domingo, 10 de abril de 2011

Um artigo ameno de Arminio Fraga sobre o buraco brasileiro

Armínio Fraga é um liberal, sort of...
Ele acha que o Brasil está numa encruzilhada, ou seja, uma escolha entre o velho estatismo, dos anos 1950 a 1980, e uma economia mais aberta, inserida na globalização e com um ambiente de negócios favoráveis aos negócios e os investimentos.
Acho que ele é um otimista.
O Brasil há muito tempo já enveredou pelo caminho estatizante e dirigista, feito de um capitalismo manipulado pelo Estado, e particularmente pelo governo, com seus militantes ávidos por arrancar alguns nacos das riquezas capitalistas.
Não tenho nenhuma dúvida quanto à orientação ideológica dis novos donos do poder. Ninguém mais quer derrotar a burguesia e construir o socialismo, como parecem acreditar alguns liberais mal informados. Eles só querem se apropriar de uma parte dos lucros, e usar o capitalismo para engordar o Estado, onde os novos ratos se refestelam no banquete do poder.
O Brasil não está na encruzilhada: ele já despencou há muito tempo no capitalismo promíscuo, guiado e manipulado pelo Estado.
Vamos continuar com crescimento medíocre e sobretudo com mediocridade intelectual no comando.
Paulo Roberto de Almeida

Opinião
O Brasil na encruzilhada
Pedro Cavalcanti Ferreira e Arminio Fraga
O Globo, 10 de Abril de 2011

RIO - O Brasil vive um bom momento de crescimento, a um ritmo de cerca de 4% ao ano nos últimos anos. Mas cabe avaliar se este processo vai ter continuidade, nos levando a um produto per capita semelhante ao dos países mais avançados, ou se vamos repetir a experiência de 1950 a 1980, quando acabamos batendo num teto e nos espatifando na Década Perdida.

Em 1950, o produto per capita brasileiro era de cerca de 12% do produto per capita americano. Em 1980, no ápice do milagre, nossa produtividade alcança 24% da americana. A partir daí nosso produto relativo caiu continuamente, chegando a 16% na década de 1990. Deste ponto em diante o país volta a crescer de forma contínua atingindo hoje algo em torno de 20% do produto per capita americano, sem dúvida um avanço, mas ainda modesto.

Aqueles mais nostálgicos dos tempos do milagre econômico tendem a apontar as políticas nacional desenvolvimentistas adotadas desde a década de 50 como a causa principal de nosso crescimento acelerado. Neste modelo o Estado ocupa papel central na economia, tanto como produtor direto quanto como indutor de investimentos privados via coordenação e incentivos fiscais e tributários. Há uma articulação entre interesses públicos e privados em setores entendidos como estratégicos e fortes gastos em infraestrutura e formação de capital por empresas estatais. Mais ainda, a produção nacional é protegida da concorrência internacional através de barreiras comerciais e outras.

Há em curso em nosso país, principalmente a partir de 2008, uma tentativa de ressuscitar este modelo. Isto pode ser visto nas largas transferências do Tesouro para o BNDES, que hoje financia uma fração crescente dos investimentos privados a uma taxa de juros muito abaixo do mercado. Isto pode ser visto nas mudanças no marco regulatório do petróleo, com a Petrobras assumindo um papel ainda maior na prospecção e investimentos do setor. (Note ainda o alto percentual de compras locais da estatal, o que não leva em conta inteiramente diferencial de custos). Pode ser visto também na acelerada expansão do crédito por parte dos bancos públicos. De uma maneira ou de outra, aumenta-se a participação do Estado em diversos setores da economia, ao mesmo tempo em que se implanta e aumenta a proteção e os subsídios para setores e empresas da iniciativa privada.

A crise de 2008 deu o estofo ou argumento ideológico para a reação nacional desenvolvimentista. Ela seria o sintoma claro da falência do modelo neoliberal e indicação da necessidade de uma presença maior do Estado. Afinal, deu certo até o fim dos anos setenta, por que não daria agora?

Um problema é que, o que deu certo até 1980 também foi responsável por grande parte dos desequilíbrios e problemas posteriores. Mais ainda, deu certo em termos de crescimento, mas deu errado em termos sociais. Isto pode ser percebido pela péssima distribuição de renda que este modelo nos legou, além das altas taxas de mortalidade infantil, a baixíssima escolaridade, o alto analfabetismo e índices de pobreza e indigência muito acima do que se esperaria de um país com nosso crescimento e renda per capita. Em certo sentido nada além do esperado de um modelo que privilegiava o investimento em capital físico em detrimento aos gastos em capital humano e educação.

A dimensão social, atualmente, está bem encaminhada. A pobreza vem caindo há vários anos de forma estável, a desigualdade de renda caiu para os níveis mais baixos desde 1960 e a renda de parcelas geralmente excluídas dos benefícios do crescimento, como os negros e as mulheres, vem crescendo a taxas chinesas. Há vários fatores por trás disto, destacando-se a estabilidade macroeconômica (que protege os mais pobres), a expansão da educação e uma agressiva política social ao longo dos últimos 16 anos.

Outro problema diz respeito ao próprio crescimento. Hoje sabemos que na fase final do Milagre os indicadores de produtividade (em queda) já indicavam um certo esgotamento do modelo. Faltou justamente ênfase em produtividade e educação. Ao mesmo tempo, a tentativa de manutenção de taxas aceleradas de crescimento começava a pressionar a inflação e o balanço de pagamentos, um sinal adicional de esgotamento. No fim do Milagre a incapacidade (ou falta de vontade política) do governo em ajustar a economia após inúmeros choques externos - ao contrário, o governo acelerou investimentos - e a extensão e a intensificação da proteção comercial explicam grande parte de nossa estagnação econômica e queda da produtividade posterior.

As semelhanças com o momento atual não são pequenas: passada a crise econômica que justificou aumentos anticíclicos dos gastos, há grande resistência ao ajuste por parte de vários setores do governo e da sociedade. Há também enorme pressão por medidas protecionistas por parte de grupos que se sentem prejudicados pela concorrência chinesa e pela taxa de câmbio valorizada. Alguns sinais amarelos já são visíveis. A taxa de inflação se aproxima do teto da meta de inflação e, fora os preços administrados, a alta de preços é generalizada e atinge inclusive o setor de serviços. O saldo em conta corrente se reduziu em mais de quatro pontos do PIB, apesar de um ganho de 40% na relação entre preços médios de exportação e importação.

Em boa parte estas tensões espelham desafios fundamentais que se colocam ao país. No topo da lista está a frustrante dificuldade em se aumentar a taxa de investimento do país, que vem evoluindo lentamente para os atuais 18,4% do PIB, apesar dos esforços e subsídios do BNDES. Trata-se talvez da maior frustração econômica do governo Lula, que com bom senso reduziu significativamente o risco político do país, mas assim mesmo não conseguiu mobilizar nossos "espíritos animais". A nosso ver a explicação para este fenômeno está no par ideologia (de raízes nacional desenvolvimentistas) e dificuldades de execução (enraizadas em um Estado loteado e ineficiente).

