Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
A nota em que o presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e o ministro Fernando Azevedo (Defesa) dizem que as Forças Armadas não cumprirão "ordens absurdas" foi reprovada por setores da cúpula militar e pelo seu alvo, os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Na liminar, Fux respondia a um questionamento do PDT acerca da interpretação corrente no bolsonarismo de que o artigo permitiria às Forças Armadas intervir caso um Poder tentasse tolher o outro. A visão vem sendo ventilada pelo presidente, pelo vice e outros membros do governo. A nota de sexta dizia também que as Forças não tolerariam "julgamentos políticos", uma referência nem tão velada à ação de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão que corre no Tribunal Superior Eleitoral.
A Folha conversou com oficiais-generais da ativa dos três ramos armados. Enquanto muitos consideram que o Judiciário tem exagerado em suas decisões, e todos ressaltem que os signatários da nota são seus superiores hierárquicos, o tom foi reprovado.
Não que haja aprovação às colocações de Fux, consideradas igualmente hiperbólicas nas conversas entre fardados.
Mas, para um almirante, a nota coloca as Forças Armadas como um poder moderador acima da lei. Ele disse que é óbvio que os militares têm de responder a decisões e que, se não concordarem, sempre caberá recurso dentro da Constituição.
Em grupos de WhatsApp de oficiais, a crítica mais comum era a de que as Forças foram colocadas como uma extensão do bolsonarismo militante, que tem no confronto com Poderes uma de suas características.
Já havia grande irritação pela entrevista que ogeneral Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) havia concedido à revista Veja, no qual ele falou em tom ameaçador contra a oposição ao mesmo tempo em que se apresentava como representante das Forças.
Ramos, já no centro de insatisfações quando foi cogitado por Bolsonaro para substituir o comandante Edson Pujol, ao mesmo tempo cedeu a pressões e decidiu passar à reserva —irá deixar o interino da Saúde, Eduardo Pazuello, como último general da ativa com cargo de primeiro escalão.
A nota coroou uma semana de ruídos entre a ativa e o governo Bolsonaro, como a Folhamostrou. A tentativa de maquiagem de dados da Covid-19 na Saúde, a frustrada portaria para dar direito ao uso de aviões ao Exército e a revelação de negócio entre a Força e uma empresa americana de armas favorecida pelo filho presidencial Eduardo Bolsonaro não foram bem digeridos.
Ante todo esse clima, com efeito, Mourão concedeu entrevista à Folha na manhã deste sábado e tentou modular a nota, dizendo que não há indisciplina possível entre os fardados da ativa.
Há relatos divergentes acerca de uma consulta do Planalto aos comandantes de Forças sobre o tom da nota. A Folha questionou o general Azevedo sobre isso. Segundo sua assessoria, os chefes militares não participam de manifestações políticas.
Já entre ministros do Supremo, o tom variou de desânimo a irritação.
O desapontamento veio do fato de que o Planalto havia dado sinais de uma tentativa de normalização na relação com a corte, que está em processo de votação que deverá manter vivo o inquérito das fake news —que atinge o coração do bolsonarismo.
A principal sinalização foi dada acerca doministro Abraham Weintraub (Educação), que na reunião ministerial de 22 de abril disse que queria ver os integrantes do Supremo, a quem chamou de vagabundos, na cadeia.
Nas últimas semanas, emissários fizeram chegar a ministros da corte que o Planalto estaria disposto a rifar Weintraub como punição pela fala. Em vez disso, o ministro envolveu-se em nova polêmica, com a rejeitada medida provisória que previa nomeação de reitores de universidades federais nesta semana.
A esse empoderamento somou-se a nota de sexta. A liminar de Fux havia sido alvo de contentações internas por parte de alguns ministros, que viram nela um certo truísmo ao reafirmar o que já está na Constituição e pela vacuidade do objeto: é uma decisão retórica, na prática.
Mas há simbolismos inescapáveis, e aí entra a contrariedade geral. Fux será o próximo presidente da corte, a tomar posse em setembro, e em momentos de crise entre Poderes os 11 integrantes do Supremo costumam agir em bloco.
