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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

India e Brasil: unidos no protecionismo e no mercantilismo: fora do RCEP economia da India vai diminuir no mundo

 A Índia e o Brasil sempre foram parceiras na rejeição de todas as propostas de abertura comercial feitas ao longo dos anos no Gatt e na OMC, e sempre lideraram os outros países em desenvolvimento para se oporem a quaisquer medidas de liberalização comercial ou de investimentos, sendo ainda ferozmente opostos à inclusão de serviços, de investimentos e de propriedade intelectual no sistema multilateral de comércio. Tanta obsessão no "anti-comercialismo" – como diria nosso patético chanceler – tem um preço: a despeito de serem ambas grandes economias – pelo tamanho do país e da população – são anões comerciais, com uma participação medíocre nos grandes fluxos. Isso apesar de que é o setor externo que garante boa parte do crescimento nas duas economias.

Paulo Roberto de Almeida


India’s rejection of RCEP and free trade will make it poorer and less relevant

The Regional Comprehensive Economic Partnership was an opportunity to recapture India’s success through economic liberalization. India now finds itself isolated and has compromised its influence in a region where economic integration has become a top priority for most countries

Mohamed Zeeshan

South China Morning Post, Hong Kong – 24.11.2020

 

A day after the  Regional Comprehensive Economic Partnershipm(RCEP) agreement was concluded in India’s absence, Indian Minister of External Affairs Subrahmanyam Jaishankar launched a scathing attack on trade and globalisation.

“In the name of openness, we have allowed subsidised products and unfair production advantages from abroad to prevail,” he said, asserting that the Indian government had decided to move away from trading arrangements in pursuit of an Atmanirbhar Bharat, or self-reliant India.

“The effect of past trade agreements has been to deindustrialise some sectors,” he said. “The consequences of future ones would lock us into global commitments, many of them not to our advantage.”

Some people might see Jaishankar’s comments as a jibe at China. Indians often complain that the Chinese unfairly subsidise domestic production and then dump their products in the Indian market. Indians also argue that, while China is able to dump its manufactured goods in India, Indian exports in the pharmaceutical and information technology sectors are subject to crippling restrictions by China.

India’s allergy to trade – and the foreign minister’s comments – goes far beyond China, though. For several years, India has struggled to agree on trade liberalisation with myriad partners, from Australia to the European Union and even Sri LankaBetween 2016 and 2020, India introduced the second-highest number of trade restrictions among all Group of 20 economies, according to the Global Trade Alert database.

Despite its obvious geopolitical value, India was kept out of the Obama administration’s Trans-Pacific Partnership (TPP) trade deal. This was in large part because none of the participating countries believed India would agree to its terms.

As a result, despite being the world’s fifth-largest economy, India is not even among the world’s top 10 trading powersThis is all the more bizarre when one realises that trade was a large part of India’s post-liberalisation growth burst in the 1990s.

In 1988, India’s trade accounted for about 13.5 per cent of its GDP and, 10 years later, it was as much as 24 per cent. Service trade more than doubled as a percentage of GDP and, not surprisingly, India’s real GDP increased by nearly 70 per cent in those 10 years.

This was in stark contrast to the dawdling economic progress made under its protectionist import substitution policies through the 1960s and 1970s. In the 1960s, India’s real GDP only increased by about 40 per cent in 10 years. In the following decade, it rose by a little over a quarter.

India needs to pick up the mantle from its days of economic liberalisation once again. Notwithstanding concerns over Chinese imports, the RCEP was a great opportunity to do just that. Despite its size and complexity, the RCEP is, in many ways, a relatively unambitious trade deal.

By one estimate quoted in The Economist, the deal eliminates about 90 per cent of tariffs but only across a period of 20 years after coming into effect. It hardly touches agriculture – one of India’s key political concerns, which drives protectionism. As The Economist pointed out, Japan will maintain high import duties on some “politically sensitive” agricultural products such as rice, wheat, dairy and sugar.

The fact India was not sufficiently confident about its domestic economy to sign up to even such an unambitious deal is worrying and will send the wrong signals to foreign investors.

Worse, Jaishankar’s caustic tirade is likely to undermine India’s already floundering trade negotiations with the rest of the world. Indian diplomats are, for instance, working hard to convince the European Union of New Delhi’s commitment to more openness.

India’s antitrade posture will also have geopolitical costs. Membership in the RCEP would have given India the opportunity to be a balancing power against Chinese hegemony in Asia. Its participation would have been particularly crucial at a time when the United States has been withdrawing from the region, and countries, especially in Southeast Asia, were looking for diverse partnerships.

For these reasons, nations such as Japan were strong advocates for India’s inclusion in the RCEP, even after New Delhi walked out of discussions last year. Now, however, India finds itself isolated and has significantly compromised its influence in a region where economic integration has become a top priority for most.

The RCEP comes amid heightened tensions between China and its neighbours. Yet, the fact that Japan, South Korea and Southeast Asian nations have all been willing to put political troubles aside for the sake of economic ties shows Asia is strongly committed to globalisation.

Meanwhile, even relative to the US, India might now find its antitrade posture out of resonance. As part of his renewed outreach in the Asia-Pacific, US President-elect Joe Biden is likely to consider rejoining the TPP – a deal he championed as vice-president in the Obama administration.

Trade and globalisation are key interests among Asia-Pacific nations. If New Delhi aspires for regional leadership and influence, it has to recognise this and present itself as a willing partner in region-wide economic integration. If it isolates itself through protectionist rhetoric under the guise of self-reliance, it is likely to pay a heavy economic price and will render itself less relevant in Asian geopolitics.

 

Mohamed Zeeshan is editor-in-chief of Freedom Gazette. He has previously worked at the United Nations and his first book, “Flying Blind: India’s Quest for Global Leadership”, will be out soon.


