O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A “verdadeira” história da invasão do Capitólio, segundo o Rasputin - Paulo Roberto de Almeida

 Abaixo, o que o guru presidencial, o Rasputin de Subúrbio tem a dizer sobre a “pequena arruaça” no Capitólio. Os dementes que seguem o louco sofista da Virgínia devem começar a repetir suas barbaridades, os bolsonaristas também. Temos o desgosto de viver num país de alucinados, mas eles também estão espalhados pelo mundo.

Paulo Roberto de Almeida

Copio de Juarez Campos:

“ Se vc não tem estômago (nem intestino) para acompanhar os posts do Olavo de Carvalho no Twitter, vale ler, abaixo, o resumo da versão dele (postado há pouco) sobre o ocorrido nos USA.

(1) a invasão que matou cinco pessoas foi uma "arruaça".

(2) a causa da invasão foi "a maior fraude de todos os tempos" (que não foi reconhecida nos mais de 60 processo judiciais e várias recontagens de voto).

(3) "o crime de alta traição foi protegido pelo Senado", (que não quis dar um golpe e referendou os votos do Biden), "com o apoio das Big Techs" (que cortaram o Twitter do Trump).

(4) "querem dar a impressão que a causa da violência foram umas palavrinhas inócuas do Trump".

É exatamente isso que pensam do Bolsonaro, Dudu, ao Ernesto Araújo e milhares de seguidores deles nas redes. Ah, e é a posição oficial do país no exterior, né?

Post completo:

"O mais lindo é que NINGUÉM lembra que a causa da arruaça no Capitólio foi a maior fraude eleitoral de todos os tempos, um crime de alta traição protegido pelo Senado e pela Big Tech. Todos querem dar a impressão que a causa da violência foram umas palavrinhas inócuas do Trump."


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Boletim da Liberdade atua CONTRA a liberdade: seu prêmio do ano é uma OFENSA à inteligência dos eleitores - Paulo Roberto de Almeida

 Como já disse várias vezes, ao ser um perfeito irreligioso, iconoclasta, anarquista, contra quaisquer partidos, religiões, times de futebol, agrupamentos e confrarias, eu não tenho adesão, respeito ou dependência de quaisquer grupos, movimentos, instituições ou correntes. Sou absolutamente livre, inclusive para ler, receber, dialogar com todas as tendências de opinião, da extrema-esquerda à extrema-direita, sem qualquer restrição, preconceito ou a-prioris. Se o interlocutor não for um sujeito de má-fé, um fanático irrecuperável ou um idiota consumado, eu mantenho conversas e intercâmbio. Só tenho alergia à burrice, atenção, não à ignorância dos ingênuos, mas à estupidez dos bem informados, mas que defendem posturas hipócritas e de má-fé.

Por isso mesmo, estou extremamente chocado com a iniciativa do Boletim da Liberdade, que já assinei, recebo e leio, mas do qual vou me afastar a partir de agora, pelo que se pode ler abaixo.

Não tenho nada contra um Prêmio da Liberdade, pois tudo é válido. Mas acredito que ninguém promoveria um "Prêmio à Escravidão", à Burrice, embora existam, e sabemos que funcionam, com certo sucesso de público, um "Darwin Award" (para os que ousam contrariar dados elementares da realidade) e um "Prêmio IgNobel", para os casos mais estúpidos de "invenções", "realizações" ou "descobertas", que continuam existindo, a despeito de tudo, numa humanidade repleta de idiotas.

Mas o Boletim da Liberdade desta vez exagerou. Eles proclamam orgulhosamente os nomes dos "candidatos" ao seu Prêmio do Ano, e eu considero que eles o fizeram estupidamente, com a seguinte justificativa: 

Trata-se de uma das principais premiações do meio pró-liberdade do Brasil e visa reconhecer e valorizar os esforços em defesa dos valores liberais no país.

Estou plenamente consciente de que se trata de votos dos assinantes e seguidores do Boletim, que são em maioria da direita burra (um pouco diferente dos editores do Boletim, que suponho devam sentir vergonha por uma boa parte dos seus leitores), bolsonaristas e outros reacionários e conservadores estúpidos, e não exatamente das preferências dos editores do Boletim. Mas, os editores do Boletim deveria ter VERGONHA de pretender anunciar os pré-escolhidos para o prêmio do ano, nestas categorias, e eu aponto alguns dos pré-escolhidos (há outros): 

Personalidade do Ano de 2020:

- Jair Bolsonaro (presidente da República)

Parlamentar do Ano de 2020:

- Bia Kicis (deputada federal - PSL/DF)

Organização do Ano de 2020:

- Brasil Paralelo

Pois bem, creio que esta minha postagem constitui minha ruptura com o Boletim da Liberdade, não por ser contrário à liberdade, ou por achar que eles não têm o direito de apoiar Bolsonaro, a direita-extrema, os reacionários, os estúpidos e os genocidas. 

Minha ruptura se dá por um único motivo: eu os enquadro na categoria dos estúpidos, não pelo fato promover o concurso, mas por terem coragem de apontar todos os dementes que são ANTI-LIBERDADE, para um prêmio que pretende promovê-la.

Sinto muito editores do Boletim da Liberdade: vocês exageraram no apoio a liberticidas, a idiotas crassos, a cretinos fundamentais (a frase é de Nelson Rodrigues, um reacionário lúcido), a genocidas (como é o presidente energúmeno), a deputados mentirosos e a uma iniciativa de mídia que coloca a ideologia na frente da verdade.

Vocês exageraram e demonstraram que são promotores da ANTI-LIBERDADE, perdendo, assim, a razão de ser. 

Eu me despeço de vocês, pois tenho alergia à BURRICE.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de janeiro de 2021

Caro Assinante,

Está aberto o processo de votação para a final do IV Prêmio Boletim da Liberdade.

Trata-se de uma das principais premiações do meio pró-liberdade do Brasil e visa reconhecer e valorizar os esforços em defesa dos valores liberais no país.

Como ocorrido em edições anteriores, caberá aos assinantes do Boletim a escolha final sobre quem merece ganhar cada uma das modalidades em jogo.

Nesta edição, há 3 modalidades. Confira, abaixo, os finalistas escolhidos em votação aberta pelos leitores:

Personalidade do Ano de 2020:

- Marcel van Hattem (deputado federal)
- Jair Bolsonaro (presidente da República)
- Arthur do Val (deputado estadual)

Parlamentar do Ano de 2020:

- Marcel van Hattem (deputado federal - NOVO/RS)
- Kim Kataguiri (deputado federal - DEM/SP)
- Bia Kicis (deputada federal - PSL/DF)

Organização do Ano de 2020:

- Partido Novo
- Brasil Paralelo
- Instituto Mises Brasil

Quem, na sua opinião, mais se destacou ao longo de 2020?

Você poderá votar até o dia 18 de janeiro (segunda-feira). Para isso, basta acessar a área do assinante ou clicar no botão amarelo, abaixo:
 
VOTE AGORA MESMO NO IV PRÊMIO BOLETIM DA LIBERDADE
Em caso de qualquer dúvida sobre a premiação, acesse este link ou fale conosco.

Não deixe de participar e deixar seu voto. Sua colaboração é fundamental para o Prêmio Boletim da Liberdade.

