sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A decadencia institucional e mental no Brasil

Eu leio normalmente a imprensa brasileira, onde quer que esteja, o que não é difícil, hoje em dia.
Pois, ao ler a entrevista abaixo, o que mais me surpreendeu não foram as respostas do entrevistado, sobre os atos de estupro institucional cometidos pelo presidente da república contra a lei e a própria Constituição. Já sabemos que o personagem em questão se considera acima da Constituição, e vem trabalhando ativamente para minar as instituições, de modo especialmente delinquente.

Não, o que me surpreendeu foram as perguntas do jornalista. Elas revelam uma atitude pró-ativa em prol do mesmo delinquente, o que por si só denuncia uma colusão mental entre o "jornalista", que não mereceria essa classificação, e o delinquente em questão.
Concluam vocês mesmos.
Paulo Roberto de Almeida

''O presidente Lula passou dos limites''
ENTREVISTA: José Álvaro Moisés, cientista político e professor da USP
Roldão Arruda
O Estado de S.Paulo, 09 de setembro de 2010

O cientista político José Álvaro Moisés afirma que a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso das violações de sigilos fiscais é preocupante para a democracia no Brasil - porque estaria sinalizando que a vontade dos detentores do poder fica acima do primado da lei. Para o especialista, professor da Universidade de São Paulo e diretor científico do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas daquela instituição, Lula confunde o papel de primeiro mandatário brasileiro com o de militante petista, responsável pela indicação de Dilma Rousseff como candidata à sua sucessão. Essa confusão de papéis pode dificultar as investigações sobre o episódio.

Como o senhor viu a presença do presidente Lula no horário de propaganda eleitoral gratuita, assumindo o papel de escudo da candidata Dilma Rousseff frente às suspeitas de envolvimento do PT no caso de quebra de dados fiscais de pessoas ligadas ao PSDB? Isso não pode causar a impressão de que o primeiro mandatário do País tomou partido frente a uma questão que vai além do debate eleitoral?
Sim. O presidente não tem tido cuidado, no processo eleitoral, de fazer distinção entre os papéis de presidente da República e de militante do PT responsável pela indicação de Dilma Rousseff como candidata à sua sucessão. Ele tem direito, como cidadão, de participar da campanha, desde que separe os papéis. Deveríamos lembrar o que ocorreu em 2002, durante a campanha que resultou na primeira eleição de Lula. O presidente Fernando Cardoso, apesar de apoiar o então candidato José Serra, teve cuidado para separar completamente as coisas, não misturar as funções. O presidente Lula não está tendo esse cuidado agora, assim como não teve em outros momentos de seu mandato.

Quais momentos?
Podemos citar as vezes nas quais desqualificou procedimentos do governo denunciados pelo Tribunal de Contas da União. Mais recentemente, ao ser multado pelo Tribunal Eleitoral, por fazer confusão entre sua função presidencial e a de dirigente do PT, ele praticamente menosprezou as decisões. Essas não são boas indicações. Elas sinalizam que, uma vez no cargo de primeiro mandatário, você pode misturar e confundir as coisas, pode ficar acima do que a lei estabelece.

O senhor não estaria sendo exagerado nas suas preocupações? Afinal, acaba de citar dois tribunais que estão funcionando e exercendo suas funções, numa comprovação de que a democracia anda normalmente.
Não há exagero. É extremamente importante discutir essas questões porque, embora estejamos numa democracia, o império da lei ainda não está inteiramente estabelecido no Brasil. Essas sinalizações dadas pelo presidente mostram que ele não leva em conta a ideia de que a democracia é o governo da lei e não o governo dos homens. Esse é um momento muito importante, porque envolve uma coisa crucial para a democracia, que é a violação do direito individual. Não estamos falando apenas dos dados da filha do Serra e do vice-presidente do PSDB, mas sim de milhares de pessoas. Fiquei indignado quando abri o jornal e li as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, autojustificando, em certo sentido, as violações, porque já teriam ocorrido outras vezes.