Assim, o ataque direto a Fux se tornou, por extensão, mais uma afronta à corte por parte de Bolsonaro, que já participa contumazmente de atos pedindo o fechamento do órgão máximo do Judiciário e do Congresso.
A assinatura conjunta com Mourão foi vista como um recibo de ambos pelo fato de serem objeto da ação no TSE. Já a presença de Azevedo reforçou um sentimento que vem se consolidando na classe política: Bolsonaro tem usado as Forças Armadas como escudo por extrema fragilidade.
Assim, a banalização das ameaças, que assustam muitos devido ao passado intervencionista das Forças, tem sido vista pelo decrescente valor de face. Preocupa mais o Supremo a eventual perda de controle nas ruas, estimulada por Bolsonaro.
Chocou especialmente a sugestão do presidente para que hospitais sejam invadidos para provar a hipótese de que governadores estão inflando politicamente números da Covid-19.
Situações de violência implicam o uso das polícias militares, consideradas muito próximas do espírito bolsonarista. O motim da PM do Ceará no começo do ano, apoiado veladamente pelo governo, é um exemplo sempre lembrado.
Seja como for, no Distrito Federal a polícia acabou com o acampamento do 300 do Brasilneste sábado sem incidentes. O grupo pró-Bolsonaro prega violência e fechamento de Poderes, e não houve a temida adesão de policiais a ele.
As consultas que começaram na noite de sexta prosseguem neste sábado no mundo político, dado que Bolsonaro conseguiu elevar ainda mais o patamar de suas provocações institucionais, mas por ora o clima é mais de observação de cenário do que de reações exacerbadas.
José Fucs, em matéria do jornal O Estado de S. Paulo de 16 de março de 2019, já denunciava a rede de linchamento a serviço do bolsonarismo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1506/2020
Rede bolsonarista ‘jacobina’ promove linchamento virtual até de aliados
Como funciona a 'máquina' de difamação operada pela ala mais radical de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais
José Fucs, repórter especial
O Estado de S. Paulo, 16/03/2019
A repórter do Estado Constança Rezende tornou-se alvo no domingo, 10, de um violento ataque digital. Quando se preparava para sair de casa e almoçar com a família, Constança foi informada por uma de suas fontes via WhatsApp de que um post publicado pelo canal Terça Livre, que reúne militantes bolsonaristas e pupilos do escritor e pensador Olavo de Carvalho, estava provocando uma forte reação contra ela nas redes sociais. A razão: uma suposta tentativa de “arruinar” o presidente Jair Bolsonarocom as reportagens sobre o Caso Queiroz. Constança se dedica a essa cobertura desde o princípio.
O caso de Constança revela, em toda a sua extensão, o funcionamento da máquina de assassinato de reputação operada por grupos bolsonaristas e olavistas, que formam as correntes mais radicais e dogmáticas da chamada “nova direita” do País. Em razão dos ataques virtuais desferidos pela turma, várias vítimas acabam por restringir o acesso a seus perfis e silenciar sobre o tema que deu origem às agressões. Algumas pessoas simplesmente apagam suas páginas, aterrorizadas pela agressividade dos comentários.
Hegemonia. Nesta reportagem especial, baseada em conversas com integrantes e ex-integrantes dessa engrenagem, o Estado mostra como ela funciona, quem são seus principais líderes e apoiadores e quais são seus tentáculos nos gabinetes palacianos e parlamentares. Conta, também, os casos de outras vítimas das milícias virtuais bolsonaristas e olavistas. Além de jornalistas, a lista inclui personalidades e influenciadores da própria direita e integrantes do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, indicado pelo próprio Olavo de Carvalho.
O ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno, que deixou o cargo em meados de fevereiro, foi chamado de “mentiroso” nas redes por Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, cujo post foi compartilhado pelo pai, por afirmar que havia conversado três vezes com Bolsonaro sobre o uso de “laranjas” nas eleições por candidatos do PSL.
