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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Eleições 2022: os temores dos eleitores, de dois bichos-papão: Lula e Bolsonaro - Daniel Weterman, Lauriberto Pompeu (Estadão)

Eleições 2022 | Sucessão presidencial

Pesquisa mostra que 45% dos eleitores têm medo da continuidade do atual governo e 40% temem um novo mandato de Lula; campanhas atuam para reforçar sentimento

DANIEL WETERMAN LAURIBERTO POMPEU

BRASÍLIA

Uma grande parte do eleitorado diz ter medo da volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao poder e da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois rivais, que lideram as pesquisas de intenção de voto, provocam nos brasileiros o mesmo sentimento de temor do que pode ocorrer se forem eleitos.

Os motivos do medo, segundo pesquisas de opinião, têm base em fatos concretos das trajetórias dos dois candidatos. O eleitor teme que, com Lula, voltem a corrupção, o alinhamento internacional com ditaduras de esquerda e o empoderamento de pautas progressistas - tema delicado para os segmentos conservadores. Com Bolsonaro, o medo é de aumento da pobreza, acirramento do discurso de ódio e até de uma ruptura democrática.

Fake news têm sido usadas para reforçar o medo que o eleitor já tem. A mistura de fatos concretos com pós-verdade (a disseminação deturpada de informações que se sobrepõem aos fatos em si) fortalece o sentimento negativo no eleitor com relação aos dois.

Levantamento feito pela Quaest para a Genial Investimentos apontou que 45% dos eleitores têm mais medo da continuidade do governo Bolsonaro; 40% temem a volta do PT. A diferença entre os dois grupos caiu de 17 para apenas cinco pontos porcentuais entre junho e agosto. O levantamento, divulgado semana passada, não considera a intenção de voto em um candidato específico, mas o sentimento do eleitor na hora da escolha.

Pesquisadores estimam que metade do eleitorado não é fiel nem a Bolsonaro e nem a Lula, mas admite votar em um por ter medo do outro. "Existem dois polos muito influentes na cabeça do brasileiro, e existe um eleitor que não é apaixonado por nenhum desses dois polos, mas acaba ficando de um lado porque tem medo do que o outro representa", diz o cientista político Bruno Soller, do Instituto Real Time Big Data.

Segundo Soller, o medo de Lula cresce com a sensação de volta da corrupção, alinhamento internacional com ditaduras de esquerda, risco para o empresariado, empoderamento de pautas como aborto, drogas e LGBTQUIA+ e a fragilidade no combate ao crime.

HISTÓRICO. O governo do petista foi marcado por escândalos de corrupção, como o mensalão, que envolvia compra de apoio no Congresso. Quatro integrantes do primeiro escalão do PT foram presos, incluindo José Dirceu e José Genoino. Depois do impeachment de sua sucessora, Dilma Rousseff, o próprio Lula foi encarcerado pela Operação Lava Jato, em 2018, acusado de receber propina de empreiteiras em troca de favores no governo. Os processos contra ele foram arquivados, mas por falhas processuais.

Como presidente, Lula se alinhou a Hugo Chávez na Venezuela e a ditaduras na África, como a de Ornar Bongo no Gabão e de Teodoro Obiang na Guiné Equatorial. Também fez alianças com Kadafi na Líbia e José Eduardo dos Santos em Angola.

O medo de Bolsonaro nos eleitores, por outro lado, está associado à piora na condição de vida dos mais pobres, no acirramento do discurso de ódio contra minorias, na falta de preparo para comandar crises como a pandemia, na ruptura democrática e no isolamento internacional.

Bolsonaro termina os quatro anos de mandato como um pária por ignorar fóruns globais. Aliado de Donald Trump, ele não reconheceu a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos num primeiro momento e travou um embate direto com o presidente da França, Emmanuel Macron, envolvendo questões ambientais.

Na pandemia, negou a doença que matou mais de 680 mil pessoas no Brasil e foi contra a vacinação. O Supremo Tribunal Federal (STF) investiga uma rede de fake news operada por aliados diretos dele para atacar seus adversários. Já na economia, Bolsonaro encerra os quatro anos de gestão com número recorde de pessoas em situação de pobreza.

INSEGURANÇA. Um dos mais tradicionais políticos do MDB, o ex-governador gaúcho Pedro Simon afirma que o comportamento imprevisível de Bolsonaro e sua postura radical reforçam o temor do eleitor com um segundo mandato. "A gente olha para o Bolsonaro, vê que ele é uma pessoa que não passa em um (teste) psicotécnico. É uma pessoa que a gente não tem confiança."

Lula, por sua vez, na avaliação de Simon, provoca medo ao emitir sinais dúbios. "Em primeiro lugar, ele não foi absolvido, anularam o processo, mas não esclareceram o assunto. Segundo, essa interrogação do Lula... Trazer como seu vice uma pessoa da qual ele disse horrores lá atrás é uma grande interrogação", declarou.

"Para o Lula, a área mais complicada e sensível é a questão do combate à corrupção e o desempenho do PT durante o mandato de sua sucessora, que não trouxe bons frutos", complementou o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.

ESTRATÉGIA. Provocar medo no eleitorado sempre foi uma estratégia dos marqueteiros de campanhas eleitorais. A diferença agora é que, pela primeira vez, estão na disputa um ex-presidente contra o atual. Lula e Bolsonaro são as duas maiores lideranças políticas do País, ambos têm torcidas e suas gestões e histórias despertam no eleitor incertezas sobre que Lula ou que Bolsonaro virão nesse possível novo mandato.

