quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Países do Mercosul aprovaram texto de acordo com UE: 2024. Comecei a escrever sobre a relação bem antes disso - Paulo Roberto de Almeida

 Os jornalistas dizem que o acordo demorou 25 anos para ser concluído. Acho pouco. Eu comecei a acompanhar a aproximação dos dois blocos desde 1990, quando cheguei em Montevidéu, um ano antes da assinatura do Tratado de Assunção, do que é prova este primeiro artigo: 

186. “Europa e América Latina no rumo da Integração: Desafios do Presente, Promessas do Futuro”, Montevidéu, 29 junho 1990, 16 p. Texto de conferência sobre problemas da Europa e América Latina em perspectiva.

Depois, escrevi um artigo para ser publicado em nome do então presidente Fernando Collor num jornal uruguaio: 

220. “MERCOSUL: o Salto para o Futuro”, Montevidéu, 18 dezembro 1991, 4 p. Texto de artigo escrito para ser publicado na revista uruguaia La Comarca (“Negocios y Empresas del Mercosur”) em nome do Presidente Fernando Collor de Mello.

Logo em seguida, os europeus começaram a tentar fazer do Mercosul um bebé necessitando da mamadeira comunitária, para cresceer belo e forte. Escrevi um artigo sobre os primeiros esforços de cooperação: 

248. “Mercosul-CEE: Acordo de Cooperação”, Brasília: 29 maio 1992, 2 p. Nota informativa, sem assinatura, sobre a assinatura do Acordo de Cooperação Interinstitucional entre a Comissão das Comunidades Europeias e as instituições do Mercosul, realizada em Santiago do Chile nesse dia, descrevendo os objetivos e o contexto político do acordo. Publicado em forma resumida em diversos jornais do dia 30.05.92 e, em forma completa, sob o título “Mercosul e CEE abrem caminho da cooperação” no Correio Braziliense, Caderno Internacional, número especial sobre o Mercosul (Brasília: 7/07/1992, p. 4). Relação de Publicados n. 084.

Continuei escrevendo sobre a integração no bloco tendo em conta o exemplo europeu: 

257. “Tudo (ou quase tudo) que você sempre quis saber sobre o Mercosul ... e nunca teve a quem perguntar”, Brasília: 3 julho 1992, 9 p. Trabalho em forma de perguntas e respostas sobre aspectos diversos do Tratado de Assunção e do processo de integração sub-regional, numa perspectiva comparada com a experiência europeia. Publicado, sob o título “O que você quer saber sobre o Mercosul e não sabe a quem perguntar”, no Caderno Internacional do Correio Braziliense, especial sobre o Mercosul (Brasília: 7/07/1992, p. 6). Relação de Publicados n. 086.

Já então eu falava de Vidas Paralelas, Mercosul-UE: 

275. “CEE-Mercosul: Vidas Paralelas”, Brasília: 22 setembro 1992, 15 p. Texto de palestra proferida em Seminário sobre o “Mercosul e a Comunidade Econômica Europeia: Aspectos Legais Relevantes dos Processos de Integração”, organizado pelo Escritório Pinheiro Neto-Advogados, em São Paulo (23 de setembro de 1992).

Continuei nessa trilha, e vários dos trabalhos então produzidos serviram para preparar meu primeiro livro sobre o Mercosul, analisado sob a ótica do experimento europeu bem mais exitoso: 

286. “Mercosul e Comunidade Econômica Europeia: Aspectos Históricos e Políticos dos Processos de Integração em sua Dimensão Institucional Comparada”, Brasília: 12 outubro 1992, 19 p. Texto elaborado para consolidar a reflexão comparada sobre esses processos institucionais. Encaminhado ao IRI/PUC-RJ. Revisto e modificado parcialmente em 14/11/1992. Publicado no Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (vol. XLV, n. 77/78, janeiro-março 1992, p. 143-151). Relação de Publicados n. 076.

Até passei a subsidiar palestras sobre o Mercosul na Europa, com base na minha expertise sobre o assunto: 

295. “Le Present et Le Futur du Mercosud: l’Optique Brésilienne”, Brasília: 29 outubro 1992, 16 p. Texto preparado para palestra do Emb. Jorio Dauster, Representante junto às Comunidades Europeias, no Colóquio “Le présent et le futur du MERCOSUD”, na “Académie Diplomatique Internationale” de Paris (30 outubro 1992).

Também cheguei a fazer artigos e subsídios para palestras para o então chanceler, futuro presidente: 

300. “Mercosul: A Integração em Marcha”, Brasília: 11 novembro 1992, 12 p. Artigo-ensaio sobre a integração regional preparado para publicação em nome do Chanceler Fernando Henrique Cardoso na revista em espanhol da UNESCO, Dialogo. Revisto e reduzido no Gabinete, sob o título “Mercosul: a perspectiva brasileira”.


311. “O Brasil, a Integração do Mercosul e a Integração Europeia”, Brasília: 13 janeiro 1993, 11 p. Subsídios para discurso do Chanceler Fernando Henrique Cardoso na “Chattam House”, Londres, em sua viagem à Inglaterra (27/01/1993).


313. “The Southern Common Market Integration Process, Mercosul: The Brazilian Perspective”, Brasília: 20 janeiro 1993, 12 p. Subsídios para discurso do Ministro de Estado na Canning House Conference “Latin American Integration: its potential and significance for business” (Londres 27/01/1993).

