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terça-feira, 15 de março de 2016

Corrupcao petralha se internacionalizou - InfoLatam

Argentina corrupción

Argentina investiga a casi 100 firmas en relación con trama de corrupción de Brasil

Reuters
InfoLatam, Buenos Aires, 14 de marzo de 2016 

La Justicia argentina investiga por posibles sobornos a casi 100 empresas, entre ellas varias de origen brasileño, porque sospecha que pueden haber replicado la trama de corrupción que derivó en una crisis política, dijo a Reuters una fuente con acceso a la causa.
El caso conocido como “Lava Jato”, que involucra a Petrobras, sumió en una crisis política al Gobierno de Dilma Rousseff, que se agravó por una breve detención e interrogatorio al ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva y la condena a 19 años de prisión al empresario Marcelo Odebrecht.
El fiscal que en Argentina lleva adelante la investigación, Sergio Rodríguez, había dicho el miércoles pasado a Reuters que la constructora Odebrecht es una de las firmas de las que se sospecha “algún tipo de réplica en las maniobras de cartelización que hubo en Brasil”.
La fuente cercana a la investigación iniciada en diciembre, como una derivación de la causa abierta en Brasil, explicó el viernes que entre las casi 100 empresas involucradas están también las brasileñas Andrade Gutierrez, OAS y Camargo Correa.
“Los fiscales brasileños dijeron que hay una sospecha razonable de que el esquema se reprodujera acá”, agregó la fuente.
Según la fuente, la investigación, que abarca desde 2006 a 2012, apunta al ex Ministerio de Planificación, del que dependían las obras públicas del Gobierno de Cristina Fernández, quien fue sucedida en diciembre por el centroderechista Mauricio Macri.
Los investigadores creen que funcionarios del entonces Ministerio de Planificación, del que dependía la Secretaría de Transporte, cuyo jefe de entonces fue condenado por corrupción en otras causas, podrían haber beneficiado a algunas empresas en licitaciones de obras a cambio de sobornos.
La fiscalía ya pidió a la Tesorería General de la Nación los pagos realizados a las empresas involucradas durante el período 2006/12 y luego analizará las licitaciones. La fuente dijo que la investigación es “embrionaria” y que aún no hay pruebas de ningún delito. “En dos o tres meses habrá novedades”, añadió.
Una portavoz de Andrade Gutierrez -la segunda empresa constructora de Brasil después de Odebrecht- dijo que la empresa no realizaría comentarios, mientras que Camargo Correa señaló que desconoce la investigación. La firma OAS no respondió a consultas de Reuters.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Al Capone caiu por que nao se acertou com o leao da Receita dos EUA: acho que teremos algo semelhante... - Veja

Já não era sem tempo?

Ministério público vai denunciar Lula por ocultação de propriedade

No bolso dos corruptores: investigadores não têm dúvidas que o apartamento no Guarujá pertence a Lula e sua mulher, Marisa Letícia
No bolso dos corruptores: investigadores não têm dúvidas que o apartamento no Guarujá pertence a Lula e sua mulher, Marisa Letícia(Paulo Whitaker/Reuters)

Depois de confirmar que ele é dono de um tríplex reformado e mobiliado pela OAS, empreiteira punida no escândalo do petrolão, promotores enquadram o ex-presidente numa das modalidades clássicas do crime de lavagem de dinheiro

Um truque recorrente na carreira política do ex­-presidente Lula é reescrever a história de modo a exaltar feitos pessoais e varrer pecados para debaixo do tapete. Mas os fatos são teimosos. Quando se pensa que estão enterrados para sempre, eles voltam a andar sobre a terra como zumbis de filmes de terror. O mensalão, no plano mestre de Lula, deixaria de existir se fosse negado três vezes todas as noites antes de o galo cantar. O petrolão, monumental esquema de roubalheira na Petrobras idealizado, organizado e consumado em seu governo - e, segundo testemunhas, com reuniões no próprio gabinete presidencial -, entraria para a história como mais um ardil dos setores conservadores da sociedade para impedir o avanço dos defensores dos pobres. Nem o mais cego dos militantes do PT ainda acredita nessas patacoadas que afrontam os fatos. Sim, os fatos, sempre eles. O tríplex de Lula no Guarujá é outro desses fatos que o ex-presidente esperava ver se dissipar no meio do redemoinho. Mas o tríplex está lá com seu elevador privativo e linda vista para o Atlântico, e vai continuar. De nada adiantou a pregação de Lula, na semana passada, para seu coro de blogueiros chapa-­branca muito bem remunerados com o dinheiro escasso e suado do pobre povo brasileiro: "Não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Pode ter igual, mas eu duvido". Pode até ser que a alma não veja o que o corpo faz e se entretenha no engano, mas a opinião pública há muito tempo não se ilude mais com essas mandingas autolaudatórias de Lula.
Pelo tríplex que queria manter clandestino, Lula será denunciado pelo Ministério Público por ocultação de propriedade, uma das modalidades clássicas do crime de lavagem de dinheiro. A denúncia contra o ex-presidente decorre da investigação de fraudes em negócios realizados pela Bancoop, cooperativa habitacional de bancários que deu calote em seus associados enquanto desviava recursos para os cofres do PT. A Bancoop quebrou em 2006 e deixou quase 3 000 famílias sem seus imóveis, enquanto viam, inermes, petistas estrelados receber seus apartamentos. Em abril do ano passado, VEJA revelou que, depois de um pedido feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo Pinheiro, seu amigo do peito condenado a dezesseis anos de prisão no petrolão, a empreiteira assumiu a construção de vários prédios da cooperativa. O favor garantiu a conclusão das obras nos apartamentos de João Vaccari Neto, aquele mesmo que, até ser preso pela Operação Lava-Jato, comandou a própria Bancoop e a tesouraria do PT. A OAS assumiu também a reforma do tríplex de 297 metros quadrados no Edifício Solaris, de frente para o mar do Guarujá, pertencente ao ex-presidente Lula e a sua esposa, Marisa Letícia.
A OAS desempenhou ainda o papel de "laranja" de Lula, passando-se por dona do tríplex. A manobra foi cuidadosamente apurada pelos promotores do Ministério Público de São Paulo, que trabalham a apenas quinze minutos de carro da sede do Instituto Lula. Durante seis meses, eles se dedicaram a esquadrinhar a relação entre a OAS e o patrimônio imobiliário dos chefes petistas. Concluíram que o tríplex no Guarujá é a evidência material mais visível da rentável parceria de Lula com os empresários corruptores que hoje respondem por seus crimes diante do juiz Sergio Moro, que preside a Operação Lava-Jato. Os promotores ouviram testemunhas e obtiveram recibos e contratos que colocam o ex-presidente na posição de ter de explicar na Justiça as razões pelas quais tentou de todas as maneiras negar ser o dono do tríplex. Para os promotores, as negaças de Lula configuram o crime de lavagem de dinheiro.
REVISTA VEJA

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A Lava Jato seria um desastre para o Brasil? Sim, para Samuel Pinheiro Guimaraes

Não surprende, vindo de quem vem. Ou surpreende, sim, pois quanto mais afunda o barco dos corruptos companheiros de viagem se apressam em socorrer os companheiros corruptos.
O que me surpreende também é que pessoas que seriam normalmente bem informadas, se prestem a papel tão baixo no plano moral e ético.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/01/2016

De: Samuel Pinheiro Guimarães
Assunto: Carta Aberta sobre a Operação Lava-Jato.

A Operação Lava-Jato está tendo um impacto econômico, político, social e jurídico muito importante. No âmbito econômico, as investigações da Operação estão atingindo algumas das principais empresas de capital brasileiro com capacidade de competir internacionalmente.
No mesmo âmbito, têm atingido as atividades da Petrobras, que é a maior empresa brasileira, com graves repercussões sobre as empresas que integram a cadeia produtiva do petróleo.
No âmbito político, o vazamento das delações premiadas têm atingido principalmente o PT, ainda que não esteja neste partido a maior parte dos políticos mencionados nas delações.
No âmbito social, a Operação Lava-Jato tem contribuído para acirrar os ânimos e a criar situações de grande hostilidade, intimidação e risco para indivíduos.
No âmbito jurídico, o modo como tem sido conduzida a Operação deve causar preocupação a todos os que consideram fundamental a democracia e os direitos de cada cidadão perante o Judiciário, o Ministério Público, a polícia e os meios de comunicação.
A Carta Aberta, em anexo, subscrita por advogados, professores, juristas e integrantes da comunidade jurídica, aponta alguns dos principais aspectos de direitos e garantias individuais que vem sendo atingidos de forma em extremo preocupante.
Espero que sua leitura contribua para um melhor conhecimento deste aspecto importante do atual momento que vivemos.
Afetuoso abraço
Samuel

<Carta aberta em repudio.pdf>

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Banqueiro na cadeia? Empresario encarcerado? O que aconteceu com o Brasil? - Nivaldo Cordeiro

Excelente análise de Nivaldo Cordeiro sobre o atual momento político, que é mais bem policial, ou inteiramente policial...
Como diz uma canção de um maluco, alguma coisa acontece, e não é raio em céu azul, embora pareça. Nunca antes no país se viu tantos banqueiros, advogados de alto coturno e sobretudo empresários na cadeia, seja em regime de prisão temporária, ou preventiva, ou já mesmo condenados a penas diversas. Muitos outros estão em liberdade provisória, aguardando julgamento sob regime de delação premiada. Ah sim, tem também alguns políticos na cadeia, o que também é novidade. Reparem que nenhuma dessas novas realidades no céu do Brasil se deve aos homens (e mulheres) que supostamente deveriam representar o povo, ou seja, representantes com voto popular. Tudo isso se deve à ação, sempre legal, de pessoas sem nenhum voto ou representação, apenas a serviço do Estado e das leis, o que é uma novidade novidadíssima no Brasil, onde os donos do poder, ou seja, aquela categoria que Raymundo Faoro chamou de "estamento burocrático", sempre mandaram no país e nas instituições a seu bel prazer. Parece que a coisa está mudando, mesmo contra o maior, o mais poderoso, o mais totalitário dos estamentos burocráticos que já ocupou o poder no Brasil, o estamento burocrático do partido neobolchevique e gramsciano, que também se revelou o mais mafioso de todas os partidos políticos, a corporação organizada para o crime e para o monopólio do poder, agora sendo contrarrestado por outras pessoas, não organizadas em partido, mas pertencentes a uma corporação do Estado (como podem ser o MPF, a PF, juízes, e alguns outros poucos). Por ironia da história, Raymundo Faoro foi um dos fundadores do PT; Hélio Bicudo também, aliás. Ambos foram tragados nas engrenagens totalitárias e mafiosas do pior partido que já assaltou o Brasil, literalmente...
Paulo Roberto de Almeida

O BANQUEIRO APRISIONADO
Nivaldo Cordeiro
www.nivaldocordeiro.net, 30/11/2015

Nada mais extravagante e fora do lugar do que um banqueiro, e dos grandes, aprisionado. Em prisão preventiva, diga-se de passagem, a pior delas, aquela que é determinada para que a investigação dos supostos crimes possa prosseguir sem a sua interferência. Normalmente, tal expediente é usado para investigar crimes de sangue ou de tráfico de drogas, tomados em flagrante delito, mas ficou usual entre, nós depois que o PT chegou ao poder, não porque este tenha decidido “investigar” mais, mas precisamente porque o partido decidiu delinquir mais na política, fez do poder de Estado um duplo instrumento de autoperpetuação no poder e de máquina para se locupletar.

