O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Cuba-Coreia do Norte: dois regimes companheiros (e amigos doscompanheiros) - Mac Margolis

Sem comentários, pois do contrário seria cáustico para certa diplomacia..
Paulo Roberto de Almeida 

 Conexão Havana-Pyongyang

Coluna / Mac Margolis


São 12,5 mil quilômetros de Cuba à Coreia do Norte, mas as afinidades encurtam as distâncias. Regidos por dinastias em vias de extinção, os dois países também têm em comum um pacto natural de Estados párias. Foi assim em julho de 2013, quando o regime de Raúl Castro resolveu ajudar os irmãos norte-coreanos com um navio carregado de surpresas. No manifesto do cargueiro Chong Chon Gang constava apenas açúcar. Quando os fiscais no Canal do Panamá foram checar, acharam bem mais.
Debaixo de mais de 200 mil sacos de açúcar refinado cubano havia não drogas, como imaginavam, mas um arsenal para alegrar qualquer ditador: dois caças MiG desmontados, 15 motores de avião, nove mísseis e duas plataformas antiaéreas completas.
Os panamenhos apreenderam o navio, prenderam a tripulação e reportaram o contrabando à ONU, que desde 2006 veta o envio de armamentos pesados ao regime norte-coreano, que nutre sonhos nucleares. Foi o início de uma tortuosa dança diplomática, ao estilo de Pyongyang e à moda bolivariana.
Na semana passada, Cingapura apresentou queixa-crime contra uma companhia de navegação local que teria bancado a operação com um operador panamenho. Todos aguardam a decisão do Conselho de Segurança da ONU, que recebeu um relatório detalhado sobre o caso, mas ainda não determinou sanções aos dois países.
Se depender da complexa tradição da corporação, onde China e Rússia, aliadas de conveniência de Pyongyang, têm poder de veto, o resultado da maior apreensão de armas ilegais enviadas para uma das piores tiranias do planeta pode acabar em pizza habanera.
Desde cedo, vários países latino-americanos trabalharam para garantir exatamente isso. São os aliados do falecido líder venezuelano Hugo Chávez, que ergueram uma cerca companheira. Acusaram o Panamá, nação “lambe botas” dos gringos, de ingerência em assuntos entre duas nações soberanas, Cuba e Coreia do Norte.
Se não fosse criminosa, a versão seria risível. Em primeiro lugar, os cubanos jamais admitiram enviar armas, apenas açúcar. Flagrados, disseram que o material era obsoleto e se destinava à manutenção na Coreia do Norte, para depois ser devolvido. Portanto, ele estaria isento do boicote da ONU.
Balela. Segundo o comandante Belsio González, diretor do Serviço Aeronaval do Panamá, os caças russos, assim como os motores, estavam em "excelente" estado. O Panamá libertou parte da tripulação do Chong Chon Gang sob fiança de US$ 700 mil, mas ainda mantém detidos três oficiais do navio. No seu relatório anual, um painel de especialistas da ONU concluiu que é a diplomacia norte-coreana que articula envios clandestinos de armas para Pyongyang por meio de complexos artifícios financeiros. A conexão com Havana faz parte do embuste.
A ditadura asiática encobriu o rastro da operação desastrosa. Trocou seu embaixador em Havana e abafou a história. Na bizantina política norte-coreana, o diplomata era ligado ao poderoso Jang Song-thaek, inimigo mortal do novo líder supremo, Kim Jong-un. Especula-se se que ambos, Jang e o ex-embaixador, tenham sido executados.
Chama a atenção que a desventura do Chong Chon Gang começou no Porto de Mariel, cuja reforma o governo brasileiro banca para consolidar laços companheiros e dinamizar o comércio do país amigo. Ao que parece, de olhos bem fechados.

Lula e o seu vocabulario de politica externa: Eduardo Scolese e Leonencio Nossa (via Augusto Nunes)

O mundo e o Brasil foram desagradavelmente surpreendidos pelas grosserias desfechadas contra aquela que dirige o país por ocasião da abertura da Copa, em 12 de junho. De fato, xingamentos não são o melhor argumento para expressar o desagrado com alguma coisa.
Mas em matéria de ofensas, o presidente anterior era campeão, como demonstra este trecho de coluna do jornalista Augusto Nunes, transcrito do blog de Orlando Tambosi.
Esses palavrões já tinham sido tornado públicos quanda da publicação do livro, em 2005. Talvez expliquem um pouco da má vontade dos vizinhos para com o Brasil. Aliás, em matéria de palavrões, parece que eles continuam a enfeitar abundantemente o linguajar do Palácio do Planalto nos dias que correm.
Ou seja, os exemplos vêm de cima.
Como querem então?
Paulo Roberto de Almeida 

Nunca antes na política externa brasileira: ofensas em Profusão (Lula)
No ótimo Viagens com o Presidente, os jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa relatam episódios que testemunharam e histórias que colheram durante os quatro anos em que, a serviço da Folha e do Estadão, seguiram os passos do chefe de governo. Confira quatro momentos. Diferentemente do livro, que expõe com crueza o estilo do grosseirão sem cura, asteriscos fazem o papel de vogais e consoantes nos palavrões cuja publicação é vetada pelas normas do site de VEJA:

VIZINHOS NA MIRA
O fato se dá em Tóquio, no Japão, no final de maio de 2005. Uma dose caprichada de uísque com gelo e, antes mesmo do inicio do jantar, Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado:
— Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a p*** que o pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos. — A verdade é que nós temos que ter saco para aturar a Argentina. E o Jorge Battle, do Uruguai? Aquele lá não é uruguaio po*** nenhuma. Foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos. O Chile é uma m****. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se fo** por aqui. Eles estão cag***do para nós. (págs 270 e 271)

EXAME DE PRÓSTATA
Numa audiência com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, na época em que o governo começa a discutir a transposição de parte das águas do Francisco, o Presidente ouve opiniões contrárias dela e dos técnicos:
— Marina, essa coisa de Meio Ambiente é igual a um exame de próstata. Não dá para ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no ** da gente. Companheira, se é para enfiar, é melhor enfiar logo. (Pág 71).

