O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Usurpando a condição de "escritor"? Não por minha decisão ou indicação – Paulo Roberto de Almeida

 Tenho reparado que, em diversos anúncios relativos a eventos dos quais tenho participado, sempre a convite de seus promotores, não por autoconvite meu, tenho sido apresentado, entre a condição profissional e a atividade de professor, como "escritor", assim mesmo, sem que eu jamais tenha usado esse substantivo para me descrever.

Ao contrário, tenho feito questão, quando me perguntam sobre como devo ser apresentado, de expressar o seguinte: 

"As fórmulas mais sintéticas são as as melhores: 

PRA, diplomata de carreira, professor universitário. Bastaria isso."

De fato, neste exemplo mais recente, recebi em resposta esta confirmação:

Está ótimo! Colocarei na forma sintética: Cientista Social, Diplomata de carreira, professor do Centro Universitário de Brasília.

E, no entanto, acabou aparecendo isto: 


Se eu tivesse que me aproximar um pouco mais do conceito, eu preferiria que ficasse registrado que eu sou um "escrevinhador", simples assim. 
Com efeito, o escritor é aquele indivíduo dedicado às artes da escrita, o que nunca foi o meu caso. Escrevo o estrito necessário para expressar o meu pensamento, minhas opiniões, sem ligar minimamente para a audiência, para regras de estilo, e até violando algumas boas normas da palavra escrita, da língua elegante, como querem alguns. 
Sempre fui um admirador do Millor Fernandes, que se chamava a si mesmo, por derrisão, de Vão Gogo (em sua condição de desenhista de humor), mas que também se classificava como um " escritor sem estilo". É isso que sou. E também sigo uma outra máxima dele: se alguma palavra não existe, mas você tem necessidade dela, invente-a, use-a, que algum dia ela estará no dicionário. Pimba!
Mas essa coisa de chamar-me de "escritor", o que me deixa um pouco enxabido – como ficava o lobisomem do Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho –, fez-me lembrar de uma antiga leitura de um texto de George Orwell, que era sim um escritor, e que havia composto uma crônica tentando responder à razão de ser de seu ofício, como relatado abaixo.
Sobre essa pequeno texto dele, acabei escrevendo duas pequenas notas, nas quais expresso minha motivação no ofício da escrita, sem que eu jamais tivesse me colocado como um verdadeiro escritor.
Nem me lembro mais do que escrevi quase sete anos atrás, nem vou buscar agora o que está ali. 
Quem tiver curiosidade, pode clicar num dos links e as notas aparecerão. 
Quem escreve, se expõe a críticas, sendo escritor ou um mero escrevinhador.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de março de 2021

2614. “Por que escrevo? (1)”, Hartford, 6 Junho 2014, 6 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-1-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-1-retomando-minhas.html).

2615. “Por que escrevo? (2)”, Hartford, 7 Junho 2014, 7 p. Ensaio inspirado no artigo de título similar “Why I write”, de George Orwell, in: A Collection of Essays (New York: Harbrace Paperbound Library, 1953; p. 309-316). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/por-que-escrevo-2-paulo-roberto-de.html). Reproduzido novamente no Diplomatizzando em 2/01/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/por-que-escrevo-2-detalhando-as-razoes.html).


Rupturas na diplomacia e desenvolvimento interrompido do Brasil: Renato de Oliveira entrevista Paulo Roberto de Almeida

 Rupturas na diplomacia e desenvolvimento interrompido do Brasil


De onde surgiu um Ernesto Araújo, o chanceler que diz se orgulhar do fato de o Brasil ter se tornado um pária internacional? O que ele representa numa instituição como o Itamaraty? Qual o preço que pagaremos pelo isolamento internacional num momento de retomada do protagonismo dos Estados nacionais em decorrência da pandemia e de mudanças estruturais na economia mundial? Estamos condenados a permanecer na periferia do sistema mundial?
Estas e outras questões serão abordadas pelo Embaixador Paulo Roberto de Almeida em nossa conversa no próximo dia 25 aqui no Facebook.
Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira desde 1977, sendo um dos mais brilhantes diplomatas da sua geração. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas e Mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia, foi professor no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília, além de diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais e do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão. Atualmente professor de Economia Política no Centro Universitário de Brasília, publicou diversas obras nas áreas de relações econômicas internacionais, política externa do Brasil e história diplomática.
Paulo Roberto de Almeida será nosso entrevistado em nossa próxima live aqui no Facebook, no próximo dia 25 às 17h.


