sábado, 22 de outubro de 2011

Um hotel em Paris, com algum escritor famoso (sempre tem um...) - Inácio de Loyola Brandão

Em Paris, se você tirar os olhos do chão -- agora já é possível, pois mesmo que os donos de cachorros não façam seu trabalho obrigatório, logo vem uma "moto-crotte" e recolhe os residuos animais -- e começar a olhar para as paredes verá que a cada duas casas, uma tem alguma placa dizendo que "fulano de tal" morou ali, foi morto pelos alemães ali, se suicidou ali, namorou ali, enfim, qualquer coisa famosa ou menos famosa.
O nosso escritor de Araraquara também passou por isso, e talvez ele mesmo seja objeto de uma placa, algum dia no futuro...
Paulo Roberto de Almeida

Dividindo o quarto com García Márquez

Inácio de Loyola Brandão
PARIS - O Estado de S.Paulo, 21/10/2011
Somente no terceiro dia percebi a pequena placa, à direita da porta de entrada do Hotel Trois Collèges. Na minha chegada, após 12 horas de voo e o táxi cortando a cidade em meio a congestionamentos provocados por blitz da policia, por acidentes e pelo acúmulo de carros (pensam que é só em São Paulo?), chegamos esbodegados ao hotel, às 6 da tarde. Banho, jantar e cama. No segundo dia, a saída foi acelerada, era o último dia de uma exposição muito comentada, Espadas, histórias e mitos, no Museu Cluny, que sabe tudo da Idade Média. Na volta, fim da tarde, estávamos chapados por um calor que fazia os parisienses se indagarem: será o fim do mundo? O outono começara, as folhas estavam caindo sobre as calçadas e parques e o sol esturricava num céu sem uma nuvem. Não verás Paris nenhum, pensei.
Na manhã do terceiro dia, esperávamos Camila, amiga de minha filha, que tinha ido buscar um vestido de noiva. Feito de encomenda, lindo, de bom gosto, custou 1.300, cerca de R$ 3 mil. "Por esse preço, em São Paulo, eu nem alugava um vestido. Para mandar fazer, pediam por volta de R$ 12 mil. E acham barato. Volto feliz", ela confessou.
Então, vi a plaquinha de bronze:
Neste hotel, em 1957, Gabriel García Márquez, prêmio Nobel, escreveu seu romance Ninguém Escreve ao Coronel.
Foi o terceiro livro escrito pelo colombiano e o primeiro em que ele acertou, começou a ter público. Corri a perguntar ao concierge se ele sabia em que apartamento García Márquez tinha escrito e ele me disse que foi no 63, o mesmo que eu estava ocupando. Mas que na época era menor, tinha apenas uma cama. Passei a olhar diferente aquele cubículo em que eu estava com Marcia e Maria Rita, o único que conseguimos na alta estação, por ter feito planejamento de ultimíssima hora. Um duas estrelas muito simples, simpático, limpo, pessoal afável, café da manhã servido por uma cabo-verdiana alta, a Alice. No segundo dia, ouvi-a falando português e me admirei:
- Então, você fala português?
- Pois desde ontem estou a falar português contigo e você me respondia em francês.