Além da baixa taxa de investimento, o Brasil vive hoje um início de crise no mercado de trabalho. A crise não é a tradicional e terrível falta de emprego, mas sim a falta de trabalho qualificado, em todas as faixas. Uma comparação com a Coreia do Sul pode ser útil.

Nos últimos 40 anos a Coreia foi de uma renda per capita 30% inferior à nossa a um nível hoje três vezes maior! Isto foi possível porque a Coreia investiu muito mais e educou mais e melhor do que nós. A escolaridade média subiu de 4,3 anos para cerca de 13 anos (igual à americana), enquanto a nossa foi de dois anos para em torno de sete anos. E a qualidade da educação coreana é excelente, enquanto aqui é, na média, sofrível. Uma resposta mais eficaz aqui é urgente, nas três esferas de governo.

O Brasil está, portanto, diante de uma encruzilhada. Do jeito que as coisas vão, parecemos caminhar para uma repetição do modelo nacional desenvolvimentista, mas com uma taxa de investimento inferior à versão original. Em que pese o maior foco atual no social, não custa lembrar que esta opção foi não só excludente socialmente, como gerou uma série de distorções que provocaram a estagnação posterior. Podemos ter alguns anos de vacas gordas, mas estamos fadados a parar longe de completar a convergência para os melhores padrões globais.

Não existe uma única alternativa a este caminho, mas alguns pontos são essenciais. Como bem indica a Coreia, o Brasil precisa investir e educar mais e melhor. O governo tem que promover as reformas necessárias para contribuir com a sua parte, investindo mais e gastando menos, e revalorizando a boa regulação para mobilizar o investimento privado. A promessa da presidente Dilma de aumentar a eficiência do Estado precisa ser cumprida através da ênfase na meritocracia por ela mesmo proposta. O atual cobertor curto no campo macroeconômico (inflação e juros altos, câmbio baixo) requer um ajuste fiscal mais convincente, que aborde com coragem as questões de longo prazo. Além de juros mais baixos, o setor privado precisa de um Custo Brasil menor, de uma estrutura tributária mais racional e de uma infraestrutura melhor, em vez de subsídios que não merece. Desta forma sobrará mais para programas sociais também. Enfim, há muito em jogo, muito a fazer, pouco tempo a perder. Repetir o passado parece-nos a pior das opções.

Pedro Cavalcanti Ferreira, da EPGE-FGV
Arminio Fraga Neto, da Gávea Investimentos

Vocacional: uma experiencia de vida, um aprendizado inesquecivel

Tive a sorte, o privilégio e a oportunidade, excepcionais em todos os casos, de estudar na primeira turma do Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no bairro do Brooklin, em São Paulo, capital. Foram quatro anos de aprendizado para uma vida inteira, amizades inesquecíveis, um ambiente de estudos de altíssima qualidade. Eu era então um jovem de apenas 11 ou 12 anos, e creio que aquela experiência transformou minha vida, para sempre, sobretudo no plano intelectual (ainda que eu já fosse, desde meus sete anos, um rato de biblioteca).
Contei um pouco dessa experiência neste texto:

What a difference a school makes...; O traço todo de minha vida no Vocacional Oswaldo Aranha
Brasília, 10 janeiro 2010, 6 p. Depoimento sobre meu ingresso e permanência no Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha. Relação de trabalhos n 2097.
Postado no blog DiplomataZ (link: http://diplomataz.blogspot.com/2010/01/31-what-difference-school-makes-meu.html).

Agora todos nós -- eu ainda não pude fazê-lo -- temos a oportunidade de assistir um filme sobre essa experiência, tal como relatado abaixo. Gostaria de estar em SP para assistir. Não será possível agora, mas isso certamente se dará no futuro próximo.
Meus cumprimentos aos realizadores desse belíssimo empreendimento, minhas saudações a todos os colegas de turma e a todos os que nos seguiram, minhas homenagens, mais uma vez, a nossos professores maravilhosos.
Uma lágrima de saudade...
Paulo Roberto de Almeida

Filme e Debate:
A contribuição do Ginásio Vocacional para a renovação da educação pública no Brasil

O Vocacional foi uma das mais importantes experiências pedagógicas realizadas na escola pública no Brasil. Criado em 1962 e extinto em 1969 com uma intervenção da ditadura militar, os ginásios vocacionais, implantados nas cidades de São Paulo, Rio Claro, Batatais, Americana e Barretos, foram uma ousada proposta que introduziu novas práticas de ensino e formação, que até hoje são extremamente avançadas. Alguns aspectos dessa proposta foram parcialmente incorporados em escolas particulares de classe média, mas na rede pública de educação, crescentemente sucateada, nunca mais se deu continuidade a essa visão interrompida pelo autoritarismo.

Com o lançamento do filme “Vocacional: uma experiência humana”, do diretor Tony Venturi e a comemoração dos 80 anos da principal formuladora do projeto, a professora e pedagoga Maria Nilde Mascellani, a experiência do Vocacional vem ganhando maior divulgação. A Casa da Cidade integra-se a esse processo, na perspectiva de debater a contribuição da experiência para a renovação da educação pública no Brasil. Para conhecer melhor a proposta, leia, abaixo, artigo do ex-aluno Eduardo Amos sobre o Ginásio Vocacional.

O evento conta com o apoio Olhar Imaginário, que produziu o filme a ser exibido no evento e da GVIVE – Associação dos ex- alunos, professores e pais do Ginásio Vocacional e espera contar, sobretudo, com presença de educadores e todos os que participaram dessa importância experiência.

19:00h – Projeção do filmeVocacional: uma experiência humana
20:30h – Debate: A contribuição do Vocacional para a renovação da educação pública

Tony Ventury: Diretor do Filme e ex-aluno do Vocacional
Luigy – L. C. Márquez: Presidente da Associação de ex-alunos, professores e pais do Ginásio Vocacional
Isnéria Rovai: Ex-professora do Vocacional (a confirmar)
Maria Clara di Pierro Faculdade de Educação da USP
Onde: Casa da Cidade Rua Rodésia, 398 - Vila Madalena
Quando: Dia 14 de abril, 5ª feira, às 19h (filme), 20:30h (debate)

Artigo
Ginásio Vocacional – uma escola para a vida

Eduardo Amos - ex aluno turma de 64, Rio Claro
Revista Arquivo Municipal de Rio Claro 2009

“Quando me perguntam o que aprendi no Vocacional, digo que aprendi a ler jornal, a comer com faca e garfo, a me seduzir pela realidade, a trabalhar em grupo, a me enxugar no meio das pernas depois do banho.”