O banqueiro – falo de André Esteves – secundou o maior dos nossos empreiteiros, Marcelo Odebrecht, que está na mesma condição há meses, preso preventivamente, sem data para sair da prisão. Banqueiros e empreiteiros são dois tipos de grandes negociantes com as coisas do Estado, aqueles dos quais o PT transformou em fonte de rio de dinheiro para suas campanhas eleitorais e para a conta corrente de seus dirigentes, todos enriquecidos à sombra do poder de Estado.

Desde que chegou à Presidência da República o PT se comportou como se tivesse tomado o poder pelas armas e pudesse reiniciar o país em tudo. Enganou-se. As instituições funcionaram e as falcatruas reveladas desde o mensalão estão devidamente tratadas pelo Poder Judiciários, em todas as instâncias. Sentenças têm sido prolatadas em profusão. Não deixou de ser muito irônico que o ministro Teori Zavascki, que chegou ao STF supostamente para ajudar juridicamente o PT, tenha assinado monocraticamente a ordem de prisão do banqueiro e do senador Delcídio Amaral, líder do PT naquela Casa. O Estado tem se revelado maior do que o partido.

Desde o mensalão o PT tem tentado “acalmar” os réus vendendo a falsa ideia de que controla o Poder Judiciário, comprando com isso o silêncio de incautos como Marcos Valério, que foi apenado com quarenta anos de prisão, em regime fechado. Os novos réus perceberam a fragilidade dessa promessa e passaram a negociar delações premiadas, que relaxam a prisão preventiva e reduzem a pena a cumprir, por acordo com o Ministério Público. Os dedos-duros têm se multiplicado.

Marcelo Odebrecht tem permanecido impávido, em silêncio total, o que tem lhe custado a longa prisão preventiva. Parece que passará as festividades de final de ano na cadeia. Vamos ver se a visão utilitarista típica de um banqueiro vai quebrar o silêncio de André Esteves. É provável que sim, mas isso causará um terremoto na vida política nacional. Se falar livremente vai comprometer toda cúpula da política e não apenas a do PT. Grandes fortunas súbitas, como a do André Esteves, só são possíveis mediante assalto impiedoso aos cofres públicos, de todas as formas. O negócio dos banqueiros os deixa em posição favorável em qualquer decisão governamental, a começar por aquelas que são referidas à dívida pública.

A propósito, o sistema brasileiro “democratizou” o butim da dúvida pública, toda a gente pode comprar seus papéis, que pagam generosos juros, os maiores do mundo. Não devemos esquecer, todavia, que para um título público chegar às mãos de um particular paga, antes, comissão a um banqueiro. A trilionária dívida pública é a vaca leiteira do sistema bancário.

Não sei se André Esteves é culpados dos crimes dos quais é acusado, mas a prisão dele não é injusta se tomarmos como referência o conjunto de sua obra. A súbita fortuna que logrou acumular veio acumulada de boatos de negociatas com fundos de pensão de empresas públicas, com o manejo da dívida do Estado, com súbitos movimentos lucrativos próprio dos muito bem informados, como as variações cambiais. Não é uma injustiça, portanto, que esteja preso.

O Brasil precisará ser passado a limpo, agora. Tantos políticos e gente rica aprisionados levam-me a acreditar que um mínimo de moralidade agora será exigido no trato da coisa pública. Fatalmente a rentabilidade desses maganos irá minguar. Ninguém pode ter permanentemente lucros extraordinários sem delinquir, é isso que a prisão do banqueiro revela.

Quem viver verá.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Corrupcao no Brasil: Mensalao, Petrolao, Embromacao, etc... - Ricardo Velez-Rodriguez, Paulo Roberto de Almeida

Oyez Citoyens, oyez: a despeito deste artigo bastante otimista de Ricardo Vélez-Rodríguez, minha percepção do atual processo de investigação e de criminalização (até o momento apenas de alguns personagens secundários e de empresários venais), é que está em curso uma gigantesca operação subterrânea, por definição clandestina e chantagista, para tentar salvar os "donos do poder", não obstante eventual denúncia junto ao STF (que como sempre levará anos para investigar e processar). Sinais de fumaça cada vez mais carregados indicam um cenário de composição entre as principais figuras políticas, inclusive da soi-disant "oposição", para escapar das garras da lei. E a despeito do que diz o mesmo articulista, de que as instituições estão funcionando a contento e de que ninguém está acima da lei, o fato é que alguns ainda se julgam mais iguais que os outros, os comuns, e agem nesse sentido. Ou seja, apesar de que, 800 anos depois da Magna Carta o Brasil se aproximou desse instrumento fundamental do Estado de Direito, o fato é que ainda não chegamos efetivamente na Magna Carta, apenas a tangenciamos. Aliás, nem na própria Ingaterra: tiveram de decapitar um rei, e expulsar um outro para tornar efetivas as disposições da Magna Carta. O Brasil ainda precisa decapitar algumas cabeças coroadas...
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil vive - a Operação Lava Jato continua
Ricardo Vélez Rodríguez
O Estado de S.Paulo, 10 Agosto 2015

As investigações da Operação Lava Jato, em que pese o esforço do PT para atrapalhá-las, continuam a todo vapor. Ponto para o juiz Sérgio Moro, para a Procuradoria-Geral da República e para o Ministério Público, bem como para a Polícia Federal. As CPIs da Câmara dos Deputados que investigam os desmandos do governo nas estatais e no BNDES também deslancharam a contento, para desgosto do governo e do PT, que ficaram praticamente do lado de fora das diversas comissões. E vêm aí, de novo, as multitudinárias manifestações de cidadãos descontentes com a administração petralha, no próximo dia 16. Ponto para todos nós, brasileiros, que vemos o Poder Legislativo e a imprensa comprar a nossa insatisfação e a briga com a corrupção instalada no governo pelo PT e a sua base aliada.

Outro fato positivo: José Dirceu voltou ao xilindró, por causa de sua comprovada participação no crime do petrolão, tendo sido observados todos os ritos processuais pela Justiça e pela Polícia Federal. Tudo sem estardalhaço e tendo sido garantidos ao réu todos os seus direitos. As instituições brasileiras funcionam. Palmas para a nossa República! Mais uma vez fica claro que, hoje, no Brasil ninguém está acima da lei.

Os desmandos de corrupção praticados pelo lulopetismo ao longo dos últimos 13 anos tiveram o mérito de fazer acordar a sociedade brasileira, que passou a cobrar dos poderes públicos uma resposta firme em defesa das instituições republicanas. No mesmo sentido têm-se posicionado, por diversas vezes, tanto os Clubes Militares quanto oficiais graduados das Três Armas, cumprindo com a sua missão constitucional de “garantia da lei e da ordem”. E os cidadãos têm externado a sua posição contrária ao patrimonialismo rasteiro que tomou conta do governo. Jovens estudantes, donas de casa, funcionários públicos, políticos da oposição, profissionais liberais, produtores rurais, pastores evangélicos, operários, padres, etc., têm externado pela imprensa, em pregações e em manifestações espontâneas (nos panelaços, nas marchas de rua, nas cartas dos leitores, nas redes sociais, etc.), a sua rejeição à atitude de arrogância do governo e das lideranças petistas e dos seus aliados, em face da corrupção comprovada.

O Brasil não tolera mais a existência dos “donos do poder”. O único depositário deste é o povo brasileiro e, por delegação dele, os seus representantes eleitos para zelar pela Constituição e o cumprimento das leis. Quando os eleitos e os funcionários nomeados por eles se afastam da busca do bem comum, para garantir única e exclusivamente o bem deles próprios e do seu partido, abre-se o caminho para a perda de legitimidade. É a corrupção da política de que já falava Aristóteles. Se a prática desse crime for comprovada em relação à atual presidente, que se cumpra a lei no processo de impeachment. Não vejo como isso possa afetar as instituições republicanas. Muito pelo contrário: se, provada a culpa, não forem tomadas as providências legais, disso advirá sério atentado contra a ordem legal. Esperemos, portanto, com tranquilidade a decisão final do Tribunal de Contas da União (TCU) em face das contas da gestão de Dilma Rousseff, bem como as providências que, em caso de crime de responsabilidade comprovado, deverão ser tomadas pelo Poder Legislativo.

Se ninguém está acima da lei, não há razão para temer eventuais investigações das autoridades competentes em relação aos presidentes da Câmara e do Senado, caso fique comprovada a suspeita da prática de algum crime por eles. O que vale para José Dirceu vale para qualquer outro cidadão, seja ele o ex-presidente Lula, os presidentes da Câmara e do Senado ou qualquer um de nós: em caso de crime comprovado, a aplicação da lei é o único caminho possível. Escrevia Tocqueville em A democracia na América (1835) que a República era, nos Estados Unidos, “o reino pacífico da maioria”. Ora, esse “reino pacífico”, no Brasil de hoje, pressupõe a submissão de todos à lei, sem exceções nem favorecimentos ilícitos.

Quando o ex-presidente Lula, do alto do seu eterno palanque, brada que os petistas estão sendo hoje caçados como os judeus pelos nazistas, simplesmente está tergiversando as coisas. Ora, o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro não são administradores de campos de concentração. São honrados funcionários públicos que tentam enquadrar aqueles que, eleitos para governar o Brasil, aproveitaram o poder que lhes foi emprestado pela sociedade para favorecer ilegitimamente a si próprios e ao próprio partido, num esforço por torná-lo hegemônico e se perpetuar no poder. A opinião pública brasileira já matou a charada lulista: distorcer as palavras para, sempre, se colocar como vítima. Esse expediente não funciona mais e o ex-presidente Lula deveria saber disso.