PRA: Postarei uma nota que fiz a respeito das grandes questões pertinentes aos temas em debate.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Quem disse que a economia do antigo Egito era primitiva? Era uma das grandes economias do mundo antigo - Stacy Schiff (book on Cleopatra)

 Cleopatra: A Life by Stacy Schiff. 

The economy of Egypt during Cleopatra's reign was robust and efficient. This made Cleopatra fabulously wealthy -- even by today's standards -- and one of the wealthiest monarchs in the world. She was wealthier than Caesar, but had no standing army, and was thus both coveted by and vulnerable to Rome:

"The Ptolemaic system [the Ptolemies were Cleopatra's dynastic family and the Greek rulers of Egypt, after its conquest by one of Alexander the Great's generals] has been compared to that of Soviet Russia; it stands among the most closely controlled economies in history. No matter who farmed it -- Egyptian peasant, Greek settler, temple priest -- most land was royal land. As such, Cleopatra's functionaries determined and monitored its use. Only with government permission could you fell a tree, breed pigs, turn your barley field into an olive garden. All was scrupulously designed for the sake of the record-keeping, profit-surveying bureaucrat rather than for the convenience of the cultivator or the benefit of the crop. You faced prosecution (as did one overly enterprising woman) if you planted palms without permission. The beekeeper could not move his hives from one administrative district to another, as doing so confused the authorities. No one left his village during the agricultural season. Neither did his farm animals.

"All land was surveyed, all livestock inventoried, the latter at the height of the flood season, when it could not be hidden. Looms were checked to make sure that none was idle and thread counts correct. It was illegal for a private individual to own an oil press or anything resembling one. Officials spent a great deal of time shutting down clandestine operations. (Temples alone were exempt from this rule for two months of every year, at the end of which they, too, were shut down.) The brewer operated only with a license and received his barley -- from which he pledged to make beer -- from the state. Once he had sold his goods he submitted his profits to the crown, which deducted the costs of raw materials and rents from his income. Cleopatra was thereby assured both of a market for her barley and of profits on the brewer's sales. Her officials audited all revenues carefully, to verify that the mulberries and willows and acacia were planted at the proper time, to survey the maintenance of every canal. In the process, they were especially and frequently exhorted to disseminate throughout Egypt the reassuring message that 'nobody is allowed to do what he wishes, but that everything is arranged for the best.'

"Unparalleled in its sophistication, the system was hugely effective and, for Cleopatra, hugely lucrative. The greatest of Egypt's industries -- wheat, glass, papyrus, linen, oils, and unguents -- essentially constituted royal monopolies. On those commodities Cleopatra profited doubly. The sale of oil to the crown was taxed at nearly 50 percent. Cleopatra then resold the oil at a profit, in some cases as great as 300 percent. Cleopatra's subjects paid a salt tax, a dike tax, a pasture tax; generally if an item could be named, it was taxed. Owners of baths, which were private concerns, owed the state a third of their revenue. Professional fishermen surrendered 25 percent of their catch, vintners 16 percent of their tonnage. Cleopatra operated several wool and textile factories of her own, with a staff of slave girls. She must have seemed divine in her omniscience. A Ptolemy 'knew each day what each of his subjects was worth and what most of them were doing.'