A China e as obsessões anti-China da família presidencial - Ricardo Bergamini - Pedro Henrique Gomes (G1)

 Balança Comercial: Argentina e China saldo positivo para o Brasil de US$ 29.2 bilhões. Estados Unidos negativo de US$ 3,1 bilhões.

Ricardo Bergamini

1 – Até setembro de 2020 o Brasil exportou US$ 156,5 bilhões e importou US$ 114,3 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 42,2 bilhões.

 

2 – Até setembro de 2020 o Brasil exportou para a nossa inimiga China comunista US$ 53,4 bilhões e importou US$ 24,6 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 28,8 bilhões.

 

3 - Até setembro de 2020 o Brasil exportou para a nossa inimiga Argentina comunista US$ 5,9 bilhões e importou US$ 5,5 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 0,4 bilhão.

 

4 - Até setembro de 2020 o Brasil exportou para o nosso “amigo do peito” Estados Unidos US$ 15,2 bilhões e importou US$ 18,3 bilhões, gerando um saldo  na balança comercial negativo para o Brasil de US$ 3,1 bilhões.

 

5- Até setembro de 2020 a China e Argentina, inimigos comunistas do Brasil, deixaram um saldo positivo para o Brasil de US$ 29,2 bilhões, e o “amigo do peito” Estados Unidos um saldo negativo de US 3,1 bilhões.

 

Embaixada da China repudia postagem que Eduardo Bolsonaro publicou e depois apagou

 

Deputado disse que Brasil apoia aliança global para um 5G 'sem espionagem da China'. Segundo nota da embaixada, falas do filho do presidente caluniam país asiático.

 

Por Pedro Henrique Gomes

G1 — Brasília, 24/11/2020

Embaixada da China no Brasil chama de 'infundadas' postagens feitas por Eduardo Bolsonaro

 

A embaixada da China no Brasil afirmou em nota divulgada nesta terça-feira (24) que são “infundadas” e “solapam” a relação entre os dois países mensagens publicadas em uma rede social pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

 

O deputado escreveu na noite desta segunda-feira (23) — e depois apagou nesta terça — mensagem sobre o 5G, a internet móvel de quinta geração. Na mensagem, dizia que o governo brasileiro declarou apoio a uma “aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.

 

Brasil apoia proposta dos Estados Unidos contra a China no 5GA implementação da tecnologia 5G vuma disputa entre China e Estados Unidos. O governo norte-americano acusa as empresas chinesas de espionagem. A China diz que os Estados Unidos utilizam a questão da soberania nacional para prejudicar empresas chinesas.
“O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, escreveu Eduardo Bolsonaro na noite da segunda-feira (23).
Segundo o deputado, a aliança pretende proteger os países participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas.
“Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, disse Eduardo Bolsonaro. 

Em nota, a embaixada da China no Brasil afirmou que as declarações de Eduardo Bolsonaro seguem "os ditames dos Estados Unidos de abusar do conceito de segurança nacional para caluniar" o país asiático e cercear as atividades de empresas chinesas.

 

“Isso é totalmente inaceitável para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento. A parte chinesa já fez gestão formal ao lado brasileiro pelos canais diplomáticos”, diz o texto da embaixada.

 

De acordo com a nota, EUA buscam uma "hegemonia digital exclusiva" por meio de bloqueio à empresa chinesa Huawei.

 

“Os EUA têm um histórico indecente em matéria de segurança de dados. Certos políticos norte-americanos interferem na construção da rede 5G em outros países e fabricam mentiras sobre uma suposta espionagem cibernética chinesa, além de bloquear a Huawei visando alcançar uma hegemonia digital exclusiva. Comportamentos como esses constituem uma verdadeira ameaça à segurança global de dados”, complementou a embaixada.

 

Nesta terça, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi indagado por jornalistas sobre o assunto. Os repórteres perguntaram se o Brasil entrou na aliança Clean Network a fim de evitar a espionagem chinesa, como havia afirmado o deputado Eduardo Bolsonaro. Faria não quis responder. Disse apenas: “Liga para o Eduardo”.

 

O ministro deu a declaração depois de se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do relator na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) do edital do 5G e de conselheiros da agência. O órgão criará o edital para o leilão das ondas onde a rede operará.

 

Na disputa com a China pela 5G, EUA prometem investimentos no Brasil

 

Na nota, os representantes chineses também disseram que as falas do deputado são "infundadas" e "indignas" com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e que os fatos comprovam que a China é "amiga e parceira do Brasil" e que a cooperação entre os dois países "impulsiona o progresso e traz benefícios para os dois povos".

 

A embaixada disse que o governo chinês incentiva empresas chinesas a operar com base em ciência, fatos e leis e se opõe a qualquer tipo de especulação e difamação injustificada contra empresas chinesas.

 

Para a representação diplomática da China, as declarações de Eduardo Bolsonaro não refletem o pensamento da maioria da população brasileira e prejudicam a imagem do Brasil.

 

“Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema-direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, diz o texto.