Esta palestra, em especial, serviu de base para escrever meu primeiro livro, que teve exatamente esse mesmo título: 

333. “O Mercosul no contexto regional e internacional”, Brasília: 5 abril 1993, 26 p. Texto-guia para palestra no Seminário “Mercosul e Comunidade Europeia: Os Trabalhadores no Processo de Integração” (IRES-DESEP-CESIT, Campinas, 5-6 de abril de 1993) e apresentado apenas parcialmente. Revisto em 14 de abril de 1993 e apresentado no Seminário Latino-Americano de Planejamento Urbano, promovido pelo Programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS e realizado em Campo Grande/MS, de 4 a 8 de maio de 1993. Publicado nos Anais do seminário: O Desafio do Desenvolvimento (Campo Grande, UFMS, maio de 1993, p. 191-203). Publicado na revista Política Externa (São Paulo: vol. 2, nº 2, setembro-outubro-novembro 1993, p. 86-103). Relação de Publicados n. 127 e 147.


348. O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.). Relação de Publicados nº 141.

Esse meu primeiro livro está livremente disponível em minha página de Academia.edu: 

O Mercosul no contexto regional e internacional


A ilusão de ótica de que uma meta de inflação mais alta traria os juros para patamares nais baixos - Marcelo Guterman

 Marcelo Guterman é um DEMOLIDOR de ilusões econômicas, não apenas entre jornalistas, mas entre os próprios economistas...

Ilusão de ótica

A jornalista Maria Clara do Prado, do Valor, junta-se ao coro daqueles que pensam que uma meta de 3% para a inflação é exageradamente baixa para o Brasil. Até o gestor Luís Stuhlberger, uma das estrelas da Faria Lima, afirmou outro dia que a maioria dos emergentes tem meta maior do que 3%, no que ele está redondamente enganado. Na verdade, a maioria dos emergentes tem meta igual ou menor que 3%, sendo as únicas exceções relevantes a África do Sul, a Índia, a Rússia e a Turquia. Nem preciso dizer que, desses quatro, dois não têm economias funcionais.

Mas voltemos ao artigo da jornalista. Confesso que fiquei confuso, porque ora Maria Clara parece defender uma meta maior, ora parece defender uma reforma de todo o sistema de metas, sem especificar o que seria colocado no lugar. Como essa segunda hipótese parece só um devaneio, vou concentrar-me na primeira, que é mais prática.

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Maria Clara afirma que o sistema de metas só teve sucesso 6 vezes ao longo da sua vigência no Brasil. Deve estar se referindo aos anos em que a inflação ficou abaixo da meta. De fato, isso aconteceu somente nos anos 2000, 2006, 2007, 2009, 2017 e 2018. Aqui, ela parece criticar o próprio sistema de metas, porque o nível da meta, em grande parte do tempo em que não foi cumprida, era acima dos 3% atuais. Se o sistema não conseguiu entregar inflação na meta com a meta em 4,50% ou acima, então o sistema não presta, não é mesmo?

Mas vamos, como disse acima, nos ater à hipótese de que a jornalista esteja defendendo uma meta mais alta. Ora, em todo esse tempo até 2019, quando a meta começou a ser lentamente reduzida, a inflação ficou acima da meta na maior parte do tempo. É o que podemos observar no gráfico 1.

Neste gráfico, mostro o IPCA, a meta, e uma média da diferença observada entre os dois. Essa média é calculada em três períodos: julho/2003 a junho/2011, julho/2011 a dezembro/2016 e janeiro/2017 a outubro/2024. O primeiro período refere-se ao mandato de Henrique Meirelles no BC, o segundo ao mandato de Alexandre Tombini e o terceiro aos mandatos de Ilan Goldfajn e Campos Neto. Defasei em 6 meses o início de cada período em relação à tomada de posse no BC de cada presidente porque a mudança de política monetária leva algum tempo para ter efeito.

A média da inflação no período Meirelles foi de 1,3% acima da meta, no período do Tombini foi de 2,6% e no período Goldfajn/Campos Neto, foi de 1,1%, mesmo com uma pandemia no meio. Note que a política monetária de Alexandre Tombini produziu uma inflação muito acima da meta MESMO COM UMA META MAIS ALTA, DE 4,5%. Ou seja, uma meta mais alta não serviu de nada para que o sistema tivesse mais sucesso.

Mas será que, pelo menos, Tombini conseguiu praticar uma taxa de juros mais baixa, sonho de consumo daqueles que clamam por uma meta mais baixa? É o que podemos observar no gráfico 2, em que mostro a taxa de juros real observada (Selic média menos o IPCA de 12 meses) calculada nos mesmos períodos do gráfico 1.

A média da taxa de juros real no período Meirelles foi de 10,7%, no período Tombini foi de 6,5% e no período Goldfajn/Campos Neto foi de 4,5%. Ou seja, tivemos menor inflação com menor taxa de juros real nesse último período. Ok, a taxa agora está mais alta, mas acho que já fiz meu ponto: Tombini, afinal de contas, não conseguiu praticar uma taxa de juros real mais baixa somente porque a meta era mais alta.

