Declaração política: com desculpas aos meus
leitores
Paulo Roberto de Almeida
Meu
site, meu blog e eventuais plataformas em outras ferramentas são usualmente
dedicados a temas de relações internacionais e de política externa do Brasil,
mas também ao debate de ideias, se possível inteligentes, em áreas afins a meus
campos de pesquisa acadêmica e de trabalho profissional: políticas públicas,
desenvolvimento, relações econômicas internacionais e políticas setoriais:
comercial, financeira e tecnológica, de preferência em perspectiva histórica e
em escala comparativa, no plano internacional.
Minhas
preocupações primárias, essenciais, são essas, e o que coloco nesses veículos tem
motivações basicamente didáticas, e já explico por que. Tendo começado na vida
acadêmica muito tempo atrás, no século passado, sempre empreguei o essencial de
meu tempo livre e de minhas reflexões intelectuais com essa orientação
especificamente didática, ou seja, traduzir minhas leituras em linguagem
compreensível para alunos de graduação e de pós-graduação.
Sobre
isso acrescento minha experiência profissional, na diplomacia, o fato de ter
vivido em muitos países, ter viajado intensa e extensivamente, e de ter
recolhido, sempre, impressões e informações empiricamente embasadas sobre tudo
o que eu vi, tudo o que eu li, tudo a que assisti e registrei nesses anos todos
(todos os meus trabalhos, desde o início, estão relacionados em meu site
pessoal).
Pois
bem, a despeito de todas essas preocupações intelectuais, também sou um cidadão
brasileiro e não por ser obrigado a votar nas eleições -- sou contra o voto
obrigatório, mas mesmo sendo facultativo eu votaria, em qualquer circunstância
-- sou a favor de tomadas de posição, pois é evidente que é o meu destino, o de
meus familiares e descendentes que está em jogo a cada escrutínio eleitoral.
Cada
eleição é o momento de delegarmos a alguém a faculdade de usar o nosso dinheiro
para fazer alguma coisa que reputamos importante, para nós mesmos ou para o
Brasil.
Assim,
não sou de me eximir em nenhum momento, e o ato de renunciar ao dever eleitoral
-- sendo o voto obrigatório ou não -- me parece uma renúncia de escolha, uma
indiferença que pode ser fatal, pois, queiramos ou não, nosso dinheiro vai ser
usado por políticos para fazer algo de bom ou de menos bom -- talvez até algo
de ruim -- no quadro da democracia representativa -- por certo falha -- em que
vivemos.
Pensando
assim, e pedindo mais uma vez desculpas a meus leitores, por trazer um tema
fora dos meus focos habituais de pesquisa e de debate, vou tomar posição.
Não a
favor de qualquer um dos candidatos do segundo turno, pois eu não os considero
os candidatos ideais, pelo menos não são os que eu escolheria para me
representar. Tenho restrições a ambos, mas um dos dois vai "sobreviver",
e passar a decidir como gastar o "meu" dinheiro a partir de 1o. de
janeiro de 2015.
Sendo
assim, prefiro, numa escolha de simples bom-senso, ou de senso comum -- o que
não é o meu hábito -- escolher pelo menos ruim, pelo que vai desperdiçar em
menor proporção o meu dinheiro.
Mas isso
não é tudo, e talvez não seja o mais importante. Também entram aqui
considerações questões menos prosaicas, que não tem a ver com dinheiro e sim
com valores, com princípios, com a ética na vida pessoal e profissional.
Como
sabem todos os que me leem, eu tenho alergia a certas atitudes, entre elas a
exaltação da ignorância. Mas alerto imediatamente: não à ignorância “normal”,
das pessoa que não tiveram condições de se educar no plano formal; todos
nascemos igualmente ignorantes, mas muita gente, infelizmente, não tem chances
de estudar e de se aperfeiçoar. Eu me refiro à incultura deliberadamente
cultivada, que é aquela escolha por permanecer ignorante mesmo tendo todos os
meios à disposição para se informar e esclarecer questões que são importantes
para todos nós. A ignorância voluntária, se ouso dizer, é algo grave, quando
todos os meios existem para alguém se informar e fazer escolhas inteligentes.