Essa frase do jornalista Aureliano Biancarelli, escrita 41 anos depois de se formar no Ginásio Vocacional de Americana, poderia, muito bem, ter sido escrita por algum aluno do Vocacional de Rio Claro. Essas poucas palavras dão a exata dimensão de como o projeto pedagógico de uma escola renovadora marcou definitivamente a vida de todos aqueles que por ela passaram.

Instalado precariamente no prédio do antigo Grupo Escolar da Vila Operária, hoje E. M. Monsenhor Martins, o Ginásio Vocacional de Rio Claro começou a funcionar em 1963. Em 1965, transferiu-se para um casarão no Horto Florestal onde funcionou por 3 anos. Finalmente, em fevereiro de 1968 mudou-se para as instalações definitivas construídas na rua 2 número 2877 onde ficou até a extinção do Ensino Vocacional em novembro de 1969.

O Vocacional, que tinha unidades instaladas em São Paulo, Americana, Barretos, Batatais e Rio Claro, era uma escola de período integral que tinha por pilares o trabalho em equipe, o estudo do meio e a participação ativa do aluno em seu processo de aprendizagem. Muito mais do que os conteúdos acadêmicos, ali se aprendia a olhar para a cidade, a entender o funcionamento das instituições e da sociedade, a buscar uma compreensão do mundo e, o mais importante de tudo: aprendia-se a conviver com pessoas de todas as classes sociais.

Uma escola para todos
A seleção dos alunos levava em conta a composição da população da cidade em sua proporcionalidade de classes sociais para que a escola refletisse a maneira como a sociedade local se estruturava. Dessa maneira, a escola tinha a mesma composição social da sociedade rioclarense. Como as classes mais baixas representavam a maioria da população da cidade, esse segmento social tinha maior peso no momento da seleção. Isso provocou muitos protestos de parte das famílias da elite local que viam muitos dos seus filhos impedidos de estudar numa escola de ensino de alto nível. O depoimento da mãe de uma ex-aluna ilustra muito bem esse aspecto:

“Minha filha mais velha entrou na primeira turma, cuja origem social era de classe inferior. Os pobres eram maioria. O sistema era compreensivo e se preocupava em elevar os pobres. Estes não aceitavam nada que não fosse deliberado por eles. Foram ensinados a se organizarem e a defenderem seus interesses. Minha filha era ótima, mas não era aceita por ser filha de professora. Os pobres eram muito revoltados e minha filha sofreu. O Vocacional foi bom para ela no sentido intelectual, graças a ele, ela desenvolveu a capacidade de estudo e, de síntese, o que a levou a destacar-se no colegial do Batista Leme. No Vocacional ela não era ninguém, enquanto os pobres eram gente.”

As instalações
As instalações, concebidas pelo arquiteto Pedro Torrano, pai de ex-aluno, formam o maior conjunto arquitetônico jamais construído no Brasil para abrigar uma escola de Ensino Fundamental I. A escola se espalhava por 10 blocos harmoniosamente distribuídos numa área de 3 quadras. Os prédios expressavam a proposta pedagógica da escola em que todas as disciplinas, atividades e projetos eram interligados. Além disso, a concepção daquele espaço escolar foi concebido de forma a colocar as atividades mais “barulhentas” (educação física e artes industriais) longe daquelas que exigiam maior concentração (português matemática, estudos sociais). Todos os blocos eram interligados por amplas passarelas cobertas e toda a área externa era ocupada por jardins construídos e mantidos pelos próprios alunos, os quais também cultivavam uma horta na disciplina de Práticas Agrícolas.

O espaço da escola era muito grande e não existia um pátio central, típico das escolas tradicionais, que permite que os alunos sejam permanentemente vigiados. Outro aspecto importante é que todas as portas permaneciam destrancadas durante as aulas e todos os alunos tinham acesso livre a todos os espaços.

Trabalho em equipe
Tudo no Vocacional era feito em equipe: desde o primeiro dia de aula quando um grupo de alunos mais velhos conduzia um grupo de recém chegados pelas dependências da escola até o recebimento do diploma na cerimônia de formatura.

Cada equipe, formada a partir da aplicação de um sociograma (técnica de formação de grupos a partir de escolhas feitas pelos próprios alunos), contava com um líder e um redator que mantinham seus cargos por um período determinado. Dessa forma, crianças provenientes das várias camadas sociais conviviam no dia a dia da escola e se ajudavam mutuamente. Era dentro das equipes que se realizava a construção do conhecimento, num processo muitas vezes conflituoso e que levava a um profundo aprendizado de convivência social.

O currículo
No Vocacional, o currículo contemplava não apenas objetivos de conhecimento, mas também objetivos comportamentais voltados para a formação de atitudes e da consciência crítica, o aprendizado da ética e a construção da cidadania no sentido mais amplo do termo. Enfim, a grande meta era o desenvolvimento integral do aluno. Para isso, além das disciplinas tradicionais como português, matemática, educação física e ciências, outras disciplinas, novas para todos nós, compunham o currículo: Estudos Sociais, Educação Musical, Artes Plásticas, Artes Industriais, Práticas Comerciais, e Práticas Agrícolas. Todas as áreas disciplinas trabalhavam de forma integrada em torno de Unidades Pedagógicas. Cada unidade começava com uma assembléia de todos os alunos de uma mesma série, a “aula plataforma”. Coordenados por Estudos-Sociais, as discussões realizadas na aula plataforma culminavam com a definição de um tema gerador a partir do qual todas as disciplinas trabalhavam ao longo de um bimestre. Ao final desse período, realizava-se uma nova assembléia (aula-síntese) em que as equipes compartilhavam tudo o que haviam pesquisado, estudado e aprendido. O conhecimento, portanto, era compartilhado com outros colegas e não apresentado ao professor numa prova escrita.

Um aspecto bastante renovador do currículo do Vocacional é que seu desenvolvimento se dava a partir da comunidade. É por isso que na 5ª série, o enfoque era a cidade (Rio Claro), na 6ª série trabalhavam-se temas relacionados ao estado de São Paulo, na sétima os temas falavam do Brasil e, finalmente, na 8ª série abordavam-se questões mundiais sem, contudo perder de vista seus impactos na comunidade.

Estudo do meio
Outro pilar do Ensino Vocacional, o estudo do meio fazia parte do cotidiano da escola. Sempre tinha alguma classe saindo para algum lugar, para estudar alguma coisa fora da escola.

Em 1965, por exemplo, quando, na 6ª série, estudávamos o ciclo do café no estado de São Paulo, realizamos dois estudos do meio. Um para conhecer o Museu do Café em Ribeirão Preto e a casa de Portinari em Brodósqui. O outro teve a duração de sete dias e nos levou a São Paulo e Santos. Na capital visitamos várias indústrias, uma agência de publicidade, a Estação da Luz e alguns museus. Em Santos conhecemos o porto por onde escoava toda a produção de café do Brasil e a Bolsa do Café. Mas o melhor de tudo é que para muitos de nós, foi a primeira vez que vimos o mar.