Arte, Cultura e Civilização: ensaios para o nosso tempo - Valerio de Oliveira Mazzuoli, Gilberto Morbach (Organizadores); ensaio de Paulo Roberto de Almeida

 Este livro tem um ensaio meu: 



Arte, Cultura e Civilização: ensaios para o nosso tempo 
Valerio de Oliveira Mazzuoli, Gilberto Morbach (Organizadores)
Letramento, 2020
Sinopse
Arte, cultura, civilização. Esses três paradigmas, que informam e animam um ao outro, convidam à reflexão e à constante (re)construção e (re)interpretação de significados possíveis. A partir de um princípio de pluralismo, de multiplicidade de prismas e perspectivas - da Música, da Literatura, da Filosofia, da História, da Ciência Política, das Relações Internacionais, do Direito -, este livro pretende, em leveza e densidade, oferecer precisamente um convite ao leitor, o da busca existencial pela compreensão daquilo que somos, de onde viemos, para onde vamos e o que queremos ser. Arte, cultura e civilização serão articuladas em ensaios breves e dinâmicos pelo olhar de vários especialistas, engajados num universo próprio e distintivo de investigação que, ao mesmo tempo, dialoga com o fio condutor da narrativa: o mesmo espírito que coloca os autores em diálogo com o leitor verdadeiro.
Ficha Técnica
Código de barras: 9786586025873 
Dimensões: 23.00cm x 16.00cm x 1.40cm 
Edição: 1 Volume: 1
Editora: LETRAMENTO EDITORA
ISBN: 6586025877
ISBN13: 9786586025873
Ano de publicação: 2021


Minha colaboração:
3657. “Diplomatas brasileiros nas letras e nas humanidades”, Brasília, 30 abril 2020, 6 p. Ensaio resumido sobre os intelectuais brasileiros que se distinguiram nas letras e nos trabalhos de ciências sociais e humanas.

Colaboradores: 

Gilberto Morbach, Valério Mazzuoli, Amini Haddad Campos, Arnaldo Godoy, Sebastião Carlos Gomes, Dirceu Galdino Cardin, Dulce Osinski, Francisco Humberto Cunha Filho, Ines Soares, Marcilio Franca, Melina Fachin, Miriam Alves, Lenio Streck, Loiane Prado Verbicaro, Paula Bajer Fernandes, Paulo Cunha, Randal Pompeu, Rodrigo Toniol, Thelio Farias, Wladimir Wagner Rodrigues.

Carlos V: o maior imperador da Terra - Geoffrey Parker (Delanceyplace)

 Emperor: A New Life of Charles V by Geoffrey Parker.For most of the years after Spain reached the New World, America was part of the dominion of Emperor Charles V (1500-1558), and it was in this period that the first major extractions of gold and silver from the New World occurred, and were used by Charles to finance his wars of empire. His European dominion included areas roughly similar to what we now call the Netherlands, Spain, Germany and Austria-Hungary. Charles held more than 60 royal and princely titles, including Holy Roman Emperor, King of Castile and Aragon, and Archduke of Austria. His was the largest territory ever ruled by a European royal, and he was a Hapsburg, a family whose ruling dynasty dates from 1246 when the family took control of Austria. The throne of the Holy Roman Empire was continuously occupied by the Habsburgs from 1438 until their extinction in the male line in 1740 and after the death of Francis I from 1765 until 1806 with the dissolution of the Holy Roman Empire. It was succeeded by a house of distant relatives that styled itself as the House of Habsburg-Lorraine and which ruled the Austrian Empire and Austria-Hungary until the dissolution of the monarchy in 1918.

The expansion of the Hapsburg dominion under Charles V would not have been possible without the gold and silver of the New World, and one line of thinking holds that much of the wide and long-lasting dominion of the family is owed to those New World riches. Another line of thinking is that those riches were squandered:

"In the dedication to his triumphalist Hispania Victrix (Spain victorious) of 1553, Francisco López de Gómara informed Charles that 'The greatest event since the creation of the world, apart from the birth and death of its creator, is the discovery of America'; and, he added, 'no nation has spread its customs, language and arms, or travelled as far by land and sea, as the Spaniards', especially in such a short time.  The truth -- the second part of Gómara's claim is easily demonstrated. When Charles first set foot on Spanish soil, Castile's transatlantic possessions were confined to a few outposts on the isthmus of Panama and a few islands in the Caribbean, with a total area of some 250,000 square kilometres (about half the size of Spain) and a population of perhaps two million indigenous inhabitants, 5,000 Europeans and a few hundred African slaves. When the emperor abdicated forty years later, his possessions included not only the Caribbean islands but also two million square kilometres on the American mainland (four times the size of Spain), inhabited by perhaps ten million indigenous inhabitants and 50,000 Europeans, all of them incorporated into the Crown of Castile and treated (at least in theory) 'like vassals of our Crown of Castile, because that is what they are' as well as several thousand African slaves.

Map of America Diego Gutiérrez, active 1554-1569

"Government activity also increased rapidly. In the 1540s the viceroy of Mexico issued over 500 orders (mandamientos) each year to officials and individuals, half of them Spaniards, and in the 1550s the annual total approached 800.The church structure of the New World expanded in step from four bishops at Charles's accession, all reporting to the archbishop of Seville, to two independent ecclesiastical provinces at his abdication, with three archbishops and twenty-one suffragans, all of them appointed directly by the Crown, and informal outposts of the Inquisition, reporting to the inquisitor-general in Spain.

"As the Latin American historian Horst Pietschmann observed: 'The construction of a government structure in America proved perhaps the most successful venture that Charles ever undertook: Admittedly, as Pietschmann also noted, 'The emperor's copious correspondence with members of his family and his closest councillors scarcely contain any detailed references to America'; but there were three major exceptions. First came money. A few months after his proclamation as king in 1516, Charles ordered his regent in Castile to send 45,000 ducats 'from the money received from America' to Italy 'so that it can pay for our affairs of state there'; and throughout his reign he used gold and silver from America to pay for his imperial designs, especially expensive ventures such as the Tunis campaign in 1535 and the siege of Parma in 1551-2 (both of them funded in large part by treasure from Peru). A few weeks before his abdication in 1555, Charles's fiscal priorities remained undiminished: he ordered his regent in Castile to ensure that all the gold and silver available in Mexico should be embarked immediately and shipped to Spain to pay for his war against France.

