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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Industria das indenizacoes: com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro...

O comentário abaixo lista apenas alguns, poucos, pouquissimos exemplos das falcatruas que vem sendo feitas com o dinheiro de todos os brasileiros, para beneficiar alguns espertinhos, que alegaram "resistência contra a ditadura" para enriquecer -- ou pelo menos viver da poupança alheia -- à custa de todos os brasileiros...
A desfaçatez é tão grande que nem tenho palavras para classificar esse tipo de imoralidade.
Paulo Roberto de Almeida

A empulhação da bolsa-ditadura
Reinaldo Azevedo, 12.08.2010

Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, considerou um “retrocesso” a revisão do valor de algumas indenizações pagas a “perseguidos políticos” ou a seus familiares.

É mesmo?

A indenização virou a farra do boi. Há alguns casos realmente fabulosos. O cartunista Ziraldo, que ficou rico com o jornal Pasquim, recebeu R$ 1 milhão a título de pagamento retroativo e tem pensão mensal de R$ 4.375. Por quê? Jaguar, seu amigo e sócio, não ficou tão rico porque, confessadamente, diz ter bebido tudo o que ganhou. A ditadura proibia as pessoas de dizer certas coisas, é verdade. Mas não impunha a ninguém que bebesse a própria fortuna. Millôr Fernandes, que também foi do Pasquim, não pediu indenização e afirma que luta contra a ditadura não era poupança. Na mosca.

A viúva de Carlos Lamarca foi indenizada e recebe uma gorda pensão. O homem era militar, desertou, matou seus pares. A comissão decidiu promovê-lo postumamente — como se tivesse competência pra isso —,antes de decidir o valor da prebenda. Promoção? Para Lamarca? Por que mesmo? Por serviços prestados ao Exército ou à causa comunista? A coisa toda é de um ridículo atroz.

Carlos Heitor Cony, que chegou a redigir um dos editoriais do Correio da Manhã em favor do golpe militar — isso é história — se disse perseguido porque demitido mais tarde. Recebeu pouco mais de R$ 1,4 milhão! E sua pensão mensal era de mais de de R$ 23 mil até outro dia. A quantas anda hoje, não sei. Terá ele aberto mão de tamanha generosidade? Seria o moral. Afinal, pouco depois da demissão, virou uma estrela do Grupo Manchete, com sala decorada com mármore rosa importando sei lá de onde — mas era podre de chique! —, numa revista que não dizia um “a” contra o regime, muito pelo contrário. Sua única veia de contestação, se assim se pode chamar, era uma fotinho de Adolfo Bloch abraçado a Juscelino, que tinha sido importante para a consolidação do grupo. Que eu saiba, Cony foi o mais premiado de todos. Justiça?

Indenização a quem realmente padeceu agruras quando já rendido por agentes do Estado? Compreendo, defendo e sou favorável. Indenização a quem refez plenamente a sua carreira e, em alguns casos, até ficou rico, ainda que por vias oblíquas, com a ditadura? É oportunismo da pior espécie. Indenização a quem pegou em armas (ou seus descendentes) para derrubar o regime, consciente dos riscos que corria, para matar ou morrer — e muitos mataram em vez de morrer? É uma indignidade.

Esse descalabro tem de ser revisto. Entre as indenizações pagas e as já aprovadas, o espeto passa de R$ 4 bilhões. E quem paga não é a ditadura. Quem paga é o povo brasileiro.

PS - Só para lembrar. Lula também recebe a prebenda. A grana passa de R$ 6 mil por mês. Por quê? Porque ficou 30 dias preso no começo dos anos 80 — aquela prisão junto com o “Menino do MEP”… Felizmente, não lhe tocaram num fio de cabelo. No de Lula, quero dizer. Estava construindo o PT, por meio do qual chegaria à Presidência da República, e jamais deixou de receber um mês de salário, pago primeiro pelo sindicato e depois pelo partido. Usou aquele evento para se fazer de mártir, grande militante, representante do povo e, finalmente, presidente.

Agora todo-poderoso, defende os regimes iraniano e cubano, entre outras tiranias, notórios por torturar e matar prisioneiros.

Memória é importante em jornalismo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amazonia subtraida: uma lenda renitente (e idiota)

Fazem mais de dez anos que circulam boatos em torno de uma suposta internacionalização da Amazônia (o que aliás seria bom, pois a Amazônia só foi "desenvolvida", de verdade, quando ela era internacionalizada, no ciclo da borracha. Depois voltou à sua modorra habitual).
Uma matéria do G1, pelo repórter Daniel Buarque, retoma a história dessa fraude monumental, que reproduzo logo abaixo.
Em meu site, pode ser encontrado um dossiê dessa lenda da internet.
Divirtam-se...
Paulo Roberto de Almeida

Mapa da Amazônia dividida é mentira deliberada, diz diplomata brasileiro
Daniel Buarque
G1, em São Paulo, 12/08/2010

Mapa adulterado da floresta circula na rede há uma década.
Governos dos EUA e do Brasil já investigaram e detectaram a montagem.

O falso mapa de livro didático que circula desde o ano 2000 com boato sobre a internacionalização da Amazônia

Na origem de um longo debate em que os brasileiros acham que os Estados Unidos querem invadir a Amazônia, e os americanos acham que o Brasil é paranoico está uma lenda urbana de mais de uma década, espalhada pela internet e reciclada periodicamente com popularidade surpreendente. Trata-se da história de que escolas dos EUA usam livros didáticos de geografia com um mapa da América do Sul adulterado, em que a região a amazônica aparece como “território internacional”. Por mais que a história já tenha sido desmentida oficialmente uma dúzia de vezes, muitos brasileiros ainda mencionam este caso sem saber exatamente se era verdade ou não, e até políticos brasileiros volta e meia pedem explicações oficiais do Ministério das Relações Exteriores sobre o assunto.

Desde as primeiras menções ao caso, ainda no ano 2000, representantes diplomáticos brasileiros nos Estados Unidos começaram a investigar as origens do que aparecia como mais um boato, uma lenda da internet. O diplomata Paulo Roberto de Almeida, que então trabalhava como ministro conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington, averiguou rapidamente que a história circulava em listas universitárias de discussão, mas que suas bases factuais eram frágeis, praticamente inexistentes. Logo em seguida, ao pesquisar em bases de dados e examinar os materiais disponíveis, concluiu por uma montagem feita no próprio Brasil.”"Esta 'notícia' aparentemente tão alarmante não tem base", diz, em um longo dossiê que publicou sobre os boatos. "Posso, sem hesitar, afirmar que os Estados Unidos não querem amputar um pedaço da nossa geografia nas escolas do país e que os supostos mapas simplesmente não existem."

Em entrevista concedida nesta semana ao G1, direto de Shangai, na China, Almeida confirma o que já tinha constatado anos atrás: reiterou que os boatos lançados a esse respeito sempre foram nacionais, criados inteiramente no Brasil. Segundo ele, os americanos nunca tiveram nada a ver com o caso e, de certa forma, foram vítimas dele, tanto quanto os milhares de brasileiros enganados. “É preciso deixar claro que o mapa não é uma questão estrangeira. Ele foi feito por brasileiros e para brasileiros”, disse. “É uma construção, uma mentira deliberada”, completou. Segundo ele, que investigou o caso enquanto viveu nos Estados Unidos, é possível traçar a origem desses rumores a grupos de extrema direita militar no Brasil, interessados em preservar a soberania brasileira sobre a Amazônia, "supostamente ameaçada por alguma invasão estrangeira. Neste caso, recorreram à fraude deliberada para reforçar seu intento", explicou. Curiosamente, disse, a causa acabou abraçada pela extrema esquerda antiamericana, e a histórica cresceu com a ajuda da internet.

É preciso deixar claro que o mapa não é uma questão estrangeira. Ele foi feito por brasileiros e para brasileiros. É uma construção, uma mentira deliberada"
Paulo R. de Almeida, diplomata brasileiro

Almeida é doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico e diplomata, autor de mais de uma dúzia de livros sobre o Brasil e relações internacionais, como "Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas". Em sua página pessoal na internet, ele reproduz seu dossiê sobre o caso, trazendo inclusive trechos da comunicação formal do então embaixador Rubens Antonio Barbosa negando a existência do mapa, que havia sido publicada no boletim da "Ciência Hoje" em maio do mesmo ano. A carta do embaixador, de junho de 2000, acusa um site brasileiro de criar a história. "Tudo parece ter originado, não de uma suposta 'conspiração americana' de desmembrar a floresta tropical amazônica, mas de desinformação 'made in Brazil' por setores ainda não identificados."

Repercussão
A negativa oficial não foi suficiente, e o caso continuou crescendo e chegou até mesmo ao Congresso Brasileiro. Primeiro foi a Câmara de Deputados, que em junho de 2000 fez um requerimento formal pedindo ao ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, informações a respeito da "matéria veiculada na internet na qual o Brasil aparece em mapas dividido." Depois disso, em 2001, foi no Senado. A página na internet do Senado traz um pronunciamento do senador Mozarildo Cavalcanti, do PFL de Roraima, de 29 de novembro de 2001, em que chama a internacionalização da Amazônia de "processo inteligentemente armado para anestesiar as camadas formadoras de opinião e evitar reação". Depois de ler todo o texto da denúncia que circulava pela internet, o senador apelou ao ministro das Relações Exteriores para que investigasse a fundo o assunto o "atentado à soberania do país".

A ideia é tão hilária que me sinto bobo de falar sobre ela."
Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA no Brasil

Segundo o diplomata brasileiro ouvido pelo G1, o mapa se transformou em um refúgio para quem busca teorias da conspiração. "Quem quer acreditar, acredita em qualquer coisa", disse Paulo R. Almeida, explicando o porquê de o caso continuar tão popular mesmo depois de ser rebatido com fatos. "Os americanos nem deram atenção ao caso, foram pegos de surpresa e de forma involuntária. Só o Brasil dá importância a esta invenção."

Resposta americana
Logo que o caso surgiu, no ano 2000, Anthony Harrington, então novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, tentou dar uma resposta oficial e final ao assunto. "Existem aqueles no Brasil que acreditam que os Estados Unidos querem dominar o mundo. Eles vêm o Tio Sam como o grande abusador. Típico desta forma de pensar é a crença de que os Estados Unidos têm um plano secreto de invadir a Amazônia em nome de salvar a Floresta Tropical. A ideia é tão hilária que me sinto bobo de falar sobre ela. Mas em nome de seguir adiante, de permitir que americanos e brasileiros possam passar aos assuntos sérios que enfrentamos juntos, deixe-me deixar isso claro: A Amazônia pertence ao Brasil. Sempre vai pertencer. E o mito de que os Estados Unidos invadiria é simplesmente ridículo. Ponto Final."

Segundo o embaixador, os americanos são fascinados pela floresta, tanto quanto a maioria das pessoas em todo o mundo, mas o interesse do país é apenas em colaboração com o Brasil, ajudando a desenvolver a região de uma maneira que seja inócua para o meio ambiente e faça justiça aos formidáveis recursos naturais que os brasileiros possuem. "A idéia de que tropas americanas possam intervir na Amazônia é ridícula. Sinceramente, não merece comentários."

