e da imagem do Brasil no exterior. Esta semana, os dois se uniram em um encontro virtual para lançar o Programa Renascença, dedicado a pensar uma diplomacia pós-Bolsonaro.

Ainda na ativa, o embaixador Paulo Roberto de Almeida não guarda suas opiniões sobre o governo e o MRE após ter perdido um cargo de diretor em março do ano passado, logo após publicar em seu site artigos com críticas à postura do chanceler.

“Temos hoje uma diplomacia familiar e de baixíssima qualidade”, ataca ele, em conversa com o Metrópoles. “É uma política externa caracterizada sobretudo pela ignorância, pela inépcia de pessoas amadoras que não têm nenhuma experiência de política internacional, mas se aventuram a ditar ordens para a diplomacia brasileira. Essa submissão, na linguagem dos militares, se chamava traição à pátria.”

Por causa dessa postura, Almeida diz que é perseguido por Araújo com um procedimento que pede sua demissão, teve os salários reduzidos e está encostado no arquivo do ministério, onde não tem tarefas.



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Condutas dos servidores na campanha eleitoral: ironias do Itamaraty bolsolavista - chanceler acidental; Paulo Roberto de Almeida

Conduta dos servidores na campanha eleitoral: ironias do Itamaraty bolsolavista

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoesclarecimento públicofinalidaderessaltar a contradição]

 

O boletim diário do Itamaraty, instrumento básico de informação dos diplomatas, ao lado do Boletim de Serviço – que publica os atos oficiais de movimentação de pessoal e medidas correlatas –, que deveria ser complementado pelos clippings diários de notícias nacionais e internacionais – perversamente suprimidos pela atual gestão, provavelmente porque a “grande mídia” trazia muita matéria contrária à política externa bolsolavista –, publicou a seguinte nota nesta quarta-feira, 9/09/2020:

 

"Eleições Municipais 2020 – Orientações sobre condutas vedadas aos Agentes Públicos Federais em eleições | Última atualização - 31/08/2020 às 09:51

Com o objetivo de orientar a ação dos agentes públicos, a Plataforma +Brasil disponibiliza cartilha com informações básicas acerca dos direitos políticos e das normas éticas e legais que devem nortear a atuação dos agentes públicos federais no ano das eleições municipais de 2020 http://plataformamaisbrasil.gov.br/ajuda/manuais-e-cartilhas/condutas-vedadas-aos-agentes-publicos-federais-em-eleicoes-2020.

Além disso, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República também publicou normas sobre veiculação de publicidade governamental no período de eleições municipais, disponíveis no endereço http://www.secom.gov.br/eleicoes-municipais-2020-orientacoes-ao-sicom."

 

Existe aqui uma suprema ironia para quem conhece a história do chanceler acidental. Essa mesma Cartilha, distribuída a todos os “agentes públicos federais” a cada eleição, já estava em vigor nas eleições presidenciais de 2018, da qual o então ministro de primeira classe recém promovido pela administração Temer-Aloysio Nunes, participou com grande entusiasmo, ainda que clandestinamente ao início. Quando descoberto, numa famosa matéria da jornalista Patrícia Campos Mello, do dia 30 de setembro de 2018, o militante até então secreto da causa bolsonarista, foi pedir perdão ao titular do Gabinete, por meio da Secretaria Geral do Itamaraty; recebeu permissão para continuar, e por isso até fez uma postagem, no dia 2 de outubro, agradecendo a deferência: 

Quero aqui agradecer e enaltecer as altas chefias do Itamaraty por seu compromisso com a liberdade de expressão e com o pluralismo, que me dá a oportunidade de compartilhar estas reflexões. Não sei se esses princípios sobreviverão se o PT “tomar o poder”.

 

Pretendo destacar aqui algumas pérolas do comentarista desconhecido, até quase a véspera do primeiro turno de 2018, agregando alguns exemplos ao longo do período eleitoral que vai de meados de setembro até a realização do segundo turno. O fato é que ele estava empenhado na campanha desde 2017, quando se revelou por meio de um famoso artigo, “Trump e o Ocidente”, que foi publicado na revista do IPRI, que eu dirigia, Cadernos de Política Exterior (embora o artigo não tivesse muito a ver com a natureza da publicação).