Após ter trabalhado em 91 campanhas majoritárias pelo País, o cientista político Antonio Lavareda afirma que o medo é uma das ferramentas emocionais usadas pelas candidaturas para reforçar os sentimentos de raiva e ansiedade. "Os brasileiros estão inseguros com o seu futuro, com o futuro das suas famílias. Isso desperta ansiedade e leva as pessoas a reavaliarem as escolhas anteriores", afirmou.

Em 1989, o então presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mário Amato, causou polêmica ao dizer que 800 mil empresários deixariam o País se Lula ganhasse. Em 1995, a campanha de Fernando Henrique Cardoso aproveitou o sucesso do Plano Real para propagar o medo da volta da inflação. A disputa de 2002 foi marcada pela atriz Regina Duarte, na campanha de José Serra. "Eu tenho medo", disse, em relação a Lula. Em 2014, a propaganda da petista Dilma Rousseff divulgou que a proposta de Marina Silva (então no PSB, hoje na Rede), de dar autonomia ao Banco Central tiraria comida da mesa das famílias. A fake news do PT ajudou a derrubar a adversária.

A "campanha do medo" deste ano reeditou Regina Duarte. Na terça-feira, 16, ela, que foi secretária de Cultura de Bolsonaro, disse que o presidente "é exemplo de democracia para o mundo". "Como em 2002, eu tenho medo (de Lula)'", repetiu a atriz.

Do outro lado, o deputado André Janones (Avante-MG), que tem forte presença nas redes sociais, entrou de cabeça na campanha digital de Lula e tem se referido a Bolsonaro como "futuro presidiário".

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"Os brasileiros estão inseguros com o seu futuro , com o futuro das suas famílias.

Isso desperta ansiedade e leva as pessoas a reavaliarem as escolhas anteriores "

Antonio Lavareda cientista político e pesquisador do Ipespe 

Igor Kipman, verdadeiro amigo do Haiti - Ricardo Seitenfus

 IGOR KIPMAN, VERDADEIRO AMIGO DO HAITI

Ricardo Seitenfus

No início de maio, faleceu, aos 71 anos, em sua cidade natal, Curitiba, Igor Kipman, embaixador do Brasil no Haiti de 2008 a 2012. Poucos no Haiti o conhecem bem. A razão é simples: ao contrário dos colegas representantes do Tridente Imperial, Igor Kipman era avesso a sermões e pressões, não usava a imprensa para sua propaganda pessoal ou de seu país, trabalhava discretamente e acima de tudo tinha um respeito sem limites pelo Haiti e seu povo. Conselheiro do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e então responsável pelo Departamento de América Central e Caribe, em 2007, Igor passou em revista, com o chanceler, os nomes passíveis de serem designados Embaixadores no Haiti. Depois de estudar a lista, o Ministro lhe perguntou: “E por que não o seu nome não está na lista?”. 
Próximo ao fim de sua trajetória profissional, caso não se tornasse embaixador, Igor deveria deixar a carreira. Apesar disso, não se candidatou ao posto. Só o conseguiu por decisão do ministro Amorim. Isso diz muito sobre a personalidade de Igor. É com essa mesma contenção pessoal que ele comandará uma verdadeira revolução nas relações haitiano-brasileiras. 
Durante seus quatro anos em Porto Príncipe, Igor organizou três visitas presidenciais ao Haiti, algo inédito na história da diplomacia brasileira! Além do ofício delicado e constante entre a diplomacia tradicional e a relação com a importante participação militar brasileira na MINUSTAH, incluindo o alto comando, Igor também atuou em outros três níveis. O primeiro diz respeito às suas obras de caridade. Incentivado pela determinação de sua esposa, Roseana Aben-Athar Kipman, esse casal extraordinário é o oposto da imagem que costumamos ter dos diplomatas. Roseana, pequena, parecendo muito mais jovem do que a avó que era na realidade, simpática, sorridente, transbordava de energia. Ela simbolizou para mim a verdadeira ajuda humanitária. Mergulhou resolutamente nesse Haiti que me assustava, tinha responsabilidades que a princípio me escapavam; seus longos dias foram dedicados a ajudar orfanatos, creches, escolas e famílias inteiras. Ela trabalhou com aquelas que chamava de “minhas irmãs”: freiras brasileiras encarregadas de orfanatos em Cité Soleil, Jérémie, Léon. Aonde quer que ela fosse, estava cercada por soldados que deveriam mantê-la segura, mas que, na verdade, ajudavam-na a carregar sacos de mantimentos, medicamentos, roupas e materiais escolares. 
Uma vez por ano, o casal alugava um Tap-Tap às suas expensas, lotava-o de órfãos e os levava para a residência oficial. Cada criança era objeto de especial atenção e acolhida com um beijo da embaixadora. Jogos, petiscos, bebidas, música, dança e mergulhos na piscina ditavam o ritmo de uma festa infantil que seria normal em outras circunstâncias, mas que representava para aquelas crianças um evento inesquecível e único. O segundo foi a coordenação da assistência humanitária e de desenvolvimento. Para evitar duplicidade de esforços, mais de trinta projetos de cooperação técnica (nas áreas de saúde, agricultura, justiça, entre outras) ficavam sob o olhar atento de Igor e de sua equipe. Além disso, ganhou corpo a cooperação triangular com o Canadá (saúde) e a Espanha (reflorestamento) e a cooperação Sul/Sul com Cuba e Venezuela. 
Com o terremoto de janeiro de 2010, a cooperação para o desenvolvimento integral se transformou em ajuda de emergência. Também mudou o papel político de atores internacionais, incluindo o do Brasil e de seu embaixador. Essa diplomacia estritamente política era a terceira atividade importante de Igor Kipman, sobre a qual seguem algumas observações. Até a crise política do final de 2010, Igor desempenhou um papel fundamental no Core Group1 . Quando o resultado das 1 Grupo composto por representantes da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos e União Europeia, encarregado da coordenação internacional no Haiti. 