O que se deveria esperar de alguém no cargo dele?
Eu esperaria que o ministro e o presidente da República viessem a público para dizer que medidas estariam sendo tomadas em face dos crimes de violações que afetam direitos individuais garantidos na Constituição - a questão do direito individual é uma cláusula pétrea da Constituição do Brasil. Mas ninguém disse uma palavra sobre isso. Pelo contrário, houve um esforço para blindar a candidata e dizer que, uma vez que já ocorreu em outras ocasiões, é normal que continue ocorrendo. Eu digo: não é normal. Especialmente no governo de um partido que pretendia reorganizar a política no Brasil, com uma resposta republicana. Penso que nesse caso o presidente Lula passou dos limites.

Se o presidente misturou de fato os papéis, isso poderia de alguma maneira atrapalhar as investigações sobre o caso? Os funcionários encarregados desse trabalho poderiam ver na mensagem do primeiro mandatário um sinal de que não é lá tão importante assim aprofundar a investigação?
Eu me preocupo com isso. No Brasil, a função de presidente, pelo prestígio, pelos recursos que tem e até mesmo pelo ritual do exercício do cargo, tem uma influência muito forte na sociedade. Aqui se valoriza muito a pessoa do primeiro mandatário, com uma certa ideia de que ele pode tudo. Vivemos em um meio com um forte elemento de personalização das relações de poder. Daí a necessidade de um cuidado ainda maior para se separar as funções. Se o Lula não faz isso, ele sinaliza que o desmando cometido por alguém, não importa o tamanho desse desmando, pode ser autorizado por alguém lá de cima, alguém que chega e diz que o caso não tem importância nenhuma. É uma situação que me faz lembrar aquilo que dizem que Getúlio Vargas dizia, quando governava: para os inimigos a lei e para os nossos, o tratamento que quisermos dar. Isso diminui e desqualifica a democracia.

Voltamos à questão anterior, sobre o funcionamento das instituições democráticas.
Não acho que está em questão se temos democracia. Nós temos. O que está em questão é a qualidade da democracia. Não se pode ter durante dois ou três anos um presidente que faz campanha eleitoral ao mesmo tempo que exerce as funções de primeiro mandatário. Essa separação é muito importante.

Na sua opinião, o comportamento do presidente, que desfruta de alta popularidade, é negativo para a democracia?
O presidente Lula, particularmente neste último período de governo, tem dado uma contribuição negativa para a cultura política do País. Tudo bem ele dizer que é um brasileirinho igual a você que chegou lá. Os elementos virtuosos da personalidade política não devem ser confundidos, porém, com a função presidencial. Ela tem regras, dispositivos constitucionais, que devem ser aceitos por quem quer que exerça o cargo.

Ele não deveria ter feito declarações sobre o caso na TV?
O presidente Lula poderia ter ido à TV dar explicações, dizer que a sua candidata não tem nada a ver com isso e que a oposição está explorando o fato. Mas também deveria ter admitido os erros e dizer que medidas está tomando para corrigi-los. O escárnio dele é de tal ordem que dias atrás perguntou: "Onde está esse tal de sigilo". Esse comportamento é agravado pela popularidade dele, pela sua enorme responsabilidade. Sigilo é muito relevante para a democracia. Sinaliza o primado da lei, que não deve ser usada arbitrariamente de acordo com a vontade do presidente.

O senhor não estaria sendo muito purista em relação à chamada liturgia do cargo?
Não. A liturgia do cargo ajuda a sinalizar o respeito que a autoridade tem para quem é devido o respeito - os eleitores. Isso é central para as democracias. Eu duvido que em qualquer outro país de democracia consolidada, ao ocorrer um fato dessa natureza, o ministro venha a público para se justificar e não para se desculpar. Qualquer um de nós pode cometer erros e se desculpar. Eu posso citar um autor errado numa das minhas aulas e, mais tarde, ao descobrir o erro, me desculpar perante os alunos e corrigir o erro. Uma autoridade também pode vir a público reconhecer um erro e anunciar que está tomando medidas para corrigi-lo, medidas baseada na lei, nas regras do funcionalismo. Mas o que vimos foi o ministro vir a público para se justificar, com aquele argumento, que insisto, é inaceitável. Mais uma vez querem passar a ideia de que não há nada a ser feito.

Por que mais uma vez?
Isso já aconteceu no episódio do mensalão, quando passaram a mão na cabeça dos envolvidos no caso.