MARCO AURÉLIO GARCIA
Antes de uma cerimônia no palácio, Lula se aproxima do assessor para assuntos internacionais, o professor Marco Aurélio Garcia, e diz:
— Marco Aurélio, eu já mandei você tomar no ** hoje?
O professor sorri. (Pág. 71).

ORADOR EXIGENTE
Na suíte do hotel, recebe das mãos de assessores discurso sobre combate mundial à fome. Diante do ministro Celso Amorim e dos auxiliares do Planalto e do Itamaraty, folheia rapidamente a papelada e arremessa a metros de distância:
— Enfiem no ** esse discurso, c****ho. Não é isso que eu quero, po***. Eu não vou ler essa m****. Vai todo mundo tomar no** Mudem isso, rápido. (Pág. 249). 

Esses exemplos bastam para exibir a nudez do reizinho. Inquieto com as rachaduras no poste que instalou no Planalto, o presidente honorário do grande clube dos cafajestes tenta impedir o desabamento fantasiado de doutor honoris causa em boas maneiras. Haja cinismo.

Eleicoes 2014: loiros ricos, de olhos azuis, se espalham perigosamente pelo Brasil inteiro...

Esse pessoal capaz de pagar 900 reais por um bilhete de jogo da Copa existe no Brasil inteiro.
Burgueses ricos, aliados da mídia golpista, servindo aos interesses das elites, totalmente submissos ao imperialismo, estão se infiltrando até em audiências populares, em plateias de operários, em grupos de estudantes, toda essa gente que normalmente deveria estar encantada e agradecida ao grande partido totalitário que nos governa...
Pessoal traidor...
Paulo Roberto de Almeida


A presidente Dilma Rousseff foi vaiada neste sábado (3), na abertura oficial da 80ª edição da Expozebu
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/05/1449037-dilma-e-vaiada-em-mg-no-1-evento-apos-pt-reafirmar-sua-candidatura.shtml

Dilma é vaiada na abertura da Copa das Confederações
http://www.epochtimes.com.br/dilma-e-vaiada-na-abertura-da-copa-das-confederacoes/

Dilma Rousseff é vaiada em evento do Minha Casa Minha Vida, em Tocantins.
http://coturnonoturno.blogspot.com.br/2014/03/dilma-e-vaiada-e-bate-boca-com.html

Dilma sendo vaiada em seu pronunciamento nacional
https://www.youtube.com/watch?v=aV2h0Ghxvvo

Dilma é vaiada por estudantes em Natal Rio Grande do Norte
https://www.youtube.com/watch?v=lJEOvjv6JK4

Dilma é vaiada na posse do presidente do Paraguai. 
https://www.youtube.com/watch?v=_Q4y_i22s7E

POVO DESABAFA SOBRE DILMA NO SHOW DO RAPPA
https://www.youtube.com/watch?v=ajPrJe3_9Gg

Dilma é vaiada ao falar 'portador de deficiência' durante a 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília.
http://www.josemararaujo.com/not/not89.html

Dilma é vaiada por operários no Rio de Janeiro 
https://www.youtube.com/watch?v=HaXUUEF_6TE

domingo, 15 de junho de 2014

Venezuela: operar com dolares continua sendo ilegal, mas a prostituicao faz a ponte...

Vejam este video, no site da Bloomberg News: uma trabalhadora do sexo (como figura na classificação companheira), cujo trabalho é legal naquele país do socialismo de algum século indefinido, geralmente pede 60 dólares a hora por seus serviços não muito especializados.
No câmbio negro, que é ilegal, esse valor equivale a um mês inteiro de salário mínimo.
Elas se tornaram cambistas involuntárias.
Assim são as coisas no país aliado dos companheiros e membro pleno do Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida 

Watch this video at http://bloom.bg/1leXJfQ

Venezuelan Prostitutes Turn Currency Tricks

Prostitution is legal in Venezuela but currency trading by individuals isn't. None of this would matter if the economy in Venezuela wasn't in such a mess.