Na sua autobiografia, Márquez conta que estava na cidade como correspondente de um jornal, mas que o jornal fechou e ele ficou lá com um restinho de dinheiro. Passou a enviar cartas aos amigos, pedindo socorro. "Morava no sexto andar de um hotel sem elevador, e todos os dias descia para ver se havia uma carta, e nunca havia. Foi quando a história de meu avô começou a se desenhar na minha cabeça, porque este avô passou a vida esperando a carta que confirmaria o seu direito a uma pensão do governo, por ter lutado na guerra civil. Todos os dias até morrer foi ao porto esperar a carta que nunca chegou. Meu avô ia ao porto, eu descia à portaria, e nada de cartas; assim a história se escreveu."
Foi quando descobri uma segunda placa comemorativa. Andando por Paris, olhem para as paredes e as portas. São milhares de placas contando que um escritor, um cantor, uma celebridade morou ali. Ou indica o ponto em que alguém da Resistência morreu. Você vai refazendo a história. A outra placa nos conta que o escritor húngaro Miklós Radnoti, um dos mais queridos pelos seus compatriotas, morou no Trois Collèges no fim dos anos 1930. Durante a guerra, foi feito prisioneiro na Iugoslávia e enviado a Auschwitz, onde morreu aos 35 anos.
Também fiquei sabendo que o poeta Raoul Ponchon morou no hotel entre 1911 e 1937, quando morreu. Um poeta que o Zé Celso, cultor de Baco, adoraria. Segundo Apollinaire, Raoul ao cantar o vinho, as mulheres e as flores, com bom humor, foi o último dos poetas báquicos. Verlaine o amava. Bela companhia a minha. Passei a respeitar mais o Trois Collèges em sua humildade. Também, das janelas dos quartos você dá com o maciço da Sorbonne. Imagino que o nome seja em homenagem à Sorbonne, ao Collège de France, bastante próximo, e à Faculdade de Medicina.
No avião, um dos filmes foi À Meia-Noite em Paris. Na madrugada, na TV de minha poltrona acabei vendo dublado, sabe Deus por quê. E me diverti. A certa altura, o tradutor traduziu Left Bank (a velhíssima Rive Gauche) como "o banco da esquerda". De certo, o banco onde o Zé Dirceu e o Lula põem o dinheirinho. Desliguei, dormi. Ao menos, me ficaram do filme, entre outras, as imagens de restaurantes como o Le Polidor, onde acabamos indo comer, e a galinha de angola é ótima; do Balsar, na Rua Des Écoles, onde a Noix de Saint Jacques é delicada e o risoto de lagosta e lasgotins estupendo, e demos uma olhada no Le Grand Velfour, dos mais sofisticados da cidade. O menu mais barato custa 96, ali pelos R$ 250. Por pessoa!!! Mas existe o Menu Plaisir pela "módica" quantia de 282 (vinho à parte), perto de R$ 800. Preciso levar um personal gourmet que me ensine a comer cada prato, sozinho não dou conta. Ah! Agora o Trois Collèges tem elevador. Meu modesto sonho, delírio de posteridade: será que um dia colocarão uma placa dizendo que ali reescrevi a terceira versão de minha novela Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos?