"How wealthy was she? Into her coffers went approximately half of what Egypt produced. Her annual cash revenue was probably between 12,000 and 15,000 silver talents. That was an astronomical sum of money for any sovereign, in the words of one modern historian 'the equivalent of all of the hedge fund managers of yesteryear rolled into one.' (Inflation was an issue throughout the century, but it affected Cleopatra's silver less than her bronze currency.) The most lavish of lavish burials cost 1 talent, the prize a king tossed out at a palace drinking contest. A half-talent was a crushing fine to an Egyptian villager. A priest in Cleopatra's day -- his post was a coveted one -- made 15 talents yearly. That was a princely sum ... Pirates set a staggering 20-talent ransom on the head of the young Julius Caesar, who, being Caesar, protested that he was worth at least 50. Given a choice between a 50-talent fine and prison, you opted for jail. You could build two impressive monuments for a much-loved mistress for 200 talents. Cleopatra's costs were high ... But by the most stringent of definitions -- that of Rome's wealthiest citizen -- she was fabulously well-off. Crassus claimed that no one was truly rich if he could not afford to maintain an army.*

"*On one contemporary list Cleopatra appears as the twenty-second richest person in history, well behind John D. Rockefeller and Tsar Nicholas II, but ahead of Napoleon and J. P. Morgan. She is assigned a net worth of $95.8 billion, or more than three Queen Elizabeth IIs. It is of course impossible to accurately convert currencies across eras."

Cleopatra: A Life
 
author: Stacy Schiff 
title: Cleopatra: A Life 
publisher: Back Bay Books 
date: Copyright 2010 by Stacy Schiff 
page(s): 91, 92, & 97

Para liberais, socialistas e críticos do socialismo: convergências ou divergências continuadas - Colóquio em outubro 2021

 International Conference

University of Lorraine – Nancy (France)

21st-22nd October 2021

 

Liberalism and/or socialism: tensions, exchanges and convergences from the 19th century to today 

 

The fall of the Berlin Wall led Francis Fukuyama in 1992 to predict the triumph of liberal democracy. However, the terrorist attacks of 2001, the economic crisis of 2008, Brexit and the Covid crisis have resulted in the reappearance of debates about the relationship between the state and the individual, ranging from the representation of the former in democratic countries to the distribution of wealth. These transformations question the boundaries between systems of political and economic thought that had previously been considered, perhaps wrongly, as being separate: China claims to bring together socialism and capitalism, while the ruling British Conservatives, like other governments which advocate free-market economics, are resorting to increasing public spending on a massive scale in order to address the current health crisis. In countries where the left has not gained sufficient support to be elected to government, it has displayed a vibrancy which refutes the thesis of its collapse, but it contains deep divisions concerning social reforms and the role of the state in the face of globalisation and multiculturalism. The principles of emancipation and individual rights based on modernity and the Enlightenment have faced criticism, which has been expressed in the rise of populism, conservatism, and the endorsement of holism as the basis of politics.         

In light of the aforementioned changes, this conference aims at reevaluating the relationship between two major ideologies – liberalism and socialism – which seem to be contested nowadays, exploring the forms they have taken and tracing their development from their rise in the 19th century onwards.    

Socialism seeing itself as a critique of economic liberalism, the two systems of thought emerged partially in opposition to each other. The extension of the state was sometimes cited as a means of emancipation of an oppressed class (Marx) and sometimes as a means of subjugation of individuals (Hayek). Antisocialist rhetoric was a platform for important figures of economic liberalism such as Herbert Spencer in the 19th century and Margaret Thatcher in the 20th century. Conversely, left-wing theoreticians and activists found in the critique of capitalism common ground uniting various, potentially conflicting, currents like syndicalists, social democrats, cooperators and Marxists. The main focus of study will be the way socialism and liberalism use each other to define themselves as ideologies. To what extent do they draw their identity from their adversaries’ representation and critique of them? How does the polarisation of debates serve political mobilisation and activism?      

