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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A elevacao continua da diplomacia brasileira para as alturas do condor - Editorial do Globo

Editorial O Globo, 28/08/2013

Embora haja ainda muito a esclarecer sobre a história da retirada do senador boliviano Roger Pinto Molina do confinamento de 455 dias na embaixada em La Paz, pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia, o caso parece ser mais uma demonstração de como o profissionalismo outrora reconhecido do Itamaraty foi corroído por interesses partidários e simpatias lulopetistas pelo nacional-populismo bolivariano-chavista hegemônico na Bolívia.

A defenestração do chanceler Antonio Patriota é apenas parte do enredo. Dizendo-se surpreendido pelo desfecho da operação executada pelo encarregado de negócios da embaixada, Eduardo Saboia — filho do embaixador aposentado Gilberto Vergne Saboia, conhecido pela atuação na defesa dos direitos humanos —, não havia mesmo como o chanceler continuar no cargo. Sem ter conseguido se impor minimamente no ministério de Dilma, Patriota já não contava com a simpatia da centralizadora presidente, segundo se dizia há tempos.
Nas entrevistas seguras que concedeu depois de cruzar a fronteira em veículos diplomáticos, sob a segurança de fuzileiros navais brasileiros, o diplomata foi claro: já comunicara ao ministério que poderia tomar uma decisão de emergência por razões humanitárias, devido ao estado de saúde de Molina, obrigado a ficar num cubículo, sem pouco contato com o mundo exterior. Situação diferente de Julian Assange (Wikileaks), também forçado de forma abusiva pelo governo inglês a acampar na embaixada equatoriana em Londres, mas onde concede entrevistas e recebe visitas.
Até que desmentidos comprovados convençam do contrário, o governo Dilma, com o Itamaraty de agente, aceitou passivamente que o governo boliviano de Evo Morales não concedesse o salvo conduto ao senador de oposição, para vencê-lo por fadiga psicológica. A atual política externa brasileira assumiu o papel indecoroso de carcereiro, contra os princípios da diplomacia do velho Itamaraty. Foi traída uma política de Estado de sempre colocar o Brasil ao lado de boas causas do ponto de vista ético.
Mas a flexibilidade da espinha dorsal desta política externa de ocasião não parece ter limites. A Bolívia já expropriou refinaria da Petrobras sem um resmungo de Brasília, que também aceitou fazer parte de uma operação sibilina com a Argentina e Uruguai para trocar o velho aliado Paraguai pela Venezuela chavista no Mercosul.

O novo ministro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, logo será testado, diante do provável pedido de extradição que a Bolívia encaminhará. O senador é acusado na Justiça de corrupção, mas a independência do Judiciário boliviano tem o valor de uma folha de coca ao sopé dos Andes. Valerá para Pinto Molina o que valeu para o esquerdista italiano Cesare Battisti, condenado na Itália por homicídio, mas acolhido pelo PT, ou não?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A diplomacia estudantil, segundo Elio Gaspari

Elio Gaspari
 O Globo, 28.08.2013

A doutora Dilma tem dois chanceleres, um no Planalto e outro no Itamaraty. Apesar disso, restou ao Brasil uma diplomacia trapalhona, cenográfica e inepta. A desova do senador Roger Pinto no território brasileiro transformou uma conduta inamistosa do governo da Bolívia numa estudantada brasileira. Custou o lugar ao chanceler Antonio Patriota. Ele vai para Nova York, mas o comissário Luis Inácio Adams continua advogado-geral da União.
O doutor sustentou que, caso um médico cubano peça asilo territorial no Brasil, será devolvido a Cuba. Agradando ao aparelho dos irmãos Castro, ofendeu a História do país e o Direito.
No ano passado o Brasil meteu-se noutra estudantada, expulsou o Paraguai do Mercosul e agora corteja seu governo. É uma diplomacia de palavrório e negócios. Patriota foi um detalhe.
A ideia segundo a qual o encarregado de negócios do Brasil em La Paz contrabandeou o senador até a fronteira com o Brasil porque se apiedou de seu estado emocional é pueril. Se os embaixadores começassem a ser orientados pelos seus sentimentos, seria melhor fechar a Casa.
A boa norma determina que um governo dê o salvo-conduto a um asilado em algumas semanas. No exagero, alguns meses. O presidente Evo Morales não quis fazer isso. Direito dele.
O ex-presidente peruano Haya de la Torre ralou cinco anos numa sala da embaixada da Colômbia em Lima. O cardeal Jozef Mindszenty, outros quinze na embaixada dos Estados Unidos (que não são signatários das convenções de asilo diplomático) na Hungria.
Se alguém pensou que combinou a fuga com Evo Morales, fez papel de bobo e transformou o algoz em vítima. Transferiu o vexame para o diplomata Eduardo Saboia, deixando-o numa posição de franco-atirador.
Coisa parecida, fez no mundo dos negócios, quando transferiu para o embaixador do Brasil em Cingapura uma transação meio girafa que favorecia os interesses do empresário Eike Batista.
A maneira como a diplomacia de Lula e da doutora lidou com o instituto do asilo revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de brasileiros perseguidos por motivos políticos. Ele ampara gregos e troianos.
Em 1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana. Anos depois oficiais golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias.
Carlos Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas estrangeiras.
Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras.
Contudo, nem mesmo Médici deportou estrangeiros para países onde poderiam ser constrangidos. Isso ocorreu durante a gestão do comissário Tarso Genro no Ministério da Justiça, com dois boxeadores cubanos que, posteriormente, voltaram a fugir da Ilha.
O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo.

Elio Gaspari é jornalista.

Claudio Humberto: "política externa cabisbaixa e submissa"

PATRIOTA FEZ DO ASILO DE MOLINA UMA PRISÃO POLÍTICA
Coluna de Claudio Humberto, 27/08/2013
 
O ex-chanceler Antonio Patriota interrompeu só uma vez sua atitude omissa e acovardada, durante os 452 dias de asilo do senador Roger Pinto Molina. Ainda assim, para atormentar a vítima, em nome do “bolivarianismo”. Ele foi a La Paz tornar o asilo do perseguido do regime de Evo Morales uma “prisão política”, ordenando restrições a banho de sol, proibindo visitas e segregando-o a cubículo sem janela.

QUE VERGONHA
Segundo diplomatas, a estratégia de Patriota, para bajular o regime de Evo Morales, era vencer Molina pelo cansaço e fazê-lo se entregar.

CRUEL COVARDIA
A ordem cruel do gabinete de Patriota para tomar celular e computador de Molina jamais foi confirmada por escrito, como exigiram diplomatas.

INSISTÊNCIA 
Além das visitas pessoais ao Itamaraty, o diplomata Eduardo Sabóia enviou vários telegramas a Patriota pedindo a solução do caso Molina.

BONS PROFISSIONAIS
Como o pai, embaixador Gilberto Sabóia, o diplomata Eduardo Sabóia deixa admiradores por onde passa. Washington foi seu posto anterior.

COVARDIA E SUBMISSÃO MARCAM POLÍTICA EXTERNA
O ex-chanceler Antonio Patriota não recusava chance de mostrar como sua política externa era feita à sua imagem e semelhança: cabisbaixa e submissa diante da arrogância da Venezuela e das desfeitas da Argentina e do regime de Evo Morales. Em março, por exemplo, Evo criou um pretexto para inviabilizar o salvo-conduto ao senador Roger Molina, vetando na mesa de negociações o embaixador, Marcel Biato. Em vez de prestigiar o colega diplomata, Patriota cedeu ao cocaleiro.