Dinheiro publico pelo ralo: quer saber por onde escorre, caro leitor?

Sei que estou me desviando dos objetivos específicos deste blog, mas é que minha consciência cidadã não consegue se conter ao ver exemplos tão exemplares -- ironia, caro leitor... -- de como se desvia facilmente dinheiro público, sem sequer ter vergonha de fazê-lo.
Registre-se, por sinal, que o ministro em questão acaba de ser reconfirmado no cargo por quem poderia (talvez deveria) demiti-lo, pelo menos temporalmente...
Vamos ver até onde vai essa novela. Eu acho que não passa do dia 25...
Paulo Roberto de Almeida 

ONG do Esporte pagou mulher de Orlando; atriz devolveu nove meses depois

Marta Salomon/BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo, 21/10/2011


Empresa de Anna Petta foi contratada por ONG do PCdoB; ela resolveu devolver o dinheiro há um mês, ao ser informada que ONG já havia sido contratada pelo Ministério do Esporte



Documentos obtidos pelo Estado mostram que Anna Cristina Lemos Petta, mulher do ministro do Esporte, Orlando Silva, recebeu dinheiro da União por meio de uma ONG comandada por filiados ao PC do B, partido do marido e ministro. Anna Petta ressarciu o convênio em setembro deste ano, após ser informada que a ONG que contratou sua empresa tinha contrato com o Ministério do Esporte (leia abaixo o que disse a mulher do ministro e a nota do Ministério da Justiça sobre o caso). A informação sobre negócios da União com a empresa de familiar de Orlando Silva teria preocupado a presidente Dilma Rousseff, que se reuniu com o ministro na noite desta sexta-feira, 21. A presidente decidiu manter o ministro no cargo.
É a própria Anna Petta quem assina o contrato entre a Hermana e a ONG Via BR, que recebeu R$ 278,9 mil em novembro do ano passado. A Hermana é uma empresa de produção cultural criada pela mulher do ministro e sua irmã, Helena. Prestou serviços de assistente de pesquisa para documentário sobre a Comissão da Anistia. A empresa foi criada menos de 7 meses antes da assinatura do contrato com a entidade. Pelo trabalho, recebeu R$ 43,5 mil.
A ONG Via Brasil tem em seus quadros Adecir Mendes Fonseca e Delman Barreto da Silva, ambos filiados ao PC do B. A entidade também foi contratada em maio do ano passado pelo Ministério do Esporte, para promover a participação social na 3ª Conferência Nacional do Esporte. No negócio, recebeu mais R$ 272 mil.
Documentos obtidos pelo Estado mostram o curto espaço de tempo transcorrido entre a criação da empresa de Anna Peta e a celebração de convênio da ONG Via BR com o Ministério da Justiça. A Hermana foi criada apenas três meses antes da assinatura do convênio para a produção de documentário sobre a Comissão da Anistia e no mesmo mês em que a Via BR foi contratada pelo Ministério do Esporte.
Devolução do dinheiro
Há menos de um mês, no dia 26 de setembro, depois de concluir o trabalho contratado pela ONG Via BR, Ana Petta, mulher do ministro do Esporte Orlando Silva, devolveu R$ 32,1 mil à conta do convênio celebrado para a produção de um documentário sobre perseguidos pela ditadura militar, no ano passado. Cópia do depósito foi enviado pela própria Ana Petta. A devolução ocorreu nove meses depois de Ana assinar um contrato com a Via BR, beneficiária de repasses de dinheiro do Ministério da Justiça, e já com o Ministério do Esporte protagonizando escândalos envolvendo ONGs e verbas públicas.
Ela afirmou ao Estado ter decidido devolver o dinheiro depois de ter sido informada de que a ONG Via BR já havia sido contratada pelo Ministério do Esporte. "Já havia concluído o trabalho e não saio por aí perguntando se uma entidade que me contrata tem convênio com o Ministério do Esporte, tenho uma vida completamente independente do Orlando, tenho uma carreira e não posso ir junto nessa avalanche", disse Petta.  De acordo com o contrato entre a Via BR e a Hermana, celebrado em dezembro de 2010, a empresa de Ana Petta recebeu R$ 43,5 mil, sendo R$ 5,7 mil correspondente à parcela oferecida como contrapartida da ONG que tem filiados do PCdoB no comando. Sobre a diferença entre o valor recebido e o recentemente devolvido, a mulher do ministro foi sucinta: "Isso eu não sei".
Nota do Ministério da Justiça
"Sobre o convênio firmado com o Instituto Via BR, o Ministério da Justiça informa:
 
1. Trata-se de uma proposta para realização de documentário que foi selecionada por meio de edital de Chamada Pública no ano de 2010. As propostas foram avaliadas por um comitê de seleção composto por membros do Ministério da Justiça e externos. Data da reunião: 07/06/2010. Data da publicação do resultado no Diário Oficial da União: 11/06/2010;
 
2. A proposta de documentário da Via BR foi classificada em terceiro lugar entre as 19 propostas selecionadas e aprovadas. No total, 24 propostas se candidataram ao edital. Das 19 aprovadas, firmou-se convênio com nove delas;
 
3. A proposta da Via BR foi apresentada pela presidente do instituto, Vanessa Stropp Borba, que assina o convênio (conforme documento anexo). Não há contrato direto do Ministério da Justiça com a Hermana Filmes ou com Anna Cristina Lemos Petta;
 
4. No escopo do convênio, consta que a Via BR contratou a empresa Hermana Filmes para desenvolver trabalho técnico especializado de pesquisa para subsidiar documentário, pelo qual pagou R$ 32.107,60 (conforme documento anexo);
 
5. Há registro que, em 26/09/2011, a empresa Hermana Filmes depositou reembolso do valor integral na conta do convênio, conforme comprovante depósito anexo. 
 
6. O referido documentário, objeto do convênio, está previsto contratualmente para ser entregue em dezembro.

Assessoria de Comunicação Social
Ministério da Justiça"

Intolerancia academica (alias pouco academica), vinda de quem se mais espera, justamente...