America Latina segue em dois ritmos, o do Pacifico e o do Atlantico - El Pais

El País, 14/06/2014

A década de ouro dos preços altos das matérias-primas e a entrada de dinheiro a cântaros na América Latina chega ao fim, e com isso se aprofunda a distância entre os países da costa do Pacífico, mais dinâmicos e abertos, e os do Atlântico, mais protecionistas e burocráticos. Se durante os primeiros anos do novo milênio —o período mais influente do chavismo— a região esteve dividida em termos políticos entre Governos conservadores e de esquerda, agora a ruptura é predominantemente comercial em dois grandes blocos: a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela).
Os relatórios mais recentes sobre perspectivas econômicas mundiais, começando pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ou pelo Instituto para as Finanças Internacionais (IIF), de Washington, dão conta de que o futuro em curto e médio prazo da Aliança do Pacífico é mais promissor do que o do Mercosul. O primeiro bloco crescerá este ano entre 3% e 4%; enquanto isso, Brasil, Argentina e Venezuela, as economias que representam 98% do produto interno bruto (PIB) do segundo bloco, crescerão apenas entre 0,6% e 1%. Uruguai e Paraguai têm previsões melhores de crescimento do que seus parceiros, mas suas economias são muito pequenas.
“Em curto e médio prazo, acredito que a vantagem da Aliança do Pacífico sobre o Mercosul tende a se ampliar”, acredita Ramón Aracena, economista-chefe do Instituto para as Finanças Internacionais (IIF), de Washington. “A Aliança está demonstrando ser mais resistente às crises, reflete um compromisso forte com o modelo de livre mercado que adotou e, acima de tudo, goza de um intangível que é a credibilidade. O Mercosul pode mudar em certo tempo e se abrir mais aos mercados internacionais, mas está bem atrasado... A Aliança nasce de interesses pragmáticos, de baixo para cima, impulsionada pela comunidade empresarial dos países membros, não de cima para baixo, como um projeto político. E essa origem é chave para seu desenvolvimento e seu futuro como bloco comercial”, acrescenta o economista chileno.
A Aliança do Pacífico cresce mais depressa, mas o Mercosul tem gastos sociais maiores
Muitas coisas separam um bloco do outro. A Aliança do Pacífico, criada em 2011, apostou na economia de mercado e nos acordos de livre comércio com os EUA, Europa e Ásia. Conta, além disso, com uma confiança maior dos investidores internacionais e dos organismos de crédito, e seus governantes têm uma tendência menor a cair na demagogia.
Ao contrário, as três grandes economias do Mercosul —fundado em 1991— são mais intervencionistas e são percebidas como menos amigáveis com o livre comércio e os investimentos estrangeiros. Os Governos populistas da Argentina e Venezuela, além disso, têm problemas para controlar a inflação e para conseguir financiamento externo. Em relação ao investimento social, os países do Mercosul superam os da Aliança do Pacífico. Mas ainda que a imensa ajuda pública tenha permitido a muita gente sair da pobreza extrema, os desembolsos não representaram uma verdadeira revolução no desequilíbrio da renda e na desigualdade de oportunidades — flagelos aos quais nenhum país da região escapa.
O Brasil, maior economia latino-americana, sofreu duas revisões da queda de sua solvência financeira por parte das agências Moody’s e e Standard and Poor’s desde o ano passado. Apesar de o país ser o que provavelmente vai registrar o maior crescimento do bloco Atlântico este ano (entre 1,8% e 1,5%, conforme análise do FMI ou do Banco Mundial), o índice continuará sendo menor do que o do México (entre 2,3% e 3%), o menos significativo do bloco do Pacífico. A onda de protestos com epicentro em São Paulo de um ano atrás e as que sacodem o país em função da Copa do Mundo de futebol semearam inquietude entre os investidores internacionais sobre o futuro brasileiro, apesar de o país continuar sendo o principal alvo de investimento estrangeiro direto na região.
A inflação no país subiu mais do que o previsto, principalmente por problemas na rede de abastecimento derivada do déficit energético, o que reduziu o poder aquisitivo da classe média, que cresceu durante os anos de forte expansão (2005-2010). O país ocupa o 116 lugar do total de 189 países do relatório Doing Business 2014, do Banco Mundial. Demora-se 107,5 dias para abrir uma empresa, diante da média de 36,1 dias do resto da região. Depois de abertas, as empresas têm de investir cerca de 2.600 horas por ano em questões fiscais, em relação a 369 horas em média na região.
O modelo de fomento da demanda interna pelos gastos sociais e o investimento dão sinal de esgotamento
Na imprensa geral e nas publicações especializadas do Brasil ampliam-se as vozes de empresários que pedem maior abertura da economia para dar impulso a uma atividade que vem caindo há três anos e que corre o risco de uma estagnação prolongada. A elite econômica teme que o país perca muita competitividade no exterior se a Aliança do Pacífico avançar em seus planos de associação com 12 países asiáticos (entre eles, Japão e Coreia do Sul, mas não China e Índia).
O temor de perder espaço como grande exportador também elevou no Brasil o tom do debate sobre as restrições que as regras do Mercosul impõem para que um de seus membros possa negociar pactos comerciais com certa margem de manobra. Foi o que viveu de perto o Uruguai quando quis se aproximar mais dos EUA; e os próprios brasileiros e argentinos, em suas tentativas de fechar acordos com a União Europeia. As constantes disputas comerciais entre Brasília e Buenos Aires desgastaram o Mercosul depois de 25 anos nos quais o processo de integração pouco avançou. “A Aliança diz: tenhamos livre comércio entre nós e com o mundo. O Mercosul: tenhamos livre comércio entre nós e imponhamos tarifas ao resto”, explica Aracena. “Acredito que se tudo correr muito bem para a Aliança, as pressões devem aumentar no coração do bloco do Sul no sentido de mudar o modelo”, acrescenta.
O Brasil enfrenta “muitos gargalos” em infraestrutura e “não definiu se vai resolvê-los com investimento público, que não é suficiente, ou privado, que tem suas condições”, observa Jürgen Weller, economista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). “O modelo que levou o país a crescer mais na década passada está debilitado. O emprego não aumenta, os salários também não, e com isso a demanda interna cai. Essa demanda interna dos últimos anos fez crescer as importações e, assim como em muitos países, isso trouxe um déficit na conta corrente. Houve depreciação do real, a inflação não é tão alta, mas o banco central aumentou os juros para 11%, o que também reduz a atividade, pois o crédito se contrai”, diz Weller.