REVISTA DA ADB | 31 MEMÓRIA 32 |
 eleições para o Senado em fins de 2009 modificou sua composição, adotou-se uma moção de censura contra a primeira-ministra Michèle Pierre-Louis. Embora fosse bastante natural, em regime parlamentarista, uma mudança de governo quando surge uma nova maioria, a Comunidade Internacional protestou e se opôs a que tal regra fosse aplicada ao Haiti: madame Pierre-Louis era apreciada pela Comunidade Internacional e deveria permanecer em seu posto. O Core Group preparou uma nota de apoio, escrita pelo Representante da União Europeia (o italiano Francesco Gosetti Di Sturmeck) e aprovada pelos Estados Unidos, com o objetivo de protestar contra a moção de censura. Antes que a nota se tornasse pública, tentei mostrar a meus colegas (a maioria deles oriundos de países com regimes parlamentaristas) que não poderia haver dois pesos e duas medidas. 
Em outras palavras, que uma situação considerada normal em seus países fosse tratada como um sacrilégio no Haiti. Finalmente, o governo haitiano teria um novo primeiro-ministro porque Kipman se dissociaria da nota e impediria assim uma nova ingerência da Comunidade Internacional. Francesco, após ouvi-lo, disse simplesmente encerrando a assunto: “Touché! Coulé!”2 . Quando, em 28 de novembro de 2010, a Comunidade Internacional, em reunião ampliada do Core Group, cujo porta-voz era Edmond Mulet, “convidou” o presidente René Préval a deixar o Palácio Nacional e partir para o exílio, fiz objeções nestes termos: “Foi assinado nas Américas, em 2001, um documento sob o título de Carta Democrática Interamericana. Esta Carta estipula que qualquer modificação, fora dos preceitos constitucionais, do mandato de um Presidente eleito democraticamente, deve ser considerada como um putsch”. 
No entanto, falando apenas em meu nome pessoal porque neste conclave golpista a OEA estava representada por seu secretário adjunto de triste memória, vindo especialmente de Washington, tive que encontrar aliados. Então, olhando na direção onde estava o embaixador Kipman, perguntei a ele: “Não conheço a posição do Brasil”. Ao que ele respondeu imediatamente: “O Brasil tem a mesma interpretação”. 

Para meu grande alívio, eu não estava só e o golpe fracassou. Fizemos isso porque, aos nossos olhos, estávamos prestes a cometer uma ignomínia moral e um erro político grosseiro. Com a participação ativa da Comunidade Internacional, iríamos mais uma vez empurrar o Haiti para o precipício evocado por Luigi Einaudi durante a crise de fevereiro de 2004. Após a publicação, pela Comissão Eleitoral Permanente (CEP), dos resultados do primeiro turno das eleições em sete de dezembro de 2010, Porto Príncipe totalmente bloqueada, recebi um convite para participar da reunião do Core Group; Essa reunião foi solicitada por Préval no local que servia de escritório de Mulet, dentro da Base Logística da MINUSTAH, próxima ao aeroporto. Luís Guilherme Nascentes, Igor Kipman e eu chegamos ao Boulevard Delmas e fomos barrados por uma barricada que bloqueava completamente o caminho. Nesse instante soa o celular de Igor. Era Mulet informando que nenhum membro do Core Group podia se mover e que Préval tampouco. A reunião foi suspensa. Demos meia-volta. No caminho de retorno, Kipman me disse: “Já que Préval não pode sair de casa, por que não vamos vê-lo? Se o Presidente da República quer nos ver, devemos fazer tudo o que pudermos para satisfazê-lo.” Aplaudi a decisão e imediatamente telefonei para o Primeiroministro Jean-Max Bellerive. Ele garantiu que Préval nos receberia e que ele próprio participaria da reunião. Então tomamos a direção de Kenscoff. 

Pouco antes de chegarmos a um cruzamento, novamente uma barricada impedia a passagem. Além dos civis, havia também policiais. Os fuzileiros navais brasileiros desembarcaram com suas armas e, com a ajuda da polícia, removeram os obstáculos. 
De repente, ouvi o sibilar de balas ricocheteando no metal. Nosso veículo fora atingido. Kipman manteve a calma e disse: “Não precisa se preocupar”. Um policial haitiano armado se afastou do grupo e ultrapassou nosso veículo. Ele subiu no barranco ao lado da estrada e disparou várias vezes. O tiroteio cessou. Retomamos nossa viagem até a residência de Préval. Concordamos em formar um Grupo de Amigos para mediar a crise. Sem que eu soubesse (tampouco Kipman), no dia anterior, em Washington, o Core Group local também havia sugerido a criação de um Grupo de Amigos similar ao modelo proposto por Préval. 

