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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Eleicoes 2014: o PSB pretende socializar o Brasil, conforme o seu programa (Veja)

Até as eleições passadas, que eu me lembre, as imprensa sequer se debruçava sobre os programas partidários, e provavelmente nunca sobre o do PSB, talvez porque o PSB nunca teve candidato próprio, e agora tem.
Eu conduzo este exercício desde as primeiras eleições livres da redemocratização, e vou atualizar meus trabalhos sobre a questão.

Revista Veja, 18/01/2014

Eleições 2014
Programa do PSB prevê estatização de indústrias e fazendas e até o fim do ensino particular; parceria com grupo de Marina Silva também pode causar dor de cabeça ao presidenciável
Gabriel Castro, de Brasília

A construção de uma candidatura presidencial envolve esforços múltiplos, como a formação de alianças, a arrecadação de fundos, a montagem de palanques regionais robustos e a definição de um programa consistente de governo. Eduardo Campos (PSB) vai bem em alguns deles, mas enfrentará dificuldades em outros. O governador de Pernambuco não poderá recorrer à base ideológica do PSB se quiser apresentar um discurso modernizador. Além disso, o relacionamento com os aliados da Rede Sustentabilidade, o quase partido idealizado pela ex-senadora Marina Silva, pode causar problemas ao projeto do presidenciável, especialmente nas coligações estaduais.
Adequar o discurso à prática será uma das missões de Campos nos próximos meses. Os fundamentos teóricos do estatuto do Partido Socialista Brasileiro ainda ecoam o discurso da Guerra Fria. As ideias expostas pelo PSB em seu programa começam pela "abolição do antagonismo de classes". No Brasil dos sonhos do PSB, o Estado não apenas interviria na economia: ele assumiria as rédeas de toda a produção industrial, das exportações e da divisão das riquezas. Instituições privadas de ensino com fins lucrativos estariam com os dias contados.
O programa partidário tem entre seus pontos centrais a estatização dos "meios de produção", o que inclui indústrias e propriedades rurais. Prega a cartilha: "A socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas". No campo, os donos de grandes propriedades teriam de ceder espaço a cooperativas controladas pelo Estado. O texto cita ainda outras medidas impensáveis, como a "nacionalização do crédito e das operações de seguro" e a "exclusividade da navegação de cabotagem, inclusive fluvial, para os navios brasileiros".
Campos não pode nem afirmar que discorda das ideias do PSB: ele é o próprio presidente da legenda, que teve em seu avô, Miguel Arraes (1916-2005), um de seus principais nomes. O pré-candidato à Presidência – que fez parcerias com a iniciativa privada em sua gestão à frente do Estado – nunca se preocupou em patrocinar uma mudança programática.

Como se vê, o ideário do partido de Eduardo Campos não deve ajudar muito a divulgação do candidato que se apresenta como um bom gestor público e um político livre das amarras ideologizantes. Mas os integrantes do PSB minimizam o problema.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) diz que, mais do que no programa, o partido vai se basear no exemplo demonstrado por seus governadores, como o próprio Eduardo Campos e o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo. "Eu acho que o programa do PSB já é praticado nas nossas gestões, e são programas que mostram que nós praticamos um socialismo moderno", afirma. Delgado admite, no entanto, que alguns pontos mais radicais podem atrapalhar: "Nós temos um congresso previsto para fevereiro. Talvez nós precisemos atualizar essas linhas que não são mais imagináveis numa sociedade competitiva como a de hoje".
O incômodo é ainda maior para Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina e herdeiro de uma política que nunca esteve no campo político da esquerda. Ele admite que seu ingresso no PSB – acompanhado do pai, o ex-governador Jorge Bornhausen, que foi presidente do extinto PFL (hoje Democratas) – não ocorreu por causa da solidez programática dos socialistas: "O que me encantou foi essa possibilidade de estar ao lado do Eduardo Campos, que é um reformador, um político moderno, um homem atualizado, e uma pessoa que tem a capacidade de fazer as modificações de que o Brasil precisa", diz Paulo Bornhausen.
A dissonância entre as propostas do candidato e as ideias do partido são apenas mais um exemplo do caos em que se transformou a organização partidária no Brasil. O Partido Socialista Brasileiro teve entre seus filiados, até o ano passado, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf – potencialmente, o primeiro alvo dos socialistas caso eles chegassem ao poder central. Hoje, Skaf migrou para o PMDB para disputar o governo de São Paulo. Vanderlan Cardoso, pré-candidato do PSB ao governo de Goiás, é outro milionário que resolveu aderir à legenda. "A estrutura política do Brasil é esquizofrênica", reconhece Paulo Bornhausen.

