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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Politica comercial companheira: pequenos flagrantes de protecionismo comercial explicito

O Brasil desde muito deixou de ser um país competitivo, por diferentes motivos, mas poucos vinculados a eventual dumping de produtos importados.
A maior parte se deve mesmo a problemas internos, entre eles a taxação excessiva sobre a produção interna.
Constatado esse problema, o governo deveria atuar sobre as causas do chamado custo Brasil, certo?
Errado, segundo o governo. Os culpados são os produtos estrangeiros que entram aqui muito baratos.
Vejam vocês que, de forma coordenada, todos estes países estavam conspirando contra o Brasil, e suas empresas decidiram vender mais barato aqui do que produzem nos países de origem: Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México.
Eles são desleais, segundo o governo.
O governo então resolve punir os consumidores e os produtores brasileiros que importam insumos, aumentando o seu preço de entrada.
É o que se chama de protecionismo explícito.
Outro absurdo: óleo de mamona produzido pela agricultura familiar. Como sabemos, a agricultura familiar não tem estrutura para produzir uma commodity industrial, no máximo ela pode participar da oferta de alimentos em níveis locais. Como então se explica isto?:
"O órgão (Camex) explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva."
Mas quem colocou o agricultor familiar nessa situação foi o governo, obrigando a Petrobras a comprar óleo de mamona desse simpático personagem SEM QUALQUER ESTUDO TÉCNICO RELATIVO A CUSTOS, e obrigando o diesel normal a ter esse componente.
Mais uma vez, o governo adota medidas compulsórias sem qualquer atendimento a critérios de custos, preços de mercado, etc.
Inacreditável: o Brasil há muito deixou de ser um país capitalista para ser um sistema socialista, pois quem administra a economia é o governo, não o livre mercado.
Paulo Roberto de Almeida

Governo aumenta taxas de importação
O Globo, 5/07/2014

Eletrodomésticos, filtros cerâmicos, porcelanatos e vidros agora pagam mais

Para proteger o mercado interno de práticas desleais de comércio exterior, o governo decidiu elevar a alíquota do Imposto de Importação de quatro produtos. A Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, aprovou sobretaxas nas importações de vidros para eletrodomésticos, filtros cerâmicos refratários, porcelanatos e vidros planos.

Para vidros, a decisão atinge produtos originários da China usados para fazer prateleiras de geladeiras e freezers. A medida vale por cinco anos, com sobretaxas fixas que variam de US$ 2,74 a US$ 5,45 por metro quadrado de vidro importado, dependendo do fabricante. Segundo a Camex, a taxa foi aplicada em valor inferior ao apurado na investigação da prática de comércio desleal - o Dumping  - para "preservar a estabilidade de preços nas etapas seguintes da cadeia produtiva.

Para os filtros originários da China, usados na filtragem de metais líquidos para fundição, a medida valerá por cinco anos, com sobretaxa de US$ 6,06 por quilo importado para todos os produtores.

Também foi aprovada sobretaxa para importações de vidro plano, incolor, produzido pelo método de flotação, com espessuras de 2 mm a 19 mm, originárias de Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México. O produto é usado pela indústria automobilística, construção civil, setor moveleiro, no transporte rodoviário e em eletrodomésticos e eletrônicos. A sobretaxa varia de US$ 172,27 a tonelada a US$ 334,35.
A Camex decidiu ainda alterar a Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) com o aumento de Imposto de Importação de seis itens. Essa lista permite que o governo modifique temporariamente a alíquota do imposto de importação para cem itens, até 31 de dezembro de 2015.

Para o óleo de mamona hidrogenado, a alíquota sobe de 10% para 20%; para os óleos de vaselina ou de parafina, passa de 4% para 20%; para bicarbonato de sódio, de 10% para 20%; para ácido ricinoleico, de 2% para 20%; para centros de usinagem, de 14% para 20%; e para redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torque, de 14% para 20%.

O órgão explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva.


Para incluir esses itens, a Camex retirou da lista de exceções: pêssego, que terá a alíquota reduzida de 55% para 35%; cimento, que estava com imposto reduzido a 0% e passa para 4%; pneus de bicicletas, de 35% para 16%; papel-moeda, que passa de 12% para 6%; porcelanato técnico, que estava com Imposto de Importação de 35% e volta para 12%; e instrumentos para demonstração em ensino e exposições, que estava com 2% de Imposto de Importação (Letec) e passa para 16%.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Proibicao de importacao de publicacoes estrangeiras: ABC e SBPC pedem retirada de projeto

A Academia Brasileira de Ciências e a SBPC enviaram carta ao deputado Vicentinho contra o seu famigerado projeto protecionista e obscurantista. Do site da ABC:

SBPC e ABC se manifestam contra projeto que proíbe órgãos públicos de comprar publicações estrangeiras

ABC, 11/06/2014
No último dia 9, a SBPC e ABC enviaram carta ao deputado Vicentinho (PT-SP) protestando contra o Projeto de Lei 7299/2014, de autoria do deputado, que proíbe a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira pelos órgãos públicos das esferas federal, estaduais e municipais, para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública. Diante das críticas sobretudo da comunidade científica, ontem (10/06) o projeto foi retirado da Câmara dos Deputados.
Na carta, as entidades ressaltaram que têm atuado para promover o desenvolvimento científico e tecnológico no País, de modo a aumentar a produtividade e a qualidade da ciência brasileira com impacto no bem estar social. Segundo o documento enviado ao deputado, no mundo globalizado a geração de conhecimento é cada vez mais internacionalizada.

Leiam a carta compketa neste link:

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Proibicao de importacoes de publicacoes estrangeiras: um lobby da industria grafica

Meus comentários ao que segue abaixo:

Uma medida protecionista, obscurantista, negativa, para todos os brasileiros.
Apenas uma reserva de mercado, como já existe para diversos outros setores, o que só atrasa o Brasil e o converte num avestruz desengonçado, um corpo inerme, introvertido, incapaz de enfrentar concorrência externa sem esse tipo de expediente absurdo.
Quando é que os empresários, não só desse setor, mas de todos os demais setores, vão se convencer que os inimigos do Brasil e dos empresários não está lá fora mas aqui dentro mesmo?
Ele se chama Estado brasileiro.
Trata-se de um ogro famélico, que extrai, extorque, rouba dois quintos da riqueza nacional, só investe menos de 1,5pc do PIB e gasta a maior parte consigo mesmo, com seus mandarins e marajás, ou então em gastos populistas e demagógicos, como o curral eleitoral que se chama Bolsa Família.
Por que os empresários não se unem para combater as fontes do mal, não os seus resultados e consequências? Quando é que as pessoas vão enxergar os problemas de frente e não procurar subterfúgios?
Paulo Roberto de Almeida

Em 3 de abril de 2014 - às 11:47    

Gráficos querem proibir confecção de livros fora do Brasil

Para atender a reivindicação da categoria, o deputado Vicentinho (PT-SP) apresentou um Projeto de Lei (7299/14) na Câmara dos Deputados
Os livros utilizados no país para atender as demandas dos poderes públicos dentro do território nacional não devem ser confeccionados fora das indústrias gráficas brasileiras, como é feito atualmente. Essa é uma reivindicação do setor gráfico nacional (trabalhadores e empresários), que recebeu o apoio político do deputado federal Vicentinho (PT-SP). O parlamentar apresentou na semana passada na Câmara dos Deputados, o PL 7299/2014, mais conhecido por PL do Livro. O PL foi elaborado com a contribuição direta do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos de Jundiaí (SP). A iniciativa tem recebido grande repercussão dentro da categoria gráfica nacional, inclusive em Pernambuco, e, se aprovada, é vital para evitar a redução de postos de trabalho para o segmento em todo o País.