Mesmo assim foi preciso voltar a tocar oficialmente no assunto, e a própria Embaixada Americana no Brasil manteve por algum tempo uma página de desmentido da história do mapa no ar. A página não existe mais no mesmo endereço. Entretanto, o site America.gov, que traz informações sobre política externa dos Estados Unidos e é produzido pelo Departamento de Estado, mantém no ar o texto do desmentido e os argumentos. A data da divulgação é de 2005, cinco anos depois do início da propagação do mito e três após a reportagem no principal jornal dos Estados Unidos.

Rebatendo o mito
A resposta oficial diz que o e-mail forjado surgiu em 2000. "Não há indicação de que tal livro exista. A Biblioteca do Congresso dos EUA, com mais de 29 milhões de livros e outros materiais impressos, não tem registro dele. O banco de dados online do centro de estudo WorldCat, o maior banco de dados de informação bibliográfica, com mais de 47 milhões de livros, não tem registro do livro. Tal livro também não é encontrado em buscas na internet na Amazon e no Google" .

O primeiro argumento usado para refutar a veracidade do livro é gramatical: "Muitos erros de grafia, gramática, tom inapropriado e linguagem" que são evidentes para um falante nativo de inglês. A resposta oficial do governo americano, apesar de ter demorado quase meia década, parte na mesma direção do embaixador brasileiro Rubens Antonio Barbosa, indicando que o trabalho aparenta ser uma invenção "made in Brazil" para criar "desinformação". O Birô Internacional de Programas de Informação continua seu texto apontando que "alguns dos erros de grafia nesta falsificação indicam que o falsificador era um falante nativo de português", diz, citando exemplo como a palavra "vegetal", que aparecia na mensagem original no lugar de "vegetable".

A criação da 'Prinfa' foi um presente para o mundo todo visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos"
Texto falso divulgado junto com lenda urbana sobre livro didático

O mapa
Esta duradoura mentira circula há anos pela rede trazendo a imagem de um suposto mapa de livro de geografia usado nas escolas dos Estados Unidos em que aparece um pedaço da Amazônia como sendo um território sob “responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas”. Esta área, que inclui partes do Brasil e de outros países da região, teria sido renomeada, ainda nos anos 1980, para Finraf (Former International Reserve of Amazon Forest), traduzida, na mensagem de alerta que dizia se tratar de uma história real, para Prinfa (Primeira Reserva Internacional da Floresta Amazônica).

A mensagem, que circulou por e-mails e blogs, é sempre a mesma. Um “alerta”, algo “para ficar indignado”, incluindo uma página copiada do suposto livro “An Introduction to Geography”, onde aparece o referido mapa do Brasil “amputado” e um texto sobre a “reserva internacional”.

O texto do livro é preconceituoso e ofensivo, e foi traduzido de um inglês pobre para um português cheio de erros de grafia e gramática: “Desde meados dos anos 80 a mais importante floresta do mundo passou a ser responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. (...) Sua fundação [da reserva] se deu pelo fato de a Amazônia estar localizada na América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo e cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Fazia parte de oito países diferentes e estranhos, os quais, em sua maioria, são reinos da violência, do tráfego de drogas [sic], da ignorância, e de um povo sem inteligência e primitivo. A criação da Prinfa foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial para nosso país e um presente para o mundo todo visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos” .

Para dar credibilidade à história, a mensagem alega que a fonte da informação foi um jornal, sem muitos detalhes sobre a publicação do caso. Mesmo sem uma base de informação mais forte, a história se espalhou pelo Brasil e ganhou atenção até nos próprios Estados Unidos, onde foi rechaçada repetidas vezes, como em 2002, quando foi ironizada pelo "New York Times" como "claro, pura imaginação. A imaginação brasileira" . O título da matéria era algo como "No fundo do Brasil, uma viagem de paranoia".

Ainda em 2010, o Google tem mais de 1.200 retornos para a busca internacional pela sigla Finraf. Traduzindo a sigla para Prinfa, são mais de 3.000 páginas registrando alguma informação a respeito dessa história. São dezenas de blogs pessoais, páginas de jornais de diferentes lugares do Brasil, perguntas em fóruns. Muitos já tratam o assunto como mito, lenda urbana, e dizem que o mapa se tornou apenas uma curiosidade na internet. Não faltam, entretanto, as páginas que ainda reproduzem o assunto (algumas com datas tão recentes quanto 2009) com tom indignado e alegando se tratar de uma denúncia real.

Saiba mais:
* Medo de intervenção na Amazônia é 'paranoia', dizem americanos
* Americanos cogitaram ‘tomar a Amazônia’ no século XIX, revela livro
* Detetive virtual: Textos na internet sobre a Amazônia são falsos

Balanco energetico da America do Sul - O Estado de S.Paulo

A situação energética na América do Sul
Bia Rodrigues e João Paulo Charleaux
O Estado de S.Paulo, Terça-feira, 25 de Maio 2010

Tensões fronteiriças e legislações nebulosas atrasam avanço energético numa das regiões mais ricas em fontes de gás e petróleo. Conheça a situação dos países.

Brasil

Atualmente, a balança comercial de energia brasileira está negativa, mas o País caminha para ter excedente energético. Isso porque o potencial para produção de petróleo e gás natural aumentou com as novas descobertas, principalmente na camada de pré-sal, que podem levar o País a alcançar a posição de 5º maior produtor de petróleo nos próximos 10 anos. O Brasil destaca-se ainda como o maior exportador e segundo maior produtor de etanol do mundo. Além disso, pode aumentar a produção de energia hidrelétrica e tem reservas de urânio e tecnologia para a produção de combustível nuclear.

Ver toda a matéria no link acima.

A nova era democratica (talvez no futuro...)

Poucas semanas atrás assisti a um debate sobre as eleições, no qual um dos grão-petistas presentes dizia, com aquela certeza dos ingênuos, que a era Lula (assim mesmo, já catalogada para a História) tinha aberto um ciclo de longo prazo de conquistas democráticas no Brasil, equivalente à era Roosevelt nos EUA.
As evidências seriam dadas pelas políticas de inclusão social (Bolsa Família, valorização do salário mínimo, programas diversos de inclusão social, nas universidades, cotas raciais, etc.) o que garantiria a permanência do projeto lulista, quaisquer que fossem os resultados eleitorais (mas, claro, se esperava vitória fácil em outubro).
Com poucas exceções, os demais participantes tenderam a concordar com esse tipo de análise, numa avaliação puramente política do processo, sem qualquer abordagem de seus aspectos econômicos ou orçamentários.
Quase tomo da palavra para lembrar que haveria um preço a pagar pela economia nos anos à frente, mas considerei que não seria compreendido, pois todos ali pareciam achar que o dinheiro que permitia ao governo fazer todas essas bondades fluia de uma cornucópia inesgotável, nascia nas árvores, ou era retirado do ar...
Quanto aos aspectos puramente políticos da "nova era democrática", remeto a este texto de um jornalista conhecido...
Paulo Roberto de Almeida

Um texto de formação: Nova era democrática? Se não querem estudar, respeitem aos menos os fatos!
Reinaldo Azevedo, 12.08.2010

Vamos a um texto longo e, creio, necessário. Depois vocês me dizem o que acharam.

Nada pode ser mais deprimente e, na verdade, ridículo do que supostos estudiosos se apresentando para ser “intelectuais do regime”. Não raro, fizeram “carreira” acadêmica de segunda linha, orgulham-se de seu pragmatismo — e de sua pouca teoria — e transformam duas ou três pesquisas de opinião numa categoria de pensamento e numa espécie de emplastro para curar os males do mundo. O de Brás Cubas (o de Machado de Assis), ao menos, era contra a melancolia. Estes só estão atrás de um carguinho público ou de uma sinecura em alguma instituição federal no caso de o petismo ganhar o direito a mais quatro anos de poder.

Dia desses me deparo com alguns desses anunciando que o Brasil, com Lula, vive uma espécie de “nova era democrática”. Não! Não vou contestá-los porque, muito provavelmente, votaremos em candidatos distintos ou porque algum valor ideológico nos divida. Ainda que muitos não acreditem, gosto quando encontro algo que considero consistente e que vai na contramão do que eu penso. Não saio batendo em tudo de que discordo, não! Ao contrário: aprendo com aquilo que me surpreende e que não condiz com o meu pensamento. “Nova era democrática”? Por quê? Antes que entre no mérito da questão e demonstre por que o que há de novo não é bom e o que há de bom não é exatamente novo, algumas considerações de princípio.

Questões de princípio
Não se deve confundir a satisfação da maioria — na suposição de que ela exista — no Brasil ou em qualquer país com qualidade ou avanço da democracia. São coisas distintas. O exemplo óbvio a mais não poder foi o regime militar no Brasil. O auge da repressão — e só os muito burros e os de má fé supõem que eu pudesse concordar com aquilo se tivesse idade para tanto — coincidiu com o auge da satisfação com o governo. É fato! Podemos avançar no tempo, aos dias atuais, e viajar lá para as paragens chinesas. Nos últimos 20 anos, o país não tirou 12 milhões da pobreza, mas, ATENÇÃO!, meio bilhão de pessoas!

É uma falácia confundir elevação do bem-estar econômico e social com aperfeiçoamento da democracia política. Ou, sem dúvida, a China seria hoje uma das maiores referências democráticas do mundo. E, no entanto, trata-se de uma tirania. Talvez alguns gostassem de debater se um país com aquelas características tem alternativa à ditadura e se não é melhor mantê-lo debaixo do porrete. Não me chamem para tal debate. O que sei, e com certeza absoluta, é que democracia não é.

Também é uma estupidez, manifestação de ignorância, misto de populismo com falta de leitura, classificar de avanço da democracia uma maior participação política do que chamam “massas”. Por si, não é, não. Pode até ser o oposto disso, como provam o bolchevismo e o fascismo no século passado — ou o regime bandoleiro-fascistóide de Hugo Chávez, na Venezuela. Assim, a saída de milhões ou de meio bilhão da pobreza ou a “emergência das massas” no processo político nada dizem, sozinhos, da qualidade da democracia. Mais do que isso: tais elementos podem servir para ocultar o enrijecimento e a esclerose do padrão democrático.

Ainda uma outra observação antes que volte àqueles especialistas de si mesmos alçados à condição de pensadores do futuro. A democracia que não se encarrega de promover o bem-estar da população acaba encontrando, cedo ou tarde, um candidato a tirano que se propõe a resolver, pela via não-institucional, o que chamará de “desigualdades”. Não serve de exemplo para ninguém. Um governo que se diz dedicado à correção de desigualdades atropelando as leis democraticamente instituídas está se candidatando a ser o coveiro da democracia. E também não serve. Pronto! Esclareci alguns princípios que orientam a minha questão.

Que diabo de nova era é essa?
Nova era democrática com o governo Lula? Por quê? Começo reconhecendo, sim, aquela que foi a grande conquista do… governo FHC: não há mais força política relevante no Brasil que se proponha a virar a mesa. Um Plínio de Arruda Sampaio no debate entra quase como uma ilustração antiga. Eu o vi, ontem, a propósito, a lembrar os “bons tempos” em que os alunos da escola pública eram do “Caetano Campos” — e citou outros colégios outrora tradicionais de São Paulo. O “socialista com liberdade” (risos) tem saudade de quando a escola pública era para os filhos da elite… Mas deixemos a criatura de lado para voltar ao essencial.