QUEM É
Mestre em política e governo pela University of Essex e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), é professor titular do Departamento de Ciência Política e diretor científico do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP. Sua experiência tem ênfase em teoria democrática e comportamento político. Entre os livros de análise política que escreveu está Os brasileiros e a democracia.

Se criar ministérios resolvesse, o Brasil seria uma GRANDE POTENCIA

Leia numa coluna política:

Recentemente, a candidata Dilma Rousseff anunciou sua intenção de criar um Ministério para a Pequena Micro Empresa.

Já tinha lido antes sobre a promessa do candidato oposicionista, José Serra, de criar um ministério da segurança.

Eu poderia desenvolver argumentos completos sobre essas intenções anunciadas, mas não vou fazê-lo, por achar tudo isso perda de tempo, do meu e do seu, caro leitor.
Só vou dizer uma coisa: tudo isso é puro bullshit.

Se criar ministérios fosse evidência de resolução dos problemas, então qualquer coisa, virtualmente, poderia ser resolvida pela criação de mais órgãos burocráticos.

O Brasil saiu, nos anos 1960, de um total de apenas 13 ou 14 ministérios, para os mais de 37 atualmente existentes (contando os Secretários de Estado que levam o pomposo nome de ministros de Estado). Sobretudo no atual governo a escalada de criação de órgãos públicos foi vertiginosa, exponencial, assim como a contratação de novos funcionários públicos e a criação de milhares de cargos novos, em especial os de confiança, de livre designação.

Alguém poderá sinceramente confirmar que o crescimento da produtividade no setor público correspondeu ao ritmo de criação de cargos, funções, órgãos e prebendas estatais?

Por favor, me poupem de qualquer discussão sobre esse tema desagradável...

Brasil pode perder cadeira no FMI...

Não é essa a intenção dos Estados Unidos, mas é o que pode ocorrer se os europeus não aceitarem a diminuição de sua representação.
Respiração suspensa, até outubro...
Paulo Roberto de Almeida

An Unexpected Agenda Item at the Next IMF Annual Meetings
Domenico Lombardi, Nonresident Senior Fellow, Global Economy and Development
The Brookings Institution
Friday September 10, 2010

It’s no secret that IMF reform has been slow since the jump-start it got at the Pittsburgh G-20 Summit last year, where after some arm-twisting President Obama managed to get a promise from his fellow leaders to reallocate “at least 5 percent” of the IMF’s voting rights to under-represented member countries, which are broadly understood to be emerging-market and developing economies.

The latest development on the reform front, as reported by Reuters, is that the U.S. will veto the approval of a special resolution at the next IMF Board of Governors meeting in October. This veto could have wide-ranging implications well beyond those of any recent quota review and bring about outcomes that we haven’t seen in a generation, albeit with significant risks.

The Issue
The resolution at stake would allow the main IMF policymaking body, its executive board, to operate at its current size (24 executive directors plus a chairman). However, the IMF charter only allows for 20 directors and straying from this provision requires approval by the board of governors of a special resolution every two years, with a supermajority of 85 percent of the overall voting power. This, in practice, puts the U.S. in the unique position to effectively exercise a veto given that its voting rights are 16.74 percent of the total.

The move to veto reflects three major concerns of the U.S. administration:

1. The frustration at the slow progress in IMF governance reform, stalled mainly by underground European opposition.
2. The White House objective to make emerging-market economies responsible stakeholders in the international monetary system with both rights and due accountability.
3. The awareness that quota reallocations, though important, can exert limited impact on the IMF’s own decision-making if the issue of who sits in its boardroom is not addressed.

Fanning the flames of these long-time concerns was Europe’s stance at the June G-20 Summit in Toronto, when European leaders snubbed repeated U.S. calls for their countries to assume a fair share of the burden of sustaining the global recovery, as allowed, of course, by their respective macroeconomic conditions.

In fact, it is the Europeans that the U.S. is trying to target with the veto. For historical reasons, Europe has enjoyed the privilege of a sizable representation in the IMF’s most important hall. Depending on the rotational pattern of each chair, there are times when as many as eight European representatives sit on the executive board, 10 if we include representatives from Switzerland and Russia.

The Prospect
Any plan to consolidate European representation in the short-term is practically unworkable. Even if (and this is a big “if”) the Europeans were willing to pool their representation, this would inevitably mean drawing Germany, France and the U.K. into multi-country constituencies. The problem with that is these three countries are, by the stipulations of the IMF’s own charter, intended to occupy single chairs. Changing their status is feasible, but it would require amending the charter, which is not something that can be done overnight.