No entanto, o encontro de que acabara de participar – praticamente simultâneo – com o embaixador brasileiro, o presidente e o primeiro-ministro haitiano rendera uma proposta semelhante. Foi o suficiente para os Estados Unidos e Mulet: interpretaram como uma manobra brasileira para garantir a permanência de Préval na presidência e, portanto, decidiram sabotá-la. Durante a décima reunião na sede da OEA em Washington, os Estados Unidos recuaram e rejeitaram o Grupo de Amigos. Com essa reviravolta, não foi mais possível falar em mediação. Na França, Lionel Jospin, sondado a fazer parte daquela proposta, fez consulta ao Quai d’Orsay. Não só a França se opôs a ela, como também proibiu a possibilidade de financiamento da União Europeia ao Clube de Madri para tal tarefa. Mais uma vez, o Clube de Madri mostrou sua verdadeira face: uma simples ferramenta para instrumentalizar a política externa de alguns países da Europa Ocidental. Ricardo Seitenfus foi representante especial da OEA no Haiti entre 2009-2011. É autor, entre outros livros, de “Les Nations Unies et le choléra en Haïti: coupables mais non responsables?” e de “L’échec de l’aide internationale à Haïti: dilemmes et égarements”, ambos publicados pela C3 Éditions, disponíveis em inglês, espanhol e português. Artigo originalmente publicado em bit.ly/igorkipman em 04 de maio de 2022. Tradução pela secretária Clarissa Alves Machado. Michelle Bachelet não queria se envolver na crise. Apenas o ex-Secretário-Geral da OEA, embaixador Baena Soares, respondeu ao chamado. 

O fato de ser brasileiro reforçou a suposta teoria da conspiração. Ao invés de utilizar a fórmula de Grupo de Amigos proposto pelo Core Group de Washington, com a vantagem de também ter sido proposta por Préval e não imposta pela Comunidade Internacional, o Core Group de Porto Príncipe preferiu torpedeá- -la porque frustrou sua estratégia de derrubada do Presidente. Depois que a proposta do Grupo de Amigos foi rejeitada, a posição de Igor Kipman também mudou. Ele retornou a reserva que sempre se impôs. Dei-me conta de que Brasília não tinha intenção de fazer algo que pudesse perturbar seus interesses estratégicos. O recente mal- -entendido serviu de lição. Para o Brasil, a crise em curso no Haiti não era mais que um episódio na longa via crucis a que aquele país nos havia acostumado. Igor nunca faltou com o senso de honra e de coragem, física e política. Ele acreditava no futuro do povo haitiano e trabalhou incansavelmente até os limites da diplomacia e da solidariedade para apoiá-lo em sua busca por um futuro melhor. Que ele descanse em paz!]

Ricardo Seitenfus foi representante especial da OEA no Haiti entre 2009-2011. É autor, entre outros livros, de “Les Nations Unies et le choléra en Haïti: coupables mais non responsables?” e de “L’échec de l’aide internationale à Haïti: dilemmes et égarements”, ambos publicados pela C3 Éditions, disponíveis em inglês, espanhol e português.

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ricardo.silva.seitenfus@gmail.com
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Da dúvida razoável depende a evolução humana.

O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade - David Graeber, David Wengrow - History book

 O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade (Portuguese Edition) by [David Graeber, David Wengrow, Claudio Marcondes, Denise Bottmann]

O despertar de tudo: Uma nova história da humanidade (Portuguese Edition) Kindle Edition


Neste clássico instantâneo e best-seller internacional, David Graeber e David Wengrow propõem uma nova versão de nossa história — do desenvolvimento da agricultura e das cidades às origens do Estado, da democracia e da desigualdade.

Durante séculos, nossos ancestrais foram considerados primitivos e infantis, sendo divididos em duas categorias: iguais, livres e inocentes ou guerreiros e brutais. Com base no pensamento de Jean-Jacques Rousseau e de Thomas Hobbes, a ideia que perdurou ao longo dos anos foi a de que só poderíamos alcançar a civilização sacrificando essas liberdades ou domesticando nossos instintos mais básicos.
Neste livro revolucionário, o antropólogo David Graeber e o arqueólogo David Wengrow demonstram como essas teorias que emergiram no século XVIII foram uma reação à crítica feita por povos indígenas à sociedade europeia — e por que elas estão erradas. Ao oferecer essa nova perspectiva, os autores questionam tudo o que conhecemos sobre as origens da agricultura, da propriedade, das cidades, da democracia, da escravidão e da própria civilização, iluminando outras formas de liberdade e organização social e nos convidando a imaginar qual futuro desejamos para nós mesmos.

"Um banquete intelectual. Não há um único capítulo que não questione (com bom humor) crenças intelectuais estabelecidas." — Nassim Nicholas Taleb

"Esta obra nos apresenta um mundo habitado por pessoas inteligentes, criativas e complexas que, por milhares de anos, inventaram quase todas as formas de organização social e buscaram liberdade, conhecimento, experimentação e felicidade muito antes do 'iluminismo'." — Robin D. G. Kelley

"Um fio condutor poderoso deste livro é a retomada das perspectivas indígenas como influência fundamental no pensamento europeu, uma contribuição valiosa para a decolonização das histórias globais." — Rebecca Solnit

Bicentenário da Independência: a construção da Nação e o seu futuro: Webinar do IAB, 5/07, canal YouTube

 Webinar do IAB: 

Bicentenário da Independência: a construção da Nação e o seu futuro

A abertura do Evento será realizado no Plenário Histórico do IAB e os painéis serão 100% virtual e transmitido pelo canal do IAB no Youtube em: www.youtube.com/user/tviab 





Não chore pela Argentina, os argentinos precisam aprender, um dia - Helio Beltrão (FSP)

 Quando Macri tentou administrar o desastre do kirchnerismo, ele não foi até o fim, o que implicaria fazer os argentinos sofrerem um pouco, para colocar a casa em ordem, Não teve coragem ou condições de fazêlo. 

Se por acaso os liberais ganharem desta vez, tampouco conseguirão, a menos de uma cura realmente radical. Não sei se conseguirão...

Paulo Roberto de Almeida

O POPULISMO E A DERROCADA ARGENTINA!
 

Helio Beltrão, presidente do instituto Mises Brasil

Folha de S.Paulo, 19/08/2022

É assustador como a paixão pelo populismo —identificado em particular com o caudilho e general Perón e mais recentemente com o kirchnerismo— tenha arrasado o glorioso passado econômico da Argentina.

