O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Vai uma greve ai, doutor? Com musica ou sem musica?

E eu que pensei que a greve do funcionalismo federal fosse uma boa coisa para todos: os grevistas ficariam em casa, em férias remuneradas, antes de obterem o que queriam do governo (quei sempre cede em face da chantagem), os não grevistas poderiam ir tranquilos para o trabalho, com menos carros pelas ruas, estacionamentos mais vazios, corredores silenciosos, enfim, paz e tranquilidade para quem gostaria de aproveitar o ritmo reduzido do serviço público (não faz muita diferença, o ritmo, na verdade), e teríamos um encontro do vazio com a capacidade de pensar...
Que ilusão!
Pensei aproveitar para adiantar alguns trabalhos em silêncio zen, mas fui confrontado com a fúria em decíbeis dos grevistas. Eles colocam aparelhos de som à altura de 250 (qualquer coisa) e ficam tocando aquelas músicas maravilhosas que vocês não deve ouvir mas que existem, sem que a gente jamais suspeitasse dessa existência medíocre.
De vez em quando eles soltam um rojão, e as consignas pelo alto-falante.
Maravilha das maravilhas a democracia: você pode estourar os tímpanos de outrém impunemente, tudo em nome da liberdade de manifestar.
Já não se fazem greves como antigamente...
Eu aliás acho que o serviço público poderia funcionar com 2/3 a menos de gente do que ele tem; atenção, eu disse 2/3. Fica muito mais tranquilo e não parece haver nenhum prejuízo ao serviço. Ao contrário. Parece que as coisas andam mais rápidas, sem muita gente para interferir.
Isso no executivo.
Acredito que no Legislativo se poderia funcionar bem com apenas 2/10 do pessoal empregado. Atenção: eu disse dois décimos, ou seja, 80% do pessoal é redundante, dispensável, literalmente inútil.
No Judiciário, talvez se pudesse, com novas metodologias, reduzir o pessoal em 1/3, eliminando a Justiça trabalhista, por exemplo, uma inutilidade que aumenta, em lugar de diminuir, os conflitos laborais. E acho que o salário poderia ser reduzido, ou não aumentado, para equiparar com outras categorias do serviço público.
Sim, eu também acabaria com a estabilidade, irremovibilidade e outros penduricalhos burocráticos...



Greve no Itamaraty tem mais adesões nesta quarta-feira

Jornal do Brasil
O movimento grevista no Ministério das Relações Exteriores (MRE) cresceu nesta quarta-feira (20). Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores do MRE (SindItamaraty) e da Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria do Serviço Exterior Brasileiro (ASOF), 86 postos no exterior, em embaixadas e consulados, já aderiram à paralisação, iniciada na segunda-feira (18). Na terça-feira, ela começou com 75 postos paralisados.   
Entre os servidores das representações brasileiras que se juntaram à greve estão os dos consulados gerais de Londres, Nova York, Paris, Sidney, Houston, Atlanta, Boston, Hartford, São Francisco e Los Angeles, e as embaixadas de Paris, Londres, Washington.
Também se juntaram à greve os trabalhadores locais - servidores contratados nos países onde atuam -, que constituem 70% da força de trabalho das embaixadas e dos consulados. Em carta aos representantes das missões diplomáticas do Brasil no exterior, os advogados da Associação dos Funcionários Servidores Locais do Ministério das Relações Exteriores no Mundo (AFLEX) confirmaram a greve por um dia.
Greve no Itamaraty 
A paralisação atinge as chamadas carreiras típicas de Estado do Serviço Exterior Brasileiro (SEB), que agrupa diplomatas, assistentes de chancelaria e oficiais de chancelaria. O movimento é promovido pela União das Entidades Representativas das Carreiras Típicas de Estado, e busca reajuste salarial para a categoria. No caso do MRE, além da questão salarial, outras demandas, de ordem estrutural e de gestão de pessoas, são reivindicadas. 
“A indefinição das atribuições das três carreiras do SEB faz com que parte dos diplomatas, que deveriam cuidar das formulações da política externa brasileira, na prática exerçam funções técnicas", diz a presidente da ASOS, Soraya Castilho. Segundo ela, estas atribuições seriam "de oficiais de chancelaria, como chefiar a Divisão de Serviços Gerais, responsável por obras, manutenção de infraestrutura e licitações de itens de consumo do Itamaraty – desde o cafezinho até o papel higiênico”.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Iran: uma nova Coreia do Norte? - Wall Street Journal

Com as sanções se aproximando, o Irã pode tornar-se um novo país recluso, introvertido, fechado no seu sistema rígido, tendo como únicas portas para o mundo a China e a Rússia.
A ver...
Sanctions for Iran as Talks Fail