O argumento mais comum de quem defende uma revisão da meta é o alto grau de rigidez da economia (os salários, por exemplo, não podem ser reduzidos e o mercado de trabalho é muito engessado), os problemas fiscais e o grande grau de indexação da economia brasileira. Com relação a este último ponto, uma inflação maior perpetua o problema. Há quem tenha esperança de que uma mudança legislativa poderia, em uma canetada, acabar com a indexação de contratos. Trata-se de uma ilusão, porque os agentes econômicos vão arrumar uma forma de se defender da inflação. A única forma de acabar com a indexação é ter uma inflação decente por muito tempo. E 6,5% (topo da meta anterior) não é uma inflação decente.

Com relação à rigidez e aos problemas fiscais, a meta não tem nada a ver com isso. Vimos no gráfico 1 que, não importa qual seja a meta, não conseguimos cumpri-la. E esse não cumprimento é tanto pior quanto pior for a qualidade da política monetária. Aumentar a meta só fará com que a inflação nominal aumente, não conseguiremos cumpri-la de qualquer forma, exatamente por causa dos problemas estruturais apontados. No final do dia, teremos uma taxa nominal de juros e uma inflação maiores, com o mesmo nível de taxa de juros reais. O aumento da meta é só uma ilusão de ótica.

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Carga tributária total, setorial e natureza da incidência, nos EUA e no Brasil - Ricardo Bergamini

 Transcrevo o que acabo de colocar no Facebook, com base em mensagem de Ricardo Bergamini: 

O economista Ricardo Bergamini comenta sobre a natureza, a composição e os volumes respectivos das cargas tributárias dos Estados Unidos e do Brasil. Nós, obviamente, estamos do lado oposto: tributamos os mais pobres, em lugar dos mais ricos:

"Hoje, a distribuição de lucros e dividendos é isenta [no Brasil], mas passará a ser tributada com a criação de um imposto mínimo para quem ganha acima de R$ 600 mil por ano. A medida deve ser discutida no Congresso em 2025 e, se aprovada, passar a valer em 2026.
A composição da Carga Tributária dos Estados Unidos tem como base 83,46% de sua arrecadação incidindo sobre a Renda, Lucro, Ganho de Capital, Folha Salarial e Propriedade (classes privilegiadas da nação americana), e o Brasil 55,45% e apenas 16,54% [nos EUA] incidindo sobre Bens e Serviços (arroz, feijão, remédios, transportes e educação), e o Brasil 44,55%. Com uma Carga Tributária total de apenas 26,6% do PIB, e o Brasil de 33,0% do PIB.
No Brasil, por deformação cultural, seria uma proposta comunista, mas é à base da grandiosidade dos EUA, com um PIB de US$ 30,0 trilhões (no Brasil, tributando à fome a miséria, é de US$ 2,0 trilhões)."

Ricardo Bergamini só utiliza dados oficiais em todos os seus comentários.

Coleção Paulo Roberto de Almeida na Biblioteca do Itamaraty: balanço de meio de caminho

Coleção Paulo Roberto de Almeida na Biblioteca do Itamaraty: balanço de meio de caminho  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota introdutória à relação de livros doados, entre 2020 e 2024, para integrar a coleção PRA na Biblioteca Antônio Francisco Azeredo da Silveira, do Itamaraty.

 

        Esta nota tem o objetivo de fazer uma primeira apresentação da Coleção PRA, formada a partir de doações progressivas de partes de minha coleção razoavelmente grande de livros para integrar o patrimônio livresco do Itamaraty, ocupando lugar de destaque em estantes da Biblioteca Antônio Francisco Azeredo da Silveira, que ocupa o andar térreo do Anexo II do Itamaraty; ela também faz um balanço das remessas efetuadas em quatro anos, desde 2020, quando comecei a selecionar coleções temáticas de minha biblioteca para depósito naquela prestigiosa biblioteca, que frequentei e onde trabalhei intensamente ao longo de minha carreira de mais de quatro década, doações interrompidas durante a pandemia do Covid-19 e retomadas agora, ao final de 2024.

        Se existe algo com o que me identifico, que expressa minhas preferências intelectuais e que rechearam uma vida ativa na produção de trabalhos inspirados em minhas leituras, essa coisa é representada pelos livros, todos os tipos de livros, em especial os de história, de economia, de política, de cultura, no seu sentido mais amplo. A partir do aprendizado da leitura e da escrita, na idade “tardia” de sete anos, eu nunca mais me separei dos livros, meus, das bibliotecas, emprestados de outras pessoas, lidos nas próprias livrarias, ademais das resenhas de centenas, de milhares de outros livros, lidas nos jornais e revistas, algumas especializadas, em periódicos do tipo da New York Review of Books, do qual fui assinante durante muitos anos, antes durante e depois de meu mestrado em Economia e doutorado em Sociologia Histórica e Política. Vivi com os livros, pelos livros, para os livros, escrevendo eu mesmo algumas dezenas de livros e centenas de resenhas, curtas e maiores, de outros tantos livros. Meu site e meu blog apresentam sumariamente esses meus livros e resenhas, textos parciais ou completos livremente disponíveis num site pessoal ou em provedores de acesso acadêmico como as plataformas Academia.edu ou a Research Gate. 