Rede – As bandeiras do PSB também estão em desarmonia com as da Rede, o movimento político de Marina Silva. Apesar de ter um conteúdo ideológico amorfo, o grupo marinista, que migrou para o PSB depois de não conseguir o registro partidário na Justiça Eleitoral, não prega soluções tão extremistas para a economia – até porque há grandes empresários patrocinando a Rede.
Além disso, o programa do PSB não faz menção ao meio-ambiente. Na verdade, o programa utópico dos socialistas prevê a manutenção das grandes propriedades rurais (que passariam a ser geridas por cooperativas) e, ao mesmo tempo, a criação de novas áreas de plantio no entorno de cada cidade. É quarto item na categoria "reivindicações imediatas": "Libertação de uma área em torno das cidades, vilas e povoados, destinada à produção de gêneros de imediato consumo alimentar local".

A harmonização das propostas de PSB e Rede deve ser formalizada apenas depois que a chapa majoritária estiver definida. O mais provável é que Marina Silva se candidate a vice-presidente. A partir desse acerto (que pode sair em fevereiro), os candidatos devem apresentar aos eleitores sua base programática. 
Pedro Ivo, uma das lideranças nacionais da Rede, diz que as divergências ideológicas não incomodam porque a parceria tem foco em 2014: "Estamos discutindo o futuro programa da campanha de Eduardo Campos, e não o do PSB. Não há nenhuma preocupação", diz. Os integrantes do grupo de Marina Silva se fiam na garantia de que a plataforma presidencial terá a defesa do meio-ambiente como um dos pontos centrais. O acerto foi feito durante o processo de adesão da ex-senadora ao partido socialista.

De qualquer forma, quando resolveram se filiar à legenda de Eduardo Campos, Marina e seus aliados automaticamente consignaram seu apoio ao que diz o item 10 do manifesto do PSB: "O partido admite a possibilidade de realizar algumas de suas reivindicações em regime capitalista, mas afirma sua convicção de que a solução definitiva dos problemas sociais e econômicos (...) só será possível mediante a execução integral do seu programa".

Alianças – As alianças estaduais são outro obstáculo à harmonia entre os dois partidos: a Rede não aceita parcerias com o PSDB, por exemplo, e pode atrapalhar os planos do PSB em São Paulo. Lá, o partido pretendia apoiar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin, mas o grupo de Marina se opõe – porque defende o lançamento de uma candidatura própria, com o deputado Walter Feldman ou a ex-prefeita Luiza Erundina.
Já o PSB não quer trocar a coligação com o candidato favorito por um projeto aventureiro. "Marina é uma mulher idônea, com uma história de vida linda, mas a sensação que ela passa para o eleitor comum é de que tanto faz se ganha ou se perde, o que importa é a luta", diz Márcio França, presidente do PSB paulista.
A própria Marina já afirmou que, nos Estados em que o acerto não for possível, o melhor seria PSB e Rede adotarem soluções distintas: "Existirão alguns momentos em que poderemos caminhar juntos com o PSB e outros não. Somos dois partidos independentes", afirmou ela, em outubro.
Acontece que os acordos estaduais, como em São Paulo, são fundamentais para o projeto presidencial de Campos, que poderia ser favorecido pela aliança estadual com os tucanos.  A formação de um palanque frágil no maior colégio eleitoral do país poderia prejudicar o projeto presidencial. Além disso, Marina tem condicionado o lançamento de uma candidatura própria do PSB e da Rede ao governo paulista para, em troca, assumir desde já o posto de vice na chapa presidencial – o que ajudaria o projeto de Eduardo.
Os desacertos se repetem em outras partes do país. Um cenário semelhante se desenha no Maranhão: o PSB tem um acordo com Flávio Dino (PCdoB), enquanto a Rede apoia a candidatura da deputada estadual Eliziane Gama (PPS). Mais uma vez, surge o dilema entre um palanque forte para a candidatura presidencial e o lançamento de uma candidatura própria para marcar posição.
No Distrito Federal, o PSB deve lançar o senador Rodrigo Rollemberg ao governo. Mas o deputado Reguffe, filiado ao PDT e adepto da Rede, também já iniciou sua caminhada eleitoral. Ele é o preferido de Marina. Até agora, não há sinal de que alguns dos lados vai ceder. 
Campos vai ter de decidir se intervém nos diretórios estaduais ou deixa que cada unidade da federação decida como agir: "Dada as circunstâncias, acho que a definição não vai sair antes da convenção estadual, em junho", diz Márcio França.
O que o PSB pensa para o Brasil
1. Abolição das classes sociais
O programa do PSB prega o "estabelecimento de um regime socialista acarretará a abolição do antagonismo de classe". É um eco da pregação marxista pelo fim do suposto conflito entre as classes sociais – e a favor a sobrevivência apenas de uma: a dos proletários

2. Estatização dos meios de Produção
Aplicada a cartilha do Partido Socialista Brasileiro, todos os meios de produção, incluindo indústrias e fazendas, serão retirados das mãos de seus donos e estatizados. "A socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas".

3. Taxação progressiva
"Serão suprimidos os impostos indiretos e aumentados, progressivamente, os que recaiam sobre a propriedade territorial, a terra, o capital, a renda em sentido estrito e a herança, até que a satisfação das necessidades coletivas possa estar assegurada sem recurso ao imposto". Enquanto o Estado assume o controle dos meios de produção, os impostos sobre a propriedade serão elevados progressivamente. O objetivo é sufocar a livre iniciativa.