A Argentina e a Venezuela têm problemas com a inflação; é mais grave no país caribenho
Argentina e Venezuela têm sérios problemas tanto para controlar a inflação como para obter financiamento depois de anos dando as costas para o mercado e maquiando ou tentando esconder os números macroeconômicos. A difícil vida entre o desabastecimento e o nível de preços mais alto do mundo (59,3%) disparou um protesto social na Venezuela que custou a vida de mais de 40 pessoas este ano. A Argentina teve de maquiar suas estatísticas e reconciliar-se com os credores externos para reinserir-se no sistema financeiro internacional e conseguir dinheiro do exterior. A jogada serviu para aliviar um pouco o chamado risco-país, que é o mais alto da região depois da Venezuela, mas chega um pouco tarde para reverter totalmente a delicada situação do país a pouco mais de um ano das eleições. Tanto o FMI como o Banco Mundial preveem a estagnação tanto da economia venezuelana como da argentina este ano.
“Muitos analistas costumam avaliar os dois juntos, mas o caso argentino não é tão negativo. Em ambos houve má gestão econômica, mas na Argentina nunca houve o nível de distorção da Venezuela, onde não se entende que, com um barril de petróleo a 100 dólares, haja crise cambial”, analisa o economista colombiano José Antonio Ocampo, professor da Universidade de Columbia e coautor, com o Nobel Joseph Stiglitz, do livro A hora da mão visível: Lições da crise financeira mundial de 2008. O especialista concorda com o relatório do Banco Mundial de que a Argentina adotou este ano medidas para reverter a situação, como a desvalorização do peso, a normalização das estatísticas públicas, o acordo para o pagamento da dívida com o Clube de Paris (grupo de 19 países credores) e a indenização da Repsol pela expropriação da YPF. “Mas deve fazer mais ajustes”, destaca Ocampo.
“São medidas de estabilização, mas não de estímulo”, adverte Weller sobre a Argentina, um país em que os produtos industrializados representam 32,6% das exportações e onde precisamente as fábricas de automóveis e peças são as que estão suspendendo ou demitindo trabalhadores. A Venezuela, onde as exportações não petroleiras são de apenas 4,7% do total, está mais distante do que a Argentina de resolver sua escassez de divisas. O país caribenho enfrenta um alto déficit de energia elétrica que afeta o setor produtivo e problemas para tornar eficientes as numerosas empresas nacionalizadas pelo chavismo.
No bloco da Aliança do Pacífico parece que todos estão em melhor situação do que os do Atlântico, mas entre seus associados também há muitas diferenças. No relatório do Banco Mundial divulgado na quarta-feira, a Colômbia é a única das grandes economias que vai crescer em 2014 mais do que no ano anterior. País exportador de petróleo e minerais (apenas 22,8% de suas vendas são de produtos industrializados), “a Colômbia se viu impulsionada por um ambicioso programa de investimento público em infraestrutura e moradia, e pelo auge de um novo setor de matéria-prima, o do carvão”, explica Weller.
Na hora de analisar os dois blocos por seus progressos sociais, os resultados são diferentes dos dados macroeconômicos
Há algumas semanas, o embaixador colombiano em Madri, Fernando Carrillo, arriscou dizer a empresários canários que um acordo de paz entre o Governo e as guerrilhas das FARC e do ELN poderá acrescentar até dois pontos percentuais no PIB se os recursos da guerra se destinarem a serviços públicos que orientem o desenvolvimento, segundo a agência EFE.
O segundo grupo dentro da Aliança é o dos países que reduzem seu crescimento devido à queda da demanda por produtos de mineração: Peru e Chile. O primeiro deve suportar melhor a desaceleração da demanda porque o preço dos hidrocarbonetos e dos metais preciosos se mantém forte. “Além disso, o Peru”, diz Weller, “cresce um pouco mais porque vem de fortalecer o mercado interno com o surgimento de uma nova classe média. No Chile isso tinha acontecido já nos anos 1990.” A presidenta chilena Michelle Bachelet, que reassumiu o poder em março passado, estimula uma reforma para melhorar as oportunidades de educação e outra para diversificar uma economia na qual as exportações industriais representam apenas 13,5% do total. No Peru, são de 14,7%.
O México cresce mais do que no ano passado, mas a um ritmo mais lento do que o esperado depois das reformas que o presidente Enrique Peña Nieto realizou em 2013, como a que abrirá a área petroleira ao capital privado e estrangeiro. “O Governo identificou os gargalos que geraram expectativas exageradas de efeito imediato. Além disso, no México, ao contrário da América do Sul, fomentou-se a competitividade com um controle dos custos de mão-de-obra que fez cair o salário mínimo nos anos 1990 e o manteve congelado em 2000. Ao contrário, na América do Sul fomentou-se a demanda com altas do salário mínimo, e isso deu dinamismo ao mercado interno, o que agora está chegando ao fim, pois era financiado pela demanda externa [de produtos básicos]”, diz o especialista da CEPAL.
Na hora de julgar os dois blocos por seus avanços sociais, os resultados são diferentes dos dados traçados para o comportamento macroeconômico. Entre 2005 e 2013, a pobreza caiu pela metade no Brasil, de 36% para 18%; na Argentina, em um terço, de 30% para 20%, segundo o número do ano passado, recalculado esta semana pelos técnicos do Instituto Nacional de Estatística, que se negaram a praticar qualquer manipulação dos dados. Enquanto isso, na Venezuela, caiu de 37% para 27%. No entanto, tanto em Buenos Aires como em Caracas teme-se que o flagelo da pobreza volte a disparar este ano, ao lado da alta inflação. Enquanto isso, na Aliança do Pacífico, a Colômbia conseguiu diminuí-la de 45% para 32% e o Peru, à metade, de 52% para 25%; mas o México sofreu um retrocesso, de 31% para 37%, e o Chile, que saía de uma situação melhor, reduziu-a de 13% para 11%, segundo o último relatório da CEPAL.
A desigualdade de renda entre os 20% mais ricos da população e os 20% mais pobres entre 2002 e 2012 caiu mais de 10 pontos percentuais no Brasil, entre cinco e dez na Argentina, Venezuela e Peru, e menos de 5 na Colômbia, Chile e México. A região mais injusta do mundo no que se refere a redistribuição de renda obteve progressos nessa matéria, ao contrário do resto do planeta, mas essas melhorias estão estacionando, segundo relatório de George Grey Molina, economista-chefe para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Nao aos prodigos, incorrigiveis e totalitarios - Percival Puggina

