Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 25 de janeiro de 2020
Holocausto: memória e reflexão - Benoni Belli (OESP)
Gazeta do Povo apoia a política de abstinência sexual da ministra Damares
Paulo Roberto de Almeida
A posição da Gazeta do Povo sobre a polêmica política da ministra Damares |
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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
Reitor de universidade criacionista novo diretor da Capes
Ex-reitor do Mackenzie é anunciado novo presidente da Capes
Benedito Guimarães Aguiar Neto vai suceder Anderson Ribeiro Correia. A nomeação e a exoneração foram publicadas no Diário Oficial da União nesta sexta-feira (24).
Orçamento reduzido e corte de bolsas
Entenda o que é a Capes
A verdadeira chanceler do Brasil: Tereza Cristina, ministra da Agricultura (Veja)
Do limbo ao limbo, com uma passagem pelo IPRI - Paulo Roberto de Almeida
Desde o início eu reclamei da supressão, por algum comitê de "sábios" – mais provavelmente um grupo de cardeais revisionistas – da figura do limbo, pelo Vaticano, ainda na gestão do papa polonês, Karol Wojtilla, ou Papa João Paulo II.
O limbo sempre me fascinou, e me serviu, como contrarianista que sou, embora em algumas ocasiões de maneira forçada, tendo sido encaminhado ao ostracismo do Itamaraty – geralmente na Biblioteca – por gente mal humorada, que não suportava o meu contrarianismo diplomático, expresso em artigos levemente – por vezes pesadamente – destoantes da linha oficial do comitê central, ou seja, o gabinete do chanceler.
Fiquei no limbo a quase total duração da era lulopetista no Itamaraty, tendo sido dele resgatado no impeachment de Madame Pasadena, para assumir a função de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI).
Pois eu voltei ao limbo desde o Carnaval de 2019 – que ocasião mais propícia – por obra e graça, mas sem muita graça, de mais gente mal humorada: primeiro fiquei sem lotação, depois fui lotado formalmente na Divisão de Comunicações e Arquivo, sob a qual está subordinada a Biblioteca, meu habitat preferido no limbo.
Ao completar-se um ano desde o meu resgate do limbo, preparei um relatório preliminar sobre minhas atividades, que figura neste arquivo:
“Retomada do trabalho no Itamaraty, depois de 13 anos de regime companheiro: um relatório das atividades desde a volta do exterior”, Brasília, 6 agosto 2017, 21 p. Junção dos trabalhos, 3145 e 3146, num único arquivo para fins de informação nas plataformas Academia.edu (https://www.academia.edu/34143789/Retomada_do_trabalho_no_Itamaraty_depois_de_13_anos_de_regime_companheiro_um_relatorio_das_atividades_desde_a_volta_do_exterior) e Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/318940308_Retomada_do_trabalho_no_Itamaraty_depois_de_13_anos_de_regime_companheiro_um_relatorio_das_atividades_desde_a_volta_do_exterior), com uma breve introdução sobre as razões dos dois textos. Postado parcialmente no blog Diplomatizzando(https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/retomada-do-trabalho-no-itamaraty.html).
Ao terminar o ano de 2018, e ocorrendo uma mudança de governo que eu já imaginava fatídica para o Itamaraty e para a política externa, eu já imaginei que seria novamente remetido ao limbo, por isso fiz um relatório completo de minhas atividades no IPRI, aqui resumidas:
“Relatório de Atividades como Diretor do IPRI de 2016 a 2018”, Brasília, 24 dezembro 2018, 27 p. Organizado segundo o modelo próprio, usando dados do modelo adotado no IPRI, eliminando alguns eventos, incluindo outros. Total de eventos: 2016=38; 2017=74; 2018=102; total=214. Disponibilizado na plataforma Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/329905640_Relatorio_de_Atividades_Gestao_do_diretor_do_IPRI_Paulo_Roberto_de_Almeida) e em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/e66d6c1639/relatorio-do-ipri-diretor-paulo-roberto-de-almeida-2016-2018); anunciado no blog Diplomatizzando (25/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/ipri-meu-relatorio-de-atividades-2016.html).
Não deu outra: o gongo soou na segunda-feira do Carnaval de 2019, e desde então estou de volta ao limbo, o que não me é desconfortável. Como se espera de um escrevinhador compulsivo, não fiquei parado. De imediato, juntei meus textos do período 2014 a 2018, na continuidade de meu livro-síntese sobre a diplomacia do lulopetismo – Nunca Antes na Diplomacia: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris, 2014) – e publiquei um primeiro livro na mesma editora, e na sequência um outro já tratando expressa e exclusivamente da diplomacia na era olavo-bolsonarista:
Depois disso, continuei acumulando artigos e rascunhos, em vista de um novo livro, cujo esquema e conteúdo revelarei no momento oportuno, assim que eu conseguir organizar os materiais mais recentes.