Because the U.S. move is mainly driven by their desire to shake things up, the impasse may be surmounted if at the October annual meetings the Europeans were willing to state—for the record—their pledge to pool their representation by the time of the next general elections in 2012, devise a binding roadmap and provide operational details as to how to achieve their target. Incidentally, this would have the benefit of reallocating country representation on the basis of revised quotas, as currently being negotiated, which would provide a stronger sense of legitimacy to the whole exercise.

There are a couple of solutions at hand. In the most recent consultations with global civil society, called for by the IMF’s managing director, a proposal was put forward in the final “Fourth Pillar” Report, and backed by several academics and civil society actors, to pool E.U. representation into two chairs: one representing euro area members, the other representing E.U. countries that do not belong to the European monetary union. This approach would leave enough room for a couple more chairs including other (non-E.U.) European countries, such as Switzerland, or rising economies, such as Turkey and some Eastern European nations. Alternatively and more realistically, euro area countries could cluster their representation around the three hubs of the largest euro-area economies (i.e. Germany, France and Italy) and then one or two more chairs would include other European countries.

But these options trigger other questions: if Germany and France end up in multi-country constituencies, the position of Saudi Arabia or Russia as single-country chairs becomes increasingly untenable.

The Risk
A “forced” consolidation of European representation through a U.S. veto is not without risk. The most immediate is the disruption of the ordinary governance of the institution. In a sense, this has already come to pass as general elections for executive directors, which should have been more or less finalized by now, have been put on hold. Should European governments fail to arrive at a constructive position on this issue, the IMF will be forced to extend the term of the current board due to expire on October 31. This would pose further legitimacy problems for an institution struggling to find a more representative and legitimate role in the changing world order.

Obviously, there is nothing to prevent the calling of a general election now. However, lacking any agreement among Europeans, then four board members will have to go. These will likely be those representing chairs with the lowest voting power, such as the twenty-three-member Rwandan, the six-member Argentinean, the four-member Indian and the nine-member Brazilian constituencies. As a result, important emerging-market countries and a dense group of low-income countries would lose their voice in the IMF’s policymaking room, which is exactly the opposite of what the U.S. has in mind by resorting to the veto.

The stakes are high any way you look at it. Though, European inaction could ratchet them up even further, putting in jeopardy the role of the IMF itself in the global community.

Republica Mafiosa do Brasil (24): sempre tem defensores da imoralidade...

Recebi, a propósito de um dos meus posts sobre a república mafiosa, um comentário de um leitor, visivelmente partidário de tal república, e sem qualquer vergonha de sê-lo, e provavelmente também gozando de plena satisfação pelo fato de perceber que essa república -- a dele, não a minha -- se encontra em ascensão (o que reconheço plenamente, do contrário jamais teria começado uma série de posts sobre essa entidade obscura e nefasta para o futuro, e o presente, do Brasil).
Como sociólogo político, como observador dos fatos corriqueiros nesse Brasil semi-clandestino que também existe, eu não me perturbo com esse tipo de atitude congratulatória em relação a essa entidade mafiosa em formação, embora, como cidadão, eu possa ficar preocupado com itinerários e desenvolvimentos que encontro nitidamente regressivos, deletérios e nocivos para o saudável ambiente democrático, e limpo de qualquer corrupção, em que gostaria de viver.
Já vi outras, em sociedades decadentes que por acaso conheci, na América Latina, em outros continentes periféricos, na própria Europa, ou tenho o registro histórico de casos bem conhecidos pela leitura dos livros: outras sociedades decairam pela ação de elites incompetentes, ou mesmo criminosas, foram absorvidas na voragem da corrupção pela ação de gangues organizadas, frações rentistas, algumas chegando mesmo a conformar Estados ou sociedades falidas, como bem sabemos. Aqui mesmo na região, existem países terrivelmente fragilizados pela ação do narco-tráfico, o que felizmente não é o caso do Brasil, embora tenhamos, também "territórios liberados" em plena cidade do Rio de Janeiro e em certas periferias metropolitanas.
Mesmo nos casos em que não se desceu fundo no caminho da criminalidade, assisti a casos exemplares de "decadência política", como nos socialismos reais da Europa oriental, onde a mediocridade da nomenklatura era de regra, e os mais oportunistas ascendiam na máquina estatal, obtendo privilégios e favores abusivos em troca de sua absoluta servidão ao Grande Irmão do partido comunista no poder. O que mais me chocava nessas sociedades não era exatamente a penúria material, que também existia -- e que é típica de todo regime socialista ou extremamente dominado pelo Estado, para onde querem direcionar o Brasil --, mas mais precisamente a miséria moral, o ambiente de delação patrocinado pela mediocridade mental dos quadros da nomenklatura, que já foi chamada, por outros, de "burguesia do capital alheio". Isso pode acontecer, e talvez já esteja acontecendo no Brasil.