The question of private property reveals elements of convergence between the two systems of thought and visions of the world. The liberal tradition, which cannot be reduced to rational individualism, was able to incorporate into its project the concepts of common good and community, particularly in a moral dimension (Rosenblatt) and, at the turn of the twentieth century, the principle of collectivism exerted an influence over the New Liberalism, just as the latter contributed to the development of reformist socialism (Jackson, Clarke, Freeden). On the left, figures such as Anthony Crosland or Tony Blair laid claim to ethical socialism, a current represented earlier by Robert Owen, the Christian socialists and R.H. Tawney, which judged that the egalitarian ideal was to a certain extent compatible with the two pillars of liberalism – the market economy and democracy.      

Consequently, can representations and assumptions which are common to liberalism and socialism be identified, and how do values and political principles (democracy, equality, social justice) borrowed by one ideology from the other allow the ideologies to be (re)defined? Close attention will be paid to thinkers and theoreticians who, either by their trajectories (J.S. Mill, D.G. Ritchie) or in their system of thought (N. Geras), have laid claim to both ideologies. To what extent does their thinking result from political, economic and social contingencies or from specificities belonging to one system or the other?     

Through these points of convergence or divergence, the conference will be an opportunity to question the meanings of political concepts and language in their context and will seek to identify the evolutions as well as the durability and / or the disappearance of these ideologies. Can socialism be rethought along the lines suggested by Axel Honneth and by the adoption of the principle of liberal democracy? Or are the class struggle and opposition to capitalism the very essence of this movement? Must Mark Bevir be followed when he states that, “ideologies are not mutually exclusive, reified entities. They are overlapping traditions with ill-defined boundaries” (Bevir, 86)?  Is it possible to agree with Michael Freeden that the concept of a “post-ideological era” serves to promote in itself a system of thought which prefers to remain hidden (Freeden, 2005, 255)? The rootedness of the two currents in modernity can also be examined. On some occasions, they have privileged the individual and on others the group, both defending a universal emancipatory project in history. Does the appearance of what Marx predicted as “an association in which the free development of each is the condition for the free development of all” find a paradoxical echo in the project developed by R. Nozick to promote a minimal state in order to achieve a libertarian utopia of cooperation?   

We will welcome papers that address the interactions between socialism and liberalism in the English-speaking world (Ireland, the United Kingdom, the United States,…) , in the fields of intellectual history, the history of political and economic thought, economic and political history. The aim of this interdisciplinary conference will be to explore the overlapping of these ideologies and systems of thought, the implementation of policies drawing on them and the work of intellectuals and activists who have contributed to the shaping and evolution of these traditions.

Papers may discuss, but are not limited to:

- Transfers of concepts and the blurring of systems: new liberalism, liberal socialism, libertarian socialism and market socialism in theory and practice

- Interpretations and reappropriations of liberal thinkers by socialists, of socialist thinkers by liberals

- Philosophies of history common to the two ideologies

- Socialism, liberalism and the theories of value

- Methodological individualism and holism

- Socialism and liberalism faced with questions of identity and the influence of communitarians

- Liberal and socialist roots of working-class and radical movements: cooperatism, chartism, syndicalism, etc.

- Questioning of the socialist-liberal divide by conservative, anarchist, populist trends

- Theoretical and practical overlapping between socialism and liberalism in times of crisis (environmental, health, economic, political…)

 

Organising committee

Vanessa Boullet, Stéphane Guy, Peterson Nnajiofor, Ecem Okan, Jeremy Tranmer,

Academic and scientific partners include CRECIB, IDEA (UR EA2338 – Université de Lorraine), PHARE (Université de Paris I – Panthéon Sorbonne).

 

Submissions

Please send proposals (300 words maximum) and a short biography to liberalism.socialism.conference@gmail.com and stephane.guy@univ-lorraine.fr  by 10th May 2021.

You will be notified by 30th May if your paper is accepted.