PROCESSO NELE
O presidente da OAB-DF, Ibaneis Rocha, foi direto ao ponto: Patriota deveria ser processado por omissão, no caso do senador asilado.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Brasil: politica externa imovel (ao que parece) - Marcos Degaut


Diplomacia do Imobilismo, por Marcos Degaut

 
 
 
 
 
 
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Boletim Mundorama
De forma geral, a projeção externa do Brasil cresceu nos últimos quinze anos, apesar de os resultados dessa ampliação da agenda internacional serem duvidosos, quando não francamente negativos. De fato, nos últimos anos, o Brasil não foi bem sucedido na condução das três linhas mestras de sua política externa. A Rodada Doha, no âmbito da OMC resultou em fracasso, assim como a tentativa brasileira de liderar um bloco de países unidos por supostos interesses comuns; As discussões relativas à reforma do Conselho de Segurança da ONU empacaram, com a consequente retirada do tema da ordem do dia. A integração econômica na América do Sul não só avançou, como regrediu.
Apesar dos parcos resultados, para os quais certamente contribuíram a ideologização das decisões e a politização das negociações comerciais,  pelos menos era possível identificar as diretrizes principais da política externa, o que não parece ser o caso agora. A diplomacia brasileira, que deveria traduzir nossos interesses na arena internacional, está completamente sem rumo e sem bússola. Mas, quais seriam esses interesses? Quais são as prioridades de nossa política externa?
Para além da retórica oficial de reforma da governança global de alteração da geografia econômica do globo, a análise da atual política externa indica não haver identificação clara de nossos principais objetivos econômicos e políticos, tampouco a formulação de uma agenda internacional consistente e integrada.
O tripé mencionado, no qual o Brasil apostava suas fichas, é coisa do passado. O Mercosul, sob qualquer ponto de vista, está estagnado e sem perspectivas. Não avança e impede que o Brasil se desenvolva e firme acordos bilaterais com outras nações, como têm feito Colômbia, México, Chile e Peru, países que mais têm crescido na América Latina. Não possuímos políticas específicas para Estados Unidos, China e Argentina, nossos parceiros estratégicos e comerciais mais importantes. Poucas vezes, a relação Brasil-EUA foi tão fria e distante; para a China, praticamente nos limitamos a exportar commodities; com a Argentina, que sistematicamente descumpre as normas do Mercosul, exercemos suprema tolerância, mas sem qualquer visão maior de longo prazo. A Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) foi esquecida e caiu na irrelevância. A ênfase conferida ao BRICS não condiz com a realidade do bloco, uma frágil comunidade de interesses na qual o potencial para divergências é maior do que o espaço para cooperação.
O Itamaraty tem sido incapaz de detectar sua arena de atuação, que descortine ao Brasil oportunidades para ampliar sua visibilidade e capacidade de diálogo nos grandes temas de interesse regional e mundial. Isso pode ser consequência de uma interpretação equivocada e ideológica da realidade internacional, da dualidade de interlocução externa, causada pela forte influência exercida pelo Assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, pela inapetência e desconhecimento da Presidente Dilma por assuntos de política externa ou mesmo pelo obsoleto modelo de formação de nossos futuros diplomatas.
O fato é que perdemos pragmatismo e visão de longo prazo. Atualmente, possuímos uma diplomacia parnasiana, com muita forma e pouco conteúdo, a qual manifesta acentuado empirismo e penosa carência de paradigmas. Adotamos apenas medidas tópicas e descoordenadas, sem atentarmos que um conjunto de ações dispersas não configura uma estratégia coerente. A própria eleição do embaixador Roberto Azevedo para a Direção-Geral da OMC não deve ser creditada a algum planejamento estratégico do Itamaraty ou ao governo brasileiro. Azevedo conseguiu viabilizar sua candidatura ao construir incansavelmente, ao longo dos últimos quinze anos, sólida reputação de técnico equilibrado e profundo conhecedor das regras multilaterais de comércio. Sua respeitabilidade e credenciais impecáveis o levaram a superar resistências externas e internas e a fazer com que o MRE e o Governo Dilma acabassem por embarcar em sua candidatura.
Política externa não se faz no vácuo. Um país com o peso econômico do Brasil não pode se contentar com uma diplomacia reativa e conformista sempre a reboque dos acontecimentos, que pouco influencia as relações internacionais, mas sofre em demasia os efeitos das políticas dos Global Players.
A fim de assegurar a defesa do interesse nacional e auxiliar na missão de retomada do crescimento, é fundamental a definição das prioridades de política externa, com a necessária elaboração de uma agenda internacional pró-ativa e de uma estratégia de atuação por meio da qual possamos nos antecipar a novas circunstâncias e desafios. A persistir o estado atual, continuaremos exercendo o papel de coadjuvante de luxo, aplaudindo as iniciativas de países mais arrojados, mas exercendo pouca ou nenhuma influência na elaboração das políticas globais.
Marcos Degaut é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, doutorando em Ciência Política pela University of Central Florida, Especialista em Inteligência e em Economia Política Internacional (mdegaut@hotmail.com).

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Muito peso e nenhuma medida: a diplomacia brasileira e os casos doParaguai e da Venezuela

DILMA E PATRIOTA: DOIS PESOS..., DUAS MEDIDAS!
Eliane Catanhede
Folha de S.Paulo, 23/04/2013

Até aqui, o Brasil tratou de modos distintos as questões internas do Paraguai e da Venezuela. O ex-bispo Fernando Lugo foi deposto em tempo recorde, mas pelo Congresso e pela Justiça e com apoio da Igreja Católica e um certo conformismo da população. Apesar disso, o Brasil articulou a suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.

Já Maduro foi eleito por margem muito apertada de votos e num processo sob suspeição --tanto que há recontagem--, mas Dilma correu a reconhecer a vitória e cumprimentá-lo já no primeiro minuto. Dois pesos, duas medidas.

A demora de Dilma para telefonar ao paraguaio Cartes e a versão de que há pressões para que o Congresso do país aprove a Venezuela no Mercosul são maus prenúncios. Liderança é uma coisa, arrogância é outra bastante diferente.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Paraguai: depois das eleicoes, novas definicoes diplomaticas?

Editorial (sempre violentamente anti-brasileiro) do principal jornal paraguaio.
Antes uma pequena notícia:
Relações Exteriores
Patriota: não há data para retorno do Paraguai aos blocos regionais



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Itaipú y Yacyretá, prioridades para el nuevo gobierno