Juliano, um leitor meu de Curitiba, enviou-me esta mensagem, e tomei a liberdade de consultá-lo antes de postá-la, como exemplo de intolerância intolerante (se me permite a redundância redundante) vinda de quem justamente deveria exibir um gosto pelo contraditório, pelo debate de qualidade, pela exposição de ideias desafiadoras.
Parece que determinados professores -- adivinhem de qual tendência? -- não gostam de expor seus alunos a ideias diferentes das suas e usam do argumento de autoridade -- e não da autoridade do argumento -- para constranger alunos que deveriam estar debatendo questões relevantes, mas que neste exemplo lamentável foram tocados como gado para dentro dos currais de professores fundamentalistas.
Segue o post, com algumas supressões, por trechos desnecessários.
Paulo Roberto de Almeida 



Paulo,

Boa noite. (...) cheguei a uma palestra em Curitiba da organização Ordem Livre. Apesar de duas palestras bem bacanas, o que ficou foi o exemplo de intolerância e autoritarismo de alguns professores esquerdistas que abandonaram as palestras, obrigando seus alunos a voltarem às salas.
Se isso aconteceu em uma faculdade particular de Curitiba, imagino o que não acontece nas federais.

Se[gue] abaixo o e-mail que acabei de enviar para a ouvidoria:

Acabei de sair da palestra ministrada na UniCuritiba, organizada pela Ordem Livre, com o título “O Capitalismo tem Conserto?”. Não sou acadêmico e fui exclusivamente pela palestra, tendo sido este o meu primeiro contato com o Centro Universitário.

Boa parte dos participantes eram alunos e professores. Já cheguei na apresentação bem impressionado com o fato de vocês darem a eles a oportunidade de ter acesso a um tema tão fora do convencional. Do mesmo tamanho da minha impressão positiva foi a minha decepção ao ver o comportamento de alguns professores durante a apresentação.

Por não terem a mesma linha de pensamento defendida nas palestras, empreenderam um boicote à segunda parte da apresentação. Um chegou a deixar a sala durante a primeira parte, sob forma de protesto. Antes do começo da segunda parte vários alunos foram coagidos a voltar à sala de aula porque alguns professores haviam revogado a autorização de participação no evento – imagino que não teriam suas presenças confirmadas.

É lamentável presenciar esse tipo de comportamento e a falta de tolerância em um ambiente que deveria justamente incentivar a busca por novas idéias, a fuga do convencional. Ver isso em uma palestra sobre liberdade ficou ainda mais iconico, mostrando o quanto nossa sociedade precisa evoluir, começando pela academia. Não esperava aplausos, mas também não imaginava que chegariam a esse ponto de totalitarismo. Se ficou alguma lição foi a de como não se portar quando confrontado por posições diferentes.

Abraços,
Juliano 
Quidquid latine dictum sit, altum videtur

A China ainda vai comprar a Europa (a Franca, pelo menos)

Esta "aula" de "deseconomia" de um professor chinês tem um quê de primitivismo econômico, de simplismos e de lugares comuns, mas não deixa de ser engraçada ao ver pobres chineses --- que por enquanto ostentam uma renda per capita inferior sete ou oito vezes a renda dos europeus -- dar uma lição de trabalho, dedicação, poupança a esses europeus preguiçosos, pouco produtivos, decadentes.
O professor Kuing Yamang parece ter um caso contra os franceses (provavelmente pegou uma greve de metrô, de trem, de avião, alguma vez) e acha que eles são os piores da Europa. Não, não são, mas são os que mais fazem greves, por qualquer bobagem...
Não recomendo como "aula de economia", mas pode ser engraçado ver o que está acontecendo hoje...
Paulo Roberto de Almeida 

Cours d'économie du Vénérable Professeur Kuing Yamang

E por falar em mafiosos fascistas (do PCdoB)...