A parábola bíblica não se ajusta ao caso dos companheiros. Eles nunca se arrependeram, continuam patifes e como tal devem ser escorraçados, banidos, expulsos do convívio com os demais familiares e com todos os demais membros da comunidade. Vão morar lá onde são bem recebidos: entre os bandidos, mafiosos, criminosos, impenitentes...
Paulo Roberto de Almeida


FILHO PRÓDIGO E INCORRIGÍVEL
          Percival Puggina

No Evangelho de São Lucas, Jesus narra uma história que se tornou, provavelmente, a mais conhecida dentre todas as suas parábolas. Ela descreve a experiência de um filho que pede ao pai rico a antecipação de sua herança. Com a grana na mão, ele viaja para um país distante, cai na vida, afunda nos vícios, gasta tudo que tem e experimenta o sabor da mais irrecorrível miséria (vem daí o adjetivo pródigo, ou seja, esbanjador, gastador, associado a esse personagem). Gradualmente, porém, ele se arrepende, decide retificar sua conduta e retorna à casa do pai, a quem pede e de quem recebe efusivo perdão.

          Tem muita razão o jornalista Eugênio Bucci, em artigo publicado no Estadão no dia 12 deste mês. Segundo ele, embora a presidente Dilma e os governistas acusem a oposição de explorar politicamente o evento da FIFA, foram os governos petistas que confundiram futebol com política e eleição desde que se dispuseram a oferecer o país para a realização da Copa de 2014.

          É bom recordar. Logo no início, Lula faturou os abraços e as lacrimosas efusões de alegria perante a - assim proclamada - conquista. Depois, explorou as escolhas das sedes da Copa, aumentando em cinquenta por cento, sem necessidade alguma, os teatros em que ela se desenrolaria. Bastavam oito sedes, mas Lula quis 12 para faturar em mais quatro Estados os dividendos eleitorais que disso adviriam. Depois, junto com Dilma, aproveitou politicamente, anúncio por anúncio, as "obras da Copa" voltadas para mobilidade urbana, aeroportos e infraestrutura.

          Custou a cair a ficha. Passaram-se seis anos inteiros, ao longo dos quais o governo petista reinou com a convicção de que poderia fazer o que bem entendesse no país. O PT se tornou o novo Príncipe de Machiavel, com a vantagem de estar com os cofres cheios de dinheiro para usos e abusos. O partido do governo se fundiu e confundiu com o Estado, com o governo, com a administração pública federal e com as empresas estatais. Como é fácil, na política, a vida dos endinheirados inescrupulosos!

          Foi em junho do ano passado, quando entramos na contagem regressiva para os jogos da Copa, que a ficha começou a cair e a nação passou a compreender o quanto haviam sido absurdos e abusivos os custos, os gastos, as exigências e as concessões feitas pelo governo petista. O escandaloso contraste entre o "padrão FIFA" e a realidade social do país, a tenebrosa situação do sistema de saúde e a péssima qualidade do ensino público, levou o povo às ruas nos protestos de junho de 2013. E produziu a impressionante reação popular ante a presença da presidente Dilma no jogo inaugural da Copa.

          No entanto, vale o alerta: no poder, o governo petista conta com o dinheiro de todos nós e nada - absolutamente nada! - sugere que vá  arrepender-se, ou mudar de conduta. Para o PT, cair em si significa fazer mais do mesmo. E vem aí a outra "conquista" desse filho pródigo da ingenuidade nacional - os Jogos Olímpicos de 2016. O PT é um filho pródigo incorrigível, que precisa ser mantido a quilômetros de distância dos recursos públicos.

* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Pensar se tornou obsoleto? Um opiniao sobre a universidade

Leiam atentamente o que vai escrito. Volto ao final.
Paulo Roberto de Almeida 

Pensar está se tornando obsoleto

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula. (...)

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você. (Na íntegra).

Volto agora, Paulo Roberto de Almeida 
O que eu transcrevi acima é um artigo de Thomas Sowell, o famoso economista liberal americano, negro, que é contra cotas raciais e por uma politica econômica resolutamente livre da interferência do Estado. 
O texto dele é sobre a situação das universidades americanas, mas se encaixa perfeitamente no caso brasileiro também. 
Para ficar conforme, apenas exclui um trecho, que vai abaixo transcrito e que deve ser inserido na passagem com (...).
Devo o artigo ao sempre atento Orlando Tambosi, como creditado abaixo e cuja introdução faz parte de minha mensagem também, pois subscrevo inteiramente a seus argumentos. 
Paulo Roberto de Almeida 
Sowell: pensar está se tornando obsoleto
Para o economista Thomas Sowell, estamos vivendo "o esplendor do anti-intelectualismo" e da doutrinação ideológica travestida de conhecimento. Em vez de argumentar, as pessoas simplesmente tentam calar o opositor. As universidades estão menos preocupadas com a diversidade de ideias do que com a diversidade racial e sexual, graças ao relativismo imperante nos campi. Há um monopólio moral maniqueísta, particularmente entre a intelligentsia esquerdista que domina as instituições de ensino superior. Sowell fala das universidades norte-americanas, mas sua análise vale também para as universidades brasileiras, que sofrem do mesmo mal. É proibido pensar e, sobretudo, divergir:

Trecho suprimido no ensaio de Thomas Sowell, onde está indicado: (...)
Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

A frase da semana: o inferno para a neutralidade em tempos de crise moral

Confesso que não li, pois não sou afeto à leitura de best-sellers que tripudiam sobre a história, misturando superstições e religião (e sei que isso encanta milhões ao redor do mundo), mas o mais recente livro de Dan Brown, Inferno (assim mesmo, na edição original em inglês), supostamente (ou enganosamente), envolvendo o referencial dantesco em torno das condenações, feito o genial escritor e forjador da língua italiana, com Petrarca, em sua Divina Comédia, traz esta epígrafe, que encontro particularmente apropriada ao Brasil, nos tempos que correm:

The darkest places in hell are reserved for those who maintain their neutrality in times of moral crisis.