        Não sei quantos livros acumulei ao longo de mais de seis décadas de contato íntimo com esses inegáveis objetos de prazer intelectual, alguns poucos milhares talvez, mas nunca me dediquei a contá-los, sequer catalogá-los ou organizá-los de forma racional em minhas bibliotecas, que me seguiram ao longo de uma vida nômade a partir dos 20 anos. Alguns, não sei quantos, foram justamente perdidos, quando decidi partir, em 1970, num autoexílio em direção da Europa, nessa idade, quando vivíamos os “anos de chumbo” da ditadura militar no Brasil. Da Europa voltei quase sete anos depois, com dois diplomas, um terceiro a caminho, e algumas poucas centenas de livros que foram despachados de navio no momento do retorno ao Brasil, no mês de março de 1977: lembro que fui buscar meu baú metálico em Santos, e os livros europeus, alguns brasileiros (que eu tinha carregado comigo ao partir, ou que recebi da família e de amigos, durante os estudos de mestrado e doutorado), constituíram o embrião de minha primeira biblioteca, que só fez crescer na quatro décadas seguintes, quando exerci a função de diplomata a serviço do Brasil, em oito postos diferentes, sempre acumulando mais e mais livros. Num determinado momento, nos dois últimos postos, eles tiveram de ficar no Brasil, numa kit-biblioteca que adquirimos – eu, um micro apartamento, minha mulher, Carmen Lícia, que sempre leu muito mais do que eu, um outro, no mesmo condomínio –, pois que seria impossível transportá-los conosco. 

        Quando fiz a minha tese de doutoramento, começada e terminada no exterior, entre o final dos anos 1970 e início dos 80, solicitei muitos livros da Biblioteca do Itamaraty, que recebia pela mala diplomática, e despachava de volta depois de consultá-los. Quando permaneci sem funções na Secretaria de Estado durante algum tempo nos anos 2000, fiz dessa Biblioteca meu escritório de trabalho, e ali escrevi muitos artigos e alguns livros. Daí que, quando a minha biblioteca ficou inadministrável, a solução de doar meus livros para a biblioteca do Itamaraty foi naturalmente planejada e admitida, vários anos antes de começar a fazê-lo. Antes disso, tendo trabalhado sobre temas do Mercosul e da integração regional no início dos anos 1990, e escrito meu primeiro livro sobre a construção do Mercosul (1993), resolvi doar a maior parte de minha biblioteca sobre esse tema para a biblioteca do Instituto Rio Branco, onde eu já tinha dado aulas (de Sociologia Política, logo depois de terminar o doutorado) e ao orientar trabalhos de conclusão de estudos de muitos jovens diplomatas; esses livros não foram agrupados em nenhuma coleção, mas dispersos no patrimônio geral da biblioteca do IRBr.

        Aproximando-me da aposentadoria, e já preocupado com o caos absoluto do meu acervo livresco, dividido entre o nosso próprio apartamento residencial e a kit-biblioteca, comecei a me organizar para a doação. Numa primeira etapa, agrupei exemplares de todos os meus livros de autoria pessoal, num segundo grupo aqueles que eu tinha editado, ou seja, obras coletivas, um terceiro formado por todos os livros editados por terceiros com os quais eu havia colaborado com um ensaio ou capítulo e, finalmente, uma quarta categoria composta por todos os livros de leitura ou de pesquisa, dispersos em quase todas as disciplinas das humanidades e das ciências sociais aplicadas (que são a imensa maioria das doações). Estou, portanto, colocando numa listagem preliminar os livros já entregues e catalogados, contendo na lombada a sigla CPRA, Coleção Paulo Roberto de Almeida, na Biblioteca do Itamaraty, que já conta com coleções riquíssimas de outros diplomatas como Ronald de Carvalho, Álvaro Teixeira Soares, Miguel Ozório de Almeida, Jayme Azevedo Rodrigues, Dario Castro Alves, Mario Pimentel Brandão, Samuel Pinheiro Guimarães, Celso Amorim e muitos outros (vou relatar, numa postagem própria, as coleções mais importantes).

Espero que meu exemplo, que não é original, sequer o mais importante, estimule outros colegas diplomatas a também doarem seus livros à Biblioteca do Itamaraty, com uma particularidade: ela acumula, sobretudo, livros pertinentes ao trabalho dos diplomatas, ou seja, Direito, História, Economia, Relações Internacionais, Geografia, além das referências inevitáveis no terreno dos dicionários, atlas, línguas etc. A Literatura está bastante bem representada nas coleções, estrangeira e nacional, ademais de algumas obras realmente raras. Sou especialmente grato aos funcionários da Biblioteca que classificam, catalogam e colocam os livros em ordem para serem consultados, inclusive em bases remotas, o que fiz e continuo fazendo o tempo todo.             Uma apresentação sumária de minha coleção foi feita neste link: https://www.gov.br/mre/pt-br/biblioteca/colecoes/paulo-roberto-de-almeida.

Continuarei informando.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4807, 4 dezembro 2024, 3 p.