The Wall Street Journal, June 19, 2012


MOSCOW—Sanctions aimed at punishing Iran will begin in two weeks after another round of talks with world powers ended without an agreement by Tehran to curb its nuclear program.
The lead negotiators for both sides said the ball was in the other's court after the end of talks here. Catherine Ashton, the European Union's foreign policy chief, and Saeed Jalili, the lead Iranian negotiator, used similar words, saying that the other had "a choice" to make to get negotiations restarted.
Iran had hoped the talks might forestall the looming sanctions. With new penalties now a certainty, the long-running international dispute has entered an unpredictable new phase that will test past Iranian threats to retaliate, including a vow to choke off a key global oil channel, the Strait of Hormuz.
In the absence of talks, sanctions also may be the last barrier to a possible Israeli strike on Iran's nuclear facilities, a step U.S. officials fear could spark a wider conflict.
Associated Press
Iran's Jalili, center, said the talks were 'a test on whether the West is for or against Iran's scientific progress.'
Iran's economy already is suffering shocks because of a combination of government mismanagement and sanctions that have driven up the cost of staple goods by as much as 50%.
Upcoming penalties will up the ante by targeting Iranian oil exports, its main source of revenue. A European Union embargo on all Iranian oil sales takes effect July 1, a move that could endanger as much as a third of Iran's revenue.
Before that, the White House will impose sanctions on firms doing business with Iran's central bank beginning June 28, another tool to drain Tehran of its oil revenue.
The U.S. Congress is likewise poised to push for more sanctions after the failure of talks in the past two months in Istanbul, Baghdad and now Moscow.
U.S. officials underscored their determination to enforce sanctions with a warning to Venezuela on Tuesday over a plan to cooperate with Iran to develop surveillance drones.
"All countries, including Venezuela, have an obligation to comply with international sanctions against Iran," said State Department spokeswoman Victoria Nuland. "We're committed to ensuring that if we see violations of Iran sanctions, that we will call them out and that we will seek appropriate action."
Iran and the world powers agreed to extend the negotiations by planning some lower-level technical meetings on July 3 in Istanbul.
No higher-level meetings are yet scheduled.
Compounding the setback, Iran recently backed out of a tentative deal with the United Nations' nuclear watchdog to provide its inspectors with greater access to scientists, sites and documents believed to be tied to Tehran's nuclear work.
Underscoring the rising stakes, the U.S. House Armed Services Committee will hold a hearing Wednesday on military options for addressing Iran's nuclear program.
Under the new U.S. sanctions, any foreign state bank processing oil transactions through Iran's central bank, called Bank Markazi, could be punished. Non-state institutions doing business with Bank Markazi could also be hit.
The State Department has granted waivers in recent months from these sanctions to countries that have shown a willingness to reduce their Iran oil purchases.
But China and Singapore could still be targeted after June 28, U.S. officials said.
Additional U.S. sanctions could further target Iranian energy and financial sectors as well as its shipping and insurance businesses, said Sen. Mark Kirk (R., Ill.), who has advanced new sanctions legislation.
"After three rounds of meetings, Iran remains in violation of multiple U.N. Security Council resolutions ordering it to halt all its uranium enrichment activities," Mr. Kirk said.
Diplomats called the two days of talks in Moscow "intense and tough" but said that the two sides remained far apart on how to unwind Iran's uranium enrichment program, which Tehran again Tuesday called an "inalienable right" of the Iranian people.
Western officials had expressed hope that the talks Monday and Tuesday would bear fruit, in part because heightened pressure from the Kremlin, which has traditionally maintained a closer relationship with Iran than most of the other Security Council members that are pressuring Tehran to scale back its nuclear program.
Russian officials dined with the Iranian delegation, and met with members in an effort to push along negotiations.
But U.S. and European officials said the talks remained deadlocked over Iran's program.
As in previous talks in Baghdad last month and in Istanbul before that, Iran demanded a lifting of sanctions before it would back off on its enrichment of uranium to 20% purity, which Western officials call perilously close to weapons grade.
But world powers have insisted that Iran take the first conciliatory step and have been proposing a step-by-step program in which Iran will be rewarded for putting a halt to its high-grade nuclear enrichment, ship out the highly-enriched fuel that it has amassed, and shut down a nuclear facility situated deep in a mountain that is impervious to an airstrike.
Ms. Ashton, the lead negotiator for the six powers in talks, said at the end of two days of meeting Tuesday that "significant gaps" remain between the two sides.
U.S. officials insisted that neither they nor their partners changed their demands in Moscow, or offered any sanctions relief before Iran takes steps to start meeting the international community's demands. In fact, the timing of the July 3 meeting, two days after a ban on Iranian oil purchases goes into effect in Europe, is a sign that Iran hasn't won any easing or postponing of sanctions, they said.
In the weeks leading to the talks, Iran likewise took a tough stance, with Iranian officials reiterating the Islamic Republic's position that enriching uranium is an "absolute right" under the Non-Proliferation Treaty.
Mr. Jalili, the Iranian chief negotiator, told Iranian reporters before entering the talks on Monday that this round of talks was really " a test on whether the West is for or against Iran's scientific progress."
Iran's Supreme Leader Ayatollah Ali Khamenei, who has the last word on all state matters, indirectly made a reference to the nuclear talks in a speech on Monday making it clear where Iran stands on compromise.
"Our enemies should know that arrogance and un-substantiated demands from Iran will lead to nowhere," Mr.Khamenei said, according to official media. He also said Iran's resistance and progress stands as an example of standing up to injustice in the world.
—Farnaz Fassihi and Jay Solomon contributed to this article.
Write to Alan Cullison at alan.cullison@wsj.com
A version of this article appeared June 20, 2012, on page A1 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Sanctions for Iran as Talks Fail.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Cambio e governos: uma mistura patetica...

Um leitor me envia o seguinte comentário a um post econômico (eles são muitos) deste blog:


Essa semana vi a notícia de que a União Européia comemorou a valorização do Euro sobre o Dólar. Me surgiu uma dúvida e gostaria que se você pudesse me respondesse: Por que a UE comemora a valorização da sua moeda e nos lamentamos?
Outra questão que gostaria de fazer é sobre sua opinião se o governo conseguirá ou não segurar essa desvalorização do real ou o mesmo voltará a se valorizar sobre o dólar. 



Respondi inicialmente o seguinte, em comentário ao post em questão, e prometi um post sobre isso: 


Suas dúvidas são pertinentes, mas não existem respostas econômicas para variações cambiais em que se comprazem ou com as quais se preocupam os governos.
Governos sempre têm preocupações políticas e acham que a economia deveria ajudá-los. Ora, a economia é implacável: ela não existe para contentar governos, e sim para expressar relações da realidade.
Vou fazer um post para tentar responder suas questões.
Paulo Roberto de Almeida


Bem, vamos tentar agora, mas o assunto do câmbio é vastíssimo e a patetice dos governos em matéria cambial é maior ainda. Em todo caso, posso oferecer minha visão do problema, e o que eu acho razoável de se fazer em matéria cambial.