"Charles also displayed a lifelong interest in exotic flora and fauna, perhaps stimulated by those he had seen while growing up in the Netherlands. Thus in 1518, from Valladolid, he thanked the officials of the House of Trade (the Casa de la Contratacion in Seville: the body that supervised all commerce with America) for 'the dispatch of two American turkeys and a parrot that belonged to King Ferdinand, which we have enjoyed', and requested that 'you should send me the birds and similar things that may come from America which, because they are exotic, I will enjoy'. Almost forty years later, from his retirement home in Extremadura, Charles raved about 'two bedspreads lined with feathers' from America sent to keep him warm, and ordered 'dressing gowns and sheets for his bedroom made of the same material'.

"Charles's third abiding interest in America concerned its population. In 1518 he signed a warrant granting one of his Burgundian councillors an eight-year monopoly 'to ship to America 4,000 Black slaves, both male and female, from Guinea or any other part of Africa'. A decade later he signed another contract, granting agents of the Welser company of Augsburg a similar monopoly to send another 4,000 African slaves to America over a period of four years in return for a payment of 20,000 ducats to the imperial treasury in lieu of import and customs duties. The contract specified that the slaves would work in gold mines -- indeed it instructed the Welsers to 'bring fifty German master miners from Germany' -- and the company vigorously prosecuted in the royal courts those who infringed their monopoly. Charles would grant many more licences to ship African slaves to America, in return for cash payments: the total number embarked rose from under 400 in the quinquennium 1511-15 to almost 4,000 in the quinquennium 1516-20, and the total shipped in the course of his reign exceeded 30,000.

"Ironically, this increase in the African slave trade reflected Charles's concern for America's indigenous inhabitants. Three months after arriving in Spain in 1517, he presided over a committee of leading advisers to consider (among other matters) an 'instruction for the well-being of the American Indians' written by Fray Bartolomé de Las Casas, who boasted extensive experience of the transatlantic colonies first as a settler and then as a missionary. The friar denounced in graphic terms the ruthless exploitation of the New World by those entrusted with its care, and called for major policy changes (including the decision to start shipping slaves from Africa, on the grounds that each one would save a native American from exploitation). He later claimed that his arguments had convinced Charles 'to see to the ordering of certain matters that redounded to the service of Our Lord and Ourselves, and the good of America and its inhabitants.'"

Emperor: A New Life of Charles V
 
author: Geoffrey Parker 
title: Emperor: A New Life of Charles V  
publisher: Yale University Press 
date: Copyright 2019 Geoffrey Parker 
page(s): 342-344

Mini-reflexão sobre os tempos que correm (ops, que escoam) - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre os tempos que correm (ops, que escoam)

Paulo Roberto de Almeida

No imediato seguimento da Grande Destruição lulopetista da economia, 2015-16 — quando caímos -3,8 e -3,5 no PIB e -10% na renda — eu imaginava que a recuperação se daria entre 7 e 10 anos. Superavit primário consistente, só ali por 2029, com sorte, e se tudo corresse bem no ajuste macroeconômico e nas reformas estruturais.

Agora, com a pandemia e a terra devastada sendo produzida atualmente, eu chuto a recuperação plena aí por 2032-33, com a mesma renda per capita de 2014!

Com a desvalorização voltamos a ficar pobres e, nas “comemorações” (se houver) do bicentenário em 2022, teremos a mesma renda de dez anos antes (ou mais).

Se isso não é retrocesso relativo e absoluto, encontrem-me um outro nome. 

Mais catastrófico, quero dizer. 

Depois da Grande Destruição de Dona Dilma, teremos o Grande Retrocesso do Grande Mentecapto, que vai deixar um rastro de devastação ainda pior do que a recessão lulodilmista: esta atingiu basicamente a economia e os empregos. Agora, estamos sendo invadidos por uma malta de reacionários anacrônicos (sic!; redundância autorizada), que além de destruírem as instituições, a cultura e a nossa autoestima, ainda atuam como “body snatchers”, roubando o cérebro de muita gente (muitos, com só dois neurônios, nem precisa muito esforço).

Meus caros: nem a catástrofe da Revolução Cultural de um Mao já demencial, causou tanto estrago...

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25/11/2020

terça-feira, 24 de novembro de 2020

TRF-4 extingue ação que cobrava R$ 6 trihões da China por pandemia - Conjur


1 PIB BRASILEIRO

TRF-4 extingue ação que cobrava R$ 6 trihões da China por pandemia

Revista Consultor Jurídico, 23 de novembro de 2020, 16h11


Os presidentes Jair Bolsonaro e Xi Jinping
Valter Campanato/Agência Brasil

 

Por unanimidade a 4ª Turma do Tribunal Regional da 4ª Região decidiu extinguir uma ação popular que pedia que o presidente da China, Xi Jinping, pagasse R$ 6 trilhões ao Brasil.

O pedido foi ajuizado por um advogado de Florianópolis sob a justificativa de que o país asiático, maior parceiro comercial do Brasil, deveria indenizar nosso governo pelos prejuízos provocados pela pandemia do novo coronavírus.

Na ação, o advogado argumenta que "existem provas de que o novo coronavírus teria sido fabricado em um laboratório chinês". Também aparecem como réus no processo o presidente da República, Jair Bolsonaro, o secretário especial de comunicação do governo brasileiro, Fábio Wajngarten, o Instituto de virologia de Wuhan, a OMS e as Forças Armadas da China.

Ao analisar a demanda, o colegiado entendeu que o pedido do autor não se insere dentro das possibilidades previstas pelo instrumento da ação popular.

Segundo caso
Não é o primeiro processo movido por um brasileiro que tenta responsabilizar a China pela pandemia do novo coronavírus no mundo. Em março, um contabilista de Rondônia ajuizou uma ação popular na Justiça Federal do Distrito Federal na qual exigia que a União obrigasse a China a arcar com prejuízos causados pela epidemia de Covid-19. O processo também foi extinto.

