sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Economistas doidos, com samba ou sem samba... - um complemento do Instituto Von Mises Brasil

Recebi, do Eduardo Rodrigues, do Rio, um complemento a este meu post:

O samba do economista doido - Luiz Carlos Mendonça de Barros
SÁBADO, 15 DE JANEIRO DE 2011

Posto diretamente aqui e recomendo seguimento deste blog:

Keynesiano confessa: "Era pra ter funcionado! Não tô entendendo o que se passa..."
por Leandro Roque
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(ver no link do post)

Agradeço ao leitor Maurício Gonçalves pela dica deste precioso vídeo. O keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros, no programa Entre Aspas, da Globo News, após começar com aquele discurso de praxe contra a necessidade de se cortar gastos na economia americana, acaba fazendo as seguintes confissões:

Aos 12:50 minutos:

Acho Krugman um sujeito inteligente, muito preparado, mas eu.... que bebo na mesma água que ele, keynesiana, esse negócio todo.... eu estou meio depressivo porque era pra funcionar! Tudo que o Banco Central fez, tudo o que o Obama fez ... [era pra ter funcionado]...

Aos 13:53 minutos, fazendo carinha de cachorrinho pidão:

Mas eu acho que [a estagnação americana] não explica a falência do modelo keynesiano... Eu acho é que ... o que tem é que... junto disso, você tem um colapso do sistema bancário americano e no mundo todo.

Exato, Mendonção. Tal colapso é uma consequência inevitável do atual arranjo monetário, preconizado por Keynes e também pela Escola de Chicago:

1) Bancos Centrais manipulando os juros por meio da irrestrita impressão de dinheiro de papel sem nenhum lastro, e obrigando — por meio do governo — as pessoas a utilizarem esse dinheiro.

2) Bancos Centrais cartelizando todo o sistema bancário de reservas fracionárias, protegendo-o contra qualquer tipo de concorrência monetária, e permitindo que eles expandam ainda mais a quantidade de dinheiro que os bancos centrais criaram, distorcendo ainda mais as taxas de juros.

Nesse atual arranjo monetário em que o mundo vive, o aumento do crédito na economia não mais se dá de acordo com aquilo que as pessoas poupam (deixam de consumir), mas sim de acordo com as políticas dos bancos centrais e de acordo com a propensão do sistema bancário em criar empréstimos por meio de suas reservas fracionárias. Essa contínua manipulação da oferta monetária — feita tanto pelos bancos centrais como pelo sistema bancário — altera toda a realidade das taxas de juros, as quais deixam de sinalizar se há escassez ou abundância de recursos, e passam apenas a estimular o endividamento excessivo. Os investimentos passam a ser financiados não pela poupança, mas pela simples impressão de dinheiro — como se um simples aumento na quantidade de dinheiro magicamente fizesse com que houvesse maior abundância de bens disponíveis.

Um sistema bancário que pratica reservas fracionárias é naturalmente insolvente, bastando apenas alguns calotes (como ocorreu nos EUA e está ocorrendo na Europa) para tornar explícita essa sua inerente debilidade — alguns calotes fazem com que todo o sistema bancário mundial fique em pânico. (Se um grande supermercado quebrar lá em Taiwan, será que toda a rede mundial de supermercados também virá abaixo e o mundo ficará sem comida?)

Uma vez que essa insolvência se torna explícita e o pânico toma conta dos mercados financeiros, governos e bancos centrais implementam sucessivas rodadas de pacotes de socorro para proteger esse setor privilegiado, jogando a fatura para os cidadãos comuns.

Mas você não vai ver Keynes explicando isso. Daí o espanto de Mendonça.

Finalmente, aos 14:40 minutos, ele confessa o fracasso intelectual dessa doutrina nefasta que vem destruindo as economias mundiais:

Eu particularmente nunca tive tão humilde na minha profissão como eu tô hoje. Eu não tô entendendo o que tá acontecendo...

Dica ao Mendonção: o senhor não está entendendo o que está acontecendo simplesmente porque desperdiçou sua vida lendo panfletos ideológicos, e não ciência econômica verdadeira. Passou a vida estudando aquilo que governantes gostam de ouvir, e não aquilo que eles realmente deveriam fazer. Caso tivesse se livrado de suas ideologias de juventude, poderia estar vendo o mundo com mais clareza hoje, e não estaria tão perdido assim.