Em tempos recuados, muito antes da brilhantina, câmbio era visto com certo respeito por governos responsáveis. Eram os tempos do padrão ouro (século XIX, até 1913), quando os governos de países sérios emitiam moeda com lastro metálico (ouro ou prata, mas o ouro forneceu o padrão da libra, oficialmente desde o final das guerras napoleônicas, até o início da guerra, quando se suspendeu a conversibilidade, por razões ponderáveis, digamos assim.
Desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo, embora se tenham feito tentativas para voltar à "idade do ouro".
Mas, como os governos aprenderam a emitir dinheiro sem lastro nenhum, durante a guerra, os políticos se acostumaram a essa solução fácil de prometer muito, acima dos recursos disponíveis, manipulando emissões e a paridade das moedas, quando assim necessário.
Passo por cima da indescritível bagunça que foram os anos de entre guerras, mas recomendo a você a leitura de Liaquat Ahmed, Lords of Finance, que me parece ter uma edição brasileira, chamada Os Donos do Dinheiro. O essencial está em que nos anos 1930 tudo saltou pelos ares e o mundo viveu o caos econômico e monetário: emissões inflacionistas, manipulações cambiais, protecionismo comercial, controle de capitais, enfim, a descida aos infernos na economia.
A grande tentativa de restaurar certa ordem se deu em Bretton Woods, e aí recomendo a você o livro de Barry Eichengreen, Globalizing Capital, ou A Globalização do Capital, em edição brasileira.
Em Bretton Woods, em 1944, se definiu um padrão ouro-dólar, que funcionou durante certo período (enquanto os EUA garantiram a conversão oficial a 35 dólares por onça de ouro), mas logo nos anos 1960 os desequilíbrios se acumularam e os EUA tiveram dificuldades em honrar os compromissos assumidos em Bretton Woods.
O desenlace fatal se deu em 1971, quando os EUA denunciam unilateralmente o arranjo de Bretton Woods, e o mundo nunca mais voltou a ser o mesmo. Ou seja, as moedas já não tinham mais referência em ouro ou em dólar, e cada governo podia fazer os arranjos que desejasse, pois o FMI deixou, em 1973 oficialmente, de exigir dos países uma declaração de paridade (estável, tanto quanto possível) de suas moedas. Cada um deveria se arranjar por si, ou seja, liberdade cambial. 
Isso quer dizer que um país pode deixar sua moeda amarrada a um valor fixo (expresso em ouro, ou em outra moeda forte, mas esta flutua, na maior parte dos casos), pode preferir uma banda de variação, para evitar tanto o compromisso com um valor fixo (que imporia obrigações muito grandes a sua autoridade do setor), quanto as variações muito fortes, assim como pode simplesmente deixar sua moeda variar em função da velha lei da oferta e da procura, ou seja, ao sabor dos mercados.


Governos de países responsáveis e de economias maduras (o que não quer dizer estáveis, pois isso não existe em economia) adotaram essa solução: abrir seus mercados financeiros e permitir o livre câmbio das suas moedas, ou seja, abolição dos controles de capitais e liberdade cambial, o que quer dizer livre conversibilidade. Por vezes existem flutuações muito importantes, e durante certo tempo, os bancos centrais faziam acordos de empréstimos mútuos para intervenção nos mercados e deixar a moeda em torno de certos valores tidos por desejáveis.
Mas isso é praticamente impossível hoje: a magnitude dos movimentos de capitais é de tal monta que NENHUM governo tem capacidade de intervenção suficiente.
Países menores, ou com dificuldades na liberalização econômica, mantém controles de capitais e ausência de conversibilidade, o que evidentemente penaliza empresas e indivíduos que gostariam de dispor livremente de seus ativos financeiros.
Para se ter uma ideia da ordem de grandeza de que estamos falando, bastar ter em mente estas proporções aproximadas:


60 trilhões de dólares: valor do PIB global anual (sendo que uma espécie de G10 da economia mundial deve ter 90% disso);
220 trilhões de dólares: ativos financeiros intercambiados nos diversos mercados do mundo, sob diferentes modalidades, ou seja, aproximadamente quatro vezes a produção de riquezas;
600 trilhões de dólares: valor total de todos os ativos, incluindo dívidas governamentais, valor das ações, etc.; parte desses valores, parte em fumaça quando das crises, que geralmente correspondem a bolhas acumuladas em algum setor (cambial, imobiliário, ações, etc.).


Pois bem, tendo esse quadro, como interpretar o que você me diz?: 
1) "a União Européia comemorou a valorização do Euro sobre o Dólar"
PRA: Pode até ter comemorado, mas isso não tem muito significado econômico, pois a realidade pode mudar. Num momento de crise, as pessoas, os empresários, os especuladores, se afastam dos países em crise -- como a Europa atualmente -- pois significa que as oportunidades de ganho são mais raras e os riscos maiores. Natural, portanto, a desvalorização do euro, o que quer dizer que os europeus ficam mais pobres em face do resto do mundo. Portanto, se existe uma valorização, isso dá certo alívio nos políticos, mas isso é efêmero e enganoso.
Não tenho certeza de que nós lamentamos isso, mas os fenômenos cambiais sempre tem duas pontas: valorização ou desvalorização são sempre relativas às paridades existentes, e podem ocorrer tanto em função de fatores absolutamente econômicos (a velha lei da oferta e da procura), como por manipulações governamentais, que provocam fluxos e contrafluxos de capitais. O que os governos europeus fazem é patético, pois estão se vangloriando por um movimento absolutamente efêmero, provavelmente no imediato seguimento do plano espanhol (afinal, 100 bilhões de euros sempre é alguma coisa), mas o cenário pode mudar, por qualquer motivo, inclusive por fatores totalmente alheios ao cenário europeu (conjuntura americana, por exemplo).


2) "se o governo [brasileiro] conseguirá ou não segurar essa desvalorização do real ou o mesmo voltará a se valorizar sobre o dólar"
PRA: O governo brasileiro também é patético, pois não sabe o que quer, e comemora coisas que não dependeram dele, diretamente.
Como somos um país economicamente fascista, ou perto disso, no qual o Estado controla um pouco todas as vertentes da atividade econômica, é possível, ainda, influenciar o câmbio, que teoricamente, no Brasil, se situa num status de "flutuação suja", ou seja, o governo diz que o câmbio flutua, mas não deixa de intervir quando pode ou quando quer (comprando ou despejando dólares no mercado).
A valorização inédita ocorrida nos últimos anos, mais importante do que na primeira fase do real (quando os petistas acusavam o governo de fazer "populismo cambial) decorreu de vários fatores, mas sobretudo do afluxo de dólares por: (a) juros altos no Brasil; (b) valorização das commodities brasileiras exportadas; (c) expansão das exportações, sobretudo do setor agropecuário; (d) crescimento econômico e oportunidades de investimento estrangeiro no Brasil; (e) diversos outros fatores residuais, que deixo de mencionar.
Ou seja, o governo pode não ter querido essa valorização, ela ser recusada e denunciada pelos exportadores manufatureiros (que sofrem com o encarecimento em dólar de seus produtos), mas mesmo assim ocorrer. 
Governos, em geral, são hipócritas, pois dizem querer favorecer as exportações, mas "adoram", secretamente, essa valorização, pois isso deixa os cidadãos mais ricos, eles podem ir duas vezes por ano a Miami, passear em Paris, etc. Ou seja, todo governo, ainda que não admita, adora "populismo cambial". Daí a razão de deixarem a moeda se valorizar, por vezes até artificialmente.
Mas, digamos que a pressão dos exportadores se tornou insuportável, e que a balança comercial, ou de serviços, apresente déficits preocupantes, e é preciso proceder a pequena desvalorização. Existem muitos meios para isso, mas também depende da capacidade de fogo do governo. 
A desvalorização ajuda a desafogar balança de transações correntes, mas também torna os cidadãos mais pobres e a classe média não gosta.