FHC devolveu o Brasil ao mundo moderno ao estabilizar a economia. Imaginem: em 1993, a inflação havia chegado a mais de 2.700% aos ano — e tinha sido muito maior no governo Sarney,com correção diária de preços e mensal de salários. No primeiro ano do Plano Real, a que o PT se opôs, foi de 1,8%. O Real, sim, foi o grande golpe dado na pobreza no Brasil — coisa que os vigaristas e mistificadores de agora não reconhecem. E só isso seria o bastante para desqualificar a tal “nova era lulista”. Mas há mais, muito mais.

Direitos individuais
Os oito anos de governo Lula foram caracterizados pela violação sistemática de direitos individuais protegidos pela Constituição. Não há mais sigilo bancário, fiscal, telefônico ou de correspondência. Do caseiro ao banqueiro, passando por dirigentes da oposição, qualquer um está exposto a uma espécie de polícia política. Um ex-funcionário de um bunker contou à revista VEJA como funcionava o esquema — ou funciona ainda. Nova era democrática?

Estado de direito
Nestes anos, setores da Polícia Federal, sem dúvida, cumpriram a sua função e honraram os princípios do departamento. Mas outros, partidarizados, ideologizados, comportaram-se como uma tropa de assalto do regime, intimidando, violando sistematicamente princípios do Estado de direito. Esbirros do poder foram mobilizados no subjornalismo, financiados com dinheiro público, para fazer a guerrilha de desqualificação dos adversários. Nova era democrática?

Assédio à imprensa
A imprensa também está sendo assediada. Não fossem as tentativas de criar embaraços legais para o livre exercício do jornalismo, a Presidência da República — Lula — estimulou a realização de conferências, pouco importando o tema que as reunisse, que tinham uma pauta só: controle da imprensa. A proposta foi aprovada na Conferência Nacional de Direitos Humanos, na Conferência Nacional de Comunicação e na Conferência Nacional de Cultura. Só falta agora realizar uma Conferência Nacional da Liberdade de Imprensa para propor o fim da liberdade de imprensa. Nova era democrática?

TCU
Lula sancionou anteontem a lei que simplesmente alija o Tribunal de Constas da União dos principais gastos feitos pelo Executivo e pelas estatais. O governo Lula passou três anos girando em torno do próprio eixo para dar início às obras da Copa do Mundo e chegou, depois de tanta inoperância, à brilhante conclusão de que não dá para fazer nada sob a vigilância da lei. E isso, com efeito, parece coisa normal a muitos. Nova era democrática?

Leis de ocasião
O presidente da República mudou uma lei para legalizar uma operação que, na verdade, já havia acontecido: a compra da Brasil Telecom pela Oi. A compra, ainda ilegal, foi feita com financiamento de um banco público, o BNDES. Tudo efetivado, Lula criou, então, a nova lei. Com efeito, nunca antes na história destepaiz se agiu assim. E olhem que nem entro no mérito. Pode até ser que a coisa tenha sido necessária. Não importa! Na República, fazem-se negócios de acordo com a lei, e não lei de acordo com os negócios. Nova era democrática?

O mau exemplo do chefe
O chefe do Executivo torna-se um contumaz desrespeitador da legislação eleitoral, transformando-se numa máquina de receber multas irrelevantes, que jamais serão pagas, e casa, abertamente, como se viu anteontem em Minas, a agenda do governo com a agenda de sua candidata, evidenciando que dá uma vistosa banana para o aparato legal. Nova era democrática?

Ditaduras
No front externo, no grupo dos amigos dos tiranos, o Brasil se torna o primus inter pares. Nenhuma diplomacia, como a brasileira, foi tão longe da defesa de facínoras e na proteção que lhes oferece. Não bastasse a atuação pessoal de Lula nesse sentido, o Itamaraty tentou transformar isso numa Teoria Geral da Relação Entre Países. Enviou um documento à ONU em que pede, na pratica, uma pouco mais de calma com as tiranias. Acredita que elas precisam de mais papo, não de pressão. Nova era democrática?

Aparelhamento
O estado nunca esteve tão aparelhado, e os sindicatos e centrais sindicais — agora recebendo parte do Imposto Sindical e também livres da vigilância do TCU — estão, mais do que a nunca, a serviço da política; no caso, usam recursos que não pertencem a suas respectivas direções, para a campanha eleitoral. E já não se ocupam de disfarçar o seu “trabalho” porque desrespeitar a lei, nesse caso, é inócuo quando não é vantajoso. Nova era democrática?

E que fique claro antes de avançar: estou deixando de lado o que não funciona no país — este paraíso… — porque o propósito deste texto é listar as muitas agressões que a democracia sofreu nesses anos. E também não toco, não neste artigo, na fantástica máquina de mentiras e empulhação, como é o caso do PAC — ou um, o dois e o nenhum!

Caminhando para o fim
Eu poderia recomendar a essa gente que fosse estudar para definir primeiro os critérios do que chama democracia — que sofreu, isto sim, um grande retrocesso nos anos Lula. Que democracia é essa em que você tem a certeza de que eles ouvem o que você diz ao telefone e sabem o que você escreveu num e-mail se quiserem — ainda que você não queira? Em que eles escarafuncham a sua vida fiscal se quiserem — ainda que você não queira? Em que eles vasculham as suas contas bancárias se quiserem — ainda que você não queira? E tudo, obviamente, ao arrepio da lei, sem ordem judicial.

Essa é a democracia exemplar? É aquela em que o governo se outorga o direito de gastar o que e como quiser sem que seja vigiado por ninguém? Não! Eles não vão querer estudar porque isso toma tempo, e muito melhor é descolar alguma grana de algum trouxa e realizar uma “pesquisa empírica”, como se orgulham tanto, fazendo com que um teoria qualquer brote de suas porcentagens — desde que seja adesista.

A democracia brasileira sofreu um queda brutal de qualidade. Porque não basta que mais pessoas se tornam consumidoras; não basta que mais pessoas participem, de algum modo, do processo político. Para que avance, o regime democrático tem de estar consolidado. E ele se consolida com o respeito estrito às leis (democraticamente instituídas, é claro), e não com a transgressão continuada, patrocinada, em muitos casos, pelo próprio Poder Executivo.

A questão é saber o que se quer. Eu quero a democracia representativa, organizada segundo um estado de direito. E ele há de ser tolerante o bastante para que se perceba a emergência no novo — e nossa Constituição o é — e firme o bastante para tornar pilares inamovíveis os direitos individuais, que são protegidos pela Carta brasileira. Ocorre que ela está sendo assediada pela demagogia barata. E noto que entes encarregados de pôr freios no apetite sempre grande do Executivo — em qualquer país do mundo, diga-se — estão já um tanto contaminados não pelo espírito das leis, mas pelo espírito da militância. Temo que essa onda já tenha chegado ao Supremo!

Nova era? Não! O governo Lula aproveitou a bonança da economia internacional para tentar casar o bom momento do país com uma agenda que, no espírito e na prática, agride o regime de liberdades. E resistir a isso é um dever dos que defendem a democracia. Eu resisto!

Ah, sim: agora aguardo um texto de contestação demonstrando que os fatos que elenco acima caracterizam o mais refinado espírito da democracia. Coragem, valentes! Estou à espera.

Uma industria nacional sob exame: a das indenizacoes

Trata-se, provavelmente, de um dos maiores golpes já aplicados por espertinhos contra os pobres no Brasil. Supostos perseguidos políticos -- em vários casos de fato -- obtem indenizações milionárias sem qualquer sentido econômico ou princípio moral.
Um jornalista como o Carlos Heitor Cony, por exemplo, que não se pode dizer que tenha vegetado na miséria durante todos esses anos, já ganhou, há muito anos atrás, uma indenização de centenas de milhares de reais, mais uma "aposentadoria" mensal de 20 mil reais, aproximadamente, no que eu considero uma operação vergonhosa.
Abaixo uma matéria sobre essa escandolosa indústria nacional que é o golpe das indenizações. Tem coisas verdadeiramente escandalosas...
Paulo Roberto de Almeida

TCU decide rever valor pago a anistiados
Marta Salomon
O Estado de S.Paulo, 12.08.2010

O Tribunal de Contas da União decidiu ontem revisar cerca de R$ 4 bilhões em indenizações a perseguidos políticos já pagas ou aprovadas em pouco mais de sete anos. A partir dessa decisão, o procurador do Ministério Público no TCU, Marinus Marsico, promete prioridade para três casos: os da viúva de Carlos Lamarca e dos jornalistas Ziraldo Alves Pinto e Sérgio Jaguaribe, o Jaguar.

No total, serão objeto da análise do órgão 9.371 benefícios já concedidos pela Comissão de Anistia com base na lei que garantiu o pagamento de indenização do Estado a vítimas de perseguição política até 1988, ano em que a Constituição foi aprovada.

Os nomes de Lamarca, Ziraldo e Jaguar são exemplos de indenizações que devem ter os valores reduzidos, adianta Marinus Marsico, autor do pedido de revisão dos benefícios.

“Vamos tentar economizar milhões para os cofres públicos, começando pelos casos mais flagrantemente irregulares”, afirmou ontem o procurador ao Estado, logo após o resultado da votação em plenário - foram 5 votos a 3 a favor da revisão dos benefícios aprovados aos anistiados políticos.

Procurado ontem, o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, disse que só se manifestaria hoje sobre a decisão do órgão.

O debate no TCU se arrastou por mais de dois anos, desde que Marinus Marsico apresentou pedido para rever as indenizações, cujos valores foram definidos de forma arbitrária, de acordo com análise do Ministério Público.

Desde o início do caso, o procurador deixou claro que não pretendia rever a condição de anistiado político, mas apenas os valores concedidos.

Ontem, ele informou que pretende apresentar pedido de cautelar para suspender o pagamento dos valores retroativos mais elevados, com parcelas ainda não liberadas, até que a análise do TCU sobre esses casos seja concluída.

Patente. A viúva de Carlos Lamarca, Maria Pavan Lamarca, é beneficiária de pagamento retroativo de R$ 902,7 mil, além de uma remuneração mensal de R$ 11.477. Lamarca desertou do Exército, virou guerrilheiro e acabou morto em 1971. Depois disso, foi promovido a coronel, mas o procurador do Ministério Público avalia que a promoção correta seria para uma patente inferior.

Ziraldo e Jaguar, fundadores do jornal Pasquim, foram beneficiados com pagamento retroativo de pouco mais de R$ 1 milhão cada um e uma indenização mensal de R$ 4.375. O procurador não põe em dúvida que Ziraldo e Jaguar tenham sido vítimas de perseguição política, mas questiona o valor do benefício aprovado pela Comissão da Anistia.

A decisão de ontem do Tribunal de Contas da União só livra da revisão as indenizações pagas em parcela única de até R$ 100 mil. Esses casos representam menos de 5% das indenizações já aprovadas ou pagas. Passarão por análise do órgão tanto a pensão mensal concedida a anistiados como os valores de pagamentos retroativos aprovados.