“Saudamos o protagonismo dos sindicalistas gráficos de Jundiaí (SP), bem como pela clara posição de Vicentinho em defesa dos gráficos”, realça Iraquitan da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos do Estado de Pernambuco (Sindgraf-PE). O dirigente pontua que são ações como estas que mostram que os dirigentes gráficos continuam sendo os protagonistas e são os verdadeiros defensores da categoria. Ele lembra que o sindicato só tem vida quando dirigentes e base estão vivos, ou seja, combatendo as injustiças e indicando propositivamente quais devem ser as mudanças em prol da categoria.

O PL do Livro segue para avaliação da presidência da Câmara. Para Leandro Rodrigues, presidente do Sindicato dos Gráficos de Jundiaí, a medida é fundamental para assegurar o emprego dos trabalhadores gráficos e garantir o desenvolvimento da indústria gráfica nacional. “Não podemos permitir que o governo brasileiro autorize imprimir livros didáticos fora do país, principalmente na China onde sabemos que o preço é muito baixo”, questiona o dirigente. Para o deputado Vicentinho, o país necessita de adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas. “Este projeto vem contribuir para que haja o compromisso do poder público para com a economia nacional”, diz o deputado ressaltando que órgãos públicos não devem favorecer o mercado externo em detrimento das produções nacionais.

Triste realidade
Apenas em 10 meses do ano passado (de janeiro a outubro), o Brasil já havia importado 18,7 mil toneladas de livros. O quantitativo corresponde a uma elevação de 9,3% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria Gráfica. O órgão patronal também foi importante na construção do PL do Livro, de autoria do deputado federal Vicentinho

domingo, 4 de maio de 2014

Economia mundial: acabou-se o que era doce (para o Brasil) - Pedro da Motta Veiga, Sandra P. Rios

O avestruz num mundo em transformação
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios*
O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2014

As tendências que ganham força no quadro econômico e político internacional apontam para um cenário muito diverso da bonança que tanto beneficiou o Brasil na primeira década do século. Independentemente dos contornos precisos que o cenário global adquirirá nos próximos anos, as margens de manobra de um país com as características do Brasil serão, daqui até pelo menos o fim dos anos 10, muito mais estreitas do que as vigentes no período anterior à eclosão da crise.
Já há a percepção difusa da emergência de um mundo marcado por mais riscos do que oportunidades para o Brasil. As preocupações com o "isolamento" internacional da economia brasileira e as críticas ao atrelamento das posições brasileiras em negociações comerciais às preferências argentinas são expressões dessa percepção. Mas, em geral, a percepção de riscos e ameaças é genérica e com frequência "transborda" para visões quase apocalípticas do futuro que nos espera num mundo mais hostil.
Não é para tanto, mas o que vem por aí é, de fato, preocupante. Senão vejamos. Não se esperem mais da China os bônus gerados por espantosas taxas de crescimento e pela disparada dos preços de commodities. A China em transição para um modelo de crescimento baseado mais no consumo doméstico do que em investimentos e exportações continuará a demandar as commodities exportadas pelo Brasil - provavelmente mais as agropecuárias que as minerais -, mas crescerá menos e não produzirá o choque externo positivo que nos proporcionou na primeira década do século.
Mesmo com taxas anuais que serão uma fração (minoritária) daquelas observadas há menos de dez anos, o crescimento da China continuará a ser uma estrela de primeira grandeza num mundo marcado pelo baixo crescimento. Este já está contratado para os próximos anos na União Europeia e seria irrealista esperar uma vigorosa recuperação dos EUA no curto prazo.
De seu lado, o vigoroso crescimento dos emergentes esbarrou em limites estruturais e em obstáculos políticos. Nesse processo, percebeu-se que o tal crescimento vigoroso dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi um fenômeno principalmente chinês. À exceção da China, o principal desafio dos Brics é a volta ao crescimento sustentado nos próximos anos, o que supõe o enfrentamento de uma agenda de reformas domésticas econômica e politicamente complicada. Difícil imaginar que esses países (exceção feita à China, mais uma vez) venham a dar, nos próximos anos, contribuição muito relevante para o crescimento global.
Não bastassem essas evoluções, as negociações comerciais preferenciais - quase um anátema para a política externa brasileira, quando não se trata de Mercosul e congêneres - voltaram à agenda dos principais atores da economia internacional. A China tece gradualmente sua rede de acordos, principalmente na Ásia e na América do Sul, mas a
principal novidade, aqui, é a negociação dos acordos ditos megarregionais - o TPP, envolvendo os EUA e diversos países da Ásia-Pacífico; e o TTIP, envolvendo EUA e União Europeia.
Como o foco principal dessas negociações são regras e disciplinas aplicáveis a um grande número de temas, há a preocupação - não de todo injustificada, mas certamente exagerada - de que países que não participam das negociações estarão virtualmente excluídos dos grandes mercados do mundo.
Ainda que a conclusão desses acordos possa ser mais difícil do que fazem crer seus patrocinadores, há um forte movimento na direção da convergência de regras comerciais, que moldará crescentemente os fluxos de comércio de bens e serviços. Essa convergência tem motivações econômicas, mas também segue lógica geopolítica, que vem ganhando peso depois da intervenção russa na Ucrânia.
Diante dessas evoluções, o governo brasileiro tem adotado a postura do avestruz e torce para que alguma "força maior" detenha as mudanças em curso no mundo. O Brasil não aproveitou o período de bonança para se preparar para tempos mais difíceis. Ante o novo cenário, o País estará diante da alternativa de (mais uma vez) se proteger de um mundo pouco amigável com políticas de isolamento ou de adotar políticas ativas de revisão e modernização de suas relações econômicas internacionais.

*Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios são diretores do Centro de Estudos de Integração Econômica (CINDES).

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Politica comercial companheira, 2: Brasil perde espacos no comercio internacional - Editorial Estadao