A solicitação foi feita com base no artigo 1º do Projeto da Comissão de Direitos Internacionais das Nações Unidas Sobre Proteção Diplomática. O dispositivo responsabiliza países por danos provocados por atos ilícitos.

"O governo brasileiro, utilizando dos seus recursos internos, vem sistematicamente promovendo os atos necessários a evitar que o povo brasileiro sofra maiores danos em decorrência da contaminação por coronavírus", dizia a peça.

Um estudo feito por cientistas dos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália concluiu que o novo coronavírus foi originado naturalmente por meio de seleção natural, e não em laboratório, como dizem algumas teorias que ganharam força no Brasil.

5008874-67.2020.4.04.7200
1015852-66.2020.4.01.3400

COMENTÁRIOS DE LEITORES

1 comentário

CIENTISTAS E OUTROS CIENTISTAS

Rejane G. Amarante (Advogado Autônomo - Criminal)

Cientistas afirmam que o vírus de Wuhan é natural. Outros cientistas afirmam que foi criado em laboratório, é sintético. Há um Biolaboratório em Wuhan. Um médico chinês foi perseguido e morreu, por tentar alertar o mundo, através das redes sociais, sobre um novo vírus mortal na China em DEZEMBRO de 2019. Um jornalista e também advogado chinês saía pelas ruas e locais públicos de Wuhan, filmando tudo e enviava pelas redes sociais. Desapareceu em fevereiro de 2020.
Os danos patrimoniais no mundo inteiro são enormes.
Os lucros que alguns setores e específicas empresas vêm auferindo COM A PANDEMIA são simplesmente suspeitos.

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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

G-20 fortalece agenda climática e OMS e amplia pressão sobre Brasil em 2021 - Jamil Chade (UOL)

 G-20 fortalece agenda climática e OMS e amplia pressão sobre Brasil em 2021


Jamil Chade
Colunista do UOL
22/11/2020 14h55

RESUMO DA NOTÍCIA
-Depois de três cúpulas de impasse em temas ambientais, G-20 consegue declaração final que cobra compromissos ambientais
-Ao lidar com pandemia, grupo aponta para o papel central da OMS e indica dinheiro para resposta global
-Documento final foi considerado por governos europeus como "vitória" e "retorno" do multilateralismo
-Trump e Bolsonaro eram dois dos principais opositores a dar maior espaço para coordenação internacional

O fortalecimento da OMS, a defesa do multilateralismo, a volta do compromisso ambiental e de que haja uma coordenação mundial para lidar com a pandemia. Com tais temas sobre a mesa, o G-20 tomou decisões e pautou o cenário internacional em 2021 com uma direção que irá aprofundar a pressão sobre a política externa de Jair Bolsonaro.

Nos últimos dois anos, o Itamaraty optou por se distanciar de organismos internacionais, insistindo que a prioridade era reforçar a soberania do país. O governo também passou a questionar ações e decisões de agências, como a OMS, e dar sinais de que seus compromissos com tratados internacionais não eram sólidos.

Nos temas ambientais, a postura do governo brasileiro passou a ser de críticas aos líderes estrangeiros, sem dar qualquer sinal do que estaria disposto a fazer para cumprir suas metas do Acordo de Paris.

Em parte, a atitude do Brasil era respaldada pelo governo de Donald Trump, claramente isolacionista e que passou a insistir em seu lema "America First". O impacto foi o  enfraquecimento de temas globais e da coordenação internacional.

Mas a cúpula das maiores economias do mundo, neste fim de semana, marcou o fim da presença internacional do americano e, segundo negociadores, houve uma clara determinação de várias delegações para estabelecer decisões que já fossem um espelho da esperança de que o governo de Joe Biden volte a favorizar a cooperação internacional.

Trump não saiu de cena sem causar polêmica. Em seu discurso no sábado, afirmou que esperava "trabalhar por muito tempo" ainda com os demais líderes, numa insinuação de que não aceita sua derrota nas eleições. Mas ele também usou o palco internacional para fazer um ataque violento contra o Acordo de Paris.

Negociadores comentaram que os demais líderes estavam comprometidos em manter a direção das conversas e minimizaram as declarações de Trump, preferindo insistir sobre o fato de que existe um compromisso de Biden com o Acordo de Paris.

O multilateralismo de volta e OMS fortalecida
Um dos pontos centrais da declaração final do G-20 reflete esse novo momento. O texto foi interpretado como uma busca por um fortalecimento da ideia do multilateralismo, duramente abalado pelo isolacionismo de Trump.

"Vimos sinais claros do G-20 de apoio ao multilateralismo", disse Mohamed Al Jadaan, ministro de Finanças saudita. A chanceler Angela Merkel apontou para a mesma direção, indicando como o multilateralismo saiu fortalecido da cúpula. No texto final, os governos ressaltaram "os importantes mandatos do sistema e agências das Nações Unidas, principalmente da OMS". A declaração fala sobre a necessidade de que a entidade passe.

No texto final, os governos ressaltaram "os importantes mandatos do sistema e agências das Nações Unidas, principalmente da OMS". A declaração fala sobre a necessidade de que a entidade passe por uma reforma para garantir maior transparência e eficácia. Mas deixa claro que a agência duramente criticada pelo Brasil e EUA tem um papel central na coordenação e apoio à resposta global à pandemia".

O fortalecimento das entidades internacionais é visto pelos ideólogos no Itamaraty como um sinal de uma onda "globalista" e que ameaçaria os interesses nacionais dos países.

O encontro ainda serviu para que a Europa anunciasse que, em 2021, vai querer usar a nova agenda internacional para propor um tratado global, com sede na OMS.