 

References

Bevir, Mark, The Making of British Socialism, Princeton, NJ, Princeton University Press, 2011

Boldyrev, Ivan and Till Düppe (eds), Economic Knowledge in Socialism, 1945-89, History of Political Economy (Annual Supplement to Volume 51), Durham, Duke University Press, 2019

Castoriadis, Cornelius, Le Contenu du Socialisme, Paris, Éditions 10/18, 1979

Clarke, Peter, Liberals and Social-Democrats, Cambridge, Cambridge University Press, 1978

Cohen, Gerald A., Why Not Socialism? Princeton, NJ, Princeton University Press, 2010

Engels, Friedrich & Karl Marx, The Communist Manifesto (1848), intr.  Yanis Varoufakis, London, Penguin, 2018

Freeden, Michael, The New Liberalism: An Ideology of Social Reform, Oxford, OUP, 1978

--------------------- “Confronting the chimera of a ‘post‐ideological’ age”, Critical Review of International Social and Political Philosophy 8:2 (2005), 247-262

Fukuyama, Francis, The End of History and the Last Man (1992), New York, Free Press, 2006

Geras, Norman, Marx and Human Nature: Refutation of a Legend, London, Verso, 1983

Harvey, David. A Brief History of Neoliberalism, Oxford, Oxford University Press, 2007

Hayek, Friedrich von, The Road to Serfdom (1944), London, Routledge, 2001

Herbert Spencer, The Man v. the State (1884), Indianapolis, Ind. : Liberty Classics, 1981

Hobsbawm, Eric, The Age of Empire, 1875 – 1914, London, Weidenfeld and Nicolson, 1987

Honneth, Axel, The Idea of Socialism (2015), Cambridge, Polity Press, 2017

Jackson, Ben and M. Stears (Eds.), Liberalism as Ideology. Essays in Honour of Michael Freeden, Oxford, Oxford University Press, 2012

Kolakowski, Leszek, Modernity on Endless Trial, Chicago, University of Chicago Press, 1990

Mill, John Stuart, Principles of Political Economy, and Chapters on Socialism. Ed. & intr. Jonathan Riley, Oxford, OUP, 2008

Nozick, Robert, Anarchy, State and Utopia, New York, Basic Books, 1974

Rosenblatt, Helena, The Lost History of Liberalism: From Ancient Rome to the Twenty-First Century, Princeton, NJ, Princeton University Press, 2018

Tomlinson, Jim, “The Limits of Tawney's Ethical Socialism: A Historical Perspective on the Labour Party and the Market”, Contemporary British History, 16:4 (2010), pp. 1-16

Viner, Jacob, Essays on the Intellectual History of Economics, ed. D.A. Irwin, Princeton, NJ, Princeton University Press, 1991

O Brasil à deriva: o que a falta de estadista pode fazer de mal ao país - Robson Sávio Reis Souza e Paulo Roberto de Almeida

 Tudo o que escreve o Robson Sávio Reis Souza pode até ser certo: Bolsonaro parece ou pode ter realmente essa intenção, a de dar um golpe. Mas o fato é que não conseguirá: as FFAA não consentirão com isso, não darão o golpe e impedirão quem o tente fazer. Não só as FFAA: o STF e o Congresso também.

A única coisa que Bolsonaro fará será tentar criar confusão, esperando prevalecer no caos que ele mesmo vai tentar criar. Acabaria preso, mas não conseguirá chegar até onde pretende, que é pressionar as FFAA com PMs e milicianos armados. Será barrado antes disso.

Mas o fato é que necessitamos de estadistas no Congresso, nas instituições de Estado, entre as FFAA e entre as elites, que conseguissem se entender entre eles, o que reconheço é muito difícil, por falta de material humano de qualidade para tal tarefa. E por falta de visão, também, entre eles, sobre a gravidade do momento em que vive o Brasil, com a ausência completa dessa coisa que se chama de governo. 

Vai ser difícil, eu sei, mas a alta cúpula das FFAA ajudaria se, os três comandantes militares, mais o ministro da Defesa, resolvessem emitir um comunicado diferente neste 31 de março, dando o assunto por encerrado, enterrando o passado, e convidando todas as forças responsáveis do país— entre as quais não se encontra o atual presidente— a olhar os desafios do presente para construir um novo futuro para o país.