 Nota em 5/12/2023:

A relação parcial dos livros doados entre 2020 e 4/12/2024 pode ser acessada neste link, que remete a arquivo em Academia.edu: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/12/relacao-dos-livros-doados-biblioteca-do.html?m=1 

 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

O Brasil e as causas das guerras - Isaac Roitman, Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e as causas das guerras

Isaac Roitman, Paulo Roberto de Almeida 

 O cientista Isaac Roitman, em artigo publicado no Monitor Mercantil, reproduzido no boletim da Academia Brasileira de Ciências, e transcrito neste mesmo espaço, 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/12/sera-possivel-acabarmos-com-as-guerras.html ,

elencou as causas das guerras na humanidade: 

  1. Disputas territoriais: países ou grupos podem lutar por territórios específicos devido à sua localização estratégica, recursos naturais ou valor histórico.
  2. Conflitos ideológicos: diferenças em crenças políticas, religiosas ou sociais podem levar a confrontos, como visto em guerras civis e conflitos internacionais.
  3. Rivalidades étnicas e religiosas: conflitos entre diferentes grupos étnicos ou religiosos têm sido uma causa comum de guerra ao longo da história.
  4. Competição por recursos naturais: a busca por recursos como água, minerais, petróleo e terras agrícolas.
  5. Questões de poder e hegemonia: países ou líderes podem buscar expandir seu poder e influência, levando a guerras de conquista ou expansão territorial.
  6. Nacionalismo exacerbado: um forte senso de identidade nacional e desejo de independência pode levar a conflitos, como visto nas guerras de independência.

Essas parecem ser as causas principais, embora seja possível haver combinações entre elas, ou seja, mais de um fator agindo junto com outros. Ainda assim caberia distinguir entre guerras civis, ou seja, internas aos países, e guerras entre Estados, envolvendo soberania e projeção externa das forças armadas.

Guerras civis são mais suscetíveis de envolverem questões étnicas e religiosas e conflitos ideológicos, assim como questões de poder sobre o Estado por diferentes grupos ou movimentos políticos (ou até tribais, em certas circunstâncias).

Guerras entre Estados derivam de questões territoriais (fronteiriças ou regiões mais amplas), competição por recursos naturais (mais frequente na fase pré-ONU), questões de hegemonia, muito incitadas por nacionalismo exacerbado, ou por alguns dos demais fatores das guerras civis (internas), quando possuindo projeção além das fronteiras reconhecidas de um Estado, geralmente vis-à-vis algum vizinho com o qual disputas chegam ao seu nível máximo de fricção.

O Brasil nunca se envolveu em guerras por disputas de territórios, pois sua diplomacia, mesmo a "colonial" (Alexandre de Gusmão) e sobretudo a imperial e republicana conduziram processos negociadores ou recorreram a arbitragens que evitaram contenciosos bélicos. 

Tampouco tivemos conflitos ideológicos com vizinhos, mas tivemos guerras civis ou rebeliões internas por esse motivo: republicanos no Império, comunistas na República, repressão militar dos "guardiões" da ordem, militares, contra civis, ou políticos, em crises institucionais. 

Não há traços de "competição por recursos naturais" em nossa história, mas poucas fricções nessa área: a ridícula "guerra da lagosta" com a França, no início dos anos 1960, ou a conflitos sobre o uso dos recursos hídricos com a Argentina, na bacia do Prata, nos anos 1960 e 70 (resolvidos diplomaticamente).

Houve certa competição nuclear entre os dois países, finalmente superada na redemocratização em ambos os países, quando Argentina e Brasil conseguiram sair de suas ditaduras militares. Questões de poder e hegemonia, assim como nacionalismo exacerbado podem ter agregado algumas doses de fricção entre os dois países em momentos diversos.

Guerra externa, mesmo, só tivemos na invasão do território brasileiro pelo ditador Solano Lopez do Paraguai, no século XIX, uma "maldita guerra" que nos atrasou ainda mais, e que pode ter construído um exército que depois se julgou dono do país.

Depois, tivemos uma participação incipiente na Grande Guerra e uma mais decisiva (internamente, não externamente) na Segunda Guerra Mundial, que aliás ajudou na derrubada da ditadura do Estado Novo. 

Nos últimos anos não nos envolvemos em nenhuma guerra, apenas em "missões de paz", seja da OEA (República Dominicana, 1965), a pedido dos EUA, e em muitas da ONU, sendo a da Minustah uma das mais relevantes. Evitamos participar da Guerra da Coreia (1950-53, autorizada pela ONU), na guerra do Vietnã, unilateral da parte dos EUA (que consultaram os ditadores da época), na primeira guerra do Golfo (1991, também autorizada pela ONU, mas totalmente conduzida pelos EUA) ou na invasão do Afeganistão, pós atentados terroristas de 2001 (também autorizada pela ONU, mas levada a efeito pelos EUA com apoio de outros países).

O Brasil é um país defensivo e pacífico, tendo nas cláusulas internacionais da CF-1988, a resolução pacífica das controvérsias como princípio básico de nossa diplomacia. As primeiras constituições da República proibiam o recurso à guerra, e a atual exige resolução do Congresso para o envio de tropas ao exterior.

Existe vasta literatura sobre guerra e paz na doutrina diplomática brasileira e nos registros históricos de nossos envolvimentos em conflitos externos. 

De resto, disputas ideológicas não costumam levar a guerras internas, mas a golpes de Estado ou tentativas de rupturas no sistema democrático. 