Em todo caso, o mundo ideal, para os governos, seria um em que existissem dois câmbios, um desvalorizado, para exportações, outro valorizado para importações e farra no exterior. Isso é impossível, pelo menos em situações de mercado, mas já tivemos, no passado, taxas múltiplas de câmbio. É um caminho para a corrupção e a desorganização da economia.


Pois bem, termino com a minha opinião sobre o que eu acharia desejável no mundo econômico, e no Brasil.
O ideal para mim seria um cenário em que o governo fosse amputado da capacidade de influenciar juros e câmbio, em que esses elementos importantes da vida econômica fossem regulados pelos mercados, e aí nos adaptaríamos à realidade da vida econômica.
Se fôssemos muito produtivos e competitivos, nossa moeda se valorizaria naturalmente, e seríamos felizes assim (mas para isso é preciso trabalhar como os alemães, digamos assim).
Se fossemos um pouco como os gregos -- o que somos, na verdade -- o desastre viria: essa coisa de viver de sol e mar, esperando turistas, pagando salários fabulosos para um funcionalismo exacerbado, pensões generosas, não costuma dar certo. Aí, a "solução" natural dos mercados é a fuga de capitais, o desinvestimento, a desvalorização, enfim. A tragédia grega foi que eles não podiam desvalorizar. Mas não vamos achar que foram vítimas, isso não: viveram durante anos à sombra dos juros "alemães", importando capital não para investimento, mas para tapar os rombos orçamentários e os buracos de seu balanço de pagamentos, e mais ainda: manipularam e maquiaram suas contas públicas, escondendo vergonhosamente as estatísticas reais.
O governo brasileiro faz um pouco isso, também, manipulando, maquiando, escondendo dívida pública com dinheiro do Tesouro repassado ao BNDES, a um custo fiscal não revelado e não transparente.
Um dia a casa cai.


Qual deve ser a taxa de câmbio no Brasil?
Eu acho que deve ser aquela de equilíbrio, sem manipulações governamentais.
Qual é essa taxa? Eu não sei, só sei que ela corresponderá à dinâmica econômica brasileira: se formos produtivos, competitivos, ela se valorizará naturalmente, e estaremos ricos e felizes.
Se formos improdutivos, os "gregos" da América do Sul, o câmbio vai desabar um dia, e ficaremos mais pobres, como os gregos descobriram agora.


Qual o caminho para evitar esses dissabores?
Bem, se dependesse de mim: juros e câmbio de mercado, ponto.
Quando vamos ter isso?
Não sei, por enquanto vivemos no fascismo econômico.


Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 19 de junho de 2012

Greve no Itamaraty: espaco e tempo para refletir...

Uma greve no Itamaraty pode atrapalhar um bocado brasileiros em viagem, que vão sofrer (um pouco mais) no que se refere ao atendimento consular.
Quanto aos demais serviços internos, pode, sim, atrapalhar a emissão de passaportes oficiais, o pedido de vistos por notas, e até a liberação das bebidas e carros dos diplomatas estrangeiros, se esses serviços não estiverem automatizados.
No mais, não creio que afete a economia do país, o tamanho e o crescimento do PIB, o nível de juros e o déficit público (ao contrário, pode até ser que diminua o déficit público).
Em todo caso, estacionamento e biblioteca estarão mais vazios, o que permitirá aos pesquisadores mais silêncio e tranquilidade (isso se a Biblioteca não fechar, claro).
Espero que ela não feche: é o lado do Itamaraty que mais prezo...
Paulo Roberto de Almeida

Servidores do Itamaraty entram em greve

18/06/2012
Pela primeira vez na sua história, o Itamaraty enfrenta, a partir de hoje, uma greve dos seus servidores. Oficiais de Chancelaria, Assistentes de Chancelaria e, de acordo com o sindicato da categoria, até mesmo alguns diplomatas decidiram pela paralisação nesta segunda, em uma assembleia em Brasília que contou com a participação, via redes sociais, de funcionários de fora do País.
Pelo menos 60 postos no exterior, incluindo o atendimento consular em Paris, Roma, Londres, Nova York, Los Angeles e Washington serão afetados. Às vésperas das férias de julho, o problema pode repercutir diretamente nos milhares de brasileiros que devem viajar para o exterior nos próximos dias e nos estrangeiros que desejem vir ao Brasil.
Uma das poucas atividades que não serão prejudicadas pela greve é a organização da Conferência Rio +20. A decisão da assembleia, tomada nesta segunda, ressalta que o os funcionários que estão na organização do encontro de mais de 150 chefes de Estado, que termina no final dessa semana, será preservado. Nele estão mais de 200 diplomatas, oficiais e assistentes. Dos cerca de 500 que ficaram em Brasília, 300 participaram da assembleia.
Os oficiais e os assistentes de chancelaria são, normalmente, os responsáveis pelas funções administrativas das embaixadas, consulados e também na sede do ministério, em Brasília. Um trabalho que inclui também o atendimento direto ao público, o atendimento telefônico das unidades consulares e até mesmo a emissão de novos passaportes – que, apesar de ser autorizada pelos diplomatas, passa pelas mãos dos oficiais. O Itamaraty admite que durante o período da greve, o trabalho poderá ficar mais lento e terá que ser assumido pelos diplomatas.
De acordo com o SindItamaraty, que representa todas as categorias de servidores do chamado Serviço Exterior Brasileiro, o que os funcionários querem é a equiparação com os salários mais altos das carreiras de Estado. No caso dos diplomatas, os vencimentos subiriam pouco: dos atuais R$ 12.960, em início de carreira, para os R$ 13,6 mil de um auditor fiscal. O salário final passaria de R$ 18.470 para R$ 19.689, os vencimentos de um delegado da Polícia Federal.
Os maiores aumentos seriam para os Oficiais e Assistentes. Os primeiros, que hoje recebem inicialmente R$ 6,3 mil, passariam para a segunda categoria de vencimentos de nível superior do governo federal, R$ 12.960. Os assistentes passariam à primeira categoria dos cargos de ensino médio, saindo de um salário R$ 3,1 mil para R$ 5,8 mil – em valores de hoje, já que a maior parte das categorias classificadas nessas faixas também hoje pede reajustes, que os servidores do Itamaraty também pretendem receber.
Em uma carta enviada ao ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, no dia 14 deste mês, os servidores informavam sobre a possibilidade de greve e suas reivindicações, que estão sendo negociadas com o Ministério do Planejamento. Até agora, no entanto, não houve nenhum sinal positivo. Os servidores já haviam feito uma paralisação no dia 30 de maio, mas as negociações não avançaram. A greve é por tempo indeterminado, mas uma nova assembleia foi marcada para sexta-feira com a intenção de avaliar alguma proposta do Planejamento, se houver.
Disponível em: http://br.noticias.yahoo.com/servidores-itamaraty-entram-greve-221400152.html