Cunhada por uma brilhante Constituição —promulgada em 1853 e inspirada por liberais—, poucas décadas depois despontou no século 20 como um dos países mais ricos do mundo. Hoje, um século mais tarde, o país tem 50% da população na pobreza e uma inflação que pode fechar o ano acima de 80%. O que ocorre e como afeta o Brasil?

O povo argentino nutre uma espécie de insanidade continuada, de idolatria a salvadores da pátria que empurrem soluções de cima para baixo. No laboratório de testes de políticas públicas, a Argentina figura como o maior fracasso mundial, com mais de cem anos de declínio.

Desde pelo menos os anos 1940, os políticos argentinos adotam políticas tóxicas ao empreendedor, à poupança, à propriedade privada, à moeda, e à ética do trabalho, o exato oposto ao que fizeram os países que mais prosperaram. O kirchnerismo dobrou a aposta.

O Brasil, rodeado por países governados pela esquerda carnívora, tem DNA parecido. Por longos períodos adotamos o intervencionismo e políticas de cunho socialista. Corremos o risco de tomar o mesmo caminho novamente, portanto é preciso entender o que ocorre nos pampas. Toda atenção é pouca ao "efeito Orloff": "Eu sou você amanhã".

O "hoje" da Argentina é tenebroso. O decadente governo de Alberto Fernández assinou um acordo de US$ 44 bilhões com o FMI. Apesar do selo do Fundo, o título soberano ("bond") em dólares, que vence em 2030, o AL30, está rendendo 50% ao ano ao investidor que encarar o risco. A taxa surrealista indica altíssima probabilidade de mais um calote (default), o nono de sua história.

A inflação está descontrolada: o banco central segue financiando o governo com dinheiro criado do nada. Ato contínuo, tenta enxugar a liquidez emitindo títulos seus (os Leliq) e lançando operações similares às compromissadas que conhecemos aqui. Mas a operação-enxuga é uma bomba-relógio, com pouca toalha e muita liquidez. O frágil represamento dessa enorme liquidez, de quase duas vezes o tamanho da base monetária, vaza continuamente com o pagamento de juros altíssimos, que aumenta a massa monetária e a inflação. O iPhone 13 Pro topo de linha já é encontrado por mais de 1.000.000 (1 milhão) de pesos, por exemplo, e um óleo de cozinha sai mais caro que a cédula mais alta, de 1.000 pesos.

Na política, a oposição já lidera nas pesquisas para presidente. O kirchnerismo ("Frente de Todos") despencou, pontuando abaixo da aliança JxC ("Juntos por el Cambio") de Macri, Larreta e do liberal López Murphy, e empatando com a novidade da terceira via, o "Avanza Libertad", dos libertários Javier Milei e José Luis Espert (que buscam agregar os conservadores em seu apoio).

Os argentinos estão fartos da mesmice da alternância entre o peronismo kirchnerista e o socialismo vegetariano da UCR e aliados (que fracassaram no governo Macri em mudar a agenda econômica e combater os privilégios).

Javier Milei, que lidera em algumas pesquisas, tem mérito ao demonstrar didaticamente, há tempos, que as políticas inflacionárias, de Estado grande, e antinegócios são prejudiciais aos pobres e à prosperidade.

As duas forças de oposição têm uma oportunidade única de se aliar nas próximas eleições e escantear o kirchnerismo de uma vez por todas. Será excelente para a Argentina, e para o Brasil.

Desindustrialização, Brasil em Retrocesso (Estadão)

 

DESINDUSTRIALIZAÇÃO, PAÍS EM RETROCESSO!

O Estado de S. Paulo, 03/08/2022 

Completados dez anos de recuo da produção industrial, o Brasil continua firme na desindustrialização, sem uma política desenhada para recuperar e modernizar o setor. Só uma pessoa notavelmente desinformada confundiria com política industrial a mera redução – além de tudo, mal planejada e confusa – do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Política de desenvolvimento, geral ou setorial, envolve um trabalho muito mais complexo e muito distante das práticas observadas, em Brasília, a partir de 2019. Envolve definição de metas, elaboração de diagnósticos, fixação de etapas e uma clara identificação de recursos e de processos necessários. A indústria instalada no País fechou o primeiro semestre produzindo 18% menos que em maio de 2011, pico da série histórica em uso pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A reação ao tombo de 2020, quando o Brasil enfrentou a primeira fase da pandemia, logo se esgotou. A produção cresceu 3,9% em 2021, sem compensar o recuo de 4,5% ocorrido no ano anterior. A partir daí, a atividade prosseguiu de forma insegura. Em junho, o setor produziu 0,4% menos do que em maio, depois de quatro meses consecutivos de expansão, e 0,5% menos que em dezembro do ano passado. Além disso, ficou 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, em fevereiro de 2020. O balanço geral do semestre foi negativo, com produção 2,2% inferior à de um ano antes. Em 12 meses o recuo acumulado foi de 2,8% em relação ao período anterior.

Alguns poderão atribuir as dificuldades da indústria a circunstâncias especiais, como a guerra na Ucrânia e a pandemia de covid-19. A atividade tem sido realmente afetada, no Brasil e em vários outros países, por desarranjos na cadeia de suprimentos. Têm faltado insumos, os custos têm subido e as consequências são bem visíveis em vários segmentos industriais. Além disso, negócios têm sido prejudicados, em todos os setores, por problemas conjunturais, como a inflação interna, os juros altos e o consumo prejudicado pelo desemprego e pela erosão da renda familiar.