O problema é que a evidência raramente consegue mudar a mentalidade de um indivíduo contaminado pela ideologia. Na melhor das hipóteses, a evidência serve apenas para validar a sua crença. Eu, por exemplo, deixei de ser keynesiano (ei, eu também já fui adolescente!) e passei a seguir os preceitos da Escola Austríaca de economia não porque quisesse me juntar a alguma corrente, mas simplesmente porque eu não estava viciado em nenhuma ideologia; eu não tinha um pacote de crenças pré-concebidas que eu deveria defender árdua e cegamente, por mais que as evidências me contrariassem. Eu simplesmente queria descobrir a verdade.

É perfeitamente possível entender essa fé cega que determinadas pessoas têm no keynesianismo. Se você investiu toda a sua vida e toda a sua carreira acadêmica ou profissional defendendo teorias keynesianas, ou se a sua fé no estado é aquilo que dá sentido à sua vida, divorciar-se da economia keynesiana seria um choque e tanto. Dependendo da idade do sujeito, o estrago pode ser irreparável (mais ou menos como a onda de suicídios que acometeu os comunistas românticos e bem intencionados quando eles souberam das chacinas promovidas por Stalin).

Se você quiser realmente aprender a verdade, entender como as coisas de fato funcionam (e isso vale para absolutamente qualquer área), seu estado de espírito não pode estar viciado; você não pode se deixar contaminar por nenhum "pré-conceito". Tenha sempre a mente aberta, não se deixe contaminar por vícios de juventude, não se prenda a ideologias e utilize sempre a razão.

Acima de tudo, siga sempre este princípio: para realmente descobrir a verdade, você tem de ter um estado de espírito que não se deixa afetar pelas consequências de suas novas descobertas. Não se permita um estado de espírito que provoque estragos em sua vida dependendo de suas novas conclusões.

Aparentemente, é esse conflito interno que vem afetando Mendonção.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Divida Publica dos Paises Avancados: e ainda querem aumenta-la...

Apenas retirado do blog do economista Mansueto Almeida.
Não preciso agregar nenhum comentário, tudo está dito:

Dois Relatórios Interessantes
Blog de Mansueto Almeida, 18/08/2011

Lí hoje o relatório “A situação fiscal dos países AAA” da Ventor Investimentos assinado pelos economistas Fernando Gonçalves e Felipe Gottlieb. Os economistas mostram que é muito provável vários outros países desenvolvidos serem rebaixados da categoria AAA como ocorreu recentemente com os Estados Unidos e, o próximo da lista, seria a França, que tem uma divida bruta/PIB que está muito próxima de romper a barreira de 90%. Mas além da França, países como Alemanha, Inglaterra e Canadá todos têm uma relação divida/PIB superior a 80% e entrariam na lista dos candidatos naturais a serem rebaixados pelas três maiores agências de risco (S&P, Moody´s e Fitch).

É claro que esses países poderiam fazer um ajuste fiscal para evitar serem rebaixados, mas aqui mora o problema. A magnitude do ajuste fiscal exigido (aumento de receita e/ou corte de despesas) entre 2010 e 2020 para trazer a divida desses países para 60% do PIB em 2030 é absurdamente elevada. No caso da França seria necessário um aumento do superávit primário equivalente a 6,2 pontos percentuais do PIB; no caso da Inglaterra uma melhora do primário de 9,3 pontos percentuais do PIB; 4,4 pontos percentuais do PIB para o Canadá e 2,2 pontos percentuais do PIB para Alemanha. Mas os dois países que precisariam fazer o maior ajuste para trazer sua razão divida/PIB para 60% em 2030 são os Estados Unidos (aumento do primário de 11.3 pontos percentuais do PIB) e Japão (aumento do primário em 13,3 pontos percentuais do PIB).