4. Comércio exterior estatal
Exportadores e importadores terão com o que se preocupar caso Eduardo Campos resolva ser fiel ao programa partidário do PSB. Nesse caso, as transações internacionais serão exclusividade do governo. Diz o programa do partido: "O comércio exterior ficará sob controle do Estado até se tornar função privativa deste". 

5. Fim da educação privada

Aplicada a cartilha socialista, as instituições de ensino com fins lucrativos estariam com os dias contados. Eis o que o PSB quer: "Plano nacional de educação que atenda à conveniência de transferir-se gradativamente o exercício desta ao Estado e de suprimir-se, progressivamente, o ensino particular de fins lucrativos".

domingo, 19 de janeiro de 2014

Cuba: uma ditadura decrepita e seus apoiadores externos - editorial Estadao

Os companheiros estão contentes com seu apoio ao processo de reformas em Cuba, que como mostra este editorial, é uma farsa. Enfim, condiz com tudo o que fazem os apoiadores.
Paulo Roberto de Almeida

A farsa da abertura em Cuba

19 de janeiro de 2014 | 2h 09

Editorial O Estado de S.Paulo
Na palavra dos gerontocratas de Cuba, acredita quem quer. A expectativa dos incautos de que a "abertura econômica" promovida por Raúl Castro pudesse sinalizar uma mudança mais ampla na ilha - digamos, ao estilo chinês - não resiste aos fatos. O último golpe de propaganda do regime foi o anúncio do fim das restrições à venda de carros. Como Cuba, além das praias, dos charutos e da ditadura, é conhecida por seus imensos carros americanos dos anos 50 - os últimos que puderam entrar no país antes da revolução de 1959 -, a medida soou como um avanço e tanto. Na prática, tudo não passou de mais um escárnio da ditadura cubana.
Quem foi a alguma das lojas de carros autorizadas pelo Estado, na esperança de, enfim, conseguir trocar seu decrépito Buick por um automóvel mais moderno, deparou-se com preços sem paralelo em nenhum lugar do mundo. Um Peugeot 508, modelo 2013, custava nada menos que US$ 262 mil - seu equivalente em lojas capitalistas não passa de US$ 30 mil. A média salarial em Cuba é de US$ 20. Logo, a venda de carros pode até estar autorizada, mas não haverá ninguém em Cuba rico ou louco o bastante para comprá-los. "O que eles pensam que estão vendendo? Aviões?", disse à revista The Economist um dos frustrados clientes. "Eles não querem vender nenhum carro. É tudo um show", reclamou outro.
A Economist especula que, na verdade, a autorização para a venda de carros é apenas uma forma de acabar com o mercado paralelo de licenças para compra de automóveis novos. Essas licenças eram concedidas pelo governo como prêmio a esportistas, artistas e destacados militantes do Partido Comunista Cubano (PCC). Em vez de comprar o carro, porém, o laureado passava adiante a preciosa autorização, faturando cerca de US$ 12 mil, segundo a última cotação. Como agora, em tese, todos podem comprar um carro, a licença não vale mais nada.
Seja como for, está claro que a economia de Cuba não passa por nenhum processo de liberalização, nem mesmo simbólica. E o discurso de Raúl Castro no 55.º aniversário da revolução, em 1.º de janeiro passado, deixou claro que a intenção é, ao contrário, reforçar os controles estatais.
Ele não fez menção senão marginal aos ajustes do modelo econômico anunciados no 6.º Congresso do PCC, em 2011, e rechaçou "tentativas de introduzir sutilmente plataformas de pensamento neoliberal e de restauração do capitalismo neocolonial" em Cuba. Em lugar disso, cobrou a adesão incondicional aos compromissos ideológicos assumidos no 6.º Congresso, a respeito dos quais, disse ele, "não se avançou o necessário". Deve-se esperar, portanto, uma radicalização ainda mais acentuada do comunismo na ilha, a despeito do fato, notório, de que foi essa radicalização que condenou Cuba à paralisia econômica depois que a fonte soviética secou.
Mas o instinto de sobrevivência dos Castros manda que Cuba alivie um pouco a carga do depauperado Estado - e essa é a razão pela qual Raúl permitiu que os cubanos abrissem pequenos negócios e pudessem vender seus imóveis, pois dessa maneira deixarão de ser funcionários públicos, que são mais de 90% da força de trabalho no país.
Também é o que explica a aposta na chamada Zona Especial de Desenvolvimento, na qual, tal como em seu similar chinês, são permitidas experiências de perfil capitalista. Nas palavras do Granma, "nessa zona serão colocadas em prática políticas especiais, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento econômico sustentável, estimulando o investimento estrangeiro e nacional, a inovação tecnológica e a concentração industrial". Essa zona engloba o Porto de Mariel - cuja construção, feita pela Odebrecht, contou com mais de US$ 600 milhões de crédito do BNDES. Como se nota, trata-se de uma boa oportunidade de negócios, tanto para investidores externos - o Brasil, em particular - quanto para a nomenklatura comunista cubana.
Já os cubanos comuns, sem condições de investir em nada que não seja a sua sobrevivência cotidiana, terão de continuar a se contentar com seus carros velhos e com os favores do Estado.