As investigações da Operação Lava Jato vão continuar e os seus executores não se intimidarão pelas bravatas populistas do líder petista. Que ele e o seu partido prestem contas à sociedade pelo descalabro financeiro que fez quebrar a maior empresa pública brasileira, pôs em risco a saúde financeira de outras empresas públicas, como a Eletrobrás, descapitalizou perigosamente bancos oficiais e pôs o maior banco de investimentos do Brasil, o BNDES, a serviço de um projeto personalista de poder, agradando a regimes corruptos pelo mundo afora, a fim de ver acrescidos os seus lucros pessoais com palestras fictícias e outras artimanhas. A engenharia da corrupção lulopetista engendrou a corrupção da engenharia nacional, fazendo mergulhar em águas turvas várias das nossas maiores empreiteiras. Os atuais ciclos de baixa da economia, da autoestima dos brasileiros e das perspectivas de desenvolvimento provêm daí. Esses crimes ainda vão ser postos à luz na sua totalidade, a fim de que, punidos os seus responsáveis, recuperemos o orgulho de ser brasileiros.

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ É MEMBRO DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA UFJF, É PROFESSOR EMÉRITO DA ECEME E DOCENTE DA FACULDADE ARTHUR THOMAS, LONDRINA

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Republica Federativa do Escracho? - Marli Goncalves

ESCRACHO, TEU NOME AGORA É BRASIL
MARLI GONÇALVES, 18/07/2015

Digam-me: há palavra melhor para definir o que está acontecendo nesse país para tudo quanto é lado que se olha? Temo que não. Escracho, em todos os seus mais variados sentidos. Um escracho. Um escracha o outro. Nós escrachamos todos. O juiz escracha uns. Os políticos se escracham entre si. O ex escracha a atual. Eu escracho certas pessoas, de um lado, junto de vocês, que também escracham outros e outros; quando não os mesmos, que todos estão se esculachando felizes da vida. Virou Babel


Na boa, isso aqui virou uma esculhambação total. Que até teria um lado divertido se nós também não estivéssemos sendo grandes vítimas desse processo todo. Volto a pensar se não é alguma coisa que estão pondo na água, tão desmedida e pouco produtiva está essa já muito vergonhosa esculhambação geral que assola o Brasil, e que ultrapassa em muito o antigo Febeapá - o festival de besteiras.

Desde muito criança tinha na Dercy Gonçalves, a Rainha do Escracho com faixa e tudo, e a quem se associa imediatamente a palavra, uma ídola. Imaginava até na minha cacholinha que ela bem que podia ser minha parente. Adorava vê-la fazendo aquelas caras de esgares, a boca de caçapa, da qual vertiam impropérios e impropérios. Adorava, não. Adoro ainda, porque a cada dia que passa ela está mais atual, embora tenha morrido há exatos 7 anos, completados agora neste 19 de julho. Na época, assistia a ela onde aparecia, na tevê; enchi e bati pé para que me levassem ao teatro para vê-la e, já jornalista, sempre que podia tentava ouvi-la sobre algum acontecimento.

Imaginam o que ela diria se estivesse acompanhando o atual momento político nacional? Bippi, xxx, bi,bi,biiii, asteriscos - certamente tudo seria impublicável, tantos falsos moralistas estamos criando sobre este chão e que ela apontaria satisfeita. O engraçado é que sei que ela era até meio reacionária depois de tudo o que passou para se firmar na vida artística, mas imagino o que diria agora ouvindo os discursos da presidente, a falação (ah, aqui ela trocaria uma letra, certamente) das CPIs que a cada dia mais parecem espetáculos burlescos de um cabaré viciado, vendo os cabelos asas de graúna tentando se explicar se roubaram mas não sabiam. Depois de tanta luta pelo respeito à mulher artista, queria saber o que ela pensaria da glamorização absurda da prostituição. Dos pitacos religiosos de plantão. Da gargalhada que soltaria acompanhando os passos da oposição. Ou o topete do prefeito modernudo que se acha o coco da cocada (aqui, ela poria um acento, ah, poria sim).

Imagino-a falando a palavra impeachment de todas as formas, menos a normal, e terminando com um sonoro palavrão e gargalhada sempre. Achei um relato, achei sim, de um centro espírita, onde ela teria "baixado" e os médiuns a repreenderam por todos esses palavrões ditos durante toda a sua vida, e até sobre os oito abortos que sempre admitiu ter feito. Não acreditei que esse espírito era ela mesmo, não xingou ninguém nesta sessão! Acho que a gente quando morre leva pro espírito o que temos de melhor.

Pena que Dercy não tenha vivido esses 108 anos completos; só 101. Embora antes de morrer já tenha visto o país começar a virar uma curva esquisita, não imaginaria como tanta coisa se degringolaria e tornaria difícil até diferenciar o ético, o saudável, o progresso quase forçado dos costumes. Veria sendo mantidos os destratos, o racismo, a homofobia, a violência contra a mulher, esse gênero que sempre tem alguém controlando o que faz com a vagina, seus buracos, diria Dercy. "A perereca da vizinha tá presa na gaiola! Xô, perereca! Xô, perereca!"

"Represento exatamente o escracho do Brasil", disse certa vez, completando: "Eu posso ser escrachada, mas não sou bandalha". Não era mesmo, Dercy. Bandalha é essa gente que está comandando cadeiras importantes de vários poderes.

E escracho é o que estão fazendo primeiro para perguntar depois - polícia escracha; imprensa escracha. A gente escracha, mostra o quão desmoralizados são, não usamos mais nem meias palavras para nos referir até às pessoas às quais deveríamos guardar certo pudor, certo respeito. Mas elas próprias também se escracham, e acabam desmascaradas em seus atos. Provocam nosso escrachamento.

Escracho aqui é tão escracho e tem tanto que perde até um de seus sentidos, o político, aquele de ser o protesto que se faz diante da casa de quem desrespeita os direitos humanos.

Afinal, é ou não é um escracho esse mundo estar dividido em partes? PT e os outros. O PT também estar em polvorosa, o PT puro e o sujo? As debandadas sem ideologia para viver. A oposição apoiar o Eduardo Cunha que é uma síntese do atraso? Cada um correndo para um lado? O país à deriva? O ordenamento jurídico sendo estilhaçado numa primeira instância; juiz endeusado e promovido a herói?

Em cima desse palco tem muita gente, e o assoalho não está firme. Tem ator querendo matar outro para pegar o papel. Nem tudo se pode falar. Nas coxias tem gente sabotando até a comida do camarim. E isso não é uma comédia. Está mais para ópera bufa.

Falta uma Dercy para falar umas poucas e boas - definitivas - ela sim, escracharia de verdade tudo isso, com seu palavrório picante.

São Paulo, 2015.


Marli Gonçalves é jornalista -- - - As pessoas que falavam as verdades na lata, com linguagem pro povo entender, sem rodeios, nos deixam e não estão sendo substituídas. Dá saudades. Da Dercy, de Adoniran, de Cazuza. Esses tantos que merecem ser lembrados, porque nos ajudariam agora pelo menos a escrachar mais bonito.
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E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br

domingo, 28 de junho de 2015

Mais corrupcao companheira e o desespero dos pilantras do lulo-petismo - Revista Epoca

A ruína da Era Lula
Acossado pelas investigações da Lava Jato e cada vez mais impopular, o ex-presidente parte para o ataque - e expõe o ocaso do modo petista de fazer política
Flávia Tavares, Leandro Loyola e Diego Escosteguy
Revista Época, 27/06/2015

Num encontro recente com os principais chefes do PMDB, o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, novo líder da oposição ao governo petista de Dilma Rousseff, comparou a presidente a uma adolescente mimada. Na analogia, Lula se apresenta no papel de pai preocupado. O petista, como é de seu hábito, sempre aparece nesse tipo de metáfora como figura sensata, arguta, sábia. Desempenha a função do pai - do bom pai. "Ela (Dilma) faz bobagem, você senta para conversar e dizer por que aquilo foi errado. Ela concorda, claro" disse Lula. Mas não demora, logo no dia seguinte, ela vem e faz tudo de novo. Te chamam na delegacia para buscar a filha pelo mesmo motivo." Todos eram homens, e riram. A culpa pelas desgraças do país não é da Geni. É de Dilma.

A historinha de Lula, compartilhada num momento de intimidade política, revela quanto Lula tem, de fato, de argúcia - e quanto Dilma tem de impopularidade. Conforme a aprovação da presidente aproxima-se do chão (10%), como mostrou o Datafolha na semana passada, mais à vontade ficam os políticos para fazer troça da petista. Até ministros próximos de Dilma, que conseguem trabalhar há anos com ela, apesar das broncas mal-educadas que recebem cotidianamente, não escondem mais o desapreço pela presidente. "A Dilma conseguiu implodir as relações com os movimentos sociais, com o Congresso e com o PIB", diz um desses ministros, que é do PT. "O segundo governo acabou antes de começar. Estamos administrando o fracasso e os problemas do primeiro mandato. Resta apenas o ajuste fiscal para o país não quebrar" Ninguém discorda que Dilma é uma presidente estranha. Num momento de crise profunda no país que ela governa, só aparece em público para pedalar pelas ruas de Brasília. Os políticos mais antigos lembram-se das corridas matinais de Collor nas proximidades da Casa da Dinda, quando o governo dele desmoronava. Transmite o mesmo tipo de alienação. Na semana passada, num discurso que entrará para os arquivos da Presidência da República, Dilma "saudou a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil". Estava no lançamento dos Jogos Indígenas. Falou de improviso. Inventou expressões como "mulheres sapiens" e pôs-se a elogiar a bola usada pelos índios. "É uma bola que eu acho um exemplo, é extremamente leve. Já testei e ela quica", disse Dilma. Um ministro que presenciou o discurso não acreditou no que via/"Dava vontade de sair correndo e tirar o microfone dela", diz ele, ainda rindo da cena.

O esporte do momento em Brasília, como fez Lula, é ridicularizar Dilma. Mas será ela a verdadeira responsável pela crise que acomete o Brasil em 2015? Ninguém discorda de que a presidente tem responsabilidade - e muita - pela crise econômica (leia a reportagem na página 46). Mas os fatos políticos dos últimos meses, e em especial das últimas semanas, demonstram que a crise prolongada — política, social, criminal e econômica -é sintoma da ruína de uma era, uma era definida não por Dilma, mas por quem a concebeu politicamente: Lula, o pai. Trata-se de uma era em que o PT exerceu o poder por meio do fisiologismo do mensalão e do petrolão, abandonando, a partir do governo Dilma, a razoabilidade econômica e a conciliação política.

O fim da era Lula se determina pelo avanço das investigações da Lava Jato, que chegam cada vez mais perto do ex-presidente, e pela defesa amalucada, pelo PT, de empreiteiros do petrolão, com aplausos até para um tesoureiro preso. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, seja no petrolão, seja no esquema do governador de Minas, o petista Fernando Pimentel, revelam que não há mais espaço fácil para a corrupção sem freios da era Lula. O desastre nas contas públicas revela que o programa econômico do PT deu errado. A crescente influência de Eduardo Cunha revela, por sua vez, que não há mais espaço para que Dilma negligencie os demais atores políticos. E, por fim, a impopularidade do PT, que quebra recordes após recordes, revela que os brasileiros, cada vez mais, e apesar da reeleição de Dilma, não querem esse jeito de fazer, e pensar, política.