Todos esses desafios são reais, mas o enfraquecimento da indústria, no Brasil, começou muito antes da pandemia, da invasão da Ucrânia e do recente surto inflacionário internacional. Em seis dos dez anos entre 2012 e 2021 houve recuo da produção industrial, segundo o IBGE. Não houve apenas diminuição do volume produzido. Houve também estagnação da capacidade produtiva, da tecnologia e do potencial de inovação, por falta de investimento em capital físico, isto é, em máquinas, equipamentos e instalações. Excetuados alguns segmentos e grupos empresariais, competitivos e em permanente avanço, o panorama geral é de enfraquecimento da indústria.

O retrocesso começou com erros de política econômica. Protecionismo excessivo, desperdício de recursos com “campeões nacionais”, capitalização deficiente, crédito caro, insuficiente esforço de pesquisa, pouco empenho na qualificação de mão de obra, infraestrutura ineficiente, insegurança jurídica e tributação disfuncional são problemas listados, há muitos anos, em estudos de competitividade.

Governos petistas deram pouca atenção à eficiência competitiva. Depois, passada a recessão de 2015-2016, houve um esforço de recuperação econômica e algum empenho em modernização institucional, mas a atividade novamente se estagnou a partir de 2019 e as noções de planejamento, de modernização produtiva e de metas de desenvolvimento sumiram da pauta governamental. Alguns analistas parecem ter confundido o abandono das ideias de metas e planos com uma opção pelo liberalismo.

Com a desindustrialização do País, abandonam-se conquistas acumuladas em um século de esforços de ampliação e de modernização do sistema produtivo – importantes também, é preciso lembrar, para a consolidação de um agronegócio eficiente e competitivo. Talvez se possa retomar o caminho da modernização a partir de 2023, se o próximo governo for capaz de pensar nos interesses mais amplos do Brasil e de ir além do voluntarismo e do populismo.


A esquerda latino-americana continua com os velhos cacoetes e manias - Christopher Garman, entrevista a José Fucs

‘A ESQUERDA ESTÁ DE MÃOS ATADAS NA AMÉRICA LATINA’!

José Fucs

O Estado de S. Paulo, 18/08/2022

O cientista político Christopher Garman, não “compra” a ideia de que o avanço da esquerda na América Latina se deve a uma guinada ideológica dos eleitores, como dizem por aí políticos e militantes do grupo. Segundo ele, o que está levando a esquerda a vitórias em série na região é “um profundo sentimento desencanto com o sistema e de revolta contra o status quo”. Nesta entrevista, que faz parte da série sobre o avanço das esquerdas na América Latina lançada pelo Estadão, ele afirma também que, no atual cenário regional e global, os governantes do grupo na região “estão de mãos atadas” e terão dificuldade para cumprir as promessas de campanha.

Como o sr. analisa a atual onda de governos de esquerda na América Latina? O que está levando a esta guinada para a esquerda na região? 

Isto não está acontecendo por causa de uma predisposição em favor de plataformas de esquerda. É um movimento de revolta contra o status quo. Quando a gente olha as pesquisas, a América Latina aparece no topo do ranking global de desencanto. A geologia da opinião pública está podre. Estamos vivendo um ambiente de insatisfação muito grande com a qualidade dos serviços públicos, com falta de confiança no sistema de forma mais ampla. A confiança nas lideranças políticas, nos partidos, no Judiciário, na mídia, está num nível muito baixo.

 

Na sua visão, a que se deve este alto grau de desencanto? 

É fruto de uma expansão brutal da classe média no período de alta dos preços das commodities, do início dos anos 2000 até 2011, 2012. Milhões de famílias saíram da miséria. Isso levou a uma mudança nas demandas eleitorais. A preocupação passou a ser mais segurança, saúde, educação. O eleitor associou a corrupção à má qualidade dos serviços públicos. Antes da pandemia, a corrupção havia se tornado o primeiro ou o segundo tema mais relevante no Brasil, no Chile, na Colômbia, no México, no Peru, e houve esse descrédito total no sistema. No fundo, o que a gente está vendo é uma combinação deste choque de falta de confiança com novas demandas de uma classe média emergente que são difíceis de entregar num contexto de crescimento econômico mais baixo.

 

Como a pandemia se encaixa neste cenário?

A pandemia pegou a América Latina, em termos epidemiológicos, com mais força do que outras regiões. Então, houve uma queda mais acentuada do PIB (Produto Interno Bruto), a desigualdade aumentou e a capacidade de os governos atenderem a essas demandas caiu. Isso exacerbou esse mal estar. Para completar, veio o choque de inflação global que reforçou a queda de renda das famílias mais pobres. Este é o caldeirão de revolta que está elegendo a esquerda na região. Como mais governos de direita e de centro estavam no poder, eles estão sentindo mais. A esquerda estava mais bem posicionada para navegar nesta onda.

 

Em que medida esta nova onda de esquerda é diferente da que se propagou pela América Latina do início dos anos 2000 até meados da década passada?

O quadro atual é muito diferente. A primeira onda aconteceu em meio ao boom das commodities e a um superciclo econômico e político que proporcionou uma abundância de recursos e levou a taxas de aprovação muito altas dos governantes. Agora, este ambiente de desencanto vai impactar a esquerda politicamente. Os governantes vão ter uma lua de mel curta e uma taxa de aprovação estruturalmente baixa. A capacidade de os governantes se reelegerem também deve diminuir estruturalmente.

 

Agora, hoje também está ocorrendo uma alta das commodities. Isto também não pode ter um impacto positivo para os atuais governantes latino-americanos? 