O que significa tudo isso? Primeiro, as estimativas acima são conservadoras como alerta os autores do trabalho, já que não incluem o aumento dos gastos que decorrerão do envelhecimento da população. Quando se faz esse ajuste o cenário é ainda muito pior. Segundo, acho impossível que haja ajustes fiscais tão fortes e, assim, a classificação de risco desses países deverá piorar que é a conclusão dos próprios autores. Terceiro, como os EUA tem uma carga tributária muito abaixo da média dos países desenvolvidos, teoricamente, esse país estaria em uma situação melhor que a França para promover os ajustes fiscais necessários, mas dado o ambiente político dos EUA acho isso difícil.

Em resumo, os países desenvolvidos vão experimentar o gostinho de crise fiscal que os Latino Americanos experimentaram nos anos 80. E no caso do Brasil, embora a sustentabilidade fiscal não seja um problema (o superávit atual leva a uma redução da divida/PIB), causou-me surpresa hoje um relatório da MetLife que mostra que o trabalhador brasileiro está muito mais preocupado com o seu futuro do que os trabalhadores americanos (ver pagina 28 do relatório), o que mostra que apesar do bom momento, muitos ainda não acreditam no futuro do Brasil e nem na qualidade da oferta de serviços públicos.

A frase do mes - Ayn Rand

Copiado do excelente blog do meu amigo Kleber Pires, Libertatum

Ayn Rand - Uma frase útil aos brasileiros
Posted: 18 Aug 2011 04:47 AM PDT

Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando uma visão com conhecimento de causa:
Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.

O Brasil como pais absurdamente caro (se colar, colou...)

Exploradores, impostos, fechamento do mercado explicam porque o Brasil está mais caro do que a Europa e os Estados Unidos. E se depender do governo, vai ficar ainda mais caro...
Paulo Roberto de Almeida

Um susto com os preços no Brasil
Heloisa Vilela, de Washington - repórter da Rede Record
11 de agosto de 2011

Foi um susto!

Em tantas idas e vindas norte-sul nesses quase 23 anos trabalhando nos Estados Unidos, nunca achei o Brasil tão caro. Entre o fim de junho e o começo de julho, passei três semanas em casa: Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul. Sempre paguei mais caro por livros em português. Para mim e pros meus filhos. Afinal, todo investimento nessa área é pouco! Compra-se livro bem em conta nos Estados Unidos. Ainda mais depois do advento da internet. Agora, tem sempre a oferta dos usados que saem por menos de um dólar. No Brasil, ainda é caro ler.

Mas se os livros sempre foram mais caros no Brasil, a comida, os sapatos, as roupas, os carros… Pensei: aí deve ter matéria. Saí com uma equipe da Record prá checar as diferenças e tentar entender o que está acontecendo. Fui parar no escritório de Joel Leite, jornalista especializado no mercado de automóveis que tem um site sobre o assunto (www.autoinforme.com.br). Joel estava escrevendo sobre o Lucro Brasil. Nada de Custo Brasil. Esse tempo já passou. Agora, as empresas estão faturando de verdade.

Pois o Joel se deu ao trabalho, ao longo de vários meses, de destrinchar a composição de preços dos automóveis. Nas ruas de São Paulo, qualquer pessoa repete a ladainha: por que os carros são tão caros aqui? Por causa dos impostos. Gente motorizada e gente a pé, no ponto de ônibus. Não importa. A certeza é a mesma. E ainda tem aquela história do Custo Brasil – seria mais caro produzir mercadorias no país por causa da infraestrutura engarrafada e do custo do capital.

Mas o Joel me explicou que não é nada disso. Ele tirou impostos, alíquotas, etc. e tal e no fim, o carro brasileiro continuava sendo o mais caro do mundo. É isso mesmo. O Brasil, que em 2010 ganhou o título de quinto maior produtor de automóveis e quarto maior mercado consumidor do mundo, em matéria de preços, ganha de todos os outros países. Tamanha produção e tamanho consume jogam por terra qualquer argumentação de que não se tem uma produção em escala suficiente para reduzir os preços.

Então o que?

“Se colar colou”, brincou o Joel meio a sério. Mas a idéia é a seguinte: joga-se o preço lá no alto. Se existe fila pra comprar, se a procura é grande, prá que baixar? O preço cola e fica. Exemplos?