Na campanha eleitoral, a turba já havia se levantado contra qualquer um que pudesse colocar em risco a hegemonia de Bolsonaro junto ao eleitorado de centro-direita. O ex-presidenciável João Amoêdo, do partido Novo; o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB); o empresário Flávio Rocha, pré-candidato à Presidência pelo PRB; e até a garotada do MBL foram alvos de ataques torpes da máquina de difamação bolsonarista e olavista.
‘Jacobinos’. Como cruzados em luta para conquistar Jerusalém, os bolsominions e os olavetes, como eles são mais conhecidos fora de seus mundinhos, insurgem-se contra os adversários de Bolsonaro e Olavo de Carvalho e contra aliados que ousam discordar dos dois, ainda que de forma pontual. Não por acaso, receberam a alcunha de “jacobinos”, em referência ao movimento surgido na Revolução Francesa, em 1789, que defendia o extermínio da aristocracia e se tornou conhecido por impor o terror no país.
No Brasil, nos tempos do PT, também havia uma máquina implacável de destruição de reputação de adversários, em especial de jornalistas. A diferença é que, naquela época, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silvae Dilma Rousseff e seus parentes procuravam não se envolver diretamente, ao menos em público, na “guerra suja”. Além disso, a tropa de choque petista na internet recebia fartos recursos oficiais, para defender o governo e o partido e atacar os seus críticos.
Agora, o quadro mudou. Bolsonaro, seus filhos e alguns assessores palacianos e parlamentares envolvem-se diretamente nos ataques. E, por ora, de acordo com as informações disponíveis, sites e páginas como o Terça Livre, Isentões e Senso Incomum, que agem como se estivessem numa “guerra santa” contra infiéis, não estão recebendo recursos públicos para financiar suas atividades.
Na linha de frente dos ataques aos adversários e críticos de Bolsonaro e de Olavo figuram dois filhos do presidente – o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), responsável pela bem-sucedida campanha do pai nas redes e ainda hoje o principal administrador de suas páginas e perfis pessoais, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o mais ideológico da família e o mais ligado a Olavo. Ao lado deles, instalados no Palácio do Planalto, destacam-se o assessor internacional da Presidência, Filipe G. Martins, e os assessores presidenciais José Matheus Sales Gomes – criador dos sites Bolsonaro Zuero e Bolsonaro Opressor 2.0 na campanha e considerado o “gênio” das redes do presidente – , e Tercio Arnaud Tomaz, ambos ex-funcionários do gabinete de Carlos, na Câmara Municipal do Rio.
Desgaste. Aparentemente, Carlos é o único que tem a senha para operar as páginas e perfis pessoais de Bolsonaro, além do próprio presidente. Na semana passada, ele afirmou numa rara entrevista (ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube) que, às vezes, sente-se “culpado” pelo conteúdo que publica na internet e leva um “puxão de orelha” do pai. Não se sabe, porém, se ele disse isso para tentar isentar Bolsonaro de responsabilidade pelas controvertidas publicações feitas em seu nome ou para exibir sua força na gestão do conteúdo nas páginas do presidente.
Os analistas que conhecem de perto o grupo mais próximo de Bolsonaro afirmam que Filipe Martins, um pupilo fervoroso de Olavo que foi introduzido no círculo bolsonarista pelas mãos de Eduardo, é quem está por trás de muitos ataques aos adversários e críticos do “professor” e do presidente. Eles dizem reconhecer o inconfundível estilo “jacobino” de Martins em vários dos ataques desfraldados por Olavo nos últimos tempos.
Quem conhece bem a forma de atuação do grupo afirma também que Olavo está sendo “brifado” em vários de seus posts por Martins e outros olavetes que ganharam cargos oficiais no atual governo e usado por eles para desferir ataques em todas as direções. Assim, Olavo dá a sua contribuição para preservar seus discípulos do desgaste inevitável que teriam se fizessem, eles mesmos, as publicações mais agressivas.
O caso de Mourão – “detonado” diversas vezes por Olavo, que o chamou de “palpiteiro” e afirmou que o vice é “uma vergonha para as Forças Armadas”, por causa de suas posições em defesa da opção das mulheres pelo aborto, contra a relativização da posse de armas e por suas críticas contra a política externa – é emblemático. Segundo o site O Antagonista, Mourão identificou as digitais de Martins, que conversa com frequência com o escritor, nos ataques desferidos contra ele.