Permito-me acrescentar um comentário à frase selecionada, o que raramente faço, pois cada uma delas deveria bastar-se a si mesma, em toda a sua plenitude, se ainda me permitem esta redundância.
Creio que todos nós temos perfeita consciência de que o Brasil vive uma profunda crise moral, que é mais profunda, devastadora e extensa do que a simples crise política, econômica, ou cultural. Ela é o resultado de doze anos de abusos contínuos do poder companheiro, em termos de mentiras, fraudes, enganação, desvio de dinheiro público, populismo, demagogia, fisiologismo, patrimonialismo, prebendalismo e vários outros ismos negativos que encontramos no dicionário da política e da sociologia.
Por isso mesmo, não temos o direito moral de permanecer neutros neste ano eleitoral.
Não se trata de escolher uma candidatura alternativa. Não indico nenhuma.
Se trata apenas de afastar a máfia criminosa que se apossou do Estado no Brasil.
Este é um dever moral de todos os brasileiros conscientes. Simples assim.
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 15/05/2014

O fenomeno Piketty como expressao da inveja - Theodore Dalrymple

O Jardim da Inveja de Piketty
Instito Ludwig Von Mises Brasil, sexta-feira, 13 de junho de 2014




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O ressentimento é a única emoção que pode durar a vida inteira e que nunca desapontará você. Em comparação, todas as demais emoções são passageiras e falíveis. Eu tentei odiar alguém por anos; isso, contudo, revelou-se impossível: o ódio desaparece como as cores das flores prensadas. Mas o ressentimento! Ele é a solução perfeita para o seu fracasso na vida. E, graças a Deus, todos nós cometemos falhas em algum sentido ou outro, pois nada seria tão insuportável, causando tanto ressentimento, quanto o sucesso total.