Lula decidiu - pois, não tenha dúvida, é ele quem decide as coisas no PT - no começo de 2009 que Dilma seria a candidata do partido a sua sucessão. Àquela altura, Dilma não era bolada, fã de mandioca ou ciclista de contas públicas. Pilotava, como ministra-chefe da Casa Civil, uma locomotiva política que tirava milhões da pobreza enquanto puxava a economia velozmente para a frente - para um futuro de prosperidade que finalmente chegara. Lula resolvia a política e unia um país dividido pelo mensalão; Dilma resolvia o governo e unia uma burocracia hostil ao trabalho duro. A locomotiva petista parecia irrefreável.

Nesse ambiente de euforia e triunfalismo, poucos aliados se opuseram ao nome de Dilma. José Dirceu e Antonio Palocci, os dois homens fortes do PT, que poderiam suceder a Lula, haviam tombado, vítimas da própria empáfia e do cálculo equivocado de que poderiam participar impunemente de esquemas de corrupção. Dilma era desconhecida do público. Tinha apenas a fama, trabalhada no marketing de João Santana, de gerentona. Alguns políticos e assessores mais atentos, contudo, temiam pelo temperamento de Dilma, pela aparente falta de vocação dela para a articulação política e, finalmente, duvidavam da capacidade da então ministra de tocar o governo. Um deles era o ministro das Relações Institucionais, o experiente José Múcio, hoje ministro do Tribunal de Contas da União. Lula perguntou a ele o que achava da candidatura de Dilma. "Todos em Brasília conhecem a Dilma, menos você", disse Múcio. Lula, que já havia escolhido Dilma, fez cara feia.

Os anos mostrariam o que Múcio queria dizer. A locomotiva de Lula e Dilma rodava com uma mistura de diesel importado e diesel batizado. O importado vinha de uma economia mundial que precisava muito, naquele momento, de matérias-primas como minérios e soja, produtos abundantes no Brasil. Com um combustível dessa qualidade, a locomotiva nem precisava de piloto. As barbeiragens econômicas não diminuíam a velocidade dela. Cedo ou tarde, porém, as necessidades da economia mundial mudariam, Foi o que aconteceu: o dinheiro de fora secou. As barbeiragens de Dilma prosseguiram. Ainda no primeiro mandato da petista, o trem começava a descarrilhar.

O diesel batizado, que garantia a estabilidade política, vinha da distribuição de cargos endinheirados no governo para partidos aliados. Numa palavra, do fisiologismo. Após comprar os aliados diretamente com dinheiro do mensalão no primeiro mandato, Lula, no segundo, descentralizou a corrupção que financia os políticos, seja na pessoa física (grana no bolso ou na Suíça), seja na jurídica (grana nas campanhas dos partidos). É o modelo tradicional de corrupção política 110 Brasil. Existe há décadas. Existia também no primeiro mandato de Lula, mas em menor escala, precisamente pela prevalência do mensalão.

Na locomotiva petista, nenhum vagão rodava com tanto combustível batizado quanto a Petrobras. Foi Lula quem nomeou Paulo Roberto Costa (cota do PP), o companheiro Paulinho, nas palavras do presidente, para a Diretoria de Abastecimento. Foi Lula quem nomeou Renato Duque (cota do PT) para a Diretoria de Serviços, Foi Lula quem nomeou Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional (cota do PT e do PMDB). Foi Lula quem nomeou, após a ida de Cerveró para a R Distribuidora, Jorge Zelada (cota do PMDB da Câmara) para a mesma Diretoria Internacional. Foi, enfim, Lula quem nomeou o ex-senador Sérgio Machado (cota do senador Renan Calheiros, do PMDB) para a Presidência da Transpetro. Algumas dessas nomeações aconteceram quando Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobrás – copilotava a locomotiva. Hoje, Paulinho, Duque e Cerveró estão presos; suas contas na Suíça, bloqueadas. Zelada, Renan e Sérgio Machado são acusados de receber propina no petrolão.

Ano passado, pouco antes da campanha que reelegeria Dilma, o mesmo José Múcio esteve no Instituto Lula. O ex-presidente perguntou-lhe o que achava do governo de Dilma, que já apresentava fissuras. "Agora todo o país conhece a Dilma, inclusive você", disse Múcio. Lula já estava acostumado a ouvir reclamações sobre Dilma. O que nenhum político ousava dizer a ele, mas Múcio deixara no ar, era a dura verdade: a responsabilidade pela escolha de Dilma recaía sobre Lula, Os erros dela eram, em certa medida, erros dele. Como os erros de um filho, muitas vezes, podem ser atribuídos a um pai -inclusive os erros de uma adolescente que, como na metáfora de Lula, são repetidos, apesar das censuras da figura paterna.

O Partido dos Trabalhadores vive, há pouco mais de dez dias, um destempero emocional Tentou pacificar os próprios militantes, que vinham se digladiando por causa do ajuste fiscal promovido pelo governo Dilma, num encontro em Salvador, entre os dias 11 e 13 de junho. O resultado da confraternização parecia promissor. Foi produzida a Carta de Salvador, que tem um tom ameno e conciliador. Típica e anacronicamente, no documento o partido culpa "a crise global do capitalismo" por seus problemas. Mas ainda sinaliza um apoio à cambaleante gestão de Dilma Rousseff. "Diante do cenário atual, em que o mundo sofre as consequências do terremoto da crise global do capitalismo, o PT vem a público apresentar propostas de superação das dificuldades do momento, ao tempo em que nos fiamos na determinação e competência do governo da presidenta Dilma para nos liderar nessa travessia", diz a carta. A palavra corrupção não foi citada uma vez sequer.

O desequilíbrio foi ficando latente conforme o cerco policial foi se fechando em tomo das empreiteiras que são alvo de investigação na Operação Lava Jato- Com a prisão de alguns dos maiores executivos do país, no dia 19 de junho, o discurso de "superação" do PT cedeu espaço a uma autocrítica agressiva. Quem a verbalizou foi justamente o petista-mor, o ex-presidente Lula. A Lava jato fora longe demais: prendera Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do Brasil — e um dos empresários mais próximos de Lula. Ele disse em um encontro com líderes religiosos na sede de seu instituto, em São Paulo; "Dilma está 110 volume morto, o PT está abaixo do volume morto e eu estou no volume morto. Todos estão em uma situação muito ruim5"Ainda que usasse uma metáfora jocosa, referindo-se ao passivo tucano da crise hídrica em São Paulo, chocou seus correligionários.

Num surto de sinceridade Lula prosseguiu com a depreciação três dias depois. Desta vez, em público. Ao lado do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, o ex-presidente desancou o partido que fundou. Disse que o PT está envelhecido e viciado em poder* Como no caso de Dilma, falava e se comportava como um observador distante, não como o político que criou e moldou o jeito petista de governar e se relacionar com o poder. "Não sei se o defeito é nosso, se o defeito é do governo. Mas eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça." Nunca antes na história deste país Lula falara algo tão duro contra seu partido e, assim, contra si mesmo.

A fala de Lula causou rebuliço. Na semana passada, petistas do governo e do Congresso se esforçavam para responder à questão: "O que Lula quer?" O ministro Edirtho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, foi o escolhido para abdicar de seus afazeres em Brasília e dar um pulo até São Paulo para ouvir do próprio Lula a resposta. Na conversa, Lula disse ao ministro que quer ser mais ouvido pelo governo, quer que suas opiniões sejam levadas em conta e que precisa se aproximar mais para poder defender a gestão de Dilma. Ainda naquela noite de quarta-feira, Lula também se encontrou com o presidente do PT, Rui Falcão. Selaram a paz. O resultado foi uma nova "resolução política", publicada pela Executiva Nacional do partido depois de um encontro que tomou toda a quinta-feira, 11a sede nacional do PT, numa rua estreita do centro de São Paulo.

O descontrole emocional completa, nesse documento, seu ciclo. O PT decide fazer uma defesa escancarada das empreiteiras da Lava Jato. Associa as investigações do petrolão à redução da maioridade penal, num contorcionismo ideológico movido a ácido. "Tão grave quanto as tentativas de reduzir a maioridade penal, de realizar a contrarreforma do sistema político-eleitoral e de comprometer o sentido progressista do Plano Nacional de Educação é a ação ilegal, antidemocrática e seletiva dos setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato" diz o documento. Mais adiante, a cúpula petista se diz preocupada com "as consequências para a economia nacional do prejulgamento11 das empreiteiras e pede pressa nos acordos de leniência,"que não paralisem obras ou se suspendam investimentos previstos, a fim de impedir a quebra de empresas e a continuidade de demissões daí resultantes".

A locomotiva petista descarrilhou de vez.

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Lula e seu companheiro de viagens

A Polícia Federal rastreia viagens de Lula ao exterior - entre elas as realizadas ao lado do lobista da Odebrecht Alexandrino Alencar, preso na Lava Jato

Thiago Bronzatto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acomodava-se no Gulfstream G2QO, avião executivo com altura de cabine de quase 2 metros, naquele 21 de maio de 2011. O jatinho é um dos maiores de sua classe, a executiva. Tem mesa de reunião, acabamento em madeira de lei e pontos USB para laptops. A viagem de cerca de 5.000 quilômetros do Panamá a São Paulo aconteceu na aeronave prefixo PR-WTR. Lula não estava sozinho. Voava ao lado do lobista da Odebrecht Alexandrino Alencar, preso recentemente na Operação Lava Jato, acusado de ajudar a empreiteira a operar as propinas do petrolão no exterior. Alexandrino pediu demissão na semana passada de seu cargo na Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Sergio Moro. Em seu despacho, Moro escreveu: "Além das provas em geral do envolvimento da Odebrecht no esquema criminoso de cartel, ajuste de licitações e de propina, há prova material de proximidade entre Alberto Youssef e Alexandrino Alencar" Naquele dia de maio de 2011, Lula passou pelo sistema de migração da Polícia Federal às 7h07; o lobista quatro minutos depois. Estavam juntos, como juntos estavam em mais aventuras do que admitem até hoje.