Eugenio Gudin: um liberal classico, homenageado pela ACRJ

ACRJ cria Prêmio de Jornalismo e exposição sobre a vida e obra de Eugênio Gudin

A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) vai homenagear, durante todo o ano de 2014, um dos maiores expoentes do pensamento neoliberal do país, o economista e ex-ministro da Fazenda Eugênio Gudin. Segundo o presidente da entidade, Antenor Barros Leal, a medida visa recolocar os ideais do patrono dos economistas na memória dos brasileiros. Da série de homenagens que ocorrerão, dois eventos já estão confirmados. Os lançamentos, no segundo semestre, do Prêmio Visconde de Mauá de Jornalismo Eugênio Gudin, que concederá viagens internacionais aos dois primeiros colocados, e de uma exposição sobre sua vida e obra. Ainda de acordo com Barros Leal, o economista e ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC, Gustavo Franco, será o responsável por uma comissão julgadora que vai escolher os dois vencedores do prêmio e que organizará a mostra. No último dia 27 de novembro, Barros Leal e Gustavo Franco se reuniram na Casa de Mauá para discutirem sobre o assunto.
Gudin sempre afirmou que a inflação era o mais cruel dos impostos e que ocasionava uma tragédia distributiva
“Não podemos deixar que a grande obra de Eugênio Gudin, um dos primeiros homens a discutiu a realidade econômica brasileira, caia em esquecimento. Em 2014 nós examinaremos profundamente sua obra e faremos seminários para divulgá-la. Até porque ele tem uma ligação conosco muita boa. Foi sócio honorário da Casa por quinze anos, desde abril de 1971”, lembrou Barros Leal.
Nascido em 12 de julho de 1886 no Rio de Janeiro, Eugênio Gudin formou-se em Engenharia Civil e, ao longo de 100 anos de vida, trabalhou por muito tempo em empresas estrangeiras. No cenário econômico nacional, teve atuação, em 1944, como delegado brasileiro na Conferência Monetária Internacional, realizada em Bretton Woods (EUA), que decidiu pela criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); governador brasileiro junto ao FMI e BIRD de 1951 a 1956 e Ministro da Fazenda no governo Café Filho, entre 1954 e 1955. Discutiu de forma qualificada os principais problemas econômicos brasileiros e procurou adaptar a teoria desenvolvimentista dos países de primeiro mundo à realidade dos subdesenvolvidos.
Segundo o economista e presidente do Conselho de Governança do Instituto Millenium, Gustavo Franco, Gudin esteve à frente do seu tempo ao combater durante toda a vida a ideia de que a inflação era funcional, necessária ou mesmo inevitável para o desenvolvimento econômico. O ex-presidente do Banco Central afirmou ainda que os ideais de educação em conexão com a nossa competitividade, sustentabilidade das contas públicas, responsabilidade fiscal e moeda sadia tiveram origem ilustre nesse grande homem.
“Gudin sempre afirmou que a inflação era o mais cruel dos impostos e que ocasionava uma tragédia distributiva. Acreditava ser essencial que homens treinados e educados enfrentassem o desafio da concorrência com vistas a procurar a inovação e a competitividade. Era esse o coração do processo de desenvolvimento autossustentado que deveria ser baseado em incentivos corretos e na iniciativa privada, e não em proteção tarifária e outros artificialismos”, avaliou.
O ex-presidente do Banco Central afirmou que refazer a trajetória intelectual de Eugênio Gudin, um dos mais destacados pioneiros do ensino e pesquisa em economia no Brasil, é uma tarefa empolgante. Ele comemorou ainda o bom relacionamento entre a Associação Comercial do Rio de Janeiro e o Instituto Millenium.
“Como presidente do Conselho do Instituto Millenium, instituição comprometida com os valores próprios da economia de mercado, a liberdade e a democracia, não poderia estar mais entusiasmado com essa homenagem e com as possibilidades de colaboração com a ACRJ que se abrem para o Millenium. Oxalá possamos iniciar um ciclo de reflexões sobre o futuro do país à luz das ideias ainda muito atuais do professor Eugenio Gudin”, concluiu.
Fonte: Associação Comercial do Rio de Janeiro


Brasil e Cuba: uma relacao de mae para filho? Pior: de doacaomilionaria para um caloteiro reincidente (Veja)