O Honda City, fabricado em Sumaré, interior de São Paulo, viaja até o México, paga frete, tem que dar lucro para a revendedora, e tal. Bem, os mexicanos compram o carro pelo equivalente a R$ 25.800,00 enquanto os brasileiros desembolsam R$ 56.210,00 pelo mesmo modelo. Pelas contas do Joel, tirando toda a carga tributária, o lucro das concessionárias, e comparando com o preço no México, o fabricante tem um lucro de quase R$ 15.000, por unidade, no Brasil.

Outros exemplos prá matar de ódio o consumidor brasileiro:

O Corolla, que custa o equivalente a U$ 37.636,00 no Brasil, na Argentina sai pelo equivalente a U$ 21.658,00 e nos Estados Unidos, US$ 15.450,00. O Kia Soul, fabricado na Coréia do Sul, chega às lojas do nosso vizinho Paraguai pelo equivalente a US$ 18.000,00 e custa o dobro no Brasil. Haja viagem entre os dois países para explicar tanta diferença…

FHC e Pedro Malan reconhecidos como lideres de estatura mundial - Wall Street Journal

Uma justa homenagem a quem teve visão de estadista, contrariamente à obra de falsificação histórica que tantos militantes de causas fracassadas insistem em tentar colar nos dois brasileiros responsáveis maiores pela estabilização macroeconômica de que nos beneficiamos todos atualmente (e que vem sendo ameaçada por políticas irresponsáveis desde 2003).
Paulo Roberto de Almeida

Lições do Brasil e EUA para a crise na Europa
DAVID WESSEL
WALL STREET JOURNAL, AUGUST 18, 2011
Os europeus às vezes agem como se a única história que importa é a deles: Grécia e Roma, as tensões do período de paz depois da Primeira Guerra Mundial e a recuperação da devastação causada pela Segunda Guerra, a queda do muro de Berlim e o atual boom das exportações da Alemanha.
Mas algumas lições relevantes para a Europa podem ser encontradas do outro lado do Atlântico, na América do século 18 e no Brasil do século 20.
Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan (Associated Press)