ÉPOCA obteve um relatório da PF com as entradas e as saídas do Brasil de Lula e do lobista Alexandrino entre 2011 e o início deste ano. Há a comprovação de duas viagens da dupla, que já haviam sido noticiadas (para Cuba e para Guiné Equatorial), e a revelação de que ambos estiveram juntos em mais quatro ocasiões (nessa viagem para o Panamá; numa outra para Colômbia, Peru e Equador; numa terceira para Portugal; e numa quarta para a África, passando por Angola e Gana). Além de atestar que a relação de Lula e Alexandrino era muito próxima, as planilhas da PF permitem, pela primeira vez, conhecer o sistema Uber particular de Lula - quem banca e como viaja o ex-presidente pelo mundo afora. São 78 trechos internacionais. As planilhas não identificam destino e origem das viagens. Mas apontam quem são os donos das aeronaves: em alguns casos, empreiteiras, bancos, importadores e companhias têxteis. Em outros, empresas alugando jatinhos de companhias de táxi-aéreo.

As viagens de Lula e Alexandrino não foram ocasionais. Os dois são amigos. Depois das viagens que faziam juntos, costumavam se cumprimentar com afetuosos beijos no rosto. Na sala de Alexandrino na sede da Odebrecht em São Paulo, uma foto com Lula dividia espaço com retratos de familiares do executivo. Quando se referia a Lula, Alexandrino o chamava de "presidente" ou de "chefe" - deferência não dispensada nem sequer ao próprio Marcelo Odebrecht.

Tamanha era a intimidade entre os dois que Alexandrino acompanhava Lula em reuniões e eventos restritos a autoridades de Estado, mesmo quando o tour não era bancado exclusivamente pela Odebrecht. Numa excursão pela América do Sul, Lula viajou com uma comitiva de executivos da OAS, da Camargo Corrêa, da Andrade Gutierrez e da onipresente Odebrecht - todas acusadas de participar do cartel do petrolão. A viagem começou pela Colômbia: Lula embarcou em 3 de junho de 2013, às 9h41, de São Paulo para Bogotá. Lula foi a bordo do mesmo jatinho que o levara ao Panamá, dois anos antes. O lobista da Odebrecht (Alexandrino, não Lula) havia embarcado horas antes, às 7h39, para a capital colombiana. Lá, eles se encontraram com o presidente do país, Juan Manuel Santos, e participaram de encontros com empresários. Lula e Alexandrino seguiram então para o Peru, onde foram recebidos pelo então chefe de Estado, Ollanta Humala. Em fotos oficiais, o lobista da Odebrecht aparece a um passo de Lula. Os dois não param de rir. O périplo político da dupla terminou no dia 8 de junho de 2013, data em que ambos regressaram ao Brasil, em voos diferentes.

Em encontros com autoridades estrangeiras, Lula sempre defendia o interesse das empresas brasileiras em fazer negócios com o país de destino. "Por isso, a gente fazia questão de bancar as viagens dele", disse um executivo de uma grande empreiteira antes de ser preso na última fase da Lava Jato. O investimento se mostrava certeiro. Em 13 de março de 2013, por volta das 8 horas, Lula e Alexandrino embarcaram no aeroporto de Guarulhos com destino a Nigéria, Benin, Gana e Guiné Equatorial. Quatro meses depois dessa passagem de Lula pela África, a Odebrecht ganhou um contrato de uma obra de transporte com o governo ganês, contando com US$ 200 milhões do BNDES. Em 17 de abril do mesmo ano, o presidente de Gana, John Mahama, visitou o Brasil para lançar o seu livro Meu primeiro golpe de Estado. Aproveitou para ter reuniões reservadas com Lula e representantes da Odebrecht, segundo telegramas do Itamaraty.

Em alguns casos, era o próprio Lula quem decidia quando e para onde queria viajar. Em mensagens de celular enviadas em 12 de novembro de 2013, Léo Pinheiro, presidente da construtora OAS, outro amigo de Lula preso na Lava Jato, e o diretor da área internacional da companhia, Augusto César Uzeda, acertavam detalhes dos preparativos para uma viagem do petista, a quem chamam de "Brahma". "O Brahma quer fazer a palestra dia 24/25 ou 26/11 em Santiago", diz Léo Pinheiro. "Amanhã começamos a organizar, o avião é por nossa conta", escreve Uzeda. No dia 26 de novembro, às 10h53, conforme o combinado, o ex-presidente passou pela imigração e, em seguida, embarcou no mesmo Gulfstream G200, alugado da Global Aviation. No Chile, ele participou do seminário Desenvolvimento e integração da América Latina. No dia 10 de dezembro de 2013, um consórcio integrado pela OAS, a sul-coreana Hyundai, a francesa Systra e a norueguesa Aasjakobsen venceu a licitação para a construção de uma ponte de 2.750 metros sobre o Canal de Chacao, considerado o mais longo da América Latina, depois de apresentar a única oferta. O valor estimado do investimento da obra é de US$ 680 milhões.

Numa viagem de Lula e Alexandrino para Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013, a Odebrecht pagou, por meio de sua parceira comercial D.A.G. Construtora, R$ 435 mil para fretar uma aeronave da Líder Táxi-Aéreo, segundo revelou o jornal O Globo em abril deste ano. Em 2011, Lula incluiu Alexandrino numa viagem à Guiné Equatorial em que ia como chefe da delegação brasileira participar da Assembleia da União Africana, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo.

Documentos obtidos por ÉPOCA revelam que empresas de diversos setores bancaram as viagens de Lula pelo mundo afora. Ainda no ramo das empreiteiras, no dia 5 de setembro de 2011, por volta das 11h30, o ex-presidente embarcou numa aeronave modelo Falcon 900EX Easy no aeroporto internacional do Recife. A operadora do jato é a Morro Vermelho Táxi-Aéreo, do grupo Camargo Corrêa - que, além de cobrir as despesas com o avião, doou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e repassou R$ 1,5 milhão para a empresa do líder petista LILS Palestras Eventos e Publicidade entre 2011 e 2013. Meses antes, em fevereiro, Lula viajara a bordo de um Cessna C750, da companhia têxtil Coteminas, do empresário Josué Gomes da Silva, e embarcara num Bombardier BD-700 Global Express, pertencente à mineradora Vale, com destino a Guiné, onde participou de um evento de início das obras de reconstrução de uma ferrovia.

Outros aviões de grandes empresários brasileiros também já estiveram à disposição das viagens do ex-presidente petista entre 2011 e 2014: o de Sérgio Habib, da montadora JAC Motors; o de José Seripieri Junior, dono da operadora de saúde Qualicorp; de Jonas Barcellos, da empresa de máquinas Brasif e conhecido como o "rei dos free-shop"; Marcelo Henrique Limirio Gonçalves, fundador da Neo Química e sócio da Hypermarcas, Além deles, de Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto, ex-ministro do Turismo no governo Lula e conselheiro de Administração da empresa de educação Kroton.

Procurada, a Odebrecht informou que pagou as despesas das viagens do ex-presidente para Angola, Gana, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana. A empresa ainda disse que o ex-diretor de relações institucionais, Alexandrino Alencar, acompanhou Lula a todos esses destinos — e que o executivo "não participava de reuniões do ex-presidente, além daquelas estritamente relacionadas às palestras que o ex-presidente faria" Além disso, a empresa confirma que fez doações ao Instituto Lula, mas não revela valores. A Camargo Corrêa, dona da Morro Vermelho Táxi-Aéreo, diz que patrocinou as palestras do ex-presidente Lula em Portugal, em setembro de 2011; em Moçambique e na África do Sul, em novembro de 2012; na Colômbia, em julho de 2013.

A Vale informou que Lula fez apenas uma viagem em aeronave da empresa. A Queiroz Galvao informa que contratou Lula para três palestras na América Latina e na África em 2011 e em 2013 como uma forma de patrocinar eventos promovidos por entidades de fomento ao desenvolvimento econômico e social. "Tais contratações se deram de forma legal e declarada aos órgãos competentes. Em nenhuma dessas situações houve utilização de aeronave de propriedade da empresa para transporte do palestrante", diz a companhia. A Brasif afirmou que cedeu ocasionalmente a aeronave para Lula, sendo algumas vezes a convite da própria empresa. O empresário Josué Gomes afirmou que, em 2011, o assunto já "foi o objeto de reportagens".

Sérgio Habib e Marcelo Henrique Limirio Gonçalves não responderam até o fechamento desta edição. Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto, por meio de sua assessoria, disse que Lula realizou 14 viagens entre 2013 e 2015 em sua aeronave Cessna Citation CJ3. Já a OAS disse que não vai responder ás perguntas feitas por ÉPOCA. Procurado, o Instituto Lula informou por meio de sua assessoria de imprensa que tem como política divulgar as viagens do ex-presidente ao exterior. "As viagens do ex-presidente Lula ao exterior não foram de turismo ou passeio. Foram dando palestras, falando bem do Brasil no exterior para investidores e autoridades estrangeiras, estimulando a participação de jovens na política e divulgando políticas sociais de combate à fome em eventos na África, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia", diz o Instituto Lula. "No caso de atividades profissionais, palestras promovidas por empresas nacionais ou estrangeiras, o ex-presidente é remunerado, como outros ex-presidentes que fazem palestras. O ex-presidente já fez palestras para empresas nacionais e estrangeiras dos mais diversos setores - tecnologia, financeiro, autopeças, consumo, comunicações - e de diversos países como Estados Unidos, México, Suécia, Coreia do Sul, Argentina, Espanha e Itália, entre outros. Como é de praxe, as entidades promotoras se responsabilizam pelos custos de deslocamento e hospedagem", complementa. "A maioria das viagens do ex-presidente ao exterior não foram pagas pela Odebrecht, que contratou palestras para empresários e convidados em países onde a empresa já atua", reitera. Além disso, o Instituto diz que todas as doações recebidas são contabilizadas e foram pagos todos os impostos correspondentes.

Conforme ÉPOCA revelou em maio, o Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal iniciou uma investigação para apurar se o ex-presidente praticou tráfico de influência internacional junto a chefes de Estado e autoridades em favor da Odebrecht, maior beneficiária dos financiamentos do BNDES no exterior. O MPF está analisando as relações entre O ex-presidente e a construtora baiana, sobretudo com o lobista Alexandrino Alencar. Lula está passando por uma turbulência sem fim.

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Direto nos mais pobres

Durante o governo Lula, os indicadores sociais melhoraram. Agora, essas conquistas estão ameaçadas

Marcos Coronato

Não foi por falta de aviso. O governo de Dilma Rousseff insistiu, até o fim de 2014, em um curso de ação que levava ao desastre inevitável. Os primeiros indícios apareceram há três anos. Havia sinais preocupantes nas contas públicas, na instalação, no investimento real e na disposição para investimentos futuros. Sempre que cobrada a respeito desses sinais evidentes de piora de cenário, até meses atrás, Dilma deu a mesma resposta, de novo e de novo, enquanto foi possível: o nível de desemprego, fator mais influente na satisfação popular, estava baixo. Neste ano, o desemprego, derradeiro argumento a embasar o discurso da presidente, voltou a crescer* Em maio, chegou a 6,7%, muito acima dos 4,9% no mesmo mês no ano passado. A renda média caiu também, 5% no mesmo período.