Argumentos. Ontem, durante a sessão no plenário do TCU, o grande volume de trabalho extra foi um dos argumentos usados pelo ministro Benjamin Zymler para tentar barrar a revisão das anistias. “Não podemos encher a Secretaria de Fiscalização de Pessoal com milhares de processos, não sei se temos condições de avaliar esses processos”, observou Zymler. “Estaríamos impondo a nós mesmos um ônus importante.”

Venceu, porém, o entendimento de que as indenizações aprovadas a anistiados políticos equivalem a pensões pagas a servidores públicos pelo Estado e, por isso, estão igualmente sujeitas à análise do órgão.

O TCU não fixou prazo para concluir a análise. Nos próximos três meses, serão definidos critérios para o exame dos benefícios. Não está claro se valores pagos de forma irregular terão de ser devolvidos.

Importando cerebros (no Brasil parece que é proibido...)

O pior nacionalismo que possa haver é o nacionalismo educacional. É o mais burro, dito simplesmente.
O Brasil se desenvolveu importando gente, pensando importar braços apenas. Os imigrantes foram pensados como substitutos dos escravos nas fazendas de café, e minha avó italiana veio para o Brasil exatamente para isso mesmo.
Só que com os braços vem os cérebros, pois gente empreendedora costuma trazer o cérebro junto quando vem trabalhar: só os muito servis, deixam o cérebro em casa e se entregam totalmente ao patrão, como ainda acontece em certos serviços muito subservientes...
Pois bem, depois o Brasil achou que já tinha sido generoso demais e fechou as portas à imigração, numa das políticas mais estúpidas de que se tem notícia em nossa história.
A Constituição de 1988 acrescentou mais um grão (ou uma tonelada) à estupidez ambiente, proibindo a contratação de professores estrangeiros pelas universidades brasileiras.
Poucas vezes em nossa história, a estupidez de alguns se manifestou de maneira tão primária como nessa ocasião. Depois, felizmente, se corrigiu parcialmente essa anomalia duplicada com burrice, ao se suspender essa cláusula constitucional, mas o preconceito contra a inteligência estrangeira persiste em vários campos da vida nacional, em primeiro lugar no próprio governo.
Quando vejo, ou ouço, representantes do MEC, de outros setores do governo, ou, em geral, professores do terceiro ciclo dizendo que são contra a abertura da educação nacional no quadro da liberalização dos serviços no GATT-OMC, por que isso "faria com que nossas universidades fossem compradas por investidores estrangeiros", eu me pergunto o que é que pode fazer pessoas universitárias, medianamente alfabetizadas, portanto, serem tão estúpidas a esse ponto, de professarem explicitamente nacionalismo educacional, de se opoerem à internacionalização da educação brasileira, em nome de não se sabe bem qual nacionalismo pedagógico que faria com os os cérebros nacionais fossem inevitavelmente superiores aos estrangeiros?
Como é que as pessoas não se dão conta de que estaríamos muito melhor se, em lugar dessas Faculdades Tabajara de Cabrobó da Serra, nós pudessemos ter pelo menos cópia de Harvard, de Yale, de Princeton.
Claro, não conto com essas universidades da primeira linha vindo inteiras para o Brasil (ainda que todas elas tenham programas de cooperação e de intercâmbio com vários países ao redor do mundo, os menos estúpidos, digamos assim), mas mesmo uma universidade ou faculdade de segunda ou terceira linha, nos EUA, puramente comercial, viria, supostamente, para introduzir padrões mais elevados de educação, e talvez a custos mais razoáveis. Seria, é óbvio, do interesse desses investidores, do contrário eles não viriam, pois ninguém investe para perder dinheiro, e só se ganha dinheiro se você consegue oferecer um produto de melhor qualidade a menor custo.
Sim, a despeito do que possam dizer esses professores obtusos, educação é uma mercadoria, sim, uma das mais sofisticadas, e não só pode, como deve, ser objeto de comércio, isto é, de concorrência, de abertura de mercados, de total liberdade de intercâmbio, para que os melhores possam prosperar, vencer, ficar ricos.
Por isso, considero que o setor no Brasil -- que aliás não está fechado ao capital estrangeiro; ele só não vem porque o Brasil é um país muito complicado para negócios de maneira geral, para negócios que dependam do governo, em particular -- deveria estar mais aberto aos talentos estrangeiros.
Essa característica fez a fortaleza americano ao longo do tempo. É isso que devemos perseguir...
Paulo Roberto de Almeida

Internacional
A grande disputa por cérebros
Ben Wildavsky *
THE WASHINGTON POST, 06/08/2010

A transmissão do conhecimento constitui um novo tipo de livre comércio, o de mentes, e o protecionismo não é positivo

Por décadas, as universidades de pesquisa nos EUA foram as líderes mundiais no campo das ciências e da engenharia, imbatíveis desde a 2.ª Guerra pelo volume e excelência do conhecimento e inovação que criavam. Mas há sinais cada vez mais nítidos de que o restante do mundo vem conquistando terreno muito rápido, criando novas universidades, melhorando as existentes, competindo energicamente pelos melhores alunos e recrutando PHDs nos EUA, convencendo- os a retornar ao país para trabalhar em laboratórios das universidades e da indústria.
A ordem hierárquica no campo acadêmico está em vias de se inverter? Quase 3 milhões de jovens estudam fora do seu país natal - um aumento de 57% na última década. Os estudantes estrangeiros predominam em muitos cursos de doutorado nos EUA, representando 64% dos PHDs em ciência da computação, por exemplo. As universidades de Pequim e Tsinghua juntas ultrapassaram Berkeley com o maior número de alunos em doutorado nos EUA.
Metade dos melhores físicos do mundo não trabalham mais em seus países de origem. E grandes instituições, como as universidades de Nova York e de Nottingham, estão criando filiais no Oriente Médio e na Ásia. Existem hoje 162 campus satélites em todo o mundo, um aumento de 43% somente nos últimos três anos.
Ao mesmo tempo, um número crescente de países que tradicionalmente são os que mais enviam estudantes para fora, desde a Coreia do Sul até a Arábia Saudita, procuram melhorar a qualidade e a quantidade dos seus próprios cursos de graduação, travando uma feroz e dispendiosa disputa para recrutar estudantes e criar universidades de pesquisa de classe mundial.
Durante sua campanha em 2008, o então candidato Barack Obama falou em tom alarmante sobre a ameaça dessa concorrência acadêmica para a competitividade dos EUA. "Se quisermos continuar construindo os carros do futuro aqui não podemos nos permitir ver o número de doutorados em engenharia aumentando na China, na Coreia do Sul e no Japão, ao mesmo tempo que se observa uma queda aqui nos EUA", declarou Obama.
Essa preocupação não se restringe apenas aos EUA. Em alguns países, o nervosismo envolvendo essa competição no campo educacional e a fuga de cérebros resultou num forte protecionismo acadêmico. Índia e China são conhecidos pelos obstáculos burocráticos e legais que colocam às universidades ocidentais que pretendem instituir campus satélites nesses países para atender estudantes locais.
Muitas vezes, os alunos que querem deixar o país também enfrentam barreiras. Há alguns anos, o presidente de um prestigiado instituto de tecnologia na Índia proibiu seus formandos de aceitar estágios remunerados acadêmicos ou em empresas no exterior.
Há ainda outros impedimentos à mobilidade global que não são declaradamente protecionistas, mas limitam o acesso às universidades em todo o mundo. Nos anos posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001, por exemplo, preocupações legítimas com a segurança causaram enormes adiamentos na concessão de vistos e transtornos de caráter burocrático para estrangeiros que aspiravam estudar nos EUA. O número depois aumentou, mas persistem limites severos para vistos de trabalho e residência, que deveriam servir como atração para os mais brilhantes estudarem nos EUA.
Talvez parte da preocupação com esses novos empreendimentos acadêmicos no plano global seja compreensível, especialmente num período de grande incerteza econômica. Mas o protecionismo na área do ensino é um erro tão grande quanto o protecionismo comercial. A globalização do ensino superior deve ser estimulada, não temida - também nos EUA. Existem todas as razões para se acreditar que a disputa global pelo talento humano, a corrida para se produzir uma pesquisa inovadora, o movimento para estender os campus universitários a múltiplos países, e o ímpeto para preparar estudantes talentosos que poderão trazer mais vigor para economias com base no conhecimento, serão muito bons para os EUA também.
Sobretudo, porque a expansão do conhecimento não é um jogo de soma zero. Um maior número de doutorados e o florescimento da pesquisa na China, por exemplo, não vão tirar o acervo de conhecimento dos EUA. Como o conhecimento é um bem público, os ganhos intelectuais de um país sempre beneficiam outros. A pesquisa chinesa poderá muito bem fornecer as bases para empreendedores americanos, ou de outros países, inovarem.
Da mesma maneira que o livre comércio se traduz em produtos e serviços mais baratos, beneficiando produtores e consumidores, a competição acadêmica global terá como resultado uma livre movimentação de pessoas e ideias, com base no mérito, o que será muito positivo para os indivíduos, universidades e países. Hoje, a transmissão e a mobilidade do conhecimento, sempre constantes, constituem um novo tipo de livre comércio, o de mentes.
A redução gradativa no número de estudantes no mercado americano, ou a emergência de novos concorrentes ambiciosos na Ásia, na Europa e no Oriente Médio, não significam que as universidades americanas estão em rota inevitável de declínio.
Resistindo às barreiras protecionistas, internamente e no exterior, continuando a recrutar e acolher os melhores estudantes do mundo, enviando mais alunos para o estrangeiro, fomentando uma colaboração entre nações no campo da pesquisa e fortalecendo suas próprias universidades de pesquisa, os EUA conseguirão manter a excelência acadêmica já estabelecida e ao mesmo tempo expandir a soma da prosperidade e do conhecimento globais.

* PESQUISADOR SÊNIOR DA KAUFFMANN FOUNDATION

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

A tese da semana (talvez do século)

Não me responsabilizo pela consistência teórica ou pela fiabilidade histórica, sequer pela correção econômica, da tese abaixo.
Mas, considerando-se que seu autor é um legítimo representante da classe operária, do proletariado tão incensado pelo autor original da tese da mais-valia, a quintessência da explicação marxiana para o segredo do valor econômico e o inner sanctum da teoria marxista para explicar a derrocada inevitável do capitalismo e a ascensão também inevitável e triunfante do socialismo, creio que convém dar a maior atenção a essa tese verdadeiramente revolucionária, tanto porque vem de um grupo, o Vanguarda Popular, coerentemente preocupado com o avanço da ciência entre as camadas populares e manifestamente engajado na transformação revolucionária de nossa sociedade, a começar por nossas universidades, infelizmente recheadas, como se sabe, de marxistas vulgares, que nunca leram Marx e não conseguem penetar nos arcanos do Capital, para dali aurir a fonte generosa de elocubrações filosóficas de tão alta relevância quanto essa teoria da menos-valia.
A ler e refletir. Vocês não têm nada a perder, só alguns minutos de seu tempo.
Como diriam os capitalistas vulgares, tempo é dinheiro, mas não neste caso, quando se trata de lutar pela gloriosa causa do proletariado universal.
Aux armes citoyens, ou pelo menos, às telas de computadores...
Paulo Roberto de Almeida

A menos-valia
Escrito por Operário Sindicalizado
Vanguarda Popular, 11.08.2010

Marx nos ensina, e todos sabem, que toda a fonte de valor é o trabalho. Ou seja, se uma pessoa achar por acaso numa caverna um pedaço de ouro, ele não terá valor, porque não tem trabalho algum agregado. Inversamente, se um sujeito passar 30 anos cavando um buraco, será um buraco incrivelmente caro, porque tem MUITO trabalho agregado. Não creio que haja dúvidas quanto a isso. Só cães raivosos da burguesia ousariam negar tão óbvio princípio.