Atenciosamente,
Os Editores

PS: Caso sua assinatura não esteja com o pagamento em dia ou em vigor, o voto não será computado. No dia 19 de janeiro, os votos serão validados levando em consideração apenas assinaturas ativas.
Facebook
Website
Copyright © 2021 Boletim da Liberdade, All rights reserved.
Você está recebendo esse e-mail porque é um assinante do Boletim da Liberdade.

Our mailing address is:
Boletim da Liberdade
Av. das Américas, 500
Rio De JaneiroRj  22790-500

O Brasil, a China, os EUA e o 5G - Yang Wanming (embaixador da China em Brasília)

01:01:30 | 13/01/2021 | Economia | Folha de S.Paulo | Mundo | BR

EUA estão coagindo Brasil a sacrificar seus interesses ao vetar Huawei da rede 5G

    Yang Wanming

    Para embaixador chinês, Washington quer preservar monopólio e criar barreiras a emergentes ao pressionar para banir empresa

    Yang Wanming, 56

    Embaixador da China no Brasil desde 2018, já foi também embaixador na Argentina (2014-2018) e no Chile (2012-2014). Nascido em Pequim, tem mestrado em economia e doutorado em direito


    ENTREVISTA

    Patrícia Campos Mello

    O governo americano está coagindo países como o Brasil a sacrificarem seus próprios interesses ao vetarem a Huawei da rede 5G com o objetivo de "preservar o monopólio e a hegemonia dos EUA no campo da ciência e tecnologia", afirma o embaixador da China no país, Yang Wanming.

    Em entrevista por email à Folha, o diplomata criticou a campanha de Washington contra empresas chinesas e negou que as companhias de seu país compartilhem os dados com o governo de Pequim.

    "Certos políticos norte-americanos forjam mentiras sobre uma suposta espionagem cibernética chinesa para confundir e coagir outras nações a sacrificarem seus próprios interesses e criarem barreiras ao avanço de países em desenvolvimento na alta tecnologia", diz Yang.

    Segundo o embaixador, a China defende a proteção da segurança de dados de todas as nações, "diferentemente de certos países que gritam 'pega ladrão' enquanto agem como ladrões".

    Yang já se envolveu em mais de um bate-boca com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pelas redes sociais. Tanto o congressista quanto seu pai, o presidente Jair Bolsonaro(sem partido), são críticos do regime chinês e apoiadores do americano Donald Trump, que deu início a uma guerra comercial contra Pequim.

    Apesar disso, o diplomata chinês adotou uma posição conciliadora durante a entrevista. Indagado sobre possíveis retaliações econômicas contra o Brasil no caso de veto à Huawei, Yang disse apenas acreditar que Brasília vai respeitar as regras de mercado e que não vai tomar ações discriminatórias.

    O embaixador, porém, não respondeu a algumas das questões enviadas pela reportagem, incluindo perguntas sobre as críticas que o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, já fez ao governo chinês.

    Em relação às denúncias internacionais sobre repressão à minoria muçulmana uigur em Xinjiang (região no noroeste da China), o diplomata afirmou que são "mentiras fabricadas" por políticos americanos.

    *

    Por que seria do interesse do Brasil não barrar a Huawei de sua infraestrutura 5G? De que forma isso seria benéfico para os consumidores e para as operadoras de telefonia brasileiros? 

    A tecnologia 5G é uma importante alavanca para a inovação tecnológica e atualização industrial, além de ser essencial para aumentar a competitividade nacional. É crucial, para qualquer país, a escolha de equipamentos de 5G avançados, seguros e de ótimo custo-benefício. A Huawei, que é o maior fornecedor mundial de equipamentos de telecomunicação e líder no 5G, oferece produtos competitivos. As soluções 5G da Huawei estão, pelo menos, um a dois anos à frente das de seus concorrentes.

    No que diz respeito à confiabilidade, a Huawei construiu mais de 1.500 redes de telecomunicações no Brasil e em outros 170 países e territórios, atendendo a mais de um terço da população global, e não teve, sequer, um único incidente de segurança cibernética. Aliás, nenhum país consegue apresentar prova que indique a existência de uma suposta "backdoor" [espécie de saída nos equipamentos que, supostamente, permitiria acesso completo aos dados trafegados pela rede] em produtos da empresa.

    Com 22 anos de atuação no Brasil, a Huawei criou mais de 16 mil postos de trabalho, mantém boa cooperação com nada menos de 500 empresas brasileiras e fornece equipamentos a quase metade das redes de telecomunicação e 40% da rede de base do país, atendendo a 95% da população brasileira. Seus produtos e serviços são altamente reconhecidos pelo mercado.

    Segundo os cálculos da Feninfra (Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática), banir a Huawei demandaria um custo adicional de R$ 100 bilhões, atrasaria a implementação do 5G por três anos e causaria perda de 2,2 milhões de empregos.

    Como a China pode garantir que não haverá compartilhamento de dados entre a Huawei e o governo chinês, se a legislação da China prevê isso? 

    A Huawei é apenas um fabricante de equipamentos e não trabalha com serviços de informação. É como a relação entre a estrada e o carro. A Huawei construiria apenas as estradas e não teria como saber que carros circulariam nessas estradas e quem transportariam.

    Evidentemente, é legítimo que os países se preocupem com a segurança cibernética. No entanto, os critérios sobre a confiabilidade dos equipamentos do 5G devem se basear em fatos, testes e regulamentações. O governo chinês segue à risca os princípios sobre a proteção da segurança de dados. Nunca exigiu e jamais exigirá que as empresas da China forneçam dados obtidos fora das fronteiras, violando a legislação de outros países.

    Além disso, defendemos uma melhor governança global do ciberespaço, com regras abertas e transparentes para uma proteção efetiva da segurança de dados de todas as nações, diferentemente de certos países que gritam "pega ladrão" enquanto agem como ladrões, além de se ocuparem em fabricar difamações. A China propôs a Iniciativa Global sobre Segurança de Dados, que se opõe ao uso da tecnologia de informação para roubar dados essenciais e prejudicar a privacidade individual. A Iniciativa também é contra o abuso dessa tecnologia na vigilância em massa de outros países e veta qualquer dispositivo de backdoors em produtos e serviços.

    A Huawei também se colocou à disposição dos países parceiros para assinar acordos contra backdoors, além de estabelecer centros de avaliação de segurança cibernética em qualquer lugar. Creio que a Huawei, com abertura e transparência, está pronta para dialogar com todos os setores do Brasil e encontrar maneiras de atender às preocupações brasileiras através de testes ou acordos.

    Certos políticos norte-americanos forjam mentiras sobre uma suposta espionagem cibernética chinesa para confundir e coagir outras nações a sacrificarem seus próprios interesses e criarem barreiras ao avanço de países em desenvolvimento na alta tecnologia. O seu objetivo é preservar o monopólio e a hegemonia dos Estados Unidos no campo da ciência e tecnologia.

    A comunidade internacional está ciente dessas intenções escusas. Portanto, são poucos os governos que vetaram publicamente a tecnologia chinesa do 5G [Austrália, Nova Zelândia, Japão, Taiwan e os EUA vetaram a Huawei e irão retirar equipamentos da companhia de sua infraestrutura; o Reino Unido baniu a empresa de algumas partes da infraestrutura]. Mesmo que quando aconteceu, tais decisões foram tomadas, em grande medida, por coação dos Estados Unidos e encontraram forte resistência nos seus próprios países.

