Juliano, um leitor meu de Curitiba, enviou-me esta mensagem, e tomei a liberdade de consultá-lo antes de postá-la, como exemplo de intolerância intolerante (se me permite a redundância redundante) vinda de quem justamente deveria exibir um gosto pelo contraditório, pelo debate de qualidade, pela exposição de ideias desafiadoras.
Parece que determinados professores -- adivinhem de qual tendência? -- não gostam de expor seus alunos a ideias diferentes das suas e usam do argumento de autoridade -- e não da autoridade do argumento -- para constranger alunos que deveriam estar debatendo questões relevantes, mas que neste exemplo lamentável foram tocados como gado para dentro dos currais de professores fundamentalistas.
Segue o post, com algumas supressões, por trechos desnecessários.
Paulo Roberto de Almeida
Paulo,
Boa noite. (...) cheguei a uma palestra em Curitiba da organização Ordem Livre. Apesar de duas palestras bem bacanas, o que ficou foi o exemplo de intolerância e autoritarismo de alguns professores esquerdistas que abandonaram as palestras, obrigando seus alunos a voltarem às salas.
Se isso aconteceu em uma faculdade particular de Curitiba, imagino o que não acontece nas federais.
Se[gue] abaixo o e-mail que acabei de enviar para a ouvidoria:
Acabei de sair da palestra ministrada na UniCuritiba, organizada pela Ordem Livre, com o título “O Capitalismo tem Conserto?”. Não sou acadêmico e fui exclusivamente pela palestra, tendo sido este o meu primeiro contato com o Centro Universitário.
Boa parte dos participantes eram alunos e professores. Já cheguei na apresentação bem impressionado com o fato de vocês darem a eles a oportunidade de ter acesso a um tema tão fora do convencional. Do mesmo tamanho da minha impressão positiva foi a minha decepção ao ver o comportamento de alguns professores durante a apresentação.
Por não terem a mesma linha de pensamento defendida nas palestras, empreenderam um boicote à segunda parte da apresentação. Um chegou a deixar a sala durante a primeira parte, sob forma de protesto. Antes do começo da segunda parte vários alunos foram coagidos a voltar à sala de aula porque alguns professores haviam revogado a autorização de participação no evento – imagino que não teriam suas presenças confirmadas.
É lamentável presenciar esse tipo de comportamento e a falta de tolerância em um ambiente que deveria justamente incentivar a busca por novas idéias, a fuga do convencional. Ver isso em uma palestra sobre liberdade ficou ainda mais iconico, mostrando o quanto nossa sociedade precisa evoluir, começando pela academia. Não esperava aplausos, mas também não imaginava que chegariam a esse ponto de totalitarismo. Se ficou alguma lição foi a de como não se portar quando confrontado por posições diferentes.
Abraços,
Juliano
Quidquid latine dictum sit, altum videtur
Um comentário:
Fiz meu curso de graduação nesta mesma faculdade, e este tipo de comportamento, por parte de alguns professores de lá, não me impressiona. Depois de ouvir dentro de sala de aula que "você é conformista, e se fosse um líder de escravos em 1880, a abolição não teria acontecido", após ter apresentado uma discordância quanto a um tema de economia política, realmente percebi que tentar debater com esse pessoal é perda de tempo.
Pior é saber que a faculdade ainda está alguns degraus acima da UFPR, por exemplo, onde também estudei, e onde economistas liberais em hipótese alguma seriam aceitos para fazer uma palestra, pra começo de conversa.
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