Já na 8ª série, ao abordarmos a questão da unidade nacional brasileira, realizamos um estudo do meio ao Rio de Janeiro de 5 a 13 de novembro de 1967. Nessa viagem conhecemos o Forte Copacabana, Maracanã, Escola de Samba Vila Isabel, Favela da Catacumba, Vila Kennedy (primeiro conjunto habitacional brasileiro), o reator atômico da UERJ, aeroporto do Galeão, Museu de Arte Moderna, Monumento aos Pracinhas (obra de Niemeyer), o Itamarati, a Academia Brasileira de Letras, Jardim Botânico, Corcovado, Pão de Açucar, Ilha de Paquetá e Museu Imperial em Petrópolis. Numa tarde, uma das equipes foi recebida pelo escritor Ruben Braga em sua própria casa. Fazíamos nossas refeições no restaurante universitário chamado Calabouço, na Cinelândia. No ano seguinte, esse local seria palco do assassinato de um estudante que motivou a famosa Passeata dos 100 Mil. Na viagem de ida, dormimos uma noite no Parque Nacional de Itatiaia e na volta, visitamos a Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda e a Academia Militar de Agulhas Negras em Resende.

Atividades como essa em que 50 alunos do Ensino Fundamental I de uma escola pública saem de sua cidade e passam uma semana ou 10 dias estudando e conhecendo o mundo são simplesmente inimagináveis nos dias de hoje. A bem da verdade, nem mesmo as melhores escolas particulares oferecem aos seus alunos experiências desse tipo hoje em dia. Contudo, incomensuráveis são os impactos na formação de uma criança de 13-14 anos ao vivenciar tudo o que viagens desse tipo podem oferecer.

Instituições didático-pedagógicas
Paralelo à estrutura curricular, mas perfeitamente integradas à comunidade escolar e ao projeto pedagógico, existiam as instituições didático-pedagógicas que visavam preparar para a vida do trabalho e propiciar a participação do aluno no ambiente da escola a partir de uma perspectiva diversa. As instituições didático-pedagógicas eram vinculadas à área de Práticas Comerciais e incluíam: a cantina escolar, a cooperativa escolar, o banco escolar e o escritório contábil.

Uma história de lutas
A história dos Ginásios Vocacionais, desde o seu início, foi profundamente marcada por embates políticos tanto interna quanto externamente. O golpe militar de 64 que instaurou o mais longo período de ditadura no Brasil serviu como apoio para toda sorte de investidas contra o Ensino Vocacional, cuja implantação só foi possível graças à luta empreendida por professores, diretores, planejadores, pais, alunos e simpatizantes. A manutenção desse ensino tão revolucionário, por sua vez, não foi menos penosa já que, além de sofrer pressões vindas de instâncias superiores como a Secretaria de Educação, a escola ainda tinha que lidar com o jogo do poder local que, na maioria das vezes, não era favorável àquele projeto educacional.

O processo de desfiguração do projeto do Vocacional culminou com a invasão policial-militar ocorrida em todas as escolas da rede no dia 12 de dezembro de 1969. As escolas e a sede do Serviço de Ensino Vocacional foram invadidas por agentes da Policial Federal e por militares de Campinas. Em todas as unidades foram detidos professores, funcionários, alunos e qualquer pessoa que se encontrasse no recinto por até oito horas. Todos os setores foram vasculhados e os agentes policiais retiraram livros das bibliotecas, textos de estudo, relatórios e grande quantidade de material didático.

Finalmente, em 5 de junho de 1970 o Decreto no 52.460 oficializou a extinção de todos os Ginásios Vocacionais bem como de toda a estrutura do Serviço de Ensino Vocacional. As escolas do sistema Vocacional passaram a integrar a rede comum de ensino. Os alunos já matriculados passariam a cursar as escolas comuns em regime didático especial até a conclusão do curso e os alunos que ingressassem a partir de 1971 passariam a ter o currículo comum a todas as escolas. O Vocacional já era coisa do passado.

Uma chama que nunca morre
Hoje, depois de 41 anos, os ex-alunos do Vocacional ainda estão unidos. Desta vez, em torno da GVive, uma associação que congrega ex alunos, professores, pais e simpatizantes e que tem por objetivo resgatar e preservar a memória dos Vocacionais.O site da GVive ( www.gvive.org ) oferece uma série de informações sobre os Ginásio Vocacionais e ajuda a promover encontros de ex-alunos e ex-professores

Visite e divulgue: www.casadacidade.org.br

Associação Casa da Cidade
Rua Rodésia, 398 - V. Madalena
CEP 05435-020 - São Paulo - SP
(11) 3814-3372

A nota sobre o relatorio dos EUA sobre DH no Brasil e uma possivel resposta

Primeiro a nota, severa, como deve ser nesses casos:

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 147
8 de abril de 2011

Relatório do Departamento de Estado dos EUA sobre Direitos Humanos

O Governo brasileiro tomou conhecimento da publicação, hoje, 8 de abril, do relatório anual do Departamento de Estado dos EUA sobre Direitos Humanos.

O Governo brasileiro não se pronuncia sobre o conteúdo de relatórios elaborados unilateralmente por países, com base em legislações e critérios domésticos, pelos quais tais países se atribuem posição de avaliadores da situação dos direitos humanos no mundo. Tais avaliações não incluem a situação em seus próprios territórios e outras áreas sujeitas de facto à sua jurisdição.

O Brasil reitera seu forte comprometimento com os sistemas internacionais de direitos humanos, dos quais participa de maneira transparente e construtiva. O Brasil permanecerá engajado, em particular, no mecanismo de Revisão Periódica Universal do Conselho de Direitos Humanos, instância criada para avaliar situações de direitos humanos nos países membros das Nações Unidas.

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Eu sempre me pergunto quem é o "fazedor de notas" do Itamaraty, pois o estilo é enxuto, rigoroso, como convém a um governo sério.
Pois bem, agora fico imaginando se o Departamento de Estado quisesse responder também por uma nota: [traduzo antecipadamente para facilitar...]


Department of State
Office of Public Relations
Press Release n 148
April 9, 2011

Report of the Department of State on Human Rights in Brazil

O Governo americano tomou conhecimento da divulgação, ontem, 8 de abril, da nota do Governo brasileiro a propósito do relatório anual deste Departamento de Estado sobre Direitos Humanos no Brasil, em tom indignado e acusatório.