Editorial ABC Color, 22/04/2013
Desde que el dictador Alfredo Stroessner entregó servilmente a Brasil y Argentina el control discrecional de las usinas hidroeléctricas binacionales mediante sendos tratados negociados a espaldas del pueblo soberano, la política exterior paraguaya asumió una postura timorata y claudicante.
Esa miserable entrega de nuestra soberanía hecha por el déspota hizo que perdiéramos nuestra raison d’État, aceptando implícitamente la condición de “prisionero geopolítico” que ambas naciones limítrofes históricamente buscaron imponernos por diversos medios a través de una perversa diplomacia coercitiva. Humillante maleficio que hasta ahora nuestros gobernantes no han sido capaces de deshacer y que es la causa principal de nuestro rezago económico.
La recuperación del valor de esa razón de Estado original y su inteligente aplicación a los desafíos del presente son las dos grandes tareas que tiene por delante el gobierno del presidente electo Horacio Cartes. Resulta obvio que la renovación de nuestra diplomacia debe llevar en cuenta los grandes cambios de circunstancias que han tenido lugar con el paso del tiempo, tanto en la vida nacional como en la región y el mundo. La diplomacia contemporánea del Paraguay debe estar en consonancia con riesgos y oportunidades desconocidos a los fundadores de la primera República de la América del Sur. Pero sería un error desestimar la acertada visión que ellos tuvieron en su tiempo de los hechos y de las circunstancias que gravitaron en torno a los intereses nacionales, o considerar que esa óptica ya no sirve para anticipar muchos de los dilemas que hoy enfrenta nuestra nación en un mundo globalizado y una región ideológicamente fragmentada.
Por más de que en última instancia se admita que la visión diplomática de los Padres de la nacionalidad en su intransigente defensa de la soberanía nacional ya no se adecua a los tiempos actuales, ella, no obstante, seguirá reflejando cierto credo de autoestima acerca de la significación del Paraguay en la historia suramericana; lo que fue, lo que es y lo que será como Estado pivot enclavado entre dos grandes naciones, tradicionalmente rivales, que seguirán tapujándose por la primacía de sus intereses en nuestro país.
Más aún, con las grandes usinas hidroeléctricas compartidas, que constituyen componentes clave de la seguridad nacional de los países condóminos, Paraguay se ha convertido para ellos en un imprescindible aliado estratégico, por más que hasta ahora por arrogancia se nieguen a reconocer esta irónica realidad geopolítica. Si hasta hoy ellos se muestran reacios a reconocer como corresponde cuán importante es el Paraguay para sus intereses, eso se debe también, en gran medida, a que nuestra diplomacia no ha sido suficientemente hábil para colocarse a la altura de los desafíos y oportunidades que permanentemente tenemos en las relaciones con nuestros vecinos y socios.
En ese sentido, nuestra diplomacia debe convencer a Brasilia y Buenos Aires de que acepten a nuestro país como un socio estratégico, en vez de considerarlo un coto de caza, como hasta ahora. Lo que de ninguna manera aceptamos más los paraguayos es que nuestros vecinos y socios pretendan continuar explotando descaradamente nuestros recursos naturales engatusándonos con lisonjas y prebendas. La piedra angular de la diplomacia paraguaya ha sido siempre el principio de que todos los países son iguales y que todas las naciones tienen su dignidad. Ni Francia ni López aceptaron jamás que Brasil o Argentina les escribieran libretos de comportamiento ni roles a cumplir, y el Mariscal Francisco Solano López prefirió sucumbir al frente de sus últimos soldados antes que someterse a la voluntad de los verdugos de nuestra patria.
En más de 200 años de vida independiente, solo el autócrata Alfredo Stroessner embarró esa límpida tradición diplomática del Paraguay con la vil entrega de nuestra soberanía en ITAIPÚ y YACYRETÁ, mediante la firma de tratados leoninos diseñados por Brasil y Argentina para apropiarse indebidamente de la valiosa energía eléctrica generada en las gigantescas usinas construidas no con el dinero de los contribuyentes brasileños y argentinos –como falazmente han pregonado siempre nuestros socios– ,sino con recursos propios autogenerados por las propias centrales impulsadas por las aguas del caudaloso río Paraná de las que Paraguay es copropietario en partes iguales con sus vecinos ribereños.
El nuevo gobierno debe reinventar la diplomacia de Carlos Antonio López como la primera línea de defensa de los intereses nacionales, con la mira puesta en el desarrollo del país hasta el máximo nivel posible, posibilitando que el Estado genere las condiciones para proporcionar prosperidad y felicidad a los ciudadanos, incluido lo atinente a otros estándares, como democracia y derechos humanos, sin caer en desvaríos ideológicos perturbadores. Ese debe ser el máximo objetivo del gobierno colorado de Horacio Cartes si aspira a producir el cambio que lleva aguardando la expectante ciudadanía desde hace más de un cuarto de siglo. La clave del éxito diplomático del nuevo gobierno será la habilidad para combinar el credo nacional paraguayo a nivel estratégico, con la prudencia y flexibilidad inherentes a las relaciones internacionales.
La nación paraguaya fue y continúa siendo una sociedad pacífica, porque tiene la profunda convicción de que la lógica de la fuerza es siempre enemiga de la libertad. Por eso se ha adherido invariablemente a los principios universales que rigen las relaciones internacionales para defender sus derechos e intereses, tanto en lo político como en lo comercial, dejando siempre en claro que por ningún motivo está dispuesta a renunciar a su libertad de acción para proteger su soberanía y sus legítimos intereses. Prueba de esta determinación es que sus fronteras son íntegramente fronteras de guerra, regadas con la sangre generosa de sus hijos.
En última instancia, el desafío que enfrenta la diplomacia paraguaya de cara a la actual crisis del Mercosur no pasa por el dilema de retirarse o permanecer dentro del mismo, sino por la forma en que nosotros los paraguayos concebimos nuestra responsabilidad como país socio y los métodos para precautelar nuestros derechos dentro del bloque comercial, a modo de asegurarnos que nuestros socios no vuelvan a pisotear los acuerdos solemnemente concertados, ni valerse de los mismos para inmiscuirse en nuestros asuntos internos, violentando impunemente nuestra soberanía.
En cuanto a la indignante situación que el país sobrelleva en ITAIPÚ y YACYRETÁ desde hace cuarenta años, llegada es la hora de poner fin a esa claudicación de soberanía que la nación paraguaya tiene el derecho de repudiar porque la humilla, y le perjudicó y le perjudica en sus legítimos intereses. Para el efecto, nuestra diplomacia debe adoptar un curso de acción pragmático. Más allá de las inequidades y abusos de los respectivos tratados que deben ser rectificados, lo que ahora el nuevo gobierno debe exigir al Brasil y a Argentina es la revisión de los mismos y un acuerdo que nos restituya nuestra soberanía hollada en virtud de los leoninos tratados. De hecho, Paraguay debe reclamar el fin del manejo arbitrario de las usinas por parte de nuestros socios y la libertad de disponer libremente de la energía eléctrica que le pertenece. Si Argentina y Brasil se niegan –como es seguro que suceda– invocando el lírico principio del “pacta sunt servanda” con que siempre corrieron a los timoratos Presidentes de la República paraguayos, nuestro Gobierno debe recurrir sin más demora a las instancias internacionales de justicia, como la Corte de La Haya y la Organización Mundial de Comercio, en demanda de sus justos reclamos.
Mientras tanto, con litigio o sin litigio en proceso, las usinas binacionales continuarán operando normalmente. Y como ellas interceptan el espectro de la seguridad nacional de Brasil y Argentina, más temprano que tarde, ambos socios tendrán que atender nuestro justo reclamo. La problemática de ITAIPÚ y YACYRETÁ configura el máximo desafío que tiene por delante el gobierno del presidente electo Horacio Cartes. Un histórico desafío que desde la defenestración del tirano Alfredo Stroessner ningún Presidente de la República se ha animado a encarar, más por venalidad que por falta de determinación.
La memoria colectiva de esta humillación que sufre desde hace cuarenta años la nación paraguaya nos remite al coraje que tuvo el presidente boliviano Evo Morales cuando se le plantó al bravucón presidente del Brasil, José Ignacio “Lula” da Silva, exigiéndole el fin de la inicua explotación comercial de que era víctima Bolivia por parte de ese país con el mísero precio que le pagaba por su gas. Brasil se resistió a la justa exigencia boliviana, amenazando incluso con el empleo de la fuerza militar, pero el presidente Morales se mantuvo firme en su demanda hasta obtener lo que exigía.
Llegó la hora en que el Paraguay también debe defender con dignidad y firmeza sus derechos y soberanía hoy pisoteados por Brasil y Argentina.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Patriotadas - Mary Zaidan (Blog do Noblat)