Os interessados em conhecer o “pensamento” – se o substantivo se aplica – do chanceler acidental podem acessar o seu blog (enquanto existir) que se chama – num título que remete aos círculos wagnerianos pré-nazistas – Metapolítica 17 - contra o globalismo (neste link: https://www.metapoliticabrasil.com/blog/), do qual retiro apenas alguns tópicos, para refrescar a memória de alguns responsáveis pelo Comitê de Ética da PR sobre como se pode burlar impunemente as regras de conduta que eles recomendam aos “agentes públicos”. 

 

1) Na primeira postagem, em 22 de setembro de 2018, Ernesto Araújo, enalteceu as virtudes do povo: 

Os ignorantes e os instruídos

Ernesto Araújo O povo é muito mais são e sábio do que a classe instruída. Talvez justamente por não passarem por uma escolarização emburr...

Na campanha eleitoral brasileira, hoje, vemos os instruídos preocupados unicamente com duas ou três frases pronunciadas por Bolsonaro ou pelo General Mourão. Repetem essas frases nos seus restaurantes e teatros e competem para ver quem mais se indigna. (Só não se dão ao trabalho de analisar o contexto das frases, é claro, porque analisar uma expressão no seu contexto é tarefa complexa, a exigir as faculdades cognitivas que os vários níveis de educação lhes retiraram.) Dizem que jamais votariam num candidato que disse isto ou aquilo sobre "as mulheres" ou "os gays". Para eles, mulheres ou gays não são indivíduos realmente existentes, mas categorias políticas, personagens chapados numa novela esquerdista com um enredo absolutamente primário, que jamais satisfaria qualquer pessoa dotada de boa-fé e curiosidade intelectual.

 

2) Logo em seguida, no dia 23/09/2018, ele enaltece a polarização em curso: 

Viva a polarização

Toda a realidade, seja humana ou natural, está estruturada de maneira polarizada, com dois polos binários, que se resolvem no logos incar...

As mesmas pessoas que dizem detestar a polarização querem apelar a um certo moralismo puramente verbal no atual debate político. Sustentam que algumas frases que Bolsonaro pronunciou a respeito de mulheres, gays ou negros, transformam a eleição numa questão moral. O saque da Petrobras, o mensalão, o achincalhamento das instituições, o assassinato de Celso Daniel e a tentativa de assassinato de Bolsonaro, nada disso acaso são questões morais? (...)

A esquerda não quer polarização porque não quer nenhuma concorrência ao seu polo totalizante, que ocupa todo o espectro do centro moderado até o stalinismo (veja-se, para exemplificá-lo, a perspectiva de uma aliança do PT, cuja candidata a vice-presidente pertence ao PC do B stalinista, com o PSDB liberal reformista, cuja candidata a vice-presidente pertence ao PP, partido herdeiro da ARENA: assim, o centro moderado no Brasil vai de Stalin a Geisel, passando por Lula e FHC).

 

3) Dois dias depois, em 25/09/2018, o elogio é ao povo, que “se interessa por política externa”, contrariamente ao que acreditaria a esquerda: 

O que está em jogo

Ernesto Araújo É um equívoco dizer que o eleitor brasileiro não se interessa por política externa e que por isso as relações internaciona...

O sistema não quer que o brasileiro saiba que o Brasil está, hoje, chamado a participar de uma gigantesca luta mundial, que se desdobra em vários aspectos: (...)

A luta pela soberania econômica e política dos países, contra o domínio das cadeias produtivas de bens e contra o monopólio da circulação de informações por uma elite transnacional niilista, contra uma economia globalizada maoísta-capitalista centrada na China.

A luta pela democracia efetiva e contra a reemergência do bolivarianismo na América Latina, o sistema regional de implantação do "Socialismo do Século XXI".

As opções reais de política externa são: ou aliar-se aos países e forças que lutam contra o globalismo, ou deixar que o Brasil, junto com todas as nações, desapareça na geleia geral de um mundo desnacionalizado e desespiritualizado (a nação é a casa do espírito!) e torne-se uma província da "pátria grande" socialista.

A esquerda, juntamente com o centro..., usa o seu controle da mídia e da academia para ocultar ao brasileiro o que está em jogo nas eleições, em relação à nossa inserção internacional: se o Brasil combaterá por um mundo de nações e de pessoas livres, ou se continuará deixando-se levar para um império global sem amor e sem apego, onde impera um programa de controle político-mental que aniquila a personalidade de pessoas e povos para melhor dominar.

 

4) No dia seguinte, 26/09, os ataques ao PT emanam naturalmente do “povo”: 

O povo contra o sistema

Ernesto Araújo No final dos anos 70 e primeira metade dos anos 80, o debate esquerda-direita no Brasil era um debate político entre liber...