    O governo brasileiro, por meio do ministro Ernesto Araújo, anunciou apoio à iniciativa Clean Network do Departamento de Estado dos EUA. A iniciativa, segundo o secretário de Estado Mike Pompeo, visa a "proteger os ativos das nações incluindo a privacidade dos cidadãos e a informação mais sensível de invasões agressivas de atores malignos, como o Partido Comunista Chinês". Uma vez que o Brasil apoia a iniciativa, quais são os efeitos? 

    [O diplomata não respondeu.]


    Os Estados Unidos ofereceram financiamento às operadoras brasileiras para comprarem equipamento 5G da Ericsson e Nokia. A China oferece algum tipo de financiamento para instalação de equipamentos Huawei?

    China e Brasil mantêm, no setor de financiamento, uma cooperação de grande escala, vasta abrangência e ampla diversificação. Além das opções comerciais, existe, entre os dois países, um grande número de mecanismos de investimento e financiamento nos âmbitos bilateral, regional e multilateral. Podemos citar, como exemplos, a linha de crédito que a China destina à América Latina com US$ 35 bilhões, o Fundo de Cooperação Brasil-China para a Expansão da Capacidade Produtiva com US$ 20 bilhões, além dos instrumentos disponibilizados pelo Novo Banco de Desenvolvimento e pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura. O lado brasileiro pode escolher a melhor alternativa de financiamento conforme suas necessidades.

    Gostaria de salientar que o governo chinês nunca colocou nem jamais colocará requisitos exclusivos contra empresas de um outro país como condições para conseguir apoio financeiro. Exigimos também que os Estados Unidos deixem de abusar das medidas discriminatórias e que respeitem de fato os princípios da economia de mercado e da concorrência leal, assim como as regras que regem o comércio e os investimentos internacionais.

    A Austrália baniu a Huawei do 5G e está pedindo uma investigação internacional sobre a origem do coronavírus. Neste ano, a China restringiu ou impôs tarifa sobre importações de carvão, cevada, quatro plantas de processamento de carne, abriu investigação antidumping sobre o vinho australiano e desaconselhou turismo e estudos no país. Não foi atingida a exportação de minério de ferro âa China depende da Austrália para esse fornecimento. Que ensinamento podemos tirar disso? 

    [O diplomata não respondeu.]


    Em uma perspectiva histórica, em comparação com os governos brasileiros anteriores, como é a relação da China com a administração do presidente Bolsonaro? 

    Ao longo dos 46 anos de relações diplomáticas, o relacionamento bilateral vem amadurecendo e se consolidando. Nos últimos dois anos, a relação sino-brasileira manteve um crescimento estável. Em 2019, a troca de visitas dos dois presidentes colocou a Parceria Estratégica Global entre os dois países em um novo patamar. Ao longo de 2020, os dois chefes de Estado mantiveram o diálogo por telefone e por correspondências e alcançaram importantes consensos sobre a parceria no enfrentamento da Covid-19 e o aprofundamento da cooperação bilateral no pós-pandemia.

    A China valoriza muito a amizade com o Brasil e está firme e permanentemente disposta a aprofundar as relações bilaterais. A China respeita plenamente a soberania nacional e a integridade territorial do Brasil e nunca interferiu nem interferirá nos seus assuntos internos. Os dois lados sempre se respeitaram e compreenderam um ao outro em questões de interesse vital.

    Olhando para a era pós-pandemia, China e Brasil, os maiores países em desenvolvimento dos hemisférios oriental e ocidental, compartilharão cada vez mais interesses e demandas no processo de ajustamento da ordem internacional. Junto com o governo e toda a sociedade civil do Brasil, a China está disposta a levar adiante as relações bilaterais e fortalecer a comunicação em agendas como o multilateralismo e o livre comércio. Vamos trabalhar em conjunto para melhor defender a igualdade e a justiça, a ordem internacional baseada em regras, assim como os interesses comuns dos mercados emergentes e das nações em desenvolvimento.

    Até 2018, o investimento externo chinês foi o que mais cresceu no Brasil. A dificuldade política com o governo brasileiro pode atrapalhar a lógica das decisões empresariais chinesas e eventualmente levar a redução no investimento? E restrições à Huawei podem levar a mudanças na lógica de investimentos no Brasil? 

    China e Brasil são parceiros estratégicos globais. É explícita e consistente a disposição chinesa de aprofundar a confiança política com o Brasil e expandir a cooperação bilateral em todos os campos. A China é um dos principais investidores do Brasil, com um volume de aportes em rápida ascensão. Essa realidade é definida pela natureza complementar da parceria bilateral e pelas respectivas demandas de desenvolvimento. Em termos cumulativos, a China tem no Brasil um investimento de quase US$ 80 bilhões em uma ampla gama de setores como agricultura, energia e mineração, infraestrutura, telecomunicações e manufatura, criando mais de 40 mil empregos diretos.

    Apesar dos impactos da pandemia, os investimentos chineses no Brasil conheceram novos avanços em 2020. Em novembro passado, um consórcio formado por empresas chinesas assinou o acordo com o governo do estado da Bahia sobre o projeto da ponte marítima Salvador-Itaparica. A obra terá um investimento de R$ 8,9 bilhões e será a maior ponte marítima da América Latina. Isso demonstra que a cooperação sino-brasileira em investimentos traz benefício para ambos os lados e tem um grande potencial, servindo como um propulsor da retomada econômica do Brasil. A China não vai fazer ingerências em nenhum país na sua escolha de parceiros do 5G. Acreditamos que o Brasil criará, com base nos fatos, regras de mercado e ambiente de negócios abertos, imparciais e não discriminatórios para todos.

    O chanceler Ernesto Araújo frequentemente se refere ao coronavírus como "comunavírus". Como o senhor vê esse posicionamento? 

    [O diplomata não respondeu.]


    O FMI prevê que a China deve encerrar o ano de 2020 com crescimento de 1,9%, enquanto a maioria dos países do mundo terá encolhimento do PIB. Qual é a explicação para essa recuperação econômica? 

    Essa recuperação se deve, principalmente, a dois fatores. Por um lado, como o primeiro país a ser atingido pela Covid-19, a China adotou as medidas de contenção mais abrangentes, rigorosas e minuciosas, sempre valorizando o povo e sua vida. Conseguimos controlar efetivamente a propagação da doença no menor tempo possível, graças a testagem massiva e ao rastreamento do elo de transmissão. Tudo isso criou condições necessárias para a retomada de trabalho e produção, assim como a volta à normalidade da sociedade.

    Por outro lado, diante das mudanças nas condições internas e externas, a China reforçou a regulação da macroeconomia e adotou políticas fiscais e monetárias que visam mitigar as dificuldades e estimular o dinamismo do mercado. Por exemplo, emitir títulos especiais do tesouro nacional para o enfrentamento da pandemia para ampliar o consumo e o investimento. Reduzir os custos operacionais das empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, através da desoneração de encargos sociais e do fortalecimento de suportes financeiros. Aumentar o investimento para apoiar projetos essenciais para a qualidade de vida, tais como aplicações do 5G, redes de informação e veículos movidos a novas energias.