Volto a dizer: o limbo é um lugar excelente. Vou pedir ao Vaticano para restabelecê-lo oficialmente. Não há melhor lugar para reflexões e escritos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de janeiro de 2020
A antipolitica do capitão resultará em seu fracasso: Moro rebaixado mais uma vez
Bolsonaro articulou recriação de ministério que esvazia poder de Moro
Ideia que reacendeu a fritura do ministro no governo não constava de reunião de secretários
A proposta de recriar o Ministério da Segurança Pública não é do Presidente Jair Bolsonaro, e sim da maioria dos Secretários de Segurança Estaduais, que estiveram em Brasília; nesse 22 de janeiro. Em nenhum momento, o Presidente disse apoiar tal iniciativa.
Altos e baixos de Sergio Moro no governo Bolsonaro
Bolsonaro afirmou que pode recriar a pasta da Segurança Pública, que hoje integra o Ministério da Justiça. Com isso, a área sairia da alçada de Moro. O ministro, contudo, tem usado como principal vitrine da sua gestão a redução de homicídios, que foi iniciada no governo de Michel Temer (MDB)
A divulgação de mensagens trocadas entre o então juiz da Lava Jato e procuradores da operação colocou em dúvida a imparcialidade de Moro como magistrado
A lei sancionada por Bolsonaro foi um tanto diferente do projeto apresentado por Moro à Câmara no início de 2019. Foi removida pelo Legislativo, por exemplo, a ampliação das causas excludentes de ilicitude (que abria espaço para a isenção de agentes que cometessem excessos por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”). Das 38 sugestões de vetos que constavam em parecer do Ministério da Justiça enviado ao Planalto, cinco foram atendidas por Bolsonaro (uma de forma parcial). Uma das indicações ignoradas era o veto ao juiz das garantias, que divide a condução do processo penal entre dois magistrados
Moro tem melhor avaliação e mais credibilidade junto à população que Bolsonaro, segundo levantamentos do Datafolha. Na última pesquisa, realizada em dezembro, o ministro era aprovado por 53% dos entrevistados. No caso do presidente, o índice é de 30%
Após decisão do Supremo que barrou a execução antecipada da pena, o ministro tem liderado esforço no Congresso para criar nova legislação que permita a prisão de condenados em segunda instância
Manifestações de rua têm sido convocadas desde a metade do ano em todo o país para demonstrar apoio ao ex-juiz e à Operação Lava Jato
Global Governance in Geneva: Webster University - Prof. Joseph Marques
Recomendo enfaticamente, pois somos colegas no estudo das relações econômicas internacionais, com participação conjunto em encontros da área.
Paulo Roberto de Almeida
Macarthismo Administrativo do Bolsonarismo - Claudio Gonçalves Couto (Valor)
Paulo Roberto de Almeida
Enviado por Christian Lynch:
MACARTHISMO ADMINISTRATIVO
(Artigo publicado pelo colega cientista político Cláudio Gonçalves Couto
hoje, 23/01/2020, no Valor, citando meu caso como exemplo do macarthismo em questão)
Ao controlar até a nomeação de pessoas para cargos de funções sem teor partidário, governo aparelha a máquina pública
Um dia antes da divulgação de performance de inspiração nazista que lhe custou o cargo, o então secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, manifestou-se no Twitter sobre a indicação do cientista político Christian Lynch para a chefia do Serviço de Pesquisa Ruiano, na Fundação Casa de Rui Barbosa. O posto, segundo o emulador de Goebbels, não poderia ser ocupado por Lynch por ter ele “ideias execráveis sobre Jair Bolsonaro”. Mais que isso, sugeriu que apenas não o dispensaria por se tratar de servidor concursado da Fundação em que exerceria o cargo. Assim, determinou à presidente da organização que cancelasse a nomeação do desafeto.
A missão da Casa de Rui Barbosa é preservar não só memória e obra de seu patrono, como promover “a pesquisa, o ensino e a difusão do conhecimento sobre temáticas relevantes para a história do Brasil”. Lynch, como pesquisador do pensamento jurídico, político e social brasileiro, em especial o de Rui, reunia os atributos profissionais e intelectuais exigidos para a ocupação da chefia que fora oferecida - que é, inclusive, do setor em que trabalha naquela entidade. Bolsista de produtividade do CNPq, com projetos e publicações sobre o tema do setor que dirigiria, seria natural exercer a função e ter o comissionamento condizente com a nova responsabilidade.