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Brasil: um pais preparado para NAO crescer...

O que emperra o País
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2010

O Brasil continuará crescendo menos que outros Brics, nos próximos anos, se a taxa de investimento permanecer na vizinhança de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), ou pouco abaixo, como tem ocorrido há muito tempo. Em 2010 deve ficar em 19%, segundo a estimativa divulgada ontem pelo Ministério da Fazenda, no relatório bimestral intitulado Economia Brasileira em Perspectiva. O PIB deve aumentar 6,5% neste ano e cerca de 5,5% no próximo, sem criar grandes pressões. O potencial de expansão sem problemas está na faixa de 5,5% a 6%, de acordo com o ministro Guido Mantega. Um avanço nesse ritmo está longe de ser desprezível. De fato, é muito bom, se comparado com as perspectivas do mundo rico, ainda afetado pela crise iniciada com o estouro da bolha de crédito. Mas os brasileiros poderiam, com realismo, ambicionar muito mais, e não precisariam fazer grandes sacrifícios para dar maior impulso ao crescimento.

Segundo a candidata Dilma Rousseff, o Brasil só não cresceu mais nos últimos anos porque o governo petista encontrou “uma inflação fora de controle”, havia uma dívida muito grande com o FMI e foi preciso gastar tempo para pôr em ordem as finanças. Deve haver quem acredite nesse besteirol, mas, como o assunto é crescimento econômico, vale a pena recordar alguns dados. O dólar disparou e a inflação aumentou em 2002 porque petistas haviam passado anos defendendo o calote da dívida pública. Se não houvesse desconfiança, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva não precisaria escrever aquela Carta ao Povo Brasileiro. O programa com o FMI foi combinado por causa disso e não envolveu nenhuma dificuldade especial. A inflação foi rapidamente contida em 2003 graças ao uso de instrumentos monetários e fiscais forjados no governo anterior. Quanto às contas públicas, já vinham sendo consertadas e hoje poderiam estar em melhor situação, se uma chefe da Casa Civil, chamada Dilma Rousseff, não houvesse torpedeado a proposta do ministro Antônio Palocci de zerar num prazo razoável o déficit nominal.

A proposta foi recusada porque a ministra, vários de seus colegas e o próprio presidente Lula preferiam continuar aumentando o gasto público. Puderam continuar nessa marcha durante anos graças à elevação da receita. A ideia era gastar mais, inflando a folha de pagamentos, deixando crescer o custeio e aumentando a rigidez orçamentária. O Tesouro sempre investiu muito menos que o valor previsto no Orçamento (neste ano, só 34,3% até 5 de agosto). Depois, elevar a qualidade do gasto nunca foi prioridade. Sempre foi muito mais importante aparelhar o governo e suas empresas, embora isso tornasse inevitável, de vez em quando, demitir algumas pessoas inconvenientes de alguma estatal.

Se o presidente Lula e seus companheiros cuidassem menos da ocupação do poder e um pouco mais da administração, poderiam ter preparado a economia para crescer mais velozmente. Para começar, poderiam ter elevado a qualidade gerencial do governo. Se a máquina federal fosse tocada com um pouco mais de competência, o investimento público teria sido bem maior com o mesmo dinheiro disponível. Basta olhar o Orçamento e conferir o baixo grau de uso das verbas. Um pouco mais de competência teria permitido também um avanço maior em todas as frentes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em três anos, a aplicação do dinheiro mal passou de 60% do previsto para 2007-2010, e isso ainda inclui financiamentos de imóveis usados. Na parte das estatais, a Petrobrás foi responsável por cerca de 90% dos investimentos concretizados.
Os 18% ou 19% do PIB investidos anualmente no Brasil dependem essencialmente da Petrobrás e do setor privado. A maior parte do setor público permanece mais aparelhada politicamente do que preparada para atender às necessidades do País. Mas o capital privado poderia ter feito mais, se o governo tivesse adotado as parcerias necessárias ao investimento em infraestrutura. Além disso, o ambiente institucional permaneceu pouco atraente, porque o governo – e nisso a ministra Dilma Rousseff teve um papel importante – emperrou o projeto das agências de regulação. Tudo isso – e é preciso também lembrar o descalabro educacional – limita o potencial de crescimento do PIB.
A última novidade é a política seletiva do BNDES. De 2008 a junho deste ano, a Petrobrás, a Eletrobrás e dez grupos privados ficaram com 57% dos financiamentos, segundo levantamento da Folha de S.Paulo. Mas há, no setor privado, quem assine manifesto a favor dessa política. Impossível, diante da alegria dessa gente, não lembrar a piada da hiena: “De que se ri o animalzinho?”

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A frase sintese da campanha eleitoral...

Deve ser muito criterioso que não se acuse sem provas porque no final da campanha tem gente que vai passar para a história das campanhas eleitorais como ter feito calúnia e difamado desnecessariamente pessoas e campanhas que não tinham provas”.
Candidata Dilma Rousseff (11/08/2010)

Entendeu leitor?
Não se preocupe, eu também não, e acho que ninguém mais.
Como disse um jornalista (Reinaldo Azevedo. de quem copio essa transcrição) é "a sintaxe na sua fase de miséria". Essa frase "rende um tratado de lingüística e neurologia."

Brazil's Foreign Policy: not so praised, anymore...

The Folly of Brazil's Exceptionalism
Daniel Wagner and Tyler Rouillard
The Huffington Post, 10 August 2010

Brazil has been referred to as a regional superpower and an emerging global power, and President Lula has been called the most popular politician in the world by President Obama. But is Brazil's and its President's status well deserved, and have they lived up to their reputation? This article will argue that the answer is 'no' to both questions.

Rather than having earned its much vaunted position among political and economic pundits, Brazil has achieved its status based more on potential than economic performance, and while President Lula has certainly earned his popularity in Brazil, on the global political stage, he has made a mess of things.

To BRIC, or not to BRIC - That is the Question
Goldman Sachs first coined the term "BRICs" in 2001, instantly catapulting Brazil into emerging regional superstar status, which was puzzling since Brazil was in the middle of a financial crisis at the time. Its $210 billion foreign debt equaled 38% of the country's GDP, per capita GDP was just $2,800, and its real GDP growth rate was just 2.7% that year. The value of its currency had plunged by 29% from the previous year, and in 2002 -- the year Lula da Silva was first elected President -- the country took out a $30 billion financial assistance package from the IMF.

Based on its economic performance, Brazil did not deserve to be placed on the same pedestal as China and India. Goldman undoubtedly threw Brazil in the pot because of its 'potential' as an emerging regional power. However, based on its economic performance, Brazil still does not deserve to be in the same company as the other BRIC countries. Consider this:

Brazil's average GDP growth rate from 1997 to 2001 was just 2.0 percent, and from 2002 to 2006, just 3.2 percent;
Its average GDP per capita actually fell from 4,100 between 1997 and 2001 to 4,000 from 2002 to 2006; and
Average annual foreign direct investment to Brazil also fell from 27 billion between 1997 to 2001 to less than 16 billion between 2002 to 2006 (Source: Political Risk Services).
The country's GDP growth rate actually only exceeded 4 percent once between 2001 and 2006, while Russia's, India's, and China's average growth rates for the period were approximately 7, 9, and 10 percent, respectively. Brazil's GDP growth in 2009 was -0.2%. Although Brazil is expected to reach 6 percent growth this year, through 2014 it is projected to revert back to its usual lackluster growth performance (by BRIC standards) of 3 to 4 percent (Source:Business Model International), while China and India are forecast to continue to try to tame double digit growth.

So it appears that Goldman erred by tossing Brazil into the BRIC pot and must have used different criteria for Brazil than it did for China or India. This raises question about the wisdom and validity of having created the term BRIC, and the aura that surrounds it.

A combination of government complacency, an inadequately developed regulatory framework, and a host of infrastructure bottlenecks prevent Brazil from achieving its full potential. Rigid labor laws, a byzantine tax system, and government domination of long-term credit markets conspire to prevent Brazil from breaking out of its well established pattern of below average economic performance. Having been lauded by investment banks for a decade, and having been rescued by the IMF - crisis after crisis -- for more than $40 billion since 1984, Brazil must feel it can do just about anything and retain its stature in the global arena.

Too Big for Its Britches

Politically, Brazil has simply gotten too big for its britches. The country's obvious regional importance and special status among global policy makers gave President Lula the confidence to leap on to the global political stage. Lula naturally sought to project Brazil's power globally, but based more on his popularity as a friend of the global worker than as a skilled statesman. Although Brazil has admittedly been a pivotal player in forming the G20 and played a significant role in WTO and climate change talks, it appears to have bitten off more than it can chew.

Brazil's foreign policy since 1985 has been based on three pillars of achieving autonomy: through diversification of relations with other nations, by maintaining a distance from the liberalizing international order, and participation in international forums. For Brazil, independence is paramount, and in foreign policy, it wants to be all things to all people. As a result, a tendency to 'double deal' with its international partners in order to protect itself has become endemic in Brazilian foreign policy over the past 25 years (Source: Gabrial Capaluni and Tullo Vigevant, Brazilian Foreign Policy in Changing Times).

By embracing Iran and attempting to broker with Turkey the low-enriched uranium swap to France, he has chosen to give priority to Brazil and Iran's $2 billion trade relationship over Brazil's decades-long relationship with Washington. As a result, Lula has burned a lot of political capital with Brazil's second largest trading partner (the U.S.). The attempted exchange with Iran demonstrates clearly that Brazil will pursue its own path, even though it is clearly not yet ready to assume a leading role in superpower politics. As Brazilian foreign affairs analyst Matias Spekor has noted, "Foreign policy requires intellectual capital, and Brazil is ill prepared to engage in a globalized world."

Brazil's attempts to play a broker role in Honduras, when former Honduran President Zalaya was thrown out of power in 2009, and more recently between the Israelis and Palestinians, also both failed - the result of the Brazil overstepping its bounds and sticking its nose where it doesn't belong. In his desire to be all things to all people and maintain a diverse range of bilateral relationships, Lula has gotten himself caught on a rather slippery slope and is causing potentially long-term damage with some of its most important allies.

Pursuit of Autonomy vs. Adversarial Role
Brazil's desire to achieve autonomy in foreign affairs is not new, but a number of historical and current examples makes one wonder whether its pursuit of 'autonomy' in foreign affairs makes the country an ally or adversary of the West. For example, Brazil first embarked on a nuclear program in the 1930s and pursued a covert nuclear weapons program until the 1970s. It retains the ability to create nuclear weapons but agreed not to do so under the terms of the Nuclear Non-Proliferation Agreement, and as a signatory to the 1994 Treaty of Tlatelolco, which bans nuclear weapons in Latin America. But Brazil continues to have a program to produce enriched uranium for power plants, and opened its first uranium enrichment plant in 2006.