    De acordo com as estatísticas, no terceiro trimestre, a economia chinesa cresceu 4,9% sobre o mesmo período do ano passado, e crescerá ainda mais no quarto trimestre, tornando a China o único país, entre as principais economias do globo, a registrar crescimento em 2020. O 14º Plano Quinquenal da China entrará em vigor em 2021. Esse plano terá como ponto principal a expansão da demanda interna, o fortalecimento da ciência e inovação e a ampliação da abertura ao exterior, construindo, assim, um novo paradigma de desenvolvimento em que a circulação doméstica será o esteio e as circulações doméstica e internacional se reforçarão mutuamente. Nos últimos 13 anos, a China respondeu, em média, por mais de 30% do crescimento da economia mundial. Seguindo esse novo conceito de crescimento, a China permanecerá como motor da economia global e criará oportunidades para o Brasil e os demais países.

    Em 2020, a China absorveu 33,4 % das exportações brasileiras, diante de 29,2% em 2019, e foi responsável por 66% do nosso superávit comercial. O Brasil depende excessivamente da China, e deveria diversificar seus clientes? 

    A pandemia atingiu duramente o comércio internacional e entre os dez principais parceiros comerciais do Brasil, a China é o único que registra crescimento no seu comércio com o país, mantendo, dessa forma, a posição de maior parceiro comercial e maior importador do Brasil por 12 anos consecutivos. Não foi fácil conseguirmos esse resultado, que não só trouxe receitas fiscais para o governo, como empregos para a sociedade e lucros para as empresas. Pode haver alguém que interprete isso como uma excessiva concentração das exportações brasileiras. Mas vejo nele a resiliência e o vigor da parceria comercial entre os dois países. A estrutura do comércio sino-brasileiro é ditada pelas vantagens comparativas dos dois países e pela oferta e procura do mercado.

    Hoje, a China é o maior parceiro comercial de mais de 130 países e territórios. Isto é em parte devido à forte procura interna da China. Temos uma população de 1,4 bilhão de pessoas, entre elas uma classe média de 400 milhões. Trata-se do maior mercado consumidor do mundo. O verdadeiro desafio que temos pela frente no comércio bilateral não é que esse comércio cresça demais em volume, mas que continue sem explorar seu pleno potencial. Vale lembrar que o comércio sino-brasileiro representa apenas 2,6% do total das importações e exportações da China. Gostaríamos de ver mais produtos de qualidade e de alto valor agregado do Brasil no mercado chinês, promovendo, assim, a diversificação da pauta de exportação brasileira.

    Existe uma corrente de pensamento de que o Brasil não precisa temer retaliações da China se banir a Huawei do 5G, porque a China depende da soja brasileira para sua segurança alimentar e não tem alternativas. A China tem uma dependência excessiva da soja brasileira? A China está discutindo com a Argentina aumento de produção e exportação de soja? Está desenvolvendo parcerias para aumentar a produção de grãos na África, em países com savana? 

    No agronegócio bilateral sino-brasileiro, que é mutuamente benéfico, há uma interdependência entre produtores e consumidores de ambos os países. As exportações brasileiras de itens agropecuários para a China aumentaram mais de 34% no ano passado e foram a principal fonte do superávit do comércio exterior do Brasil. Isso indica que a parceria nesse setor é altamente complementar e ainda tem um grande potencial a explorar.

    No longo prazo, a demanda por produtos agrícolas de qualidade e por alimentos processados crescerá continuamente no mercado chinês. Para assegurar um abastecimento seguro e estável de alimentos, a China tem se esforçado para aumentar a produtividade agrícola e fortalecer a capacidade de autossuficiência, ao mesmo tempo que procura diversificar a origem das importações. Com os esforços conjuntos, a parte chinesa espera promover a diversificação da pauta do comércio bilateral e construir uma parceria de agronegócio de longo prazo que traga segurança e confiabilidade. Além disso, vamos criar uma atmosfera favorável para a cooperação bilateral em vários campos e dar apoios institucionais mais propícios ao ambiente de negócios.

    O que muda na ordem global após a pandemia de Covid-19e a eleição de Joe Biden nos EUA? 

    O impacto da pandemia na conjuntura internacional é profundo, sistêmico e de longo prazo. Atualmente, a economia mundial encontra-se em grave retração e, nesse contexto, surgiu uma contracorrente que defende o unilateralismo, o protecionismo e a desglobalização. Diante desses riscos e desafios jamais vistos, o que precisamos agora é fortalecer a união em vez de criar divisões, focar no consenso em vez de fomentar confrontos, e levar adiante a cooperação em vez de provocar o conflito. Só uma comunidade de futuro compartilhado poderá promover e proteger realmente os interesses de todos nos quesitos de segurança, saúde e desenvolvimento.

    Evidentemente, o atual sistema de governança global ainda tem deficiências, mas o problema não será sanado com o simples abandono da governança e o retorno à era da "lei da selva". Em vez disso, devemos nos engajar em reformas necessárias e consultas abrangentes a fim de reforçar a autoridade e a eficiência dos organismos multilaterais. Precisamos reduzir a divisão Norte-Sul e defender os legítimos direitos e interesses dos países em desenvolvimento e das economias emergentes.

    Maiores economias do mundo e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China e Estados Unidos têm diferentes percursos históricos, culturas, sistemas sociais e vias de desenvolvimento, mas partilham amplos interesses comuns e um vasto espaço de cooperação. A evolução estável desse relacionamento traz benefícios aos povos dos dois países e do mundo inteiro. A política externa da China para com os Estados Unidos tem sido sempre clara e coerente. Com o espírito de não-conflito, não-confrontação, respeito mútuo e cooperação ganha-ganha, a China está disposta a trabalhar com os Estados Unidos para focar na cooperação, gerenciar as divergências e desenvolver as relações de forma sadia e estável. Com isso, podemos conduzir, de forma mais proativa, os esforços para modelar a ordem mundial no pós-pandemia e para aperfeiçoar a governança global.

    O presidente eleito Joe Biden, em seu programa de governo, prevê que um de seus primeiros passos será realizar uma "cúpula global para a democracia" em seu primeiro ano de governo para confrontar países não democráticos. Em outras palavras, uma aliança anti-China. Como o senhor vê isso? 

    [O diplomata não respondeu.]


    O presidente Jair Bolsonaro afirmou no ano passado que a vacina chinesa não transmite segurança "pela sua origem", que a Coronavac não tem "credibilidade". A vacina Sinovac-Butantan é confiável? 

    O governo chinês orienta os laboratórios a seguir rigorosamente padrões científicos e exigências regulatórias para desenvolver pesquisas e estudos, com o objetivo de comprovar a segurança e a eficácia das vacinas. As parcerias internacionais nesse campo também devem ser realizadas em conformidade com as normas internacionais e a legislação vigente. Vários imunizantes chineses foram testados em ensaios clínicos de fase 3 em diversos países e obtiveram resultados tão promissores que já conseguiram a aprovação do registro para o uso por autoridades sanitárias de alguns países. A China aderiu à plataforma Covax e vai honrar o compromisso de tornar as vacinas chinesas um bem público global, uma vez colocadas em uso clínico. Será a contribuição chinesa para garantir a disponibilidade e o preço acessível do imunizante nos países em desenvolvimento.