Junto com o desemprego, despertaram outros indicadores vergonhosos que o país vinha, nos últimos anos, subjugando, Entre eles estão o da população em pobreza extrema (que cresceu em 2013), o das famílias que não conseguem pagar suas dívidas (maior no início deste ano que nos anteriores), o dos trabalhadores na informalidade (que se estabilizou num nível ainda alto e começará a subir nos próximos meses) e o das mulheres que trabalham como empregadas domésticas (que voltou a crescer neste ano), Todas essas mudanças mostram que a vida piorou - principalmente a dos brasileiros mais pobres.

A melhoria desses indicadores ao longo da última década faz parte do legado com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de entrar para a história e ao qual seu partido, o PT, gostaria de ser associado. As melhorias, na verdade, começaram a ser gesta das com a estabilização econômica do governo Fernando Henrique, e se beneficiaram de um cenário externo favorável - como decorrência da má gestão econômica a partir de 2009, problemas que estavam encolhendo, e que ainda exigiriam uma boa década de progresso para chegar a níveis civilizados, pararam de recuar ou voltaram a crescer. É natural que eles piorem numa crise. Mas é trágico que parem de melhorar, após um período tão curto de evolução. Como não se sabe quão prolongada e severa será a crise econômica, os avanços estão sob ameaça.

Os efeitos aguardados para os próximos meses entram no planejamento de gente como a administradora Maure Pessanha, diretora da ONG Artemísia. Maure trabalha há 11 anos no apoio a negócios sociais - organizações que combinam fins lucrativos e sociais ao mesmo tempo, em frentes como educação e saneamento. Maure calcula já ter trabalhado com mais de 100 iniciativas do tipo. No Brasil, o segmento floresceu no ambiente estimulante dos anos 2000 e é tão novo que nunca passou por uma crise."Nos próximos meses, acreditamos que haverá mais gente demitida e precisando de apoio para criar um negócio próprio. Deve voltar a aumentar o número dos que empreendem por questão de sobrevivência", afirma.

Economia não é a ciência exata que desejariam muitos de seus professores, mas alguns fenômenos se seguem em ordem bem conhecida. Pode-se observar primeiro o que dizem a confiança dos empresários no futuro e os indicadores que antecedem a produção (como a contratação de energia, transporte e embalagens). Eles informarão muito sobre a atividade econômica nos meses seguintes. Daí, a influência se espalha para a confiança do consumidor no futuro e seu consumo de fato. Como o mercado de trabalho no Brasil tem regras rígidas, o nível de emprego tende a ser o último indicador afetado. Desde 2011, as más notícias percorreram esse caminho, até despertar o desemprego. Agora, será preciso fazer com que boas notícias o percorram, até haver uma reação do emprego.

As melhorias foram resultado natural do bom cenário internacional dos anos 2000, mas não apenas disso. Foi um período de crescimento global e de valorização dos produtos que o Brasil exporta, como soja e minério de ferro. O cenário global benigno facilitou o crescimento brasileiro. Mas não se deve negar mérito a Lula e sua equipe. Mesmo com o mundo ajudando, o país poderia não ter crescido tanto, não ter conseguido inspirar boas expectativas, como inspirou, não ter controlado as contas públicas ou a inflação, como controlou, ou não ter reduzido a extrema desigualdade de renda. Lula aproveitou a herança bendita do governo Fernando Henrique, que domou a hiperinflação, deu novo status ao controle das contas públicas e da inflação e interrompeu o indecente processo de concentração de renda vigente no país desde os anos 1970. Fernando Henrique e seu partido, o PSDB, porém, embora tenham saído do governo em meio a uma crise nacional e internacional, em 2002, não trouxeram de volta monstros que haviam liquidado. A inflação alta daquele momento não se comparava à hiperinflação que Fernando Henrique encontrou quando chegou ao governo. Lula e o PT ainda não estão nessa zona de tranquilidade e precisam preservar o legado. Atualmente, duas correntes disputam como fazer isso. A solução não virá de forma simples de nenhum dos lados do debate, ao contrário do que os simplistas dos dois lados tentam fazer crer.

Baixar juros na marra e manter gastos públicos em alta, como quer parte do PT, de outros partidos e organizações de esquerda, poderia melhorar alguns indicadores sociais no curto prazo. Mas faria o país mergulhar rapidamente num fosso de incerteza, alta inflação, baixo crescimento e nenhuma expectativa.

A solução oposta, elevar juros e conter o gasto público, foi a adotada pelo governo. Há sentido em adotá-la, mas isso não basta para trazer o país de volta ao rumo do crescimento. O ajuste ideal deveria ser feito com o máximo de corte no gasto público e o mínimo de elevação de juros. Mas temos um governo perdulário e mau gestor e um orçamento engessado. Assim, o ajuste é feito com um mínimo de corte de gastos e o máximo de elevação de juros. O efeito sobre a atividade econômica e o emprego é devastador. O economista Paulo Feldman, professor na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, faz um alerta a respeito - o ajuste atual também pode empurrar o Brasil para uma espiral maligna, em que o governo corre atrás de um ajuste impossível nas contas públicas, atrapalhado por seus próprios juros altos (que elevam a dívida pública) e pela queda de arrecadação de tributos (por causa da baixa atividade econômica). "A tentativa da Dilma de baixar juros no primeiro mandato deu errado porque ela não cortou gastos públicos e conteve de forma artificial os preços de energia e gasolina", diz. "Como resultado, a inflação antes represada veio com tudo nos últimos meses."

Ajuste das contas públicas e estabilidade econômica são condições necessárias, mas não suficientes, para gerar o tipo de crescimento forte que o Brasil requer para superar suas chagas sociais, isso exigirá empenho em outras frentes. Dilma mostrou serviço em algumas delas - o programa de privatizações em infraestrutura, o apoio às exportações e o agendamento de uma viagem aos Estados Unidos (leia em Nossa Opinião, na página 30). É de lamentar que tenhamos esperado tanto por elas.

Não há motivo para catastrofismo. A Indonésia, uma grande economia subdesenvolvida como o Brasil, sofreu um baque com a crise financeira da Ásia no fim dos anos 1990, um episódio muito mais severo que o vivido atualmente por aqui. Depois de anos de melhora, a parcela de indonésios abaixo da linha da pobreza subiu de 17,7% em 1996 para 24,2% em 1998. Passada a fase aguda da crise, em 1999, a pobreza logo voltou a cair. Dilma persistiu por tempo demais em políticas ruins. Como todo governo populista, centralizador e procrastinador nas reformas necessárias, pagará um preço. Só teve o azar de a conta chegar para ela mesma. O segundo mandato de Dilma será marcado pela derrota para a crise, o que seria péssimo para ela* ou pela vitória sobre a crise, o que seria apenas razoável para a presidente, já que ela mesma fabricou o monstro. Lula, porém, tem a perder algo muito maior - a forma como entrará para os livros de história.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Noticias de um outro mundo: documentando a mafia em acao - Guilherme Fiuza, Pedro Moura (Epoca)

O Brasil é realmente um país alucinante: assiste uma máfia completa comandando o país dos mais altos escalões, e não reage. Contempla, todos os dias, denúncias nos jornais desses mesmos assaltantes roubando centenas de milhões, e não reage.
O que mais falta para o país implodir, ou explodir?
Nada!
Mas nada acontecerá, para mais uma confirmação de que se trata de um país invertebrado...
Paulo Roberto de Almeida 


Lava Jato toca a campainha do Palácio
Guilherme Fiuza
Revista Época, 18/05/2015

O doleiro do petrolão afirmou, em delação premiada, que o Palácio do Planalto sabia do esquema. Citou pelo menos três ex-ministros de Dilma cujos nomes ouviu várias vezes nos momentos decisivos das operações criminosas. Alberto Youssef disse também aceitar acareações com qualquer um. O esquema bilionário que funcionou mais de década exatamente sob os governos do PT, operado por diretores da Petrobras nomeados ou protegidos pelo grupo político governante, chegou à sua hora da verdade. Ou o Brasil acredita que o doleiro Youssef botou a República debaixo do braço e fez o governo inteiro refém, ou o comando da quadrilha terá de aparecer.
Youssef afirmou, em seu depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba, que se sentia ""mais seguro" em suas operações criminosas por saber que tinha a proteção do Palácio do Planalto. Marcos Valério não chegou a dizer literalmente a mesma coisa, mas o julgamento do mensalão mostrou que ele também era assegurado pelo Palácio - tanto que o então ministro-chefe da Casa Civil acabou condenado e preso. Nos dois megaescândalos, dois tesoureiros do PT presos, acusados de participar de desvios de dinheiro de estatais para o partido. E o Brasil, chupando o dedo, não liga lé com cré e se recusa a entender que esse é um padrão de governo.
Aliás, "a única forma de governar o Brasil" — como Lula teria afirmado a José Mujica, ex-presidente do Uruguai. Os dois ex-presidentes naturalmente negaram que se tratasse do reconhecimento do escândalo, mas o livro que traz essa passagem é absolutamente claro ao contextualizá-la como referência ao mensalão. Um dos autores do livro, Andrés Danza, declarou não ter dúvidas de que assim a fala de Lula fora entendida por Mujica — com quem, aliás, Danza tem excelente relação. Possivelmente o ex-presidente uruguaio, chapa de Lula, achou que expondo a confissão de ""culpa" do colega brasileiro em relação ao escândalo iria humanizá-lo. É um tipo de humanismo que passarinho não bebe.
A tolerância do Brasil com os métodos escancarados do PT beira o masoquismo. A pessoa em quem Dilma Rousseff mais investiu para ser seu braço direito no governo chama-se Erenice Guerra, investigada em dois escândalos de tráfico de influência dentro do Palácio — este que Youssef diz que o fazia sentir-se seguro, o mesmo de onde foi engendrado o mensalão. É uma vertiginosa sucessão de coincidências. Ou então o Brasil gosta de apanhar.
Gosta porque não se mexe. Está esperando a Justiça capturar a quadrilha. E vai esperar sentado. A domesticação da corte máxima dessa Justiça apresenta neste exato momento mais um capítulo circense - talvez o de maior audiência, pelo que tem de bizarro. O país assiste à indicação de mais um soldadinho petista para o Supremo Tribunal Federal - um simpatizante do MST, para ter uma ideia do nível de aparelhamento a que está chegando a Justiça brasileira, esta que a platéia está esperando pegar os chefes do bando. O novo indicado por Dilma para o STF tem até site feito pela mesma pessoa que faz o do PT, provando que a independência não livra ninguém dos sortilégios da sincronicidade.
O Congresso Nacional teria a chance de devolver essa carta marcada ao Planalto, reprovando a indicação de Luiz Edson Fachin ao Supremo. Mas o Congresso é... o Congresso. E assim o país vai assistindo candidamente ao adestramento das suas instituições pelos companheiros progressistas, que conseguiram subjugar até as contas públicas — travestindo o balanço governamental através da contabilidade criativa e das já famosas pedaladas fiscais (tão famosas quanto impunes). Claro que a lavagem cerebral companheira já chegou forte a escolas de todo o país — sendo que até colégios militares andam sendo coagidos a ensinar o conto de fadas petista, coalhado de ideologias exaltando as pobres vítimas do capitalismo que mandam no Brasil (pelo visto, para sempre).
O Congresso Nacional está em cima do muro, o governo está atrás do muro e o Supremo está atrás do governo. Só o povo, com ou sem panelas, pode afrontar essa barricada no coração do Estado brasileiro e libertá-lo — exigindo que a Lava Jato siga o dinheiro até o fim. E levando a investigação até dentro desse Palácio que protege doleiros.