Estamos justamente examinando uma dessas tentativas recentemente, um planejamento ridículo para o que seria um "golpe pastelão", que não poderia dar certo. Mas bem que tentaram os incompetentes extremistas de direita do governo Bolsonaro, do jeito mais burro que já registramos em nossa história política. Não sei se entrará para o registro histórico como uma tentativa realista e factível, ou como um sonho louco de incompetentes militares e civis demenciais. Vamos aguardar o julgamento jurídico e o julgamento dos historiadores.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4 de dezembro de 2024


terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Percepções sobre coisas que dão certo e outras não - Paulo Roberto de Almeida

 Percepções sobre coisas que dão certo e outras não

Paulo Roberto de Almeida

        É muito conhecida a famosa frase entre economistas sensatos, sobre eles mesmos, que diz que "o economista é aquele cara chato que coloca água no chope quando a festa está no auge da animação. Ele consegue esfriar qualquer entusiasmo".

        Adaptando: o diplomata chato é aquele que não se conforma ao ver iniciativas diplomáticas de um governo que busca obter sucesso de imagem apontando para políticas que vão gerar impasses estratégicos mais adiante.
        Eu vi isso várias vezes ao longo da carreira, assistindo diversas políticas econômicas e diplomáticas que nos afastaram do pelotão central das democracias avançadas de mercado, e nos mantiveram no bolo indistinto dos "países em desenvolvimento" (fazem mais de 80 anos que continuamos nessa tribo).
        Eu vi isso novamente no início do lulopetismo diplomático, quando se fez uma aliança (saudada por praticamente todos e nunca revertida) com duas grandes autocracias e uma outra democracia em desenvolvimento de baixíssima qualidade (logo veio outra se juntar à patota original), e que resultou no atual Brics+, um bloco claramente identificado com a construção de uma "nova ordem global multipolar", alternativa e até oposta à aliança ocidental que levou o mundo a certa prosperidade e sobretudo democracia, direitos humanos e menos desigualdades.
        Sinto que estamos perdendo o rumo no campo da política externa.

Brasília, 3/12/2024

Será possível acabarmos com as guerras? - Isaac Roitman (Academia Brasileira de Ciências)

Será possível acabarmos com as guerras?


Academia Brasileira de Ciências, 03 de dezembro de 2024


Leia texto do Acadêmico Isaac Roitman,publicado no Monitor Mercantil, publicado em 29/11. Ele é  professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos.

Leia o texto na íntegra, aberto, no Monitor Mercantil

Monitor Mercantil, 29 de novembro de 2024

https://monitormercantil.com.br/sera-possivel-acabarmos-com-as-guerras/

As guerras fazem parte da história da humanidade. A primeira guerra registrada ocorreu por volta de 2525 a.C. A cidade-estado suméria de Lagash travou uma guerra de fronteira contra Umma, também cidade-estado da Suméria. Os historiadores apontam que o conflito envolvia a posse de territórios importantes nas fontes de irrigação. Esse conflito seria a primeira “guerra da água” da história.

Interessante é que, passados mais de 4 mil anos, essa motivação é prevista em futuras guerras. Outra guerra, ocorrida por volta do século 12 a.C., foi a Guerra de Troia, que, na mitologia grega, está presente nas obras de Homero, contando a história das deusas Atena, Afrodite e Hera.

As guerras passaram a ser globais a partir do século 20. A primeira guerra global ocorreu entre 1914 e 1918, quando houve um extraordinário crescimento industrial que provocou uma corrida armamentista, com a produção de uma grande quantidade de armas. A chamada Primeira Guerra Mundial deixou 10 milhões de soldados mortos, cerca de 21 milhões de feridos e mais de 6 milhões de civis mortos. No final dessa guerra, foi criada a Liga das Nações.

Entre 1939 e 1945 ocorreu a Segunda Guerra Mundial, o maior conflito militar, marcado pela destruição sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que o custo total dessa guerra tenha chegado a US$ 1,385 trilhão. Resultou também nas perdas humanas causadas pelo conflito: 45 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Após o término dessa guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU).

Atualmente, várias guerras estão ocorrendo, entre elas: guerra Rússia x Ucrânia, guerra Israel x Hamas e Hezbollah, guerra da Síria, guerra civil no Iêmen, guerra civil no Myanmar, conflito no Sahel, conflito Azerbaijão x Armênia, entre outros.

Uma possível Terceira Guerra Mundial, com a utilização de armas nucleares, pode resultar na extinção da vida humana no planeta. Se ela ocorrer, poderá ser a Última Guerra da Humanidade. Segundo a FAS (Federation of American Scientists), o arsenal de ogivas nucleares é grande e está assim distribuído: Rússia: 5.977; Otan: 5.943 (EUA: 5.428; França: 290; Reino Unido: 225); China: 350; Paquistão: 165; Índia: 160; Israel: 90; Coreia do Norte: 20.

A história das guerras e o atual contexto ameaçam o nosso otimismo como seres civilizados e o futuro dos nossos descendentes. No entanto, creio que a luta contra as guerras, isto é, uma paz plena, talvez ainda possa ser conquistada. É pertinente refletir sobre as principais causas das guerras, que envolvem fatores sociais, políticos, econômicos e culturais:

  1. Disputas territoriais: países ou grupos podem lutar por territórios específicos devido à sua localização estratégica, recursos naturais ou valor histórico.
  2. Conflitos ideológicos: diferenças em crenças políticas, religiosas ou sociais podem levar a confrontos, como visto em guerras civis e conflitos internacionais.
  3. Rivalidades étnicas e religiosas: conflitos entre diferentes grupos étnicos ou religiosos têm sido uma causa comum de guerra ao longo da história.
  4. Competição por recursos naturais: a busca por recursos como água, minerais, petróleo e terras agrícolas.
  5. Questões de poder e hegemonia: países ou líderes podem buscar expandir seu poder e influência, levando a guerras de conquista ou expansão territorial.
  6. Nacionalismo exacerbado: um forte senso de identidade nacional e desejo de independência pode levar a conflitos, como visto nas guerras de independência.