Estou pedindo muito?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/03/2021


Dez sinais de que Bolsonaro prepara uma ditadura no Brasil

17.02.2021 - Brasil Diálogos do Sul

Dez sinais de que Bolsonaro prepara uma ditadura no Brasil
Crédito da imagem: Creative Common

Por Robson Sávio Reis Souza*

1. Incentivo ao armamento da população para formação de milícias civis, sendo que o armamento da população favorece a articulação das milícias militares com civis, formando grupos paramilitares.

2. Instrumentalização das Forças Armadas e instituições policiais, através de privilégios concedidos discricionariamente a essas categorias, formando um exército fidelizado a ele e não à Constituição.

2.1. Militarização do governo, em parceria com setores reacionários das Forças Armadas, com milhares de militares mobilizados e à sua disposição, das mais altas às baixas patentes.

3. Aliança com os lobbys econômicos que atuam no Congresso para a manutenção de uma base parlamentar fidelizada na precedência dos interesses privados e corporativos, à base do “é dando que se recebe”.

4. Favorecimento de grupos econômicos dispostos à pilhagem do patrimônio nacional (rentistas, garimpeiros, madeireiros, grupos econômicos privatistas, conglomerados financeiros internacionais, principalmente norte-americanos), em troca de apoio e financiamento.

5. Formação de uma rede de comunicação com grupos empresariais midiáticos alinhados a ele e ataque e desqualificação da imprensa democrática e alternativa, aliciando esses veículos de comunicação e seus comunicadores.

6. Desconstrução do Judiciário e do Parlamento, assim como ataque às instituições republicanas (caracterizadas por ele como inimigas do povo).

7. Aparelhamento de órgãos de Estado: PF, ABIN, Receita Federal, antigo Coaf.

8. Cooptação de órgãos de controle, como Ministério Público, e setores do Judiciário, para acobertarem a corrupção de seus filhos, ministros, políticos, juízes e outros em troca de favorecimentos a grupelhos políticos desses órgãos e poderes.

9. Parceria com lideranças e grupos religiosos conservadores, amalgamados em discursos moralistas, formando um “exército de novos cruzados”, a troco de benesses para tais lideranças e privilégios fiscais para as “lavanderias de dinheiro da fé”.

10. Investimentos maciços na criação e disseminação de fake news para manter mobilizada sua base social fascista e ultraconservadora.

*Robson Sávio Reis Souza, Doutor em Ciências Sociais.

Comemorar ou não 31/03/1964? - Paulo Roberto de Almeida

 Comemorar ou não 31/03/1964?

Os militares, que deram o golpe, sempre comemoraram, durante toda a extensão do regime militar e mesmo além, assim como continuaram “comemorando” 1935 durante décadas e décadas. Aliás, conectaram 1935 e 1964 num embate simplificado contra o “comunismo”.
Pararam bem depois, já sob o lulopetismo, com vários “derrotados” no poder. O assunto estava quase esquecido, quando uma Comissão Nacional da “Verdade” resolveu tratar do assunto essencialmente da ótica dos crimes militares, sem qualquer condenação das “provocações” da esquerda armada, que atiçou os “tigres”.
O Brasil ainda não superou essa divisão.
A esquerda não reconhece que havia uma crise político-militar no país em 1964, que exacerbou tensões em todas as esferas do pais, basicamente por incompetência do governo Goulart e desafios da esquerda à hierarquia militar, ao incitar suboficiais e soldados contra os superiores.
A direita não quer que 1964 seja visto como o golpe que foi, mas a “libertação do comunismo” (como se a esquerda tivesse condições de implantá-lo).
Esquerda e Direita teriam de superar esse passado de interpretações equivocadas sobre o que houve em 1964 e passar a olhar para o futuro.
Farão isso?
Altamente duvidoso que o façam: ambas teimam, insistem em repetir suas teses, suas versões de 1964.
Os militares ajudariam se parassem de celebrar um golpe: o que deveriam ter feito em 1964 teria sido garantir o funcionamento das instituições até as eleições de 1965. Não o fizeram então e não pediram desculpas depois. Parece que também são teimosos.
Ainda há tempo que o façam e pacifiquem de vez o país. Enquanto não o fizerem, o país continuará dividido.
Poderiam aproveitar a próxima oportunidade para encerrar a divisão do Brasil.
O atual presidente também ajudaria se não insistisse em alimentar a divisão. E os comandantes das três forças podem sentar-se para discutir a questão, fazendo um texto diferente do que sempre fizeram.
É preciso superar 1964!
Se precisarem de ajuda, posso colaborar oferecendo sugestões para um texto apropriado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18/03/2021