O Governo americano não se pronuncia sobre o conteúdo de notas de governos estrangeiros, mas tem a acrescentar, para informação do Governo brasileiro, que os relatórios elaborados pelo serviço diplomático americano a respeito das políticas e das práticas de direitos humanos por parte de países com os quais temos relações diplomáticas ativas correspondem a uma obrigação legal do Departamento de Estado, em obediência a uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA, que serve para avaliar essas políticas e práticas, de maneira a orientar nossos legisladores quanto à situação dos direitos humanos no mundo, para melhor subsidiar políticas de cooperação, de ajuda, de concessão de privilégios comerciais e outros tratamentos favoráveis que o governo americano possa a vir conceder, com a devida autorização do Congresso, a esses países. Tais avaliações são elaboradas com o máximo de objetividade e de isenção possíveis, e incluem, geralmente, informações coletadas na própria imprensa do país objeto desses relatórios, assim como através de contatos diretos de nossos diplomatas com entidades voltadas para a defesa dos direitos humanos, tanto aquelas oficiais como as não-governamentais. Todos os relatórios possuem as fontes que serviram para a coleta de informações para sua elaboração.

O Governo americano entende que o governo brasileiro partilha de suas preocupações com a defesa dos direitos humanos em toda e qualquer circunstância, e não pretende se colocar como entidade julgadora dos países com os quais mantém relações diplomáticas, mas está pronto a cooperar com o governo brasileiro para a promoção dos direitos humanos em todos os foros, bilaterais, regionais e multilaterais, sempre quando isso for de interesse do governo brasileiro.

Washington, 9 de abril de 2011

[Pela ajuda ao Department of State:
Paulo Roberto de Almeida]

sábado, 9 de abril de 2011

Coloquio sobre os anos decisivos: 1979-1981, em Paris...

Parisienses sortudos...

COLLOQUE
1979-1981. Un tournant dans les relations internationales
Paris, 12-13 mai 2011

Colloque international organisé par Sciences Po, l'Association Diplomatie et Stratégie et l'Institut für Zeitgeschichte München-Berlin en coopération avec RICHIE et les Instituts historiques allemands de Paris, Londres et Varsovie

Les 12 et 13 mai 2011
À l'Institut Historique Allemand, Paris

Merci de vous inscrire avant le 9 mai 2011 auprès de Dunja Houelleu: dhouelleu@dhi-paris.fr

12 mai 2011

14h00 Mot de bienvenue
Stefan Martens (IHA Paris)
Maurice Vaïsse (Sciences Po)

14h15 Conférence inaugurale
1979-1981. A turning point in international relations
Odd Arne Westad (LSE)

16h00 Le Nord face aux défis du Sud
Président/discutant : Thorsten Olesen (Aarhus University)
The Afghanistan crisis in regional and global context
Artémy Kalinovsky (University of Amsterdam)
La guerre Irak-Iran : la première guerre post-soviétique ?
Bernard Hourcade (CNRS)
La troisième guerre d'Indochine
Laurent Césari (Université d'Artois)
La CEE et les nouveaux défis de la coopération au développement
Guia Migani (Université de Louvain-la-Neuve/Université de Padoue)

13 mai 2011
09h00 Les rapports Est-Ouest : fin de la détente ?
Président/discutant : Pierre Melandri (Sciences Po)
La détente divisible : les conséquences des crises en Afghanistan et en Pologne vues de Moscou Evgeniya Obitchkina (MGIMO)
The American conception of detente and the transatlantic relations
Mario Del Pero (University of Bologna/Forlì)
Comment préserver la détente européenne ? Les réponses de Paris, Bonn et Londres
Christian Wenkel (IHA Paris)
Security and deterrence. Strategic developments and the question of nuclear armament in the late 1970s
Eckhard Conze (University of Marburg)

La politique française de non-prolifération nucléaire: le tournant Giscard
Jean-Philippe Baulon (Ecole pratique des hautes études)

13h30 Les changements du système économique et monétaire
Président/discutant: Eric Bussière (Université Paris-Sorbonne Paris IV)
Les relations économiques internationales : une dynamique anglo-saxonne
Martine Azuelos (Université Sorbonne Nouvelle - Paris III)
Crises et alternances : la consolidation du G7
Emmanuel Mourlon-Druol (LSE)
Liberalising trade in time of economic crisis : the EEC and the Tokyo Round negotiations
Lucia Coppolaro (University of Lisbon)

15h45 De nouvelles pratiques politiques et diplomatiques ?
Président/discutant : Piers Ludlow (LSE)
Towards a new relaunching of Europe in a changing world
Antonio Varsori (University of Padua)
The influence of the CSCE-process on Eastern Europe
Wanda Jarzabek (Polish Academy of Sciences/IHA Varsovie)
Nuclear questions : Transatlantic peace politics, non-governmental actors, and the second cold war
Philip Gassert (University of Augsburg)

17h45 Conclusions

Comité scientifique :
Laurent Césari (Université d'Artois)
Pierre Melandri (Sciences Po)
Guia Migani (Université Louvain-la-Neuve/Université de Padoue)
Maurice Vaïsse (Sciences Po)
Christian Wenkel (IHA Paris)

Contact: cwenkel@dhi-paris.fr

Pausa para o cinema, e um livro importante: Ayn Rand's Atlas Shrugged

Existe o livro, aliás uma novela famosa entre os iniciados de Ayn Rand. Agora surge o filme, baseado numa primeira parte da história (que tem mais de 700 páginas).
Recomendo ambos. Estou esperando o filme, em todo caso...
Paulo Roberto de Almeida

Atlas Shrugged. And So Did I.
P.J. O’Rourke
The Wall Street Journal, April 6, 2011

Actress Taylor Schilling as Dagny Taggart, in “Atlas Shrugged.”

The movie version of Ayn Rand’s novel treats its source material with such formal, reverent ceremoniousness that the uninitiated will feel they’ve wandered without a guide into the midst of the elaborate and interminable rituals of some obscure exotic tribe.

Meanwhile, members of that tribe of “Atlas Shrugged” fans will be wondering why director Paul Johansson doesn’t knock it off with the incantations, sacraments and recitations of liturgy and cut to the human sacrifice.

Upright railroad-heiress heroine Dagny Taggart and upright steel-magnate hero Hank Rearden are played with a great deal of uprightness (and one brief interlude of horizontality) by Taylor Schilling and Grant Bowler. They indicate that everything they say is important by not using contractions. John Galt, the shadowy genius who’s convincing the people who carry the world on their shoulders to go out on strike, is played, as far as I can tell, by a raincoat.

The rest of the movie’s acting is borrowed from “Dallas,” although the absence of Larry Hagman’s skill at subtly underplaying villainous roles is to be regretted. Staging and action owe a debt to “Dynasty”—except, on “Dynasty,” there usually was action.

In “Atlas Shrugged–Part I” a drink is tossed, strong words are bandied, legal papers are served, more strong words are further bandied and, finally, near the end, an oil field is set on fire, although we don’t get to see this up close. There are many beautiful panoramas of the Rocky Mountains for no particular reason. And the movie’s title carries the explicit threat of a sequel.