O Brasil perde espaço no comércio internacional

17 de abril de 2014 
Editorial O Estado de S.Paulo
Com um déficit na balança comercial de US$ 6 bilhões, até 11 de abril, e uma evolução das exportações de apenas 1%, neste ano, pelo critério de média por dia útil, é frágil o comércio exterior do Brasil. A fraqueza fica explícita nas previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgadas segunda-feira, que apontam para uma recuperação das exportações e das importações no mundo.
Em 2013, o crescimento do comércio global foi de apenas 2,1% em relação a 2012, com as exportações alcançando US$ 18,8 trilhões, mas as previsões da OMC indicam um avanço de 4,7%, neste ano. No ano passado, a China foi o principal país exportador com US$ 2,2 trilhões e uma participação de 11,8% no comércio mundial, enquanto o Brasil, com vendas externas de US$ 242 bilhões, ocupou o 21.º lugar, com peso de 1,3%. Entre os maiores importadores, a liderança é dos Estados Unidos, seguida por China e Alemanha - e o Brasil está no 20.º lugar, importando US$ 250 bilhões, com peso de 1,3% na importação global.
Os números da OMC são algo diferente dos números oficiais do País. Entre 2011 e 2013, segundo a OMC, as exportações brasileiras declinaram US$ 13,8 bilhões, enquanto as importações cresceram quase US$ 13,4 bilhões. Pelos números oficiais divulgados no País, as exportações caíram US$ 8 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
A recuperação do comércio global, neste ano, dependerá tanto do ritmo da atividade nos Estados Unidos, que é promissor, como da União Europeia, que é lento, além da China. O comércio não recuperou a vitalidade que tinha antes da crise de 2008, registrando, em 2013, volume de trocas 17% menor. A recuperação será insuficiente para compensar a queda dos últimos 5 anos.
O diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, argumenta que o aumento das importações do País tem um aspecto positivo. "Se o País importa substancialmente mais, tende a indicar que a economia está bem, o consumidor está comprando, a indústria está importando bens intermediários."
Mas esse é apenas um lado da realidade, pois a corrente comercial do Brasil - ou seja, a soma de importações e exportações - ficou estagnada entre 2011 e 2013. E não há indícios de que venha a se recuperar neste ano. O Brasil está, de fato, perdendo espaço no comércio internacional, por causa de custos e de ineficiências do governo Dilma.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Protecionismo: a solucao de todos os males do Brasil? - Editorial Estadao

O comércio e os alvos errados

18 de fevereiro de 2014 | 2h 06
Editorial O Estado de S.Paulo
O governo brasileiro continua atirando na direção errada ao cuidar do comércio externo e do crescimento industrial. O setor privado poderia ajudar a corrigir a mira, mas contribui com frequência para a escolha de alvos pouco importantes ou equivocados. A ênfase na proteção ilustra a preferência, na administração federal, pelas ações menos eficientes. O Brasil liderou a criação de barreiras comerciais no ano passado, com a abertura de 39 processos antidumping, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse número correspondeu a 9,58% das novas barreiras implantadas em todo o globo, 100 a mais que no ano anterior. Com ou sem base legal, o governo brasileiro tem sido um dos mais ativos nos entraves a importações e nas medidas especiais de apoio à produção nacional. Também essas medidas têm efeito protecionista, pela diferenciação a favor da empresa doméstica, mas seu efeito em termos de expansão e modernização da economia tem sido, na melhor hipótese, muito limitado.
Apesar desse esforço e do custo fiscal da política de benefícios especiais, a indústria marcou passo nos últimos três anos. O superávit comercial foi reduzido de US$ 29,79 bilhões em 2011 a apenas US$ 2,56 bilhões em 2013, mesmo com a contribuição de vendas fictícias de plataformas de petróleo. Sem essa contribuição, o resultado teria sido um rombo comercial de US$ 5,18 bilhões. O saldo teria sido muito melhor sem as medidas diretas e indiretas de proteção comercial? Mesmo com muita fantasia é difícil admitir essa hipótese.
Além de conquistar novas fatias do mercado interno, os competidores continuaram tomando espaços antes ocupados pelos produtores brasileiros no exterior. Isso ocorre há alguns anos até na vizinhança sul-americana. Nem o Mercosul está protegido, apesar das elevadas tarifas impostas a exportadores de fora do bloco.
As principais desvantagens da indústria brasileira, dentro e fora das fábricas, são conhecidas há bom tempo e têm sido expostas e discutidas por associações do setor. O governo tem reagido lentamente às demandas mais importantes da indústria e a maior parte dos grandes problemas continua intocada, ou quase. Essas desvantagens são repetidamente citadas em estudos de competitividade produzidos no País e no exterior. Autoridades ocasionalmente contestam avaliações publicadas pelo Banco Mundial, mas pouco podem fazer diante da multiplicação de trabalhos desse tipo, elaborados por empresas de consultoria e também por entidades como o Fórum Econômico Mundial.
As pressões políticas a favor de uma estratégia econômica mais séria praticamente inexistem. A oposição é inoperante e a maior parte dos congressistas pouco se dedica a questões sérias da economia. O governo segue suas prioridades eleitorais. Só em 2013 a presidente Dilma Rousseff começou a tratar com algum empenho, e ainda com muita ineficiência, os grandes problemas da infraestrutura. As concessões ao setor privado mal começaram.
Do lado empresarial, pouco se vê além da cobrança periódica de reformas, sempre com pouco ou nenhum esforço de mobilização. A Confederação Nacional da Indústria tem até uma agenda legislativa, mas nenhuma campanha eficaz a favor das mudanças necessárias.
Acabam sobrando iniciativas a favor de objetivos muito menos importantes que as reformas. Os industriais estão agora empenhados em obter a renovação do Sistema Geral de Preferências dos Estados Unidos, suspenso no ano passado e emperrado no Congresso. Também declaram apoio à retomada da proposta, apresentada em 2013 pelo Brasil, de inclusão do câmbio entre os temas sujeitos à jurisdição da OMC. As preferências americanas têm ajudado, mas a economia brasileira, uma das maiores, já deveria ser bastante competitiva para dispensar esse tipo de apoio. Quanto à briga pelo câmbio na OMC, consumirá muito tempo e muita energia e, mesmo em caso de sucesso, produzirá efeitos duvidosos. Além disso, o câmbio seria muito menos importante numa economia razoavelmente produtiva. Esquecer esse ponto é insistir em alvos errados

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

OMC: protecionismo em alta, Brasil na berlinda

Brasil é o nº 1 em medidas protecionistas, diz OMC

Relatório indica que país foi o que mais adotou barreiras a importados em 2013, seguido por Índia, EUA e Argentina