Enviado por Mary Zaidan - 07.04.2013 |
Blog do Noblat, 16h26m

Política

Patriotadas, por Mary Zaidan

O governo norte-coreano informou sexta-feira que não poderá garantir a segurança de representações diplomáticas instaladas na capital Pyongyang. De pronto, o Brasil decidiu não fechar a embaixada que nem aberta deveria ter sido.
Pelo menos é o que se depreende da fala do ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota ao tentar explicar a importância da presença brasileira em terras que sequer registram brasileiros residentes, e que, por ano, têm troca comercial irrisória, de pouco mais de R$ 370 milhões. Sem rir, disse que com a embaixada o Brasil passou a ter informações “de primeira mão”, deixando de depender da “imprensa ocidentalizada”.
Pelo jeito Patriota crê que a mídia não controlada do Ocidente é menos confiável do que as informações da ditadura de Kim Jong-un, que agora brinca de ameaçar o mundo com uma guerrinha nuclear. Deve achar normal também o Brasil ter instalado nos últimos 10 anos nada menos do que 62 embaixadas, boa parte em lugares exóticos como Tuvalu, com menos de 13 mil habitantes, Burkina, Butão, Samoa, Palau, Ilhas Fiji, Nauru e Névis.
Desde que Celso Amorim instituiu no Itamaraty a supremacia partidária acima das questões de Estado, a diplomacia brasileira caminha trôpega. Isso, quando caminha.
Laços fraternos com presidentes do Irã Mahmoud Ahmadinejad e da Síria Bashar al-Assad, erros crassos em Honduras, emissão farta de passaportes diplomáticos para amigos e familiares do ex-presidente Lula são algumas marcas de que Amorim deveria se envergonhar.
Com Dilma já eleita, enquanto 80 nações condenavam a lapidação, tendo como símbolo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, o Brasil postou-se junto aos progressistas Angola, Benin, Butão, Guatemala, Marrocos, Nigéria e Zâmbia, omitindo-se.
Patriota começou valente. Por um momento, até pareceu que corrigiria rumos. Mas qual o quê.


Na América do Sul, ficou de cócoras frente aos desmandos da argentina Cristina Kirchner, que continua a sobretaxar e a dificultar a entrada de produtos brasileiros em seu País. Faz vista grossa à falsa democracia venezuelana. E é incapaz de agir em defesa dos cidadãos brasileiros no exterior. Que o digam os 12 presos em regime fechado, há quase dois meses, acusados de forma genérica da morte de um jovem durante o jogo San José x Corintians, em Oruro, interior do País do amigo do peito Evo Morales, para quem Lula fez campanha.
Uma década de diplomacia esquizofrênica, expansionista, caríssima e nada eficaz. Que cada dia está mais distante dos fóruns que importam no mundo; que preferiu ser parceira do atraso. Mas isso é pura intriga da “imprensa ocidentalizada”.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan
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IstoÉ, 06/04/2013 | 19:04
O patriotismo torto de Patriota
Atuação burocrática e deslizes diplomáticos desgastam o chanceler Antonio Patriota, que recebe ultimato de Dilma
Claudio Dantas Sequeira

PUNHOS FRÁGEIS
De Dilma para o ministro Antonio Patriota:
“Ou demonstra liderança ou deixa o cargo”
A diplomacia é a expressão internacional dos interesses de uma nação. É feita de gestos discretos sim, mas também de ações contundentes. Desde que assumiu o comando do Itamaraty há mais de dois anos, o chanceler Antonio Patriota aferrou-se à primeira parte da sentença. Mantém uma postura discreta, burocrática, uma espécie de timidez funcional. Não bastasse isso, acumulou deslizes diplomáticos e, em consequência, perdeu espaço na Esplanada. Irritada com os erros e especialmente com a falta de iniciativa do subordinado, a presidenta Dilma Rousseff tem evitado recebê-lo e já mandou o recado: ou Patriota demonstra a liderança que seu cargo exige ou aposenta seus punhos de renda. A última vez que o ministro pisou no gabinete de Dilma foi em 22 de janeiro, quase três meses atrás. “Ele tremia durante a audiência”, relata um assessor. O medo só acentuou o desgaste que começou há quase um ano.

O primeiro vacilo de Patriota, segundo assessores palacianos, foi na visita da presidenta aos Estados Unidos em março do ano passado. O encontro quase protocolar, sem honras de chefe de Estado, decepcionou Dilma, que havia recebido o colega americano Barack Obama em Brasília, com toda pompa, um ano antes. Esperava-se, aliás, que as relações bilaterais com os EUA avançassem significativamente na gestão de Patriota, considerando que o diplomata conhece a fundo a cultura e a política daquele país. Foi embaixador em Washington e casou-se com uma diplomata americana, Tania Cooper, funcionária da ONU e filha de Charles Cooper, afamado ex-oficial de contra-inteligência do Exército americano. O que se viu, porém, foi o efeito inverso. As relações diplomáticas esfriaram e as exportações recuaram, apesar de os EUA terem mantido o Brasil no sistema geral de preferências.

Outro flagrante tropeço da gestão de Patriota foi a demora em agir para tentar evitar o processo de impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo. Apesar dos alertas da embaixada sobre a deterioração da governabilidade do bispo, o chanceler brasileiro só reagiu quando a destituição de Lugo era um fato consumado. Dilma foi pega de surpresa e restou ao governo brasileiro retirar seu embaixador de Assunção, em protesto ao que chamou de “golpe parlamentar” que levou Federico Franco ao poder.

A mais recente trapalhada da diplomacia brasileira, e que irritou profundamente Dilma, deu-se na terça-feira 26, em março. Graças a uma mediação malfeita por Patriota, a presidenta passou pelo constrangimento de tomar um chá de cadeira de mais de uma hora do presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Motivo: o sul-africano conversou mais tempo do que o previsto com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Contrariada com a desorganização, Dilma voltou ao hotel onde havia se hospedado para participar da 5ª cúpula de chefes de Estado dos Brics, grupo das mais importantes economias emergentes, que o Brasil integra com Rússia, Índia, China e África do Sul. A chateação fez com que ela desistisse de participar de todo o jantar de gala.
Assédio diplomático
Em nenhuma carreira pública o corporativismo é tão forte como na diplomacia. Uma tradição que serve ao sigilo decorrente de uma atividade sensível, mas que acaba justificando atos pouco transparentes e abusos funcionais. Quando era cônsul-geral em Toronto, em 2007, Américo Fontenelle foi investigado após denúncias de comportamento “agressivo, discriminatório e humilhante”. O caso foi mantido em segredo e ninguém foi punido. Agora, Fontenelle volta a ser alvo de denúncias de excessos. Oito funcionários do Consulado-Geral do Brasil em Sydney, na Austrália, apresentaram um abaixo-assinado pedindo a abertura de processo disciplinar contra o embaixador e o conselheiro-adjunto Cesar de Paula Cidade, acusados de assédio moral e sexual, homofobia, discriminação e abuso de poder. O caso está sendo investigado pela Comissão de Ética, que deve apresentar um parecer até o final do mês.
Vem ganhando contornos dramáticos também a situação dos 12 torcedores do Corinthians presos em Oruro, na Bolívia. Acusados pela morte de um jovem torcedor boliviano, os brasileiros são submetidos a humilhações e torturas. A embaixada em La Paz trabalha intensamente para conseguir a libertação do grupo, mas carece de apoio político de Brasília. ISTOÉ denunciou os maus-tratos e até a cobrança de propina a autoridades diplomáticas. Na quinta-feira 4, Patriota foi ouvido em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Pressionado, deu declarações genéricas e disse ter “esperanças” de que o caso se resolva em breve. Para o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que preside a Comissão, Patriota precisa de “um banho de povo”. “A coisa já ganhou forma de crise diplomática”, alerta.