Pois bem, essa longa introdução para explicar porque estou retirando o comentário recebido do partidário da república mafiosa da obscuridade em que ele permaneceria normalmente, apenas para também agregar minhas observações pertinentes.
Registro, en passant, que jamais faria publicidade de grupos, movimentos, partidos ou candidatos, sobretudo com gente pertencente a tal república, se esse comentário não me oferecesse, justamente, a oportunidade para dizer claramente o que penso.
Reza, portanto, a mensagem de nosso entusiasta apoiador da república mafiosa, cujo nome não preciso mencionar:

Dilma será eleita no primeiro turno.
Em 2014 Lula volta a concorrer, e elege-se também no primeiro turno.
Em 2018 o mesmo ocorrerá.
O povo, ao contrário do que certos pensam, não é burro e sabe o que é melhor para sua vida.
A única maneira de tirar-nos do poder é um golpe, algo improvável, pois as armadas estão do nosso lado.


Comento eu, agora [PRA]:
Certamente, o povo não é burro, e sempre atua com base em seu interesse, que é, via de regra, o mais imediato possível, tendo em vista tantas carências detectadas.
Curioso que, numa fase anterior, as mesmas pessoas tendiam a considerar que o povo era ignorante, votando com os coronelões corruptos da oligarquia tradicional em parte por falta de educação política -- por falta de "consciência de classe", diriam alguns -- e também por interesses imediatos: aquela coisa do empreguinho público, o par de sapatos, um dinheiro aqui, outra promessa acolá.
Esse era o povo incapaz de reconhecer seus verdadeiros interesses e de apoiar os "salvadores" do povo, que finalmente chegaram ao poder e passaram a fazer o mesmo tipo de coisa que os antigos coronelões, que diga-se de passagem estão todos acomodados na nova situação, pois sempre foram, e sempre serão, governistas, qualquer que seja a cor do governo.
Pessoas assim, que mantém uma concepção leninista da política -- apesar de terem chegado ao poder pelo voto livre e democrático -- acreditam que só sairão do poder apeados por um golpe, o que é uma visão profundamente autoritária da vida política no país.
Mas aí vem a arrogância. O partidário da república mafiosa acredita ser esse golpe "improvável, pois as armadas [sic] estão do nosso lado." Ele acredita que as FFAA já foram conquistadas para a república mafiosa, quando o mais provável é que elas se atenham às disposições constitucionais, e se abstenham de intervir na política enquanto corpo organizado.

No meu caso, não penso que o povo seja burro, mas quando se examina o grau de educação formal da maioria do eleitorado brasileiro, pode-se facilmente concluir que ele pode ser induzido a pensar de certa forma, e não de outra, que surgiria de uma maior educação formal, da instrução política. Isso pode ocorrer pela manipulação de dados, o que todos os governantes podem fazer -- foi o que ocorreu no caso dos fascismos europeus, por exemplo -- ou pela percepção de benefícios imediatos, sem consciência, portanto, de quanto eles estão pagando ao mesmo Estado supostamente benefactor -- no caso dos pobres praticamente 50% da sua renda -- e de como o futuro dos seus filhos pode estar sendo comprometido por uma política, justamente, de resultados imediatos e de transferência dos custos para o futuro. Não tenho nenhuma dúvida de que isso esteja ocorrendo, e que haverá um preço a pagar mais adiante em nossas vidas (ou na de nossos filhos e netos).