Comissionamento nem sempre requer laços partidários. Órgãos de pesquisa como esse, assim como fundações, universidades, institutos e autarquias, contam com cargos comissionados cujo exercício depende de nomeação por superiores hierárquicos. São chefias de departamento, coordenações de curso, superintendências e coisas do tipo. A natureza de tais cargos requer a nomeação por superiores não em decorrência da necessidade de alinhamentos pessoais ou político-partidários, mas pelo reconhecimento da competência profissional e da experiência, requerida para se desincumbir da função.
No caso de uma instituição de pesquisa na área de política, nada mais natural que, por sua própria atividade profissional, pesquisadores escrevam textos críticos sobre os mais diversos aspectos desse mundo - como o governo do dia. E foi um artigo de Lynch que levou o secretário, leal escudeiro do presidente, a impedir sua nomeação. Fiel a seu ofício, o autor teceu considerações críticas acerca do bolsonarismo, observando numa passagem: “A adesão ao extremismo ideológico é escada para os candidatos que desejarem assumir cargos na administração”. Como observou depois o próprio Lynch, o cancelamento de sua nomeação confirmou tal afirmação.
Mas não se trata apenas da adesão ao extremismo bolsonarista, como também a adulação do chefe. Foram as “ideias execráveis” de um servidor sobre o presidente que justificaram o veto. Da mesma forma, foi a atitude severa de outro funcionário, José Olímpio Augusto Morelli, que gerou, em março de 2019, sua exoneração do cargo em comissão de Chefe do Centro de Operações Aéreas do Ibama. Morelli foi o fiscal que multou Bolsonaro por pescar ilegalmente na estação ecológica de Angra dos Reis. Era, há mais de uma década e meia, servidor concursado do órgão em que exercia sua chefia e foi secretário de Meio Ambiente do município. Ou seja, contava com atributos técnicos e experiência para o cargo, mas foi exonerado por ter-se tornado desafeto do presidente ao cumprir o dever funcional e multar quem pesca ilegalmente.
Em maio do ano passado, o Decreto 9.794 conferia à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a atribuição de fiscalizar a vida pregressa de ocupantes de cargos comissionados em instituições federais de ensino superior, submetendo-as à Subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República. Assim, a ocupação de um cargo como de diretor de um centro de ensino, ou de uma faculdade, dependeria de avaliação do gabinete presidencial. Que propósito haveria em controlar tão centralmente a nomeação para um cargo dessa monta, no âmbito de uma instituição universitária que, por sua função e determinação constitucional, goza de autonomia? É demasiado.
Nem todo cargo comissionado na administração pública se reveste de caráter político-partidário ou de lealdade pessoal. Quanto mais próximo aos representantes eleitos, mais relevante e legítimo é tal critério; porém, quanto mais próximo da ponta, ou da burocracia do nível de rua, menos adequado é que o preceito pessoal ou partidário dos dirigentes máximos do governo seja determinante. Pelo contrário, nesse nível do aparato governamental o que deve contar, em prol do bom desempenho da gestão, do cumprimento de funções administrativas, do pluralismo e da impessoalidade, são parâmetros de desempenho e experiência no âmbito das atividades exercidas. Noutros termos: em tal patamar, comissionamento não se justifica por confiança política, mas por reconhecimento e responsabilização decorrentes do bom desempenho profissional.
Não seguir tal diretriz - ou pior, violá-la deliberadamente - implica o aparelhamento e na partidarização da máquina pública. Ou, nos termos de Lynch na conclusão de seu artigo: autoritarismo, hierarquia mantida pela violência, personalismo, nepotismo, guerra política, intimidação, espírito de vingança, perseguição e exercício da violência psicológica.
Portanto, o viés autoritário do bolsonarismo não se traduz apenas em ideias antipluralistas, tensionamento constante com os demais poderes do Estado, enaltecimento da violência ou ataque reiterado à imprensa, à ciência e às artes não alinhadas. Ele também se faz presente na forma como o Poder Executivo organiza sua estrutura administrativa até as fímbrias mais remotas, aparelhando-a com aduladores e correligionários, bem como perseguindo críticos ou não alinhados cuja crítica ou não alinhamento decorrem justamente do cumprimento de obrigações funcionais.
A contraface desse aparelhamento é a ideia, presente na proposta de reforma administrativa, de proibir servidores de terem filiação partidária. Ora, se isso é irrelevante para o bom desempenho de suas funções, tal regra tem apenas um propósito: instaurar um macarthismo administrativo.
Cláudio Gonçalves Couto; é cientista político, professor da FGV-SP e colunista convidado do “Valor”. Maria Cristina Fernandes volta a escrever em fevereiro