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A mãe de todas as delações
Pedro Marcondes de Moura
Época
Ricardo Pessôa é o primeiro dono de empreiteira a confessar crimes na Lava Jato. A colaboração dele jogará gasolina política no petrolão

Cercado por delegados federais e procuradores, zeladores do patrimônio público, o empreiteiro Ricardo Pessôa chorou. Não conteve a emoção ao ouvir elogios à capacidade e à qualidade de suas empresas, UTC e Constran. O empresário estava numa reunião na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, na quarta-feira da semana passada. A observação veio de um procurador, em tom de reprimenda, como quem diz "precisava mesmo ter participado disso?"
Nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Pessôa aparece com papel de destaque no organograma do petrolão, o esquema de cobrança de propina de construtoras e desvio da Petrobras. É apontado como coordenador do "clube das empreiteiras". Coordenava, pelo lado das construtoras, a definição de qual companhia ou consórcio do cartel venceria cada uma das licitações da Petrobras. Pagava propina também a diretores da estatal, operadores do esquema e políticos. Por isso, estava naquela sala acompanhado de cinco advogados, ao menos dois delegados federais e oito procuradores. Entre eles, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Assinava um acordo de delação premiada. No mesmo dia, começou a contar o que sabe, em troca de redução de pena e um provável direito de permanecer em liberdade. Foram cerca de cinco horas na primeira sessão de revelações. Comprometeu-se também a pagar uma multa de cerca de R$ 50 milhões. O acordo ainda precisa ser homologado pelo ministro Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo Tribunal Federal.
A delação de Pessôa jogará gasolina política no petrolão. Desde que a Operação Lava Jato chegou às principais empreiteiras do país, ele é visto como um delator com potencial explosivo. Suas revelações preocupam o Palácio do Planalto e as cúpulas do Congresso Nacional, do PT e do PMDB. Pessôa não é apenas alguém que corrompeu autoridades. Conviveu com elas. Tinha trânsito fácil nos principais gabinetes de Brasília. Recebia e era recebido, com afagos, por políticos de diferentes escalões interessados em recursos para campanhas e até em suas análises sobre o setor de obras públicas. A posição de líder no cartel também faz com que conheça com detalhes práticas irregulares de suas concorrentes. Antes de Lula, a UTC de Pessôa não era nada. Com Lula, virou um colosso.
Ficou claro, na quarta-feira e durante as negociações com os procuradores, o potencial da delação de Pessôa. O empreiteiro ofereceu informações que, caso comprovadas, mostrarão que o petrolão chegou também a outras estatais federais e ainda mais perto do Palácio do Planalto. Mas o empreiteiro promete mais do que confirmar parte das denúncias já investigadas.
De acordo com fontes que participam da organização da delação de Pessôa, o empresário afirmou que a UTC e outras empresas investigadas na Lava Jato atuaram em cartel nas obras da usina nuclear de Angra 3, da estatal Eletronuclear. Em contrapartida, desembolsaram propina a integrantes da bancada do PMDB do Senado. Disse também que contribuiu para o caixa dois da campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Uma declaração que, se comprovada, estabelecerá relação direta do esquema com Lula e mostrará que o PT insistiu no uso de dinheiro ilegal em campanhas, mesmo depois de descoberto o mensalão. Pessôa afirmou ter doado recursos para a última campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2014, de modo oficial, por temer eventuais retaliações em contratos. No período, a Operação Lava Jato já estava deflagrada. Disse também ter pagado cerca de R$ 2,4 milhões em dívidas de campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em 2012. Os pagamentos ocorreram, na versão de Pessôa, a pedido do ex-tesoureiro do partido João Vaccari. O PT e Vaccari negam qualquer irregularidade.
Desde o ano passado, Pessôa negociava a delação premiada. Esteve por vezes próximo de um acordo com os procuradores do Paraná. Mas as conversas empacavam. Ele temia as consequências pessoais e empresariais de confessar a culpa. Segundo integrantes das negociações, parecia acreditar que não ficaria preso. Negava-se a compreender que a situação se desenhava para passar vários anos encarcerado, como ocorreu com a ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello, no mensalão. Acabou ultrapassado, na fila da delação, pelo diretor presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Dalton Avancini, e pelo vice-presidente, Eduardo Leite. Foi quando mudou de estratégia. As tratativas com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, começaram há dois meses, antes mesmo de ele ser solto, por decisão do Supremo. Pessôa se comprometeu a fazer a delação, mesmo que fosse solto. Cumpriu a palavra. Sentindo-se abandonado por Lula, de quem se diz amigo, e pela Odebrecht, a quem diz ter ajudado no cartel, Pessôa, movido por vingança e cálculo, se convenceu de que a colaboração era sua melhor alternativa. Foram menos de dez reuniões até a assinatura do acordo na quarta-feira.
A delação de Ricardo Pessôa pode levar outros empreiteiros e integrantes do petrolão para a fila de delação. Eles sabem que, com os novos depoimentos, as acusações devem se tornar mais contundentes. Além disso, no mercado da delação, os benefícios são proporcionais à quantidade de informações novas. A cada acordo celebrado, o capital dos demais acusados se reduz. Até mesmo a doleira Nelma Kodama, já sentenciada a 18 anos de prisão, disse na semana passada que gostaria de colaborar com a Justiça. Nelma deixou isso claro durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, na terça-feira, em Curitiba. Em diversos momentos, ela divertiu os deputados. Em um dos momentos teatrais de seu depoimento, demonstrou onde guardava € 200 mil quando foi presa deixando o Brasil. De pé, explicou que o bolinho de dinheiro nem era tão volumoso e estava no bolso de trás da calça jeans, e não na calcinha, como dito na ocasião da apreensão. Arrancou risos dos parlamentares novamente ao cantar "Amada amante", de Roberto Carlos, para dizer que não teve só um caso com o doleiro Alberto Youssef. Viveu, segundo ela, ""maritalmente com ele do ano de 2000 a 2009". Só parou a canção ao ser repreendida pelo presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB): "Senhora Nelma, nós não estamos em um teatro". Já Luiz Argôlo, ex-deputado federal preso na Operação Lava Jato, prestou depoimento segurando um terço. Em atitude de pregador, declarou aos ex-colegas: Os humilhados, um dia, serão exaltados. Isso é bíblico". Na quinta-feira, Argolo e os também ex-parlamentares presos André Vargas e Pedro Corrêa foram denunciados pelo Ministério Público Federal, junto com outras dez pessoas. Começa a 11ª fase da Operação Lava Jato. Não será a última.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Petralhas: larapios ultra-rapidos, dilapidaram a Petralhabras em muitos bilhoes


O balanço auditado divulgado pela Petrobras informa que foram engolidos pela corrupção 6,2 bilhões de reais entre 2004 e 2012, período em que o Brasil foi governado por Lula e Dilma Rousseff.
Nove anos correspondem a 3285 dias. A cada 24 horas, portanto, foram desviados 1,9 milhão de reais. São 78.504 reais por hora. Ou 1309 reais por minuto. A cada cinco segundos, os quadrilheiros desviaram 110 reais. Nunca antes na história deste país se roubou tanto, com tanta velocidade. (Impávido Colosso).


Mensalao: Lula confessou ao presidente Mujica, do Uruguai - Polibio Braga

"Para Mujica, ficou claro que Lula falava do mensalão", diz autor de livro

Segundo Andrés Danza, um dos autores da biografia 'Uma Ovelha Negra no Poder', não restou dúvida para o ex-presidente uruguaio que Lula se referia ao escândalo ao dizer que teve de "lidar com muitas coisas imorais".
A entrevista é de Leonardo Coutinho, do site www.veja.com.br deste final de tarde. Ele ouviu Danza pelo telefone internacional.
Leia tudo:
Andrés Danza, um dos autores do livro Una Oveja Negra al Poder (Uma Ovelha Negra no Poder), confirmou a VEJA declaração do ex-presidente uruguaio, José Mujica, de que Lula se referia ao mensalão quando justificou a corrupção em seu governo. Uma frase de Danza publicada no site G1 nesta sexta-feira deu a falsa impressão de que ele estava negando o conteúdo do livro. Na frase em questão ("Não, Lula estava falando sobre as 'coisas imorais' e não sobre o mensalão. O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é dificil governar o Brasil sem conviver com chantagens e 'coisas imorais"), Danza apenas esclareceu que Lula não tinha usado especificamente a palavra "mensalão", embora tenha ficado claro para Mujica que era exatamente a esse escândalo que o brasileiro se referia. Ao relatar a conversa aos jornalistas que escreveram o livro, Mujica associou imediatamente a confissão ao escândalo que levou à prisão algumas das principais lideranças do PT e do governo Lula, como José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha. A seguir, a entrevista de Danza a VEJA:
O jornal O Globo publicou uma reportagem sobre seu livro, que causou muita repercussão porque revelou o conteúdo de uma conversa entre o ex-presidente José Mujica e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nele está a revelação de que Lula sabia o que se passou...
No mensalão.
Sim. Quais são os detalhes dessa conversa?
Foi uma conversa que Mujica teve com Lula antes de assumir a presidência do Uruguai, em 2010. Mujica viajou ao Brasil com o vice-presidente Danilo Astori. A conversa foi em Brasília. Mujica conta que Lula lhe disse que como presidente teve de lidar com questões imorais e chantagens, e que essa é a forma de governar o Brasil. Lula não usou especificamente a expressão "mensalão". Ele disse que a corrupção é alta no Brasil e que um presidente tem de lidar com questões imorais e chantagens. Embora a confissão que Lula fez sobre corrupção tenha sido genérica, para Mujica ficou claro que ele estava se referindo especificamente ao mensalão. Mujica disse a Lula que isso é algo típico de muitos países.