17 de fevereiro de 2014 | 2h 07

Jamil Chade, correspondente de Genebra - O Estado de S.Paulo
O Brasil foi o país que adotou o maior número de medidas contra importados em 2013 no mundo, com um total de 39 aberturas de ações de antidumping. Os dados fazem parte de um informe preparado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e que alerta que o volume de novas barreiras no mundo no ano passado foi 30% superior ao número de 2012.
Os dados serão debatidos hoje em Genebra, numa reunião convocada para tratar do protecionismo no mundo. A OMC não acredita que exista um "surto" de protecionismo na economia mundial. Mas vai apelar aos governos para que coloquem o combate às barreiras como uma prioridade.
No total, 407 barreiras foram implementadas no mundo, 100 mais que em 2012. A OMC não entra numa avaliação se as medidas são ilegais ou não. Mas insiste que governos precisam continuar alertas diante das pressões protecionistas. No total, um fluxo de comércio equivalente a US$ 240 bilhões foi afetado pelas barreiras.
No que se refere ao Brasil, a OMC aponta que 39 novas investigações de dumping foram abertas pelo País em 12 meses. O segundo lugar ficou para a Índia, com 35 casos. Os americanos vêm na terceira posição, com 34 casos. O quarto lugar é da Argentina, com 19 casos.
Nos últimos dois anos, o Brasil já vem sendo duramente questionado na OMC por sua política comercial. Na semana passada, a Europa deu claras indicações de que vai recorrer aos juízes internacionais para julgar a política de incentivos fiscais do Brasil, numa ação que pode contar até mesmo com o apoio de Washington. Bruxelas alertou que programas como o de redução de IPI foram anunciados como medidas provisórias, mas acabaram se transformando em políticas industriais permanentes no Brasil
De fato, outra preocupação generalizada da OMC é de que as barreiras adotadas desde o início da crise, em 2008, não venham sendo retiradas com o mesmo ritmo das novas medidas protecionistas.
No mundo, as medidas adotadas por governos para facilitar o fluxo de bens despencaram em 2013, somando apenas 107 casos pelo mundo e 50 a menos que em 2012. No mesmo período, o número de países que atenderam ao pedido da OMC para detalhar as medidas comerciais adotadas no ano caiu de 39 em 2012 para 35 em 2013. Quatro de cada cinco membros da OMC nem sequer comunicou à entidade o que tem feito em termos de medidas comerciais.
Em entrevista ao Estado no fim de 2013, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, já havia afirmado que um dos problemas desde o início da crise mundial em 2008 é que 80% das medidas para barrar o comércio e declaradas como iniciativas "temporárias" na realidade jamais foram desmontadas. O temor de especialistas é que, uma vez implementadas, as barreiras não serão mais eliminadas.
O que a OMC também constatou é que o número de acordos bilaterais e regionais de comércio continua em plena expansão. Apenas em 2013, houve 23 novos tratados, fazendo com que o total atingisse 250. Segundo a entidade, um número elevado continua sendo negociado, no que pode ser um obstáculo para a OMC continuar a ser o foco do comércio mundial e do estabelecimento de regras.
Comércio. No que se refere ao fluxo de bens em 2013, a OMC não esconde que a taxa de expansão ficou abaixo de 2,5%, sua previsão inicial para o ano. Segundo a entidade, se não fosse pelos países emergentes, o comércio global teria encolhido, um cenário que teria repetido a crise de 2009.
Para 2014, a OMC destaca uma aceleração nos fluxos de bens. Mas diz que a taxa deve ficar abaixo da média dos últimos 25 anos, quando o crescimento foi de 5,5%. Para este ano, o melhor cenário aponta uma expansão de 4,5%.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Chile abre mercados com tratados de livre comercio, enquanto outros insistem na tal "nova geografia"...

Alguns, no governo anterior, insistiam numa tal de "nova geografia do comércio internacional", uma estupidez econômica envolta numa outra estupidez diplomática, a tal de "diplomacia Sul-Sul", ambas caracterizadas por uma inacreditável auto-contenção e orientação estreitamente ideológica do relacionamento exterior do Brasil, quando ele, se estivesse liberto de estúpidas viseiras ideológicas e de outras igualmente estúpidas limitações comerciais, poderia estar comerciando livremente com todos os países do mundo, como aliás faz o Chile, que tem acesso garantido a mercados que representam pelo menos 80% do PIB mundial.
Aprenderam amadores e ideólogos de ideias caducas?
Paulo Roberto de Almeida 

Exentos de aranceles 606 productos que Chile exporta a Japón y Corea del Sur

comercio
También quedaron liberados de aranceles desde hoy 215 productos que se exportan a Japón, entre los que figuran la trucha ahumada, frutas como cerezas, damascos, duraznos, ciruelas, kiwis, fresas congeladas y manzanas deshidratadas, además de algunos cueros y calzados.
Infolatam Efe
Santiago, 1 enero 2014

Las claves
  • Los productos más importantes incluidos en la lista son la carne de cerdo y ovina, uvas frescas, pasas, damascos, cerezas, duraznos, frambuesas, kiwis, arándanos, ciruelas y manzanas deshidratadas, jugo de manzana, harina de pescado y tableros de madera, entre otros.
Un total de 606 productos que Chile exporta a Corea del Sur y Japón quedarán desde hoy exentos del pago de aranceles, en el marco de los tratados de libre comercio suscritos con esos países, informó la Dirección de Relaciones Económicas Internacionales (Direcon) de la Cancillería chilena.
Según precisa el organismo en su sitio en internet, 391 de los productos en cuestión se exportan a Corea del Sur, país que a partir de hoy tendrá un 95 % de sus importaciones desde Chile exentas de arancel.
Los productos más importantes incluidos en la lista son la carne de cerdo y ovina, uvas frescas, pasas, damascos, cerezas, duraznos, frambuesas, kiwis, arándanos, ciruelas y manzanas deshidratadas, jugo de manzana, harina de pescado y tableros de madera, entre otros.
Entre enero y octubre de 2013, según cifras oficiales, las exportaciones chilenas a Corea del Sur sumaron 6.005 millones de dólares, de los que unos 3.000 millones corresponden a productos mineros, en tanto que las frutas, alimentos procesados y salmón sumaron unos 500 millones.
También quedaron liberados de aranceles desde hoy 215 productos que se exportan a Japón, entre los que figuran la trucha ahumada, frutas como cerezas, damascos, duraznos, ciruelas, kiwis, fresas congeladas y manzanas deshidratadas, además de algunos cueros y calzados.
Entre enero y octubre pasados las exportaciones de Chile a Japón alcanzaron un valor de 6.383 millones de dólares, de los que 4.395 millones correspondieron a productos mineros.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

BRICS lideram protecionismo no mundo (um titulo dispensavel...)

Realmente, não é a melhor notícia que se gostaria de ler no último dia do ano...
Paulo Roberto de Almeida

Brics lideram protecionismo no comércio internacional

2013 não foi muito positivo para os Brics (Brasil, Índia, Rússia e China).
2013 não foi muito positivo para os Brics (Brasil, Índia, Rússia e China).
http://www.brics5.co.za

Cíntia Cardoso
Radio França Internacional Português, 31/12/2013
A Rússia foi o país que mais adotou medidas protecionistas em 2013, seguido, de perto, pela Bielorússia. O Brasil, a Índia e a China também aparecem entre os países mais protecionistas do ano.

Membro da OMC (Organização Mundial do Comércio) há cerca de um ano e meio, a Rússia ainda usa barreiras protecionistas como arma para sobreviver à competição no mercado internacional. Segundo o GTA (Global Trade Alert), site independente que compila estatísticas do comércio exterior, a Rússia registrou 20% das medidas protecionistas no planeta. O GTA aponta medidas para apoiar a indústria metalúrgica, a agricultura e a aeronáutica como exemplos da política comercial de Moscou.
Simon Evenett, coordenador do site, explica que “a política russa (...) é uma mistura de subsídios e de protecionismo agressivo”. O especialista afirma ainda a Rússia está longe de ser um “aluno modelo” na OMC. O presidente russo, Vladimir Putin, declarou neste ano que iria adotar políticas “sutis” para proteger a economia russa. Para Simon Evenett, essa é uma estratégia de vários países. “As brechas existentes nas regras do comércio internacional fazem com que os governos mais espertos consigam [usar medidas protecionistas] sem ferir a OMC”, escreveu em artigo para o portal de análise econômica Vox.
Brasil
O Brasil e seus pares dos Brics, especialmente a Índia, também figuram entre os mais protecionistas do ano. O GTA repertoriou 300 medidas protecionistas para o governo indiano, 196 para o Brasil, 135 para a China e 62 para a África do Sul.
Essa tendência já havia sido criticada pelos europeus em um relatório oficial deste ano. O estudo destacava a multiplicação de barreiras para a importação, mas, também, “medidas que impõem a utilização de bens nacionais” no Brasil, na Argentina e na Índia.
Mas, ainda segundo dados do GTA, não há, necessariamente, mocinhos e vilões no comércio internacional. A União Europeia, ao lado do Brasil, da Índia e do Japão representam um quarto das medidas protecionistas no mundo.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