Grato, uma vez mais, ao amigo Orlado Tambosi, que assina a pequena introdução a esta matéria de Veja, de 11/01/2014.
Paulo Roberto de Almeida 
Governo petista gasta mais em porto cubano do que nos portos brasileiros
Os portos brasileiros estão em péssimas condições, mas o governo nada faz. Prefere investir no Porto de Mariel, em Cuba, que será inaugurado no final do mês por Dilma e os tiranos Castro. O porto cubano terá capacidade 30 por cento superior à do Porto de Suape, o principal do nordeste. O descalabro, como diz a reportagem de Veja, é obra de Lula. Sim, o falastrão de São Bernardo, o delator "Barba", envolveu o BNDES na operação para ajudar a ditadura castrista. O contribuinte, esfolado pela soviética Receita Federal, não reaverá um centavo dos  milhões investidos na construção do porto. E nem saberá do conteúdo do contrato, já que Dilma o transformou em "sigiloso" (até 2027). Esse é o jeito petista de governar:

Uma potência agrícola com portos tão inadequados é uma Ferrari com um reles motor 1.0. A exuberância fica empacada. É o caso do Brasil. 0 principal porto brasileiro, o de Santos, está assoreado e isso impede que os cargueiros de última geração, que exigem profundidades superiores a 14 metros, atraquem no terminal. As obras de dragagem ali avançam, mas em ritmo cubano. Opa! Quem nos dera! Em Cuba, com dinheiro do povo brasileiro, as obras de infraestrutura progridem velozmente.
Em 2014, o Brasil vai perder 22% da riqueza gerada pela maior safra de soja da história, de 55 milhões de toneladas. A causa disso são os gargalos da infraestrutura portuária brasileira e da perda de carga em acidentes de caminhões nas péssimas estradas. Isso significa que o governo brasileiro dedicou a essa questão a prioridade máxima, investindo o máximo possível na melhoria das estradas e dos portos brasileiros? Não. Apenas 7% dos 218 milhões de dólares previstos para ser investidos nos terminais brasileiros em 2013, ou 15,5 milhões de dólares, foram aplicados. O maior investimento brasileiro em portos nos últimos anos foi feito onde? Em Cuba.
No fim de janeiro, a presidente Dilma Rousseff vai à ilha dos irmãos Castro inaugurar o Porto de Mariel. O governo brasileiro investiu 682 milhões de dólares nos últimos três anos na construção de um terminal em Cuba, onde a ditadura de Fidel e Raul Castro, perdoem a repetição, vive sua fase terminal. O Porto de Mariel terá capacidade 30% superior à do Porto de Suape, o principal do Nordeste brasileiro. O descalabro é obra de Lula. Foi no governo dele, em 2008, que o BNDES decidiu financiar 71% do orçamento da construção do porto. Para entendermos o senso de prioridade do governo do PT, o BNDES emprestou aos cubanos três vezes mais do que destinou a melhorias e ampliações no Porto de Suape desde a sua inauguração, em 1983. Cuba não pode esperar. O Brasil pode.
Acrescente-se aos dados acima o fato de que o negócio com a ditadura cubana transcorreu sob segredo de Estado. Em junho de 2012, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, classificou o conteúdo do contrato como "secreto", com validade até 2027. A justificativa foi proteger "informações estratégicas". Acabava de entrar em vigor a Lei de Acesso à Informação quando Pimentel decidiu classificar o negócio com os cubanos como secreto.
O BNDES financia obras de infraestrutura em quinze países, mas apenas três contratos — dois com Cuba e um com Angola — são considerados secretos. Um documento arquivado na biblioteca do Senado antes da blindagem feita por Pimentel e o relato de um funcionário público familiarizado com as negociações em torno do empréstimo para o Porto de Mariel dão uma pista do tipo de informação que o governo tenta esconder. A única garantia exigida pelo empréstimo foi a abertura de uma conta em uma agência do Banco do Brasil nos Estados Unidos na qual Cuba se compromete a manter um saldo equivalente a três parcelas do pagamento da dívida com o Brasil, cujo desembolso começará apenas em 2017. Em caso de atraso no pagamento, o Brasil, teoricamente, poderia sacar os valores da conta de Havana no BB. Teoricamente, pois os termos do contrato secreto são desconhecidos e podem conter cláusulas ainda mais favoráveis aos ditadores de Cuba. Por exemplo, o valor das três parcelas pode ser irrisório.
A promessa dos cubanos é depositar na agência do BB nos Estados Unidos parte da receita de suas exportações de açúcar. Como Cuba produz hoje menos açúcar do que há 55 anos, quando os Castro substituíram a ditadura de Fulgencio Batista pela deles, não há nenhuma garantia. Havana pode simplesmente deixar de depositar o dinheiro. O porto estará prontinho. E estará dado o calote — aliás, recorrente nos negócios com Cuba. Nem ao falecido Hugo Chávez o Brasil ofereceu tanta facilidade. Uma das razões para não ter vingado a participação da petroleira PDVSA na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi o fato de o BNDES ter exigido que o venezuelano buscasse junto a bancos privados as garantias necessárias para a liberação do crédito. Chávez queria a mesma mamata dada pelo PT aos cubanos. Ofereceu dar como garantia uma conta a ser abastecida com as divisas geradas pelas exportações de petróleo. Não funcionou.
"Cuba é conhecida pelos calotes. Os contribuintes brasileiros podem considerar esse dinheiro como uma doação de seu governo para a manutenção de uma ditadura", diz José Azel, professor do Instituto de Estudos Cubano-Americanos da Universidade de Miami. Em 2004, o governo do México recorreu à Justiça italiana para embargar 40 milhões de dólares de uma conta da empresa de telefonia de Cuba, na tentativa de reaver parte de um empréstimo de 500 milhões de dólares. Em novembro passado, o México acabou perdoando 70% da dívida e parcelou o saldo de 150 milhões de dólares em dez anos. O mesmo foi feito pelo Japão, que abriu mão de 80% de uma divida de 1,4 bilhão de dólares.
Cuba já pleiteia um novo empréstimo do Brasil. Desta vez para construir uma zona industrial ao redor do Porto de Mariel. Em novembro passado, Rodrigo Malmierca, ministro do Comércio Exterior cubano, esteve no Brasil para convencer empresas brasileiras a se instalarem na ilha. Malmierca prometeu isenção fiscal e o fim do confisco de metade do salário pago aos trabalhadores — um dos itens da legislação escravocrata implantada pelos comunistas. Nenhuma empresa brasileira topou. Vai ver, Malmierca já acertou tudo em segredo com o governo brasileiro.