    Segundo a ONU e outros órgãos, há uma política sistemática de perseguição à minoria muçulmana uigur em Xinjiang, com "desaparecimentos", prisões e campos de reeducação. O Alto Comissariado da ONU afirmou que não conseguiu ter "acesso total" à província para poder avaliar a situação. Por que não houve esse acesso? 

    Você deve estar se referindo às mentiras relacionadas a Xinjiang fabricadas por certos políticos dos EUA usando a plataforma da ONU. Gostaria de esclarecer que nunca houve qualquer tipo das chamadas "perseguições sistemáticas" ou "campos de reeducação" em Xinjiang. Essas afirmações sem fundamento são desculpas para que certos países ocidentais ataquem a China sob o pretexto da religião e dos direitos humanos, com o objetivo de desestabilizar Xinjiang e desacreditar a imagem da China.

    Tal como o Brasil, a China é um país multiétnico e multirreligioso. A Constituição chinesa garante os direitos legítimos de todos os grupos étnicos e veta qualquer forma de discriminação étnica. Xinjiang é a maior região autônoma da China em extensão territorial e em percentagem de população de minorias étnicas. O governo central dá grande valor à estabilidade e ao progresso dessa região. Em resposta aos recorrentes casos de violência e atentados terroristas em Xinjiang nos últimos anos, foram adotadas várias iniciativas de combate ao terrorismo e desradicalização, como a abertura de centros de educação e formação profissional, com o objetivo de capacitar pessoas atingidas pelo extremismo a se reintegrarem na sociedade. Durante os quase quatro anos da implementação dessas medidas, não se registraram mais incidentes graves de violência na região. Isso não só trouxe uma melhora significativa da segurança regional, como também contribuiu de maneira notável para o combate internacional ao terrorismo.

    Desde o final de 2018, mais de 1.000 pessoas de 90 nacionalidades, entre elas diplomatas, funcionários de organizações internacionais, jornalistas e figuras religiosas visitaram Xinjiang. Portanto, as questões relacionadas a Xinjiang não são do cerne étnico, religioso ou de direitos humanos, mas dizem respeito a ações contra a violência, o terrorismo e o separatismo. Certos políticos nos Estados Unidos ignoram os fatos, atacam a política do governo chinês para com Xinjiang e distorcem a situação dos direitos humanos na região. Fazem isso para desacreditar os esforços da China no combate ao terrorismo, numa tentativa de minar o direito do povo local de viver em paz. Repudiamos essa atitude. No entanto, gostaria de deixar o convite a você e aos amigos brasileiros da imprensa para ir a Xinjiang e descobrir a verdade com seus próprios olhos.


    Wang Yi, ministro das relações exteriores da China, disse em maio sobre a postura mais assertiva dos diplomatas chineses: "Nós nunca começamos uma briga ou fazemos bullying, mas nós temos princípios e coragem. Nós vamos reagir a qualquer insulto deliberado para defender de forma resoluta nossa honra e dignidade nacional". No Brasil, existe um aumento de críticas ao governo chinês e de declarações sinofóbicas. O senhor pretende continuar respondendo de forma assertiva? 

    [O diplomata não respondeu.]


    O senhor foi recebido em audiências por ministros brasileiros nos últimos 30 dias? Por quais? 
    [O diplomata não respondeu.]

    terça-feira, 12 de janeiro de 2021

    Amazonas e 5G: dois temas candentes para o Brasil e para sua política externa - Rubens Barbosa

    AMAZONAS E 5G

     

    Rubens Barbosa

    O Estado de S. Paulo, 12/01/2021


    Cada vez mais, todos os países terão de lidar com os impactos sobre sua economia de decisões tomadas no exterior e sobre as quais não têm influência. Novas prioridades globais, como a preocupação com o meio ambiente, a mudança de clima e a desigualdade social terão influência sobre políticas internas dos países.

                Incertezas e desafios internos e externos serão, assim, as realidades para o Brasil em 2021. Além das políticas e reformas estruturais, duas questões serão cruciais para definir projeções mais positivas de crescimento econômico do país na década que se inicia: a ratificação do acordo do Mercosul com a União Europeia (UE) e a decisão sobre a implantação da tecnologia 5G.

    A assinatura do acordo de livre comércio com a UE, bem assim sua ratificação ficarão na dependência da percepção externa sobre o cumprimento pelo Brasil dos compromissos assumidos nos acordos de meio ambiente e mudança de clima assinados desde 1992 e sobre a fiscalização e repressão de ilícitos no desmatamento, nas queimadas e no garimpo na Amazônia. Mais recentemente, a UE comunicou aos países membros do Mercosul, como condição para levar adiante o acordo, sua intenção de assinar uma declaração conjunta anexada ao acordo definindo compromissos ambientais e sociais dos dois blocos para reforçar a confiança dos países europeus quanto a posição do Mercosul, em especial do Brasil, sobre a Amazônia. Em 2021, deverão ocorrer duas importantes reuniões relacionadas com o Acordo de Paris sobre mudança de clima em Glasgow na Escócia e sobre Biodiversidade, na China, o que abre oportunidades para o Brasil mostrar os avanços no que se refere à Amazônia. Argentina no primeiro semestre e Brasil no segundo semestre terão de atuar  fortemente junto às lideranças políticas e os parlamentos para fazer com que o acordo possa ser assinado e ratificado.

    No tocante à tecnologia 5G, o Brasil está na incomoda posição de ter-se colocado entre os EUA e a China na crescente confrontação estratégica entre as duas maiores economias do mundo e seus dois maiores parceiros comerciais. A disputa entre as duas superpotências pela hegemonia econômica, comercial e tecnológica global continuará pelas próximas décadas e ganhará novas características a partir de janeiro com o governo Biden. Como a confrontação não tem as mesmas características ideológica e bélica da disputa entre EUA e a União Soviética, a  importância da parceria comercial com a China por parte de muitos países fez com que  a UE concluísse as negociações de um significativo acordo de investimento com Beijing, na contramão do que propõem os EUA. Sem tomar partido de um lado ou de outro no tocante à definição da tecnologia 5G, mais da metade das maiores economias globais já adotou a tecnologia chinesa, enquanto há ainda um número elevado de países desse grupo sem decisão formada sobre o assunto. A Alemanha chegou até a passar no Parlamento uma lei de segurança de redes que permite o uso da tecnologia da Huawei em redes 5G em troca de garantias da empresa chinesa sobre a proteção de informações em seus equipamentos. Para o Brasil, a tecnologia 5G será importante, especialmente para permitir a modernização da indústria cujo desenvolvimento ficou afetado pelas dificuldades econômicas internas e pela perda da competitividade. Apenas 10% da indústria brasileira pode ser considerada no estágio da quarta revolução industrial (4.0). As redes particulares propiciadas pela 5G facilitarão o processo de recuperação e atualização da indústria local com beneficio para a economia, o emprego e as exportações nacionais.