O PT assumiu assim, sem maior dificuldade, o completo controle do país. Atribuiu ao PSDB o papel de "direita" e governou confortavelmente por 13 anos. (...) Esse regime tão eficiente e popular só se esqueceu de colocar uma coisa em sua equação: o povo. (...)

Dessa agenda do povo brasileiro nasceu a candidatura de Bolsonaro. Todos sabem que Bolsonaro é o único candidato anti-sistema. (...) Na verdade, sua candidatura é o único projeto político que atende ao anseio mais profundo do povo brasileiro.

Trata-se de uma candidatura de direita, certamente, e não poderia ser de outra forma já que todo o espectro político do sistema foi ocupado pela esquerda. (...)

Tudo o que é decente e bom, hoje, está na direita, simplesmente porque a direita é, hoje, o único lugar que acolhe tudo o que é bom e decente. (...)

Por isso, muitas pessoas que se consideram centristas e muitos políticos autênticos estão abandonando os candidatos presidenciais ditos de centro e entendendo que a única casa sob cujo teto podem abrigar suas ideias e suas esperanças é a campanha de Bolsonaro.

 

5) Imediatamente após, em 27/09, confiando na sua “clandestinidade”, Ernesto se permite criticar o discurso do presidente Temer, na abertura dos debates na Assembleia Geral, quando o presidente se refere à “nossa Venezuela” (ele coloca o vídeo do discurso para provar), e logo em seguida transcreve um trecho do discurso do presidente Trump atacando de forma veemente o governo de Maduro: 

"Nosso país, a Venezuela"

Do discurso do Presidente Michel Temer na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (Nova York, 25/10/2018): “Na América do Sul, os ...

Mas sabemos que a solução para a crise virá quando, na verdade, o nosso país, a Venezuela, reencontrar o caminho do desenvolvimento. (https://www.youtube.com/watch?v=1nYdOEM6D1M).

Do discurso do Presidente Donald Trump na mesma ocasião: (...)

 

6) No mesmo dia, ele ainda encontra tempo para atacar o candidato do PT e seu projeto, provavelmente numa alusão à linha de transmissão que transporta eletricidade da Venezuela a Roraima, destacada da rede nacional de energia.: 

Linha de transmissão

Haddad é o poste de Lula. Lula é o poste de Maduro, atual gestor do projeto bolivariano. Maduro é o poste de Chávez. Chávez era o poste d...

Haddad é o poste de Lula.

Lula é o poste de Maduro, atual gestor do projeto bolivariano.

Maduro é o poste de Chávez.

Chávez era o poste do Socialismo do Século XXI de Laclau.

Laclau e todo o marxismo disfarçado de pós-marxismo é o poste do maoísmo.

O maoísmo é o poste do inferno.

Bela linha de transmissão.

 

7) No dia seguinte, em 28/09, sempre atarefado em sua missão secreta de angariar votos para o seu candidato, ou mais provavelmente em consolidar sua candidatura ao cargo de chanceler do futuro presidente, ele conclama os conservadores a se mobilizarem: 

Acorda e luta!

Acorda, liberal! Sai da cama, conservador! Você pretende ficar neutro, assistindo à batalha pelo futuro do Brasil e comendo pipoca, como ...

Acorda, liberal!

Sai da cama, conservador!

Você pretende ficar neutro, assistindo à batalha pelo futuro do Brasil e comendo pipoca, como se estivesse vendo Croácia x Dinamarca?

Você tem algo mais importante a fazer do que salvar o seu país?

Quem se diz liberal e não está com Bolsonaro é porque não se importa com a liberdade, mas apenas com a sua própria imagem.

Quem se diz conservador e não está com Bolsonaro é porque só quer conservar sua própria convicção de superioridade moral.

O PT (Partido Terrorista) está se preparando para tomar o poder no Brasil.

Na véspera da I Guerra Mundial, o Secretário do Exterior britânico, Edward Grey, prevendo a catástrofe, disse a um amigo: “As luzes estão-se apagando em toda a Europa. Não as veremos novamente em nossas vidas.”

No Brasil, se o PT ganhar, vai extinguir todas as luzes da decência e da liberdade, e não as veremos acesas novamente em nossas vidas. (...)

Fascista é o nome dado pelos comunistas a qualquer inimigo do regime de terror que o PT pretende instaurar ou reinstaurar no Brasil.

A sobrevivência do Brasil depende de você perder o medo de ser chamado de fascista. 