Politica economica: de mal a pior, e sem perspectivas de melhora - Rolf Kuntz

Sem muitas opções, que tal uma política séria?

18 de janeiro de 2014 | 2h 05

ROLF, KUNTZ - O Estado de S.Paulo
Baixo crescimento é a sina do Brasil neste ano e nos próximos, segundo todas as previsões conhecidas até agora, e ninguém deve atirar pedras no Banco Central (BC) por causa disso. A alta do juro básico para 10,5%, anunciada na quarta-feira, foi uma resposta quase inevitável ao estouro da inflação em 2013. Mais que isso poderia ser considerado uma reação excessiva, neste momento. Menos que isso poderia ser visto como desleixo ou timidez. As projeções de crescimento formuladas antes da elevação do juro ficaram entre 2,4% e 1,8%. A primeira foi publicada pelo Banco Mundial em seu novo relatório sobre as perspectivas globais para 2014. A segunda foi apresentada no último boletim de macroeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Se os economistas do banco estiverem certos, o produto interno bruto (PIB) do Brasil avançará neste ano menos que os do mercado global (3,2%) e dos países em desenvolvimento (5,3%). Até os Estados Unidos, ainda em convalescença da crise, terão desempenho melhor que o brasileiro, com expansão de 2,8%.
Mesmo com juros bem menores que os de anos anteriores, a economia do Brasil teve em 2013 um desempenho abaixo de pífio. Os últimos números conhecidos confirmam os desarranjos: consumo em alta, indústria estagnada, preços em disparada e contas externas em deterioração.
Quem se contentar com uma pequena parte do quadro poderá até festejar. O comércio varejista vendeu em novembro 0,7% mais que em outubro e 7% mais que um ano antes. O crescimento das vendas em 12 meses chegou a 4,4%. O comércio "ampliado", isto é, com a inclusão de veículos, peças e material de construção, avançou 3,8% em 12 meses. O cenário seria muito bom se houvesse correspondência do lado da produção, mas pouco se fez, durante muitos anos, para garantir esse equilíbrio.
Como a indústria continua derrapando, o ajuste entre oferta e demanda fica na dependência dos bens importados e, como complemento, da alta de preços, porque nem todo descompasso é compensado pela importação. A agropecuária foi bem, mas a indústria geral produziu em novembro 0,2% menos que em outubro e apenas 0,4% mais que um ano antes. Em 12 meses o crescimento ficou em 1,1%. De janeiro a dezembro o avanço deve ter sido insuficiente para compensar o recuo de 2,6% observado em 2012.
A inflação de 5,91% e a corrosão do saldo comercial combinam com o desajuste entre consumo e produção industrial. O déficit de US$ 105 bilhões estimado para o comércio de manufaturados cabe nesse conjunto, mas o buraco seria um pouco maior - US$ 112,74 bilhões - sem os US$ 7,74 bilhões da exportação fictícia de plataformas para exploração de petróleo e gás.
O crescimento do consumo privado, retratado no bom desempenho do varejo, tem sido sustentado pelo crédito, pelo alto nível de emprego e pela expansão da massa de rendimentos. Os indicadores de emprego e consumo têm sido mostrados pelo governo como provas do acerto de sua política. Mais empregos e mais dinheiro para consumir são boas notícias, mas é preciso saber se esses avanços serão sustentáveis.
Depois da redução de 5% em 2009, no pior momento da crise, os dirigentes da indústria contrataram e tentaram manter o nível de emprego. Tiveram pelo menos dois motivos muito especiais para isso. Demitir custa caro, no Brasil. Além disso, havia esperança de uma retomada do crescimento. Seria perigoso diminuir os quadros, por causa da escassez de mão de obra qualificada e até qualificável. A maior parte das empresas tem apontado esses problemas há alguns anos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Mas o esforço de manutenção dos quadros começou a fraquejar em 2012, quando a produção despencou. Houve em seguida uma tentativa de reação, mas nos 12 meses até novembro de 2013 o pessoal assalariado na indústria diminuiu 1,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A manutenção do emprego urbano tem dependido principalmente do setor de serviços, com a oferta de ocupações de baixa produtividade e com exigências muito limitadas de qualificação. Ainda assim, a massa de rendimentos continuou a crescer. O consumo foi sustentado pela combinação de salários, de financiamentos de fácil acesso - restrições ao crédito são muito recentes - e de estímulos por meio da redução temporária de tributos.
Os estímulos fiscais beneficiaram as vendas de alguns setores, como o automobilístico e o de equipamento doméstico, mas a maior parte da indústria continuou em marcha lenta. A produção nacional foi afetada pelos custos crescentes - incluídos os salariais - e continuou travada por um conjunto bem conhecido de problemas (tributação irracional, logística deficiente, alto custo do investimento e assim por diante). A perda de mais espaço para os concorrentes estrangeiros foi um resultado facilmente previsível.
Com as contas fiscais já em mau estado, a credibilidade reduzida e inflação em alta, o governo terá pouco espaço para insistir nas manobras dos últimos anos. As prévias da inflação continuam a mostrar aceleração dos aumentos. Nas quatro semanas até o dia 15, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela FGV, avançou 0,85%. Havia aumentado 0,73% na quadrissemana anterior. O impulso crescente vem sendo observado a cada apuração. Dificilmente o BC poderá dar como encerrada a alta do juro.
Um choque de seriedade poderá, no entanto, estimular o investimento do setor produtivo e ainda atrair capitais de fora. Já se investiu mais, neste país, em períodos de juros mais altos, mas também de maior confiança na política e no futuro da economia. Com poucas de alternativa, a seriedade talvez se torne uma solução atraente para o governo.
JORNALISTA