No Palácio do Planalto e em embaixadas consultadas por ISTOÉ, a impressão de autoridades e diplomatas é de que falta um norte político para o Itamaraty. Foram relegadas as iniciativas de integração regional e desapareceu da pauta a briga por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essas duas diretrizes alimentaram por anos as ações do Itamaraty, justificando a abertura de novas embaixadas. A esperança é que a candidatura de Roberto Azevedo à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) possa cumprir parte desse papel, ainda que pontualmente. A eleição é em maio.
Foto: Adriano Machado
SUA OPINIÃO
COMENTÁRIOS
(12)
J.Lima
EM 07/04/2013 19:56:45
E as irregularidades envolvendo o Consulado Brasileiro em Miami, quando "explodirá" na mídia brasileira?
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Roberto
EM 07/04/2013 17:57:38
Alem de ser patrulhado pelo partido é desprovido de liderança e carisma.
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MariaAparecida
EM 07/04/2013 03:30:52
Isto é deveria fazer uma matéria sobre os abusos dos Embaixadores em todas as embaixadas no mundo. E como sugestão para a Presidenta, leve o fantástico embaixador no Reino Unido para substituir o Patriota, pois esse já virou um Semi Deus.
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leila
EM 07/04/2013 02:54:25
presidente Dilma, Leve por favor toda essa curriola do Patriota como esse embaixador Paulo soares de Jakarta. Imagine a senhora o que passamos nos brasileiros relis mortais se a Presidente passou por situacoes tao delicadas como as aqui narradas
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Paulo
EM 07/04/2013 02:21:58
Levem de volta o embaixador Fontenelle , pelo amor de Deus. Esse tipo de gente deve ser secretario do Patriota em Brasília.
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sexta-feira, 5 de abril de 2013

More of the same, and same of the more: Brazilian diplomacy - Marcelo de Paiva Abreu

Entre desejos e realidade
Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S. Paulo, 1/04/2013

Beira a monotonia insistir em que o Brasil, na presidência de Dilma Rousseff, desistiu de ter política externa própria, inclusive no terreno econômico. O processo de satelitização de Brasília em relação a Buenos Aires é sem precedentes na história da diplomacia brasileira. Resulta, em parte, da reconhecida ojeriza da presidente ao Itamaraty, o que abre mais espaço para o miolomolismo de seus assessores diretos na área externa. Isso a despeito de sucessivos revezes: na pretendida mediação iraniana, na diplomacia hoteleira em Honduras, na trapalhada paraguaia, etc. A ênfase continua a ser em laços estreitos com o bolivarianismo, agora pós-chavista, e o neoperonismo na versão Fernández de Kirchner. Mas não se deve deixar de levar em conta a maleabilidade do Palácio dos Arcos às imposições do Planalto. Em outros tempos, a instituição ofereceu maior resistência às pressões dos donos do poder.

Em meio ao clima de expectativas positivas quanto a um possível acordo comercial entre os EUA e a União Europeia (UE), pode ser detectado algum otimismo, em círculos empresariais nos EUA e no Brasil, em relação a ressuscitar a ideia de um acordo comercial entre o Brasil e os EUA. Tal otimismo está baseado em ilusões, com a intensidade do desejo prevalecendo sobre a realidade dos fatos.

A longa história das fracassadas negociações para alcançar a integração hemisférica é conhecida. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi objetivo importante para sucessivos governos dos EUA pelo menos desde o início da década de 1990. De Brasília, o projeto foi encarado com desconfiança por duas razões principais. No plano político, havia relutância quanto ao alinhamento a Washington e às possíveis limitações à diplomacia brasileira em escala global. No plano econômico, foi percebido bem cedo que o governo norte-americano não estava preparado para convencer os "interesses especiais" nos EUA, preponderantemente no setor agrícola, a fazer as concessões que seriam a contrapartida às possíveis concessões brasileiras no que se refere à proteção de bens industriais e às regras associadas a temas como propriedade intelectual, investimento direto, serviços e compras públicas. Era como se Washington pretendesse generalizar a estratégia de negociação adotada no Nafta, definida com base na maior competitividade da agricultura dos EUA em relação à mexicana. Mas, nas negociações da Alca, o Brasil era demandeur em agricultura e punha a agricultura norte-americana na defensiva. O outro tema econômico de interesse do Brasil era a limitação do escopo para o uso de medidas discricionárias de defesa comercial, tema que os EUA insistiam em que deveria ser tratado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Essas dificuldades já haviam emergido claramente no governo FHC. Com a posse do governo Lula, houve ênfase redobrada nas limitações políticas à integração hemisférica. A Alca virou anátema num quadro em que foi fortalecida a "política externa de massas". No plano econômico, a insistência dos EUA em retirar da mesa de negociações tanto subsídios agrícolas quanto defesa comercial, para tratamento na OMC, levou à proposta brasileira de fazer o mesmo com os temas não tradicionais. A Alca ficou tão "light" que se dissolveu no ar. Mas o funeral foi protelado até 2005.

A argumentação dos que acreditam que houve mudança significativa nas condições que ditaram o fracasso da Alca em 2005 está calcada em argumentos políticos e econômicos. No terreno político, alega-se que a consolidação do País como potência regional e seu avanço para tornar-se potência mundial teriam eliminado o risco de "cristalização da assimetria de poder entre EUA e Brasil". O diagnóstico deixa de lado a óbvia fragmentação que marca hoje a América Latina, entre o bloco chegado às diversas vertentes do populismo (Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela) e os países que têm adotado políticas mais consequentes: Chile, Colômbia, México e Peru. Também não parece razoável subestimar as fricções quanto à liderança regional entre Brasil e México. E as pretensões brasileiras em relação à diplomacia global têm sido marcadas por recorrentes decepções.

Por outro lado, e mais importante, não é possível perceber mudança significativa quanto à desconfiança do governo em relação a uma aproximação política aos EUA. Tal desconfiança talvez pudesse ser minorada pela ação de diplomatas profissionais, mas, com o Itamaraty perdendo espaço para o Planalto, isso se tornou bem pouco provável.

No terreno econômico, os argumentos estão centrados na ideia de que a ascensão da China teria tornado menos relevante o problema da concorrência norte-americana. E de que um possível acordo EUA-UE poderia atenuar o protecionismo agrícola nos EUA. Os argumentos não se sustentam. De fato, a concorrência chinesa tende a tornar mais entranhadas as resistências protecionistas da indústria brasileira. E, sendo a Europa notoriamente ineficiente na agricultura, é difícil perceber como um futuro acordo EUA-UE poderá contribuir para abrir o mercado agrícola norte-americano.

Os fatos mostram que o relançamento das negociações da Alca é muito improvável. A despeito dos desejos.

* Marcelo de Paiva Abreu é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Politica Externa brasileira: alguem perdeu o rumo - Luis María Ramírez Boettner

O único problema deste artigo do ex-ministro das relações exteriores do Paraguai, e ex-embaixador no Brasil, é que ele acredita que o Itamaraty perdeu o rumo. Não parece, embora sempre seja possível que isso ocorra. O mais provável é que outras pessoas, em outros lugares, tenham perdido completamente o rumo, se é que algum dia tiveram...
Paulo Roberto de Almeida

¿Itamaraty perdió el rumbo?
Luis María Ramírez Boettner
ABC Color (Paraguai), 3 Febrero 2013

Esta pregunta surge al observar el comportamiento de Itamaraty (Ministerio de Relaciones Exteriores de la República Federativa del Brasil), desde el 29 de junio de 2012, al patrocinar junto con la República Argentina y la República Oriental del Uruguay, en la cumbre de Mendoza del Mercosur, la suspensión del Paraguay de su participación en los Foros del Mercosur. Esta medida arbitraria, ilegal, e ilegítima fue tomada a raíz del juicio político en el cual se destituyo por mal desempeño en sus funciones al expresidente Fernando Lugo.