"Um tratado internacional sobre pandemias poderia ajudar a prevenir futuras pandemias e ajudar-nos a responder mais rapidamente e de uma forma mais coordenada", defendeu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

"Deveria ser negociado com todas as nações, organizações e agências da ONU, em particular com a OMS. A OMS deve continuar a ser a pedra angular da coordenação global contra as emergências sanitárias. Um Tratado sobre Pandemias poderia complementar os seus esforços", completou o europeu.

A Itália assume a agenda e presidência do G-20 em 2021 e, entre os objetivos, já indicou que vai defender uma solução multilateral para a pandemia.

Fim do impasse sobre o clima
Outro tema que saiu fortalecido do G-20 foi a questão climática. Nos últimos meses, o veto de Trump e a má vontade do Brasil em ver o assunto prosperar havia freado avanços mais significativos.

Nas últimas três cúpulas do G-20, o tema climático era alvo de um impasse e não pode entrar nas declarações finais. Agora, o comunicado final, a questão ambiental volta fortalecida. "Para reconstruir um mundo mais sustentável, inclusivo e resiliente, precisamos também intensificar as ações para combater as mudanças climáticas", defendeu Ursula van de Leyen, presidente da Comissão Europeia. "A UE lidera o caminho para a neutralidade climática até 2050 e muitos parceiros do G20 assumiram agora os mesmos compromissos", disse, ao final do encontro.

No texto final, os governos "reiteram o apoio para enfrentar os desafios ambientais prementes, tais como as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, à medida que promovemos o crescimento económico, a segurança energética e a proteção ambiental".

A declaração ainda indica que os signatários do Acordo de Paris "reafirmam o seu empenho na sua plena implementação, refletindo responsabilidades comuns mas diferenciadas e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais".

No texto, os governos se comprometem a manter seus compromissos assinados em Paris, inclusive o de que comunicar, estratégias de desenvolvimento a longo prazo para reduzir emissões de gases com efeito de estufa.

Coadjuvante
Para negociadores, a presença do Brasil na cúpula foi um reflexo de sua perda de relevância internacional. "De protagonista por anos, os brasileiros são hoje meros observadores em muitos dos temas, coadjuvantes", disse um diplomata estrangeiro envolvido há anos nas cúpulas do G-20.

O presidente Jair Bolsonaro não compareceu ao encerramento da cúpula do G-20, deixando seu lugar sendo ocupado na transmissão ao vivo para o mundo pelo chanceler Ernesto Araújo. O brasileiro tampouco tinha participado do debate público sobre pandemia e nem sobre mudanças climáticas.

Durante o evento final, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, fez questão de destacar qual será sua agenda para a presidência do G-20 em 2021. "Ninguém pode vencer os desafios globais sozinhos. Pandemia mostra isso", alertou.

Num recado claro contra países que optam pelo isolacionismo, ele ainda apontou que o "multilateralismo não é uma opção. "É o único caminho sustentável", completou.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/11/22/g20-fortalece-agenda-climatica-e-oms-e-poe-diplomacia-do-brasil-sob-pressao.htm

Brasil utiliza há mais de 60 anos criptografia de empresa que era controlada pela CIA - André Duchiade (Globo)

 Brasil utiliza há mais de 60 anos criptografia de empresa que era controlada pela CIA, revelam documentos


Registros encontrados por pesquisadores em arquivos brasileiros e americanos mostram que vários órgãos do Estado adquiriram equipamentos da Crypto AG. A última compra conhecida foi para o programa de submarinos convencionais; Marinha afirma que nunca teve motivos para suspeitar da companhia

André Duchiade
O Globo, 22/11/2020

Durante mais de seis décadas, dos anos 1950 a 2018, a empresa de criptografia suíça Crypto AG forneceu a 120 países do mundo aparelhos de comunicação secreta, sem nunca revelar que tinha vínculos com a CIA. Enquanto chefes de Estado, líderes militares e diplomatas trocavam mensagens de alta importância estratégica acreditando estar em sigilo, na verdade eram espionados por agentes americanos e, na maior parte do tempo, por seus parceiros alemães.

A Marinha, o Exército e o Itamaraty estiveram entre os clientes da empresa, mostram documentos inéditos descobertos por pesquisadores brasileiros e repassados ao GLOBO. Começando na década de 1950 e indo pelo menos até dezembro de 2019 — um ano depois de a Crypto AG mudar de mãos — órgãos de Estado do Brasil pagaram por equipamentos e serviços de comunicação secreta de uma empresa que, durante décadas, era na realidade controlada por serviços de inteligência dos Estados Unidos.

Alguns dos produtos da empresa adquiridos pelo Brasil entre 2014 e 2019 têm como propósito equipar os submarinos brasileiros do programa Prosub, atualmente em desenvolvimento. Descrito pela Marinha como “um dos maiores contratos internacionais já feitos pelo Brasil e o maior programa de capacitação industrial e tecnológica na história da indústria da defesa brasileira”, os submarinos podem estar vulneráveis à interceptação americana devido a dispositivos de comunicação propositalmente corrompidos.

‘O golpe do século’
A maioria das denúncias contra a Crypto AG foi publicada em fevereiro deste ano no Washington Post por Greg Miller, correspondente de segurança nacional do jornal, em parceria com a TV alemã ZDF. No texto chamado “O golpe de inteligência do século: por décadas, a CIA leu as comunicações encriptadas de aliados e adversários”, Miller conta como a empresa suíça Crypto Aktiengesellschaft (Crypto AG), a princípio privada, passou para o controle da Agência Central de Inteligência (CIA) e de sua homóloga alemã, o Serviço Federal de Inteligência (BND) .

Baseando-se em um relatório interno da CIA, Miller relata como, começando nos anos 1950, mas sobretudo a partir da década de 1970, estas agências, em parceria com a também americana Agência de Segurança Nacional (NSA), inseriram falhas ocultas nos códigos dos dispositivos para conseguirem ler mensagens criptografadas, ao mesmo tempo em que vendiam os aparelhos mundo afora.