Afundando no protecionismo, e preparando a crise futura...

Brasil e Argentina eram, segundo meus critérios, apenas países reticentes em abrir-se à economia mundial, vagarosos nas reformas e sobretudo temerosos da concorrência estrangeira.
Não mais. Eles estão plenamente engajados em retroceder no tempo, fazendo girar para trás a roda da história, em pelo menos cinquenta anos, enquanto ativos promotores, defensores, estimuladores, entusiastas do protecionismo, como se isso fosse solução para qualquer um dos problemas que suas economias enfrentam.
Parece inacreditável que, depois de todos os ensinamentos da história, dirigentes políticos e responsáveis econômicos ainda acreditem que fechamento econômico e protecionismo comercial ainda sejam respostas para o que quer que seja.
Bem, vamos aguardar os efeitos dessa medida. Aliás, elas já se manifestam rapidamente no plano individual: vamos sentir em nossos bolsos imediatamente, ao ter de pagar mais caro por produtos de menor qualidade. Depois, no plano setorial, as indústrias afetadas (que na verdade demandaram esse insulamento da economia mundial) vão ficar atrasadas, incapazes de competir, em qualquer mercado que se considere. Em terceiro lugar, a "folga" comercial que se obtem no balanço de pagamentos, virá com déficits em outras áreas.
Ou seja, no final, vamos ficar pior do que antes.
É a isso que nos levam as medidas dos dois governos...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e Argentina vão ampliar protecionismo

Mercosul lança na semana que vem lista de mercadorias que terão alíquota de importação elevada; Brasil fala em 200 produtos, Argentina pede o dobro

Renata Veríssimo
Agência Estado, 18 de junho de 2012
BRASÍLIA - O Mercosul deve aprovar na próxima semana mais uma medida para proteger os mercados locais da concorrência dos importados. Os técnicos do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai discutem a ampliação do número de produtos que terão o Imposto de Importação elevado.
O Brasil defende uma relação com 200 itens, segundo informou ao Estado a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Tatiana Prazeres. A Argentina quer uma lista com 400 produtos.
No segundo semestre do ano passado, em meio ao agravamento da crise internacional, o bloco anunciou a implementação de uma lista com até 100 itens para cada País que teriam aumento do Imposto de Importação para produtos provenientes de mercados fora do bloco. Nestes casos, o imposto que, em média, é de 12% a 13%, pode chegar a 35%, a alíquota máxima permitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Tatiana acredita que a ampliação da lista será aprovada durante a reunião de cúpula do Mercosul, que será realizada entre os dias 26 e 28 de junho na província de Mendoza. Segundo ela, o Brasil concorda chegar a 200 itens, conforme já tinha defendido no passado, quando a criação da lista foi aprovada.
Critério. Outro ponto de discordância com a Argentina é sobre o critério de definição dos produtos. O Brasil defende que cada país tenha autonomia para fazer a própria lista. O governo argentino quer uma lista única, com os mesmos produtos e alíquotas para os sócios do Mercosul.
A medida dá mais fôlego aos setores afetados pela concorrência dos importados, mas é menos radical que a proposta apresentada pela Argentina no mês passado. Buenos Aires defendeu uma elevação generalizada da Tarifa Externa Comum (TEC) até o limite permitido pela OMC. O Brasil foi contra.
A ideia da lista com até 100 produtos foi anunciada em agosto do ano passado, como uma das medidas do Plano Brasil Maior. A ação, no entanto, não foi colocada em prática até hoje. Paraguai e Uruguai ainda não incluíram (internalizaram, no jargão técnico) na legislação local o novo mecanismo, embora o protocolo assinado pelo Mercosul estipulasse um prazo de 60 dias.
Emprego. O coordenador geral de Imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida, disse ontem que as barreiras impostas pela Argentina ao comércio bilateral não só prejudicam as exportações, mas também têm reflexo no mercado brasileiro de trabalho.
Segundo ele, que participou de audiência pública no Senado, a indústria de calçados, abate de suínos, fabricação de tratores, caminhões, autopeças, motocicletas e de equipamentos de transportes ampliaram em 29.682 os postos de trabalho de janeiro a maio de 2011.
Em cinco meses, estes setores fecharam 3.892 vagas, sendo que o País continua gerando novos empregos formais. "De maneira geral, todos os setores estão gerando emprego. A indústria também e estes setores têm sofrido prejuízo no emprego", disse.


Pausa para... operas (uma pausa de varios dias...)

Bem, não dá para ver de uma vez só, mas sempre se pode tentar...