But I will not pan “Atlas Shrugged.” I don’t have the guts. If you associate with Randians—and I do—saying anything critical about Ayn Rand is almost as scary as saying anything critical to Ayn Rand. What’s more, given how protective Randians are of Rand, I’m not sure she’s dead.

The woman is a force. But, let us not forget, she’s a force for good. Millions of people have read “Atlas Shrugged” and been brought around to common sense, never mind that the author and her characters don’t exhibit much of it. Ayn Rand, perhaps better than anyone in the 20th century, understood that the individual self-seeking we call an evil actually stands in noble contrast to the real evil of self-seeking collectives. (A rather Randian sentence.) It’s easy to make fun of Rand for being a simplistic philosopher, bombastic writer and—I’m just saying—crazy old bat. But the 20th century was no joke. A hundred years, from Bolsheviks to Al Qaeda, were spent proving Ayn Rand right.

Then there is the audacity of bringing “Atlas Shrugged” to the screen at all. Rand devotees, starting with Rand herself, have been attempting it for 40 years. The result may be as puzzling as a nude sit-in anti-Gadhafi protest in Tripoli’s Green Square, but you have to give the participants credit for showing up.

In “Atlas Shrugged” Rand set out to prove that self-interest is vital to mankind. This, of course, is the whole point of free-market classical liberalism and has been since Adam Smith invented free-market classical liberalism by proving the same point. Therefore trying to make a movie of “Atlas Shrugged” is like trying to make a movie of “The Wealth of Nations.” But Adam Smith had the good sense to leave us with no plot, characters or melodramatic clashes of will so that we wouldn’t be tempted to try.

“Atlas Shrugged” presents other problems for a moviemaker. The book was published in 1957 and set in an America of the future. But time seems to have taken a U-turn, so that we’re back in a worse Great Depression with a more megalomaniacal business competition-loathing FDR-type administration. All sorts of things have been uninvented, such as oil pipelines so that oil has to be shipped by rail, railroads being the dominant form of transportation. Airplanes exist, but knowing where to fly them apparently doesn’t, because a secret hidden unknown valley in the Rocky Mountains figures in the plot, which also hinges on a substance that’s lighter and stronger than steel. This turns out to be a revolutionary new steel alloy! Because Rand forgot about plastics.

The “Atlas Shrugged” movie simply accepts these unimaginative imaginings. No attempt is made to create a “future of the past” atmosphere as in the movies about Batman (a very unRandian figure, trapped in his altruism costume drama). Nor is any attempt made to update Rand’s tale of Titans of Industry versus Gargantuas of government.

An update is needed, and not just because train buffs, New Deal economics and the miracle of the Bessemer converter are inexplicable to people under 50, not to mention boring. The anti-individualist enemies that Ayn Rand battled are still the enemy, but they’ve shifted their line of attack. Political collectivists are no longer much interested in taking things away from the wealthy and creative. Even the most left-wing politicians worship wealth creation—as the political-action-committee collection plate is passed. Partners at Goldman Sachs go forth with their billions. Steve Jobs walks on water. Jay-Z and Beyoncé are rich enough to buy God. Progressive Robin Hoods have turned their attention to robbing ordinary individuals. It’s the plain folks, not a Taggart/Rearden elite, whose prospects and opportunities are stolen by corrupt school systems, health-care rationing, public employee union extortions, carbon-emissions payola and deficit-debt burden graft. Today’s collectivists are going after malefactors of moderate means.

Hence the Tea Party, and Ayn Rand is invited. Not for nothing is Kentucky Senator Paul named Rand. The premise of “Atlas Shrugged” applies to every maker in a world of takers. What if, pace Adam Smith, the takers do indeed expect their dinner “from the benevolence of the butcher, the brewer or the baker”? And what if the Safeway meat-cutter, the beer-truck driver, and the guy who owns the Dunkin’ Donuts franchise say to hell with “their regard to their own interest”? What if they go off with John Galt to a secret hidden unknown valley in the Rocky Mountains? A lot of people will be chewing air and drinking puddle water.

“Atlas Shrugged–Part I” has to be praised just for existing, for keeping the premise available. Perhaps Hollywood progressives— inveterate takers—will take it. Many another movie could be made about a labor action by those who perform life’s actual labors. Maybe it’s a slacker comedy where Zach Galifianakis shaves, loses weight and refuses to speak in non sequiturs. Maybe it’s a sci-fi thriller where the Internet has gone on strike and mankind must face a post-apocalyptic world without Twitter. Or maybe it’s a horror film set at my house, “Wife on Strike!”

Mr. O’Rourke’s many books include “Don’t Vote—It Just Encourages the Bastards.”

Watch the trailer for “Atlas Shrugged”: http://blogs.wsj.com/ideas-market/2011/04/06/atlas-shrugged-and-so-did-i/

Diplomacia lulista: retocando (ou restaurando) a imagem - Carta Maior

Esse site, identificado com os antiglobalizadores do FSM, só poderia rasgar elogios ao antigo titular da diplomacia lulista, que teve assim alguns band-aids colocados sobre algumas feridas recentes, em vista dos debates que aconteceram na imprensa em torno das diferenças entre a diplomacia lulista - personalista ao extremo - e a diplomacia dilmista - aparentemente mais profissional e mais afeta ao próprio Itamaraty.
Não cabia a um jornal digital como esse criticar a atual diplomacia, inclusive porque seria contraproducente. Fica o registro da tentativa de reparação...


Celso Amorim: Brasil superou o complexo de vira-lata
Marco Aurélio Weissheimer
Carta Maior, 7/04/2011

Link: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17664&boletim_id=887&componente_id=14429

Em palestra a estudantes de Relações Internacionais, em Porto Alegre, o ex-chanceler disse que não vê "diferenças profundas nem superficiais" entre a política externa do governo Dilma e a do governo Lula. Celso Amorim apontou o conceito de desassombro como uma das razões do sucesso da política externa brasileira nos últimos anos. Segundo ele, o Brasil parou de ter medo da própria sombra e superou o complexo de vira lata cultivado por alguns setores da sociedade. O Brasil pode e deve influenciar os assuntos globais, acrescentou, destacando as mudanças dramáticas que estão ocorrendo no Oriente Médio e na África.