Por meses, a Europa tem sido paralisada pelo que um observador temporário da economia mundial descreve como as três "nenhumas":
- Nenhuma desvalorização: nem a Grécia nem Portugal poderiam deixar o euro para depreciar suas moedas e voltar a ganhar competitividade.
- Nenhuma moratória: detentores de títulos do governo precisam receber o pagamento total.
- Nenhuma transferência: contribuintes em países ricos como Alemanha e França não podem financiar os rombos fiscais do sul europeu.
Nas últimas semanas, a Europa diluiu o segundo e o terceiro princípios para proteger o primeiro. Isso é compreensível. Se qualquer país da zona do euro quebrasse os grilhões da moeda única, o experimento europeu estaria ameaçado. A união monetária é o laço mais forte entre as economias europeias e o Banco Central Europeu, uma das poucas instituições pan-europeias que ainda funcionam.
Mas as tensões entre o compartilhamento de uma moeda e um banco central, em meio à busca de políticas fiscais nacionais independentes, agora são dolorosamente evidentes. Alexander Hamilton entendeu isso. Assim como Fernando Henrique Cardoso, que foi presidente do Brasil entre 1995 e 2002.
Uma lição de história para a Europa: Em 1790, o governo americano devia US$ 54 milhões e a dívida dos 13 estados individuais somava outros US$ 25 milhões. A dívida combinada era equivalente a 42% do produto interno bruto da nação. Hamilton, então secretário do Tesouro, propôs que o governo nacional assumisse as dívidas dos estados originárias da Guerra de Independência. Seria, disse ele, "uma medida de política sólida e de justiça substancial" e contribuiria para "uma acordo satisfatório, estável e ordenado das finanças nacionais."
"Admitindo... que uma provisão deva ser feita, de uma forma ou de outra, para a dívida total", disse Hamilton ao Congresso em seu primeiro Relatório sobre Crédito, "como consequência, nenhum aumento de receita será necessário, seja a provisão feita totalmente ou parcialmente pelos Estados Unidos, e parcialmente pelos estados separadamente."
James Madison e Thomas Jefferson foram contra Hamilton. Entre as questões: o Estado deles, a Virginia, tinha pagado uma parcela maior da sua dívida que outros estados. Mas Madison e Jefferson acabaram cedendo com a condição de que a capital do país fosse transferida de Nova York, Estado adotivo de Hamilton, para Washington. O resultado foi um governo central mais forte, o nascimento do que se tornou o maior mercado de bônus do mundo, e com um crédito sólido o suficiente para que os EUA financiassem a compra da Louisiana, que pertencia à França.
Depois de 200 anos, o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o Brasil ofuscado pelas crises financeiras do México, da Argentina e da Ásia, confrontou os governos estaduais que emprestavam mais do que suas receitas fiscais seriam jamais capazes de pagar. "O governo federal se convenceu de que teria de assumir um papel ativo na reforma fiscal dos Estados para impedir uma crise sistêmica", de acordo com um relato dos economistas Fábio Giambiagi e Márcio Ronci, publicado pelo Fundo Monetário Internacional em 2004.
Fernando Henrique levou cinco anos para fechar um acordo com os Estados e principais municípios, mas o governo federal acabou refinanciando as dívidas em troca de mudanças nas práticas tributárias, de contabilidade e gastos no nível estadual. O Brasil teve seus altos e baixos desde então, e essa não foi a única alteração significativa na política econômica, mas a medida de fato ajudou o país a suportar melhor a crise financeira de 2008 do que muitos outros.
Em ambos os casos, o governo central usou a reestruturação das dívidas dos Estados para impor uma medida de disciplina fiscal e para aumentar o poder federal. Para a Europa, o preço da continuação de uma união monetária será uma aliança fiscal mais forte. No final das contas, o dinheiro sairá do mais forte para o mais fraco de alguma forma, seja diretamente ou pelo resgate de bancos de países ricos que emprestaram para governos de países mais frágeis. No final das contas, a autonomia fiscal dos países-membros será restringida.
Europeus conscientes sabem disso. Jon Hilsenrath, do Wall Street Journal, publicou uma reportagem este ano dizendo que o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, estava lendo a biografia de Hamilton, escrita por Ron Chernow.
E agora Angela Merkel, da Alemanha, e Nicolas Sarkozy, da França, falam sobre a necessidade de um centro europeu mais forte, apesar de que eles não estão indo muito rápido na direção de títulos da zona do euro, ou de outros aspectos de tal mudança.
Em meio a tantos problemas, a Europa tem um ponto forte. Como um todo, sua "aritmética fiscal é positiva", segundo um relatório recente de economistas do J.P. Morgan Chase. A dívida pública dos governos da zona do euro totaliza cerca de 85% do produto interno bruto. Como grupo, o continente tem um superávit fiscal (excluindo juros) que responde por 3,2% do PIB, um nível mais saudável do que o dos EUA ou o do Reino Unido.
O problema, claro, é político.
Ao contrário dos EUA e do Brasil, a Europa não tem — ainda — um governo central que funcione ou Estados prontos para criar um.
Nem tem outro ingrediente vital — um líder do século 21 com a coragem e a sagacidade de Alexander Hamilton ou de Fernando Henrique Cardoso.

Contra a desonestidade politica: programas sociais, de FHC a Dilma

Normalmente eu não colocaria este texto, de caráter essencialmente político, aqui. Afinal de contas, meus objetos principais são ideias, livros, matérias de relações internacionais e de política externa, com alguma derivação para políticas públicas vinculadas às ideias econômicas, pois é isso que me interessa como cidadão participante, e como modesto analista da realidade nacional e internacional.
Mas, como o debate político é tão pobre no Brasil, como tantos militantes de causas fracassadas se empenham em denegrir, mentir, falsear, deformar a verdade, sinto-me levado, por vezes, a postar certas coisas muito elementares, e muito afastadas de minhas preocupações costumeiras, apenas para ficar confortável com minha própria consciência: a mentira e a fraude não podem prevalecer, a verdade tem de ser defendida, por uma simples questão de dignidade pessoal que é também um conforto cívico no plano social, ou nacional. Só por isso vai aqui postado, e desde já me desculpo com os meus leitores pelo desvio de foco com um assunto menor (mas que pode ser maior no plano simplesmente do restabelecimento dos fatos históricos).
Paulo Roberto de Almeida