Qualquer que seja o itinerário da "prosperidade" popular, e qualquer que seja a trajetória política dos personagens identificados com essa política, é evidente, para quem quiser ver, que a qualidade das instituições públicas brasileiras vem sofrendo violenta erosão. Basta olhar o Congresso, e os personagens que se candidatam a ele, para perceber isso.
Não me iludo, obviamente, com que os partidários da situação presente concordem com minha análise, mas numa situação democrática, como ainda é a do Brasil -- mas não mais, ou não é, a de muitos países apoiados pelos partidários da república mafiosa -- eu posso fazer este tipo de comentário, que nada mais corresponde senão à livre expressão de meu espírito cidadão.
Enquanto durar...
Paulo Roberto de Almeida
(10.09.2010)

John R. Russell-Wood: uma outra homenagem ao grande historiador

Recebi, no formulário de meu site pessoal, do José Eduardo de Oliveira, historiador mineiro, residente em Patos de Minas, cidade do interior de MG, onde já estive, a caminho de São Gotardo, uma mensagem, intitulada:

ADEUS AO PROFESSOR JOHN RUSSELL-WOOD

Transcrevo seu artigo, cujas referências editoriais seguem ao final:

Memórias que viraram corrubianas...

Do dia 17 a 19 de setembro de 2008, participei em Ouro Preto do Seminário Internacional “Administrando impérios: Portugal e Brasil nos séculos XVIII e XIX”. Os seminários, as palestras e os debates aconteceram no salão nobre da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto ali na Rua Costa Sena detrás do Museu da Inconfidência. Apesar de ser setembro, garoava, tinha muita neblina e fazia um frio danado. Todos os dias e noites foram assim, uma corrubiana cobria as ruas, as coisas e os homens. À noite essa corrubiana se misturava com a mesma noite e com o álcool e tudo se transformava em telas do pintor Alberto da Veiga Guignard...
Naquela manhã fria do dia 17, a conferência da abertura, “A base moral e ética do Governo Local no Atlântico Luso-Brasileiro durante do Antigo Regime”, fora proferida pelo historiador brasilianista inglês Anthony John R. Russell-Wood.
Russel-Wood ao lado de Charles R. Boxer são considerados os mais importantes brasilianistas ingleses precursores nos estudos sobre o Império colonial português e do Brasil colonial.
O seminário contava com outros importantes historiadores brasileiros e portugueses, mas o nome de A. J. R. Russell-Wood era sem dúvida nenhuma o maior destaque do evento.
Antes da composição da mesa e da abertura do seminário, um pouco receoso e um tanto atrevido dirigi-me para o Prof. Russell-Wood, cumprimentei-o, apresentei-me e pedi que ele autografasse para mim o livro de sua autoria, “Escravos e libertos no Brasil colonial”. Enquanto isso eu fazia o mesmo, com o livro “Uma história de exercício da democracia: 140 anos do Legislativo Patense” em que sou co-autor. Um tanto nervoso, não me recordo hoje o que escrevi na dedicatória. Ele escreveu o seguinte: “Ao Eduardo, companheiro de viagem no percurso da história, abraço cordialmente. John R. Russel-W. 17 de Setembro de 2008”.
O seu livro havia sido publicado em 1982 e só em 2005 havia sido traduzido no Brasil. Eu disse para ele que achava aquilo um absurdo e que a maioria de seus livros e artigos ainda não foram traduzidos aqui. Ele concordou. Disse também que outro livro dele “Fidalgos e Filantropos” sobre a Santa Casa de Misericórdia de Salvador, traduzido e publicado pela UNB em 1981, se encontrava esgotado há muito tempo. Ele riu e disse que há algum tempo esteve na UNB e encontrou a publicação sendo vendida a dois reais e ele aproveitou e comprou um exemplar. Eu disse que isso era comum no Brasil e que como ele sabia outro importante livro de seu conterrâneo, Charles R. Boxer, “A idade de ouro no Brasil”, havia sido publicado em 1969 e só em 2000 fariam nova edição.
E aí eu já estava muito empolgado e incentivado pela minha “falta de conhecimentos” e já que falamos de Boxer, dei a maior bobeira da manhã ao perguntar se Charles Boxer tinha sido mesmo espião conforme alguns falavam. Russell-Wood, mudou de expressão e disse uma coisa que não me lembro bem, mas só tem um sentido em português: “aquilo era uma ignorância total sobre Boxer”. Aí eu enfiei minha viola no saco e piquei a mula. O que eu sabia mesmo era que Boxer além ter sido seu mestre foi um de seus inspiradores nos estudos brasileiros. Sua conferência foi excepcional, entretanto até hoje ainda não foi publicada, nem ela e nem a dos outros historiadores do Seminário...
À noite quando eu e meu bando vindos de uma pousada ao atravessar o adro da Igreja São Francisco de Assis, deparamo-nos no passeio no Largo do Coimbra, aquele que durante o dia tem artesanato, em meio à chuva fria e a corrubiana, um vulto singular de guarda-chuvas, ali estático olhando a cidade enevoada e que nada mais nada menos era John Russell-Wood, esperando a sua comitiva, dizendo que ainda naquela noite ia beber umas caipirinhas. Despedimo-nos e antes de virarmos na Rua do Ouvidor rumo ao Bar das Coxinhas na Rua Direita, ainda pudemos vislumbrar, o grande Russell-Wood, ali como um fantasma de algum administrador reinol, ou quem sabe como um anjo esculpido pelo Aleijadinho em esteatita negra cujos indefectíveis cabelos brancos foram pintados por Manoel da Costa Ataíde. Depois nós e ele, ele e nós desaparecemos na corrubiana espessa como minha ignorância....