O sucesso dos outros fomenta o ressentimento, especialmente o sucesso em uma área na qual você gostaria de ser bem-sucedido. Sempre que eu leio um trecho de prosa maravilhosa, eu experimento o prazer dessa leitura, é claro; mas ele, muito antes, mistura-se com a irritação e, por fim, com o ressentimento. Por que o meu semelhante é capaz de escrever algo mais elegante, mais perspicaz, mais poético e mais conciso do que eu? O que ele fez para merecer o seu talento? A sorte dos escritores de língua inglesa é que Charles Dickens, por exemplo, tinha muitos e graves defeitos, pois, caso contrário, a genialidade autoevidente e transcendente de alguns dos seus parágrafos os paralisaria, minando a sua vontade de pegar caneta e papel ou de mexer os dedos no teclado.
Como se costuma dizer nos romances russos, chega de filosofia. Vamos agora descer da atmosfera rarefeita da abstração e nos deslocar para a realidade sórdida de um fenômeno real — neste caso, o fenomenal sucesso de um livro chamado Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty. Ele está vendendo tão rápido que as impressoras não conseguem acompanhar a demanda. Não se encontra a obra nas livrarias, mesmo (nas palavras de Lane, o mordomo do personagem Algernon em The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde) com dinheiro vivo.
Isso é realmente impressionante, uma vez que Thomas Piketty não é Dan Brown, o qual vende tolices abertamente supersticiosas escritas em prosa abominável para os crédulos pós-religião. Não: o livro de Piketty é grande, com centenas de páginas, e está recheado de dados misteriosos, que agora temos de chamar de fatos. Felizmente, eu comprara uma cópia desse livro quando ele apareceu pela primeira vez na França; e, em razão da sua rápida ascensão ao status de ícone internacional, eu tenho a esperança de que a minha edição original seja, no momento oportuno, considerada uma preciosa relíquia sagrada com propriedades curativas.
Obviamente, ter comprado um livro e tê-lo lido não são a mesma coisa. Infelizmente, apesar do seu tamanho e do seu peso, eu o perdi. Mas eu o carregava comigo por um tempo, assim como, há muitos anos, quando era um estudante de medicina, eu carregava comigo um livro de patologia, na esperança de que eu aprenderia o seu conteúdo por meio de um processo de osmose através das capas. No entanto, concluí que tinha de abri-lo e aprender apenas o suficiente para passar nos exames. Desnecessário dizer, eu esqueci tudo desde então.
Eu não costumo escrever sobre livros que não li; e eu suponho que, em minha vida, devo ter analisado pelo menos uns 500 livros. Seria falsa modéstia negar que eu li todos eles, incluindo muitas vezes as notas de rodapé, bem como negar a minha solidariedade e a minha empatia com os autores, até mesmo com os autores de livros tão ruins que eu considerava apenas ético fazê-lo — e isso apesar do fato de que não é preciso comer o pote inteiro de manteiga para saber que ela está estragada.
Todavia, duas ideias da obra de Piketty parecem ter sido discutidas com maior vigor em todas as análises que li sobre o seu livro; assim, eu suponho que elas devem representar o cerne daquilo que ele escreveu.
A primeira ideia é a de que há, em relação ao valor do capital, uma tendência de longo prazo a aumentar mais rapidamente do que o ritmo de crescimento da economia como um todo; e, já que a maioria das pessoas depende, para a sua sobrevivência, do seu trabalho em vez do seu capital, a desigualdade de riqueza só pode aumentar, chegando ao ponto de se tornar social e politicamente insustentável. Isso pode ser colocado em termos malthusianos: o valor do capital aumenta geometricamente, ao passo que o valor do rendimento do trabalho aumenta aritmeticamente. Ou, de novo, em termos marxistas: "Em uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes. (...) Em seguida, começa uma era de revolução social."
Mas Piketty não é um revolucionário; muito sensatamente, ele deseja evitar uma agitação violenta. Os meios através dos quais ele propõe isso é a sua segunda ideia: um imposto global sobre o capital — presumivelmente, para atingir realmente o seu desejado fim de uma maior igualdade, um imposto substancial.
Em primeiro lugar, analisemos a primeira ideia. Eu hesito em expor o meu próprio caso mais uma vez diante do público, mas alego a atenuação de que, pelo menos, trata-se de um assunto sobre o qual sou relativamente especialista. Como me prejudica o fato de que a proporção entre a riqueza de Bill Gates e a minha excede o quociente entre a minha riqueza e a de alguém que se encontra sob os cuidados do assistencialismo estatal? Eu me considero uma pessoa afortunada: eu nunca passei por quaisquer privações e dificuldades, pelo menos por nenhuma que não fosse a consequência do meu próprio comportamento ou das minhas próprias escolhas. Já fui pobre, mas não passei fome. Jamais sofri injustiça flagrante, exceto algumas detenções injustas em países da má fama (foi culpa minha tê-los visitado, embora, é claro, eu os tenha adorado).
A fortuna de Bill Gates só me prejudica se eu deixar o ácido da inveja e do ressentimento corroer a minha mente. Isso não significa dizer que algumas fortunas não possam ter sido adquiridas de maneira imoral e ilícita: por exemplo, as fortunas de muitos oligarcas russos. Há algo de errado com essas riquezas não porque elas são muito maiores do que a minha, mas sim porque elas foram adquiridas de forma imoral e ilícita. Não há dúvida de que existem muitas áreas cinzentas entre a legitimidade completamente branca e a escura negritude da desonestidade absoluta, mas as óbvias incertezas da vida devem ser suficientes para refrear e conter o nosso ressentimento.
Quanto ao imposto sobre o capital, Piketty está certo ao dizer que ele tem de ser global, pois, caso contrário, haveria fugas de capitais ou restrições locais muito severas sobre os movimentos de capitais — e isso não seria economicamente produtivo ou propício à igualdade. Um imposto global sobre o capital, porém, exigiria uma autoridade mundial para estabelecê-lo, arrecadá-lo e impingi-lo — com efeito, uma espécie de União Europeia gigante. Sinto-me feliz porque não estarei vivo para ver isso ocorrer, mas eu duvido que alguém, nascido ou não nascido, chegará a ver isso acontecer, pelo simples motivo de que os chefes supremos desse governo mundial precisariam de um paraíso fiscal no qual colocar o seu próprio dinheiro.
Eu suspeito que o enorme sucesso desse livro de Piketty seja uma homenagem ao nível de ressentimento que impera no mundo — e não o resultado de uma sede por conhecimento, especialmente entre aqueles indivíduos suficientemente ricos para comprá-lo, usando-o, em grande medida, como um reles acessório. A verdade, como Edward Gibbon nos ensina, raramente encontra uma recepção tão favorável no mundo. Eu posso estar errado, pois ainda não li a obra. Entretanto, posso invejar o seu sucesso.


Leia também:

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O que houve com os ricaços da década de 1980?
Algumas frases aterradoras contidas no livro de Thomas Piketty

Eleicoes 2014: pesquisa aponta nova queda da presidente candidata

Até onde a atual incumbente será candidata não se sabe, mas a continuarem as quedas progressivas e aparentemente definitivas (pois que correspondendo a rejeição, mais do que a uma atitude racional) ela pode perder para ela mesma antes de começar a campanha.
Será que, nessas circunstâncias, não voltaria o Guia Genial dos Povos?
Não acredito.
Mas teremos tempos duros pela frente, tanto na campanha, quanto no período de transição, e principalmente a partir de 2015.
Paulo Roberto de Almeida 

Pesquisa Sensus aponta nova queda de Dilma

Por Valor
SÃO PAULO  -  (Atualizada às 11h40m)
Pesquisa realizada pelo instituto Sensus e divulgada pela revista Isto É neste sábado mostra nova variação para baixo nas intenções de voto da presidente Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à reeleição.
Nas respostas estimuladas com todos os 11 candidatos, a petista registrou 32,2% das intenções de voto, ante 34% em abril, uma queda de 1,8 ponto percentual. Já o principal adversário, o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves - que deve ser oficializado neste sábado na convenção partido - tem 21,5%, tendo subido 1,6 ponto percentual em relação ao levantamento anterior. A margem de erro da pesquisa é de 1,4 ponto percentual. 
Eduardo Campos, pré-candidato do PSB, aparece com 7,5% das intenções de voto, tendo oscilado para baixo menos de um ponto percentual, ou seja, dentro da margem de erro da pesquisa.
O grupo dos que não responderam, disseram que não votarão em nenhum dos nomes, vão votar em branco ou vão anular caiu para 28,8% ante 33,9% da pesquisa anterior.
Segundo turno
Em eventual segundo turno, Dilma venceria Aécio por 37,8% a 32,7%, uma margem mais apertada do que os 38,6% a 31,9% de abril, mas dentro da margem de erro do levantamento.
Se fosse contra Campos, a vitória da petista seria de 37,5% contra 26,9%.
O Sensus ouviu 5 mil pessoas em 191 municípios, entre 26 de maio e 4 de junho.