In its negotiations with the International Atomic Energy Agency (IAEA) at the time, Brazilian negotiators did not want to allow inspection of its centrifuges, arguing that doing so would reveal technological secrets. Following extensive negotiations, the IAEA relented and agreed not to directly inspect the centrifuges, but rather the composition of the gas entering and leaving the centrifuges. Brazil won a significant victory and the U.S. was forced to resort to merely stating that it was "sure" Brazil had no plans to develop nuclear weapons.

If Brazil decided to pursue a nuclear weapon today its centrifuges could be reconfigured to produce enough highly enriched uranium to produce nuclear weapons. In addition, Brazil has ambition to develop a nuclear submarine fleet, having authorized the construction of a prototype submarine propulsion reactor in 2007. So Brazil has similar proliferation capability as Pakistan and North Korea but is seen as a 'team player,' having gotten a green light as one of the good guys from the IAEA and the United States, while actually having manipulated and emasculated both for its own benefit.

Consistent with its strategy of strengthening ties with poorer countries, Brazil has either abstained or attempted to substantially dilute a number of human rights resolutions in the United Nations. In February 2010, Lula visited Fidel Castro, referred to Cuban human rights hunger strikers as common criminals, and defended Cuba's treatment of political opponents.

This is ironic, since Lula got into politics as a result of being a union leader, and led similar strikes against Brazil's military government in the 1970s. According to Jose Miguel Vivanco, Americas Director of Human Rights Watch, "outside of non-democratic countries like China, Brazil has become the biggest obstacle nation to advancing universal human rights and freedoms." Is this really the reputation Brazil means to forge for itself over the long-term?

Aid Recipient and Provider
As developed countries have done for decades, Brazil is now using its new position in the world to attempt to influence poorer countries by dispensing aid. According to The Economist, Brazil now commits more than $4 billion per year in foreign assistance (including disbursements from Brazil's aid agency --the Brazilian Cooperation Agency--, contributions to individual countries and other aid organizations). That is more than China and about as much as 'generous' developed countries, such as Canada and Sweden. In that regard, Brazil is keeping good company.

Spending by the BCA has trebled over the past two years and recipient nations are quite happy to receive the aid, since Brazil does not impose western-style conditions. Unlike China, which focuses its aid on infrastructure and natural resource extraction, Brazil targets its assistance more on social programs and agriculture, which resonates well with local populations.

Since Brazil is also a recipient of aid, the country's new role as aid giver has helped blur the distinctions between aid recipients and donors. This is consistent with Brazil's tendency to want to shake up the ancient regime and redefine what is means to be a developing country. But it is entirely possible that, as was the case with China, Brazil's foray into development assistance could come back to bite it later.

Its Own Worst Enemy
In spite of all the hoopla over Brazil as one of the world's globalization poster boys, its worst enemy is itself. Brazil has yet to sustain mid-to-high single digit GDP growth rates as the other BRIC countries have done, and looks no better poised to do so in the second decade of the 21st century than it did in the first.

Brazil's inexperience on the global stage, combined with Lula's desire to project Brazilian power, has led to a series of mistakes that are perhaps best described as reckless. By trying to shape the world to reflect its own world view, Lula has succeeded in ringing alarm bells in Washington and the capitals of Europe. That cannot help its objective of gaining a permanent seat on the UN Security Council.

The Brazilian government would be well advised to steer clear of the established powers' neighborhood until such time as it is genuinely accepted as a member of the club, and can demonstrate that it has something meaningful to offer by becoming engaged in the most sensitive diplomatic issues of the day.

Daniel Wagner is Managing Director of Country Risk Solutions, a political and economic risk consultancy based in Connecticut. Tyler Rouillard is a research analyst with CRS and provided research for this article.

Keynes-Hayek: um velho debate sempre atual

Keynes versus Hayek: El gran debate continúa
por Gerald P. O'Driscoll Jr.
The Wall Street Journal, 7 de julio de 2010

Gerald P. O'Driscoll es ex-vicepresidente del Banco de la Reserva Federal en Dallas y académico asociado del Cato Institute.

El debate acerca de qué clase de políticas sacarán a la economía estadounidense de su Gran Recesión repite aquel que se dio durante la Gran Depresión. Gracias a los esfuerzos de Richard Ebeling, profesor de economía en la Universidad de Northwood, tenemos evidencia contundente y concisa. Él ha desempolvado cartas enviadas al Times de Londres desde dos perspectivas que reflejan el debate contemporáneo.

El 17 de octubre de 1932, el Times publicó una larga carta de John Maynard Keynes y cinco otros economistas académicos. Keynes y sus coautores esgrimieron el argumento a favor del gasto —de cualquier tipo, privado o público, ya sea en consumo o inversión.

“La economía privada” era el obstáculo que impedía un retorno a la prosperidad. Si una persona decide ahorrar, no hay garantía de que los fondos “encontraran su camino hacia la inversión en nuevo capital de construcción por parte de emprendimientos públicos o privados”. Ellos citaban a la “falta de confianza” como la razón por la cual los ahorros no se convierten en inversiones. Consecuentemente, “el interés público en las condiciones actuales no conduce hacia una economía privada; gastar menos dinero del que quisiéramos no es patriótico”. Ellos concluían respaldando el gasto público para compensar la miope austeridad privada.

El punto de vista esbozado en esta carta llegó a ser conocido como la economía keynesiana. Las depresiones son causadas por un déficit en el gasto, que puede compensarse mediante gasto público. La economía keynesiana (la cual precede a Keynes) es fácilmente reconocible en los discursos del presidente Obama y su equipo económico.
Dos días después, el 19 de octubre de 1932, cuatro profesores de la Universidad de Londres respondieron a la carta de Keynes y uno de los firmantes era Friedrich A. Hayek quien casi 50 años después ganaría el Premio Nóbel de Economía.

Hayek y sus coautores señalaron tres puntos de divergencia. Primero, identificaron correctamente el argumento de Keynes acerca de la futilidad del ahorro como un argumento sobre lo que tradicionalmente ha sido conocido como los peligros del ahorro, es decir, las consecuencias potencialmente perjudiciales de un aumento en la demanda del dinero a lo largo y ancho de la economía que no es correspondido por un aumento en la oferta de dinero. “Se está de acuerdo con que el acumular dinero, ya sea en efectivo o en cuentas inactivas, tiene efectos deflacionarios. Nadie piensa que la deflación en sí es deseable”.

Segundo, los profesores de Londres cuestionaron la premisa de que no importaba en qué se gastaba, ya fuese en consumo o en inversión. Ellos vieron un “renacimiento de la inversión como peculiarmente deseable”, tal y como lo ven los partidarios actuales de la economía del lado de la oferta. Ellos hicieron una distinción entre acumular dinero y los ahorros que fluyen hacia valores, y reafirmaron la importancia de los mercados de valores en transformar los ahorros en inversión.

Su tercer y más importante punto de desacuerdo con Keynes radicaba en los beneficios del gasto público financiado mediante déficit. Ellos expresaron dudas. “La existencia de una deuda pública a gran escala impone fricciones y obstáculos al reajuste mucho mayores que las fricciones y obstáculos impuestos por la existencia de la deuda privada”. Este no era el momento para “nuevas piscinas municipales” (el ejemplo dado por Keynes). En nuestro contexto actual, sería nada de estímulo.

Finalmente, e igual de importante, sugirieron una estrategia. Los gobiernos a nivel mundial, liderados por EE.UU. con el destructivo paquete de aranceles Smoot-Hawley de 1930, se habían volcado hacia el proteccionismo y las restricciones a los flujos de capitales. Hayek argumentó que era hora de “abolir aquellas restricciones sobre el comercio y el libre movimiento del capital”.

En resumen, ellos argumentaban que la cura para la Gran Depresión era un revigorizado sistema global de comercio. La economía mundial no ha se ha volcado hacia el proteccionismo esta vez, pero esfuerzos por expandir el comercio mundial se han debilitado. Como Allan Meltzer, profesor de economía en la Universidad de Carnegie Mellon, recientemente le recordó a los lectores página de opinión del Wall Street Journal (“Why Obamanomics Has Failed”, 30 de Junio de 2010), solamente la expansión del comercio nos puede permitir pagar la deuda pública que pesa sobre la economía.

El redescubrimiento del profesor Ebeling de estas cartas ha desatado un torrente de comentarios en los blogs. Como dijera Mario Rizzo, economista de la Universidad de Nueva York, “El gran debate todavía es Keynes versus Hayek. Todo lo demás es una nota al pie de página”. Los economistas han cubierto al debate con cada vez más complejidad matemática, pero los asuntos de fondo siguen siendo los mismos.

¿Estaba Keynes en lo correcto cuando decía que los ahorros se convierten en dinero inactivo y deprimen la actividad económica? O, ¿acaso la perspectiva de Hayek, primero articulada por Adam Smith en La riqueza de las naciones en 1776, era la correcta? (Smith: “Lo que es ahorrado anualmente es tan regularmente consumido como lo que es gastado anualmente, y casi al mismo tiempo también”.)

¿Todo gasto es igualmente productivo o deberían las políticas estatales buscar estimular el gasto privado? Si esto último es cierto, entonces Obama ha estado siguiendo los pasos de Franklin Delano Roosevelt e impidiendo la recuperación. Lo hace al demonizar los negocios y crear un régimen de incertidumbre con nuevas regulaciones y programas costosos. En esto no sigue ni a Hayek ni a Keynes, ya que generar incertidumbre era considerado como algo destructivo por ambos.

Finalmente, ¿acaso crear más deuda pública en una economía debilitada será el camino a la recuperación? O, ¿es la “economía” (austeridad en el debate de hoy) y el ahorro el camino a la prosperidad ahora, como usualmente se ha creído?

Expandindo o Estado assistencialista: construindo um Brasil inviavel

Não se trata de considerar que os gastos do Bolsa Família são orçamentariamente insuportáveis, porque não o são: representam menos da metade, talvez uma quarta parte do "Bolsa-Empresários" e do ajutório a banqueiros, que o governo promove por diferentes meios e mecanismos de transferência de dinheiro para quem já é rico. O governo sempre fez isso e continua fazendo.
Trata-se simplesmente da criação de uma mentalidade assistencialista que vai dividir o Brasil em duas nações: a dos assistidos e a dos pagantes, sendo que os primeiros já se consideram titulares de um direito irrevogável, como se constata abaixo.

Beneficiários do Bolsa Família querem mais
Folha.com, 11.08.2010

Setenta e oito por cento dos beneficiários do Programa Bolsa Família preferem a expansão do número de atendidos e outros 22% defendem o aumento do valor do benefício.

Isso é o que revela pesquisa encomendada pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Entre as pessoas que estão fora do programa, 85% defendem a inclusão de mais famílias e 15% preferem que o valor do benefício seja aumentado.

Somando beneficiários e não atendidos, 82% responderam pela expansão, contra 18% que optaram pelo aumento do repasse do programa.

A pesquisa avaliou também se as famílias têm dificuldades para cumprir as exigências do programa, como permanência das crianças na escola e vacinação em dia.

Do total de entrevistados, 81% responderam não enfrentar problemas no cumprimento das condições exigidas pelo Bolsa Família.