Pensamento Diplomatico Brasileiro: Introducao Metodologica e capitulo sobre Oswaldo Aranha - Paulo Roberto de Almeida

Atualizei as fichas relativas a dois dos capítulos de um livro, com trabalhos meus, ambos disponíveis no site Academia.edu, sob o meu nome, ou no próprio site da Funag, onde figuram os três volumes, em arquivo zipado, ou epub, como informado abaixo:

2503. “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, Hartford, 27 Julho 2013, 19 p. Texto de introdução geral para a publicação do livro objeto do projeto “Pensamento Diplomático Brasileiro”, da Funag. Revisão ampliada em 5/08/2013 e final em 14/10/2013. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38; Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub.. Relação de Publicados n. 1109.

2502. “Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco”, Hartford, 25 Julho 2013, 29 p. Nova versão, consideravelmente ampliada, do trabalho 2467, com pesquisa original e redação pessoal, para o projeto “Pensamento Diplomático Brasileiro” da Funag. Revisto em 2 de agosto de 2013. Enviado. Revisto novamente em 13/08/2013, para complementar bibliografia. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 3, p. 667-711; Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub. Relação de Publicados n. 1110.




Taxa sobre transacoes financeiras: um mau imposto, para uma pessima utilizacao, que piora a economia e a vida dos brasileiros - Marcos Cintra

Tive a oportunidade de discutir muito com Marcos Cintra, em meados da década passada (aliás desde os anos 1990), sobre o tal imposto único, que ele pretendia criar, ou seja, uma taxa sobre TODAS as transações financeiras, mas substituindo TODOS os impostos federais.
Cheguei, durante breve tempo, a ser "convencido" de que poderia ser uma boa coisa, e como tal defendi a ideia num dos meus artigos, incluído no livro "A Grande Mudança", não porque eu estivesse realmente convencido de que a ideia era economicamente saudável, mas apenas porque seria uma maneira de diminuir -- talvez não a carga tributária total, que poderia permanecer a mesma, ou até aumentar, pois existem muitas transações monetárias que passam pelos bancos mas que escapam da rede fiscal nazista em que estamos todos inseridos -- as complicações burocráticas que enfrentam todos os empresários não apenas por pagar uma carga absurda de impostos, mas também por estarem inseridos numa selva de regulamentos e de declarações que fazem disso um inferno ainda maior do que o "simples" valor entregue a esse ogro famélico que é o Estado brasileiro.
Pois bem, todos sabemos que essa taxa sobre transações financeiras é especialmente maléfica para o sistema produtivo, pois grava toda a cadeia produtiva em cascata e cumulativamente, ou seja, aumentando o preço final do bem ou serviço oferecido no mercado.
Cheguei inclusive a discutir com Marcos Cintra sobre maneiras de desgravação, ou seja, que os pagamentos anteriores fossem deduzidos das escalas posteriores, para tornar menos oneroso esse tipo de imposto sobre a produção; imaginei uma matriz de insumo-produto no qual uma cadeia produtiva teria descontos sobre etapas produtivas anteriores que já tivessem recolhido o imposto quando da transferência do insumo intermediário para a etapa seguinte, mas reconheço que seria complicado, pois necessitaria supercomputadores orwellianos para recolher toda a informação sobre milhares, milhões de produtos circulando na economia.
Ou seja, e resumindo, o tal imposto -- CPMF ou outro nome -- poderia ser suportável se substituísse vários outros e sobretudo diminuísse toda a burocracia declaratória -- já que ele não requer absolutamente nenhuma ação de nenhum produtor ou consumidor, tudo se passando na esfera bancária -- mas ainda assim eu estava preocupado com os seus efeitos em cadeia.
Pois bem, agora petistas, que sempre foram economistas aloprados e sócios do ogro famélico estatal, querem novamente instituir a CPMF, com outro nome, supostamente para financiar gastos com saúde.
Devemos impedir isso: primeiro porque o dinheiro não iria para a saúde, e sim para gastos ainda maiores do governo; segundo porque, mesmo que fosse, seria um péssimo sinal para o sistema de saúde, dispondo sempre de maiores recursos, sem precisar ter ganhos de eficiência e de produtividade. Péssimo em todos os sentidos, porque simplesmente levaria a carga tributária brasileira, já próxima de 40%, para níveis ainda mais elevados.
Vamos obstar essa ideia maluca, sabotar essa sede de impostos dos estatizantes incuráveis.
Paulo Roberto de Almeida