"Saquei R$ 150 mil para Agnelo"

Principal testemunha da Operação Shaolin e ex-funcionário das ONGs que participaram das fraudes no Ministério do Esporte, Michael Vieira acusa o governador do DF e ex-ministro de ser o principal chefe do esquema e de ter recebido propina

Claudio Dantas SequeiraIstoÉ, 22/10/2011
Nos últimos dias, o escândalo dos desvios de verbas de ONGs ligadas ao Ministério do Esporte, detonado pelo policial militar João Dias Ferreira, atingiu em cheio o ministro Orlando Silva e colocou em xeque a administração de nove anos do PCdoB à frente da pasta. Agora, uma nova e importante testemunha do caso pode dar outros contornos à história, ainda repleta de brechas e pontos obscuros. O que se sabia até o momento era que os comunistas, além de terem aparelhado o Ministério do Esporte, montaram um esquema de escoamento de verbas de organizações não governamentais para abastecer o caixa de campanha do partido e de seus principais integrantes. Em depoimentos ao longo da semana, o PM João Dias acusou Orlando Silva de ser o mentor e principal beneficiário do esquema. A nova testemunha, o auxiliar administrativo Michael Alexandre Vieira da Silva, 35 anos, apresenta uma versão diferente. Em entrevista à ISTOÉ, Michael afirma que o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e ex-ministro do Esporte, hoje no PT, mas que passou a maior parte de sua trajetória política no PCdoB, é quem era o verdadeiro “chefe” do esquema de desvio de recursos do Esporte. Até então, Agnelo vinha sendo poupado por João Dias. 

Michael foi a principal testemunha da Operação Shaolin, deflagrada no ano passado pela Polícia Civil do DF e na qual foram presas cinco pessoas, entre elas o próprio soldado João Dias. Seu papel nesse enredo é inquestionável. Michael trabalhou nas ONGs comandadas por João Dias, conheceu as entranhas das fraudes no Ministério do Esportes e, durante um bom tempo, esteve a serviço dos pontas-de-lança do esquema. Sobre esse período, ele fez uma revelação bombástica à ISTOÉ: “Saquei R$ 150 mil para serem entregues a Agnelo (então, ministro)”, disse ele na entrevista.

Em 2008, Michael já havia denunciado todo o esquema das ONGs no Ministério do Esporte e, desde então, passou a colaborar secretamente com os investigadores. Hoje, se mudou de Brasília e vive escondido. Os depoimentos de Michael serão cruciais para o andamento inquérito 761 sobre o envolvimento de Agnelo, que corre no STJ e deverá ser remetido ao STF pelo procurador-geral da União, Roberto Gurgel. Partícipe do esquema, Michael tem uma série de elementos para afirmar categoricamente que era Agnelo “quem chefiava o esquema”. Durante o tempo em que trabalhou no Instituto Novo Horizonte, o auxiliar administrativo ficou sabendo de entregas de dinheiro e da liberação de convênios, por meio de Luiz Carlos de Medeiros, ongueiro e amigo do governador. “Medeiros falava demais... Sempre comentava que estava cansado de dar dinheiro para Agnelo”, diz. Sobre o ministro Orlando Silva, Michael afirma que ouviu seu nome uma única vez e por meio do delegado Giancarlos Zuliani Júnior, da Deco (Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado). “Contei a Giancarlos sobre a existência de um cofre num depósito de João Dias, em que havia armas e documentos que poderiam incriminar algumas pessoas. Aí ele me perguntou se eu sabia do envolvimento de Orlando Silva e da ONG Cata -Vento”, lembra. 

Na entrevista à ISTOÉ, Michael revela ainda que o esquema de fraudes com ONGs de fachada transcende as fronteiras do PCdoB e do Esporte. Atingiria também, segundo ele, o Ministério da Ciência e Tecnologia, então na cota do PSB. Ele conta que chegou a ser convocado pela CPI das ONGs para falar sobre o tema, mas seu nome foi retirado da lista de depoentes na última hora sem qualquer justificativa. Sobre o envolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Michael diz que o Instituto Novo Horizonte chegou a assinar convênios com a Secretaria de Inclusão Social, subordinada à pasta, para a instalação de uma biblioteca digital em Natal, no Rio Grande do Norte, no valor de R$ 2 milhões. Esses contratos, segundo Michael Vieira, teriam sido avalizados pelo então secretário, o atual deputado distrital Joe Valle (PSB), amigo de Medeiros e definido no grupo como laranja de João Dias no comando do Instituto Novo Horizonte. 