Sim, isto ajuda o governo do lado da arrecadação. Mas, em termos de trocas, não está ajudando muito, porque o valor das importações, dos insumos, também subiu muito. Os preços das commodities estão elevados, mas a renda caiu no Brasil e em outros países. A sensação de bem estar não está acompanhando este ciclo. Os ganhos políticos, portanto, não são os mesmos que os da primeira onda. Além disso, há um cenário de recessão nos Estados Unidos, na Europa, e de desaceleração na China. Isso deverá conter esta alta das commodities. Todos os países da América Latina aumentaram os juros para tentar controlar a inflação. A conta vai chegar nos próximos 12 meses. 

Que efeito isso deve ter? 

Os mesmos fatores que estão levando líderes da esquerda a ganhar as eleições vão dificultar seus governos e colocar restrições no que podem entregar e fazer. Por isso, o potencial de estrago da esquerda hoje está mais limitado, porque eles não vão ter capacidade de se reeleger, de encaminhar medidas mais ambiciosas, até porque muitas vezes não têm apoio parlamentar e terão de compor com o centro. Então, os governos de esquerda estão com as mãos atadas.


A Argentina se coloca voluntariamente como dependente de dois impérios - Román Lejtman (Infobae)

Apenas um país desprovido completamente de soberania, ou de simples orgulho nacional, aceitaria receber vetos de quem quer que fosse, como este: 

Argentina puede multiplicar su exportaciones con China -Beijing es el principal socio comercial de Estados Unidos-, pero Washington vetará acuerdos que impliquen ventajas estratégicas para su enemigo global. Por ejemplo: asuntos referidos a la seguridad, a las comunicaciones (5G) y a la energía (litio, centrales nucleares o represas hidroeléctricas)."

Acho que nem o Brasil do Bozo aceitaria isso, pois os militares não deixariam, mas nunca se sabe...

Paulo Roberto de Almeida

EL DIFÍCIL EQUILIBRIO DIPLOMÁTICO DE MASSA -ESTABILIZAR LA ECONOMÍA CON APOYO DE ESTADOS UNIDOS Y CONTENER LOS INTERESES DE CHINA EN LA ARGENTINA

 

A pocos días de viajar a Washington y New York, el titular del Palacio de

Hacienda enfrenta una compleja agenda exterior que está atravesada

por la disputa global entre Joseph Biden y Xi Jinping

 

Román Lejtman

InfoBae, 14/08/2022


Sergio Massa define un viaje a Washington y New York para obtener respaldo político a su plan de estabilización económica y alcanzar un puñado de inversiones destinadas a la energía, los alimentos y el litio. Sin el apoyo explícito de la Casa Blanca, el Fondo Monetario Internacional (FMI) y los bonistas más importantes de Wall Street, Massa estará en dificultades para cumplir con su ambiciosa agenda económica y financiera.

 

En DC se sorprendieron por la inesperada ofensiva de Xi Jinping que consiguió que Silvina Batakis firmará los avales definitivos para construir dos represas en Santa Cruz financiadas por tres bancos chinos y a continuación lograra que el embajador argentino en Beijing, Sabino Vaca Narvaja, calificara de provocación la visita de Nancy Pelosi a Taiwan.

 

Todo en 72 horas.

 

Massa llega al Salón Oval a través de Juan González, consejero de Seguridad Nacional de Joseph Biden para América Latina. González tiene trato fluido con el ministro -se hizo fan de Tigre por su insistencia- y ya han hablado de los intereses de Estados Unidos en la región y su rechazo al avance permanente de China en América Latina.

 

El ministro de Economía también conversó de este complejo asunto de política exterior con Marc Stanley, amigo personal de Biden y embajador de Estados Unidos en la Argentina. Massa y Stanley almorzaron la semana pasada en el Palacio Bosch, y los ejes de la charla calcaron el discurso geopolítico que se escucha en la Casa Blanca.

 

Esto es: Argentina puede multiplicar su exportaciones con China -Beijing es el principal socio comercial de Estados Unidos-, pero Washington vetará acuerdos que impliquen ventajas estratégicas para su enemigo global. Por ejemplo: asuntos referidos a la seguridad, a las comunicaciones (5G) y a la energía (litio, centrales nucleares o represas hidroeléctricas).

 

Massa llegará a Washington antes que concluya agosto y tiene audiencias previstas con Kristalina Georgieva -directora gerente del FMI-, Mauricio Claver Carone -titular del BID- y quizás con David Lipton, un economista muy influyente de la Secretaria del Tesoro. Será una gira corta que sólo incluirá DC y Manhattan.

 

“Al Club de París y a Qatar vamos a viajar más adelante. No podemos irnos muchos días. Todavía no acomodamos la economía”, confió un asesor de Massa que hace mucho que no duerme.

 

La gira por Washington y New York es organizada por Jorge Arguello -embajador argentino en DC-, Gustavo Pandiani -subsecretario para América Latina y el Caribe- y Marco Lavagna, titular del INDEC. Ellos acompañarán a Massa y no se descarta que se sume Silvina Batakis -como presidenta del Banco Nación-, Lisandro Cleri -vicepresidente del Banco Central- y el propio embajador Stanley.

 

Sergio Chodos, actual representante argentino en el FMI, no integraría la delegación oficial a Washington. Y su destino institucional está a merced de la decisión política de Massa.

 

El ministro de Economía, Sergio Massa, y Zou Xiaoli, embajador de China, durante un encuentro oficial en el Palacio de Hacienda

 

China tiene concedido a la Argentina un swap por 18.500 millones de dólares que están en el Banco Central. No se cuentan como reservas y se usan para financiar el comercio entre ambos países. Alberto Fernández y Massa no descartan una negociación con Xi que permita robustecer las reservas públicas con una cuota generosa del swap chino.