A. J. R. RUSSEL-WOOD - 1939-2010

No mês passado, ao recordar-me deste Seminário Internacional que acontecera em Ouro Preto, recordei-me daqueles episódios que descrevi acima e não sei porque cargas-dáguas resolvi escrever e remeter para o e-mail do Prof. Russell-Wood na Universidade Johns Hopkins, Baltimore - Maryland nos Estados Unidos. A internet nos permite certas ingênuas veleidades. Jamais pensava em obter uma resposta.
No entanto ela chegou também via internet, na manhã fria e sem corrubianas do dia 17 desse agosto empoeirado: “Dear Colleagues and Friends, It is with deep sadness and regret that I write to inform you of the passing of Dr. Anthony John R. Russell-Wood on August 13, 2010.” Que depois de passado no Google tradutor, lamentavelmente ficou assim, para sempre: “Caros Colegas e Amigos, É com profunda tristeza e pesar que eu escrevo para informá-lo da passagem do Dr. Anthony John R. Russell-Wood a 13 de agosto de 2010. \"
Este inglês que morava nos Estados Unidos, escreveu inúmeros livros e artigos e como já dissemos a maioria ainda não foram traduzidos para o Brasil, entretanto, além dos que já citamos dele “Fidalgos e Filantropos; a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550-1755” (1968) e “Escravos e libertos no Brasil colonial” (1982), dentre outros textos traduzidos e que foram e ainda são de fundamental importância para que possamos entender nosso passado colonial estão o livro, “Um mundo em movimento; Os portugueses na África, Ásia e América (1415 1808)” (1993), e os artigos “Manuel Francisco Lisboa; Um artesão da Idade do Ouro do Brasil” (1968); “Centros e Periferias no Mundo Luso-Brasileiro, 1500-1808” (1997).
John Russell-Wood, deixa esposa, Hannelore Russell-Wood, os filhos Christopher, Karsten e os netos Isabelle, Elisabeth, Karrigan e Haviland. Este amante da História e do Brasil, sobretudo Minas Gerais, possivelmente deixou expresso em seu testamento que: “Em vez de flores, contribuições podem ser feitas aos amigos da Johns Hopkins Biblioteca.”
Descanse em paz velho John, a História do Brasil e de Minas Gerais são suas tributárias.

José Eduardo de Oliveira
Licenciado em História pela UFOP-Professor de História na Rede Municipal de Ensino de Patos de Minas

Publicado no semanário FOLHA PATENSE, Patos de Minas, 28.08.2010, p. 19.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A China é mais capitalista que o Brasil...