Como Mujica avaliou a afirmação de Lula de que não há como governar sem corrupção?
Mujica se preocupa com a corrupção. Vive de forma humilde e a combate. Ele não a defende. Mas ele defende Lula, com quem tem uma relação muito próxima. Ele considera que Lula não é corrupto e o vê como padrinho. Ele entende que Lula teve de conviver com a corrupção.
Mujica ficou incomodado com a repercussão dessa revelação?

Não falei com ele ainda. Mas é um trabalho jornalístico. Nós temos tudo mais que confirmado e por isso publicamos. Mujica participou do lançamento do livro em Buenos Aires, na semana passada. Faz muito tempo que nos conhecemos e há entre nós respeito profissional. Ele nunca exigiu que algo que disse fosse ou não publicado.

sábado, 18 de abril de 2015

A corrupcao engole, literalmente, o Brasil - Mary Anastasia O'Grady (WSJ)

A corrupção que sacode o Brasil - a visão dos estrangeiros
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O candidato derrotado à presidência do Brasil, Aécio Neves, parece falar em nome de muitos dos seus compatriotas quando diz que o PT e a presidente Dilma Rousseff utilizaram dinheiro roubado para derrotá-lo nas eleições presidenciais ocorridas no país em outubro de 2014.

No mês passado, em uma entrevista concedida a mim, em Lima, perguntei ao senhor Neves — que é presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) — se ele atribuía sua derrota nas eleições ao fato de o socialismo proposto pela senhora Rousseff, que é da esquerda linha-dura, possuir maior apelo entre os brasileiros do que o programa do PSDB, que era um pouco mais amigável ao mercado.
Ele negou essa possibilidade.  Segundo ele próprio, ele perdeu por causa de um "crime organizado".
O senhor Neves, ex-governador do estado de Minas Gerais, não estava se referindo à máfia.  Ele estava falando sobre um esquema de corrupção implantado no núcleo da Petrobras, a empresa estatal de petróleo do país.  Promotores afirmam que empreiteiras contratadas pela Petrobras participaram de um esquema de superfaturamento envolvendo a diretoria da empresa e partidos políticos da base aliada do governo (no Brasil, os partidos da base aliada indicam políticos para a diretoria de operações da empresa). 

Nesse esquema, as empreiteiras superfaturavam os preços de suas obras, a Petrobras pagava o valor superfaturado para as empreiteiras, e estas, em troca, remetiam uma fatia desse dinheiro superfaturado — cujo valor total, estima-se, chega a 30 bilhões de dólares — para políticos de partidos da base aliada do governo, entre eles o PT, como forma de agradecimento pelo superfaturamento.  Isso destruiu o capital da Petrobras.

O PT gastou uma assombrosa quantia de dinheiro na campanha eleitoral para vencer as eleições, e parece estar cada vez mais claro que ele só conseguiu fazer essa gastança por causa dos milhões que recebeu ilegalmente desse esquema de corrupção na Petrobras.  Se isso se comprovar verdade, isso foi de fato um crime, e muito bem organizado.

E os escândalos continuam surgindo a uma velocidade arrepiante.  É como se a cada fiapo que você puxasse em um cobertor, ele se levantasse e revelasse não somente um, mas vários esquemas ilícitos que estavam escondidos. 

E o grande risco é que, mesmo com novos esquemas de corrupção sendo revelados quase que semanalmente, a população brasileira não aprenda a mais importante das lições: sim, a justiça deve punir os corruptos, mas o que realmente gerou toda essa bagunça foi o tamanho do estado brasileiro, cujo poder e gigantismo abrangem todos os setores da economia brasileira.
Com um estado que intervém em todos os setores da economia, e que controla diretamente várias empresas, de nada adianta você apenas trocar indivíduos corruptos por indivíduos "mais honestos".  Isso não irá eliminar as causas da corrupção.

No Brasil, empresas estatais são controladas por políticos.  Consequentemente, a tentação de utilizar a dinheirama que passa por essas estatais — principalmente nos momentos em que os preços das commodities estão em ascensão e o dinheiro se torna farto — sempre será irrefreável.  Esperar que políticos não se aproveitem desses recursos é como imaginar que a raposa gerenciará sensatamente um galinheiro repleto de galinhas gordas.

Mas esse esquema entre estatais e empreiteiras, envolvendo superfaturamento, fraudes em licitações e desvio de recursos das estatais para o pagamento de propina a políticos é tão antigo e tão básico, que é impressionante que apenas agora as pessoas demonstrem surpresa com ele.
Toda a esquisitice já começa em um ponto: por que os políticos disputam acirradamente o comando das estatais?  Por que políticos reivindicam a diretoria de operações de uma estatal?  Que políticos comandem ministérios, vá lá.  Mas a diretoria de operações de estatais é um corpo teoricamente técnico.  Por que políticos?  Qual a justificativa?

Quem acompanha o jornalismo político já deve ter percebido que os partidos políticos que compõem o governo federal não se engalfinham tanto na disputa de ministérios quanto se engalfinham na disputa para a diretoria de estatais.  É óbvio.  É nas estatais que está o butim.  As obras contratadas por estatais são mais vultosas do que obras contratadas por ministérios.  O dinheiro de uma estatal é muito mais farto.  E, quanto mais farto, maior a facilidade para se fazer "pequenos" desvios.
Isso, e apenas isso, já é o suficiente para entender por que políticos e sindicalistas são contra a privatização de estatais.  Estatais fornecem uma mamata nababesca. 

Quando políticos e sindicalistas gritam "o petróleo é nosso", "o minério de ferro é nosso", "a telefonia é nossa", "a Caixa é nossa", eles estão sendo particularmente honestos: aquele pronome possessivo "nosso" se refere exclusivamente a "eles", os únicos que ganham com todo esse arranjo.
Mas a necessidade de privatização das estatais não está apenas no campo ético.  Há também argumentos técnicos e econômicos.

Em primeiro lugar, em qualquer empresa que tenha como seu maior acionista o Tesouro nacional, a rede de incentivos funciona de maneiras um tanto distintas.  Eventuais maus negócios e seus subsequentes prejuízos ou descapitalizações serão prontamente cobertos pela viúva — ou seja, por nós, pagadores de impostos, ainda que de modos rocambolescos e indiretos.

Os problemas de haver empresas nas mãos do estado são óbvios demais: além de o arranjo gerar muito dinheiro para políticos, burocratas, empreiteiras ligadas a políticos, sindicatos e demais apaniguados, uma empresa ser gerida pelo governo significa apenas que ela opera sem precisar se sujeitar ao mecanismo de lucros e prejuízos.

Todos os déficits operacionais serão cobertos pelo Tesouro, que vai utilizar o dinheiro confiscado via impostos dos desafortunados cidadãos. Uma estatal não precisa de incentivos, pois não sofre concorrência financeira — seus fundos, oriundos do Tesouro, em tese são infinitos.
Por que se esforçar para ser eficiente se você sabe que, se algo der errado, o Tesouro irá fazer aportes?

O interesse do consumidor — e até mesmo de seus acionistas, caso a estatal tenha capital aberto — é a última variável a ser considerada.]
Se a senhora Rousseff está sendo honesta ou não quando diz que não sabia de nada sobre esse esquema de corrupção na Petrobras, é o de menos.  Seu maior problema, como o senhor Neves deixou implícito, é que as acusações colocaram em cheque a legitimidade de sua apertada vitória nas eleições (por uma margem de aproximadamente 3%).  Enquanto seu partido luta para rebater as acusações, e alguns de seus mais importantes membros estão sendo presos, a senhora Rousseff já está sem moral para governar.

No dia 15 de março, um número estimado em 1,5 milhão de brasileiros foi à ruas, em todo o país, para protestar contra o governo.  Uma recente pesquisa do Datafolha mostra que 60% da população consideram o governo da senhora Rousseff "ruim" ou "péssimo".
Se a economia estivesse pujante, a reação pública a essas revelações de corrupção poderia ser diferente.  Só que essa crise política não poderia ter vindo em pior momento para o bolso dos brasileiros.  A inflação de preços acumulada em 12 meses está em 8,13%, a moeda se desvalorizou acentuadamente no mercado mundial, a economia ficou parada em 2014, e estima-se que, em 2015, ela encolherá mais de 1%.

A senhora Rousseff nomeou para o Ministério da Fazenda o economista Joaquim Levy, formado em Chicago e com boa reputação no mercado financeiro.  Até o momento, seu plano de governo se resume a um retorno à disciplina fiscal.  Só que ele precisará da ajuda dos aliados do PT — dentre eles o poderoso Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) — no Congresso.  Por ora, eles têm se mostrado relutantes; e, quando aceitam ajudar, a senhora Rousseff tem de arcar com o custo político do ajuste.  Logo, mesmo que o senhor Levy seja bem-sucedido em ajustar as contas do governo, a popularidade da senhora Rousseff pode não se recuperar.

Os escândalos de corrupção tendem a se arrastar por causa de seu tamanho e complexidade.  No mês passado, o tesoureiro do PT, João Vaccari, foi acusado de solicitar as "doações" das empreiteiras — com o dinheiro da Petrobras — para o partido.  Em um depoimento perante um comitê há duas semanas, o senhor Vaccari negou qualquer transgressão. [Nota do IMB: e hoje ele foi preso].
Um dos principais problemas para a Petrobras foi o fato de o governo ter proibido a participação de empresas estrangeiras nos processos de licitação.  Isso incentivou um cartel das empreiteiras nacionais, todas elas protegidas pelo governo.  O Ministério Público já acusou três ex-presidentes da Petrobras [José Eduardo Dutra, Sergio Gabrielli e Maria das Graças Foster] e mais vários outros presidentes de grandes empreiteiras brasileiras [Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e IESA Óleo & Gás] pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro.  Há também quase 50 políticos pertencentes a vários partidos sob investigação.

Os protestos contra a corrupção são um indicador da vitalidade da sociedade civil brasileira.  A independência do judiciário também é uma boa notícia.  O pequeno time de promotores é bem treinado.  Um trabalho investigativo de alta qualidade vem sendo feito não obstante os poderosos indivíduos envolvidos.  Em um país que vem sofrendo para acabar com a impunidade, isso é um grande feito.

Mas não é o bastante.  A questão premente ainda segue intocada: quando a classe política se envolve na gerência de empresas, a corrupção se torna institucionalizada.  Punir os escroques é necessário, mas ainda insuficiente.  O grande problema a ser atacado, e que é a causa de tudo, é o fato de o governo ser o dono de empresas.

Mary Anastasia O’Grady é editora do The Wall Street Journal e faz a cobertura de eventos da América Latina.
Fonte: Instituto ludwig von Mises Brasil