OMC: UE reclama contra Brasil (era inevitavel)

Os companheiros, que são perfeitos amadores em política econômica (o que já era esperado), e imperfeitos improvisadores em políticas setoriais, com destaque para a comercial e a industrial, podem ficar surpresos, mas quem conhece as regras do comércio internacional poderia prever que isso fosse ocorrer.
O governo acha que pode fazer discriminação abusiva contra a produção estrangeira.
Deu no que deu: os companheiros obrigam o Brasil a passar vergonha numa organização presidida por um brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida

Europa exige fim de redução de IPI nos carros e leva Brasil à OMC

Jamil Chade, de Genebra
O Estado de S.Paulo, 19/12/2013
No primeiro processo contra o Brasil em anos, Bruxelas acusa Brasil de protecionista e de dar apoio “proibido” às indústrias nacionais 
O principal pilar da estratégia industrial e de exportação do governo Dilma Rousseff sofre um duro abalo. Hoje, a União Europeia anunciou que acionou os tribunais da Organização Mundial do Comércio contra a política de incentivos fiscais dados pelo Brasil, acusando as medidas adotadas de serem protecionistas e afetando os interesses das montadoras europeias.
Há anos os governos europeus e de outras regiões do mundo atacam as barreiras estabelecidas pelo Brasil. Mas, agora, esse será o primeiro questionamento nos órgãos legais da OMC contra o País desde o início da crise mundial, que eclodiu em 2008.
A disputa aberta é contra as políticas de incentivos fiscais dados pelo Brasil a diversos exportadores, como isenção tributária em vários setores. Para a Europa, essa ajuda é “proibida” pelas regras internacionais do comércio e quer que o governo Dilma retire essas iniciativas. Mas é setor automotivo que está no centro da nova crise.
O governo brasileiro insistiu por anos que suas medidas eram legais. Mas, agora, o governo Dilma tem o centro de sua política industrial questionado.
“Nos últimos anos, o Brasil aumentou o uso de um sistema de impostos que é incompatível com suas obrigações na OMC, dando vantagens a indústrias domésticas e isolando elas da concorrência”, declarou a UE. “Isso é feito principalmente por isenções e redução de impostos”.
Em setembro de 2011, o governo estabeleceu um isenção de IPI para carros de montadoras que se comprometam a investir no País e comprem peças locais. Em 2012, o plano foi renovado por mais cinco anos, o que deixou Bruxelas, Washington e Tóquio irritados. Governos de países ricos alertavam já nos últimos meses que o discurso original do governo brasileiro em 2011 era de que esses incentivos seriam temporários. Agora, irão durar até 2017. Incentivos fiscais também foram dados para computadores, smartphones e semicondutores.
O governo brasileiro sempre alegou que as medidas beneficiavam montadoras europeias, justamente contra a concorrência asiática. Mas, segundo Bruxelas, as medidas adotadas por Dilma tem afetado as exportações do bloco. Em 2011, 857 mil carros foram importados ao mercado brasileiro. Em 2013, esse número caiu para 581 mil até outubro.
Num primeiro momento da disputa, europeus e brasileiros tentarão encontrar uma solução sem a participação de árbitros da OMC. Os governos terão 60 dias para chegar a uma “solução pacífica”. Mas, tradicionalmente, casos abertos em Genebra dificilmente são resolvidos nesse período.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Protecionismo comercial brasileiro: antidumping abusivo - Assis Moreira (Valor)

OMC: Cinco países contestam Brasil por investigações de antidumping
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 23/10/2013

GENEBRA  -  O Brasil foi questionado por cinco países hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC) em razão de abertura de investigações antidumping para frear importações com preços supostamente desleais.

Rússia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Chile aproveitaram o Comitê de Antidumping da entidade global para contestar a iniciação das investigações que atingem seus produtos no Brasil.

De maneira geral, esses países acreditam que seus produtores não merecem ser submetidos a tais exames. O governo brasileiro respondeu que foi acionado pelo setor privado e faz seu trabalho de investigar se há dumping, prática que afetaria a indústria nacional de maneira desleal.

Neste ano, o Brasil deve ser confirmado de novo como campeão em ações antidumping.

Entre janeiro e o começo de outubro, o país já totalizou 39 novas investigações e pode chegar a 45 até o fim do ano, o segundo maior número de investigações em um ano no Brasil. O recorde foi no ano passado, com 65.

O número de sobretaxas efetivamente aplicadas, resultado de investigações concluídas, também será recorde: são 25 atualmente e podem chegar a 30 no fim de dezembro. No total, o Brasil tem 96 medidas antidumping em vigor.


Nos últimos dois anos, o Brasil liderou o uso de medidas de defesa comercial entre os países do G-20, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Otaviano Canuto e o atraso mental economico do Brasil - entrevista Denise Crispim Marin

O Brasil não tem só um problema de ineficiência logística, protecionismo comercial, custo-Brasil (ou seja, todas as ruindades juntas) e diversos outros descompassos técnicos e econômicos. Tudo se resolve com políticas correntas, o que poderia ser feito em 6 meses a um ano. Ou seja, tudo é resolvível.
Mas o Brasil tem um problema mais grave, que é o atraso mental de suas elites, não apenas dos dirigentes atuais (esses irrecuperáveis), mas das elites em geral, que são tacanhas mentalmente...
Acho que vai ser difícil corrigir, consertar.
Vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida


'O Brasil não pode se fechar'
Denise Crispim Marin
O Estado de São Paulo, 17/10/2013

Além de acentuar o atraso do País, a proteção alimenta o parasitismo e não empurra as reformas necessárias