PORTO ALEGRE - O sucesso da política externa brasileira nos últimos anos deve-se à presença forte do presidente Lula, à constelação política que se formou no país e também a uma atitude de desassombro, no sentido etimológico da palavra, ou seja, uma atitude de não ter medo da própria sombra. O Brasil deixou de ter medo da própria sombra. Foi assim que o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, definiu a política externa implementada pelo país nos últimos oito anos. O chanceler que percorreu o mundo ao lado do presidente Lula falou para um auditório lotado de estudantes de Relações Internacionais – em sua maioria -, na tarde desta quinta-feira (7), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Celso Amorim esteve em Porto Alegre a convite do governo gaúcho, com apoio da Fundação de Economia e Estatística (FEE), do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (Cegov) e do Núcleo de Estratégias e Relações Internacionais (Nerint), da UFRGS. Na abertura do encontro na Faculdade de Direito, o governador Tarso Genro apresentou Amorim como responsável por uma linha de política externa que colocou o Brasil em outro patamar no mundo. E lembrou o reconhecimento internacional que o chanceler brasileiro obteve.


Em 2009, a revista Foreign Policy, uma das mais respeitadas publicações de política externa do mundo, apontou Celso Amorim como o melhor chanceler do mundo. No ano a seguinte, a mesma revista escolheu-o como um dos cem pensadores globais mais importantes do planeta.
Só quem parece não ter descoberto isso, assinalou o governador, foi a imprensa brasileira que, durante a gestão de Amorim no Itamaraty, apresentou-o como se fosse “um nacionalista fundamentalista que não gostava dos Estados Unidos”, criticando-o a partir de “uma visão pelega e subserviente de política externa”.


Em sua fala, Celso Amorim, falou do desassombro da atual política externa brasileira e do sentimento que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues definiu como “complexo de vira lata”, ainda muito presente em alguns setores da sociedade brasileira. 

“Recentemente li um artigo comentando a Apologia de Sócrates, de Platão, onde ele diz que ser corajoso não é não ter medo, mas sim não ter medo daquilo que não é preciso ter medo. Muito da opinião veiculada pela mídia fica constantemente excitando nosso medo. O medo existe, é algo que está dentro de cada um de nós. Mas precisamos trabalhar para evitar que ele predomine sobre nossos sentimentos, perspectivas e visões”.


Nem os nossos mais ferozes críticos, acrescentou Amorim, podem negar que o Brasil adquiriu uma nova posição no cenário internacional. “Quem fizer uma pesquisa na imprensa internacional a respeito do que foi veiculado sobre o Brasil na época da última eleição presidencial verá como a nossa política externa foi tema de debate fora do país”. Vários adjetivos foram utilizados para definir a nossa política. O jornal Le Monde classificou-a como “imaginativa”.
A própria Foreign Policy usou um termo que não é muito comum em língua portuguesa, chamando nossa política de “transformativa”, logo após nosso reconhecimento do Estado palestino. 


“Uma amiga minha brincou”, contou Amorim, “que, no final de 2010, quando todo mundo pensava que o governo já tinha acabado, veio o reconhecimento do Estado palestino, e depois, nos últimos dias mesmo, veio a adoção de quotas para negros na primeira fase do exame para o Instituto Rio Branco (Itamaraty). Essas coisas mexem muito com a cabeça das pessoas. Até por isso é alvo de críticas e polêmicas. É uma área da política que mexe muito com conceitos”.


E foi esse, justamente, um dos principais pontos da fala de Amorim.
Ele enfatizou a importância do conceito de desassombro na política e na vida (das pessoas e dos Estados), defendendo que o Rio Grande do Sul volte a ter essa postura no cenário nacional. “O Rio Grande do Sul sempre foi um Estado muito politizado que influenciou o Brasil diversas vezes com ideias, energia e vontade política”. Mais do que uma disposição voluntarista, acrescentou, essa é uma exigência do mundo de hoje que está mudando de modo dramático.



A política externa dos governos Lula e Dilma
Questionado sobre uma suposta solução de continuidade entre a política externa do governo Lula e a do governo Dilma, tema que vem sendo martelado com insistência na imprensa brasileira, Amorim negou que isso esteja acontecendo. As linhas gerais da política são as mesmas: defesa do interesse nacional, uma visão de solidariedade em relação aos outros povos e países e princípio da não indiferença em relação aos problemas do mundo. 


“Não vejo diferença nem profunda, nem superficial, na condução da nossa política externa. Isso não quer dizer que não possam existir diferenças pontuais na hora de decidir sobre questões particulares”.


Uma dessas diferenças pontuais, que vem sendo objeto de grande interesse midiático, estaria na questão dos direitos humanos. Como costuma acontecer na insólita “diversidade” de opiniões na mídia brasileira, vários colunistas políticos repetem, com algumas variações, o mesmo comentário: enquanto o governo Lula foi pragmático nesta área, fechando os olhos para alguns casos de violação dos direitos humanos, o governo Dilma estaria rumando para uma posição mais principista na área, o que teria sido confirmado pelo recente voto do Brasil na ONU a favor do envio de um relator especial ao Irã para investigar a situação dos direitos humanos naquele país.
Sobre esse tema, Celso Amorim comentou:

“Creio que a palavra chave quando se fala em Direitos Humanos é dignidade. Este foi um dos principais conceitos que orientou o governo Lula, tanto em sua luta contra a fome e a pobreza, quanto em seus votos na Organização Mundial do Comércio. Esse debate sobre direitos humanos no plano internacional é muito complexo. Os Estados Unidos já mudaram de posição mais uma vez nesta área em relação a China, por exemplo, dependendo de suas motivações políticas e comerciais. Quem se atreve, por exemplo, a pedir na ONU o envio de um relator especial aos Estados Unidos para investigar a situação dos presos em Guantánamo? É fundamental que a política tenha um substrato moral, mas não podemos esquecer que ela é “política” e, nesta dimensão, na maioria das vezes, o diálogo tem um efeito mais positivo do que condenações”.



Revolta Árabe: o papel central do Egito

Celso Amorim também falou sobre as revoltas que estão ocorrendo em diversos países do Oriente Médio e da África. Para ele, o mundo está atravessando um período de mudanças dramáticas, de consequências ainda imprevisíveis. No caso das chamadas revoltas árabes, o ex-chanceler brasileiro considera que o caso mais importante a acompanhar não é propriamente o da Líbia, país com cerca de 4 milhões de habitantes, mas sim o do Egito, com 80 milhões de habitantes e um posição chave na definição do problema palestino. 


Amorim elogiou o voto brasileiro no Conselho de Segurança da ONU, abstendo-se na votação que aprovou a criação de uma zona de exclusão aérea. E questionou os resultados alcançados até aqui pelas forças da OTAN. Segundo ele, a zona de exclusão aérea instalada no Iraque anos atrás é brincadeira de criança perto do que está sendo feito agora na Líbia e que não se limita a um controle do espaço aéreo. Além disso, a alegada proteção à população civil também está cercada por dúvidas. Há população civil em torno de Kadafi e entre os rebeldes. Estão sendo protegidos ou bombardeados? – questionou.