Além de lidas, as mensagens eram frequentemente encaminhadas aos aliados mais próximos dos dois países. “Governos estrangeiros pagavam um bom dinheiro aos EUA e [ao que era então] a Alemanha Ocidental pelo privilégio de ter suas comunicações mais secretas lidas por pelo menos dois (e possivelmente cinco ou seis) países estrangeiros”, diz o documento da CIA. A Alemanha manteve-se sócia da empresa até 1992, quando, com receio de ser descoberta, abandonou a parceria.

As denúncias do Post comprovaram antigas suspeitas contra a Crypto AG. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, a Argentina convenceu-se de que mensagens secretas suas haviam sido decifradas por forças britânicas. Após um executivo da empresa suíça viajar para Buenos Aires, acabou persuadindo os argentinos de que o problema estava em um único equipamento desatualizado — conseguindo esconder que, na verdade, as informações foram entregues a Londres pelo governo Reagan.

Já em 1992, o Irã tomou uma atitude contra a empresa. Após anos de suspeitas, deteve um vendedor da companhia durante 9 meses, até o pagamento de um resgate. O caso levou atenção midiática à Crypto AG, e várias reportagens nos anos seguintes investigaram o seu envolvimento com o governo americano. Uma dessas matérias foi feita em 1995 pelo Baltimore Sun, e expunha parte do envolvimento da Crypto AG com a NSA. Segundo o Washington Post, isso reduziu muito o número de países que faziam negócios com a empresa, que se tornou deficitária.

Esses antecedentes não foram suficiente para impedir o Estado brasileiro de contratar serviços da Crypto AG. Pelo contrário, a Marinha continuou a comprar produtos da empresa a até menos de um ano atrás. Procurada, a força afirmou por escrito anteontem que “a Marinha do Brasil (MB) desconhece, oficialmente, alegações de comprometimento da qualidade ou da segurança dos equipamentos” por ela adquiridos.

A ligação da Crypto AG com o Brasil começou a ser mapeada por Vitelio Brustolin, professor de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, que convidou para ajudá-lo os colegas Dennison de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Alcides Peron, da Universidade de São Paulo (USP). Ao vasculhar arquivos no Brasil e nos EUA, o trio encontrou várias situações em que órgãos brasileiros adquiriram equipamentos da Crypto AG, analisadas em um artigo científico publicado na última semana.

Compras recentes
Os dados mais recentes envolvem a Marinha. Documentos no Portal da Transparência da CGU listam 27 despesas, com valores que chegam a R$ 1.371.826, pagas à Crypto AG entre 2014 e 2019. Nem todos detalham a que se referem os pagamentos, mas alguns especificam terem sido para a compra do dispositivo de criptografia HC-2650, assim como para softwares para o mesmo. Na maior nota, de 2015, o Comando da Marinha adquiriu 10 unidades do aparelho, ao custo de R$ 137.182 cada.

Segundo um anúncio da Crypto AG, o HC-2650 é uma “plataforma de criptografia universal compatível com todas as faixas de frequência (HF, VHF, UHF, SatCom) (...) O flexível HC-2650 é adequado para conexão com todas as redes militares e para tornar todas as redes de rádio seguras (...) Unidades deste tipo continuarão a ser usadas em muitas redes no futuro, porque são criptograficamente, eletricamente e mecanicamente extremamente robustas e oferecem a maior confiabilidade”.

Não se sabe onde todos os aparelhos adquiridos pelo Brasil são empregados nem se outros órgãos de Defesa os utilizam. Sabe-se que um destino dos dispositivos são os submarinos de propulsão convencional em desenvolvimento, que aparecem nominalmente listados em várias notas, incluindo uma de 25 de novembro de 2019, no valor de R$ 113.415,82, para atualização do software que opera no sistema do dispositivo HC-2650.

O Brasil constrói quatro submarinos convencionais. O primeiro deles, o Riachuelo, está no mar desde 2018 e tem o fim dos testes no mar previsto para o mês que vem. O seu sistema de comunicação pode estar corrompido e vulnerável à interceptação estrangeira antes de que ele possa começar a cumprir seu propósito de, segundo a Marinha, “elevar substancialmente a capacidade de resposta eficiente do Poder Naval frente ao enorme desafio de controle e proteção da ‘Amazônia Azul’, que encerra grandes reservas naturais e representa um terço da extensa fronteira do país”.

— Um submarino é uma arma estratégica. Um só submarino oculto cria um perigo para um adversário. Em algum momento, ele precisa se comunicar com a terra, e justamente nessa hora pode ser descoberto— afirmou Brustolin. —Se a sua comunicação pode ser interceptada e decifrada, se saberá o que o submarino irá fazer. Isso compromete toda a funcionalidade estratégica do equipamento.

Operação Condor
Além das descobertas relativas à Marinha, os pesquisadores identificaram o uso pelo governo brasileiro de dispositivos da Crypto AG décadas atrás. Na ditadura militar, de acordo com documentos do arquivo da Agência de Segurança Nacional americana, a NSA, o Brasil chegou a fornecer equipamentos da Crypto AG aos outros países envolvidos na Operação Condor (Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, com eventual participação de outros países).

“Todos os países pertencentes à organização Condor mantêm comunicações (...). O sistema de criptografia empregado pela Condor é um sistema de máquina manual de origem suíça entregue a todos os países da Condor pelos brasileiros e com a designação CX-52”, diz um documento. Como hoje se sabe que as máquinas sofreram interferência da NSA, os pesquisadores concluem que “isso prova que funcionários do governo americano estavam cientes dos sequestros, tortura e assassinatos realizados pelas ditaduras que participaram da Condor”.