Não há argumento para convencer Otaviano Canuto de que a proteção comercial traria benefícios para os setores produtivos e para a sociedade brasileira. Ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda na época em que as negociações na Organização Mundial do Comércio, com os Estados Unidos e o restante das Américas.e com a União Europeia estavam em curso, nos primeiros anos do século, Canuto vê a falência desses processos como perda de oportunidades para " o Brasil e a exclusão de sua indústria de cadeias internacionais de valor.
Neste momento em que o "custo Brasil" se soma ao "peso morto" na corrosão da competitividade dos setores brasileiros, Canuto defende o engajamento do País em negociações abrangentes de livre-comércio - não só de bens como de serviços. O relançamento das conversas com os europeus, depois de quatro anos de paralisia, é bem-vinda, em sua opinião. Fechar-se seria a pior opção. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O Brasil adiantou-se ao Mercosul e apresentou sua proposta de liberalização comercial para a UE. Quão atrasado o País está?
Antes tarde do que nunca. Dado o impasse na agenda multilateral, proliferaram as iniciativas regionais. Os dois exemplos mais gritantes são as negociações dos Estados Unidos no Pacífico e com a Europa. A Parceria Transpacífico vai garantir o acesso privilegiado dos asiáticos ao mercado americano. Em contrapartida, haverá abertura das agendas de liberalização de serviços, de regras de propriedade intelectual e outras, o que é uma forma de os EUA colocarem pressão sobre a China.
Há dez anos, o Brasil estava envolvido nas negociações na CMC e de liberalização comercial com as Américas e a UE. A ruína desses processos, o desinteresse do Brasil por novas iniciativas e sua omissão na agenda de aprofundamento do Mercosul significaram perdas de oportunidades?
Certamente, houve perda de oportunidades. Apesar de pequenos retrocessos mais recentes na defesa comercial, o mundo orientou-se para a maior liberalidade dos fluxos de comércio. Houve fragmentação geográfica do processo de produção e a emergência das cadeias de valor, que são incompatíveis com as estruturas de proteção comercial. Esse não é o fator dominante para explicar a falta de dinamismo da inserção comercial brasileira. Mas a prejudicou. As exceções do Brasil justamente confirmam a regra. A Embraer está na cabeça de uma cadeia de valor, mas tem a liberdade de montar seus produtos comprando os componentes do exterior.
Como inserir o País nas cadeias de valor se a competitividade está minada pelo custo Brasil?
Os fatores logísticos têm sido impeditivos para a maior competitividade brasileira. Não se pode participar de uma cadeia de valor sem ter logística e meios de transportes adequados, burocracia reduzida, custos baixos para se poder fazer negócio.
É difícil, no Brasil, aceitar que salário real maior possa ser problema, dado o passado de arrocho e o benefício que esse aumento trouxe para a economia.
O salário real mais alto não foi grande problema enquanto se estabeleceu uma relação virtuosa de ampliação da demanda agregada. Mas esse ciclo maravilhoso chegou ao limite, e a evolução do salário acima da produtividade pressiona os ganhos do empresariado.
A desvalorização do câmbio não reduz essa pressão?
A desvalorização recupera um pouco a competitividade dos setores que estavam com seus lucros reduzidos pelos gargalos logísticos. Mas se não houver uma agenda em paralelo de redução do custo Brasil, os ganhos com a desvalorização real não serão suficientes. Os países de baixa renda perceberam que esse custo é, na verdade, um "peso morto".
Na estratégia de liberalização, qual área será central?
Apesar das dificuldades na Organização Mundial do Comércio, a liberalização vai se expandir para a área de serviços por meio dos acordos regionais, e o Brasil não pode ficar atrás nessa corrida. Na OMC, se há uma área com chance positiva na reunião ministerial de Bali, em dezembro, é a de facilitação do comércio. Não por acaso, o embaixador Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, está concentrando esforços nessa área.
Levando em conta o nosso passivo em produtividade, pesos mortos e custo Brasil, este é o momento adequado para o País se lançar em negociações liberalizantes ou melhor seria se fechar para limpar esse atraso?
Não, pelo amor de Deus, O Brasil não pode se fechar. Fechar-se significaria ficar de fora das cadeias produtivas. O atraso seria maior ainda. O Brasil tem neste momento condição de emprego muito favorável, um sistema de proteção social que eventualmente pode ser usado para apoiar a adaptação da força de trabalho, flexibilidade cambial e estabilidade econômica.
O País deve, portanto, mergulhar em uma agenda abrangente, inclusive de liberalização dos serviços, que são insumos importantes da competitividade industrial
O Mercosul garantiu ao Brasil mercado ampliado e reservado para seus produtos industriais. O bloco deve continuar como prioridade na agenda brasileira?
O Mercosul foi importante. Mas, na relação custo-benefício, o resultado não foi o melhor possível. Gosto de comparar o Mercosul a dois processos. A UE foi um processo político, no qual os países continuam abdicando de soberania.
O outro caso é a integração do Sudeste Asiático, onde só agora, com a integração econômica e comercial consolidada, os governos começam a desenhar o arcabouço institucional do bloco. O Mercosul seguiu a Europa, mas sem a base de cessão de soberania. Com o benefício de olhar para trás, creio que uma base mais pragmática para o Mercosul teria dado melhores resultados. Isso não quer dizer que não se possa tomar, agora, esse caminho.
Pragmatismo significa o abandono da união aduaneira?
Ou reconhecer que, se o desejo dos países é ter tantas exceções à Tarifa Externa Comum, o Mercosul está mais para uma área de livre-comércio do que para união aduaneira. Se os seus países não querem abdicar de soberania, poderiam buscar acordos em conjunto, quando convém, ou criar flexibilidades. A ideia de ter na América do Sul um bloco tão integrado, como é economicamente o Sudeste Asiático ou politicamente a Europa não passa de uma quimera.