Com todo esse arsenal de informações, entende-se por que a investigação sobre as fraudes do PCdoB no Distrito Federal foi deflagrada a partir de denúncia de Michael ao Ministério Público. O que Michael contou à ISTOÉ, com riqueza de detalhes, também está registrado em outros 11 depoimentos que prestou em sigilo à Polícia, ao Ministério Público e à Justiça nos últimos três anos. Michael e o policial João Dias participavam de um mesmo esquema enquanto Agnelo Queiroz ocupou o Ministério do Esporte. Depois, tomaram rumos diferentes. Agnelo se elegeu governador do Distrito Federal e o PM circula ao seu lado até hoje, mesmo sendo réu em um processo que apura desvio de dinheiro público. No governo do DF, emplacou um afilhado político, Manoel Tavares, na BRB Seguros, a corretora do Banco Regional de Brasília, um dos cargos mais cobiçados do governo local. Até bem pouco tempo atrás, o PM mantinha silêncio absoluto sobre as fraudes das quais participou, confiante de que sua relação com autoridades influentes lhe serviria de salvo-conduto. “Ele fez isso por dinheiro e para se livrar das denúncias que fiz a seu respeito”, afirma Michael. Ele assegura que João Dias tentou silenciá-lo, primeiro com ofertas financeiras, e depois com ameaças de morte. Por causa do assédio, Vieira entrou no Programa de Proteção a Testemunhas. Mas após alguns meses abriu mão da proteção para tentar retomar sua vida. Hoje, Michael vive com mulher e filhos de pequenos bicos e da ajuda de amigos numa cidade do interior de outro Estado. Não se arrepende de ter denunciado o esquema, mas passou a desconfiar de tudo e todos, especialmente depois que foi usado pelo ex-governador Joaquim Roriz para atingir Agnelo na campanha eleitoral do ano passado.

À ISTOÉ, Michael pediu que seu rosto não fosse inteiramente revelado. A decisão de romper o pacto de silêncio deve-se, segundo ele, à indignação com a postura de João Dias no episódio. “Não posso aceitar que um cara como João Dias pose de bom-moço para a sociedade”. O desabafo, no entanto, não invalida as denúncias a respeito do esquema no Esporte nem as desqualifica, afinal não se espera que pessoas escaladas para participar de fraudes sejam selecionadas num convento. Mas é fato que João Dias tem uma ficha corrida para lá de complicada. Levantamento da ISTOÉ encontrou nada menos que 15 ocorrências policiais contra o PM, que tem fama de truculento. Há acusações de lesão corporal, roubo e ameaças de morte. Brigas no trânsito, dentro de hospitais e até tentativa de golpe na locação de imóveis e na contratação de funcionários para atuar nos convênios do Segundo Tempo. 

A trama policial tem contaminado o ambiente político em Brasília. Até o final da semana, a presidente Dilma Rousseff, temendo precipitar uma crise com um importante aliado, o PCdoB, hesitava em mudar o comando do Ministério do Esporte. Na quinta-feira 20, Dilma disse a assessores que não agiria sob pressão e reclamou publicamente do “apedrejamento moral” que o ministro do PCdoB estaria sofrendo. Chamou os comunistas de aliados históricos. “Temos de apurar os fatos, temos de investigar. Se apurada a culpa das pessoas, puni-las. Mas isso não significa demonizar quem quer que seja, muito menos partidos que lutaram no Brasil pela democracia”, afirmou. Em Brasília, Orlando Silva reuniu-se por cinco horas com a cúpula do PCdoB. 