Mas, o
que mais tenho horror, mesmo, ojeriza, asco, repúdio absoluto, é por
desonestidade intelectual, ainda que o adjetivo intelectual não deveria ser
aplicado neste caso. Explico. Desonestidade intelectual é quando a pessoa tendo
todos os instrumentos à mão para fazer uma escolha racional e para declarar
isso de público, prefere recorrer à mentira por escolha política, por vantagens
pessoais, por oportunismo profissional, enfim, por uma série de razões que não
são confessáveis de público, e que ela justamente procura esconder, pois aquela
escolha racional contrariaria, digamos, sua situação pessoal, seu conforto
material, suas vantagens financeiras, enfim, tudo, menos o compromisso com a
verdade e com a honestidade.
Sendo
assim, vou pedir desculpas a meus leitores e proclamar abertamente minhas
escolhas, de maneira honesta, objetiva, sincera, como sempre procurei ser neste
blog, ou em qualquer outro espaço público que me é oferecido para expressar meu
pensamento.
Como
também sabem todos os que seguem meu blog ou minhas eventuais intervenções em
outras plataformas, grande parte do que é disponibilizado não me pertence, mas sim
a terceiros: notícias, informações, análises, artigos de opinião, estudos de
instituições de pesquisa, etc., enfim, tudo aquilo que alimenta minhas
reflexões e esparsos comentários precedendo cada uma das postagens.
Eventualmente
eu também coloco algumas das minhas produções, e meu site pessoal lista escrupulosamente
tudo o que produzo, e tento colocar à disposição tudo aquilo que se presta a
tal possibilidade (à exclusão, portanto, de material que pertence a alguma
editora ou a revistas que exigem exclusividade).
Em
também tento seguir os mesmos procedimentos nas plataformas que uso, ou seja,
postar material de fontes diversas, tentando sempre distinguir o que é FATO e o
que é OPINIÃO, e encimando, sempre quando possível, de comentários meus sobre o
que segue no post, ou seja, tomando partido, cada vez que isso for necessário,
em relação ao material divulgado.
Creio
que assim estarei sendo honesto, em primeiro lugar comigo mesmo -- já que tenho
opiniões e posições um pouco sobre tudo, sem querer parecer pretensioso -- e em
segundo lugar com meus leitores, que me honram com suas visitas e comentários
(sempre bem-vindos, mesmo alguns malucos “claramente” ilegíveis).
Estamos vivendo
agora um momento decisivo na vida do país, e a escolha que fizermos agora vai
influenciar nossas vidas pelo menos pelos próximos quatro anos, e provavelmente
mais além, pois ações governamentais possuem o dom do que se chama de “lasting
effects”, ou seja efeitos prolongados no futuro.
Não vou
me eximir, não vou me ausentar, farei o que todo cidadão deve fazer, em sua
comunidade, em sua "ágora", em seu país, para fazer da nação (e quem
sabe até do mundo) um lugar melhor do que o que recebemos, para que os que
vierem atrás de nós não tenham de se bater com os mesmos problemas que
enfrentamos hoje: uma nação ainda insuficientemente desenvolvida, um sistema
político tremendamente corrupto, ausência de segurança para todos os que saem
às ruas das grandes metrópoles (e de outras cidades também), ameaças de
desemprego, de inflação, de aumento de tributos, de falhas nos serviços
públicos, de péssima qualidade nos sistemas públicos de saúde, de educação, de
transportes, os preços absurdos que pagamos para nos alimentar, para nos
abrigar, nos comunicar, enfim, tudo isso que vocês reconhecem como problemas
reais do Brasil.
Meu
esforço de contribuir para uma melhor solução a esses problemas -- não a ideal,
por certo, mas uma mais aceitável do que a outra -- vai refletida nos próximos
posts.
Os que escolhem
voluntariamente ler o que escrevo, sabem perfeitamente qual é o meu “partido”,
qual é a minha escolha: o partido da inteligência, a escolha da honestidade, a
da defesa de certos valores que são facilmente dedutíveis de tudo o que vai
acima. Na verdade, não tenho partido e nunca terei. Não sou de partidos, sou
apenas eu sozinho e minha consciência .
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 21 de outubro de 2014.