sábado, 28 de setembro de 2013

Brasil dos companheiros: um pais avestruz - Edmar Bacha

Abrir ou abrir, eis a questão

Instituto Millenium, 28 de setembro de 2013
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2013
Edmar Bacha
A economia brasileira está enferma. É isso que nos dizem os pibinhos, a inflação alta e a desindustrialização. São sintomas da baixa produtividade do país, que tem a ver com o atraso tecnológico, a escala reduzida e a falta de especialização que caracterizam nossas empresas de modo geral. É o resultado do isolamento econômico que o país se impôs em relação ao comércio internacional com exportações de apenas 12,5% do PIB, que representam menos que 1,3% do total mundial em 2012. Medido pelo PIB, o Brasil responde por 3,3% do total do mundo – número 2,5 vezes maior que sua participação nas exportações mundiais. Enquanto acordos de preferência comercial proliferam mundo afora, o Brasil permanece atado à letargia do Mercosul. Agora que um brasileiro está dirigindo a Organização Mundial do Comércio, é boa hora de reavaliar essa política de isolamento e promover maior integração do país ao comércio internacional.
Os diagnósticos correntes sobre a doença brasileira de elevada inflação combinada com reduzido crescimento corretamente enfatizam o baixo investimento e a alta carga tributária, além da educação precária. Menor presença no debate tem tido um fator de igual ou maior importância do que os anteriores, a saber, a reduzidíssima participação do comércio exterior na atividade econômica do país. Trata-se de uma questão de natureza quantitativa, pois nesse quesito o Brasil é um ponto fora da curva em relação aos demais países, tanto quanto ou mais que na taxa de investimento, na carga tributária ou na qualificação da mão de obra.
Mas trata-se também de uma questão de natureza qualitativa, da estratégia de desenvolvimento. Tentar atacar simultaneamente todas as mazelas que emperram o crescimento do país é uma receita certa para o fracasso, pois não há governo que terá forças para tanto. Melhor concentrar esforços em nós górdios críticos que, uma vez desatados, tenham o condão de forçar o alinhamento dos demais requisitos para o crescimento. Trata-se de uma aplicação do princípio do desenvolvimento desequilibrado sugerido por Albert Hirschman: em lugar de buscar um impossível crescimento simultâneo de todos setores, a melhor estratégia para o desenvolvimento é provocar um desequilíbrio regenerador, forçando os demais requisitos para o desenvolvimento a se alinharem com uma nova realidade. Nesse contexto, Hirschman cunhou o termo exportabilidade para caracterizar como um processo de industrialização poderia levar um país subdesenvolvido para um estágio mais alto de crescimento. Nada de errado com substituir importações, propôs ele, desde que através dessa substituição o país consiga desenvolver novas fontes de exportação. O Brasil deu o primeiro passo, e constituiu uma forte indústria de transformação a partir da substituição de importações. Mas não deu o segundo passo, pois a indústria brasileira produz apenas para o mercado interno e não se integrou às cadeias internacionais de valor.
De acordo com o World Factbook da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos, em termos do valor das exportações de mercadorias em 2012 o Brasil ocupou apenas a 25ª posição no mundo, apesar de o PIB brasileiro ter sido o 7º maior do mundo. Trata-se de uma anomalia, pois a Comunidade Europeia ocupou o 1º lugar no mundo, tanto em termos de PIB como de exportações. Os Estados Unidos ocuparam o 2º lugar em termos de PIB e o 3º em exportações. A China ocupou o 3º lugar em termos de PIB e o 2º em exportações. O Japão obteve o 5º lugar, tanto em termos de PIB como em exportações. A Alemanha se posicionou como a 6ª maior economia do mundo e a 4ª maior exportadora em 2012.
O 7º maior exportador do mundo foi a Coreia do Sul, cujo PIB ocupou a 13ª posição no ranking mundial. Ou seja, países ricos ou bem-sucedidos na transição para o Primeiro Mundo são simultaneamente grandes exportadores. O que não acontece com o Brasil. Semelhante ao Brasil, com um PIB grande, mas exportações pequenas, somente está a Índia (11º maior PIB do mundo e 21º maior exportador) – um país pobre que está a duras penas tentando transitar para a classe média. Caberia fazer a objeção de que, apesar de os Estados Unidos serem grandes exportadores, suas exportações de bens e serviços respondem por apenas 13,6% do PIB americano, número pouco maior que o do Brasil. Mas o PIB dos Estados Unidos representa praticamente ¼ do PIB mundial e é quase sete vezes maior que o do Brasil. Além disso, os Estados Unidos operam na fronteira da tecnologia mundial, o que está longe de acontecer com o Brasil.
Quadro igualmente desalentador, do ponto de vista da integração brasileira no comércio mundial, revela-se quando olhamos os valores das importações. Nas estatísticas do Banco Mundial para 2012, a parcela das importações de bens e serviços no PIB do Brasil é de apenas 13%, o menor valor entre todos os 176 países para os quais o banco tem dados. Na Coreia do Sul, a parcela das importações no PIB é 54%. Na Alemanha, 45%. Na China, 27%. Mesmo os Estados Unidos, com sua economia gigantesca, importam 18% do PIB, quase 40% mais que o Brasil.
A conclusão é que vivemos num dos países mais fechados ao comércio exterior. É algo paradoxal, pois, ao mesmo tempo, somos um mercado muito atraente para o investimento direto das multinacionais. Conforme o World Investment Report de 2013 da UNCTAD, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking de destinos preferenciais do investimento estrangeiro direto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Hong Kong. A explicação é que as multinacionais vêm aqui para explorar o mercado interno protegido e não para integrar o país às suas cadeias produtivas mundiais, como ocorre com suas subsidiárias nos países asiáticos. O paradoxo ocorre porque temos uma conta de capital aberta ao fluxo de investimento, mas uma conta corrente fechada ao fluxo de comércio. Trata-se de uma receita certa para o que a literatura econômica denomina de crescimento empobrecedor . As multinacionais lucram ao investir no país, mas o resto da economia definha, ao deslocar para a substituição protegida de importações recursos locais que poderiam ser empregados com maior eficiência em atividades exportadoras.
O isolamento do país em relação ao comércio internacional é preocupante porque a evidência do pós-guerra sugere não haver caminho para o pleno desenvolvimento fora da integração com o resto da comunidade internacional. São poucos os países que conseguiram superar a chamada armadilha da renda média e chegar ao Primeiro Mundo nos últimos 60 anos anos. Alguns, como Israel e os países do Sudeste Asiático – Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan – o fizeram apoiados nas exportações industriais. Outros, como os da periferia europeia – Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal – nas exportações de serviços, inclusive de mão de obra. Outros ainda, com abundantes recursos naturais e escassa população, como Austrália, Nova Zelândia e Noruega, nas exportações de commodities. Cada país à sua maneira, explorando suas respectivas dotações de recursos, mas todos eles com uma característica em comum: a crescente integração com o comércio internacional.
A explicação para essa associação entre comércio e riqueza está em que, através da substituição de importações, é possível atrair do campo para a cidade a população predominantemente subempregada na agropecuária. O crescimento da produtividade agregada que esse deslocamento populacional propicia é suficiente para elevar a renda nos estágios iniciais do desenvolvimento. A partir do esgotamento desse manancial de mão de obra, entretanto, ganhos adicionais de produtividade, que levem da renda média para a renda elevada, dependem de empresas com escala, especialização e tecnologia que somente podem ser obtidas através da integração do país ao comércio internacional. Embora o Brasil seja um país relativamente grande, representa apenas 3,3% do PIB mundial e está longe da fronteira tecnológica mundial.
Na década de 1960, a renda per capita da Coreia do Sul era inferior à do Brasil. Sua estratégia de industrialização, entretanto, baseou-se na promoção de exportações, enquanto que o Brasil persistiu na substituição de importações. Em 1970, as exportações de bens e serviços da Coreia do Sul representavam 15% do PIB, enquanto no Brasil essa relação era pouco menos da metade disso, ou 7% do PIB. Cinquenta anos depois, em 2012, o coeficiente de exportações da Coreia do Sul havia se tornado 3,9 vezes maior do que em 1970, situando-se em 58,5% do PIB. Enquanto isso, o coeficiente de exportações do Brasil foi de 12,5% do PIB em 2012, apenas 1,8 vez maior do que em 1970. Visto de outro modo, a Coreia do Sul é hoje um país desenvolvido, com um PIB per capita de US$ 32.800 e uma corrente de comércio (exportações mais importações de bens e serviços) superior ao valor de seu PIB, enquanto o Brasil continua sendo um país de renda média, com um PIB per capita de US$ 12.100 e corrente de comércio inferior a ¼ de seu PIB. Não há dúvida de que o extraordinário potencial exportador da Coreia do Sul está associado à sua excelente infraestrutura, ao avanço tecnológico de suas empresas líderes e à qualidade de sua educação. Mas tudo isso teria sido difícil, se não impossível, de colocar em pé não fora a decisão do governo coreano, já na década de 1960, mas especialmente após o primeiro choque do petróleo, em 1973, de dar exportabilidade a seu processo de industrialização.
Esse é o desafio que o Brasil enfrenta. Para ultrapassar a armadilha da renda média, é imperativo que deixe de ser um dos países mais fechados do mundo ao comércio internacional. Somente aumentando significativamente a participação das exportações no PIB é que deixaremos de ser apenas um exportador de commodities e conseguiremos desenvolver uma indústria e um setor de serviços internacionalmente competitivos. O exemplo da Embraer, que importa 70% do que exporta, indica o caminho para o futuro. O fato de praticamente todas as multinacionais relevantes já terem instalações no país facilita essa transição. Embora as multinacionais tenham vindo para aqui para explorar o mercado interno, não vão abandonar o país, desde que lhes sejam oferecidas alternativas atraentes para, a partir de sua posição privilegiada no mercado interno, desenvolverem uma atividade exportadora complementar às de suas associadas nos demais países do mundo. A presença maciça das multinacionais é um ativo importante para o país poder integrar-se às cadeias mundiais de valor.
Multinacionais vêm aqui para explorar o mercado interno protegido e não para integrar o país às suas cadeias produtivas mundiais