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Eleicoes 2014: convencao do PSDB confirma Aecio Neves - comentario Reinaldo Azevedo

A última vez em que o PSDB esteve tão unido numa campanha eleitoral foi 1998. Não vou aqui me dedicar à arqueologia de por que, antes, foi assim ou assado. O fato é que o candidato à Presidência, Aécio Neves, conta com o pressuposto primeiro de uma campanha que pretende, claro!, ser vitoriosa: a união. Sem ela, não existe milagre. Para alcançá-la, é preciso que todos os atores estejam dispostos não exatamente a fazer concessões, mas a ouvir o “outro” e “os outros”. Mais do que tudo, entendo, desta vez, o PSDB não tinha o direito — sob o risco da autodissolução — de não ouvir fatias consideráveis do país que querem mudança. E a cobram com uma clareza que não se via desde 2002, justamente quando o PT venceu.
Notem que não faço juízo de valor sobre os desejos de antes e os de agora. Falo de demandas que estão na sociedade e às quais os partidos têm de responder. O PSDB não tinha, e não tem, o direito de se apequenar em divisões internas. O que se viu neste sábado é auspicioso. Lá estavam, e com muito mais solidez do que em jornadas anteriores, Aécio e José Serra de mãos dadas, sob o olhar de FHC, o tucano que venceu o PT nas urnas duas vezes, no primeiro turno.
Isso é uma declaração de voto? Não é, mas poderia ser — e não vejo por que os leitores devam ter desconfianças sobre em quem vou votar. Acho que minha escolha está clara. Mas isso é o de menos neste post. O meu ponto é outro. Não existe democracia sem oposição. Repito o que já escrevi dezenas de vezes: as tiranias também têm governo (e como!!!). Só as democracias contam com forças que se opõem ao poder de turno, buscando substituí-lo, dentro das regras do jogo. Sem oposição organizada, não existe governo legítimo.
Ocorre que esse não é um valor no petismo. Nunca foi. Ao contrário. Para o partido, os que se opõem à sua visão de mundo — mesmo àquela parcela eventualmente não-criminosa — são sabotadores, são inimigos. E devem ser destruídos.
Desde que os petistas chegaram ao poder, resolveram dar início a uma falsa guerra entre o “nós”, que eram “eles”, e o “eles”, que eram os outros. De um lado, os donos da virtude, do bem, do belo, do justo; do outro, o contrário. Talvez seja o caso, então, de a oposição comprar essa briga e fazer o confronto entre o “nós oposicionista” e o “eles governista”.
Os tucanos têm uma história respeitável. Tiraram o Brasil da hiperinflação. Deram ao país uma moeda. Devolveram a nação ao cenário internacional. E o fizeram sem jogar o povo contra o povo. E o fizeram sem incitar a guerra de todos contra todos. E o fizeram sem estimular ódios e rancores. Ao contrário: sempre souberam, e sabem, que, como diz o velho bordão, a união faz a força. Os petistas, infelizmente, tentam se fortalecer jogando brasileiros contra brasileiros, como estamos cansados de ver. É assim que eles enfraquecem a sociedade para fortalecer um ente de razão chamado “partido”.
Mais do que nunca, acho que cabe aos tucanos deixar realmente claro que “eles”, tucanos, não são “os outros”, os petistas e seus aliados. Ou, nos termos propostos pelo PT, chegou a hora de deixar claro que, de verdade, “nós não somos eles”. E não é preciso ir muito longe para percebê-lo: há, por exemplo, tucanos e membros de gestões tucanas sob investigação. Não vi, até agora — e não creio que vá acontecer — o partido a demonizar a Justiça. Sim, há uma grade diferença entre se solidarizar com um aliado e atacar a instituição. Em defesa de mensaleiros, de criminosos condenados, o petismo não hesitou um só instante em achincalhar o Supremo, cuja composição é, de resto, de sua inteira responsabilidade.
Autoritários
A propaganda política terrorista que o PT levou ao ar, destaquei aqui, deixou claro que o partido não tem mais futuro a oferecer aos brasileiros. Agora só lhes resta o expediente, que também não é novo em sua trajetória, de destruir a reputação e o passado alheios e de recontar a história. Mais uma pouco, os “historiadores” do partido ainda transformarão Lula no pai do “Plano Real”, e FHC no chefe do grupo que tentou sabotá-lo — e sabotar o país.

Dilma já não sabe por que governa e sabe menos ainda por que quer mais quatro anos. Essa gente é tão autoritária que inventa teorias conspiratórias até quando parte de um estádio de futebol expressa seu repúdio ao governo, segundo a linguagem, feia ou bonita, que se costuma usar em disputas assim desde as arenas romanas ao menos. Seus áulicos na subimprensa — um bando de vagabundos pançudos, pendurados nas tetas da propaganda oficial e de estatais — têm o topete de acusar, ora vejam!, a oposição e alguns jornalistas por manifestações espontâneas, que surgem sem paternidade.
Os petistas, no poder, sempre tentaram calar a oposição. Agora, acham que já é chegada a hora de calar o povo — ao menos a parcela do povo que ousa discordar. E sua concepção autoritária de poder está em curso, com lances novos, embora esperados, dado o seu projeto de poder. O Decreto 8.243, inspirado por Gilberto Carvalho, saído das catacumbas do PT, é a evidência de que o partido ainda não desistiu da ditadura do partido único.
A união do PSDB, demonstrada neste sábado, é fundamental para preservar a democracia no Brasil.