                O atual governo terá a responsabilidade de adotar medidas que sejam vistas como adequadas e com resultados concretos na politica ambiental e de mudança de clima para permitir a ratificação do acordo de livre comércio com a UE. Caso contrário, a crescente demanda dos governos, mas agora também do setor privado, em especial grandes companhias e instituições financeiras, e dos consumidores sobre a preservação da Amazônia acarretará medidas contrárias aos interesses nacionais. Restrições às exportações e boicotes de produtos brasileiros e prejuízos pela suspensão de financiamento em projetos de interesse do governo. Uma decisão baseada em considerações ideológicas e geopolíticas, no caso do 5G, terá consequências nefastas para o pais a médio prazo pelo atraso de dois a três anos na utilização de uma tecnologia que vai revolucionar o mundo e pelo custo de milhões de dólares que a mudança da infraestrutura existente acarretaria para as empresas de telecomunicação e para os consumidores. 

    Não levar em conta essas realidades será afetar as perspectivas de desenvolvimento econômico, de re-industrialização do país e de avanços na inovação e na tecnologia, agravando ainda mais as condições sociais domésticas e dificultando um posicionamento relevante do Brasil no mundo, o que deveria ser de nosso interesse.

    A invasão insurrecional do Congresso em Washington deverá ter forte impacto na política interna de países onde o nacional populismo pode ameaçar as instituições, colocando em risco a democracia. A politica ambiental de Joe Biden deverá ter consequências concretas sobre o Brasil.

     

     

    Rubens Barbosa, presidente do IRICE

     

     

    Em cúpula sem o Brasil, europeus falam em fechar mercados para quem desmata - Jamil Chade (UOL)

     Este "isolamento" do Brasil, um verdadeiro "cordão sanitário" em volta do país e do seu presidente e chanceler, é um enorme banho de água fria, um gigantesco sinal de que estamos, sim, isolados do mundo, condenados ao corredor dos infectados, como os antigos leprosários medievais.

    A notícia é muito mais importante do que parece, e vai ter repercussões gravíssimas para o país. Querem achar os culpados? Eles são principalmente três, JMB, EA, RS, mas tem muito milico burro, muito nacionalista beócio nessa história também. Todos eles são culpados por afundar o Brasil.
    Paulo Roberto de Almeida

    Em cúpula sem o Brasil, europeus falam em fechar mercados para quem desmata

    Jamil Chade

    UOL | 11/1/2021, 18h25

    Um só planeta. E o Brasil de fora. Num evento organizado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, a ampliação de uma aliança foi anunciada nesta segunda-feira com cerca de 50 países para garantir um compromisso de governos contra o desmatamento e pela defesa da biodiversidade.

    O governo de Jair Bolsonaro não participou. Os organizadores informaram que o convite foi feito. Mas o Itamaraty assegura que isso não ocorreu e que o país não recebeu convites nem para fazer parte da cúpula realizada nesta segunda-feira e nem para integrar a aliança. 

    A ampliação da coalizão foi anunciada em um evento de cúpula que ganhou o nome de "Um Planeta pela Biodiversidade". Na América Latina, fazem parte da iniciativa governos como o do Chile, Colômbia, Peru, México e Costa Rica, mas também outros países tropicais como República Democrática do Congo, Ruanda ou Gabão.

    O projeto ainda inclui Alemanha, China, Itália, Emirados Árabes, Reino Unido, Espanha, Suíça, Japão, Paquistão e outros países. O bloco - chamado de Coalizão da Ambição pela Natureza e Povos - está sendo apoiado pela direção da ONU e do Banco Mundial. 

    A meta da aliança é a de garantir um compromisso dos governos para ampliar as medidas de proteção ambiental. Um dos objetivos é o de preservar 30% da área terrestre do planeta e 30% dos oceanos até 2030.

    Mercados poderão fechar para quem desmata 

    Mas a ausência do Brasil não significou a ausência do tema mais espinhoso para o governo Bolsonaro na cena internacional: a Amazônia. Em discursos e vídeos projetados durante o encontro entre os líderes, o desmatamento na floresta foi citado, além dos incêndios. 

    O encontro ainda serviu como plataforma para que os europeus reforçassem o alerta de que irão começar a fechar seu mercado para exportadores que não consigam dar garantias de que vão abastecer os consumidores da UE sem desmatar florestas pela América Latina, Sudeste Asiático ou África.

    É o que Macron chama de "importação de desmatamento", um conceito que também foi usado por Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda. Um dos pontos: evitar a importação de alimentos como carnes, café, açúcar, soja e outros produtos consumidos nos países ricos que possam gerar um desmatamento em seus locais de produção. 

    Pascal Canfin, presidente do Comitê de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, indicou que a Europa deverá ter, até junho, a primeira lei para "colocar fim à importação de desmatamento". 

    "Isso vai pelo sentido de acordos com empresas que garantem que não vão importar de fornecedores que desmatam para plantar", explicou. Para ele, haverá uma "redução de acesso ao mercado para empresas" que não contribuam para proteger a floresta. 

    Segundo ele, o mundo conta hoje com tecnologias que permitem que satélites possam saber e medir o que existe em cada hectare de terra. Para os europeus, é o momento de usar isso para proteger o planeta. "Se uma empresa não consegue provar que é sustentável, não terá mais acesso ao mercado europeu", prometeu. 

    Ele ainda deixou claro que quer "mudar as regras sobre acordos comerciais". Para ele, exportações não podem ocorrer "às custas do meio ambiente". "Não queremos sanções contra parceiros. Mas não podemos ir mais como se nada estivesse ocorrendo", disse.

    Macron defendeu a mesma tese. "Importamos muita coisa que resulta em desmatamento. Precisamos garantir que reduzimos essa tendência", disse. 

    Já Marco Lambertini, presidente da WWF, alertou para o consumo de carnes e outros produtos que poderiam causar desmatamento, caso não seja feita de forma adequada.

    "Estamos destruindo nosso planeta" 

    Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, também usou o evento para lançar um alerta . "2021 deve ser o ano para reconciliar a humanidade com a natureza. Até agora, temos estado destruindo nosso planeta", disse. 

    "Se compararmos a história da Terra com um ano, usamos um terço de seus recursos naturais nos últimos 0,2 segundos", afirmou. "Temos envenenado o ar, a terra e a água - e enchido os oceanos com plásticos. Agora, a natureza está voltando a atacar", disse.

    "As temperaturas estão alcançando níveis recordes. A biodiversidade está em colapso. Os desertos estão se espalhando", constatou. Ele ainda lamenta que o mundo não tenha cumprido nenhuma das metas globais de biodiversidade estabelecidas para 2020.

    https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/01/11/em-cupula-sem-o-brasil-europeus-falam-em-fechar-mercados-para-quem-desmata.htm

     

    O Brasil tem um século de atraso nas mentalidades - Paulo Roberto de Almeida

     As elites brasileiras ainda não perceberam como são atrasadas

    Paulo Roberto de Almeida

    O Brasil adentrou o seu periodo independente com a mentalidade do espírito predatório que caracterizou os donos do poder colonial, ou seja, no início do século 19 ainda preservava estruturas mentais dos séculos 16 a 18. Quando finalmente chegou à Revolução Industrial, no século 20, suas elites ainda estavam no século 19, algumas inclusive no mercantilismo dos séculos 16 a 18, aliás até hoje. 

    Finalmente adentrou no século 21, mas com a mentalidade na segunda revolução industrial, aquela que começa em torno de 1870, ou seja final do século 19 e início do século 20, o mesmo processo que assiste ao início do fordismo, que encerra sua aventura no Brasil após  um século de atraso. 