Verdi - La Traviata (1988) - Complete opera
Verdi. Traviata (Cotrubas, Domingo, MacNeil) Met 1981.AVI
Rigoletto - Rome 1991
Nabucco - Giuseppe Verdi – 2007
Verdi: Nabucco with Deutekom & Nimsgern & Muti (The whole opera)
Il Barbiere Di Siviglia - G.Rossini - Scala – 1999
La Bohème - Giacomo Puccini – 2005
Puccini - Madama Butterfly (Maazel).
Best Tosca Ever - Kabaivanska Domingo Milnes - Full Movie
Verdi: Aida with Freni, Domingo, Wixell. Houston 1987
Roberto Alagna, Angela Gheorghiu, Rene Pape - Romeo & Juliette - Orange 2002
Carmen - Georges Bizet – 2009
Bizet - Carmen (von Karajan).
The Magic Flute (Die Zauberflöte) - English Subtitles
Wolfgang Amadeus Mozart Le Nozze di Figaro KV 492
"The Marriage of Figaro"
Mozart - Don Giovanni - Furtwangler, Siepi, Grummer, Edelmann (Salzburg Festival 1954)
Rossini - La Cenerentola (1981) - Complete opera
Rossini - La Cenerentola (Summers, Liceu)
L' italiana in Algeri - Bologna 1994
Don Pasquale - Gaetano Donizetti – 2010
Lucia di Lammermoor - Gaetano Donizetti – 1982
Giuseppe Verdi Il TROVATORE


segunda-feira, 18 de junho de 2012

PRA: RIP

Ainda tenho de esclarecer a minha morte. Espero que a polícia possa colaborar...
O Google, por vezes, nos dá mais trabalho do que o imaginado...



Jornal Cruzeiro do Sul
Outra morte a ser desvendada é a de Paulo Roberto de Almeida, baleado num campo de futebol do Jardim Betânia em 15 de fevereiro.

domingo, 17 de junho de 2012

Fapesp, 50 anos - Celso Lafer


Fapesp, 50 anos

Celso Lafer
O Estado de S.Paulo, 17 de junho de 2012
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) celebrou seu jubileu de ouro na Sala São Paulo, na noite de 30 de maio. Suas realizações são o fruto de uma ação coletiva dos muitos que, nestes 50 anos, a ela se dedicaram. A base da ação da instituição reside, no meu entender, em dois conceitos: o da qualidade de um bom princípio e o da autoridade, na acepção de Hannah Arendt.
Arché, a palavra grega para princípio, aponta para dois significados - o de começo e o de comando. O princípio da Fapesp foi tanto um ponto de partida quanto o fundamento que explica o movimento que se iniciou a partir desse ponto de partida.
Com efeito, a Fapesp, como agência de fomento à pesquisa e a sua correspondente evolução no correr dos anos, está indissoluvelmente ligada aos seus princípios, vale dizer, à qualidade da concepção que comandou as suas origens.
As origens desse princípio remontam à Assembleia Constituinte Paulista de 1947, quando um fecundo trabalho conjunto entre membros da comunidade científica de São Paulo e deputados estaduais resultou na elaboração e aprovação do artigo 123 da Constituição estadual.
"O amparo à pesquisa científica será propiciado pelo Estado, por intermédio de uma fundação, organizada em moldes que forem estabelecidos por lei. § Único: Anualmente o Estado atribuirá a essa fundação, como renda especial de sua privativa administração, quantia não inferior a meio por cento do total de sua receita ordinária", dizia o artigo.
De maneira pioneira em nosso país, consagrou-se o reconhecimento da importância do respaldo à pesquisa como política pública de Estado, voltada para apoiar as atividades vinculadas a descobertas de novos conhecimentos que ampliam o entendimento e o poder de uma sociedade sobre o seu destino e os seus caminhos.
O artigo 123 teve a natureza de uma norma programática que estipulou a relevância de recursos regulares previsíveis e a autonomia administrativa como vis directiva das providências legislativas e orçamentárias necessárias para a sua plena efetivação.
Registro que essa vis directiva é uma das condições de sustentabilidade de uma política científico-tecnológica de Estado, e não de governos, posto que o tempo da pesquisa e da sua gestão é um tempo próprio, mais longo, distinto, por isso mesmo, do tempo curto das urgências políticas, do tempo online dos meios de comunicação e o da celeridade dos movimentos financeiros.
A efetivação da "ideia a realizar" do amparo à pesquisa foi obra do governador Carvalho Pinto, que, também interagindo construtivamente com o Poder Legislativo paulista e a comunidade científica, logrou aprovar a lei n.º 5.918 de 1960. Esta autorizou o Poder Executivo a instituir a Fapesp e Carvalho Pinto a instituiu com o decreto n.º 40.132 de 23/5/1962, conferindo, na ocasião, precisão à norma programática do "amparo à pesquisa" preconizada pela Constituição.
Entre as diretrizes estabelecidas e que retêm plena atualidade, destaco: a de que cabe à Fapesp apoiar a pesquisa, e não fazer pesquisa; a de que deve fornecer elementos de orientação e auxílio financeiro, sem interferir com a personalidade do investigador ou da instituição; a de que o âmbito de sua atuação deve ser limitado apenas pela idoneidade dos projetos e pela extensão dos recursos disponíveis; a de que não cabe restrição quanto ao gênero da pesquisa realizada; a do reconhecimento da interdependência entre pesquisa básica e aplicada; a da limitação das despesas administrativas a um teto de 5% do orçamento da fundação, tendo em vista assegurar que os recursos, provenientes do contribuinte paulista, fossem direcionados para as finalidades da pesquisa; a do empenho na objetividade e imparcialidade na avaliação das solicitações apresentadas, pela análise dos pares, o que ensejou a integração da comunidade acadêmica à Fapesp e adicionou sustentável qualidade ao processo decisório da instituição; a da republicana prestação de contas - contrapartida da autonomia - não só aos órgãos de controle da administração pública paulista, mas também à comunidade mais ampla, mediante relatórios anuais e outros meios de divulgação permanente de suas atividades.
Autoridade - autorictas - provém de augere, aumentar. E, como explica Hannah Arendt, a autoridade se constrói acrescendo sempre algo de significativo ao ato da fundação. É por isso que a dinâmica da Fapesp foi norteada pelo empenho em sempre dar nova abrangência às suas atividades de apoio à pesquisa.
Contribuiu para isso a decisão da Assembleia Constituinte Estadual de 1988, pela qual o porcentual da receita anual do Estado destinada à Fapesp passou de 0,5% para 1% e se adicionou à sua missão o desenvolvimento tecnológico.
São exemplos dessa dinâmica: o apoio a bem estruturados projetos de longo prazo, em todas as áreas do conhecimento (como é o caso dos temáticos e dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão - Cepids); os programas em rede de pesquisa abrangente, como o Biota-Fapesp (o estudo da biodiversidade e proposição de políticas para seu uso sustentável) e o Bioen (pesquisa sobre bioenergia); os investimentos de apoio à infraestrutura de pesquisa (por exemplo, o navio Alpha Crucis para a pesquisa oceanográfica); a aproximação com o setor empresarial para estimular a inovação na produção, contemplada com os programas da pesquisa em parceria (Pite) e o da pesquisa inovativa em pequenas empresas (Pipe); e a internacionalização da Fapesp por meio de acordos com entidades congêneres no mundo, o que enseja o avanço do conhecimento, por obra do potencial de sinérgica interação entre pesquisadores nacionais e estrangeiros.
A qualidade de um bom princípio, adensado pela autoridade do que a ele se adicionou no correr de 50 anos, explica por que a Fapesp tem sido capaz de contribuir de maneira significativa para que o nosso Estado se situe melhor no País e no mundo com o impacto do conhecimento gerado pelas pesquisas que patrocina.  
PRESIDENTE DA FAPESP