Podemos e devemos combater as causas dos conflitos. O primeiro passo é estar em paz consigo mesmo e sermos, dentro das nossas limitações, soldados pela paz, tendo como mantras os pensamentos de sábios do passado, que pregavam substituir o ódio pelo amor, a colaboração pela competição:

“Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.” (São Francisco de Assis)
“Não deixem as pessoas colocarem você na tempestade delas. Coloque-as na sua paz.” (Buda)
“A paz é a única forma de nos sentirmos humanos.” (Albert Einstein)
“Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz.” (Maria Bethânia)
“Nós não podemos nos concentrar somente na negatividade da guerra, mas também na positividade da paz.” (Martin Luther King)

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos. 

O que Putin mais teme: a corrida para a UE, porta aberta para a prosperidade: paises crescem e ficam ricos ao entrar para a UE - Robert Beyer, Claire Yi Li, Sebastian Weber (Blog do FMI)

 

The 2004 EU Enlargement Was a Success Story Built on Deep Reform Efforts

photo of flags of the European Union with office building in background

(Credit: legna6/iStock by Getty Images)

By Robert BeyerClaire Yi Li, and Sebastian Weber

Poland is one of the success stories of European economic convergence. The country, which in January takes the reins of the Council of the European Union (the decision-making institution representing the Union’s member states) is now the EU’s sixth largest economy. This convergence process was driven by the 2004 EU enlargement, which also welcomed the Czech Republic, Cyprus, Estonia, Hungary, Latvia, Lithuania, Malta, Slovenia, and Slovakia into the Union, expanding the EU’s population by about 20 percent.  

Twenty years later, as new EU accession discussions are underway, it is worth looking at how much the earlier enlargement benefitted new members and the whole Union, and reflect on the economic returns of broadening the European single market. The current accession candidates, in different stages of the process, are Albania, Bosnia and Herzegovina, Kosovo, Montenegro, North Macedonia, Serbia, Georgia, the Republic of Moldova, Ukraine and Türkiye. In October, the European Commission issued a new report with detailed assessments of the state of play and the progress toward EU accession made by each candidate.

chart showing GDP per capita gains for regions in new and old EU member states following the 2004 EU enlargement

A new note by the Regional Economic Outlook for Europe shows that the 2004 EU enlargement brought substantial income gains. These gains were particularly large in the new member states: after 15 years GDP per person was on average more than 30 percent higher than it would have been without EU accession.

The factors driving these gains in new members were threefold. First, the 2004 group benefitted from more comprehensive economic reforms prior to joining the EU than implemented in comparable other regions, including on trade, financial sector, and product market liberalization. Second, additional financing from foreign direct investment and EU cohesion funds helped boost the capital stock. Third, technology transfers and enhancements in educational attainment improved productivity.

While all regions in new EU countries gained, some gained more than others. Those already better integrated into value chains with the existing member states increased GDP per person nearly 10 percentage points more than those less integrated pre-accession, irrespective of geographic distance. Regions with firms that had easier access to long term financing gained close to 15 percentage point more than others.

Existing member states benefitted from EU enlargement too. By 2019, income per person was around 10 percent higher than it would have been in a scenario without enlargement. The main driver of these gains was the expansion of the EU’s single market, which allowed firms to expand production and reap efficiency gains, including through higher investment in the accession countries. While regions in Scandinavia, Germany, and Austria—already well integrated with new member states prior to accession—gained the most, many regions further away benefitted too.

What does this mean for next wave of EU accession? A key lesson is that both accession candidate countries and existing EU members can benefit if they put in the work. This is no easy task. It would require strong pre-accession reforms, significant financing, political resolve, and possible institutional adaptation.

Some factors of the 2004 successes may be harder to achieve today. For accession countries this puts a premium on those actions directly under their control, such as the reform effort to close business regulation and institutional gaps to the EU. From the existing members’ side, continuing to deepen the single market by removing remaining within-union trade barriers and advancing the capital market union to finance dynamic firms’ growth would further amplify the potential gains. These joint efforts could not only accelerate catch-up within Europe, but also help narrow Europe’s persistently large income gap with the US.


A culpa da guerra é da Otan, como não poderia deixar de ser… - Paulo Roberto de Almeida

Não é a primeira, nem será a última vez, que leio mais um livro desses acadêmicos les plus en vue sobre a guerra da Ucrânia que, non variatur, atribuiu ao “avanço da Otan sobre as fronteiras russas” as causas da atua guerra de agressão de mil dias da Rússia contra a Ucrânia. Por acaso estou lendo ao mesmo tempo em que vejo no noticiário internacional as manifestações do povo georgiano contra seus proprios dirigentes que pretendem forçar uma aliança com s Rússia de Putin, na direção contrária do que deseja s maioria da população. Nem vou mencionar o nome do livro, publicado nos EUA, contendo esse absurdo de desconsiderar totalmente a vontade da população, da Ucrânia, da Georgia, da Moldova, de se juntar à UE e de buscar ardentemente s proteção da Otan contra a prepotência russa.

