Governos assim, tendem a criar o horror absoluto...
Paulo Roberto de Almeida
Venezuela
Venezuela anuncia que vai ampliar Missão Alimentação
Caracas, 17 de outubro de 2013
A dificuldade atinge tanto produtos beneficiados pelo Programa Missão Alimentação – que consiste na venda estatal de alimentos com preços de 70% a 80% mais baratos que os comercializados na rede privada de supermercados – quanto os comercializados nos estabelecimentos particulares.
A Agência Brasil ouviu moradores de Caracas que falaram das dificuldades encontradas. A bioanalista Victoria Carmona, 27 anos, contou que tem sido muito difícil conseguir comprar frango, carne, farinha, arroz, leite e papel higiênico. “Está difícil em um supermercado normal e no mercado do governo. As filas são terríveis”, comentou.
Segundo ela, a maior dificuldade, no caso da rede privada, é que as pessoas estão comprando mais pelo medo de que faltem produtos. “O medo não é irreal, porque às vezes falta mesmo papel e leite. Por isso, quem pode compra e manda para os parentes que vivem no interior, onde o abastecimento tem sido mais difícil”, explicou.
Segundo Victoria, quando chega um produto no supermercado, as pessoas saem telefonando para os amigos e todos compram o máximo. “É comum a mãe, o marido e os filhos comprarem o mesmo produto para fazer estoque. Cada um entra, pega a quantidade limite de caixas de leite, por exemplo. Umas três pessoas da família vão comprar”, acrescentou.
Do mesmo modo, a diarista Dilia Ribero, 56 anos, tem dificuldades para conseguir comprar os produtos da cesta básica nos mercados estatais que vendem alimentos subsidiados pelo programa de alimentação.
Ela vive em um apartamento da Missão Vivenda, do governo venezuelano, em um bairro popular da capital. Dilia relata que tem sido muito complicado comprar farinha e frango.
“A gente fica quatro horas na fila, debaixo do sol, para conseguir comprar um frango e um pacote de farinha. Isso não dá para a semana”, contou à Agência Brasil.
Mãe de sete filhos e eleitora de Chávez e do presidente Maduro, Dilia disse que as condições no país estão muito delicadas. Ela acredita nas alegações do governo de que o país tem enfrentado problemas devido à “sabotagem da direita do país”.
“Temos que aguentar forte porque estão pressionando para que o governo não consiga resolver os problemas. O preço de tudo subiu muito”, informou, por telefone.
De acordo com estimativa de economistas, a inflação no país deve chegar a 50% até o final deste ano. O Banco Central da Venezuela registrou inflação de 4,4% em setembro e de 49,4% no acumulado dos últimos 12 meses.
Mesmo mantendo o apoio ao governo de Maduro, Dilia opina que a gestão poderia ser melhor. “Se Maduro arregaçar as mangas e trabalhar um pouco mas, acho que as coisas podem melhorar um pouco”.
Dona Dilia demonstra descontentamento quando compara os meses de governo Maduro com o período de Chávez. “Com nosso comandante era diferente. Não faltou comida e nem tinha tanta restrição de nada. Está muito difícil agora”, lamenta.
A venezuelana reclama também que houve queda na qualidade dos serviços prestados pelo governo. Há três meses, ela saiu do rancho (barraco) em um bairro popular para o apartamento que conseguiu subsidiado pelo governo.
“Cheguei aqui e as paredes estavam todas sujas, sem pintar e sem piso. Entregaram sem terminar direito e falam que foi culpa da construtora. Não dá para ficar só dando desculpa”.
Com os programas criados por Hugo Chávez, como a própria Missão Alimentação, milhares de venezuelanos saíram da linha de miséria e o país está entre os menos desiguais, segundo a Organização das Nações Unidas.
Apesar dos problemas levantados pela população, Maduro lembrou que o programa alimentar já alcança 82% da população. “Os últimos indicadores mostram que a Missão Alimentação aumentou em 18% o número de pessoas atendidas. Antes, o projeto chegava a 64% da população”, informou.
De acordo com o Ministério do Poder Popular, este ano já foram feitas 65 mil jornadas de vendas de alimentos.
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Venezuela cobrará taxa por terra improdutiva ou com uso inapropriado
São Paulo, 17 de outubro de 2013
O imposto, segundo o plano desenhado por Caracas, seria progressivo com aumentos anuais. “Assim, o proprietário verá que não convém seguir com sua terra e decida entrega-la ao Estado”, disse Gudiño, que preside o órgão há apenas 4 meses. “Esse é o objetivo central da taxa: uma maneira diferente de recuperar terras, pela via da coerção”, acrescentou.
Desde a aprovação da Lei de Terras em novembro de 2001, Caracas já resgatou cerca de dez milhões de hectares de terras ociosas ou pouco produtivas por meio de diversos instrumentos legais, promovendo também a reforma agrária no país. Boa parte dessas propriedades (cerca de 70%) foi entregue a milhares de famílias venezuelanas camponesas, que passaram a plantar e produzir nesses territórios. Ao menos 80% dessas terras resgatadas estão produtivas, informou o presidente do Inti.
A taxação seria apenas mais uma ferramenta do governo venezuelano para melhorar a produção agropecuária e a distribuição de terras.
Segundo Gudiño, ainda existem muitas propriedades na Venezuela que, mesmo sendo usadas para a plantação e criação de animais, devem ser mais bem utilizadas segundo suas propriedades. “O caso mais emblemático é das terras do Sul do Lago, que sendo de tipo 1 e 2, de muito boa qualidade para a produção agrícola vegetal, são utilizadas para a criação de gado”, afirmou ele.
Gudiño apontou que já existe uma comissão trabalhando em uma proposta para ser enviada ao Ministério da Agricultura e ao presidente Nicolás Maduro. Se aprovada, o presidente do Inti acredita que a medida pode entrar em vigor em 2014.
A falta de produção interna e a dependência da exportação de itens do setor primário são algumas das causas da alta inflação que aflige a Venezuela. Dados oficiais indicam que o país importa cerca de 50% dos alimentos consumidos.
Tendo em vista inverter essa situação, o governo chavista procura aumentar a produtividade do setor agropecuário. “Dois dias atrás, abrimos uma fábrica de processamento de várias sementes, como mandioca, batata, o que não existia no país”, conta Gudiño. “A dependência das importações foi tremenda; ainda existe, mas tem caído significativamente”, aponta ele que vê grande sucesso na política do governo.