Acorda, sai da cama e vem para a luta! É o Brasil que está jogando o jogo mais importante da sua vida.

 

8) Depois de mais uma postagem atacando a esquerda no dia 29, no próprio dia em que sua identidade seria revelada na reportagem de Patrícia Campos Mello na FSP (30/09), como o único diplomata a apoiar ativamente o candidato da direita, ele novamente conclama o povo a vir em apoio ao candidato, revelando seus sentimentos com uma grande carreata pró-Bolsonaro em Brasília: 

Mas se ergues da justiça a clava forte

Algumas reflexões sobre a carreata pró-Bolsonaro em Brasília, com 25.000 carros, em 30 de setembro: Não vi ódio em ninguém, em nenhum ins...

Algumas reflexões sobre a carreata pró-Bolsonaro em Brasília, com 25.000 carros, em 30 de setembro:

Não vi ódio em ninguém, em nenhum instante. O movimento popular por Bolsonaro não se nutre de ódio, mas de amor e de esperança. As pessoas sorriem e celebram. Há um clima de congregação, uma energia coletiva impressionante, uma presença. Só me lembro de uma atmosfera cívica desse tipo em duas ocasiões: a campanha das Diretas Já em 1984 e o movimento pelo impeachment em 2016. É a primeira vez, portanto, que este oceano profundo, obscuro, poderoso de sentimento coletivo, ruge desta maneira em uma situação eleitoral. Isso significa que se trata de muito mais do que uma eleição, de uma escolha entre diferentes projetos para a pátria. Trata-se de uma luta pela sobrevivência da pátria.

O hino nacional fala de bosques e campos floridos e de uma vida serena, mas em certo ponto interrompe todo esse aconchego e proclama: “mas se ergues da justiça a clava forte, verás que o filho teu não foge à luta”. A mão fazendo o gesto de atirar é a pátria-mãe erguendo a clava forte! E não esqueçamos que Jesus, o príncipe da paz, disse em alto e bom som: “não vim trazer a paz, mas a espada”.

Arma só é símbolo de violência na mão de bandido. Na mão de pessoas de bem, arma é símbolo de orgulho, confiança, determinação e justiça.

Vi pessoas de todos os níveis de renda, de todos os tons de pele. Vi homens e muitas mulheres, se bobear mais mulheres do que homens. Pensei na cena final do Fausto de Goethe: Das Ewig-Weibliche zieht uns hinan. “O eterno feminino nos eleva ao alto.” A Virgem e a pátria-mãe gentil estão conosco.

Alegria por poder participar de algo tão grande, angústia por saber que não temos a opção de perder diante de um inimigo tão pérfido, confiança na justiça e no poder mais alto. A carreata continua até salvarmos o Brasil.

 

9) No dia seguinte, 1/10/2018, mas com uma postagem que já devia estar preparada antes, ele ainda ataca o candidato da esquerda em especial e o marxismo em geral: 

Teses sobre Fernando Haddad

Em 1998, o então professor de Ciência Política da USP Fernando Haddad publicou, na revista Estudos Avançados, um breve texto intitulado "...

O marxismo é um projeto para destruir o cristianismo, não o capitalismo. O capitalismo é visto por Marx simplesmente como um meio capaz de acelerar, pela desagregação que promove na sociedade tradicional, seu projeto anticristão. (...) A tarefa então é aniquilar a família humana, destruir o homem, para poder aniquilar o salvador que é Deus. Isto não está em alguma nota de pé de página ou em algum rascunho de Marx, está no centro do texto que os marxistas consideram a essência de sua obra. Esse é o marxismo ou o socialismo que, com Haddad, pretende tomar o Brasil.

 

10) Finalmente, provavelmente constrangido por ter sido revelado, ele vai pedir compreensão ao Gabinete, no dia 2/10, e até se permite elogiar a postura aberta das “altas chefias”, personalidades que ele atacaria de forma acerba depois, com munição fornecida pelo “Gabinete do Ódio”;

Um registro

Quero aqui agradecer e enaltecer as altas chefias do Itamaraty por seu compromisso com a liberdade de expressão e com o pluralismo, que m...

Quero aqui agradecer e enaltecer as altas chefias do Itamaraty por seu compromisso com a liberdade de expressão e com o pluralismo, que me dá a oportunidade de compartilhar estas reflexões.

Não sei se esses princípios sobreviverão se o PT “tomar o poder”.