Decimos que esta resolución tomada por los tres Presidentes del Mercosur es arbitraria, porque conforme al Tratado de Asunción, no tienen la competencia de aprobar resoluciones del Mercosur. Es ilegítima porque el juicio político, una de las figuras contempladas en la Constitución del Paraguay, no constituyó ningún golpe de Estado ni alteración de las instituciones y las libertades públicas, incluyendo la de expresión y de prensa. Y decimos que es ilegal porque el artículo cuarto del Protocolo de Ushuaia I de 1998, establece claramente que debe haber un diálogo entre los miembros del Mercosur, incluyendo el país afectado.

El Brasil tiene experiencia con los juicios políticos, como lo demuestra el que tuvo lugar en 1992, contra el expresidente Collor de Melo quien, al ver que iba a ser condenado, renunció ante la acusación por la Cámara de Diputados, siendo reemplazado, inmediatamente, por el vicepresidente Itamar Franco. Con esto se demuestra que no es una institución disparatada y ajena a los regímenes políticos democráticos vigentes, y podemos citar otro ejemplo: la renuncia de Richard Nixon, presidente de los Estados Unidos de América, en 1974, quien de esta manera evitó el impeachment, sucediéndole en el cargo Gerald Ford.
Itamaraty, que mantiene una embajada en Paraguay con gente capacitada y bien entrenada, debió comprobar “in situ” que no había una alteración del orden público, que regía una plena democracia y que no había restricción al exmandatario ni a ninguno de sus excolaboradores, en una palabra que no existía golpe de Estado, que la asunción del mando del vicepresidente de la República, Dr. Federico Franco, era el proceso normal constitucional, al ser destituido el presidente Lugo. ¿Por qué entonces este ensañamiento de Itamaraty, juntamente con la Argentina, primero en suspender al Paraguay del Mercosur y luego tratar de suspender toda actuación paraguaya en todos los foros internacionales, inclusive de Naciones Unidas? Porque en donde se va a realizar una reunión internacional, Itamaraty amenaza al país anfitrión de su no comparecencia si el Paraguay asiste, como lo ha hecho en la Cumbre Iberoamericana en Cádiz, España, o lo acaba de hacer con Chile, donde se ha celebrado la Cumbre Celac-UE. Inexplicable.

No sabemos las causas, pero sí nos demuestra que Itamaraty perdió el rumbo, perdió el liderazgo en las relaciones internacionales, perdió esa apariencia majestuosa como institución de las relaciones internacionales, que a través de los años, desde la época de José María da Silva Paranhos Junior, Barón del Río Branco, Gran Canciller (1902-1912), perdió la hegemonía que tenía en las relaciones internacionales del Brasil, que pasó a manos de Marco Aurelio Garcia, asesor de la Presidente de la República, que le hace marcar el paso, le guste o no le guste sus actuaciones a Itamaraty. ¿Dónde está el canciller del Brasil?

Mi relacionamiento con Itamaraty es de larga data. Comenzó con la magnífica visita que hiciera al Paraguay el presidente Getulio Vargas en julio de 1941. Con esa visita se inicia una nueva etapa de relacionamiento entre los dos países que estaban de espaldas desde la Guerra de la Triple Alianza.

Posteriormente fui representante de Naciones Unidas en Brasil de 1972 a 1980 y embajador de la República del Paraguay en Brasil de 1992 a 1993, en que fui trasladado a Asunción como ministro de Relaciones Exteriores; y ahí existió un estrecho relacionamiento tanto en lo bilateral y multilateral, y por eso me atrevo a hablar en esta forma franca y abierta, buscando soluciones a la situación actual.

En agosto de 1941 fui invitado para visitar Itamaraty y conocer su organización. Con estas visitas se abre un relacionamiento entre ambos países que culmina con el presidente Juscelino Kubitschek, cuando se firman los Tratados en 1956 del camino al Brasil, que la Argentina lo consideraba inamistoso para su país, los acuerdos del Puerto Franco en Paranaguá, los acuerdos para los estudios hidroeléctricos del río Paraná, que dieron lugar al nacimiento de Itaipú, los convenios comerciales, uno general y otro fronterizo, y que se inicia un entendimiento entre ambas cancillerías. Ese cordial entendimiento continuó en forma amplia durante los dos periodos (1995-2003) de la presidencia de Fernando Henrique Cardoso y sus sucesores.

Había un diálogo abierto, franco, y muy cordial y ahora de repente no hay ningún diálogo, pareciera que el Paraguay no existe para Itamaraty. Es inexplicable este comportamiento y solamente podemos pensar que todo esto ha sido fraguado para dejar de lado al Paraguay, que se oponía al ingreso de Venezuela al Mercosur, por la acción gubernamental del presidente Hugo Chávez en lo político y en lo económico y pareciera que los intereses brasileños hacia Venezuela son más fuertes, más profundos que la amistad con el Paraguay. Como lo demuestra también el comportamiento del Brasil hacia Venezuela en estos momentos, donde abiertamente se viola la Constitución venezolana e Itamaraty no ve o no quiere ver lo que sucede en Venezuela.

Abogo por un entendimiento entre ambos países, como el que se inicia en esa etapa difícil, después de la guerra de la Triple Alianza contra el Paraguay; no esta nefasta coalición que se quiere revivir en los tiempos actuales. Han dejado de lado por esos egoístas intereses comerciales y económicos la antigua recomendación del Barón del Río Branco, que patrocinaba la necesidad de tener un vecino (Paraguay) tranquilo, próspero y amistoso. Ha roto Itamaraty ese esquema y está actuando en forma agresiva, pareciera rencorosa o vengativa; de lo contrario no es posible entender su forma de actuar con Paraguay.
Si quieren rectificar la medida de suspensión del Paraguay, arbitraria, ilegal e ilegítima, los Estados Partes del Mercosur Argentina, Brasil y Uruguay, deben aplicar, en la brevedad, el artículo 7 del Protocolo de Ushuaia I sobre Compromiso Democrático en el Mercosur.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O que sera' que vao dizer nos corredores da Casa Grande?

Essa é fácil de responder:
"-- Mas você viu quem escreveu? Aquele jornalista de direita, que odeia o PT e o governo..."
Pois é, gente assim não tem nenhuma credibilidade, só merece o nosso desprezo...
E depois, não foi a Economist que criticou...
Mais um pouco e vamos passar a acreditar que todos os problemas derivam mesmo dos escritos de jornalistas mal intencionados.
Com o que se encontra plenamente justificado o "controle social da mídia".
CQD...
PRA

Dilma vai visitar uma ditadura Africana. E a fala de uma tal Edileuza…
Reinaldo Azevedo, 15/02/2013

Nos dez anos de governo petista, o Itamaraty, em nome do suposto pragmatismo, fez uma aliança preferencial com todas as ditaduras do planeta — desde, é claro, que os países em questão alimentassem ou as fantasias antiamericanistas de setores do petismo ou a conversa mole de uma política externa autônoma. Mais vagabundo moralmente do que essa proximidade é o discurso que a justifica. Leiam isto:

“Dilma mesma disse que, quando se trata de direitos humanos, todos podem melhorar, inclusive nós”. A frase, que leio em reportagem da Folha, é da subsecretária-geral política do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis. Já houve uma Edileuza mais interessante: a empregada folgada e desbocada do humorístico “Sai de Baixo”, interpretada, então, pela atriz Cláudia Jimenez.

A que se referia esta senhora? Na próxima quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff visita a Guiné Equatorial, governada, desde 1979, por um carniceiro chamado Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Escreve a Folha: “Na próxima quinta, Dilma participa da 3ª Cúpula ASA, que vai reunir representantes de 66 países da América do Sul e da África. Segundo a embaixadora Maria Edileuza, o encontro não é um foro de negociação de direitos humanos, mas de consolidação de laços econômicos, em especial na área de infraestrutura, energia e transportes.”