Comando central. O diplomata Paulo Roberto de Almeida, exonerado da presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) no início de março e outro alvo dos “petardos” de Olavo, também atribuiu a Martins o seu afastamento do cargo. “Ele é um desses olavistas fanáticos, que tem a verdadeira fé”, disse em recente entrevista ao Estado.
Muitas vezes, como no caso de Almeida, Mourão e Constança, os ataques virtuais parecem seguir uma estratégia bem elaborada e as orientações de um comando central, com o apoio de influenciadores como Allan dos Santos, do Terça Livre, os youtubers Nando Moura e Bernardo Küster e o empresário Leandro Ruschel, e de propagadores com milhares de seguidores nas redes, como Bruna Luiza Becker, ex-namorada de Martins que se tornou assessora de Vélez Rodríguez, a advogada Cláudia Wild e o perfil do Twitter Tonho Drinks.
De acordo com especialistas em redes sociais, os ataques digitais têm o apoio de robôs, que funcionam como uma espécie de faísca para incendiar a massa. No WhatsApp, por exemplo, onde os grupos podem ter no máximo 250 pessoas, costuma haver sempre dois ou três perfis falsos, destinados a enviar de forma automática mensagens com ataques a fulano ou beltrano. Em seguida, elas são compartilhadas pelos demais integrantes dos grupos em suas próprias redes, provocando o “efeito manada”.
Mas, mesmo nesses casos, deve-se levar em conta que há uma adesão espontânea que torna difícil caracterizar os grupos bolsonaristas e olavistas como membros de uma rede 100% estruturada de comunicação virtual. Nas eleições de 2018, o PT até tentou implementar algo do gênero por baixo do pano, remunerando os participantes, mas a iniciativa acabou “vazando” e o partido teve de abortá-la, para abafar o caso e evitar punições pesadas da Justiça Eleitoral. Uma rede profissional de milícias virtuais, encarregada de destruir a reputação de opositores e críticos pontuais, também exigiria um caminhão de dinheiro, difícil de obter com o cerco ao caixa 2 eleitoral e à corrupção.
O Gabinete do Ódio nasceu bem antes da campanha presidencial: foi um grupo recrutado com o objetivo precípuo de montar histórias, inventar mentiras, criar notícias falsas, difamar adversários, disseminar uma imagem heroica do tosco capitão, enfim perpetrar falcatruas eleitorais, com o apoio financeiro de capitalistas bolsonaristas. Seus principais membros estão hoje instalados no 3ro andar do Palácio do Planalto, continuando a fazer o mesmo trabalho sujo.
Paulo Roberto de Almeida
Quem são os jovens recrutados por Carlos Bolsonaro para erguer o aparelho digital do governo
O presidente Jair Bolsonaro sempre creditou o triunfo de sua vitória eleitoral em 2018 à estratégia digital traçada pelo filho “02”, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), nas mídias sociais. A estrutura que impulsionou um deputado restrito a nichos ao Palácio do Planalto começou a ser montada com a contratação de alguns jovens na casa dos 20 anos, criadores de páginas de paródias e personagens políticos no Facebook — hoje, integrantes do que ex-aliados do governo Bolsonaro classificam como “gabinete de ódio”, o núcleo instalado no Palácio do Planalto que se dedica a atacar adversários nas redes. O recrutamento foi definitivamente selado numa reunião do clã Bolsonaro com alguns desses jovens, no salão de festas do primogênito e hoje senador Flávio, em 11 de março de 2017 — mais de um ano e meio antes da eleição. Dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro foi o que descobriu primeiro o potencial das redes sociais para a família. Ele está no Twitter desde agosto de 2009. O GLOBO encontrou publicações de Carlos em uma conta pessoal no Facebook desde 2011. E foi por essa rede social que ele encontrou e recrutou dois dos principais assessores do presidente Jair Bolsonaro, ainda em 2013. O primeiro foi José Mateus Sales Gomes. Em 10 de abril