1) Na presença de Dilma e FHC, Alckmin lembra que a miséria começou a ser erradicada com o fim da inflação e com programas sociais do governo… FHC!
Reinaldo Azevedo, 18/08/2011 20:48:05

Como passei boa parte da tarde debatendo questões que dizem respeito aos fundamentos da democracia e do estado de direito, a agenda do dia ficou um pouco prejudicada. Tanto os leitores do blog que gostam de mim como os que não gostam (ainda mais fiéis!!!) me pedem que comente a solenidade de hoje, em que tucanos e petistas anunciaram uma parceria no trabalho de erradicação da miséria absoluta. Já recebi aqui links de sites e blogs petralhas pra todo gosto: há alguns que sugerem que Dilma está traindo Lula, afirmando que os tucanos vão se apoderar de programas petistas… Quanta mistificação! E há aqueles que vêem em Dilma a fina estrategista, que estaria engolfando o PSDB de São Paulo. E, sim, há os inconformados em ver tucanos e petistas num mesmo ambiente, o que é institucionalmente inevitável. Dilma é presidente da República. Geraldo Alckmin é governador do estado. Adiante.

Eu estou aqui, como procuro fazer sempre, para ir um pouco além do óbvio. Segue o discurso feito por Geraldo Alckmin. Tenho quase certeza de que muita gente vai acabar jogando fora o miolo para comer a casca da banana. Vou me esforçar para fazer o contrário. É um discurso oficial, com todas aquelas saudações etc e tal. Se estiverem meio assoberbados, procurem o trecho que está em negrito (ou azulito...)

Bom dia a todas e a todos. Estimada presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff; presidente Fernando Henrique Cardoso; governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; de Minas Gerais, Antônio Anastasia; do Espírito Santo, Renato Casagrande; ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello; ministros e ministras aqui presentes; vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos; do Rio de Janeiro, Luiz Fenando Pezão; deputado Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do nosso Estado; senadores da República por São Paulo Marta Suplicy e Eduardo Suplicy; governador Paulo Maluf; secretário de Estado, quero abraçá-los, cumprimentando aqui o Rodrigo Garcia; presidente da Câmara de São Paulo, vereador José Police Neto; João Coser, prefeito de Vitória, no Espírito Santo; presidente da Frente Nacional de Prefeitos; parlamentares; lideranças municipais; beneficiários do programa; lideranças sociais; amigas e amigos. É uma alegria, com a minha esposa, a Lu, recebermos a todos hoje aqui, na sede do Governo de São Paulo.

Identifico aqui, neste ato, um momento de avanço do Brasil, um momento em que a política, tantas vezes aviltada, cumpre a sua função primordial, a de zelar pelo bem-estar das pessoas, de abrir portas, criar oportunidades para que cada um se supere e encontre o seu caminho. Identifico aqui um marco. Ultrapassamos um período de disputas para unir esforços em prol dos que mais precisam no Brasil. Senhora presidenta, isso se deve em grande parte ao seu patriotismo, à sua generosidade, a seu espírito conciliador. Sob seu protagonismo, Governos Estaduais, Municipais e Federal se aproximam ainda mais, reunindo o mesmo esforço, programas sociais complementares.

Em São Paulo, vamos unificar em um só cartão - aliás, para disputar aqui com o Sérgio Cabral, o cartão aqui eu não sei, acho que é mais bonito ainda hein?! Vamos unificar o Bolsa Família e o Renda Cidadã e, com isso, nós vamos poder atender mais 300 mil famílias, ou seja, um milhão de pessoas que ainda estão abaixo da linha da pobreza. E, acima de tudo, avançarmos em uma agenda da família, nessa busca, e às Prefeituras, aos municípios que têm um papel extremamente importante, nós vamos levar o Banco do Povo, que é o microcrédito. Levar os programas do EJA, que é a escola de Jovens e adultos, para que, quem não teve oportunidade de estudar possa ter o seu diploma do Ensino Fundamental, do Ensino Médio. O Via Rápida para o Emprego, que são os programas rápidos de qualificação profissional, as ETECs, as FATECs, o Ensino Técnico, Tecnológico, enfim, fortalecer uma agenda de emprego e de renda junto a todas essas famílias.