Edileuza, como a sua xará, não se contenta com uma besteira. Prefere logo dizer uma penca. A propósito: em 2010, Lula também visitou o país. Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, classificou os questionamentos sobre direitos humanos de “críticas moralistas” e despejou, para nossa estomagação: “Negócios são negócios”.

Então vamos ver, pela ordem:
1: quando Dilma pronunciou aquela bobagem, estava sabem onde? Em Cuba! Chegara ao país pouco depois de um dissidente morrer na cadeia. Ao afirmar que todos tinham explicações a dar sobre direitos humanos, inclusive o Brasil, omitia o fato de que a ilha dos irmãos assassinos mantém presos de consciência e usa o aparelho repressivo do estado para esmagar adversários, a exemplo do que faz o tal Mbasogo. Comparações dessa natureza tornam democracias imperfeitas, como a nossa, piores do que são, e ditaduras asquerosas, como Cuba e Guiné Equatorial, melhores do que são;

2: não me oponho ao fato de que, nas relações externas, “negócios são negócios”. A China, em muitos aspectos, é uma Guiné Equatorial com séculos de tradição… Não faremos negócios com os chineses por isso? Bobagem! A questão é outra. Há modos de tratar do assunto. É perfeitamente possível deixar claro o repúdio a ditaduras, lembrando, no entanto, que um país não impõe a outro condicionantes dessa natureza no comércio internacional;

3: reduzir a preocupação com direitos humanos à mera “pregação moralista” é um ato de pura delinquência intelectual. De resto, é mentira até mesmo que o Brasil seja sempre pragmático. Infelizmente, é também ideológico;

4: tomem-se dois casos exemplares: Honduras e Paraguai. No primeiro, um movimento contragolpista depôs um bolivariano maluco, Manuel Zelaya; no segundo, um processo legítimo de impeachment derrubou Fernando Lugo.  O Brasil reagiu de maneira estúpida: tentou levar a guerra civil a Honduras, em apoio a Zelaya, e suspendeu o Paraguai do Mercosul, abrindo as portas para um ditador como Hugo Chávez.

O Brasil não precisa, de fato, impor uma pauta de direitos humanos aos países com os quais faz negócio. Mas poderia se dispensar do vexame de tentar minimizar as violências cometidas por “ditadores amigos”.
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Enquanto isso, em outras esferas...

O Globo, 16/02/2013
O vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodorin Nguema Obiang Mangue, estava em Salvador quinta-feira quando a Justiça francesa expediu mandado de prisão contra ele, no processo em que responde por lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos estrangeiros. Mangue, que é filho do atual presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, deixou a capital baiana na noite da mesma quinta-feira, em avião oficial do governo de seu país.

Ele passou o carnaval em Salvador, deu grandes festas privadas, foi fotografado com autoridades como o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB), e participou do desfile do bloco afro Ilê Aiyê, que este ano saiu com o tema “Guiné Equatorial — da herança pré-colonial à geração atual”, em referência à luta contra a discriminação racial e à valorização da cultura africana na Bahia.

De acordo com o jornal francês “Le Monde”, o mandado de prisão foi expedido após Mangue faltar a uma audiência do processo, na última quarta-feira, em Paris. Nesse dia, ele patrocinava uma festa numa das três mansões que alugou para acomodar a delegação de seu país, na Praia de Busca Vida, em Lauro de Freitas, região nobre do litoral norte baiano. Zeca Pagodinho teria sido um dos artistas contratados para animar a festa.

Em Salvador, a Polícia Federal informou que não havia recebido até o início da noite desta sexta-feira o mandado de prisão expedido pela Justiça da França. A presidente Dilma Rousseff irá à Guiné Equatorial, no fim da próxima semana, para a reunião de cúpula dos países da América do Sul e da África. Segundo a embaixadora Maria Edileuza Reis, subsecretária-geral de Política do Ministério das Relações Exteriores, a escolha do país seguiu o critério do revezamento entre os dois continentes.
(…)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Politica Externa: de sapatos retirados a calcas arriadas...

De um comentário lido numa das transcrições deste post do jornalista Paulo Henrique Amorim, circulado amplamente em certos meios:

"Melhor ter retirado os sapatos, por causa de uma exigência de segurança nos EUA pós-11 de Setembro de 2001, do que ter abaixado as calças para os cubanos, por uma questão de identidade de projetos totalitários".
J.A.

Em todo caso, aqui vai, por uma questão de simples informação, sem preconceitos. Leitores inteligentes, como os que frequentam este blog, saberão tirar suas conclusões.
Paulo Roberto de Almeida

Publicado em 07/02/2013

MAG: a política externa
que não tirou os sapatos

O PiG chama de política externa dos atabaques. Êpa ! O Ministério Público sabe disso ?


O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, na Carta Maior, sobre o trabalho de Marco Aurélio Garcia:

Uma ponte itinerante chamada ‘MAG’

Quando quiser, e se um dia achar conveniente, o ministro Marco Aurélio Garcia – assessor internacional da Presidência da República desde o governo Lula – poderá escrever um dos livros mais interessantes destes tempos em que a América Latina deixou de ser o terreno baldio dos EUA.

Garcia, ou simplesmente MAG, como é tratado pelos mais próximos, participou diretamente ou testemunhou todos – repita-se, todos – os principais episódios da construção inconclusa da nova agenda regional, destinada a devolver aos povos latino-americanos o comando de seu destino histórico e geopolítico.

Ao lado de Samuel Pinheiro Guimarães e do ex-embaixador Celso Amorim, ele compôs o trio que definitivamente reposicionou a política externa brasileira no século 21.

E o fez para bem longe daquilo que ficou conhecido como ‘a diplomacia dos pés descalços’.

Em 31 de janeiro de 2002, o então chanceler do governo FHC, Celso Lafer, submeteu-se ao humilhante ritual de tirar os sapatos no aeroporto de Miami. Uma imposição da segurança ianque, se quisesse ingressar no país.

Se essa condição um dia fosse imposta a MAG, o que aconteceria?

Alguma dúvida?

Nem ‘eles’, nem os seus assemelhados nativos, as tem.

Discreto sem nunca ser acanhado, MAG sabe a hora certa de ser contundente com os poderes e os poderosos que em relação a ele nutrem justificados temores.

Professor aposentado do Departamento de História da Unicamp, esse gaucho que lecionou também em universidades de Paris e Santiago, ocupou a vice -presidência da UNE nos anos 60 e, coisa que poucos sabem, exerceu um mandato de vereador em Porto Alegre, nunca foi visto, à direita ou à esquerda, como um assessor comum.

Seu nome é uma espécie de carimbo presente nos principais capítulos da luta política da esquerda brasileira nas últimas décadas.

Ecumênico nesse campo, com bom trânsito entre as variadas correntes políticas, de suas convicções mais fundas apenas Lula costuma às vezes ironizar: ‘ Ele não diz nada, mas batizou o filho de Leon…’

MAG coordenou o Programa de Governo do Presidente Lula nas eleições de 1994, 1998 e 2006.

Exerceu a mesma coordenação sobre o Programa de Governo da Presidente Dilma Rousseff na eleição de 2010.

Na luta pela reeleição de Lula em 2006, antecedida da tentativa de impeachment contra o presidente com base na ‘denúncia’ do chamado ‘mensalão’, foi ele quem comandou a campanha vitoriosa.

O cerco conservador era absoluto.

Muitos dentro do próprio PT defendiam genuflexões à mídia; os mais afoitos avocavam a prerrogativa de promover expedições ‘pacificadoras’ junto a donos de corporações que vergastavam o partido e o Presidente diuturnamente.