Entre as famílias urbanas, 84% disseram não ter dificuldade, contra 71% das que vivem no meio rural. Mais de 90% dos entrevistados sabe e entende quais são os critérios para ingressar no programa, conforme a pesquisa.

O Ifpri (Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares), responsável pela pesquisa, ouviu famílias beneficiárias e não contempladas pelo programa.

O objetivo é medir os efeitos provocados pelo programa nas condições de vida dos beneficiários.

As famílias beneficiária ou não atendidas pelo programa foram ouvidas em 2005 e em 2009. Na primeira rodada, foram entrevistadas 15.426 famílias em 269 municípios.

Em 2009, cerca de 11 mil famílias foram novamente entrevistadas. De acordo com os pesquisadores, a perda de amostra ocorre por dificuldades em localizar as famílias, mas foi considerada dentro dos padrões.

A maioria dos dados divulgados hoje se referem à avaliação de 2009. O programa atende hoje a 12,6 milhões de famílias.

Mentiras politicas: ate quando os jornalistas aceitam as fraudes eleitorais?

Não digo pela jornalista econômica abaixo transcrito, mas por todos esses repórteres e entrevistadores, que ouvem mentiras e não retrucam na hora.
Tenho horror à mentira e apenas por este motivo transcrevo esta matéria, não por achar que ela é especialmente meritória.
Mas quando num país todos os políticos mentem, alguém precisa restabelecer a verdade dos fatos.
Paulo Roberto de Almeida

Em nome dos fatos
Miriam Leitão
O Globo, 11.08.2010

Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%.

Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.

O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação.

A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FHC houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária.

Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização. Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.

Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação.

O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.

Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em
12,5%.

É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.

Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.

Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização.

Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas.

A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.

No coracao da campanha eleitoral: a falta de definicoes

Tendo a concordar com o articulista, o que quer dizer que discordo totalmente da atual campanha eleitoral, em que todos acham que está tudo muito bem, mas que mais pode ser feito, que o Brasil pode fazer melhor, que vamos continuar melhorando o que já é bom, etc.
Como tudo isso é falso, é hipocrisia, seria preciso alguém que dissesse: NÃO, não está bem. A educação é uma porcaria, a saúde pior ainda, os transportes horríveis, a infra-estrutura deplorável, os serviços públicos lamentáveis, a desfaçatez política além da conta.
Sou conta a maior parte das coisas que andam por aí: Bolsa-Família, ativismo estatal, extração tributária, mentiras, corrupção, roubalheiro, mandarinato extensivo, greves de burocratas estatais, enfim, esses espetáculo dantesco a que assistimos todos os dias.
Não tenho nenhuma ilusão de que um dos dois candidatos mais competitivos tenha capacidade e aquela coisa que se chama coragem por outro nome para mudar tudo isso que está errado. Infelizmente isso não vai ocorrer. E o Brasil vai continuar se arrastando penosamente em direção à modernidade, se atrasando em relação a outros países, vai continuar alimentando a corja de ladrões que vivem do dinheiro público (ou seja, do nosso dinheiro), enfim, nada vai mudar de substancial.
Por isso mesmo este blog vai continuar chamando atenção para o que está errado...
Paulo Roberto de Almeida

Presente fictício, futuro estático
CLAUDIO WEBER ABRAMO
Folha de S.Paulo, 10.08.2010

Os candidatos são reacionariamente situacionistas; tanto faz quem seja eleito

ELEIÇÕES TÊM a ver com o futuro. Plataformas eleitorais formulam-se em torno de visões sobre como a comunidade deve orientar-se na projeção do tempo. Para que alguém possa propor algo a respeito do futuro, é imprescindível que se baseie em alguma espécie de apreciação sobre o presente.

Qual é o presente que os candidatos "mainstream" à Presidência da República e aos governos estaduais têm em mente?

Seja porque acreditem, seja porque tenham receio de exprimir claramente o que pensam, para esses candidatos o Brasil seria mesmo aquele país pujante e cheio de gente otimista dos reclames publicitários oficiais e das grandes empresas.

Todos, ou quase todos, parecem entregues ao simbolismo fictício dos Brics, como se realmente fizesse algum sentido mencionar o Brasil na mesma frase em que aparecem China, Rússia ou Índia. Todos acham que sediar a Copa do Mundo de futebol em 2014 seja algo sensato. Ninguém tem alguma palavra crítica ao Bolsa Família.

É claro que deve haver quem seja capaz de apresentar argumentos em favor da Copa de 2014, do Bolsa Família e de outros temas (embora quanto às pretensas condições de desenvolvimento brasileiras isso seja missão impossível). O que espanta é inexistência de vozes discordantes.

Enquanto os candidatos jogam o jogo do contente, o país real convive com um poder Legislativo irrelevante, com partidos com escassa ou nenhuma representatividade política, com um poder Judiciário incapaz de proporcionar justiça, com agências reguladoras capturadas pelos interesses que deveriam vigiar, com um funcionalismo público que, com raras e notáveis exceções, varia de incompetente a aproveitador, com um setor privado avesso ao risco e à inventividade, com uma academia improdutiva... a lista das disfuncionalidades brasileiras é inesgotável.

No entanto, nenhuma dessas e outras ineficiências, incompetências e picaretagens aparece nas plataformas dos candidatos com alguma chance de sucesso eleitoral. Para eles, o presente está ótimo e nada há a mudar em relação ao futuro.
Na prática, portanto, e independentemente das siglas partidárias sob as quais se apresentam ou de seus eventuais apoiadores, os candidatos são todos reacionariamente situacionistas.

O que, ao fim e ao cabo, é natural e esperado. Num país que vive de ilusões, eleições representam apenas mais uma vertente ficcional. De modo que tanto faz quem venha a ser eleito. Mudarão apenas os personagens, os grupos beneficiados por privilégios e os aventureiros entre os quais o Estado será repartido.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

As bases da burguesia do capital alheio: os fundos de pensao

Desta vez, o bicho pegou! Ou: O coração do sistema
Reinaldo Azevedo, 10.08.2010

Vocês notaram o silêncio sepulcral — acompanhado, no máximo, de alguns borborigmos que se ouvem como a justificativa possível — dos petistas e no geral, e dos acusados no particular, em relação a este caso do bunker montado na Previ? Um grupo é acusado por um ex-membro da equipe de comandar uma espécie de política secreta lotada num fundo de pensão e tem uma reação verdadeiramente indignada: prefere não comentar…

A própria rede petralha ficou em silêncio. Até aqueles que recebem dinheiro público para fingir que fazem jornalismo são modestos no seu trabalho a soldo. Por que isso?

Por que os fundos de pensão são o coração do sistema? Terei de recorrer a um texto publicado no dia 3 de fevereiro do ano passado. Vocês vão ver como, modestamente, costumamos chamar as coisas pelo nome que elas têm neste blog. Havia então uma disputa entre o PT e o PMDB pelo controle do Real Grandeza, o fundo de pensão de Furnas. Tio Rei escreveu, então, o que segue em azul (em itálico, neste post):

O PT TEM DOIS PODERES: O TEMPORÁRIO E O PERMANENTE. O PRIMEIRO DEPENDE DAS URNAS; O SEGUNDO É GARANTIDO PELO CIPOAL LEGAL QUE REGULA OS FUNDOS DE PENSÃO, QUE CONFERE AOS SINDICATOS O CONTROLE DE UM PATRIMÔNIO DE QUASE R$ 300 BILHÕES. E O PT COMANDA BOA PARTE DOS SINDICATOS, ESPECIALMENTE OS DE EMPRESAS ESTATAIS, O QUE LHE FACULTA O COMANDO DOS FUNDOS DE PENSÃO INDEPENDENTEMENTE DO QUE DIGAM AS URNAS.

POUCO IMPORTA QUEM SEJA O PRÓXIMO PRESIDENTE, JOSÉ SERRA OU DILMA ROUSSEFF, A, SEM TROCADILHO, REAL GRANDEZA DO PT SE MANTÉM PRATICAMENTE INALTERADA.

Se vocês procurarem no arquivo do blog, encontrarão centenas de textos em que sustento que o poder real do PT não está no controle das verbas do Orçamento. Sem dúvida, ali se encontra uma fonte imensa de recursos, mas o partido é obrigado a dividi-los com parceiros de igual ou maior apetite, a começar do PMDB - que é o que é, ou não estaria junto com o petismo. O dinheiro do Orçamento disponível para investimento, além de mais escasso, está sujeito a controles e a uma maior vigilância da imprensa. Já os fundos… Na prática, ninguém controla. Como boa parte da sua capitalização é feita com recursos públicos, eles representam uma apropriação do dinheiro público pela máquina sindical.

A própria história da privatização, vista pelo ângulo da participação dos fundos de pensão, nos revelaria que a economia brasileira é bem menos privada do que parece. Não! Escrevo de outro modo: os grandes beneficiários da privatização foram os sindicatos das empresas estatais - e isso quer dizer Central Única dos Trabalhadores.

Uma das maiores lambanças do governo Lula - a disputa entre o banqueiro Daniel Dantas e o petismo pelo controle da Brasil Telecom, finalmente vendida à Oi ao arrepio da lei então vigente, mudada só para possibilitar o negócio - teve os fundos como protagonistas. Os petistas mandaram, e eles romperam com Dantas, aliando-se a seus adversários. Alijado do controle da BrT, o banqueiro acabou concordando com a venda, o que acabou sendo um bom negócio pra ele: rendeu-lhe a bagatela de R$ 2 bilhões…

Volto a 10 de agosto de 2010
Os fundos de pensão financiam a farra do petismo. A rigor, eles podem impor a sua vontade, hoje, a alguns potentados da economia, que apenas aparentemente estão sob controle privado. Só a Previ, este em que Gerardo Santiago diz ter sido montada o que chamo de polícia política para perseguir adversários do governo e do PT, tem um patrimônio de 140 bilhões.

Caso Dilma Rousseff perca a eleição para José Serra, a máquina petista não ficará na chuva. Os “companheiros” continuarão a dar as cartas nos fundos; eles fizeram, assim, a acumulação primitiva do capital que financia o “estato-capitalismo” petista. São eles a melhor expressão da nova classe social que batizei de “burguesia do capital alheio”.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

E por falar em Amazonia, tem maluco para tudo

Este maluco inglês, por exemplo, Ed Stafford, caminhou todo o Amazonas, de sua nascente ao mar.
Um explorador dos tempos modernos...

Veja o relato de seu projeto Walking the Amazon eu seu blog: http://www.walkingtheamazon.com/#top

Ou em seu novo site: http://www.edstafford.org/

Al Capones tupiniquins: as mafias sindicais e a politica brasileira

Bem, os companheiros ainda não circulam de metralhadoras pelas ruas da Chicago do cerrado, mas tem outras armas letais, capazes de matar a democracia brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

A 'fábrica de dossiês' do PT
Editorial - O Estado de S.Paulo
10 de agosto de 2010

Em editorial, nesta página, sobre a revelação de que servidores da Receita violaram o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, presumivelmente para a montagem de um dossiê que poderia ser usado por setores da campanha da candidata Dilma Rousseff contra o opositor tucano José Serra, falou-se do "exército secreto" arregimentado pelo PT na administração federal para fazer o trabalho sujo na disputa pelo Planalto. É mais do que isso. As campanhas eleitorais são apenas uma entre tantas frentes onde atuam essas tropas da treva - e assim também os seus alvos.