Energia no Brasil: do verde ecologico ao preto fossil Xico Graziano


Abaixo transcrevo um artigo de um dos melhores especialistas brasileiros do agronegocio, sobre o desastre do etanol: depois de reclamar enormemente dos subsídios americanos e das barreiras protecionistas ao etanol de milho americano, estamos importando milhões de hectolitros de etanol americano, por problemas exclusivamente de política equivocada do governo, por manipulações das contas da Petrobras, (inclusive em função dos preços da gasolina, que afetam uma parte apenas dos consumidores (classe média alta, em sua maior parte), e por uma série de outros equívocos, que costumam misturar manipulação grosseira da Petrobras (para fins politicos) e uma desinteligência notável no justo equilíbrio entre matriz energética e considerações de mercado.
O retrato do biodiesel é ainda pior, com perdas imensas mais uma vez mascaradas pelo governo, que lançou programas inexequíveis e antieconômicos de produçao de biodiesel a partir da mamona (o produto menos indicado para isso), apenas porque é endêmica no Nordeste e pode ser plantada ou colhida por pequenos camponeses de nível de subsistência. Isso representa confundir o aspecto técnico de uma matriz energética com problemas sociais, tradicionais nessa faixa de agricultores de subsistência; a base produtiva do biodiesel de mamona é totalmente equivocada, e nunca houve um cálculo econômico muito claro sobre o custo final desse biodiesel de mamona e os diferenciais de custo para outras variedades. Sem que isso fosse feito, o governo promulga lei obrigando a Petrobras a comprar o oleo de agricultores familiares. Um desastre total, e como sempre, as perdas da companhia são mais uma vez maquiadas nas contas do governo.
De toda forma, o governo parece ter há muito tempo abandonado qualquer veleidade ecológica, ambientalista ou de sustentabilidade, no plano da matriz energética; como bons gigolôs do petróleo que são todos os políticos, eles já viraram rentistas do pré-sal. A matriz energética brasileira, que era muito sustentável, está ficando preta, como um fóssil.
Paulo Roberto de Almeida 

Vexame Ambiental
Xico Graziano *
O Estado de S. Pauloterça-feira, 12 de junho de 2012
Que Código Florestal, nada. O grande fiasco brasileiro na Rio+20 se esconde no etanol. O país que ensinou ao mundo como trocar a gasolina fóssil pelo álcool renovável engata marcha ré na utilização do combustível limpo. Um vexame ambiental.
Pode-se comprovar facilmente esse retrocesso na bioenergia. Em 2011, o consumo dos combustíveis derivados de petróleo - gasolina principalmente - cresceu 19%, enquanto o uso do etanol nos veículos despencou 29%. Não precisa dizer mais nada. Anda na contramão da história a matriz energética dos transportes no Brasil.
Aconteceu que os consumidores reagiram ao desequilíbrio de preços a favor da gasolina. Duas razões básicas explicam a mudança do mercado. Primeiro, o governo federal tem reduzido o encargo da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, taxa que nos últimos anos recuou de 14% para 2,6%. Em consequência, acabaram praticamente equiparados os custos tributários de ambos os combustíveis. Uma política moderna de sustentabilidade, como buscada em todo o mundo, procederia ao contrário, ou seja, reduziria a carga tributária sobre o biocombustível, não sobre o derivado de petróleo.
Trata-se, obviamente, de uma decisão política, arcada pelo governo federal desde 2002. Com a redução da referida taxa, a Petrobrás, que normalmente deveria ter elevado o preço dos derivados de petróleo para manter sua competitividade global, se compensa pela perda de rentabilidade recolhendo menos imposto ao governo. Tudo dissimulado. Conta paga pela sociedade.
Em segundo lugar, a gasolina barata segura, obviamente, o preço do etanol na bomba, roubando margem dos produtores. Pouco lucrativa, a atividade alcooleira vê sua matéria-prima se direcionar para a fabricação de açúcar, movimento que se observa há tempos nas usinas. Bastante rentável no mercado internacional, o açúcar estimula a pauta das exportações. Resultado: a oferta de etanol se retrai, tendendo a elevar seu preço no posto de combustível, espantando a freguesia. Elementar.
O Brasil produziu cerca de 28 bilhões de litros de etanol nesta última safra (2010/2011). Nos EUA o volume já ultrapassou 50 bilhões de litros. Incrível. O país que inventou o Proálcool, obtido a partir da cana-de-açúcar, está tomando poeira dos gringos, que destinam 40% de sua safra de milho para a fermentação alcoólica. Mais ainda. A necessidade de manutenção de estoques confiáveis começou a exigir volumosas importações de etanol. Sabem de quem? Dos norte-americanos, claro. No ano passado, o Brasil comprou acima de 1,1 bilhão de litros de etanol dos EUA. Acredite se quiser.
Não é à toa que paira desilusão no setor sucroalcooleiro. Estimulados pela agenda da economia verde, nos transportes viabilizada definitivamente com a geração dos motores flex fuel, inéditos e fortes grupos, nacionais e multinacionais, entraram na atividade. Anunciaram planos formidáveis que, após quatro anos, micaram, roubando o fôlego do parque alcooleiro. Notícia ruim chega dos canaviais. E quem pensa que é chororô de usineiro se engana feio. Corretores garantem que 20% das usinas do Centro-Sul estão à venda. Sem comprador. As chamadas greenfields, novas plantas a serem construídas, em vários Estados, ficaram no papel. O pouco dinamismo existente advém da ampliação e modernização de fábricas já instaladas. Passos de tartaruga no etanol.
Milhares de estudiosos, ambientalistas e jornalistas se encontrarão logo mais na Rio+20. O governo brasileiro fará ginástica para justificar o inexplicável. Enquanto as nações se debruçam para encontrar soluções capazes de esverdear sua (suja) matriz energética, por aqui se desperdiça uma oportunidade de ouro, retrocedendo no uso do combustível renovável.
Os produtores de cana-de-açúcar e os usineiros de etanol, por sua vez, lançaram por aqui o Movimento Mais Etanol, querendo influenciar a mídia e sensibilizar o governo para sua agenda. Eles se propõem a dobrar de tamanho até 2020 - o que, ademais, geraria 350 mil empregos diretos -, mas precisam viabilizar uma estratégia de política pública que devolva ao etanol a competitividade roubada pelo controle dos preços da gasolina. Basta, de cara, reduzir a carga tributária sobre o biocombustível.
Gasolina barata e etanol caro acabam criando um círculo vicioso contra o meio ambiente, prejudicando a saúde pública. Segundo a Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA, na sigla em inglês), o etanol derivado da cana-de-açúcar pode ajudar a reduzir até 91% o efeito estufa da Terra, quando comparado com as emissões advindas da queima de gasolina. Mas, curiosamente, o ambientalismo pouca bola dá para essa tragédia da poluição urbana. O foco de sua ferrenha atuação, conforme se verificou na questão do novo Código Florestal, mira no assunto da biodiversidade. Contra o desmatamento.
A intolerância dos ambientalistas agride os agricultores, como se do campo partisse todo o mal contra a natureza. Citadinos, eles poupam as desgraças ecológicas provocadas pela urbanização, a começar pelos escapamentos veiculares. Novos estímulos públicos ao setor automobilístico favoreceram agora as montadoras. Nenhum compromisso ambiental se firmou. Pouco importa, tristemente, aos radicais verdes.
Tal miopia do movimento ambiental, infelizmente, ajudará o governo a esconder, na Rio+20, o retrocesso na agenda do etanol. Seria interessante, aliás, como subproduto da reunião, discutir para onde caminha o ambientalismo brasileiro.
A incrível capacidade fotossintética do Brasil garante enorme vantagem na produção de biocombustível, energia renovável misturada com geração de empregos. Desprezá-la significa maltratar o etanol, um filho da Pátria.
* AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DE AGRICULTURA E SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. 