Traziam promessas de ‘trégua’ que nunca se confirmaram.

Ao contrário.

Reinava um clima de ‘agora ou nunca’.

Insuficiente porém para dobrar a altivez de MAG.

Em meio à beligerância ostensiva, às vésperas do primeiro turno, o então colunista de Veja, Diogo Mainardi, que dispensa apresentações, solicitou-lhe por e-mail uma entrevista exclusiva.

“Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista,”, assegurava a solicitação que chegou a MAG.

A resposta, também por email, condensa a conhecida capacidade maguiana de associar altivez, mordacidade e contundente elegância:

“Sr. Diogo Mainardi,

Há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta — aliás, republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.

Explica-se o, digamos, ‘desconforto’ dos meios & dos mainards com a presença constante e ativa desse espírito crítico, nos circuitos que decidem a política externa brasileira, desde 2003.

Derrubá-lo daí foi sempre o troféu cobiçado e ao mesmo tempo inalcançável do conservadorismo local e forâneo.

A trajetória de MAG diz muito sobre essa obsessão fracassada.

MAG era o Secretário de Relações Internacionais do PT, em 1990, quando foi criado o Foro de São Paulo.

Seu objetivo estratégico: promover a nucleação de todos os grupos de esquerda da América Latina e Caribe.

Para quê?

Para lançar as sementes de uma integração latinoamericana e caribenha oposta à agenda regional secularmente subordinada aos impérios.

Remonta daí a sua imbatível rede de relacionamento com lideranças e forças regionais que hoje estão no poder, exercem cargos relevantes na estrutura do Estado, ocupam cadeiras nos Legislativos, comandam partidos, dirigem organizações sociais.

Seu papel como ponte itinerante nesse diálogo agigantou-se no governo Lula, quando assumiu missões decisivas, em momentos graves e estratégicos da vida regional.

A maioria delas exitosas para decepção do conservadorismo que o mantém sob permanente suspicácia.

Os interlocutores da constelação de governos e lideranças progressistas da AL e Caribe sabem com quem estão falando quando o telefone toca e é MAG que chama.

Emotivo, perspicaz e fraterno, dono de um coração que rivaliza em generosidade com o tamanho de suas convicções progressistas, MAG coleciona amigos na grande pátria latinoamericana e caribenha que ajuda a delinear.

Dos prováveis aos mais improváveis.

A um Humala candidato, de perfil algo endurecido, ainda engomado pela farda militar, MAG surpreendeu um dia ao sugerir: ‘O senhor deveria se fazer acompanhar sempre de sua esposa; ela é muito inteligente.E muito bonita’.

De fato.

A carismática Nadine Heredia acabou se transformando em uma coadjuvante decisiva na renhida final das eleições peruanas de 2011, vencidas por Humala.

Hoje sua figura é cada vez mais popular. Com índices de aprovação superiores aos do marido, seu protagonismo suscita especulações de uma candidatura em 2016, se obstáculos jurídicos forem superados.

A eventual ascensão dessa nova estrela regional não surpreenderá MAG.

Como não o surpreendeu a do velho amigo Maduro, na Venezuela, bem como a de outras lideranças da grande constelação em cujos bastidores a sua presença sempre brilhou.

De volta de uma missão a Cuba, para onde fora enviado pela Presidenta Dilma em manifestação de alto zelo com a evolução da saúde do presidente Chávez, MAG submeteu-se a exames cardiológicos rotineiros no último sábado.

O cuidado preventivo diante da dura agenda de viagens que teria pela frente, antes e depois do Carnaval, desdobrou-se em uma cirurgia cardíaca.

MAG recebeu duas pontes de safena nesta 5ª feira. E passa bem.

Manifestações de toda a América Latina e Caribe evocam a sua rápida volta à estrada

Um caminho que ele conhece melhor que ninguém.

Um caminho que ainda não está pronto.

Mas que sem dúvida está sendo construído.

E nele o acrônimo MAG pontua a pavimentação de vários trechos, antes considerados intransponíveis.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A (Des)Ilusao (Latino-)Americana, ou Eduardo Prado revisitado - Demetrio Magnoli

Mais de 120 atrás, Eduardo Prado, um brilhante intelectual monarquista, inimigo, portanto, da República (nao tanto pelo regime em si, mas pelo furor jacobino que ele provocou na primeira fase), já se insurgia contra a integracao (nao latino-americana, mas) hemisférica.
Em seu livro "A Ilusao Americana" ele já denunciava o imperialismo americano (para gáudio dos antiamericanos de hoje), mas também proclamava, azedamente, que "a solidariedade americana é uma mentira".
Os companheiros de hoje se empenham no antiamericanismo primário e pretendem fazer a integracao exclusivamente latino-americana, com os resultados que se sabem...
Bem, a história é longa, e eu voltarei a ela um dia desses, por enquanto mais um artigo de um crítico da diplomacia lulo-petista.
Paulo Roberto de Almeida

Lula e a falência da 'Doutrina Garcia'

O Estado de S.Paulo, 31 de janeiro de 2013
Demétrio Magnoli *
 
Lula sabe mais que os "intelectuais progressistas" reunidos em seu instituto para, nas palavras do assessor Luiz Dulci, "definir um plano de trabalho para o desenvolvimento e integração" da América Latina. Há muito reduzidos à condição de intelectuais palacianos, os convidados celebraram os "avanços" na integração regional e a miraculosa clarividência do ex-presidente. O anfitrião, contudo, pediu-lhes algo diferente da bajulação habitual: a formulação de uma "doutrina" da integração latino-americana. No 11.º ano de poder lulista, o pedido traz implícito o reconhecimento de um fracasso estrondoso de política externa - e da crise regional que se avizinha.

"Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Bolívia; não em explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru", proclamou o ex-presidente, sem ser corrigido por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré chegou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Filho e Paz Estenssoro inauguraram a Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de engenharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao Porto de Paranaguá. As pontes que Lula inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Estado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo para alianças políticas entre governantes "progressistas".

Desde 2003, com a nomeação de Marco Aurélio Garcia como assessor especial da Presidência, a política brasileira para a América Latina foi transferida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnando-se de reminiscências políticas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O coquetel conduziu-nos ao impasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória.

A "Doutrina Garcia" rejeita a ideia de livre-comércio, que funcionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchners aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre-comércio. No seu instituto, Lula denunciou a "preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos". Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma "relação preferencial" com a China, que absorve nossas exportações de commodities. O primitivismo ideológico impede até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensável em qualquer projeto de integração latino-americana.

A "Doutrina Garcia" acalenta a utopia de uma integração impulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públicos. Contudo a estratégia de expansão regional do "capitalismo de Estado" brasileiro esbarrou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobrás e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amargas ironias da História, o espectro do "imperialismo brasileiro" reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos "progressistas" contra o governo "progressista" de Lula.

A "Doutrina Garcia" almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime autoritário cubano e erguer uma barreira geopolítica entre América Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorrentes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A concorrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de proteção da ditadura castrista e de desmoralização da Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a ascensão de Cuba à presidência rotativa da Celac como o marco de "uma nova época na América Latina". Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as liberdades públicas.

Distraídos, os intelectuais palacianos nada perceberam, mas a falência da "Doutrina Garcia" foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a desintegração da América Latina. A principal evidência disso se encontra na emergência da Aliança do Pacífico, uma área de livre-comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro-americanos. De outro, lenta, mas inexoravelmente, desmorona a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transição na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova "doutrina" da integração latino-americana, o ex-presidente revela aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a política externa brasileira.

A consciência de um problema é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma "doutrina" substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideológicos do lulopetismo. Isso, porém, eles não farão.

* Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@uol.com.br.