Disso não deixa dúvida a confissão de um ex-diretor e ex-assessor da Previ, o colossal fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Geraldo Xavier Santiago. Em entrevista publicada na edição desta semana da revista Veja, Santiago disse que a entidade é "uma fábrica de dossiês" que funciona como um "bunker" e "braço partidário" a serviço de uma ala petista - comandada pelos poderosos chefões do sindicalismo aboletados na estrutura do poder nacional. Ele citou nominalmente os ex-ministros Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, todos do setor bancário.

O gerente da fábrica, de acordo com a denúncia, era o presidente da Previ até junho, Sérgio Rosa. Santiago era próximo dele até romperem em 2007. No embalo, o então diretor deixou o fundo e saiu do PT. Ele não é um pecador arrependido. Levado a falar do dossiê contra Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, cuja compilação o entrevistado atribui a uma "disputa interna", fez uma especiosa distinção entre o certo e o errado nessas operações: "Uma coisa é fazer com o adversário. É uma involução do PT?"

O sindicalismo selvagem que Lula levou para dentro do governo transpôs para a política a violência característica dos embates entre as máfias sindicais. Parte da premissa de que todo adversário deve ser tratado como inimigo - e, nessa condição, deve ser aniquilado. Santiago, que começou no sindicato dos bancários do Rio, contou que sua estreia na linha de montagem de falsas acusações a terceiros data de 2002, quando as milícias petistas foram incumbidas de investir contra os então gestores da Previ e provar a interferência do governo na instituição.

A cultura da destruição se afirmou em seguida. "Dossiês com conteúdo ofensivo, para atingir e desmoralizar adversários políticos", precisa Santiago, "só no governo Lula mesmo, na gestão do Sérgio Rosa". Foi também quando a cúpula da Previ armou uma teia de conselheiros ligados ao PT em empresas de cujo capital o fundo participava para canalizar em favor da sigla as suas doações partidárias. A central de dossiês trabalhou a todo vapor durante a CPI dos Correios, em 2005, cujo foco incidiu sobre o mensalão, antes que o esquema de compra de votos fosse objeto de um inquérito específico.

A Previ, à época, era a fonte das acusações com que a senadora petista Ideli Salvatti tentava acuar parlamentares oposicionistas. Segundo revelou Santiago, que agora diz que cumpria "ordens superiores", entre os políticos visados estavam os senadores Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes e o deputado ACM Neto, todos do DEM. O tucano José Serra também faria parte da lista. Rosa teria ordenado que se juntassem dados sigilosos com " informações sobre investimentos problemáticos da Previ que estivessem ligados a políticos da oposição".

Sintomaticamente, a primeira reação do PT à entrevista foi silenciar. Já o fundo de pensão, hoje dirigido por um ex-vice-presidente do Banco do Brasil, Ricardo Flores, informou que "a atual cúpula desconhece essa prática e está muito tranquila em relação a suas recentes práticas de governança". De notar os termos "atual" e "recentes" - indicando uma dissociação com o que se tenha feito na entidade até há bem pouco tempo. De seu lado, além de assegurar que a sua campanha não tem nenhuma vinculação com a Previ, a candidata Dilma Rousseff instou a imprensa a revolver o caso dos grampos na privatização da Telebrás no governo Fernando Henrique. Como se isso eximisse de culpa os papeleiros da Previ e limpasse a ficha do PT.

Mitos amazonicos, paranoias brasileiras...

Antes de Henry Ford, se acreditava que os EUA queriam conquistar a Amazônia para "exportar" os negros americanos. Depois dele vieram outros iludidos com as "fabulosas riquezas" da selva, apenas para enterrar dinheiro no mato, como fizeram o próprio Ford e Keith Daniel Ludwig nos anos 1970.
Bem depois surgiram os boatos em torno da "internacionalização" da Amazônia, uma fraude que contou com a ativa colaboração de militares de extrema direita e militantes bocós de extrema esquerda, numa pouco santa aliança em torno de montagens deliberadas de mapas e supostos livros americanos (tenho um dossiê sobre isso no meu site).
O livro abaixo é sério e demonstra como os homens mais bem assessorados do planeta podem cometer as piores bobagens com base em informações erradas, mas animados por uma vontade irracional de crer em alguns mitos sem fundamento.
Paulo Roberto de Almeida

Um sonho de sociedade perdido no meio da floresta
Por Anamarcia Vaisencher
Valor Econômico, 10/08/2010 – p. D12

Amazônia: Henry Ford não conseguiu levar para a selva seu ideal do "american way of life"

Fordlândia - Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva
Greg Grandin. Tradução de Nivaldo Montingelli Jr. Rocco. 397 págs., R$ 56,00

Henry Ford pretendia harmonizar agricultura e indústria num projeto que garantiria a segurança americana

A Amazônia ainda carrega a herança deixada por Henry Ford como desdobramento de sua tentativa de implantar na selva um espaço de racionalidade econômica chamado Fordlândia. E com a inestimável colaboração local de governantes, políticos, lobistas e gente que atuava na sombra, como Jorge Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont), articulador do plano que induziu Ford a pagar por terras que provavelmente teria recebido de graça do governo para implantar seu ambicioso projeto.

Muito se disse e escreveu sobre a tentativa de Ford de levar para a Amazônia, ali no vale do Tapajós, um "american way of life" que ele próprio idealizara. Mas "Fordlândia", de Greg Grandin, professor de história da Universidade de Nova York, não é um relato comum. Apoiado em farta documentação e pesquisa, o encadeamento de fatos proporciona uma leitura de reveladora substância.

Se fosse possível simplificar a aventura fordiana, ela teve menos a ver com a necessidade de assegurar o fornecimento de borracha para a fabricação de pneus e uso em outras partes de automóveis, no imenso complexo industrial de River Rouge, nos Estados Unidos, do que com aquilo que o autor chama de "pastoralismo americano" de Ford - uma concepção de sociedade em que as atividades agrícola e industrial estariam em salutar equilíbrio, sem predomínio de uma sobre a outra, numa espécie de simbiose entre terra, mão de obra, recursos, fabricação, finanças e consumo. "Com um pé na indústria e outro na agricultura, a América estará segura", sentenciava Ford. Fordlândia seria um lugar que permitiria antecipar essa convergência. Ele preservava, porém, uma visão quase onírica da realidade corrente em seu país, pois em 1928 se declarava "otimista" em relação ao ano seguinte, "certo de que a nova fábrica de River Rouge, localizada em Dearborn, sua cidade natal, perto de Detroit, seria capaz de atender à demanda" (por seu novo modelo de carro, agora da série A, depois do T).

Em janeiro daquele ano, Ford aproveitou a inauguração do imenso complexo de River Rouge - que integrava praticamente todo o processo de fabricação do automóvel, desde a produção de aço - para anunciar que logo voaria até a Amazônia para inspecionar sua plantação de seringueiras, no vale do Tapajós. O látex era o único recurso natural que Ford não controlava. Grandin não deixa em branco o paradoxo que seria a semente da falência do megalomaníaco projeto no qual Ford despejou vários milhões de dólares. De um lado, o pioneiro que havia aperfeiçoado a linha de montagem e dividira o processo de fabricação em componentes cada vez mais simples, concebendo-o para tornar um produto reproduzível infinitamente, com o primeiro indistinguível do milionésimo. Do outro, a Amazônia, dona de si mesma, reino da natureza avassaladora.

Ford tinha mais de 60 anos quando fundou Fordlândia (hoje Belterra, e esquecida durante 39 anos após a derrocada do projeto), localizada a leste de Santarém e a 726 quilômetros de Manaus. O lugar era definido por alguns visitantes como um "oásis", um verdadeiro "sonho do Meio-Oeste", nas palavras do major Lester Baker, adido militar dos Estados Unidos, com luz elétrica, telefone, máquinas de lavar, vitrolas, refrigeradores, piscinas e até campo de golfe.

Grandin lembra que hoje, como há 80 anos, ainda são necessárias cerca de 18 horas em um lento barco fluvial para chegar a Fordlândia, a partir da cidade importante mais próxima. Não bastasse isso, "os primeiros anos do local foram marcados por desperdício, violência e vícios" - em suma, tudo que o antissemita, admirador do nazismo e antissindicalista ferrenho mais abominava. Entre as incongruências do projeto, o fato de que não batia com a realidade porque, em 1925, quando Ford e o amigo Harvey Firestone pensavam em entrar no ramo da borracha, a prosperidade da hevea brasiliensis já chegara ao fim. Graças, inclusive, à ação de Henry Wickam, que passara pela Amazônia mais de meio século antes para piratear sementes de seringueira que levaria para Londres e que constituiriam a base genética das plantações britânicas em suas colônias.

Justiça seja feita: já nas primeiras décadas do século XX, Ford falava em reciclagem de resíduos para evitar desperdícios e em uma futura carroceria de automóveis inteiramente feita de plástico à base de soja.

A aventura fordiana não teve (não tem ainda) um final feliz. Mais de meio século depois de a Ford Motor Company abandonar sua propriedade de um milhão de hectares na Amazônia (novembro de 1945), por lá - mesmo a título de isca turística - ainda se espera por Henry Ford. Os "barões da borracha" retomariam o poder, mas perderam uma guerra maior para a importação de látex de Cingapura. Quanto a Ford, que "ajudou a liberar o poder da industrialização para revolucionar as relações humanas, passou a maior parte do resto da vida tentando colocar o gênio de volta na garrafa, conter o rompimento que ele mesmo provocara (...)". Ou seja, segurar as forças do capitalismo.

Manaus foi o retrato em branco e preto das "desenfreadas" forças do capitalismo. A cidade só se recuperou no fim dos anos 1960, quando o regime militar transformou-a numa zona de livre comércio. E, também graças à isenção de impostos, Manaus "tornou-se o empório nacional do Brasil", e uma zona de montagem (semelhantes à das maquiladoras mexicanas), descreve o autor. Uma cidade da Belíndia onde, ao lado de luxuosos condomínios, proliferam palafitas. "Uma paisagem dramática de desigualdade em um dos países mais desiguais do mundo. Em comparação, ela torna desprezível a distância que separava os lares dos gerentes americanos daqueles dos brasileiros", como reportava a imprensa. Citando artigo publicado no "Los Angeles Times" em março de 1993, Grandin sintetiza: "A tentativa de reproduzir a América na Amazônia levou à terceirização da Amazônia pela América".

De algum modo, Manaus se recuperou. Fordlândia também. "(...) Mas a ironia mais profunda está atualmente em exibição no local da tentativa mais ambiciosa dele [Henry Ford] de realizar sua visão pastoralista. No vale do Tapajós, três elementos importantes da visão de Ford - madeira, com a qual esperava lucrar, encontrando ao mesmo tempo maneiras de conservar a natureza; estradas que, para ele, uniriam as pequenas cidades e criariam mercados sustentáveis; e a soja, na qual investiu milhões, esperando que a produção industrial pudesse reviver a vida rural - tornaram-se os principais agentes da ruína da Amazônia, não só de sua flora e fauna, mas também de muitas de suas comunidades."