PT e a nova CPMF
Marcos Cintra*
16/01/2014 15:58

Mesmo sendo um tributo operacionalmente justo e eficiente, a criação da CSS aumenta a carga tributária e permite a continuidade do esfolamento do contribuinte brasileiro. Pesando os argumentos a favor e contra, os parlamentares petistas deveriam abortar a proposta de implantação do novo tributo...
Cerca de vinte deputados do PT querem recriar a CPMF para financiar a área da saúde. O novo tributo, agora chamado de CSS (Contribuição Social para a Saúde), teria uma alíquota de 0,15% sobre o débito das movimentações financeiras, o que garantiria uma receita de cerca de R$ 30 bilhões por ano.
O governo tentou trazer a CPMF de volta em 2011 e não conseguiu. Agora a iniciativa parte de um grupo de parlamentares petistas, cuja estratégia é sedimentar a ideia em 2014 para que o debate ganhe força no Congresso a partir de 2015.
Cumpre dizer que a cobrança da CPMF por cerca de onze anos no Brasil teve um lado positivo ao testar a eficácia de um imposto sobre movimentação financeira, que era então totalmente desconhecido. A experiência entre 1997 e 2007 comprovou que esse tipo de imposto é uma forma eficiente de arrecadação, com enorme potencial de geração de receita e de baixo custo. É um tributo justo, pois elimina a sonegação, fenômeno concentrador de renda nas camadas mais ricas da população.
Cabe lembrar que a CPMF foi repudiada como um tributo a mais a elevar a carga tributária brasileira. Porém, ela seria aceita pela sociedade se fosse instituída como substituta de outros tributos. Levantamento realizado em 2007 pela empresa Cepac-Pesquisa & Comunicação revela que 64% das pessoas a aceitariam se ela substituísse a contribuição ao INSS incidente sobre a folha de pagamento das empresas.
Mesmo sendo um tributo operacionalmente justo e eficiente, a criação da CSS aumenta a carga tributária e permite a continuidade do esfolamento do contribuinte brasileiro. Pesando os argumentos a favor e contra, os parlamentares petistas deveriam abortar a proposta de implantação do novo tributo.
Em primeiro lugar, a CSS deve ser rejeitada porque ela não substitui nenhum dos atuais impostos, que são escorchantes, injustos, distorcivos e ineficientes. Será apenas mais um tributo que irá contribuir para aumentar o arrocho tributário sobre o setor produtivo e a classe média. Além disso, vale lembrar que quando a CPMF foi extinta o governo compensou essa perda aumentando a alíquota do IOF, cuja arrecadação saltou de R$ 5 bilhões em 2007 para R$ 20 bilhões no ano seguinte.
Outro ponto é que o governo precisa fazer uma ampla e radical reforma tributária, e qualquer remendo, por mais necessário que seja, apenas dará mais fôlego para a manutenção da atual estrutura disfuncional. É preciso coragem para desmontar o atual modelo. Dar-lhe continuidade, através de um tributo que será meramente um arremedo para arrecadar mais, serve para manter o sofrimento do contribuinte.
Por fim, manter o atual sistema apoiado em mais um tributo agravará distorções sociais que uma reforma tributária deveria corrigir. Uma das forças concentradoras de renda no Brasil encontra-se na estrutura de impostos, regressiva e vulnerável à evasão. Os ricos encontram brechas para sonegar impostos e a classe média é penalizada de forma compensatória pagando mais tributos sobre os salários e sobre o consumo.
O bom senso indica que a CSS deve ser rejeitada. Louvável seria se esses deputados se articulassem por uma reforma tributária que recriasse a CPMF para substituir tributos como, por exemplo, o INSS patronal, a Cofins e o ICMS.
Seria um ato em sintonia com as necessidades do país.
* Marcos Cintra - É doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
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