de 2013, Carlos publicou: “Tô passando mal de rir com a page ‘Bolsonaro Zuero’”. Natural de Caucaia, na Grande Fortaleza, Mateus tinha 21 anos quando caiu nas graças do vereador. De Campina Grande (PB), chamou a atenção do filho do presidente a página “Bolsonaro Opressor”, criada por Tércio Arnaud Thomaz, outro selecionado por Carlos, mas para assessorar o então deputado Jair Bolsonaro. Seis anos depois, Matheus e Tércio têm assento no terceiro andar do Palácio do Planalto. Os dois foram os precursores de vários outros que Carlos foi descobrindo e trazendo para junto do clã. Agora, na Presidência, também está Mateus Matos Diniz, engenheiro formado há dois anos, ex-aluno de Olavo de Carvalho e a quem Carlos conheceu em 2017. Religioso, Mateus defende a castidade. Inclusive recomenda em seu Instagram que “todo dia use cinto apertado, para que ele te lembre do seu compromisso”. Também defende que “não existe sexo fora do casamento. O que existe fora é uma tentativa de emular o sexo imitando seus acidentes”. Bem antes da campanha eleitoral que os levou ao poder central, e à diferença da narrativa de apoio espontâneo nas redes sociais, os Bolsonaros organizaram reuniões com criadores de páginas na internet. O primeiro encontro presencial ocorreu no sábado 11 de março de 2017, no salão de festas do prédio de Flávio, na Barra da Tijuca. O próprio Carlos registrou o momento no Instagram no dia seguinte: “Reunião sábado à noite, com alguns representantes de diversos grupos, com o objetivo de endireitar o Brasil (AM, CE, PE, SP, RJ, MG, PA, PB, PR)”. Quem esteve na reunião relata que, já pensando na eleição de 2018, a família discutiu a organização da páginas e a criação de grupos no WhatsApp e introduziu a estratégia sobre ataques a adversários. Segundo um dos que participaram da reunião, a produção de memes e ataques era parte da estratégia: obter uma estrutura de comunicação que pudesse ser operada diretamente, de ponta a ponta.
Marcou presença ainda Guilherme Julian Freire, amigo de Matheus “Zuero” e agora assessor do deputado Hélio Lopes. O deputado Gil Diniz disse que acompanhou Eduardo Bolsonaro porque, na época, era seu assessor:
—Foi mais para unificar a pauta. No outro ano haveria eleição presidencial, e começamos a organizar esses movimentos. Não lembro de memes ou ataques.
Sem respostas
Alex Junqueira, ex-assessor de Gil Diniz, afirma, porém, que, quando conheceu o deputado, o trabalho dele para Eduardo Bolsonaro consistia essencialmente na fabricação de memes para atacar adversários. Diniz ficou conhecido pela página “Carteiro Reaça”.
— Eu o conheci em 2018; ele era assessor do Eduardo. Eu era motorista, o Eduardo ia do lado, e o Gil, atrás. Ele (Gil), nessa época, fazia os memes e depois, quando foi deputado, de outubro até março, o que ele sabia fazer era assassinar a reputação dos outros — afirmou Junqueira, que denunciou Diniz por prática de “rachadinha”, tornando públicas conversas do grupo que Diniz mantinha com assessores nas quais este pede conteúdo para atacar adversários como o governador João Doria.
Diniz afirma que Junqueira também publicava as mensagens que “agora chama de ataques” e se tornou seu adversário político. Procurados, o Palácio do Planalto (questionado sobre a função dos assessores), Flávio, Carlos, Eduardo e Helio não responderam.
Sobre os destruidores de estátuas em nome de uma impossivel pureza no passado das sociedades:
Um dos maiores traficantes de escravos nas colônias inglesas do Novo Mundo, que fez fortuna com o nefando comércio ao início da primeira República no hemisfério ocidental, devotou toda a sua riqueza adquirida no comando de navios negreiros à fundação da Brown University, em Rhode Island, uma das melhores na costa leste dos EUA, onde lecionou durante anos um dos maiores Brasilianistas, Thomas Skidmore, e onde ainda atuava como professor convidado o ex-presidente FHC.