O trabalho focado na erradicação da miséria é uma obrigação do Estado Brasileiro para com os mais pobres, e nós estamos avançando. Por isso, presidenta Dilma, a senhora faz um acerto histórico ao aceitar a experiência daqueles que vieram antes de nós, e nos legaram saberes e experiências. Foi a estabilidade da economia nos anos 90 que permitiu que o Governo e a sociedade começassem a se organizar para atender os que mais sofrem. Atingida a estabilidade, sob o Governo Fernando Henrique Cardoso, começamos esse processo com o Bolsa Escola; com o programa nacional de renda mínima, chamado Bolsa Alimentação; depois veio o programa Auxílio Gás. Esses programas de transferência de renda, voltados aos muito pobres, chegavam, ao fim de 2002, a cinco milhões de famílias. Em 2003, uma inteligente medida provisória do Governo Lula juntou todos esses programas no Bolsa Família e deu a eles unicidade e notável expansão.

Vamos repetir as experiências bem-sucedidas para consolidá-las; vamos inovar para avançar. A erradicação da miséria é uma das formas de ser da ética na política. Por isso, hoje, com a presença de todos vocês, lideranças, prefeitos, governadores, parlamentares, ministros, presidente Fernando Henrique, presidente Dilma Rousseff, São Paulo se orgulha em recebê-los aqui nesse novo capítulo ambicioso de combate à miséria. O bem-estar das pessoas é a obra-prima do Estado, é a razão de sua existência. Muito obrigado!

Voltei [Reinaldo Azevedo]:
Na presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, sempre tratado a pontapés pelo Apedeuta, e de governadores de estado, Alckmin repôs a verdade histórica insofismável. O fundamento básico dos programas de combate à miséria foi dado no governo tucano: o fim da inflação, a pior de todas as injustiças que se podem cometer contra a pobreza, e os programas sociais, que foram criados por FHC. Querem uma prova? Reproduzo abaixo o texto da Medida Provisória que criou o Bolsa Família, em outubro de 2003. Prestem atenção aos programas que ele reúne e às datas de sua criação:

(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação - “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde - “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Alckmin foi cordial com Dilma, como deve ser, mas repôs, na presença de FHC e da presidente, a verdade histórica, tantas vezes aviltada pelo petismo e, em especial, por Lula. E lembrou outra evidência factual: em 2002, os programas sociais atingiam 5 milhões de famílias. E sem exploração eleitoreira, é bom lembrar.

Assim, peço vênia aos críticos de um e de outro lado, para afirmar: não havia rendição nenhuma no ato. Ao contrário. Tanto é assim que boa parte do PT ficou furiosa com o evento. O que FHC fazia ali? Ele é o presidente de honra do PSDB e, como está documentado e só pode ser questionado por delinqüentes morais, foi quem deslanchou os programas de erradicação da miséria. Ainda volto ao tema.

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2) Eles escondem a verdade? Eu mostro.
Reinaldo Azevedo, 8/08/2011 21:21:40
Eu não vou desistir da verdade. Em seu discurso, a presidente Dilma Rousseff fez o óbvio: foi grata à “herança bendita” de Lula etc e tal. Alguém esperava algo diferente? A pauta do dia hoje, neste blog, foi esta: o nome da doença política do Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva. Pois bem. O homem que editou uma MP reunindo sob o nome-fantasia “Bolsa Família” programas criados por FHC era radicalmente contrário a esse mecanismo de transferência de renda. Ele achava que não passava de “esmola” e que as pessoas que recebiam bolsas ficavam vagabundas.

Em abril de 2003, Lula ainda insistia no seu estúpido “Fome Zero”. Num discurso no dia 9 daquele mês, atacando os programas de bolsas numa solenidade na presença de Ciro Gomes, afirmou que quem recebia aquele dinheiro não plantava macaxeira:

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

Pois não é que este senhor passou para a história — a história contada por vigaristas, que Alckmin, na prática, contestou na tarde desta quinta — como o criador daquilo com que ele queria acabar? Mais tarde, Lula passou a dizer que aquilo que ele próprio afirmava era coisa de “gente imbecil, de gente ignorante”. Como discordar?
(...)
O nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva.