    Parece incrível, mas a indústria automotiva no Brasil, que tem mais de 70 anos, ainda é considerada “indústria infante”, e tratada como tal pelos diferentes governos, civis e militares, liberais e protecionistas, que se sucederam desde então.

    Em resumo, o Brasil vem se arrastando penosamente em direção à modernidade sempre com pelo menos um século de atraso. No século em que a China reassume seu papel de grande protagonista avançado da economia mundial, não podia dar certo. A “fábrica Brasil” encerra melancolicamente suas operações por excesso de anacronismo: estava recém adentrando na terceira revolução industrial, quando o mundo já tinha ultrapassado a quarta. Eis a raiz do problema: fomos declarados carta fora do baralho antes que as elites brasileiras sequer compreendessem que eram muito atrasadas mesmo para o lento relógio da economia mundial.

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 12/01/2021

    O submundo da violência política criada pelo criminoso Trump - CGTN

     Opinion 12:09, 12-Jan-2021

    CGTN

    Why Trump ban is a band-aid to a bullet wound
    Updated 14:55, 12-Jan-2021
    CGTN Insight

    An armed simpleton who invades a pizza restaurant to break up an imaginary pedophile ring he read about online is a national punchline.

    Thousands of armed believers launching a deadly attack on Congress is a national security threat.

    The mob that stormed Congress on January 6 was not simply whipped into a frenzy by President Donald Trump's speech in front of the White House earlier that day.

    Rather, the participants had coalesced over time around conspiracies alleging a Democratic child sex ring and mass election fraud, and started organizing online in December, after the president had started hyping the rally, tweeting to followers, "Be there, will be wild!"

    The violence that ensued was organized online, complete with GoFundMe pages and advice to bring zip ties and weapons to arrest lawmakers – or rope to hang them.

    Calls for violence occurred on mainstream sites like Twitter and TikTok. On niche web sites and platforms like Parler and Gab, people talked in detail about plans to violently storm the Capitol.

    Insurrectionists are continuing their online planning. Some have called for an armed march on all U.S. state capitols on January 17. There are calls for a Million Militia March in Washington on January 20, the day of President-elect Joe Biden's inauguration.

    In response to the looming storm, Twitter, Facebook and other social media platforms have banned Trump. The right wing social media platform Parler has been driven offline for the time being.

    Screenshot of an official blog post by Twitter explaining the reason for the suspension of U.S. President Donald Trump's Twitter account.

    These responses seem like applying a band-aid to a bullet wound.

    First, they won't work. If U.S. authorities are incapable of acting on danger signs posted on Facebook, will banning Trump and closing one of many social media platforms improve their capability?

    This leads to the second problem. Big tech corporations have chosen to ban Trump and Parler to solve public relations problems and protect their shareholders.

    They don't care about online extremism, because until now it has not been a threat to their bottom line.

    As part of Trump's feud with big tech, the outgoing president and his allies want to revoke the law known as Section 230, which protects internet companies from being liable for content published by a third party.

    The aspect of this law that the right wing dislikes protects tech companies from getting into trouble for the political decisions behind their moderation decisions.

    Many right-wingers want content on the internet to be unregulated unless it violates a law. In this view, hate speech, which is legal in the U.S., could not be banned by a company like Facebook.

    However, more generally, Section 230 also removes any liability for extremist content, making it safe for big tech to allow people to advocate views that could hurt society or lead to violence to flourish.

    This protection from liability is why big tech is not particularly worried about its impact on U.S. national security. This was highlighted by the response to threat of alleged foreign interference in national elections – first ignoring it, then doing as little as possible.

    This is also why tech companies make a big deal of banning Trump, but take no responsibility for fomenting the January 6 violence, and no substantive action to prevent it from happening again.

    Exceptions to Section 230 have been carved out for child exploitation and prostitution. So why hasn't Section 230 been revised to hold big tech responsible for allowing calls for violent extremism?

    The prosaic answer is that this kind of moderation would cost a lot of money and hurt tech companies' bottom line. More broadly, this could push Big Tech into shortcuts and workarounds that would chill free speech, raising First Amendment issues.

    As the threat to the U.S. government changes from an abstraction to attacks being planned for later to this month, the rules around online content are dangerously broken, with no fix in sight.

    (If you want to contribute and have specific expertise, please contact us at opinions@cgtn.com.) 

    Estágios da Loucura (segundo algum Foucault do Cerrado) - Paulo Roberto de Almeida

     Estágios da Loucura (segundo algum Foucault do Cerrado)

    Paulo Roberto de Almeida


    Quando os colegas do Itamaraty – ainda em 2018, depois das revelações das impagáveis postagens no "Metapolítica 17: contra o globalismo" – começaram a chamar o chanceler escolhido de Beato Salu, achei que estavam exagerando. 

    Na verdade, eu estava fora do Brasil quando passou a novela (que nunca vi), e não tenho a menor ideia de quem seja, o que fez o tal Beato Salu.

    Mas assim que começou, e as loucuras se multiplicaram, comecei a pensar naquela velha figura das piadas, o famoso Napoleão de hospício, mas era muito carnavalesco.

    Em todo caso, as últimas manifestações, depois do famoso "comunavirus" da pornográfica reunião de gabinete de 22 de abril, confirmaram que o caso dele é realmente grave e talvez nunca mais se recupere. Bolsonaro fez mal à saúde do chanceler acidental, capacho por obrigação, louco por indução de um guru.

    O famoso discurso da aceitação da condição de "pária", a saudação de final de ano ao corpo diplomático e todas as mensagens e tuítes por ocasião das eleições americanas, da apurações contestadas e da insurreição dos "Proud Boys", todas essas ocasiões nas quais o chanceler acidental se excedeu nas suas alucinações ideológicas terminaram por confirmar que a loucura do bolsolavista ultrapassou os limites do "maluco beleza" e adentraram no terreno do distúrbio psiquiátrico grave.

    Acho que não tem mais volta, nem argumento. Minha avó italiana resumiria à perfeição: "È pazzo!"

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 11/01/2021

    Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente? - Paulo Roberto de Almeida

    Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente?

      

    Paulo Roberto de Almeida

    (www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

    [Objetivoreflexões sociológicasfinalidadedebate público]

      

    Nós, os incluídos, os supostamente iluminados, esclarecidos e informados, gostamos de pontificar, sobre isto e mais aquilo, sobre o sentido da História e sobre os destinos do mundo. Gostamos de dar lições, sobre isto e aquilo, apreciamos que outros apreciem nossa sapiência, nossas certezas, nossas conclusões inteligentes e nossos julgamentos definitivos, como uma espada de Dâmocles, como a guilhotina certeira, alinhada com a Deusa da Razão. 

    Estamos certos de atravessar, neste momento, a mais horrível experiência de governança em 130 anos de República, em 200 anos de Estado independente, em 520 anos de povo, no prelúdio da nação. Não ousamos imaginar que pudéssemos ter um governo tão ruim, tão horroroso, tão inepto, tão ignorante, tão calhorda, tão mentiroso, tão sem noção, sem destino, sem projeto, sem sentido, sem nada. 