Os puristas anti-escravagistas de um passado impoluto estão de acordo em fechar a universidade? Talvez até mesmo destruí-la, já que foi erguida com o lucro do tráfico escravo?
A sua riquíssima Biblioteca tem uma das mais ricas “Brasilianas” dos EUA, comparável à Newberry de Chicago e à Benson de Austin, no mesmo nível da Library of Congress e da Public Library of New York, em livros sobre o Brasil, abrigando ainda os milhares de livros do acervo de Skidmore.
Os pequenos Stalins e êmulos dos talibãs pretendem arrasar essa universidade e todos os outros legados dos escravistas do passado?
Sem comentários; e precisa? Bem, resolvi fazer o meu: "Quando eu ouço falar em impeachment, eu puxo logo o meu revólver", parodiando uma famosa frase que, nos tempos do nazismo triunfante se aplicava à... CULTURA. Ora, ora vejam só: quando os nossos generais CONCLUEM que estão "esticando muito a corda", no TSE, por exemplo, ou até nesse antro golpista que é o STF, eles tratam de arrumar o seu próprio golpe. Pôxa vida: e eu que pensava que os nossos generais já tinham sido curado dessa mania de golpes. Que ingênuo eu sou... Paulo Roberto de Almeida
Ramos, o valente, nega golpe e ameaça com golpe! E Mark Milley, o fracote
Reinaldo Azevedo, 13/06/2020
Alguns militares brasileiros têm um estranho jeito de negar a possibilidade de um golpe de estado: primeiro simulam ofender-se até com a pergunta. Depois, bem... Rola um "É bom não abusar..." Vale dizer: sim, eles acham possível. Leiam este trecho da entrevista de Luiz Eduardo Ramos à "Veja". Ele é secretário de Governo e, ora, ora, general da ativa, o que é uma aberração única entre as democracias. Volto em seguida.
* Qual a possibilidade de um golpe militar no Brasil? Fui instrutor da academia por vários anos e vi várias turmas se formar lá, que me conhecem e eu os conheço até hoje. Esses ex-cadetes atualmente estão comandando unidades no Exército. Ou seja, eles têm tropas nas mãos. Para eles, é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora, o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda.
O senhor se refere a exatamente o quê? O Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Fora as outras desgraças. Comparar o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito. Não contribui com nada para serenar os ânimos. Também não é plausível achar que um julgamento casuístico pode tirar um presidente que foi eleito com 57 milhões de votos.
O que seria um julgamento casuístico? Um julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que não seja justo. Dizem que havia muitas provas na chapa de Dilma e Temer. Mesmo assim, os ministros consideraram que a chapa era legítima. Não estou questionando a decisão do TSE. Mas, querendo ou não, ela tem viés político.
E se essa impugnação vier a acontecer? Sinceramente, não vou considerar essa hipótese. Acho que não vai acontecer, porque não é pertinente para o momento que estamos vivendo. O Rodrigo Maia (presidente da Câmara) já disse que não tem nenhuma ideia de pôr para votar os pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Se o Congresso, que historicamente já fez dois impeachments, da Dilma e do Collor, não cogita essa possibilidade, é o TSE que vai julgar a chapa irregular? Não é uma hipótese plausível.
(...) RETOMO Ou seja: Ramos acena com a hipótese ultrajante do... "golpe", só afastada caso, então, o TSE vote de acordo com a pretensão do governo.
Observem que ele nem mesmo se refere às acusações que pesam ou venham a pesar contra a chapa que elegeu Bolsonaro. Ele se volta para a chapa que elegeu Dilma-Temer — notando sempre que a presidente já havia sido afastada.
Mas e se aparecer razão para a cassação da chapa? Bem, aí ele nem quer pensar. Seu colega, o general Augusto Heleno, chama isso de "consequências imprevisíveis".
É um deboche.
O general pode ficar tranquilo que todos entendemos que ele quis deixar claro que tem, se preciso, as tropas nas mãos. Ele o diz ao menos. Afinal, foi instrutor de todos os que as comandam. Ele os conhece. Eles o conhecem.
É evidente que se trata de uma ameaça!