Shanghai Express: um blog mantido por Paulo Roberto de Almeida, entre 2009 e 2012, sobre a NOVA CHINA!

Um blog para ser relido, inteiramente: 

Shanghai Express

 Em 2009, preparando-me para partir para a China, para trabalhar no Pavilhão do Brasil durante a Shanghai Universal Exhibition (May-October 2010), em missão transitória junto ao Consulado do Brasil em Xangai, eu comecei um blog, chamado Shanghai Express, para transcrever todas as minhas leituras, estudos, pesquisas, leituras sobre a China, que funcionou de 2009 a 2012 (depois encerrei).

Os interessados no blog podem consultá-lo neste link: 

http://shangaiexpress.blogspot.com/

Ele tinha esta apresentação: This blog is devoted to the emerging region of Asia Pacific, in special China and the surrounding countries. Shanghai Express was the title of a novel (1935) by the Chinese writer Zhang Henshui (1895-1967), settled in a train, during the "roaring twenties", symbolizing modernity, rapidity and progress.

Esta foi a primeira postagem, logo seguida, abaixo, pela última, que indico apenas pelo seu link (URL) pela extensão do arquivo. Depois interrompi, uma vez que já estava em licença prêmio do Itamaraty, a que recorri para dar aulas em Paris, no Institut de Hautes Études de l'Amérique Latina, na Sorbonne 3, em Paris, em 2012, já que eu continuava sem cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), durante o lulopetismo diplomático no Itamaraty.

http://shangaiexpress.blogspot.com/2012/12/the-dragon-dance-us-china-security.html

No total, estas foram as 560 postagens efetuadas nos quatro anos de leituras e notas, a maioria de leituras minhas, algumas de comentários pessoais sobre as matérias, em grande medida concentradas enquanto estivemos na China, eu e Carmen Lícia Palazzo, durante a Shanghai Universal Exibition:

BLOG ARCHIVE

Um dia vou escrever sobre essa experiência, absolutamente essencial em nossa experiência conjunta sobre uma experiência excepcional na China.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18 de março de 2021

THURSDAY, JULY 30, 2009

01) Shangai Express: um novo blog para acompanhar o trepidante Oriente, em especial a China

Dou início, nesta quinta-feira, dia 30 de julho de 2009, a um novo blog, chamado Shanghai Express, para acompanhar e debater temas gerais, geralmente de caráter econômico e internacional, relativos ao Oriente emergente, em especial assuntos da China e adjacências.
Acredito que a China, de modo específico, e a Ásia Pacífico, de maneira geral, são suficientemente importantes no plano regional e internacional, para justificar a criação de mais um blog, no meu conjunto de blogs, através do qual pretendo postar, informar, interagir e discutir os mais variados temas relativos a esse mundo emergente, extremamente dinâmico, que promete retomar sua antiga posição relevante no contexto da economia mundial e das correntes mais dinâmicas de intercâmbios de todos os tipos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de julho de 2009

No total, foram  560 postagens, extremamente interessantes, do meu ponto de vista, sobre uma experiência única de conhecimento direto sobre a realidade chinesa.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18 de março de 2021

quarta-feira, 17 de março de 2021

A evolução da espécie: de pária assumido para ameaça mundial - Alfredo Bertini

Alfredo Bertini é um economista pernambucano, diretor da Fundação Joaquim Nabuco, a mais importante instituição cultural de Pernambuco.