O ex-titular do Itamaraty defendeu que o Brasil deve continuar a exercer uma diplomacia ativa no mundo. “O Brasil pode e deve influir nos assuntos globais. Isso é de interesse do mundo e do Brasil”, resumiu, lembrando que o nosso país não tem nenhum conflito com seus vizinhos e é respeitado internacionalmente por sua capacidade de diálogo. “Que outro país recebeu em um único mês os presidentes do Irã, de Israel e da Autoridade Palestina?” – resumiu.


"Obama perdeu grande oportunidade"

Sobre uma suposta decepção com a recente visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pelo fato dele não ter feito um pronunciamento mais incisivo em defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Amorim foi taxativo: “Não há nenhuma decepção. O presidente Obama é que perdeu uma grande oportunidade de firmar uma parceria estratégica com um país que está se tornando uma potência mundial. Acho que ele e seus assessores não perceberam isso. As declarações dele em favor da presença da Índia no Conselho de Segurança enviaram um péssimo sinal ao mundo. Parece que ter a bomba atômica é uma condição para ingressar no Conselho como membro permanente”.


O elogio do desassombro na política e na vida feito por Celso Amorim foi muito aplaudido pelos estudantes de Relações Internacionais que, ao final do debate, fizeram fila e disputaram centímetros para chegar perto e tirar uma foto com um dos brasileiros mais influentes do planeta nos últimos anos.



A real ameaca chinesa - Editorial O Estado de S.Paulo

Na verdade, tanto os industriais brasileiros quanto o editorialista do Estadão se enganam quanto às fontes reais de ameaças à indústria brasileira. Elas não estão na China, cujas milhares de empresas privadas competem duramente nos mercados globais como é o seu dever "normal", de empresas competitivas e desejosas de fazer lucro, quaisquer que sejam os mercados.
A principal ameaça está mesmo aqui dentro do Brasil, e ela se chama Estado brasileiro, mais especificamente alta tributação, irracionalidade fiscal, péssima e cara infra-estrutura (comunicações, transportes, energia), ambiente deplorável de negócios, com muita burocracia, corrupção e tudo o mais que pudermos pensar como externalidades negativas que afetam o empresário brasileiro.
Geralmente se costuma apontar para inimigos externos -- no caso a China -- ou disfuncionalidades de política econômica -- que também existem -- mas por uma vez caberia olhar para as verdadeiras causas.
Se a presidente tiver a pretensão de voltar da China com promessas de "comércio mais equilibrado", como diz esse editorialista, isso apenas indica que ela não entendeu nada de como funcionam os negócios atualmente: não é o Estado chinês que está invadindo o mercado brasileiro com seus produtos baratos e ele não pode, e não deve, fazer nada contra as empresas privadas chinesas que aqui competem. É o Estado brasileiro que inviabiliza, de fato destrói, a competitividade das empresas brasileiras.
Não precisa ir para a China para descobrir isso. Eu já sei disso antecipadamente.
Mas minha "opinião" -- na verdade uma simples constatação -- não vale nada, obviamente...
Paulo Roberto de Almeida

A real ameaça chinesa
Editorial - O Estado de S.Paulo
09 de abril de 2011

Se, para alguns setores produtivos, falar em desindustrialização ainda soa como exagero, para outros, a suspensão da produção em razão da incapacidade de competir com fornecedores estrangeiros deixou de ser simples ameaça. Em alguns segmentos da indústria, mais de 80% das empresas deixaram de fabricar e se tornaram importadoras, pois tudo o que vendem aqui é comprado lá fora. É mais barato importar, sobretudo produtos fabricados na China, do que continuar produzindo.

É rápido o avanço dos produtos importados no mercado brasileiro. Provêm do exterior de 20% a 25% dos bens acabados, matérias-primas e produtos intermediários consumidos no País. Em 2010, o Brasil foi o país que mais aumentou as importações. Em volume, as importações cresceram mais do que as exportações, mas, mesmo assim, o País registrou um saldo comercial expressivo por causa dos preços recordes dos produtos agrícolas e dos minérios.

Um país exportador tem sido fonte de problemas crescentes para o setor industrial brasileiro - a China. Ela tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 55 bilhões em 2010, tendo o Brasil conseguido um saldo de US$ 5 bilhões, graças às exportações de US$ 30 bilhões, asseguradas pela demanda chinesa continuamente crescente de bens primários e do alto preço desses itens.

Mesmo assim, a entrada de produtos industrializados chineses no mercado brasileiro aumenta velozmente, tornando feroz a competição aqui dentro. Para algumas empresas, a disputa já provoca grandes estragos. Reportagem do jornal Valor, publicada terça-feira, deixa claro que, em alguns segmentos, como válvulas industriais, elevadores e ferramentas, as empresas deixaram de produzir e passaram a importar, o que as levou a reduzir o número de empregados.

Em alguns casos, como o de válvulas padronizadas e de baixo valor agregado, o preço do produto chinês colocado no Brasil é 60% menor do que o do similar brasileiro. "Com essa diferença de preços, as empresas brasileiras não conseguem concorrer", diz o industrial Pedro Lucio, presidente da câmara setorial de válvulas industriais da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O problema é o mesmo para os fabricantes de ferramentas simples, como martelos, chaves de fenda e alicates. Nesses casos, o produto chinês é de 50% a 70% mais barato do que o brasileiro. Há três anos, os produtos importados correspondiam a 10% do mercado; hoje, já são quase um terço, e a maioria vem da China.

São conhecidas as principais causas da perda de competitividade do produto brasileiro diante do chinês. A taxa de juros no Brasil é uma das mais altas do mundo, e na China ela é negativa. Aqui, a carga tributária é de cerca de 40%, e na China, de 20%. Enquanto o real alcança seu valor mais alto em vários anos em relação ao dólar, a moeda chinesa, o yuan, é mantida artificialmente desvalorizada em relação à americana, o que torna ainda mais competitivos os produtos chineses. O Brasil procura observar com rigor todas as regras internacionais de comércio, mas a China muitas vezes as burla. E a infraestrutura brasileira voltada para as exportações é muito menos eficiente do que a chinesa.

Outra grande diferença na forma como cada um dos dois países conduz o relacionamento bilateral é que a China sempre soube o que quer do Brasil, como sabe o que quer de outros fornecedores e clientes, dos quais depende para assegurar o suprimento dos bens de que necessita para sustentar seu crescimento e o mercado para seus produtos. O governo brasileiro, ao contrário, manteve, até recentemente, uma visão ingênua a respeito desse relacionamento, considerando a China um parceiro estratégico que merecia até o reconhecimento, feito pelo ex-presidente Lula, como economia de mercado, o que lhe facilitaria ainda mais acesso aos mercados de outros países. Com a visita que fará à China a partir de segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff, que não parece endossar essa visão ingênua, terá oportunidade para negociar com o parceiro asiático as bases de um relacionamento comercial mais equilibrado.

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...