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Eu também voltei [Paulo Roberto de Almeida]:
PS.: Apenas para ser honesto comigo mesmo e com meus leitores, quero dizer, com base numa análise econômica racional, e numa percepção pessoal de "psicologia coletiva", que sou radicalmente contrário a programas gerais de assistência social, por uma questão de princípio. Sou apenas a favor de programas emergenciais para quem precisa, no extremo limite da "precisão" dos assistidos, e nada além disso. Acho que todo mundo deve trabalhar para ganhar qualquer coisa e para, sobretudo, inserir responsabilidade individual em qualquer atividade humana. Ou seja, nada sem contrapartida e nada com finalidades políticas, em especial demagógicas como fazem os políticos, todos os políticos. Sou contra currais eleitorais e contra assistencialismo abjeto. Sou pela educação das crianças e pelo trabalho dos adultos, ponto.

O afundamento cambial brasileiro - Correio Braziliense

Na verdade, valorização do real, tão temida por gregos e goianos...

Restrições não impedem maior entrada de dólares da história do país
Victor Martins
Correio Braziliense, 18/08/2011

Dados liberados ontem pelo Banco Central mostram que, no ano, até 12 de agosto, US$ 63,2 bilhões foram despejados na economia brasileira, o maior montante já registrado na história para o período. No mês, o saldo está positivo em US$ 7,5 bilhões, resultado puxado, principalmente, pelos exportadores, que estão trazendo dinheiro depositado lá fora, com medo de que o dólar derreta ainda mais frente ao real. Nos últimos dias, diante do agravamento da crise internacional, a moeda norte-americana chegou a ser cotada acima de R$ 1,60, animando os empresários a trocar dólares pela divisa nacional.

A movimentação dos exportadores ajudou, no entanto, a derrubar os preços da moeda norte-americana, que encerrou as negociações valendo R$ 1,584 para venda, com baixa de 0,41%. No segmento financeiro, os investidores estão mais arredios. Tanto que, em agosto, o fluxo cambial mostrou um tímido superavit de US$ 940 milhões contra um saldo de US$ 6,6 bilhões no comércio exterior. “Tudo isso é reflexo das turbulências das últimas semanas. As pessoas estão avessas ao risco. Por isso, temos um fluxo cambial menor no setor financeiro”, explicou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank.

Rumo
Na avaliação do especialista, mesmo em menor proporção, a entrada de dólares se manterá firme no Brasil, devido às boas perspectivas para a economia brasileira em relação aos países desenvolvidos, que estão à beira da recessão. Para Serrano, as medidas adotadas pelo governo com o intuito de evitar o derretimento da divisa norte-americana já foram absorvidas pelo mercado e não serão obstáculos para aplicações no país. Na verdade, o que ditará o rumo da entrada de dólares na economia brasileira será a crise mundial. “As medidas baixadas pelo governo foram pontuais. O dólar chegou ao nível em que está porque é o local natural dele”, argumentou.

Ainda assim, o Banco Central tem atuado para amenizar a queda da moeda norte-americana, enxugando todo os recursos que forem considerados excessos. Até o meio de agosto, as compras de dólares pela autoridade monetária atingiram US$ 3,7 bilhões, o que elevou as reservas internacionais para US$ 351 bilhões.

CAEM APOSTAS DOS BANCOS
Depois da pressão do Banco Central, a aposta dos bancos contra o dólar recuou intensamente entre junho e julho. A posição vendida, ou quantidade de dólares que as instituições negociam em determinado período sem, necessariamente, ter a moeda em caixa, na expectativa de recomprá-la a um valor menor mais à frente e faturar com a diferença, caiu de US$ 14,6 bilhões para US$ 6,3 bilhões no período. Quanto maior esse tipo de operação, maior é a pressão contra o dólar, levando à desvalorização da divisa frente ao real. Esse movimento só encolheu depois que o BC apertou as regras que determinaram o recolhimento do compulsório (dinheiro obrigatoriamente depositado pelas instituições financeiras) de acordo com o tamanho de suas apostas contra a moeda estrangeira. Estabelecida em janeiro, a regra se tornou mais dura em julho.

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