Como se a CIA, os serviços ocidentais fossem capazes de mobilizar milhares de cidadãos em protestos contra seus dirigente corruptos e lideres alinhados com os designios de Moscou. Surpreende-me a cegueira de certos acadêmicos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 3/12/2924


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Os judeus da ilha de Rhodes, de onde vieram os ancestrais de meu amigo João Pedro Levy: One Hundred Saturdays: Stella Levi and the Search for a Lost World, by Michael Frank

 Conversei, esta tarde, por Google Meet, com meu amigo, ex-aluno de mestrado, João Pedro Levy, que é descendente de antigos habitantes da ilha de Rhodes, hoje na Grécia, mas que na época de seu tataravô ainda era turca, ou otomana (depois vieram para o Brasil, como milhares de outros emigrantes, judeus e não judeus, fugidos de uma Europa massacrada e miserável).

Ele me enviou a informação da Amazon sobre um livro que trata desses judeus de Rhodes, perseguidos como tantos judeus em tantos lugares:


One Hundred Saturdays: Stella Levi and the Search for a Lost World

por Michael Frank (Autor), Maira Kalman (Ilustrador)

One of Wall Street Journal's Ten Best Books of the Year * Winner of the National Jewish Book Awards for Holocaust Memoir and Sephardic Culture * Recipient of the Jewish Book Council's Natan Notable Book Award * Winner of the Sophie Brody Medal.

The remarkable story of ninety-nine-year-old Stella Levi whose conversations with the author over the course of six years bring to life the vibrant world of Jewish Rhodes, the deportation to Auschwitz that extinguished ninety percent of her community, and the resilience and wisdom of the woman who lived to tell the tale.

With nearly a century of life behind her, Stella Levi had never before spoken in detail about her past. Then she met Michael Frank. He came to her Greenwich Village apartment one Saturday afternoon to ask her a question about the Juderia, the neighborhood on the Greek island of Rhodes where she'd grown up in a Jewish community that had thrived there for half a millennium.

Neither of them could know this was the first of one hundred Saturdays over the course of six years that they would spend in each other's company. During these meetings Stella traveled back in time to conjure what it felt like to come of age on this luminous, legendary island in the eastern Aegean, which the Italians conquered in 1912, began governing as an official colonial possession in 1923, and continued to administer even after the Germans seized control in September 1943. The following July, the Germans rounded up all 1,700-plus residents of the Juderia and sent them first by boat and then by train to Auschwitz on what was the longest journey--measured by both time and distance--of any of the deportations. Ninety percent of them were murdered upon arrival.

Probing and courageous, candid and sly, Stella is a magical modern-day Scheherazade whose stories reveal what it was like to grow up in an extraordinary place in an extraordinary time--and to construct a life after that place has vanished. One Hundred Saturdays is a portrait of one of the last survivors drawn at nearly the last possible moment, as well as an account of a tender and transformative friendship between storyteller and listener, offering a powerful "reminder that the ability to listen thoughtfully is a rare and significant gift".  


Brasil se tornou menos atraente para o capital estrangeiro - Pedro Rafael Fernandes

Pedro Rafael Fernandes

Ontem, dia 26 de novembro, o Valor Econômico reportou que a saída de dólares pela via financeira chegou a US$ 56,2 bilhões. O valor por si só é uma informação relevante. Isto significa que as expectativas dos investidores internacionais sobre o Brasil estão permeadas por incerteza ou pessimismo a respeito do futuro da economia brasileira. 

Todavia, quando se observa que este é o maior valor para toda a série, que iniciou em 1982, a informação torna-se ainda mais grave. Para comparação, o valor acumulado de saída pela via financeira entre janeiro e outubro de 2020, ano da pandemia, onde a incerteza era absoluta, foi de US$ 54,7 bilhões.

Outra estatística interessante disponibilizada pelo Banco Central é o investimento estrangeiro direto líquido. A partir da série trimestral pode-se conferir que considerando o resultado líquido de 2023 ao terceiro trimestre de 2024 constata-se uma saída de US$ 77 bilhões de dólares. 

Há uma série de implicações diretas e indiretas dessa fuga de dólares da economia brasileira. Em primeiro lugar, se este fenômeno persistir pode-se esperar depreciação adicional do valor da real frente dólar. O que per si alimenta inflação, elevando o custo de vida de forma significativa, atingindo principalmente os mais pobres.

Em segundo lugar, porém não menos importante, a persistência da indisposição dos agentes estrangeiros com a economia brasileira encarece, e, portanto, dificulta a realização de investimentos importantes para a continuidade do crescimento econômico, com investimento em capital na indústria, e investimentos em infraestrutura de base, como estradas, saneamento básico, ferrovias e aeroportos. Uma vez que esta fragilidade do real frente ao dólar, e a incerteza econômica por trás dela, dificulta ou até mesmo inviabiliza a aferição do retorno econômico associado a esses investimentos.

#economiabrasileira #macroeconomia #fugadedólares #incerteza

Pedro Rafael Fernandes

27/11/2024

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...