Alô, as sete excelências que compõem o TSE! Pouco importa o que possa aparecer por aí. O general Ramos, instrutor de todos os que comandam tropas, não aceita a cassação da chapa. Ele ignora o conteúdo dos autos. E daí? Já decretou que seria uma cassação casuística.
E por que ele pode ser, então, juiz dos juízes — ou melhor: por que ele pode ser o limite do juízo dos juízes? Deve ser, justamente, por causa das tropas.
Nem vou especular se um presidente que incita seus milicianos a invadir hospitais pode ser comparado a um líder fascista. O questionamento é bobagem porque o método é fascistoide.
"OUTRO LADO" Acho impressionante, vexaminoso e perverso que um general-de-exército se deixe trair e se refira a uma parte dos brasileiros como "o outro lado". Parece que as Forças Armadas do Brasil, então, existem para sustentar as posições de um dos lados e, se preciso, prender o outro.
MARK MILLEY Vejo este Ramos, um general da ativa que comete o despropósito de ser coordenador político de governo, ameaçando um tribunal superior e penso no general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA.
Ele pediu desculpas por ter participado, de uniforme, no dia 1º de junho, da caminhada de Donald Trump para fazer uma foto na Igreja Episcopal de São João, perto da Casa Branca, depois de a Guarda Nacional ter dissolvido um protesto contra o racismo e a violência policial.
Disse sem tergiversar a autoridade máxima militar da maior máquina de guerra da história da humanidade: "Eu não deveria ter estado lá. Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna."
E o fez num vídeo, para ser replicado para o mundo, a ser exibido no início do ano letivo da Universidade Nacional de Defesa.
Disse Mais: "Como oficial da ativa, foi um erro, e aprendi com ele. Espero sinceramente que todos nós aprendamos. Nós, que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas, que tem raízes firmes na base da nossa República."
DOCUMENTO Trump já havia classificado de terroristas as manifestações contra o racismo e ameaçado chamar as Forças Armadas ou convocar a Guarda Nacional.
Poucos se deram conta, mas, no dia 2, Milley assinou uma declaração, corroborada pelos comandantes de todas as forças militares do país, lembrando que: - cada membro das Forças Armadas dos EUA jurou defender a Constituição e os valores que nela vão; - a Constituição está fundada no princípio de que homens e mulheres nascem livres e iguais e têm de ser tratados com dignidade e respeito; - a Carta garante o direito à liberdade de expressão e à reunião pacífica; - os homens e mulheres que vestem farda estão comprometidos com os valores da Constituição; - os destacamentos da Guarda Nacional estão sob o comando dos governadores e devem proteger a vida, a propriedade (a vida veio primeiro, note-se...), a paz e a segurança pública; - as Forças Armadas são compostas por pessoas de todas raças, cores e credos e estão subordinadas à Constituição.
Vale dizer: Milley deixou claro que os militares não mandam na Constituição. É a Constituição que manda nos militares.
A maior máquina de guerra do mundo — que, a rigor, pode se impor em qualquer lugar do planeta — deixa claro que jamais se imporia a seu próprio povo e aos poderes constituídos.
Sem guerras para lutar, alguns dos nossos generais preferem se voltar contra os nacionais — que o general Ramos chama "o outro lado".
Isso me lembra a maior tragédia da história argentina: a guerra das Malvinas. Morreram ou desapareceram nada menos de 30 mil pessoas durante a ditadura militar.
Ou por outra: esmagar a população civil era tarefa fácil, coisa que qualquer covarde despreparado podia fazer.
Quando chegou a armada inglesa, então se pôde conhecer do que eram capazes aqueles valentões.
A lamentar que tantos jovens, quase crianças ainda, tenham perdido a vida em razão dos homicidas compulsivos que assumiram o comando das Três Forças no país.
ENCERRO Que fique, então, o recado do general Ramos aos sete ministros do TSE: não importa quantas cobras e lagartos possam eventualmente aparecer por aí, o general não quer nem pensar na hipótese de uma cassação da chapa.
Ele diz que é bom não esticar a corda.
Todos os comandantes de tropas foram seus alunos, ele avisa também.
E, como sabemos, há uma tradição a ser honrada de forças militares latino-americanas, né? Sempre foram exímias na repressão ao próprio povo.