 

Pero Beijing desconfía de la seguridad jurídica de la Argentina y sólo sumará una porción del swap a las reservas si el Presidente y su ministro de Economía avanzan en la construcción de las centrales nucleares, permiten a capitales chinos comprar más reservas de litio y abren las licitaciones de 5G a las empresas de tecnología que están vetadas por la Casa Blanca.

 

El embajador de China en Buenos Aires, Zou Xiaoli, se reunió con Massa en el Quinto Piso del Palacio de Hacienda. Zou repitió su guión geopolítico y el ministro nunca se olvidó que Argentina está en el área de influencia de Estados Unidos.

 

Massa tendrá una ardua tarea en Economía. Necesita el respaldo político de Biden y contener la ofensiva de Xi. Una agenda internacional que es más difícil que mediar entre Alberto Fernández y Cristina.

 

Infobae 14 de agosto de 2022

 


Como a esquerda pode apoiar o fascista do Putin? O antiamericanismo é maior que o antifascismo? - Demetrio Magnoli

 Creio que a esquerda tem, sim, um antiamericanismo tão anacrônico, míope e torpe, que o seu anti-imperialismo se esgota no antiamericanismo, e aceita qualquer coisa que tenha tido sabor de antiamericanismo, mesmo se é o fascismo de esquerda, de uma Venezuela chavista, de uma Nicarágua orteguista, de uma Rússia putinesca.


Stalingrado, versões de uma batalha!

Demétrio Magnoli, sociólogo, doutor em geografia humana pela USP

Folha de S.Paulo, 19/08/2022

 

No 23 de agosto de 1942, 80 anos atrás, começou a Batalha de Stalingrado, ponto de inflexão da guerra mundial no teatro europeu. Desde 2013, Volgogrado reverte a seu antigo nome nos aniversários da batalha crucial. O culto a Stalingrado descortina a evolução do nacionalismo russo, de Stálin a Putin.

 

A primeira versão sobre a batalha fixou-se em 1943, na Conferência de Teerã, quando Churchill passou às mãos de Stálin a Espada de Stalingrado, oferenda do rei George 6º à cidade heroica. Originalmente, a URSS traduziu a vitória como marco da unidade das potências aliadas contra o nazifascismo.

 

Durou pouco. Desde 1947, Stálin ergueu uma segunda versão, adaptada à nova rivalidade da Guerra Fria. Os antigos aliados foram reinterpretados como herdeiros do nazifascismo e a batalha transformou-se na certidão de batismo da Grande Rússia soviética. Duas décadas depois, numa cidade já renomeada, Kruschev inaugurou A Pátria Convoca, a estátua de 85 metros de altura, no estilo do realismo socialista, de uma mulher guerreira empunhando uma espada.

 

Putin, que qualificou a implosão da URSS como "a maior catástrofe geopolítica do século 20", conserva a versão grão-russa sobre a batalha, mas a recobre com uma tintura especial. A sua Grande Rússia substitui as referências comunistas por uma pasta ideológica inspirada no fascismo. No salto, ocupa lugar destacado o filósofo político cristão Ivan Illyn (1883-1954).

 

Illyn foi expulso da Rússia soviética em 1922. No exílio, em Berlim e depois na Suíça, conectou-se aos emigrados russos contrarrevolucionários e abraçou o pensamento fascista. Em 1950, escreveu um ensaio que viria a ser repetidamente citado por Putin. Nele, identificava um "experimento hostil", urdido pelas potências ocidentais, de fragmentação da Rússia num "gigantesco Bálcãs", que seria "enganosamente exibido como supremo triunfo da ‘liberdade’ e da ‘democracia’...".

 

"A propaganda alemã investe dinheiro e esforço singulares no separatismo ucraniano", alertava Illyn. Em 2005, ano do primeiro levante popular ucraniano contra um governo pró-russo, Putin obteve a transferência dos restos mortais do pensador fascista para a Rússia e, quatro anos mais tarde, depositou flores em sua tumba, no monastério Donskoy. Em 2013, o Kremlin indicou o livro "Nossas Tarefas", no qual encontra-se o ensaio, como leitura fundamental para os altos funcionários russos.

 

Segundo Illyn, Hitler cometera o equívoco fatal do ateísmo. As impurezas da modernidade –isto é, o pluralismo e o advento da sociedade civil– teriam exilado Deus e precisariam ser purgadas pela restauração do mundo antigo. A missão redentora caberia a uma nação justa (a Rússia) disposta a seguir um líder descomunal engajado na criação de uma nova totalidade política. Putin tem bons motivos para recomendar a seus cortesãos o estudo da obra de Illyn.

 

Otan? O pretexto inicial para a invasão da Ucrânia sobrevive apenas no discurso do "anti-imperialismo" ocidental. As vozes ligadas ao Kremlin empregam a linguagem exterminista típica do fascismo. Margarita Simonyan, chefe da rede estatal RT, explica que "a Ucrânia não pode continuar a existir. O ex-presidente Dmitri Medvedev refere-se aos ucranianos como "bastardos e degenerados". Vladimir Soloviov, âncora de TV premiado por Putin, prefere a palavra "vermes": "Quando um veterinário desparasita um gato, para ele é uma operação especial, para os vermes é uma guerra e para o gato é uma limpeza".

 

A versão antiocidental da Batalha de Stalingrado contada por Stálin celebrava uma Grande Rússia destinada pela história a ser a URSS. A retificação emanada de Putin glorifica uma Grande Rússia eterna: a espada purificadora que Deus cravará num mundo pecaminoso. A adoração devotada pela extrema direita a Putin é normal. Já a simpatia da esquerda solicita investigação.