    Pensávamos, até pouco tempo atrás, que já tínhamos visto tudo, experimentado tudo em matéria de mediocridade, arrogância e desfaçatez, com relação aos princípios elementares da adesão aos valores democráticos e de respeito aos princípios de direitos humanos, ou de simples humanidade. 

     

    E, no entanto, mirando retrospectivamente, somos obrigados a reconhecer que, num passado não muito remoto, de horrores e de opressão, sob ditaduras expressas, mesmo a noção de governança, de sentido de direção nas políticas públicas, de construção de estruturas e de patrimônio — inclusive cultural — não se perdeu, em meio aos estertores da liberdade, da luta pela livre expressão, do próprio arbítrio e prepotência do Estado, da arrogância dos donos do poder. No negrume do Estado Novo, na repressão da ditadura militar, tínhamos a opressão dos poderosos, e vinha junto todo um programa de construção de um país, de certa ordem na economia, de certo sentido de direção, de algum esforço institucional, ainda que von Oben, pelo alto, aquela organização prussiana, que colocava o Estado no centro de tudo, e que expressava, de alguma forma, certa racionalidade intrínseca ao projeto que autoritariamente nos era oferecido, ou melhor, imposto.

    Racionalidade, ordem, sentido de direção, construção institucional ou material, progresso (à maneira de cada etapa), tudo isso é o que menos temos atualmente. Estamos no meio do pântano, levados a esmo por um psicopata perverso, expostos aos risos do mundo por um outro maluco e suas alucinações exteriores, alguns poucos técnicos setoriais que machucam suas biografias ao servirem uma patota de medíocres e incompetentes, civis e militares, mandarins do Estado ou eleitos oportunistas, todos eles prolongando essa agonia de dois anos, e que pode se prolongar por mais dois, preservando, ou até ampliando, as duas grandes tragédias corrigíveis que temos: a não educação e a corrupção política. Temos outras tragédias, sistêmicas ou estruturais, como as desigualdades sociais, a baixa inovação e uma produtividade também medíocre, todas essas coisas que não serão resolvidas agora, sequer encaminhadas, e que podem ainda ser agravadas, no mar de incultura, de estupidez, de calhordice que nos é oferecido atualmente pelo déspota eleito por uma dessas surpresas da História. 

    Acho que nunca imaginamos que poderíamos descer tão baixo no horror da mediocridade política, do retrocesso cultural, na promoção da ignorância, com demonstrações públicas da bestialidade do psicopata perverso que nos desgoverna. 

     

    E no entanto, no entanto, se deixarmos para trás nossas experiências de ditaduras tecnocráticas, veremos que ainda não somos, não fomos, talvez não sejamos o povo mais infeliz de um planetinha redondo — mas fragmentado — que já conheceu horrores bem mais bárbaros em diversos episódios de um longo itinerário de ódios, guerras, massacres, tiranias assassinas.

     

    Sem remontar muito longe, vamos começar pela destruição do segundo templo do povo judeu, que deu início a uma diáspora que ainda não terminou; vamos continuar por invasões de hordas de bárbaros literais, destruindo impérios e nações dotadas de civilidade; passemos ao empreendimento insano das cruzadas, que não só deram continuidade aos massacres de judeus em seu caminho, como também impuseram à história mundial uma oposição entre cristianismo e islamismo que não precisaria, não deveria ter ocorrido e que prolonga seus péssimos efeitos até a atualidade; e as guerras de religião na Europa, e as conversões forçadas disfarçadas de “catequese” que os europeus “judaico-cristãos” impuseram a maior parte do mundo conquistada e dominada durante cinco séculos?; e o nefando crime da escravidão africana e todos os horrores do tráfico transcontinental durante quatro séculos pelo menos?; os pogroms que continuaram contra o povo judeu, em vários redutos da supostamente humanitária religião cristã; e o novo expansionismo colonialista europeu, que assistiu à primeira criação de campos de concentração por iniciativa da liberal Grã-Bretanha?; o nacionalismo e o racismo ascendentes, que levaram a Europa a uma segunda guerra de trinta anos, arrastando o resto do mundo a uma sanha destruidora jamais vista desde quando exércitos conquistadores simplesmente eliminavam os prisioneiros homens e reduziam as mulheres a servas ou escravas; o fascismo totalitário começou na Itália, mas foi na Alemanha de Goethe e de Wagner que ele foi levado à exacerbação tirânica sob o comando do psicopata Hitler, partindo da Noite dos Cristais para caminhar para os campos de extermínio “científico”; não esquecer tampouco o fascismo expansionista e militarista japonês, que perpetrou barbaridades na China equivalentes ou até piores que os nazistas cometeram na Europa central e oriental; antes e depois disso ainda tivemos  o Gulag soviético com seu cortejo de “eliminados como inimigos do povo e do Partido”, sob as ordens do psicopata do Stalin, logo seguido pelo maoísmo demencial, acumulando mortos aos milhões, no Grande Salto para a frente, ou na Revolução Cultural; vamos falar também dos “killing fields” do Camboja e de massacres balcânicos ou africanos, levando dezenas ou centenas de milhares à morte pelo fuzil ou pelos machetes. 

     

    Não, não somos o povo que mais sofreu na Terra, como se pode constatar, depois de relembrar todo esse cortejo de horrores ao longo de dois mil anos de história; mas não precisa ir muito longe: o nazismo hitlerista perpetrou os crimes mais bárbaros de toda a história da humanidade menos de 80 anos atrás, três gerações apenas. Nos anos 90 sérvios e hutus estavam trucidando concidadãos; e no Oriente Médio, na África, em outras paragens, nas favelas do Rio de Janeiro outros crimes bárbaros são cometidos, além do número inaceitável de feminicídios e crimes contra homossexuais e transgêneros. Não, ainda não nos livramos da barbárie, e parece que ainda vai demorar um pouco.  

     

    Não querendo ser leniente com a realidade dos retrocessos no Brasil atual, o fato é que atravessamos um mau momento de nossa história, talvez o pior, às vésperas do Bicentenário, que deveria ser um momento de congraçamento, de unidade, de grandes balanços e de projetos para o futuro. Provavelmente, não teremos nada disso: apenas mais divisão, mais política do ódio, mais mediocridade e mais estupidez. Vamos aproveitar, nós, os iluminados, para avaliar nossos próprios erros, nossas desuniões na defesa de picuinhas particularistas, em lugar de consolidar o edifício democrático, a promoção da educação, a luta contra as desigualdades e a promoção dos direitos humanos. 

    Num certo sentido, ainda somos um povo de selvagens, com alguns costumes bárbaros — entre os quais eu colocaria a corrupção política, dos políticos e dos donos do dinheiro — e várias outras deficiências culturais. 

    Vamos avançando aos trancos e barrancos, como disse uma vez Darcy Ribeiro. Um dia acertamos e deslanchamos para o progresso e o bem-estar da maioria da população. Não sei quando isso virá. O que sei é que se costuma aprender mais com os fracassos do que com os sucessos.

    Então, estamos servidos: estamos em meio a um dos maiores, senão o pior dos fracassos de nossa trajetória como povo, como nação e como sociedade. Aproveitemos para melhorar, já que, como dizia Mario de Andrade, o progresso também é uma fatalidade.

     

     

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 3841: 12 de janeiro de 2021