11) Nos dias seguintes, e durante todo o intervalo entre o primeiro e o segundo turno, EA faz diversas postagens, praticamente uma a cada dia, sempre atacando a esquerda, o PT e o seu candidato. Quase na véspera do segundo turno, em 20/10, ele recrudesce: 

Eu vim de graça

Não há nada que o PT odeie tanto quanto a liberdade: liberdade econômica, liberdade de pensamento, liberdade de expressão. Isso porque o ...

Não há nada que o PT odeie tanto quanto a liberdade: liberdade econômica, liberdade de pensamento, liberdade de expressão.

Isso porque o PT, fiel ao “belo ideal socialista”, odeia o ser humano.

Deixado a si mesmo, o ser humano cria e produz, ama e constrói, trabalha e confia, realiza-se e projeta-se para a frente.

Então não pode. O PT (que aqui significa não apenas “Partido dos Trabalhadores”, mas também Projeto Totalitário ou Programa da Tirania) não pode deixar o ser humano a si mesmo. (...)

A única coisa que o Projeto Totalitário não criminaliza é o próprio crime e os próprios criminosos. Ou seja, o PT criminaliza tudo, menos a si mesmo.

Agora querem criminalizar o Whatsapp.

O ideal do PT (já expresso por alguns ecologistas radicais) é que a espécie humana não existisse. Já que existe, ainda, vamos fazer dela o pior possível, para que a humanidade se odeie tanto a ponto de um dia cometer suicídio. Sim, o Projeto Totalitário, do qual o “Partido dos Trabalhadores” faz parte integralmente até a medula dos seus ossos e até o fundo do buraco que tem no lugar do coração, é levar a humanidade ao suicídio. Para isso precisa destruir a alegria de viver, que depende da liberdade. Censurar o Whatsapp é mais uma tentativa.

 

12) Finalmente, o triunfo, devidamente comemorado em 24 de outubro de 2018:

Todo o poder emana

Nunca é demais lembrar o que diz o Artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal: “Todo o poder emana do povo.” Em todos os 114 art...

O povo vem criando um novo Brasil. Já criou ao menos a imagem de um novo Brasil – um Brasil sem PT, sem crime, sem falsidade – e agora se prepara para alcançar essa imagem, para tocá-la e começar a vivê-la.

 

13) Seguiram-se uma dezena de postagens altamente ideológicas, como pode ser verificado no site Metapolítica 17, e isso a despeito de o presidente, que o escolheu em 14/11/2018 (sob provável injunção do guru expatriado e dos dois olavistas que o controlam de perto, em Brasília), ter prometido uma política externa “sem ideologia”. Uma dessas postagens consistiu num artigo, “Contra o consenso da inação”, com críticas acerbas ao ex-ministro Rubens Ricupero e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi objeto de uma postagem conjunta, que fiz em meu blog na madrugada do dia 4/03/2019, e que motivou minha exoneração poucas horas depois.

 

14) Nos meses seguintes, as postagens amainaram, mas todas elas tinham um sentido altamente ideológico, como aquela famosa que defendia a tese – imediatamente rejeitada até pela embaixada da República Federal da Alemanha em Brasília – segundo a qual o nazismo era um “movimento de esquerda”, em 30/03/2019: 

Pela aliança liberal-conservadora

A esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda. Dá a ...

 

15) Raras foram as postagens no restante do ano de 2019, sendo que uma delas, em 19 de julho, defendia a “liberdade religiosa, religião libertadora”, até que finalmente chegamos à apoteose ideológica da famosa reunião dos impropérios, no dia 22 de abril de 2020, durante a qual o presidente recrudesceu contra a Polícia Federal e seus demais inimigos no governo e fora dele, ao passo que o chanceler acidental, defendendo o grande papel do Brasil de Bolsonaro na reorganização do poder mundial, cunhou o famoso slogan do “comunavirus”, o terrível inimigo que surgiu na China para dominar o Ocidente: 

Chegou o Comunavírus

O Coronavírus nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista. Chegou o Comunavírus. É o que mostra Slavoj Žižek, um dos principais...

 Žižek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo. A pandemia do coronavírus representa, para ele, uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade.


Querem mais, querem se divertir, querem lamentar? Basta acessar o site do chanceler acidental – que não sei quanto tempo dura, mas tenho tudo registrado –, embora outras formidáveis bobagens figuram em entrevistas e artigos que podem ser acessadas nos sites do Itamaraty e da Funag. Creio que bastam as pérolas acima...

 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3750, 9 de setembro de 2020