No Arquivo Nacional, também foi descoberto um certificado de importação de 80 máquinas CX-52 e sete Hagelin B-621-b em 1971, adquiridas pelo Itamaraty diretamente da Embaixada da Suíça. Há ainda outros documentos do Itamaraty mencionando criptografia em 1965, 1960 e 1958.

A menção mais antiga foi encontrada no arquivo da NSA e data de 1955. Aponta que, naquele ano, o Exército brasileiro já era cliente da Crypto AG, e tinha interesse em comprar 500 máquinas criptográficas. A empresa não acreditava que uma encomenda tão grande pudesse ser atendida de uma vez. Àquela altura, a Marinha já dispunha de pelo menos 60 equipamentos. Segundo os pesquisadores, há fortes evidências de que a empresa suíça era então a única fornecedora de dispositivos de criptografia ao Brasil. O país planejou começar a importar equipamento americano, mas Washington barrou o plano.

No Arquivo Nacional, também foi descoberto um certificado de importação de 80 máquinas CX-52 e sete Hagelin B-621-b em 1971, adquiridas pelo Itamaraty diretamente da Embaixada da Suíça. Há ainda outros documentos do Itamaraty mencionando criptografia em 1965, 1960 e 1958.

A menção mais antiga foi encontrada no arquivo da NSA e data de 1955. Aponta que, naquele ano, o Exército brasileiro já era cliente da Crypto AG, e tinha interesse em comprar 500 máquinas criptográficas. A empresa não acreditava que uma encomenda tão grande pudesse ser atendida de uma vez. Àquela altura, a Marinha já dispunha de pelo menos 60 equipamentos. Segundo os pesquisadores, há fortes evidências de que a empresa suíça era então a única fornecedora de dispositivos de criptografia ao Brasil. O país planejou começar a importar equipamento americano, mas Washington barrou o plano.

Por fim, a Marinha disse que  “participa do desenvolvimento do RDS (Rádio Definido por Software) em conjunto com as demais Forças Armadas”, projeto que tem como objetivo o desenvolvimento de uma família de equipamentos de rádio. A Força acrescentou que “utiliza softwares e algoritmos próprios para a proteção de dados sigilosos”, sem especificar quais. O Ministério da Defesa não especificou se as outras Armas ainda são clientes da Crypto AG, mas disse que “as Forças Armadas zelam pela segurança das informações, tratando o assunto com todos os cuidados necessários”.

Em 2014, a Crypto AG “fortaleceu a sua presença na América Latina” com a abertura de um escritório na Barra da Tijuca, no Rio. Em 2015, ele era o único no Hemisfério Ocidental além de Zurique, e um dos únicos cinco do mundo. Não está claro até quando esta sede funcionou.

Em 2018, após ter sido deficitária por anos, a empresa foi desmembrada. As contas internacionais foram vendidas para Andrew Linde, um empresário sueco, que afirmou ao Washington Post que desconhecia os acionistas da Crypto AG — que nunca vieram a público — quando a adquiriu. O atual nome operacional da empresa é Crypto International AG, e é ela que oferece os produtos que eram do portfólio da Crypto AG.

No site da empresa, há uma advertência de que “a empresa foi fundada em 2018 e tem um proprietário diferente, uma administração diferente e uma abordagem diferente em comparação à Crypto AG (...) Nunca houve qualquer afirmação de que um equipamento vendido pela Crypto International AG foi manipulado”. Procurada pela reportagem, a empresa confirmou vender a plataforma HC-2650, adquirida pela Marinha, mas disse que não cita os seus clientes.

História e 5G
De acordo com os pesquisadores, as descobertas levantam questionamentos sobre episódios históricos e também sobre a segurança nacional no presente. Dennison de Oliveira se pergunta, por exemplo, se EUA e Alemanha espionavam a comunicação sigilosa brasileira em 1975, época do acordo nuclear com a Alemanha. O Brasil negociava com os dois países e, após enfrentar jogo duro americano, assinou um pacto com os alemães. Oliveira suspeita que “houve um conluio entre os dois países, a par de tudo o que acontecia do lado brasileiro, para empurrar um acordo péssimo”.

— Mas o programa nuclear é só um exemplo. A Operação Condor, comunicações relativas à Petrobras, à Embraer, ou a praticamente qualquer área da construção do Estado nacional, podem ter sido decisivamente impactadas pela espionagem eletrônica da Crypto.

Os pesquisadores se perguntam por que o Brasil foi um dos poucos países a continuar a comprar da companhia, após amplas denúncias públicas e ela ter sido deixada de lado por vários países. Brustolin afirma que a melhor alternativa do ponto de vista estratégico é uma tecnologia de criptografia produzida pelo Estado. Ele cita um centro de criptografia dentro da Abin, e diz que o seu desenvolvimento é viável.

O pesquisador aponta também uma consequência atual: os EUA pressionam o Brasil a não adotar a tecnologia 5G chinesa, acusando Pequim de adulterar os seus equipamentos para permitir espionagem. Brustolin se pergunta como essas acusações podem ser feitas por Washington, tendo em vista suas práticas de décadas.

— Quando veio ao Brasil, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA disse que a China adultera tecnologia para espionagem — afirmou. —Eu gostaria de saber se ele continuaria a dizer que a tecnologia de 5G americana é a mais segura. Denunciam muito a China, mas, até hoje, as únicas provas de equipamentos adulterados que temos são dos EUA. O governo brasileiro também precisa responder quais ações estão previstas no leilão para garantir que não haverá espionagem, qual solução oferecerá para esse problema. É importante termos consciência de que essa é uma discussão de soberania.

https://oglobo.globo.com/mundo/brasil-utiliza-ha-mais-de-60-anos-criptografia-de-empresa-que-era-controlada-pela-cia-revelam-documentos-24758960