A sugestão para a alternativa integradora é um programa pré-anunciado a ser implantado gradualmente, ao longo de um número de anos. Por ser um programa gradualista, e não um tratamento de choque, haverá que se construir previamente um consenso político e social para sua sustentação. Esse consenso poderá possivelmente ser alcançado a partir de duas constatações.
A primeira é que, se seguirmos no atual curso de isolamento econômico, continuaremos a gerar pibinho atrás de pibinho , sem conseguirmos sair da renda média. A evidência do letárgico comportamento econômico do país nos últimos 30 anos, reiterada no atual mandato presidencial, nos sugere isso fortemente.
A segunda constatação é que os acordos de preferência comercial tornaram-se, nos últimos anos, importante mecanismo de política comercial dos países e, hoje, podem ser considerados característica irreversível da regulação do comércio internacional. Mais recentemente, comunidades com mercados internos muito maiores do que o nosso e na fronteira da tecnologia mundial, como os EUA e a União Europeia, reconhecendo que, no mundo globalizado em que vivemos, precisam unir forças para acelerar seu crescimento, propuseram negociar uma profunda área de livre comércio entre si, a chamada Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento. A impertinência da postura comercial do Brasil fica assim mais flagrante do que nunca, clamando por um programa de integração que nos libere da atual posição de isolamento.
O programa de integração aqui sugerido tem três pilares: reforma fiscal, substituição de tarifas por câmbio e acordos comerciais, a serem implantados de forma progressiva ao longo de alguns anos.
O objetivo da reforma fiscal, o primeiro pilar do programa, seria permitir uma simplificação e redução da carga tributária sobre as empresas, sem que isso implique um aumento da dívida pública. Parece atrativa uma fórmula adotada por Israel em 2010: fixar um limite superior para o crescimento dos gastos públicos igual à metade do crescimento potencial do PIB, estimado como sendo aquele observado nos últimos dez anos. No caso brasileiro, isso quer dizer um crescimento dos gastos públicos, em termos reais, de 1,5% ao ano. Para reduzir o espaço de manobra para contabilidades criativas que subestimem os aumentos dos gastos (através de orçamentos paralelos, por exemplo), essa meta seria suplementada por limites também para o crescimento da dívida pública bruta. O detalhamento desse pilar seria feito a partir de um estudo sobre os diversos componentes do gasto público e sobre as reformas necessárias para manter sua expansão sob controle.
O primeiro pilar contribuiria para diminuir o custo Brasil , que é o principal problema com que se defrontam as empresas brasileiras para enfrentar a concorrência internacional. O segundo maior problema é o câmbio.
Esse é o tema do segundo pilar da proposta, a saber, a substituição da proteção tarifária contra as importações por uma proteção cambial . Trata-se de anunciar uma redução substancial, a ser implantada de forma progressiva, das tarifas às importações, dos requisitos de conteúdo nacional, das preferências para compras governamentais, das amarras aduaneiras e portuárias, e das especificações técnicas de produtos distintas daquelas adotadas internacionalmente.
Entre as medidas facilitadoras do comércio, está a autorização para que todos os interessados possam utilizar o Despacho Aduaneiro Expresso/Linha Azul, adotado pela Receita Federal para agilizar os trâmites relacionados às operações de comércio exterior. Trata-se de um procedimento especial que atualmente beneficia apenas algumas grandes empresas.
Ainda na categoria das medidas facilitadoras do comércio, deve incluir-se substancial melhoria da infraestrutura portuária e de transportes, através de concessões e parcerias público-privadas. Como demonstram estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento, reduções plausíveis nos custos dos transportes podem trazer aumentos expressivos da exportação do país.
A continuar o atual curso de isolamento econômico, o país só conseguirá gerar pibinho atrás de pibinho , sem sair da renda média


O anúncio dessas medidas antiprotecionistas presumivelmente será feito por um/a presidente convicto/a de sua necessidade e com apoio no Congresso para sua implantação, ou seja, será um anúncio crível. Nesse caso, sob um regime de câmbio flutuante, esse anúncio terá o efeito de desvalorizar o câmbio, pois os agentes financeiros passarão a comprar dólares e a vender reais, para lucrar com o aumento da demanda de dólares que ocorrerá para efetuar as importações adicionais que serão facilitadas.
Esse é o pilar central do plano, pois é ele que, dando acesso a insumos modernos, possibilitará a integração da indústria brasileira ao comércio internacional, à semelhança do que hoje ocorre com a Embraer. Haverá ganhos tecnológicos, de escala e de especialização. Certamente, haverá perdedores, assim como ganhadores. O Brasil (como os Estados Unidos ainda hoje) continuará a ser um grande exportador de commodities, mas dificilmente macros setores inteiros se beneficiarão ou se verão prejudicados pela abertura. É certo que os instrumentos de proteção que serão diminuídos ou eliminados parecem ser hoje mais importantes para a indústria de transformação do que para a agricultura ou a mineração. Entretanto, a indústria será a principal beneficiada da redução de impostos, já que a atividade primária é relativamente menos taxada. Além disso, na margem da expansão do comércio, a indústria de transformação se beneficiará de economias de escala e de especialização que não estão presentes na agricultura, pois esta opera sob um regime de custos crescentes, ao ocupar terras menos produtivas ou mais distantes. Também, embora de forma seletiva, a indústria será a maior beneficiada do acesso a insumos importados mais baratos e de melhor qualidade.
Não é simples o desenho de um mecanismo para a troca proposta das tarifas por câmbio, especialmente por causa da volatilidade da conta de capital e sua importância na determinação da taxa de câmbio. É possível imaginar soluções para esse dilema, através de taxas de câmbio de referência, controles macro prudenciais e outros mecanismos, mas por hora cabe apenas ressaltar a importância da troca das tarifas pelo câmbio. Quando o programa for implantado, se fará a escolha entre as alternativas possíveis, pois ela dependerá de uma série de fatores conjunturais, tais como a situação da conta corrente, o ponto de partida da taxa de câmbio, a distância entre a taxa de inflação e o centro da meta e as perspectivas sobre os fluxos de capital.
O terceiro pilar do programa são os acordos comerciais internacionais. Dado o amplo mercado interno que abrirá às exportações dos demais países, o Brasil estará em condições de fazer negociações vantajosas para a abertura compensatória dos mercados de seus parceiros comerciais. O leque de possibilidades é amplo, envolvendo acordos multilaterais, regionais e bilaterais. O certo é que o país necessitará de liberdade de movimentos e, portanto, deverá flexibilizar as regras de lista comum para a negociação com terceiros países que têm sido observadas no Mercosul.
É importante ter em conta que o programa de integração aqui sugerido é unilateral. Portanto, não está condicionado à realização de acordos comerciais. Entretanto, na definição do sequenciamento da abertura, certamente haverá espaço para fazê-la em primeiro lugar em relação aos países que se proponham assinar acordos comerciais com o Brasil. A abertura em relação aos demais países ficaria mais para o fim do processo. Isso deverá ser estímulo suficiente para induzir nossos parceiros comerciais a logo firmarem esses acordos, para terem acesso mais rápido ao mercado interno brasileiro. Não se pode perder de vista que a troca das tarifas pelo câmbio é uma vantagem em si para o Brasil. Os ganhos comerciais que vierem dos acordos serão adicionais àqueles propiciados por essa política de dinamização do crescimento econômico brasileiro.