A China é mais capitalista que o Brasil, muito mais...
Quem duvida consulte este relatorio do World Economic Forum.
Ela é também economicamente mais livre que o Brasil...
Quem duvidar consulte o Index da Freedom House: não estamos falando de liberdades democráticas, ou burguesas, apenas de liberdade para a burguesia acumular capital, como diriam os marxistas...
Aliás, do ponto de vista do marxismo, a China também é mais marxista do que o Brasil, bem mais, ainda que no caso do Brasil o marxismo seja dominante mesmo só em dois lugares: nas universidades, de modo absoluto, e em certas areas do governo, de modo relativo. Na China, não, eles são inteiramente marxistas: estão aplicando rigorosamente o programa do Manifesto Comunista, naquelas partes que dizia que era preciso espalhar o capitalismo pelos continentes pouco desenvolvidos, para vencer o despotismo asiático, justamente. Venceram o asiático, pois todos imitam o Ocidente, na China. Sobrou o despotismo, marxista capitalista...
Paulo Roberto de Almeida


Competitive index ranks China 27th
By Wang Yanlin
China Daily, September, 10, 2010

CHINA is inching higher on a list of the world's most competitive economies - to 27th place, up from 29th last year.

"China continues to lead the way among large developing economies, improving by two more places this year, and solidifying its place among the top 30," said the Global Competitiveness Report 2010-2011, released yesterday by the World Economic Forum.

Switzerland remained in top spot, followed by Sweden and Singapore.

The United States, the world's biggest economy, fell two places to 4th due to macroeconomic imbalances, a weakening of its public and private institutions, and lingering concerns about its financial markets.

Several Asian economies also performed strongly. Japan moved up to 6th place from last year's 8th, and Hong Kong Special Administrative Region remained as number 11.

China outpaced the three other BRIC economies. Brazil ranked 58th, Russia 63rd and India 51st.

Li Jing, an economist and managing director of JPMorgan, said yesterday in Shanghai that the world's emerging markets, upon which the global economic advance hinges, have diverged from the growth path of developed countries.

"While the United States is now concerned about deflation, China pays close attention to the risk of inflation," Li said. "When the US encourages people to reduce debt and save, China is pushing hard for more consumption. Such sharp differences reflect huge potential of future growth in emerging markets, as well as the challenges that different countries should face."

China's economy eclipsed Japan during the April-June period to become the world's second-largest. But under a tightening policy stance, the country's gross domestic product has moderated to 10.3 percent growth in the second quarter from an 11.9 percent surge in the first three months.

Last year, China overtook Germany to become the world's biggest exporter and then nudged the US aside as it became the world's largest automobile market.

The latest Fortune Global 500, unveiled in July, listed a record 54 Chinese companies with three in the top 10.

Cuba: la isla-prision, todavia sin libertades...

CUBA
La libertad despues de la "Primavera Negra"
Reporteres Sin Fronteras, 7/9/2010

"Salida definitiva". Esta es la expresión recogida textualmente en los pasaportes de los periodistas cubanos excarcelados a cambio de un exilio forzado, a lo largo de los meses de julio y agosto de 2010. Fueron 27 en ser arrestados por sus opiniones durante la ola represiva de la Primavera Negra de marzo de 2003, para ser condenados a penas de entre 14 y 27 años de cárcel. Todavía quedaban 19 cuando tuvo lugar la sucesión dinástica oficial entre los hermanos Castro en febrero de 2008. Ahora son seis, además de cuatro compañeros encarcelados más tarde, los que esperan salir de prisión. Y probablemente del país.

¿Una "liberación"? No es exactamente el término que usarían los periodistas entrevistados en este vídeo grabado en Madrid los pasados 19 y 20 de agosto, al llegar tres de ellos. "Seré libre cuando mi país sea libre", insiste en particular Ricardo González Alfonso, fundador de la revista De Cuba y corresponsal de Reporteros sin Fronteras. Ver el vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=uTRe4uXyN1g

http://www.youtube.com/watch?v=I6v1CDsTvas

El exilio forzado de estos periodistas independientes no refleja la "apertura" esperada por parte de las autoridades de La Habana. No obstante, nos alegramos de que estos hombres, cuyo único fallo constituyó en querer producir información fuera del control del Estado, puedan por fin empezar una nueva vida. Aplaudimos los esfuerzos del gobierno español y de la Iglesia cubana en su favor. Finalmente, pedimos que se levante el embargo absurdo impuesto a la isla desde 1962 por Estados Unidos, con el fin de obligar el régimen castrista a mantener sus compromisos internacionales.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...