A Alianca do Pacifico e a integracao regional - Stratfor

Existem hoje, na América Latina, três grupos de países, simplificando um pouco: os globalizados (tipo Chile e México); os reticentes (tipo Brasil e Argentina), e os bolivarianos (enfim, não encontrei termo melhor para designar os malucos que estão querendo voltar meio século atrás, como Venezuela, Equador, Bolívia, e alguns outros). Peru e Colômbia estão entre os globalizadores e os reticentes, dependendo de quem governa e de quais são as políticas econômicas: atualmente estão mais próximas da integração global, mas sempre pode mudar.
Enquanto alguns se inserem no mundo, outros preferem a política do avestruz. Pior: procuram encontrar bodes expiatórios para os problemas que enfrentam. Nunca é culpa deles, apenas dos outros, do capitalismo perverso, do tsunami financeiro, da guerra cambial, enfim, qualquer coisa, menos as bobagens internas.
Assim vai a América Latina: alguns realistas, outros surrealistas...
Paulo Roberto de Almeida

Stratfor, June 8, 2012 | 0554 GMT
Leaders from Colombia, Chile, Peru and Mexico gathered in the Chilean Atacama Desert this week to sign an agreement pledging unity under the newly minted Pacific Alliance. First envisioned a year ago during a meeting in Lima, the alliance's first move will be to remove all bilateral visa restrictions, and the countries hope that the bloc will evolve into a multilateral free trade area. The Pacific Alliance unites four of Latin America's most trade- and business-friendly countries. According to Chilean President Sebastian Pinera, the bloc intends to focus explicitly on developing a trade agenda with Asia. The agreement is also sure to impact trade with the United States, a major export destination for all three countries.


Perhaps the most striking aspect of the agreement is the way it contrasts with Latin America's other major trade grouping: Mercosur, or the Market of the South. Mercosur groups Brazil, Argentina, Paraguay and Uruguay, and its trade policies inevitably cater to the needs of the two biggest partners -- Brazil and Argentina. The group's reaction to global economic turmoil has been to withdraw behind trade barriers in an economic policy that closely mirrors the import substitution industrialization theory that heavily influenced Latin American policy during the middle of the 20th century.
The contrasts between the Pacific Alliance and Mercosur reveal historical divisions and political orientations. They also highlight the extreme geographic barriers to integration within the region.
Latin America can be loosely conceptualized as a string of habitable "islands" separated by the massive geographic barriers formed by the Caribbean Sea, the Andean mountain chain and the impenetrable Amazon rainforest. The most contiguous fertile territory with the potential for development exists in the Rio de la Plata river basin, which is divided among the Mercosur members. Mexico is a part of North America and is naturally more oriented toward the United States and Canada than it is toward Latin American states.
The Andean nations should be considered in two separate groupings. The Caribbean Andes comprise Colombia and Venezuela and fit squarely into the geopolitical and economic backyard of the United States. The South American Andes, on the other hand, find themselves isolated not only from the Rio de la Plata countries, but also from the direct attention of the United States -- being as they are squarely located in South America.
What all the Pacific Alliance members share is a shoreline on the Pacific Ocean and an abiding interest in trade with Asia and the United States. Certainly interbloc trade will create opportunities to generate wealth. The opportunities for multilateral trade are inherently limited, however, as the Andean members are primarily reliant on commodity exports, and Mexico is the only country in the grouping with a well-developed industrial base. These countries do not have the same kind of natural geographic linkages that characterize a grouping like Mercosur, and nothing like Mercosur's initial intentions for a customs union should be expected out of the Pacific.
The Pacific Alliance is in many ways simply a maritime trading pact that will attempt to present a united regional front in trans-Pacific trade issues. This is a political and economic arena that is inherently dominated by the agendas of the United States and China, a fact exacerbated by growing U.S. attention to East Asia. But even four countries that display so many similar characteristics will find it difficult to forge a united bargaining position. Like many Latin American trading blocs before it, the Pacific Alliance will face the challenge of attempting to smooth over divergent and competing domestic interests while remaining geographically isolated from one another.