Ao chegar de Angola na noite da quinta-feira 20, Dilma Rousseff convocou uma reunião de emergência com a coordenação política do governo. No encontro, comentou que não tinha convicção sobre as denúncias contra Orlando Silva, mas admitiu que o desgaste político sofrido era irreversível. Dilma também consultou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre o andamento das investigações na Polícia Federal e no Ministério Público. Na avaliação da presidente, as explicações que o ministro dos Esportes deu na Câmara e no Senado não foram suficientes para reverter o quadro. Pesam também contra Orlando os embates com a Fifa e a CBF para a organização da Copa de 2014. Dessa maneira, o mais provável é que a presidente aguarde os desdobramentos do caso para tomar uma decisão de cabeça fria. Nas fileiras comunistas, caso o PCdoB não perca o ministério, o nome mais cotado para substituir Orlando Silva é o da ex-prefeita de Olinda (PE) Luciana Santos, hoje deputada federal. Seu nome já havia sido sugerido por Dilma quando montou a equipe, mas Orlando acabou mantido por pressão do PCdoB – além de apoio aberto do ex-presidente Lula. Caso a presidente resolva retirar a pasta das mãos dos comunistas, já há articulações para tentar emplacar no cargo o ex-ministro Márcio Fortes, hoje presidente da Autoridade Pública Olímpica. Procurado por ISTOÉ, Agnelo estava fora do País e até o fechamento desta edição não havia se manifestado.

A frase (ou a piada?) da semana, do mes, do ano e do seculo (miseravel dos maoistas)

Maoistas, como os do PCdoB, são inerentemente autoritários, e eu até diria totalitários.
Claro, esse pessoalzinho do PCdoB já não está mais interessado em construir o socialismo, o comunismo, o maoismo, ou qualquer coisa parecida, pois sabem -- ou pelo menos se renderam às evidências, mesmo a contragosto -- que isso nunca deu certo e nunca vai dar certo, embora alguns malucos ainda achem que o socialismo é a solução para todos os problemas humanos, sociais, animais, etc...
Eles agora só querem viver das prebendas do capitalismo, ou  melhor, estão interessados em explorar os capitalistas, invertendo a concepção marxista original (ironias da História, claro...).
Mais do que viver às custas dos capitalistas, ou explorá-los, esse pessoalzinho com DNA de mafiosos fascistas -- sim, existe a categoria no dicionário da política, pelo menos no meu -- querem mesmo é assaltar o Estado, que é muito mais fácil do que assaltar os capitalistas. Afinal de contas, os capitalistas são muitos, e dá muito trabalho ir atrás de cada um deles. O Estado é um só, e é muito melhor grudar nele e sugar recursos de todas as suas numerosas tetas e bolsos...
Pois é, os novos mafiosos fascistas acham que resolvem seus problemas atuais -- derivados justamente dos crimes que cometem continuamente -- tapando os canais de comunicação livres.
Isso apenas revela que, se eles deixaram de ser socialistas, eles continuam totalitários, como sempre...
Paulo Roberto de Almeida 



Augusto Nunes

As calúnias lançadas contra o ministro e contra seu partido, o PCdoB, são o melhor exemplo da necessidade, da imposição, de uma legislação para regular a mídia e democratizar os meios de comunicação.”

Nota divulgada pelo PCdoB, para explicar ao povo brasileiro que a melhor maneira de acabar com a corrupção no Ministério do Esporte é proibir a imprensa de divulgar notícias sobre as roubalheiras promovidas pelo bando de comunistas capitalistas liderados por Orlando Silva.

Agora que Kadafi se foi... relembrando uma piada (dele mesmo)

Ao início dos conflitos na Líbia, eu postava esta matéria do WP, como a piada da semana:

Piada da semana (talvez apenas do dia): Kadafi

Leio isto numa chamada do Washington Post: 

QUINTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2011

Gaddafi blames revolt on Bin Laden
The Libyan leader also said protesters were under the influence of hallucinogenic pills.

Mas ele também acusou os revoltosos de estarem mancomunados com o Ocidente.
Claro: uma aliança entre o Ocidente e Bin Laden, estimulada por pílulas alucinógenas, seria a única força humana, e sobrehumana, capaz de derrotá-lo.
Acho que sua queda virá, mais cedo ou mais tarde, e depois teremos um governo de coalizão com Bin Laden e a CIA.

Talvez ainda tenhamos outras piadas do gênero ao longo da semana.
Pena que cada uma dela carregue um substrato de centenas de mortos...
Paulo R. Almeida

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...