Aos eventuais interessados em temas de economia e desenvolvimento, e suas conexões com a política externa e a diplomacia brasileira, assim como as relações internacionais de modo geral, sinalizo a existência de vários livros meus, a maior parte livremente disponível, nos links indicados. Paulo Roberto de Almeida Brasília, 14 de junho de 2020
3615. “Formação do constitucionalismo luso-brasileiro no contexto das revoluções ibero-americanas do início do século XIX”, Brasília, 2 abril 2020, 21 p. Colaboração a volume de José Theodoro Menck da série sobre o bicentenário da independência da Câmara dos Deputados.
3501. “Constituição de 1988: uma utopia contra o crescimento”, Brasília, 16 agosto 2019, 14 slides. Breve apresentação sobre temas constitucionais, mas sobretudo sobre métodos de estudo e trabalho, com objetivos pragmáticos, para debate sobre a questão. Disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43335000/Constituicao_de_1988_uma_utopia_contra_o_crescimento_2019_).
145. “As Relações Internacionais do Brasil Numa Fase de Reordenamento Constitucional: avaliação de textos constitucionais e implicações políticas para o Itamaraty”, Brasília, 10-11 janeiro 1987, 20 p. Trabalho sobre a problemática das relações internacionais segundo a Emenda Constitucional n. 1, de 1969, o Anteprojeto Afonso Arinos e as implicações deste último para a política externa governamental, com sugestões de dispositivos alternativos. Destinado a circulação interna no Itamaraty.
138. “Relações Exteriores e Constituição”, Brasília, 8 dezembro 1986, 11 p. Artigo sobre a recuperação legislativa da fiscalização e controle da política externa do Executivo, nos EUA e no Brasil. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro, ano XXIX, n. 115-116, 1986/2, p. 83-90), na Revista de Informação Legislativa (Brasília, ano 24, n. 94, abril-junho 1987, p. 109-120) e na revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. V, n. 2, abril-junho 1987, p. 256-263). Relação de Trabalhos Publicados n. 029, 037 e 039.
123. “Uma Interpretação Econômica da Constituição Brasileira: A Experiência de 1946 e Perspectivas para 1987”, Brasília, 15-20 junho 1986, 25 p. Artigo sobre a representação dos interesses sociais no processo constitucional brasileiro. Elaborado originalmente como ensaio de histórica intelectual reconhecidamente inspirado no livro do historiador “marxista” norte-americano Charles Beard, An Economic Interpretation of the Constitution (1913), foi publicado, em sua versão original, na publicação quadrimestral da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, Revista da Fundação SEADE, São Paulo em Perspectiva (São Paulo: vol. 2, n. 2-3, maio-dezembro 1986, p. 53-64). Reformulado parcialmente em setembro 1986. Publicado, sem o novo subtítulo “A Representação dos Interesses Sociais em 1946 e 1986”, na revista editada pela Universidade de Brasília, Humanidades (Brasília: Ano III, n. 11, novembro 1986-janeiro 1987, p. 18-26). Publicado, com algumas correções de texto, na revista editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ciência e Cultura (São Paulo: vol. 39, n. 1, janeiro 1987, p. 34-46). Relação de Trabalhos Publicados n. 026, 032 e 034.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/06/2020
Lista integral disponível neste link da plataforma Academia.edu:
Recebi, do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais da Universidade Federal do Ceará, convite para uma exposição online sobre temas de economia e relações internacionais, conforme o poster que prepararam sobre o evento:
informação:
Inscrição para participação com ouvinte em evento
Dia 20/06, sábado, às 10h, via Google Meet Encontro ordinário da linha de Direito Internacional e Economia.
Uma apresentação online acerca do papel da política externa no desenvolvimento do Brasil e a atual conjuntura da política externa brasileira.
PALESTRANTE: DIPLOMATA PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
Doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), Licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975). É diplomata de carreira, por concurso direto, desde 1977; serviu em diversos postos no exterior e exerceu funções na Secretaria de Estado, geralmente nas áreas de comércio, integração, finanças e investimentos.