A evolução da espécie: de pária assumido para ameaça mundial

17/03/21 às 06H03 atualizado em 17/03/21 às 06H03

Já tive oportunidades de expor a crítica situação do setor externo brasileiro e daí abordar os efeitos sobre a economia. De fato, a postura reativa ao multilateralismo e a assumida falta de compromisso com as questões ambientais deram à nossa política externa um caráter de isolamento. Uma situação assumida pelo próprio chanceler, que revelou não ver preocupações quanto ao reconhecimento do Brasil como pária mundial. Bem, nada tão esquisito para o portfólio das extravagâncias da política atual. Afinal, o ridículo e o absurdo são livres - não têm propriedade e sequer pátria.  

Acontece que esse quadro atípico representa um esforço voluntário descabido, de confrontacionismo e quebra da tradição diplomática brasileira. Tudo agora traduzido pela crença dogmática que se curvou a um ideal extremo, incapaz de transformar diferenças em acordos ou tratados. Por isso, visto de fora, o Brasil perdeu o prumo.

Antes de revelar minha mais recente preocupação, no que tange ao quadro evolutivo de deterioração da imagem mundial do Brasil, destaco que a extensão da pandemia não carece ser usada como pretexto de erros e omissões. O desgaste precede. Afinal, ao discurso e à prática com vieses ideológicos (até então, só submisso ao trumpismo), somaram-se os frágeis resultados econômicos, que entre 2019 e março de 2020, pautaram as incertezas assimiladas pelos agentes econômicos. Neste particular, por exemplo, dos quase US$ 70 bilhões de saída líquida de recursos externos (fuga de capital), cerca de US$ 45 bilhões se deram no exercício de 2019, sem pandemia. Ou seja, o discurso interno prevalecente significou apenas um vetor político-ideológico mais forte que o vetor liberal da equipe econômica. Assim, no setor externo, a real constatação é que os parceiros comerciais estão receosos.

Nessa aposta ideológica, dois aspectos ainda chamam atenção. Em primeiro, o desalinhamento da política ambiental interna com o evangelho da sustentabilidade pregado pelo mundo. Isso num contexto de política pública que oscila entre a redução imposta ao orçamento e as medidas inibidoras  da agenda preservacionista. Em segundo, uma preconceituosa postura sinofóbica, justo com principal parceiro comercial. Mais que um "tiro no pé", negar a China hoje é demonstrar desconhecimento da sua realidade geopolítica e do seu ímpeto econômico. O esforço chinês tem revelado uma evidência globalista, multinacional e sustentável. Ações  assentadas num plano quinquenal, que se colocou distanciado da ortodoxia socialista de outrora. Agora, o plano lida com indicadores econômicos que se comprometem com a segurança alimentar, a matriz energética e a capacidade tecnológica, tudo em sintonia com um mundo revisto e sustentável. 

Não bastasse a soberba confrontacionista em cima desses pontos, o advento da pandemia agregou à política externa brasileira graves complicadores, que têm gerado mais riscos econômicos. Isso passa pela agenda governamental de enfrentamento da pandemia, caracterizada pela negação da crise sanitária, a ausência de plano coordenador e o atraso na estratégia de imunização. 

A soma desses fatores revela o real sentido da evolução aqui insinuada no título deste texto. Afinal, a magnitude do erro terminou por transferir o conceito brasileiro de "pária por voluntarismo" para a estúpida situação de ser visto agora como ameaça mundial. A culminância do desapego pela  imunização rápida irá atrasar a reinserção brasileira em qualquer quadrante deste planeta, independente do objeto. A velocidade do contágio e dos riscos de óbitos da pandemia é largamente superior à capacidade da persuasão científica atuar sobre a resiliência do governo e de parte da população.  

Embriagado e susceptível às piores ressacas, o Brasil está numa solitude soturna e necrofílica. Infelizmente.

A tragédia pandêmica do Brasil retratada no Washington Post: o mundo preocupado com o Brasil